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ANÁLISE DE CONFORTO EM BICICLETA ADAPTADA

PARA PASSEIOS DE PESSOAS COM MOBILIDADE


REDUZIDA

Andrey Maciel Araújo da Silva, andreymaciel468@gmail.com1


Ana Lídia Nascimento Moraes dos Santos, analidia97@live.com1
Wellington Lima Botelho, wellingtonbotelhojr07@gmail.com1
Kálio Augusto Rufino Ribeiro Silva, kaliosilva@hotmail.com2
Sérgio de Souza Custódio Filho, custodio@ufpa.br1
Sérgio Aruana Elarrat Canto, aruana@ufpa.br1
Francisco Jarmeson Silva Bandeira, jarmesonbandeira@gmail.com 3,
Alexandre Luiz Amarante Mesquita, alexmesq@ufpa.br 1

1
Universidade Federal do Pará, Faculdade de Engenharia Mecânica, Rua Augusto Corrêa, 01, Guamá,
CEP 66.075-110, Belém-PA, Brasil.
2
Instituto Federal do Pará, Curso de Engenharia de Controle e Automação, Avenida Almirante
Barroso, 1155, Marco CEP 66.093-020, Belém-PA, Brasil.
3
Universidade Federal do Pará, Faculdade de Engenharia Mecânica, Rodovia BR 422, km 13, CEP
68.464-000, Tucuruí-PA, Brasil.

Resumo
O objetivo deste trabalho é apresentar os resultados das análises de conforto em bicicleta fabricada
empiricamente e adaptada com sidecar para passeios de lazer de pessoas com mobilidade reduzida
no Parque Estadual do Utinga, em Belém-PA. Foram inicialmente colhidas informações junto aos
usuários e em seguida realizadas as análise postural do condutor, medição e análise de vibração
transmitida aos usuários (condutor e conduzido) e análise da relação de transmissão da bicicleta
para redução do esforço do condutor. Após diagnóstico, foi verificado que várias pequenas
alterações se fazem necessárias. Todas as alterações requeridas foram introduzidas no desenho final
da bicicleta e são apresentadas ao final do trabalho.

Palavras-chave: Bicicleta adaptada, análise de conforto, vibrações em corpo humano.

1. INTRODUÇÃO

O Parque Estadual do Utinga, localizado em Belém-PA, é uma Unidade de conservação


estadual criada com o objetivo de preservar ecossistemas, estimular a realização de pesquisas
científicas e desenvolver atividades de lazer e educação ambiental. A partir de 2018, o parque
recebeu, pela primeira vez, o grupo de ação voluntária Ponto de Apoio, que surgiu de um desejo
familiar de promover a inclusão social de idosos e deficientes físicos e mentais. Deste então, o grupo
oferece passeios gratuitos de bicicletas adaptadas a pessoas com mobilidade reduzida, além de
orientar e sensibilizar a sociedade sobre tal temática, sendo reconhecido, por muitas vezes, pela
mídia local.
A parceria com voluntários de diversos ramos profissionais tornou possível a execução do
projeto, o próprio desenvolvimento das bicicletas ocorreu pelas mãos de um artista plástico radicado
no Pará, que elaborou e fabricou um design único. Contudo, durante o uso do veículo customizado,
foram observados alguns pontos de melhoria, especialmente relacionados a aspectos ergonômicos,
como conforto, segurança, dirigibilidade e entre outros problemas que podem comprometer o bem-
estar dos usuários (tanto do condutor da bicicleta, quanto do conduzido em um sidecar). Diante
disto, a Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Pará se uniu ao grupo Ponto
de Apoio e propôs um estudo científico, por meio de um projeto de extensão, para aprimorar o
modelo atual das bicicletas, tornando-os mais adequados às suas necessidades.
Nesse contexto, o presente trabalho apresenta as análises para o diagnóstico do conforto
promovido pela bicicleta ao condutor e ao conduzido, assim como as soluções para os problemas
encontrados. Para essa análise de conforto foram realizadas entrevistas com usuários, análise
postural do condutor, medição e análise de vibração transmitida aos usuários (condutor e conduzido)
e análise da relação de transmissão da bicicleta para redução do esforço do condutor. Tais análises
são descritas em maiores detalhes na seção 2 e os resultados encontrados são apresentados na
seção 3.

2. MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DO CONFORTO DA BICICLETA

2.1. Entrevistas e avaliação ergonômica

A bicicleta adaptada (Fig. (1)) consiste em uma bicicleta fabricada artesanalmente, com uma
relação fixa de transmissão de velocidades, e que possui um sidecar acoplado em sua lateral. A
relação de transmissão única, posição do conduzido à lateral do condutor e cor vermelha da bicicleta
foram premissas do projeto de melhoria, ou seja, não poderiam ser alteradas. No intuito de melhorar
o conforto dos usuários da bicicleta, inicialmente foram colhidas informações junto a esses usuários
sobre os principais incômodos durante um passeio. Após o recebimento dessas primeiras
informações, foi realizada uma avaliação ergonômica para verificar a análise postural do condutor,
que é apresentada na seção de resultados.

Figura 1. Bicicleta do projeto Ponto de Apoio

A avaliação ergonômica promove otimização da bicicleta quanto a performance na atividade,


diminuindo a possibilidade de lesões (Hayot et al., 2012). Não há um padrão universal, a postura do
ciclista varia de acordo com as suas emoções, motivações e características físicas, portanto a
configuração varia de acordo com o interesse, a flexibilidade e os objetivos do ciclista (Grainger,
Dodson e Korff, 2017; Burt, 2014). De acordo com Lima e Bublitz (2018) as metodologias propostas
na literatura consistem em dois modelos de avaliação. No primeiro a medição corporal do ciclista
auxilia na definição do comprimento e da altura adequada para os diferentes componentes da
bicicleta. O segundo concentra-se na análise postural do ciclista durante a atividade, sendo definidos
ângulos para as diferentes articulações do corpo.

2.2. Avaliação de vibração e conforto de corpo humano

Esta avaliação foi baseada na norma ISO 2631-1 de 1997 que trata especificamente de
vibração de corpo inteiro (VCI) em veículos e equipamentos mecânicos. Também foi observada a
ISO 8941 de 2005, que trata dos procedimentos de medição de vibração, ressaltando-se o processo
de filtragem e ponderação do sinal, adequando para a sensibilidade do corpo humano, conforme
também apresentado por Brito e Oliveira (2017). A avaliação da VCI envolveu a realização de
medições de vibração, com um acelerômetro, o qual o ciclista e o ocupante do sidecar estão expostos
durante o passeio na bicicleta. Para esse intuito, a bicicleta foi levada ao estacionamento da UFPA
(Fig. (2)) e posicionado o acelerômetro no selim, assento do passageiro e encosto (Fig. (2)). Os
passeios foram realizados em uma pista revestida de asfalto e em uma pista com paralelepípedos
para simular as condições de passeio no Parque do Utinga.

Figura 2. Medição da VBI durante passeio na bicicleta

2.3. Análise da transmissão para redução de esforços

Um fator importante para a otimização de uma relação de transmissão de uma bicicleta é


analisar para qual será a sua finalidade. Para o presente projeto, a sua funcionalidade é para
passeios com velocidades bastante moderadas. Verificou-se que a relação utilizada era pesada,
possuindo 36 dentes de coroa por 13 dentes do pinhão, afetando assim, em maior esforço aplicado
pelo ciclista aos pedais da bicicleta para fazê-la se movimentar, principalmente no início do seu
movimento. Por meio de tabela que relaciona esforço e razão de transmissão, foi definida a nova
razão de transmissão.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nas entrevistas com os usuários, estes relataram alguns incômodos que poderiam ser
sanados, tais como, leve desconforto na costa do conduzido no sidecar, sidecar muito próximo às
pernas do condutor, esforço demasiado do condutor no início do movimento, leve desconforto do
condutor devido a sua postura na bicicleta, guidom trazendo desconforto, muitas arestas na bicicleta,
dentre outros. Esses pontos indicados por usuários nas entrevistas foram corroborados em uma
avaliação ergonômica ao analisar a postura do ciclista com a bicicleta em movimento, conforto do
passageiro e do ciclista durante o passeio e o design da bicicleta. A Fig. (3) mostra alguns resultados
dessa avaliação, tais como: presença de cantos vivos na estrutura da bicicleta, coluna curvada do
condutor e braços demasiadamente abertos do condutor. Outros fatores identificados nas
entrevistas e checados na avaliação ergonômica incluem tendência de tombamento da bicicleta,
esforço ao iniciar o movimento de pedaladas, tendência da bicicleta girar demasiadamente para um
lado (principalmente nas curvas), desconforto nas costas do conduzido, dentre outros. Todos esses
pontos foram levados em conta para o design final da bicicleta otimizadas.

