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PARA QUE SERVE A ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

Autores:
José Marçal Jackson Filho
Eugênio Paceli Hatem Diniz
Mauro Marques Muller
Disponível em:
https://www.escolavirtual.gov.br/
Obra referenciada:
Prevenção de acidentes: o reconhecimento das estratégias operatórias dos
motociclistas profissionais como base para a negociação de acordo coletivo
Autores:
Eugênio Paceli Hatem Diniz
Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho
Centro Regional de Minas Gerais
Ada Ávila Assunção
Universidade Federal de Minas Gerais
Departamento de Medicina Preventiva e Social
Francisco de Paula Antunes Lima
Universidade Federal de Minas Gerais
Departamento de Engenharia de Produção
Fonte:
DINIZ, E.P.H.; ASSUNÇÃO, A. A.; LIMA, F.P.A. Prevenção de acidentes:
o reconhecimento das estratégias operatórias dos motociclistas
profissionais como base para a negociação de acordo coletivo. Ciência
e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.10,n.4, p. 905-916, 2005. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/csc/a/Q5v5zqjbYj3fTrKZpF4Gyct/?lang=pt
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Prevenção de acidentes: o reconhecimento


das estratégias operatórias dos motociclistas
profissionais como base para a negociação
de acordo coletivo

Acc i dent prevention: recognition of motorcycle


couriers’ work strategies as the basis for collective
bargaining

Eugênio Paceli Ha tem Diniz 1


Ada Ávila As sunção 2
Fra n c i s co de Paula An tunes Lima 3

Ab s tract The aim of this stu dy is to pre sent, as Resumo O objetivo deste arti go é apre sentar co-
opera tional stra tegies, the co n tribu i tion to el a b o- mo o estudo das estra t é gias opera t ó rias contribui
ra te some preven tion measu res to prote ct the pro- pa ra elaborar medidas de prevenção dos aci d en-
fessional motorcycl i s t s , popu l a rly known as “m o- tes sof ridos pelos motociclistas profissionais, co-
tob oys”, against acci d en t s . The authors pre sent a nhecidos popu l a rm en te como “m otob oys”. Os au-
cri tic to the human error co n ception that is hege- to res apre sentam uma cr í tica à co n cepção do erro
monic to the experts at wo rk security. The re su l t s h u m a n o, hegemônica dentre os especialistas em
come from an Ergonomics stu dy that started over seg u rança do tra balho. Os re sultados apresen t a-
an Union demand of the professional moto rc y- dos fo ram obtidos de um estudo ergo n ô m i co ini-
clists in Minas Gera i s . The total come to 85 pro- ciado por demanda do sindicato dos motociclistas
fessional moto rci clists who were intervi ewed and profissionais de Minas Gerais. No total, 85 moto-
observed. The procedures were: report the activity ciclistas profissionais fo ram observados e entre-
filmed in the city streets and avenues; selfcon- vistados. Os pro ced i m en tos adotados fo ram: re-
frontation of the scenes and of the map rutes, and gistro da atividade por meio de filmagens nas
of some aspects obeserved in the two selected com- ruas e avenidas da cidade; auto co n f rontação das
panies. Finally the authors discuss the limits of cenas do filme e das rotas elaboradas em mapas, e
1 Fundação Jor ge Du prat
the se c u rity rules wi t h out co n s i d ering the knowl- de certos aspe ctos das atividades de tra balho ob-
F i g u ei redo de Seg u rança edge obtained by the workers themselves. The servadas na expedição das duas em presas sel e ci o-
e Medicina do Tra b a l h o, measures to change the situation that make the nadas. Ao final, os autores discutem os limites das
Cen tro Regi onal de Mi n a s acci d ents happen were used to el a b o ra te the col- normas de seg u rança pre scritas que não co n s i d e-
G erais.
