Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
Este trabalho apresenta uma metodologia desenvolvida para um estudo de caso específico para um
trecho de concessão que abrange, dentre outros trechos, a Rodovia MG-050. O artigo desenvolve uma
visão crítica sobre a metodologia vigente que define trechos críticos em rodovia. A proposta
metodológica consiste em uma mudança de paradigma que em detrimento de números absolutos
prioriza as fatalidades para a indicação de criticidade. Essa visão favorece políticas e projetos de
preservação à vida humana e à contemporânea filosofia da “visão zero”. Os resultados obtidos através
de um processo de modelagem por correlação canônica apresentaram significativa harmonia com o
idealizado pelo estudo que é considerar como fato principal de necessidade de intervenção os locais que
apresentam acidentes com vítimas fatais ou com certo grau de dano físico.
ABSTRACT
This work presents a methodology developed for a specific case study for a concession stretch that
covers, among other stretches, the MG-050 Highway. The article develops a critical view of the current
methodology that defines critical stretches on the highway. The methodological proposal consists of a
paradigm shift that, instead of absolute numbers, prioritizes fatalities for the indication of criticality. This
vision favors policies and projects to preserve human life and the contemporary philosophy of “zero
vision”. The results obtained through a canonical correlation modeling process showed a significant
harmony with the idealized by the study, which is to consider as the main fact of intervention need the
places that present accidents with fatal victims or with a certain degree of physical damage.
As tentativas de explicar os acidentes são tão antigas como o estudo científico realizado por Bortkiewicz
(1898), cujo trabalho é muitas vezes considerado como o início da investigação de acidentes. Neste
trabalho, concluiu-se que os acidentes ocorreram de forma aleatória. Contribuições posteriores
atribuíram acidentes de propensão individual, os erros humanos (Sabey e Staughton 1975, Treat et. al.
1979), as falhas do sistema (Perrow, 1999). Shopf (2006) menciona em seu estudo que a teoria da
causalidade acabou concluindo que os acidentes eram eventos tipicamente multicausais, sendo, quase
sempre, impossível identificar uma das causas como sendo a mais decisiva na ocorrência dos acidentes.
No entanto, muitos estudos atribuem os acidentes, predominantemente, a erros cometidos pelos
usuários da via. O foco dado pela teoria da causalidade sobre erros humanos (na década de 50) levou a
uma ênfase equivocada em tentar modificar o comportamento humano como a principal medida
preventiva de acidentes. Logo se percebeu que estes esforços eram pouco eficientes e tornou- se
necessário descobrir por que erros humanos eram cometidos. Isto levou a uma transição a um novo tipo
de teoria. Atualmente, o conceito de “causa de acidentes” foi substituído pelo de “fatores contribuintes
de acidentes”. Dentro do raciocínio de que os acidentes são resultado de vários fatores encadeados,
acredita-se que não é possível detectar causas para sua ocorrência e sim fatores que, juntos, contribuem
para a ocorrência do acidente.
No contexto rodoviário, tendo em vista que ações devem ser desempenhadas naqueles pontos mais
críticos de uma rodovia, um ponto extremamente importante é o estabelecimento de uma consistente
metodologia de definição de trechos críticos. O presente artigo apresenta uma proposta metodológica
para que seja um subsídio útil no processo de definição de segmentos críticos. O objetivo é que este
estudo contribua para o estabelecimento de medidas mitigadoras mais assertivas, com o foco especial
na redução de fatalidades.
