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Metodologias para Cálculo de Velocidade em Acidentes de Trânsito com


Automóveis e Bicicletas

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Wilson Toresan Jr
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METODOLOGIAS PARA CÁLCULO DE VELOCIDADE
EM ACIDENTES DE TRÂNSITO COM AUTOMÓVEIS E
BICICLETAS.
Greice Manoela de Amorim
Wilson Toresan Junior

RESUMO – Este trabalho tem como objetivo apresentar as metodologias de


cálculo de velocidades utilizadas na reconstrução de acidentes de trânsito
envolvendo automóveis e bicicletas, através de uma revisão bibliográfica do
tema. As metodologias apresentadas são baseadas em dados coletados de
locais reais de acidentes de trânsito e em experimentos realizados
especificamente para este fim. Os vestígios produzidos nos locais e
utilizados nos cálculos são discutidos, juntamente com os resultados e um
estudo dos erros. Por fim, aplicam-se e discutem-se as metodologias
apresentadas em casos reais atendidos.

PALAVRAS-CHAVE: cálculo, velocidades, bicicletas.


1. INTRODUÇÃO 2.1 O Exame do Local
Vários métodos têm sido utilizados O exame do local é parte essencial na
para determinar a velocidade de veículos em investigação de um acidente de trânsito.
colisão com pedestres e ciclistas. Os primeiros Informações coletadas podem ser integradas com
pesquisadores formularam modelos de outras informações para melhor compreensão do
partículas do corpo humano para analisar a evento.
relação entre a distância de projeção de Muitas informações importantes dizem
pedestres e a velocidade do veículo, respeito à via como: o tipo e condições do
extrapolando essa relação para a projeção de pavimento, a presença de agentes contaminantes,
ciclistas. Essa relação também tem sido a sinalização, as condições de visibilidade, a
verificada através de dados de crash tests presença de acostamentos e ciclovias, o traçado
realizados com dummies e cadáveres e pela da via e a presença de cruzamentos. Além dessas
análise de acidentes reais. Com esses dados, informações, dados sobre a posição final dos
fórmulas empíricas têm sido obtidas através de veículos, do sítio de colisão e da posição final da
regressões lineares. As contribuições mais vítima são imprescindíveis para uma boa
recentes para o cálculo de velocidade têm sido compreensão do acidente de trânsito.
a utilização de métodos computacionais, Em acidentes com bicicletas, assim
utilizando modelos de elementos finitos com como ocorre com motocicletas, a presença de
muitos graus de liberdade. descontinuidades no asfalto (buracos, degraus,
O objetivo deste trabalho consiste no rebaixos para tampas de bueiro) é de grande
estudo de colisões envolvendo automóveis e importância, pois podem desestabilizar a roda
bicicletas, na apresentação de métodos dianteira, mudando a trajetória da bicicleta.
matemáticos e empíricos para o cálculo de As distâncias de projeção da bicicleta e
velocidade e na aplicação desses métodos para do ciclista são informações que devem ser muito
acidentes reais atendidos. Os métodos bem analisados no local do acidente, pois são as
computacionais não serão abordados nesse variáveis necessárias para os cálculos de
trabalho. velocidade apresentados neste trabalho.