Rua dos Gu a ja ja ras lective work co nvention. These measures were ram o saber desenvolvido pelos próprios trabalha-
40/14o andar, 30180-100, su ppo rted by a det a i l ed stu dy of the impl em en ted dores. As medidas de tra n sfo rmação das situ a ç õ e s
Belo Horizon te MG. strategies by the individuals who were analised. gera d o ras de aciden tes el a b o radas com apoio no
eu gen i o. d i n i z @
f u n d acentro. gov. br Key word s Professional moto rcycl i s t s , Motob oy, estudo detalhado das estra t é gias impl ementadas
2 Dep a rt a m en to Labor accidents, Traffic accidents, Ergonomics pelos su jei tos estudados servi ram pa ra a el a b o ra-
de Medicina Preven tiva Analysis of Labour ção da convenção coletiva de trabalho.
e Social da Fac u l d ade de
Medicina da Un ivers i d ade Pa l avras-ch ave Motociclistas profissionais, Mo-
Federal de Minas Gerais. toboy, Acidentes de trânsito, Acidente de trabalho,
3 Dep a rt a m en to de
Análise Ergonômica do Trabalho
E n gen h a ria de Produ ç ã o
da Un iversidade Federal
de Minas Gerais.
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In trodução: nas opiniões das pe s s oa s , que se referem aos


Por uma abord a gem com p reen s iva m o toc i clistas prof i s s i onais em termos de “im-
dos aciden tes com motociclistas pru d ê n c i a”, “ousadia”, “irre s pon s a bi l i d ade”, “ i n-
civi l i d ade”, “prazer por fortes emoções” etc. Eis
O obj etivo de s te arti go é apre s entar como o es- alguns ju l ga m en tos típicos: a médica que parti-
tudo das estra t é gias operatórias con tri bui para cipou da pesquisa do Ipea sobre custos de aci-
el a borar medidas de prevenção dos ac i den te s den tes de tr â n s i to, a f i rma que o go s to dos moto-
sofridos pelos motociclistas prof i s s i onais, co- b oys pelo risco da vel o cidade se co m pa ra ao rapel
nhec i dos popularmente como “motoboys”. As dos adolescen tes da cl a s se média (Folha de S.
medidas de transformação das situações gera- Pa u l o, 1o de junho de 2003); o jornalista Larry
doras de aciden tes foram fundamen t adas em Ro h ter sintetiza o sen ti m en topopular dos pau-
uma pe s quisa er gonômica (Diniz, 2003), cujos listas em relação a este “privilegiado” grupo que
re su l t ados ori entaram, den tre outras recom en- escapa aos obstáculos do trânsito: z ig u eza-
dações, a elaboração de uma convenção coletiva g u e a ndo entre os carros parados, ign o rando as
de tra b a l h o, firm ada em 31 de março de 2005. d em a rcações de faixa s , sem á fo ros vermelhos e si-
Esta convenção é objeto de discussão mais deta- nais para pa ra r, eles ameaçam regularmente os
l h ada na con clusão de s te arti go, cujo corpo está pedestres e en f u recem os motoristas enquanto
organizado em qu a tro partes principais: (1) passam às pressas por ruas e avenidas co n ge s tio-
após apresentarmos, nesta introdução, uma al- nadas (Rohter, 2004). O mais inquiet a n teé que
ternativa crítica à con cepção do erro hu m a n o, não apenas a mídia e a soc i ed ade em gera l , mas
hegemônica dentre os especialistas em seguran- também os especialistas em seg u rança no trân-
ça do trabalho, (2) discorremos brevem en te so- s i to e no trabalho referem-se ao ato inseg u ro
bre os proced i m en tos metodo l ó gicos e (3) de s- qu a n do analisam e ju l gam o com portamento e
c revemos os re sultados da análise er gon ô m i c a o perfil dos motociclistas profissionais. Os adje-
do trabalho dos motociclistas, rel a t a n do ao fi- tivos atribuídos ao modo de transitar pelas ruas
nal (4) o qu ad ro insti tu c i onal de negociação da das cidades indicam que algumas das estraté-
convenção co l etiva de trabalho e os avanços gias e os modos operatórios implementados pe-
mais sign i f i c a tivo s . A negociação desta conven- la categoria, inju s ti f i c á veis e inaceitáveis do
ção co l etiva, inédita no Brasil, ori en tou-se, em ponto de vista do observador, não são vistos co-
seus pon tos substantivos, pelos re sultados da mo algo cuja origem é determinada fora do
análise da ativi d ade co tidiana dos motociclistas trânsito em si. Ao con tr á rio, defen demos a te s e
profissionais, e foi direcionada para a criação de de que o comportamen to dos motociclistas
condições de trabalho que os auxilie na gestão prof i s s i onais decorre das fortes exigências e do s
dos diversos inciden tes que se apre s entam no l i m i tes impostos à ação e à gestão dos ri s cos a
decorrer de seu trabalho e na el a boração de es- que estão submeti do s , determinados por rela-
tratégias de preven ç ã o. As cl á u sulas de saúde e ções sociais mais amplas, que devem ser anali-
s eg u rança proc u ra ram ampliar a margem de li- sadas e transformadas.