2. METODOLOGIA DE DEFINIÇÃO DE PONTOS CRÍTICOS EM RODOVIAS
O “Produto I - Metodologia para identificação de segmentos Críticos” (DNIT, 2009) apresenta diversos
estudos para auxiliar no processo de análise dos estudos de segurança viária, a citar:
Modelos Nacionais
• Manual de Identificação, análise e tratamento de pontos negros - DENATRAN (1982);
• Um Modelo para Identificação dos Segmentos Críticos de uma Rede de Rodovias - DNER (1986);
• Nota técnica NR 210/ Técnica de análise de Conflitos – CET;
• Guia de Redução de Acidentes com Base em Medidas de Engenharia de Baixo Custo - DNER
(1998);
• Análise e Tratamento de Trechos Rodoviários Críticos em Ambientes de Grandes Centros
Urbanos - MENESES (2001);
• Procedimentos para o Tratamento de Locais Críticos de Acidentes de Trânsito – CEFTRU (2002);
• Manual de Procedimento para o Tratamento de locais críticos do Programa PARE – MT (2002).
Modelos Internacionais
• Método da BASt para Identificação de Áreas Críticas - Identifikation Von Unfallstellen.
Beseitigung von Unfallstellen - BRENNER (1978);
• Método da VSP - Untersuchungen an Unfalltypensteckkarten Meeves (1998);
• Transportation and Traffic Engineering Handbook (1976);
• Traffic Engineering Handbook - Pline (1992).
Outras metodologias vêm sendo desenvolvidas ao longo dos anos visando aprimorar cada vez mais o
processo de determinação dos pontos críticos de uma rodovia como, por exemplo, Schmitz (2011) que
apresenta uma proposta metodológica baseada em GIS para análise dos segmentos críticos de rodovia.
Além disso, tem-se a metodologia que visa reduzir o número de mortos e feridos no trânsito através da
implementação de vias mais seguras denominada International Road Assessment Programme (IRap,
2017). A metodologia é apoiada na ideia da “abordagem do sistema seguro”, acreditando que as mortes
e lesões nas vias ocorrem em função do modo de dirigir, dos tipos de veículos em uso, velocidades, e em
função do projeto, além do formato de gestão da rodovia.
3. PROCESSO METODOLÓGICO
A criação de uma nova Metodologia de Cálculo de Segmento Crítico surgiu a partir de um estudo de caso
que passou pelo seguinte processo de análise: (i) Definição e caracterização da área de estudo; (ii)
Avaliação do Banco de Dados; (iii) Avaliação crítica da Metodologia de Cálculo de Segmento Crítico
aplicada ao Banco de Dados; (iv) Criação de nova Proposta Metodológica de Segmento Crítico. O
detalhamento das etapas é apresentado a seguir.
Um dos maiores problemas no ramo da engenharia de tráfego é a qualidade do banco de dados. Fatores
que podem estar relacionados são: imperícia do indivíduo que está registrando a ocorrência, tabulação
dos dados errada, perda de Informação, ausência de informação dentro do formulário de ocorrência,
conflito de informações, dentre outros. É de grande importância que antes da realização dos cálculos
seja realizada uma análise de consistência do banco de dados para verificar as dispersões existentes ou
até mesmo a falta de informações relevantes para as análises.
3.3 Avaliação crítica da Metodologia de Cálculo de Segmento Crítico Atual – DNER (1986)
A metodologia que está sendo comparada no presente artigo é a definida por DNER (1986) que relaciona
o nível de criticidade de um trecho de 1km de rodovia a partir de pesos em função da severidade.
Segundo DNER (1986), o acidente só pode ser classificado em três níveis, sendo eles, vítimas ilesas,
vítimas feridas e vítimas fatais com um valor atribuído, sendo 1, 5 e 13 respectivamente. Com isso,
multiplica- se a quantidade de cada um desses acidentes pelas suas respectivas constantes e por fim
soma- se os três valores encontrados para chegar-se ao UPS do ponto no período analisado. A equação a
seguir apresenta a equação para se obter a Unidade Padrão de Severidade (UPS) que será uma das
variáveis utilizadas no processo de definição de um segmento de 1km como crítico (ou não).