2.NATUREZA DO EVENTO 2.2 Os Veículos


O conhecimento da natureza do evento O exame dos veículos é de grande
é fator imprescindível para uma estimativa importância para a compreensão da natureza do
confiável da velocidade desenvolvida pelo evento. Os danos causados no automóvel e na
automóvel. bicicleta são uma indicação importante do tipo de
Esse entendimento é possível com uma colisão e, integrado com o exame do local,
análise minuciosa das evidências, que deve fornece informações importantes para identificar
levar em consideração diversos fatores, sendo a trajetória de cada veículo antes da colisão.
os de maior importância o exame do local, do
automóvel, da bicicleta e da vítima. A bicicleta: O trabalho de Broker e Hill (2006)
mostra que bicicletas envolvidas em acidentes de
trânsito têm tipicamente duas fases. Os danos
ocorridos em cada uma dessas fases devem ser
identificados pelo perito, assim como os danos
acumulados com o tempo. Muitas vezes isso é A gravidade das lesões geralmente
feito baseado na experiência do perito. aumenta com o aumento da velocidade.
Na primeira fase, a bicicleta e o Além das lesões, o trabalho de Broker e
condutor são desestabilizados devido ao contato Hill (2006) demonstra que as roupas e os
com outro veículo ou um obstáculo fixo, equipamentos de proteção do ciclista fornecem
irregularidades na via ou frenagem excessiva. informações importantes em relação ao local do
Essa fase é geralmente a de maior interesse, impacto, à direção do arrasto, o contato com o
pois ajuda a determinar a causa do acidente. Os veículo e partes da bicicleta e, até mesmo, a
danos causados nessa fase, se identificados, visibilidade do ciclista para os outros (não
expõem informações importantes sobre a esquecendo que marcas no capacete e sapatos
natureza do contato externo. podem ser pré-existentes).
A segunda fase frequentemente
envolve a separação do condutor e da bicicleta. 3.CINEMÁTICA DO IMPACTO
A bicicleta pode cair, girar, arrastar, de uma
maneira caótica, gerando danos adicionais. Essa A maior diferença entre o movimento de
é a fase de interesse para o cálculo de pedestres e ciclistas nas fases do impacto,
velocidade. segundo Simms e Wood (2009), está na posição
Para a reconstrução do acidente, é inicial destes. A posição do ciclista envolve o
importante também verificar se a bicicleta joelho dobrado, a pélvis (e o centro de gravidade)
possui os elementos de segurança previstos no mais alta e uma velocidade de tráfego maior que
Código de Trânsito Brasileiro para este tipo de a de pedestres. A presença da bicicleta,
veículo como freios, sinalização reflexiva e entretanto, não gera grandes alterações na
espelhos retrovisores. cinemática do ciclista, pois a interação entre
A bicicleta dificilmente sai sem ciclista e bicicleta é mínima após o impacto, e a
avarias de um acidente de trânsito, porém a influência da massa da bicicleta é pequena.
magnitude dos danos não é um indicador O estudo em questão envolve ciclistas e
confiável da severidade do evento. automóveis. Assim, pode-se assumir que, na
maior parte dos casos, o centro de gravidade do
O automóvel: Assim como a bicicleta, o exame ciclista estará acima do ponto de primeiro
do automóvel oferece dados importantes sobre contato com o veículo, de modo que o ciclista é
a colisão. O tipo de danos e a sua orientação projetado sobre a tampa do compartimento do
podem ser de grande auxílio para a motor, em uma trajetória do tipo wrap. A
compreensão da dinâmica do acidente de trajetória da bicicleta, entretanto, será do tipo
trânsito. forward.
No primeiro momento da colisão ocorre
2.3 A vítima o impacto do pára-choque do automóvel na
bicicleta/ciclista. Devido à forma alongada da
As lesões do ciclista são vitais para bicicleta, há muitos casos em que a bicicleta é