berd ade na regulação da ativi d ade cotidiana, de A opinião pública em relação aos motoci-
forma a aliviar a pressão temporal que está na clistas prof i s s i onais revela uma verd adeira “h i-
ori gem dos ac i den tes sofri dos por esta catego- poc risia social”: avaliamos po s i tiva m en te o seu
ria profissional. tra b a l h o, mas negativamen te seu com porta-
Parti n do de uma demanda do sindicato do s m en to, como se um e outro ex i s ti s s emsep a ra-
motoc i clistas prof i s s i onais de Minas Gerais, a damen te : Todos od eiam os motob oys , exceto quan-
pesquisa teve início em meados de 1999. Na do precisam de um. Quando ele está levando às
oc a s i ã o, o presiden te do sindicato relatou o ex- pressas um documento seu pela ci d a d e , então el e
pre s s ivo crescimen to do setor, a situação dos se torna seu salvador, um herói, e você adora o su-
ac i den tes graves e fatais e a ausência de reg u l a- jeito (Caíto Ortiz, diretor do curta Motoboys: vi-
m entação das condições de trabalho e dos ser- da loca. In Rohter, 2004).
viços re a l i z ados pela categori a . Essa visão do senso comum repete-se tam-
Trad i c i on a l m en te , os ac i den tes de trabalho bém entre especialistas da saúde ocupac i on a l .
são analisados ten do como pre s su po s to a ideo- As abord a gens trad i c i onais interpretam o ac i-
logia do ato inseg u ro, cuja con cepção data da den te de trabalho como sen do um even to sim-
d é c ada de 1930. No caso dos motoc i clistas pro- ples e determinado por uma causa única (ou
fissionais, essa visão é legi ti m ada pelo senso co- por uma causa imediata, qu a n do se recon h e-
mum, m a n i fe s t ado nas páginas dos jornais ou cem múltiplas causas). A dico tomia e superfi-
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cialidade da ideologia do ato inseg u ro – fator s ociais agiriam em con form i d ade com as alter-
pessoal de insegurança x condição insegura – nativas de ação – obrigatórias e pree s t a bel eci-
explicam por que os ac i den tes são tra t ados pre- das – como se fossem “idiotas cultu rais”, ado t a n-
dom i n a n tem en te pelo viés do simples recei tu á- do condutas autom á ticas e impen s adas (Co u-
rio de equipamen tos de segurança individual lon, 1995). As s i m , qu a n do ocorre um erro ou
( E PIs) e da divulgação de cartilhas que obj eti- acidente, são investigados os desvios em relação
vam a con s c i en tização dos ri s cos e, con s eq ü en- às regras prescritas ou proc u radas regras inade-
tem en te, a mudança do com port a m en to. As s i s- qu adas, o que insti tui a regra como modelo da
timos, nos mais variados ambi en tes de traba- atividade e da prevenção.
lho, à divu l gação de normas que preten dem in- Da perspectiva da análise cogn i tiva do ac i-
tensificar a fiscalização e ameaçam os trabalha- den te aqui proposta (ver abaixo), aex p l i c i t a ç ã o
dores com punições. Os ro teiros de inve s tiga- dos “desvios” permite, apenas, evidenciar a
ção são baseados na verificação do cumpri- ruptura dos “com promissos cognitivo s” qu e
mento ou não de normas internas e legais, culminou num acidente, sem alcançar as razões
isentando-se de identificar as condições e as dessa ru ptu ra .