Onde:
DNIT (2009) menciona que esta metodologia apresenta como vantagem a neutralização da influência do
volume veicular no nível de acidentes já que, locais com elevados volumes de tráfego tendem a possuir
maior número de acidentes. A base da metodologia de Identificação dos Segmentos Críticos de uma
Rede de Rodovias - DNER (1986), apresenta os procedimentos matemáticos que indicam como a variável
‘número de acidentes’ num determinado segmento servirá para distinguir, numa dada amostra, aqueles
segmentos de rodovia que se reconhecerão como críticos.
De modo geral, o método proposto por DNER (1986) baseia-se na probabilidade de ocorrência de um
acidente em um determinado segmento, tendo como base de comparação uma amostra estudada. Os
segmentos que tiverem, individualmente, seus índices anuais de acidentes maiores que seus respectivos
índices anuais críticos serão considerados como segmentos críticos. Como equações finais da presente
metodologia têm-se:
106 𝑥 𝑈𝑃𝑆
𝐼𝑝 = (2)
𝑃 𝑥 𝑉𝑀𝐷
106 𝑥 𝜆 0,5
𝐼𝑐 = 106 𝑥 𝜆 + √ 6
− (3)
10 𝑥 𝑚 106 𝑥 𝑚
Onde,
∑ 𝑈𝑃𝑆
𝜆= (4)
𝑃 𝑥 ∑ 𝑉𝐷𝑀 𝑥 𝐸
𝐼𝑝 ≥ 𝐼𝑐_𝑝𝑜𝑛𝑑 (5)
A identificação dos segmentos críticos, para o método apresentado neste item apresenta as seguintes
etapas: - Devem-se selecionar, preliminarmente, todos os segmentos homogêneos na análise da
rodovia; - Calcula-se a média das taxas de acidentes de todos os segmentos homogêneos e compara-se
com a taxa de acidente em cada segmento. - Após a comparação, os segmentos que apresentarem taxas
maiores que à taxa média serão denominados críticos. - Apenas os segmentos críticos serão adotados e
selecionados. (SCHMITZ e GOLDNER, 2012)
Um ponto importante a ser mencionado, e que acredita-se ser uma limitação da metodologia proposta
por DNER (1986), a avaliação a ser realizada não é em função de um ponto específico (km+metros) do
eixo viário, mas sim em função de segmento de 1000 metros (1 km). Entende-se que essa falta de
especificidade é prejudicial pois torna mais complexa a proposição de medidas de segurança. Um
quilômetro é um trecho muito extenso para se considerar uma análise tão sensível. Perde-se o nível de
detalhe quando o estudo de um trecho crítico abrange 1km inteiro, restando como possibilidade ao
estudo proposições mais genéricas de segurança. Outra análise realizada sobre o método atual é que a
forma de filtrar os pontos críticos aparentemente foca sua criticidade no indicador UPS que pondera os
acidentes a partir da severidade do mesmo.
Essa reflexão torna-se importante ao passo que supondo que no marco quilométrico km100 haja um
acidente com ônibus cuja taxa de ocupação média é de aproximadamente 45 passageiros, caso haja
algum acidente sem vítima, o modelo proposto (Equação 1) considerará 45 pontos de UPS para este
local. Uma segunda suposição é que neste mesmo km100 haja, também, um único acidente, porém
desta vez, com um veículo com apenas um ocupante derrapando na pista e venha a apresentar
fatalidade. Pela equação 1 o indicador UPS apresentará um valor de 13. Como conclusão, pela
metodologia do DNER (1986) único acidente com ônibus sem vítima alguma será considerado mais
crítico (através do indicador UPS) que um acidente com vítima fatal.