entender completamente a natureza, a atingida, mas o ciclista não sofre um impacto
sequência e a causa do evento. Em um caso em direto. Essa é uma das razões para o menor
que a natureza das lesões seja inconsistente número de lesões nas pernas de ciclistas em
com a hipótese para a sequência do acidente de comparação com pedestres. Outra razão é o fato
trânsito, essa sequência talvez deva ser revista. de as pernas não estarem suportando o peso do
ciclista, como ocorre com pedestres.
O segundo momento, analogamente 4. METODOLOGIAS DE CÁLCULO
aos acidentes com pedestres, ocorre com a DE VELOCIDADE
rotação do corpo do ciclista, quando há o
contato da parte superior do corpo com a tampa Os métodos para avaliação de
do compartimento do motor. O grau de rotação velocidade em acidentes trânsito envolvendo
depende da excentricidade do impacto e da automóveis e ciclistas são análogos àqueles
velocidade. Após, é comum um impacto da utilizados em acidentes entre automóveis e
cabeça no pára-brisa, podendo ocorrer também pedestres.
impacto no teto ou na coluna – segundo Simms Em casos em que há uma velocidade
e Wood (2009), a posição do impacto da cabeça substancial da bicicleta transversalmente ao
pode variar em relação ao centro de massa do movimento do automóvel, a projeção tem
ciclista, velocidade do automóvel e tipo de componentes paralelos e perpendiculares ao
colisão. Por exemplo, em casos de colisão movimento do automóvel. Entretanto, segundo
transversal em que a bicicleta é atingida Simms e Wood (2009), esses são independentes
somente na parte posterior, não há impacto da e, assumindo que ocorreu um contato total entre
cabeça no automóvel. a região frontal do veículo e a bicicleta, a
Após o impacto da cabeça, o ciclista projeção do ciclista, paralelamente ao movimento
pode ser projetado sobre o teto ou novamente do automóvel, ainda pode ser usada para o
sobre a tampa do compartimento do motor – cálculo da velocidade do automóvel.
nesse caso, a separação ciclista/automóvel só O método desenvolvido por Searle
ocorrerá se a frenagem for suficiente para (1983) deriva uma equação para a velocidade de
superar o coeficiente de atrito entre o ciclista e projeção associada a uma trajetória total
a tampa do compartimento do motor, conforme conhecida. Foi o primeiro autor a considerar o
descrito por Simms e Wood (2006). arrasto e solavancos na trajetória de pedestres em
Com a separação entre o um atropelamento. Trabalhos anteriores
ciclista/bicicleta e o automóvel, tem início a consideravam somente a trajetória aérea, o que
trajetória aérea. Nesse momento, o centro de introduzia grandes erros, pois a trajetória no chão
gravidade do ciclista executa um movimento pode ser maior que a parte aérea, e o ponto de
parabólico até a queda, onde tanto a bicicleta primeiro contato do corpo no chão nem sempre
quanto o ciclista podem arrastar, rolar, até as pode ser determinado.
suas posições finais. Segundo Otte (1989), a O cálculo para ciclistas é idêntico ao
projeção da bicicleta é geralmente maior, pois utilizado para pedestres. As diferenças – por
por receber o impacto direto a sua trajetória exemplo, a altura do centro de gravidade de
aérea é maior que a do ciclista. ciclistas e pedestres – são insignificantes, pois a
As distâncias de projeção utilizadas adição do arrasto do ciclista na trajetória
para o cálculo de velocidades são as distâncias compensa eventuais diferenças.
que o ciclista e a bicicleta percorrem desde o Searle (1983) recomenda um coeficiente
impacto com o automóvel até o repouso, de atrito de 0,66 no asfalto e 0,79 na grama. A
incluindo o vôo, o primeiro contato com o chão fórmula desenvolvida é apresentada na equação
e o arrasto até a posição final. 1. As equações 2 e 3 apresentam os valores
mínimo e máximo de velocidade para ângulos de
projeção desconhecidos.