formas de interação dos compon en tes dos sis- O estu do da ativi d ade co tidiana dos moto-
temas que levaram à ocorrência do even to. No c i clistas prof i s s i onais em situação real perm i tiu
caso dos motociclistas profissionais, as ações com preen der as situações de trabalho normais
re sumem-se a reforçar a fiscalização ou pro- e o con tex to social e or ga n i z ac i onal em que se
m over cursos de direção defen s iva . de s en rola seu tra b a l h o, e não apenas as con d i-
A prática preven c i onista trad i c i onal assu- ções de perturbação do processo próximas, e s-
me uma con cepção rac i onalista do com porta- pacial e tempora l m en te , ao ac i den te . A todo
m en to hu m a n o, como se este fosse determ i n a- instante, os mecanismos cognitivos e as habili-
do exclusiva m en te pela consciência. As s i m , to- dades pr á ticas dos tra b a l h adores são co l oc ados
da falha decorreria de uma decisão hu m a n a , em ação de forma a garantir os objetivos da
don de as ações de controle para evitar os des- produção e os seus pr ó prios obj etivo s . A situ a-
vios e a formação para reforçar o comporta- ção é mantida sob con trole por um esforço ati-
mento seguro. Ora, os estudos mais recen te s , vo dos tra b a l h adore s , qu e , com base em reg u l a-
em vários campos, con f lu empara a com preen- ções e microrregulações, ad m i n i s tram a vari a-
são da “falha técnica” como sen do o re su l t ado bilidade e as disfunções, i n evi t avelmen te pre-
de circunstâncias e decisões anteriore s : o aci- sen tes em qu a l quer processo produtivo. Eles
den te, como qu a l quer outro even to, tem ante- agem mobi l i z a n doos seus recursos cognitivo s
ceden tes e uma história complexa (Perrow, para analisar a situ a ç ã o, con s tituir uma repre-
1984; Re a s on, 1990; Wisner, 1994; Amalberti, s entação do ri s co de aciden te no proced i m en to
1996; Co llins & Pinch , 1998; L l ory, 1999). em curs o, verificar o nível de exigência do re-
A interrupção precoce da análise, s em iden- sultado desejado e ainda con s i derar o seu esta-
tificar as determinações mediatas das falhas, do de fadiga e sua capacidade, de forma a el a-
a m p uta a identificação da trama com p l exa de borar uma ação apropriada, em um processo
fatores causais do ac i den te , com con s eq ü ê n c i a s com p l exo den om i n ado de “com promisso cog-
n ega tivas para a prevenção (Lima & As su n ç ã o, nitivo” (Amalberti, 1996).
2002). O grau de aprofundamento da análise de As habilidades práticas e os processos cog-
aciden te é uma con s trução social e o avanço do nitivos implicados na ação po s s i bilitam ao tra-
conhecimento sobre os riscos e as margens para balhador estabelecer um com prom i s s o, quase
i m p l em entação das medidas de segurança po- sempre eficaz, entre três objetivos, às vezes
dem tornar inacei t á veis as escolhas de abord a- con trad i t ó rios: a sua seg u rança e a do sistema;
gens que não con s i derem aspectos sociais e or- o desempenho acei t á vel; a minimização dos
ganizacionais (Almeida, 2003). In felizmen te , efei tos fisiológi cos e mentais (Ibi d . ) . A adoção
ainda predominam nas empre s a s , nos órgãos de um com promisso cogn i tivo inadequ ado po-
ge s tores do trânsito e nas instituições afetas à derá provocar de s em penho insu f i c i en te , fadiga
saúde e segurança no trabalho, a concepção tra- exce s s iva, perda do controle da situação e, em
dicional de que as regras governam as ações dos caso extremo, desencadear um aciden te . Em
a tores soc i a i s . Como nos ensina a etn om etodo- função da or ganização do trabalho, do ambi en-
l ogia, essas explicações en ten dem o com port a- te e da consciência de sua própria capac i d ade,
m en to do indivíduo como fruto de regras po s- os trabalhadores de s envo lvem uma verd adei ra
tas em pr á tica no mom en to da ação, e os atores arte de gerenciar de manei ra dinâmica os com-
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prom i s s o s , m a n tendo a situação sob con tro l e , va n t ada pelo repre s en t a n tedo sindicato. E ain-
na maior parte do tempo (Amalberti, 1996). da entrevistas abertas com motociclistas pro-
Essa con cepção nos serviu de base para anali- f i s s i onais em um re s t a u ra n te popular munici-
sar estratégias e modos operatórios construí- pal, indicado pelo representante do sindicato
dos pelos motoc i clistas prof i s s i onais na ten t a- de trabalhadores por ser um local onde eles
tiva de conciliar as exigências do tra b a l h o, so- co s tumam se reunir para almoçar.