O conceito de correlação canônica possui o objetivo de determinar uma combinação linear para cada
grupo de variáveis (dependentes e independentes) que maximize a correlação entre os grupos. Funções
adicionais não correlacionadas com a primeira podem ser calculadas, sendo limitadas pelo número de
variáveis do menor grupo. Conforme Johnson & Wichern (2007), a análise de correlação canônica é uma
técnica estatística multivariada que mede a existência e a intensidade da associação entre dois conjuntos
ou grupos de variáveis aleatórias (X e Y), cujo objetivo principal é determinar os pares de combinações
lineares 𝑈= 𝑎′𝑋 e 𝑉= 𝑏′𝑌 tais que tenham a maior correlação possível, ou seja, sendo o primeiro grupo,
de p variáveis, representado pelo vetor aleatório X (p*1) e o segundo grupo, de q variáveis, representado
pelo vetor aleatório Y (q*1) , então deve-se encontrar os vetores 𝑎′(1∗𝑝) e 𝑏′ (1∗𝑞) para os quais a
correlação entre 𝑈= 𝑎′𝑋 e 𝑉= 𝑏′𝑌 seja máxima. As combinações lineares que podem ser construídas são
chamadas de variáveis canônicas e a correlação (𝐶𝑜𝑟𝑟 (𝑈,𝑉)) é chamada de correlação canônica. De
acordo com Johnson & Wichern (2007), para validação da análise de correlação canônica se faz
necessário uma análise da matriz de covariâncias) ou de correlações R a fim de determinar se elas são
próximas ou não da matriz nula. A estatística do teste é dada por:
𝑝
1
−2 ln(Λ) = − [𝑛 − 1 − (𝑝 + 𝑞 + 1)] 𝑙𝑛 [∏(1 − 𝜆𝑖 )] (6)
2
𝑖=1
Em que n é o tamanho da amostra. A estatística do teste está associada a uma distribuição Quiquadrado
𝑋2 com v = pq graus de liberdade. Se −2ln(𝛬)> 𝑋2 então rejeita-se a (𝜈,𝛼) (𝜈,𝛼) hipótese nula, ou seja,
a matriz de covariâncias é diferente de zero para algum nível de significância α considerado, indicando
que se pode fazer análise de correlação canônica. Com o auxílio do Software BioEstat 5.3 foi possível
relacionar as três variáveis de análise dentro do contexto canônico de forma a mensurar a relação
existente entre elas. A Tabela 2 a seguir apresenta os resultados desta relação.
Os resultados da Tabela 2 indicam que a combinação dessas três variáveis é, de fato, possível e apresenta
boa relevância estatísticas R² = 89%. Assim, o próximo, foi a aplicação da relação entre as variáveis UPS,
Ip e Número absoluto de acidentes consolidando todas as informações em uma única planilha de excel
de modo a ser possível realizar a primeira etapa do processo que é a ordenação (maior para o menor)
segregada de cada uma das três variáveis. Após o processo de ordenação foi aplicado o conceito
estatístico de score-z, popularmente conhecido como escore padronizado que representa o número de
desvios padrão acima ou abaixo do número total de acidentes registrados no ano.
4. RESULTADOS
Este item apresenta os resultados comparativos entre a metodologia utilizada pela concessionária da
rodovia MG-050 e a metodologia proposta no presente artigo. Inicialmente será mostrada a Tabela 3
com os resultados obtidos pela metodologia do DNER (1986) a partir das equações de 1 a 5 da Seção
3.3. Salienta-se que, em função da limitação de páginas, serão apresentados 25 locais (extensão de 1km)
mais críticos no ano de 2018.
Os resultados da Tabela já englobam o processo de cálculo dos indicadores UPS, Ip e IC e realiza, ainda,
a ordenação em função do maior valor para o indicador Ip que é o grau máximo de severidade dos
acidentes na definição de pontos críticos. Vale ressaltar, nesta análise, que dos 5 primeiros locais (coluna
Ordem) com indicação de mais críticos da rodovia todos eles apresentaram acidentes com ônibus. Como
exemplo prático, tomar-se-á o km 250 que no ano de 2018 foi registrado um único acidente por um
ônibus causado por saída de pista. Esse km 250 apresentou um elevado indicador UPS pois todos os
passageiros foram registrados no boletim de ocorrência. Esse referido km tornou-se crítico (3ª
colocação) mesmo não apresentando qualquer tipo de pessoa ferida no acidente. Ademais, o km 352
ficou em 12ª colocação de criticidade pela metodologia DNER (1986) com registros de 5 acidentes sendo
que um destes acidentes ocorreu 2 registros de vítimas feridas graves e 1 óbito. Essa relação de
diagnóstico dado pela metodologia DNER (1986) fica um pouco distorcida quando é realizada a discussão
sobre a importância da vida no processo de definição de local crítico.