=  
(1)

  = 
Otte (2004) também plotou gráficos da
(2)
  desaceleração pela distância de projeção de
ciclistas e bicicletas, chegando aos valores de
 = 2 (3) desaceleração médios apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 – Desaceleração média (Fonte: Otte, 2004).


Onde: 2
v = a velocidade do automóvel (m/s); Desaceleração média (m/s )
vmin = velocidade mínima do automóvel para Distâncias de projeção
ângulo de projeção desconhecido (m/s) Todas < 10 m > 10m
vmax = velocidade máxima do automóvel para Ciclistas 6,0 6,1 5,6
ângulo de projeção desconhecido (m/s) Bicicletas 9,0 11,2 4,5
µ = coeficiente de atrito do ciclista com o chão;
d = distância total de projeção do ciclista (m); Com esses valores de desaceleração,
θ = ângulo de projeção do ciclista. pode-se utilizar a Equação de Torricelli de forma
O método demonstrado por Otte análoga ao cálculo de velocidade de veículos
(2004) utiliza equações empíricas pelo comprimento das marcas de frenagem,
desenvolvidas pela regressão linear de dados conforme as equações 6 e 7:
coletados em 510 acidentes reais investigados
pela equipe da Accident Research Unit –  = 2. $ .  (6)
Medical University Hannover. As equações 4 e
 = 2. $ . 
5 demonstram a relação entre a velocidade do
(7)
automóvel e as projeções do ciclista e da
bicicleta, respectivamente:
Onde
 = 0,033, (4) vc = velocidade do automóvel no momento do
impacto, calculada pela projeção do ciclista
 = 0,044 ,"
(m/s);
(5) vb = velocidade do automóvel no momento do
impacto, calculada pela projeção da bicicleta
Onde: (m/s);
vc = velocidade do automóvel no momento do ac = desaceleração do ciclista (m/s2);
impacto, calculada pela projeção do ciclista ab = desaceleração da bicicleta (m/s2);
(km/h); wc = distância de projeção do ciclista (m);
vb = velocidade do automóvel no momento do wb = distância de projeção da bicicleta (m).
impacto, calculada pela projeção da bicicleta
(km/h);
wc = distância de projeção do ciclista (m);
5. ANÁLISE DE CASOS REAIS
wb = distância de projeção da bicicleta (m). As metodologias apresentadas foram
Nesse estudo, os critérios utilizados utilizadas em casos reais atendidos pelo IGP/RS.
foram: impacto frontal do automóvel, nenhum Em todos os casos houve a perícia no local do
impacto no automóvel a 20 cm da lateral, altura acidente, sendo possível identificar o sítio de
do ciclista maior que 150 cm e velocidade do colisão e as posições finais do ciclista, da
automóvel maior que a velocidade do ciclista bicicleta e do automóvel, e foram desenvolvidos
no momento do impacto. croquis dos acidentes em escala. Somente foram
utilizados casos em que o automóvel produziu Tabela 2 – Velocidades calculadas pelo método de
marcas de frenagem, para confirmação dos Searle
valores calculados. Os casos analisados são os v (km/h) vmin (km/h) vmax (km/h)
que seguem: CASO 1 94,0 69,7 83,5
- caso 1: colisão transversal; a região anterior CASO 2 83,3 73,5 88,1
CASO 3 95,0 77,2 92,5
do automóvel colidiu com a região lateral
CASO 4 91,6 93,4 111,9
esquerda da bicicleta; CASO 5 64,9 47,0 56,3
- caso 2: a região anterior do automóvel colidiu
com a região lateral esquerda posterior da Tabela 3 – Erros nas velocidades calculadas pelo
bicicleta; método de Searle
- caso 3: a região anterior direita do automóvel v (km/h) Erro vmin (%) Erro vmax (%)
colidiu com a região lateral esquerda da CASO 1 94,0 25,9 11,2
bicicleta; há indicações de que a vítima não CASO 2 83,3 11,8 5,6
estaria sobre a bicicleta; CASO 3 95,0 18,8 2,7
- caso 4: a região anterior do automóvel colidiu CASO 4 91,6 1,9 22,1
com a região posterior da bicicleta; neste caso, CASO 5 64,9 27,6 13,3
o automóvel não parou ao final das marcas de
frenagem; 80
Distância de projeção (m)