Figura 3. Avaliação ergonômica: (a) Possíveis choques devido a cantos vivos. (b)
Ombro e punhos desalinhados. (c) Coluna curvada
A B c

Para a avaliação de conforto a partir dos valores de vibração obtidos experimentalmente a


norma ISO 2631-1 (ISO, 1997) apresenta uma faixa de amplitudes de vibração que permite
determinar o nível de conforto, que está resumida na Tabela (1) em um código de cores.

Tabela 1. Níveis de amplitude de vibração e o conforto segundo ISO 2631-1


Inferior a 0,315 m/s^2 Não é desconfortável
Entre 0,315 m/s2 a 0,63 m/s2 É um pouco desconfortável
Entre 0,5 m/s2 a 1 m/s2 Razoavelmente desconfortável
Entre 0,8 m/s2 a 1,6 m/s2 Desconfortável
Entre 1,25 m/s2 a 2,5 m/s2 Muito desconfortável
Superior a 2 m/s2 Extremamente desconfortável

Os valores de vibração após medidos foram tratados e os resultados de aplicação das normas
ISO 2631-1 (ISO, 1997) e ISO 8041 (ISO, 2005) estão apresentados na Fig. (4), para as posições e
tipos de pistas verificadas, mostrando que a vibração induzida nos usuários gera desconforto, como
previamente relatado por usuários, demandando modificações no projeto da bicicleta.

Figura 4. Nível de conforto observado nas medições conforme ISO 2631-1


Em relação à transmissão de velocidades, a velocidade apresenta uma alta razão de
multiplicação de velocidades: r=2,77. A Tabela (1) abaixo mostra diferentes relações de velocidades
correlacionando com o esforço despendido pelo ciclista. Para passeios com velocidades moderadas
e com pouco esforço do ciclista, as relações ideais estão grafadas nas cores vermelhas. Optou-se
por manter a coroa com 36 dentes e trocar a catraca para 24 dentes, passando para relação de
r=1,50

Figura 5. Nível de esforço ao pedalar e razão de velocidades

Fonte: BikeCalc (2021).

Além da transmissão modificada, várias outras modificações foram realizadas a partir das
análises de conforto (Fig. (6)), tais como acoplamento rotativo entre sidecar e velocidade com
inclusão de amortecedor para melhoria da dirigibilidade e conforto, reforço no costado do assento
do conduzido com forte amortecimento, selim e guidom modificados e ajustáveis para melhor
adequação ao ciclista, modificação das dimensões do sidecar, inclusão de barra e cinto de segurança
para maior conforto do conduzido, redução dos cantos vivos, dentre outros.

Figura 6. Design modificado da bicicleta, conforme as propostas de melhorias


4. CONCLUSÃO

Neste trabalho são elaboradas e apresentadas análises de conforto dos usuários de bicicleta
fabricada empiricamente e adaptada com sidecar para passeios de lazer de pessoas com mobilidade
reduzida no Parque Estadual do Utinga, em Belém-PA.
As análises seguiram em três vertentes. A primeira visando ergonomia, focando na postura,
sendo conduzida por uma entrevista idealizada neste propósito e verificações de angulações
propostas pela literatura. A segunda foi a análise de vibrações no corpo humano, na qual foram
feitas vibrações seguindo normas internacionais. A terceira visando diminuir esforços dada a relação
de transmissão da bicicleta.
Os resultados das análises proporcionaram a elaboração de um desenho otimizado,
melhorando não somente o conforto dos usuários da bicicleta, mas também a segurança, tanto do
ciclista quanto do passageiro.

5. AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Grupo Ponto de Apoio em nome de seu Diretor Daniel Nardin Tavares pela
oportunidade dada à Faculdade de Engenharia Mecânica para a realização do Projeto de Extensão
e à Universidade Federal do Pará/PROEX por meio de seu Edital PROEX 01/2020.

6. REFERÊNCIAS

BikeCalc, 2021, “Fixed Gear Calculator”, http://www.bikecalc.com/fixed, Acessado em 01 de março


de 2021.
Brito, H. M. B. F.; Oliveira, J. B., 2017, “Procedimento de medida da vibração de corpo inteiro via
programação Matlab de acordo com a ISO 2631”, Revista InterScientia, v. 5, n. 2, p. 136-146.
Burt, P., 2014, “Bike Fit: Optimise your bike position for high performance and injury avoidance”,
A&C Black.
Hayot, C.; Decatoire, A.; Bernard, J.; Monnet, T.; Lacouture, P., 2012, “Effects of posture length on
joint power in cycling”. Procedia Engineering, 34: 212-217.
Grainger, K.; Dodson, Z.; Korff, T., 2017, “Predicting bicycle setup for children based on
anthropometrics and comfort”, Applied ergonomics, 59: 449-459.
International Standard Organization, 1997, ISO 2631-1. “Mechanical vibration and shock - Evaluation
of human exposure to whole-body vibration - Part 1: General requirements”.
International Standard Organization, 2005, ISO 8041. “Human response to vibration - Measuring
instrumentation”.
Lima, Lucas M. S. M, Bublitz, Frederico M., 2018. Sistema de Adequação Ciclistas Recreativos
Ergonômica para Ciclistas Recreativos. In Anais do XVIII Simpósio Brasileiro de Computação
Aplicada à Saúde, julho 26, 2018, Natal, Brasil. SBC, Porto Alegre, Brasil. DOI:
https://doi.org/10.5753/sbcas.2018.3691.

7. RESPONSABILIDADE AUTORAL

Os autores são os únicos responsáveis pelo conteúdo deste trabalho.


COMFORT ANALYSYS OF ADAPTED BICYCLE FOR
RECREATIONAL RIDING OF PEOPLE WITH DISABILITIES
Andrey Maciel Araújo da Silva, andreymaciel468@gmail.com1
Ana Lídia Nascimento Moraes dos Santos, analidia97@live.com1
Wellington Lima Botelho, wellingtonbotelhojr07@gmail.com 1
Kálio Augusto Rufino Ribeiro Silva, kaliosilva@hotmail.com2
Sérgio de Souza Custódio Filho, custodio@ufpa.br1
Sérgio Aruana Elarrat Canto, aruana@ufpa.br1
Francisco Jarmeson Silva Bandeira, jarmesonbandeira@gmail.com 3,
Alexandre Luiz Amarante Mesquita, alexmesq@ufpa.br 1

1
University Federal of Pará, Faculty of Mechanic Engineering, 01, Augusto Corrêa Street, Guamá,
CEP 66.075-110, Belém-PA, Brasil
2
Institute Federal of Pará, Course of Control and Automation Engineering, Almirante Barroso
Avenue, 1155, Marco CEP 66.093-020, Belém-PA, Brasil.
3
University Federal of Pará, Faculty of Mechanic Engineering, BR 422 Road, km 13, CEP 68.464-
000, Tucuruí-PA, Brasil.

Abstract
The objective of this work is to present the results from a comfort analyzes, in an empirically
manufactured bicycle, adapted with a sidecar for leisure trips by people with reduced mobility in the
Utinga State Park, in Belém-PA. Information was initially collected from users and then performed
the driver's posture analysis, measurement and analysis of vibration transmitted to users (driver and
driven) and analysis of the bicycle's transmission ratio to reduce the driver's effort. After diagnosis,
it was found that any small changes are necessary. All required changes were contemplated in the
final design of the bicycle and are showed at the end of the work.

Keywords: Adapted bicycle, comfort analysis, human body vibrations.

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