bretu do rapidez e pon tu a l i d ade, e a sua pr ó pria As entrevistas gravad a s , posteriormen te
segurança. O reconhecimento desses modos tra n s c ritas e analisad a s , tinham como obj etivo
operatórios e estratégias subsidiou po s teri or- obter uma visão geral da or ganização do tra b a-
men te a el a boração das cl á u sulas da convenção lho, os probl emas enfren t ados pela categoria, a
coletiva do trabalho. percepção do ri s co e as re s pectivas estratégias
de defesa utilizadas para a prevenção de aci-
den te s ; regi s tro da ativi d ade por meio de filma-
M é todos e proced i m en to s gens nas ruas e avenidas da cidade, documen-
tando aleatoriamen te motociclistas profissio-
Para en ten der as exigências do trabalho do mo- nais, ora seg u i dos de carro, ora filmados de ci-
tociclista profissional e as estratégias que ele ma de passarelas e viaduto s . As filmagens bu s-
el a bora e implementa, re a l i zou-se um estudo c avam iden tificar os gestos de ação (modo de
er gonômico cujos princípios teóricos e meto- pilotar o veículo), ge s tos de ob s ervação (movi-
do l ó gicos con s i deram a distinção en tre “o qu e” men tos da cabeça e, em parte, dos olhos) e os
foi estabel ec i do para os trabalhadores exec ut a- gestos de comunicação (expressões verbais e
rem e “como” eles re s pon dem às exigências do corporais); autocon f rontação das cenas do fil-
trabalho (Diniz, 2003). A Análise Ergon ô m i c a me com os motociclistas profissionais no re s-
do Trabalho (AET) é definida como a de s c ri ç ã o taura n te popular. E s te procedimen to bu s c ava
das atividades de trabalho ou dos trabalhadores obter com os motociclistas a significação dos
a partir da observação de todos os comporta- ge s tos de seus pares doc u m en t ados em vídeo,
men tos – perceptivo, m o tor ou de comunica- t a n to do pon to de vista da produção qu a n to do
ç ã o. A análise da ativi d ade é aprof u n d ada em pon to de vista da carga de trabalho, explicitan-
uma segunda e fundamental etapa, a partir de do “o que faz”, “com que finalidade – para qu e”
dados obtidos por meio da autocon f rontação e “por qu ê ” ; estu do e autocon f rontação das ro-
dos trabalhadores com regi s tros e descrições tas el a boradas em mapas que foram forn ec i dos
dos com port a m en tos ob s ervados pelo er gon o- aos motociclistas. A autocon f rontação das ro-
mista (Gu é rin et al. , 2001). Em outras palavras, tas vi s ava con h ecer as estra t é gias e modos ope-
uma vez que a ativi d ade não pode ser reduzida ratórios implementados pelos trabalhadores
ao que se consegue observar (Assunção & Lima, para planejar e executar os deslocamen tos no
2003), uti l i zou-se da autoconfrontação dos re- tr â n s i to ; en trevistas (gravad a s , tra n s c ritas e de-
sultados das ob s ervações sistem á ticas a fim de poi s , a n a l i s adas) com motoc i clistas e or ga n i z a-
aceder aos aspectos não-obj etiv á veis do traba- dores da produção das em presas com o prop ó-
lho. A autocon f rontação é uma estratégia que s i to de se con h ecer a organização do trabalho;