- caso 5: a região anterior do automóvel colidiu


com a lateral esquerda posterior da bicicleta; há 60
indicações de que a vítima não estaria sobre a
bicicleta; 40
Nos casos em que a colisão ocorreu
20
após o início da frenagem, os cálculos de
V Vmin Vmax
velocidade pelas marcas de frenagem foram 0
corrigidos, considerando-se a desaceleração do 40 60 80 100 120
automóvel até a colisão. A velocidade calculada Velocidade (km/h)
pelas marcas de frenagem está apresentada nas
tabelas pela notação v. Todos os valores de Figura 1 – Gráfico de Distância de projeção do
velocidade calculados são apresentados em ciclista em função da velocidade.
km/h.
5.2 Método de Otte
5.1 Método de Searle
A Tabela 4 apresenta os valores de
A Tabela 2 apresenta os valores de velocidade calculados pelas marcas de frenagem
velocidade calculados pelas marcas de e pela projeção de ciclistas e bicicletas,
frenagem e os limites máximo e mínimo utilizando as relações entre velocidade do
calculados pelo método de Searle. Esses automóvel e distância de projeção demonstradas
resultados também são apresentados na Figura por Otte (2004). Esses resultados também são
1, em gráficos de distância de projeção em apresentados nas Figuras 2 e 3, em gráficos de
função da velocidade. Os erros são distância de projeção em função da velocidade.
apresentados na Tabela 3. Os erros são apresentados na Tabela 5.
Tabela 4 – Velocidades calculadas utilizando as 5.3 Equação de Torricelli
relações demonstradas por Otte
v (km/h) vc (km/h) vb (km/h) A Tabela 6 apresenta os valores de
CASO 1 94,0 89,0 88,7 velocidade calculados pelas marcas de frenagem
CASO 2 83,3 95,2 70,1 e pela projeção de ciclistas e bicicletas,
CASO 3 95,0 101,3 89,5
utilizando os valores de desaceleração propostos
CASO 4 91,6 128,7 97,2
CASO 5 64,9 54,3 47,5 por Otte (2004) e reproduzidos na Tabela 1 - em
todos os casos estudados as distâncias de
Tabela 5 – Erros nas velocidades calculadas projeção são maiores que 10m, assim, são
utilizando as relações demonstradas por Otte utilizados os valores apresentados na última
v (km/h) Erro vc (%) Erro vb (%) coluna da Tabela 1. Os resultados também são
CASO 1 94,0 5,3 5,7 apresentados nas Figuras 4 e 5, em gráficos de
CASO 2 83,3 14,2 15,9 distância de projeção em função da velocidade.
CASO 3 95,0 6,6 5,9 Os erros são apresentados na Tabela 7.
CASO 4 91,6 40,4 6,1
CASO 5 64,9 16,4 26,8 Tabela 6 – Velocidades calculadas pela projeção de
ciclistas e bicicletas, utilizando valores de
desaceleração propostos por Otte.
v (km/h) vc (km/h) vb (km/h)
CASO 1 94,0 77,6 76,6
CASO 2 83,3 81,9 63,7
CASO 3 95,0 86,0 77,1
CASO 4 91,6 104,1 82,3
CASO 5 64,9 52,4 47,0

Tabela 7 – Erros nas velocidades calculadas pela


projeção de ciclistas e bicicletas, utilizando valores de
desaceleração propostos por Otte.
v (km/h) Erro vc (%) Erro vb (%)
CASO 1 94,0 17,4 18,5
CASO 2 83,3 1,8 23,6
Figura 2 – Gráfico de Distância de projeção do CASO 3 95,0 9,5 18,8
ciclista em função da velocidade. CASO 4 91,6 13,6 10,2
CASO 5 64,9 19,3 27,7

80 80
Distância de projeção (m)

Distância de Projeção (m)

60 60

40 40

20 20
V Vb V Vc
0 0
40 60 80 100 120 40 60 80 100 120
Velocidade (km/h)
Velocidade (km/h)
Figura 3 – Gráfico de Distância de projeção da Figura 4 – Gráficos de Distância de projeção do
bicicleta em função da velocidade. ciclista em função da velocidade.
80 estudos apresentam coeficientes de atrito entre o
corpo de um pedestre ou ciclista e o chão, mas os
Distância de projeção (m)