A metodologia proposta no presente artigo visa a utilização dos mesmos indicadores (UPS e Ip)
apresentado em DNER (1986), porém sob uma perspectiva de ponderação de variáveis segundo os
critérios que acredita-se ser de maior importância, ou seja, a vida ou em outros dizeres técnicos
“mortalidade zero”. A relação canônica indicará o seguinte modelo matemático para o nível de
criticidade Nc:
Onde:
• 𝑉𝑓 = 𝑉í𝑡𝑖𝑚𝑎 𝐹𝑎𝑡𝑎𝑙
• 𝑉𝑓𝑒 = 𝑉í𝑡𝑖𝑚𝑎 𝐹𝑒𝑟𝑖𝑑𝑎
• 𝑈𝑃𝑆 = 𝑈𝑛𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑃𝑎𝑑𝑟ã𝑜 𝑑𝑒 𝑆𝑒𝑣𝑒𝑟𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 (𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 1)
• 𝐼𝑝 = Í𝑛𝑑𝑖𝑐𝑒 𝑃𝑜𝑛𝑑𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜 (𝐸𝑞𝑢𝑎çã𝑜 2)
A título didático, será aplicado aos mesmos 25 pontos (Vide Tabela 3, coluna Km) a metodologia
proposta para definição de Pontos Críticos. Ressalta-se que a obtenção dos indicadores UPS e Ip
seguiram a mesma metodologia em DNER (1986). Em resumo, a metodologia proposta poderá ser
interpretada como uma continuação/prolongamento do processo já existente. A Tabela 4 apresenta os
resultados obtidos aplicando o modelo proposto.
Os resultados apresentados na Tabela 4 cuja ordenação (Coluna Total) de criticidade foi dado através do
modelo matemático proposto (Equação 7) apontam para uma condição de avaliação voltada para os
acidentes com indicações de severidade para o que, de fato, é severo em sua essência, ou seja, acidentes
com vítimas feridas e vítimas fatais. Voltando ao exemplo apresentado anteriormente do km 250 que,
pela metodologia de DNER (1986) se enquadraria na 3ª colocação sem apresentar qualquer tipo de
registro de vítima ferida e/ou vítima fatal o que na metodologia proposta, este mesmo km 250 estaria
na 18ª colocação. Ademais, o km 352 que estava na 12ª colocação de criticidade pela metodologia DNER
(1986), para a metodologia proposta neste artigo ficou na 7ª colocação o que faz todo sentido se for
analisado o contexto “mortalidade zero”, uma vez que, faz-se necessária a intervenção de imediato nos
pontos onde ocorrem vitimas fatais ou com certo grau de dano físico. Acredita-se que com essa
adaptação, além de contemplar a metodologia proposta por DNER (1986), o olhar crítico será voltado
com maior vigor ao local onde o acidente tendencialmente acarreta em mais riscos à vida humana e,
neste caso, sugere-se que imediatamente sejam realizadas medidas para minimizar as variáveis
conflitantes do quesito segurança viária.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo de caso foi realizado para concessionária AB Concessões. A empresa pretende
contribuir para a redução de acidentes, mas não somente no ponto de vista do número absoluto, mas
preconiza sobretudo a redução da severidade dos acidentes e das fatalidades. Dentro dos limites de seu
contrato de concessão, a empresa investe em soluções com grandes obras e através de medidas de
engenharia de baixo custo.