bu s c a , na palavra livre do trabalhador, com- ob s ervações abertas da tarefa foram re a l i z ad a s
preen der os senti dos que ele pr ó prio imprime na ex pedição das duas empresas selecionadas,
aos resultados obtidos pelo pesquisador. local estrategicamen te esco l h i do, já que é ali
À luz desses princípios ergon ô m i cos que on de se fazem o acompanhamento e o con tro l e
nortearam a pesquisa que deu origem, entre dos serviços de de s l oc a m ento dos motoc i cl i s t a s
outro s , a este artigo, adotaram-se os seg u i n te s e on de eles têm a ra ra oportu n i d ade de en con-
proced i m en tos: reuniões com repre s entantes trar seus pares por alguns instantes. As ob s er-
do sindicato de tra b a l h adores com o intuito de vações e posterior autocon f rontação dos fatos
se obter um conhecimento mais aprofundado ob s ervados na ex pedição tinham como prop ó-
da demanda e informações gerais sobre a cate- s i to obter elementos para a compreensão do
gori a ; pe s quisa das estatísticas de ac i den tes em trabalho re a l i z ado e de como o trabalhador co-
órgãos oficiais (Hospital João XX I I I , Progra m a loca em prática sua demanda. Os gestos de
de Sa ú de do Tra b a l h ador, Gru po de Re sga te do ação, ob s ervação e comunicação que os moto-
Corpo de Bombei ro s , Detran-MG – em Belo c i clistas faziam pe s s oa l m en te ou por rádio/te-
Horizon te e Hospital de Clínicas de Uberlân- lefone, com seus colegas, com a itineralista
dia) vi s a n do avaliar a gravi d ade da questão le- ( operadora de rádio e encarregada de rep a s s a r
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e receber as ordens de serviço) e com o coorde- muitas ve zes leva ao aciden te . Você tem que an-
nador foram registrados em papel para po s te- dar calmo e tra n q ü i l o, re s peitando os veículos e a
ri or autocon f ron t a ç ã o. sinalização.
E s tu dou-se uma empresa em Belo Hori- A experiência perm i te ao motoc i clista el a-
zon te, e s pecializada em serviços de motof rete borar estratégias que dão su s tentação ao com-
( em presa A) e que tem 160 motoc i clistas pro- promisso eficaz en tre a produção e a seg u ra n-
f i s s i on a i s . Do total de motoc i cl i s t a s , 140 pre s- ça: Você, conhecendo o trajeto e sabendo cortar
tam serviços por hora como terceiri z ados nas os caminhos, você en c u rta o pra zo da en trega. A
em presas con tra t a n te s . Os demais aten dem ao pessoa que não sabe vai tentar a diferença no
setor de ex pedição da em presa A, na exec u ç ã o acel erador.
de serviços por de s l oc a m ento. A em presa A, in- Os extratos das entrevistas reproduzidas
d i c ada pelo repre s en t a n te do sindicato de tra- acima confirmam os re su l t ados das autocon-
balhadores, foi escolhida por ser uma presta- frontações das rotas. O con h ec i m en to das vias
dora de serviço de motof rete com um número perm i te aos motoc i clistas utilizar caminhos al-
s i gn i f i c a tivode tra b a l h adores que atendiam di- tern a tivos em vez de proced i m en tos que incre-
versos tipos de demandas tanto de pessoas ju- m entam os ri s cos de ac i den tes.
