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Ainda que o fator humano seja preponderante como causa dos acidentes de trânsito, o
fator causal veicular e o fator causal viário-ambiental são negligenciados nas estatísticas
elaboradas a partir de informes policiais. Estes fatores quando considerados como causas
associadas a outras, a partir de uma visão de analise sistêmica, aumentam muito sua
participação, o que só aparece em estudos científicos. É consenso mundial de que o fator
humano, associado a outras causas, corresponde a aproximadamente 90%. No entanto,
afirmar que 99% dos acidentes são causados unicamente pelos condutores é lavar as mãos e
jogar toda a responsabilidade para os condutores.
Os mais recentes estudos sobre tempos de reação de condutores nos dão conta de
que ninguém reage a uma situação inesperada em menos de 1,8 segundos1 durante o dia e em
menos de 2,5 segundos2 durante a noite (tempos mínimos de reação), o que explica a
inevitabilidade de muitos dos acidentes de trânsito. Este tempo de reação, conhecido como
tempo de P.I.E.V. (Percepção, Identificação, Emoção e Vontade) pode chegar a até 5,1
segundos, dependendo de diversos fatores tais como cansaço, enfermidades, idade, álcool e
outras drogas, entre outros. O tempo de reação de 0,75 segundos só corresponde à realidade
em uma situação esperada e em condições externas favoráveis, como por exemplo, a espera
pela mudança de cor de um semáforo.
1
G. T. Taoka, Brake Reaction Times of Annalerted Drivers, Int. Traff. Journal (1989).
2
Robert Dewar, Human factors Affecting Perception, Law and Order Magazine, August (1996).
1
O travamento do ponteiro do velocímetro não se constitui em um indicativo confiável
da velocidade de impacto de um veículo envolvido em acidente de trânsito 3, dadas as diversas
desacelerações a que o mecanismo de medição da velocidade é submetido em uma colisão.
6) “Quando do rodízio ou substituição dos pneus, deve-se colocar os pneus menos gastos
na dianteira e os mais gastos na traseira.”
3
, W. Toresan Jr., O Registro Permanente do Ponteiro do Velocímetro de Veículos Automotores, Após
um Evento de Colisão, Utilizado como Elemento para a Perícia em Acidentes de Trânsito (2006).
4
O. Negrini N. e R. Kleinübing, “O Mito da Aquaplanagem”, Dinâmica dos Acidentes de Trânsito -
Análises, Reconstruções e Prevenção, Ed. Millennium, 3 a Edição (2009).
2
utilizam o cinto de segurança. Portanto, o cinto de segurança deve ser utilizado sempre e por
todos os ocupantes.
11) “Os carros antigos eram mais fortes e seguros que os modernos.”
A prioridade das medidas preventivas com relação aos acidentes de trânsito não é a de
reduzir o número de acidentes de trânsito e sim de reduzir o número de acidentes de trânsito
com vítimas fatais, seguido dos acidentes de trânsito com lesões permanentes, seguido dos
acidentes de trânsito com lesões em geral, seguido dos acidentes de trânsito com danos
ambientais e seguido dos acidentes de trânsito com danos materiais. De nada adianta se
investir em segurança no trânsito e não se reduzir o número de mortes por acidentes de
trânsito. Em uma determinada situação, a redução do número de vítimas fatais pode se dar
pela melhoria dos procedimentos de primeiros socorros, de resgate e remoção de emergência.
Do total dos acidentes de trânsito, aproximadamente 15% resultam em lesões significativas,
com aproximadamente 1% resultando em vítimas fatais e 85% apenas em danos materiais.
3
Existe um número significativo de acidentes de trânsito causados por falha de
componentes automotivos, não apenas por uso inadequado ou por ausência de manutenção,
mas também por problemas de fabricação e que não aparecem nas estatísticas. Daí a
importância da certificação de componentes automotivos e a realização dos recalls. Há muito
tempo caiu por terra o “mito da infalibilidade das montadoras”.
Concebidos para serem discretos, como ninhos, e daí o apelido de “pardal”, estes
dispositivos eletrônicos de controle de velocidade tiveram sua eficácia prejudicada pela
exigência legal de serem sinalizados. Neste caso, é fácil quebrar a indústria da multa: é só
respeitar o limite máximo de velocidade. Pior que a indústria da multa é a indústria da contra-
multa.
16) “Posso beber e dirigir, pois quando bebo dirijo com mais cuidado.”
Ao contrário do que algumas pessoas ainda possam acreditar, apesar de produzir certa
excitação inicial, o álcool é um depressor do sistema nervoso central (SNC), com grau de
depressão diretamente proporcional a sua concentração no sangue. Uma concentração de 0,5
dg álcool/litro sangue, inferior à concentração tolerável antes da promulgação da denominada
“lei seca”, pode dobrar o tempo de reação do condutor.
Tais aspectos resultam em uma relação direta entre o consumo de bebidas alcoólicas e
o risco de provocar ou se envolver em acidentes de trânsito, relação esta evidenciada pelas
estatísticas mundiais de acidentes de trânsito, as quais revelam altos índices de envolvimento
neste tipo de sinistro por condutores que ingeriram bebida alcoólica, principalmente à noite.
Segundo estudo5, entre as 3h e 4h da madrugada de um fim de semana, o risco de fatalidade
em acidentes de trânsito é 10 vezes maior que durante as 10 e 11h da noite, quando a
escuridão é a mesma.
5
R. C. Schwing, e D. B. Kamerud, The Distribuition of the Risk: Vehicle Occupant Fatalities and Time of
the Week, Risk Analysis 8 (1988).
4
em atendimento de emergência existe a dificuldade de se diagnosticar se a pessoa teve uma
lesão neurológica ou se está apenas alcoolizada. Também no caso de necessidade de uma
cirurgia, existe a questão da anestesia. Portanto, vítimas de acidentes de trânsito alcoolizadas
são mais suscetíveis a óbitos.
17) “Se eu estiver de capacete, estou seguro no caso de acidente (cultura do capacete).”
Nosso país apresenta índices acidentológicos, número de vítimas por população e por
frota, muito maiores do que países que adotaram programas de prevenção de acidentes de
trânsito, mas menores do que outros países. Acidentes de trânsito não é a maior causa de
morte da nossa população, mas a maior causa de morte de jovens, isto num país de grandes
índices de criminalidade contra os jovens. Os acidentes de trânsito são a maior causa de
perdas de anos de vida laborativa em nosso país, o que representa um enorme impacto na
nossa economia.
Aumentar o rigor das penas não resolve o problema da criminalidade e muito menos
dos acidentes de trânsito. O mais importante é termos maior qualidade na fase policial e
judicial de apuração da responsabilidade dos acidentes de trânsito, visando a diminuição da
impunidade com o fortalecimento da prova pericial na instrução processual, evitando o
julgamento de um acidente de trânsito apenas por um informe policial ou por prova
testemunhal.