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net/publication/322101814
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Paulo Silva
University of Brasília
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All content following this page was uploaded by Rogerio Lemos Ribeiro on 28 February 2020.
SEGURANÇA VIÁRIA
RESUMO
Em 2016, meados da Década Mundial de Redução de Acidentes de Trânsito (2011 a 2020), o Brasil
assume a terceira posição entre os países em que mais morreram pessoas em decorrência aos acidentes viários. Na
tentativa de reduzir os conflitos nas vias, o país concentra esforços em diversas áreas de transporte. As interseções
em rotatórias, embora contribuam para a elevação do número de acidentes, costumam ser estudadas no sentido de
aumentar a fluidez de tráfego. Este trabalho tem por objetivo avaliar rotatória com elevado número de acidentes e
propor solução de baixa dificuldade de implantação capaz de promover, além da fluidez de tráfego em ponto
crítico, melhoria da segurança para os usuários. Nesse sentido, foi realizada revisão da literatura especializada
sobre projetos de rotatórias e técnicas de redução de acidentes, resultando em proposta para adequação de uma
rotatória específica na cidade de Uberlândia (MG). Espera-se que o órgão com a circunscrição sobre a via, caso
opte pela solução proposta por este estudo, possa acompanhar os índices de acidente ao longo dos anos para avaliar
a eficácia obtida e reaplicá-la em locais de condições de tráfego semelhantes.
ABSTRACT
In 2016, midway of the World Decade of Traffic Accident Reduction (2011 to 2020), Brazil is in third
place among the countries in which road accidents results on death. In an attempt to reduce road conflicts, the
country concentrates its efforts on several areas of transport. Although road crossings contribute to the increase in
the number of accidents, they are usually studied in order to increase traffic flow. The objective of this paper is to
assess a high accident rate roundabout and propose a low cost implementation solution capable of promoting better
traffic flow at a critical point and, simultaneously, improving safety for users. To achieve the objectives, a review
of the literature on rotation projects and accident reduction techniques was carried out, resulting in a proposal for
the adaptation of a specific roundabout on Uberlândia, Brazilian city on Minas Gerais State. It is expected that the
municipal government, if it chooses the solution proposed by this study, can follow the accident rates over the
years to evaluate the effectiveness obtained and reapply it on places of similar traffic conditions.
PALAVRAS-CHAVE:
Acidentes de trânsito, rotatória, segurança viária.
1. INTRODUÇÃO
Segundo Ferraz et al. (2008) é de grande importância a identificação dos locais onde há
maior concentração de acidentes (locais críticos), sendo eles desde um ponto da via (interseção
ou trecho com pequena extensão – até 100 metros), um trecho de via (segmento relativamente
extenso), ou até determinada área (espaço compreendendo várias vias) ou lugar com
características similares (cruzamentos ferroviários em nível, semaforizadas, dentre outros).
3. REVISÃO DA LITERATURA
Os resultados de uma pesquisa realizada por Perdomo et al. (2014) mostraram que
projetos de geometria e engenharia podem evitar que a alta velocidade, o elevado volume de
tráfego, e várias faixas de rolamentos por sentido em rotatórias, aumentem o risco de acidentes
com pedestres. Os autores observaram, por meio da percepção dos usuários mais vulneráveis
(pedestres), que mudanças relativamente pequenas no design da interseção, tais como
posicionamento estratégico de faixas de pedestres e a instalação de ilhas centrais, são capazes
de promover melhor sensação de segurança na travessia (Perdomo et al., 2014). Conforme
apresenta Steiner et al (2014), o posicionamento da travessia de pedestre na proximidade de
rotatória deve garantir a visibilidade entre todos os usuários da via (Figura 1).