De acordo com Raia Jr. (2009), a responsabilidade pelos acidentes geralmente é atribuída ao usuário,
“isentando, de alguma forma, os projetistas e gestores do sistema viário e os construtores dos veículos.”
(RAIA JR., 2009). A culpabilização do usuário não resolve o problema, desse modo, a disciplina de
Segurança Viária precisa assumir um papel mais responsável e atuar de forma mais sensível, os usuários
podem se adaptar às diversas possibilidades do ambiente (topografia, curvas, pista simples, chuva,
neblina, etc.), porém as pessoas cometem erros e esses erros devem ser previstos e considerados de
modo a não penalizar os usuários por suas próprias falhas. No contexto da Visão Zero, a filosofia possui
como meta de longo prazo reduzir não necessariamente o número de acidentes, mas o montante de
fatalidades e as lesões graves a zero (Arnoldussen, 2004 apud RAIA JR., 2009).
Os resultados apresentados através do modelo matemático proposto apontam para uma condição de
avaliação voltada para os acidentes com indicações de severidade para o que, de fato, é severo em sua
essência, ou seja, acidentes com vítimas feridas e vítimas fatais. Voltando ao exemplo apresentado
anteriormente do km 250 que, pela metodologia de DNER (1986) se enquadraria na 3ª colocação sem
apresentar qualquer tipo de registro de vítima ferida e/ou vítima fatal o que na metodologia proposta,
este mesmo km 250 estaria na 18ª colocação. Ademais, o km 352 que estava na 12ª colocação de
criticidade pela metodologia DNER (1986), para a metodologia proposta neste artigo ficou na 7ª colocação
o que faz todo sentido se for analisado o contexto “mortalidade zero”, uma vez que, faz-se necessária a
intervenção de imediato nos pontos onde ocorrem vítimas fatais ou com certo grau de dano físico.
Acredita-se que com essa adaptação, além de contemplar a metodologia proposta por DNER (1986), o
olhar crítico será voltado com maior vigor ao local onde o acidente tendencialmente acarreta em mais
riscos à vida humana e, neste caso, sugere-se que imediatamente sejam realizadas medidas para
minimizar as variáveis conflitantes do quesito segurança viária.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AASHTO. “Highway Safety Manual (1ª ed.).” American Association of State and Higway Transportation
Officials, Washington, 2010.
ABNT. “NBR–10.697.” Associação Brasileira de Normas Técnicas, junho de 1980. ABNT. “NBR–12.898.”
Associação Brasileira de Normas Técnicas, novembro de 1993.
ANDRADE, C. M. O modelo QRSP para a quantificação do risco na saída de veículos da pista de rodovias.
Tese de Doutorado, São Carlos: Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2011,
268 p.
AUSTROADS. Road safety audit. Austrália: Austroads National Office, 1994.
BARBOSA, S. H. Rodovias de pedágio aberto ou free-flow: perspectivas para a implantação no Brasil.
Dissertação de Mestrado, Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2013, 103 p.
BASTOS, J. T. Geografia da mortalidade no trânsito no Brasil. Dissertação de Mestrado, São Carlos: Escola
de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2011, 146 p.
BORTKIEWICZ, L. Das Getez der Kleinen Zahlen (The Law pf Small Numbers). Leipzig. 1898
CASTRILLÓN, A. D.; CANDIA, J. S. Guía para realizar una auditoria de seguridad vial. Chile: Comisión
Nacional de Seguridad de Trânsito, 2003.
CEFTRU - Centro de Formação de Recursos Humanos em Transportes/ UnB - Universidade de Brasília.
Procedimentos para o tratamento de locais críticos de acidentes de trânsito. Brasília: TDA desenho e
arte, 2002. 75p.
CET – Companhia de Engenharia de Tráfego. NT 210 – Técnica de Análise de Conflitos. Disponível em
http://www.cetsp.com.br. Visualizado em Agosto de 2020.