60 valores encontrados estão em uma faixa muito


grande; o valor de desaceleração utilizado no
estudo está relacionado a um coeficiente de atrito
40
de 0,57. Em relação à projeção da bicicleta, o
valor do coeficiente de atrito é ainda mais difícil
20 de ser determinado – Becke apud Otte (2004)
V Vb realizou ensaios para medição de atrito e
0 encontrou desacelerações entre 4m/s2 e 8m/s2, e
40 60 80 100 Burg apud Otte (2004) encontrou desacelerações
Velocidade (km/h) entre 2,5m/s2 e 8m/s2 em casos reais.
Figura 5 – Gráficos de Distância de projeção da O método de Searle apresenta uma faixa
bicicleta em função da velocidade. de velocidades para o automóvel, calculadas pela
projeção do ciclista. A velocidade calculada
6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS pelas marcas de frenagem está dentro dessa faixa
de velocidades ou acima da velocidade máxima,
O método de Otte (regressão linear) situação que foi explicada por Searle (1983)
pela projeção da bicicleta foi o que produziu os devido ao fato de a projeção do ciclista
menores erros, exceto nos casos 2 e 5, em que o corresponder a um percentual da velocidade do
automóvel colidiu transversalmente com a automóvel, variando conforme a altura do centro
região posterior da bicicleta. Esse tipo de de gravidade do ciclista e a altura da frente do
colisão não satisfaz os requisitos dos acidentes automóvel. Entretanto, no caso 4, apesar de o
estudados por Otte (2004), portanto, essas erro da velocidade mínima ser pequeno, a
equações não são aplicáveis a casos como estes. velocidade calculada pelas marcas de frenagem
Nos cálculos pela projeção do ciclista, esses está abaixo da faixa de valores do método de
casos também apresentam erros mais elevados Searle, o que é explicado pelo erro no valor
que os casos em que toda a lateral da bicicleta calculado da velocidade de referência.
sofre o impacto.
O caso 4 apresenta uma colisão 7. CONCLUSÕES
traseira, em que os veículos se movimentam no
mesmo sentido e a região posterior da bicicleta - os resultados obtidos pelos três métodos não
é impactada pela região frontal do automóvel. mostram diferenças significativas entre colisões
O erro na velocidade calculada pela projeção do com o ciclista sobre a bicicleta e colisões com o
ciclista é de 40,4%, o que ocorre devido ao fato ciclista levando a bicicleta;
de o automóvel não ter parado ao final das - os melhores resultados foram obtidos nos casos
marcas de frenagem, introduzindo erro na em que a toda a lateral da bicicleta é atingida
velocidade de referência. pela região anterior do automóvel;
O método que utiliza a Equação de - sugere-se a aplicação de outras metodologias e
Torricelli de forma análoga à utilizada para o estudo de mais casos para uma melhor
cálculo de velocidade pelas marcas de compreensão do fenômeno colisão de
frenagem apresentou erros mais elevados, automóveis com bicicletas e ciclistas.
principalmente no cálculo pela projeção da
bicicleta. Uma fonte de erro a ser considerada é
o coeficiente de atrito utilizado – diversos
8. REFERÊNCIAS
Broker, J. P.; Hill, P. F.; Bicycle Accidents -
Biomechanical, Engineering and Legal
Aspects, USA. Lawyers & Judges Publishing
Company, Inc., 2006

Otte, D.; Injury mechanism and crash


kinematics of cyclists in accidents – An
analysis of real accidents. Society of Automotive
Engineers Conference, SAE Paper No. 892425,
1989.

Otte, D.; Use of Throw Distances of


Pedestrians and Bicyclists as Part of a Scientific
Accident Reconstruction Method. Germany.
SAE Paper 2004-01-1216, 2004.

Searle, J. A.; Searle, A.; The Trajectories of


Pedestrians, Motorcycles, Motorcyclists, etc.,
Following a Road Accident. Society of
Automotive Engineers Conference, SAE Paper
No. 831622, 1983.

Simms, C.; Wood, D.; Pedestrian and Cyclist


Impact - A Biomechanical Perspective.
Springer, 2009.

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