Figura 1: Posicionamento da faixa de travessia deve permitir visibilidade suficiente entre o condutor e os
pedestres. Fonte: FHWA (2006) apud Steiner et al. (2014)
De acordo com Ferraz et al. (2008), os principais problemas ligados às interseções que
contribuem para a ocorrência de acidentes são:
Visibilidade ruim para aqueles que vão entrar num cruzamento com via preferencial,
devido à geometria inadequada ou existência de elementos próximos à via (construções,
árvores, vegetação alta, postes, propaganda comercial, abrigos de ônibus, dentre outros);
Entrada e saída direta (sem pista de aceleração/desaceleração) nas vias de alta
velocidade;
Condições favoráveis ao desenvolvimento de velocidade excessiva nas aproximações;
Sinalização deficiente; e
Operação imprópria (cruzamento de vias movimentadas sinalizadas por meio de sinal
de parada obrigatória em detrimento do semáforo).
De acordo com Tollazzi e Rencelj (2014b), existem diferentes tipos de rotatórias que
podem ser instaladas conforme as necessidades e culturas locais de cada região. Os autores
citaram duas rotatórias modernas (não convencionais) que são instaladas em nível (sem viaduto)
e que não ocupam muito espaço urbano. São elas: turbo-rotatórias (“turbo-roundabut”) e a
rotatória em flor (“flower roundabaut”), apresentadas na Figura 2.
Figura 2: Layout padrão da Turbo-Rotatória e da Rotatória em Flor. Fonte: Adaptado de Tollazzi e Rencelj
(2014b)
Figura 3: Pontos de conflito existentes entre rotatórias convencionais de duas faixas e as turbo-rotatórias. Fonte:
Adaptado de Izadi et al (2016)
Figura 5: Etapas para adequar uma rotatória convencional em uma rotatória em flor. Fonte: Adaptado de Tollazzi
et al (2011)
Figura 6: Pontos de conflito na rotatória em flor. Fonte: Adaptado de Tollazzi e Rencelj (2014a)
3.4. Tratamento de Locais Críticos de Acidentes de Trânsito
O Programa PARE apresenta quatro técnicas para identificação dos locais críticos de
acidentes: número de acidentes; severidade de acidentes; taxa de acidente; e taxa de severidade
(Brasil, 2002).
𝐴 × 106 (1)
𝑇=
𝑃×𝑉
Onde:
T = número de acidentes por milhões de veículos;
A = número de acidentes na interseção;
P = período do estudo, em dias (geralmente 365 dias);
V = volume médio diário que entra na interseção (soma das aproximações).
Esta técnica combina as práticas das duas últimas apresentadas, sendo mais indicada
para este estudo, pois relaciona a quantidade de acidentes, expressa em UPS, com o volume de
tráfego. Normalmente ela é expressa em “UPS por milhões de veículos” que entram em uma
interseção (para o caso de interseções), ou “UPS por milhões de veículos-quilômetro” em um
trecho de via. As expressões para cálculo dessas taxas são semelhantes às apresentadas para a
técnica da Taxa de Acidentes, substituindo apenas o número de acidentes pelo número de
acidentes expresso em UPS. Assim, para interseções, tem-se a equação 2.
Sendo:
Tal como a técnica anterior, tem-se como desvantagem o custo para determinação dos
volumes de tráfego e, como vantagem, a consideração da severidade dos acidentes. Devido à
sua mais completa caracterização, este trabalho propõe utilizar a técnica da Taxa de Severidade
dos Acidentes.
4. ESTUDO DE CASO
Figura 7: Rotatória Marcos Antônio Ribeiro, com destaque para a passagem de pedestre em seu centro. Fonte:
Adaptado do Google (2016)
Os dados fornecidos pela SETTRAN foram obtidos por meio do Corpo de Bombeiros
da cidade, que normalmente é acionado em caso de vítimas. Devido à carência de informações
da SETTRAN, foi necessário estimar o fluxo de veículos na rotatória em 20.000 veículos
diários. Esse dado foi estimado considerando o movimento da via principal em uma região
próxima à rotatória. Os dados foram obtidos para o período entre janeiro 2014 e maio de 2016.