CONTRAN. “Manual Brasileiro de Sinalização de Trânsito – Volume IV: Sinalização Horizontal” Ministério
das Cidades, Brasília, 2007.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE TRÂNSITO (DENATRAN). Manual de Identificação. Análise e Tratamento
de pontos negros. Brasília, 1982. 127 p.
DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM (DNER). Um Modelo para Identificação dos
Segmentos Críticos de uma Rede de Rodovias. Rio de Janeiro, 1986.
DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM DE MINAS GERAIS – DER/MG. Edital nº 070/06 de
Concorrência para Concessão Rodoviária. Belo Horizonte, 2006.
DNER. “Guia de redução de acidentes com base em medidas de engenharia de baixo custo” Ministério
dos Transportes, Rio de Janeiro, 1998.
DNIT; UFSC. “Identificação e priorização de segmentos críticos para estudos de intervenção”
Universidade Federal de Santa Catarina, 2010.
DNIT. “Manual de projeto e práticas operacionais para segurança nas rodovias” Instituto de Pesquisas
Rodoviárias, Rio de Janeiro, 2010.
FERRAZ, et al. Segurança Viária. São Carlos: Suprema Gráfica e Editora, 2012.
HANNON, J. J., & SULBARAN, T. Information Technology for Efficient Project Delivery. Washington, D.C.:
Transportation Research Board, 2008.
IRAP. International Traffic Safety Data & Analysis Group. 2017.
http://internationaltransportforum.org/irtadpublic/index.html (acesso em maio de 2020).
MARCONI, M. A & Presotto, Z.M.N (1986). Antropologia: uma introdução 3ª edição. São Paulo. Atlas
NEST- USP. Núcleo de Estudos de Segurança no Trânsito da Universidade de São Paulo. 2012.
<http://www.stt.eesc.usp.br/nest/> (acesso em Abril de 2012).
MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES - MT. Manual de Procedimento para o Tratamento de Locais Críticos,
Programa de redução dos acidentes de trânsito. PROGRMA PARE. 2002.
MENESES, F. A. B. Análise e tratamento de trechos rodoviários críticos em ambientes de grandes centros
urbanos. 2001. 251p. Dissertação (Mestrado em Ciências em Engenharia de Transporte) – Curso de Pós
Graduação em Engenharia de Transportes, Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Rio de
Janeiro.
NODARI, C. e LINDAU, L. (2001) Auditorias de Segurança Viária. Transportes, v 9, n 2. pp 48-66
PEDEN M, SCURFIELD R. Informe mundial sobre prevención de los traumatismos causados por el tránsito:
resumen. Ginebra: Organización Mundial de la Salud; 2004.
PERROW, C. Normal Accidents: Living with high-risk tecnholgies. New York: Basic Books Inc. Publishers.
RAIA JR., A. A. A responsabilidade pelos acidentes de trânsito segundo a visão zero. Revista dos
Transportes Públicos - ANTP - Ano 31 - 1º quadrimestre, 2009.
SABEY, B.E., STAUGHTON, G.C., 1975. Interacting roles of road environment, vehicle and road user in
accidents. Paper presented to the 5th International Conference of the International Association of
Accident and Traffic Medicine, London, 1–5 September. Cited by: Brown, I., 1990. Drivers’ margins of
safety considered as a focus for research on error. Ergonomics, 33 (10–11), 1307–1314
SECRETARIA DE ESTADO DE TRANSPORTES E OBRAS PÚBLICAS – SETOP. Anuário da MG-050 2013.
Belo Horizonte, 2014.
SCHMITZ, A. Aplicação e análise de métodos de cálculo de segmentos críticos de rodovias em interface
GIS” Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Catarina, 2011.
TRB. “Highway Capacity Manual.” Transportation Research Board, Washington, D.C, 2010.
WORLD HEALTH ORGANIZATION, WHO. Global status report on road safety:. Geneva: World Health
Organization, 2015. In: http://www.who.int/ violence_injury_prevention/road_safety_status/2015/en/