O índice de acidentes foi calculado mediante técnica da Taxa de Severidade dos Acidentes,
apresentada pelo Programa PARE, resultando em: 4,38 para 2014; 4,24 para 2015; e 3,27 para
2016. Os valores para o cálculo da UPS para esse período estão apresentados na Tabela 1.
a) Utilização do canteiro central para aumentar o ângulo de curva dos veículos que se
aproximam pela avenida Anselmo (sentido oeste-leste e leste-oeste), o que reduziria a
velocidade de aproximação;
b) Instalação de ilhas centrais entre as faixas de rolamento da avenida Anselmo, e pintura
de travessias de pedestre;
c) Aumento das ilhas centrais da rua Nordau (sul) e da avenida Benjamin Magalhães
(norte) para melhor controle do tráfego;
d) Segregação das faixas que dão acesso ao sentido da “direita”;
e) Desapropriação parcial dos terrenos ao noroeste, nordeste e sudeste da rotatória para
permitir melhores raios de curva à direita;
f) Remoção das vagas de estacionamento próximas à rotatória;
g) Construção de uma segunda faixa na aproximação da rotatória pela rua Nordau (sentido
sul-norte), facilitando o escoamento à direita;
h) Readequação da sinalização horizontal e vertical;
i) Remoção da travessia de pedestre ao centro da rotatória e implantação de jardinagem
de baixa altura no local, promovendo melhor urbanidade à região próxima ao Parque do
Sabiá.
Vale destacar que a valorização do terreno nas localidades próximas à rotatória poderá
ser utilizada em contrapartida para viabilização das desapropriações propostas, o que reduziria
o impacto orçamentário do projeto. Em outras palavras, é possível que o proprietário do terreno
ao noroeste da rotatória esteja disposto a ceder de forma não onerosa a parte de seu terreno à
prefeitura vislumbrando posterior valorização para fins comerciais. A Figura 9 faz a
comparação de como é a rotatória atualmente (à esquerda), e como seria a rotatória após a
execução do projeto proposto (à direita).
Figura 9: Comparação entre a rotatória antes, e depois das modificações propostas. Fonte: Elaborado pelos
autores.
Vale destacar que o projeto dessa rotatória não contempla ciclovias, tendo em vista que
nenhuma via de aproximação possui esse dispositivo. Ademais, não há conhecimento de
projetos para implantação de ciclovia nessa região em curto-médio prazo. Eventualmente, em
caso de implantação futura de ciclovia, recomenda-se que a mesma siga paralelamente ao fluxo
de pedestre, com cruzamentos próximos às travessias propostas.
5. CONCLUSÃO
Embora as rotatórias sejam dispositivos de interseção que visam boa fluidez de tráfego
e redução de pontos de conflito, seus projetos normalmente não estão relacionados à segurança
de todos os usuários da via. Os pedestres, por exemplo, muitas vezes são desconsiderados dos
projetos de rotatórias localizadas em trechos urbanos.
Visando a fluidez e a segurança viária como um todo, este artigo buscou diagnosticar e
propor melhorias em rotatória da cidade de Uberlândia (MG), detentora de elevado volume de
tráfego e acidentes com vítimas. Para esse tratamento, realizou-se revisão da literatura acerca
de acidentes, identificação de pontos críticos e comportamento dos pedestres, e tipos de
rotatórias. Para a escolha da rotatória utilizou-se o método proposto no Programa PARE,
elaborado pelo Ministério dos Transportes, bem como as características principais de cada
interseção estudada.
Como resultado, foi proposta a melhoria na rotatória Marcos Antônio Ribeiro, contendo
a adequação para uma rotatória do tipo “em flor”. Essa adequação seguiu os princípios
apresentados pela literatura pesquisada e apresenta baixa dificuldade de implantação. Essa
análise foi encaminhada ao órgão com circunscrição sobre a via para análise e futuro
acompanhamento dos resultados.
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