rídicas qu a n to de pe s s oas físicas. De modo a ser
veri f i c ado se os probl emas en f ren t ados pela ca-
tegoria e as regulações elaboradas se asseme- O planeja m en to temporal
l h avam às encontradas na capital, a pesquisa
foi realizada também em uma em presa de uma Uma das formas en con tradas pelos motoc i cl i s-
c i d ade do interi or (em presa B), que conta com tas profissionais para superar os desafios da
115 motociclistas. A opção pela empresa B se produção material foi o planejamen to tempo-
deu pelo número de trabalhadores e sua indi- ral das taref a s . Con h ecen do as re s trições de ho-
cação con tou com auxílio de repre s en t a n te do rário das rep a rtições, eles pri orizam certos ser-
s i n d i c a tode trabalhadores da In d ú s tria do Fu- viços. Eu procuro dar prioridade ao banco. Órgão
mo de Uberlândia. A cidade de Uberlândia foi público você tem que dar prioridade também
s el ec i on ada em razão do número ex pre s s ivo de po rque fecha às quatro horas e só vive lot a d o.
m o toc i cl etas na cidade e da constatação in loco Precisando ir a dois bancos simu l t a n e a m en te,
de alguns ac i den tes nas vias públicas envo lven- eles dividem o tempo disponível en tre as duas
do esse veículo. taref a s : Você pega uma sen h a , vai em outro ba n-
Em re sumo, foram envolvidos 85 motoci- co e reto rn a .
cl i s t a s , ob s ervados e autocon f ron t ado s , totali- Pa ra lidar com a bu roc racia das rep a rtições
zando 60 horas de ob s ervações e entrevistas. p ú blicas e privadas, a ex periência é fundamental
Além dos motoc i clistas, en trevistaram-se: uma para o bom planejamen to das taref a s . Um mo-
esposa de motociclista; dez organizadores da tociclista fala das dificuldades en f ren t adas no
produ ç ã o, en tre el e s , quatro em presários e doi s início da prof i s s ã o : Hoje sei o que fazer, antiga-
d i retores. Foram realizadas quatro horas de fil- mente eu tinha probl em a , é órgão públ i coque eu
m a gens em situações reais de trabalho (tam- não sabia onde é que era, era falta de assinatu ra.
bém analisadas) e 24 rotas foram tra ç adas e au- Além das estratégias e dos modos opera t ó-
tocon f ron t adas com os trabalhadore s . rios mostrados no planeja m en to tem poral, os
procedimentos adotados pelos motociclistas
profissionais em relação à rota também pro-
Estratégias, regulação e modo s porc i onam maior agilidade na execução dos
operatórios: um com p romisso eficaz s erviços, con forme será vi s toa seguir.
en tre produção e segurança

As entrevistas, as observações e as autoconfron- A elaboração da rota: qu a n do saberes


tações eviden c i a ram os mecanismos cogn i tivos e solidaried a de se cruzam
co l ocados em ação pela categoria para atingir
os objetivos de produção com segurança. À me- A análise e a autocon f rontação das rotas tra ç a-
dida que o con h ec i m en to tácito vai se con s o l i- das nos mapas co l ocou em evidência diversas
dando, o motociclista profissional apren de a estratégias e modos operatórios implementa-
avaliar a situação para não ser dom i n ado pel a s dos pelos motoc i clistas profissionais para pla-
urgências: Não adianta apavo rar, a pavo ra m en to nejar e exec utar os de s l oc a m en tos no tr â n s i to.
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Os motoc i clistas recebem de seus superio- firmam que o planejamento da rota é um dos
res as informações sobre as taref a s . A partir daí, proced i m en tos ado t ados pela categoria a fim de
a n tes de saírem para a ru a , eles planejam a se- obter maior agi l i d ade na atividade e uma alter-
qüência de deslocamentos, buscando equili- nativa ao comport a m en to de ri s co no tr â n s i to.
brar aten d i m en to com presteza, pon tu a l i d ade e Com o tem po, a rota ori ginal el a borada pa-
econ omia de com bu s t í vel . ra distri buir jornais é mod i f i c ada. Ao descobrir
Pa ra el a boração da ro t a , eles com entam qu e atalhos e caminhos mais flu en te s , o motoc i cl i s-
é nece s s á rio con h ecer a localização das ruas, o ta ajusta o iti n er á ri o, torn a n do-o mais econ ô-
sen ti do do tr â n s i to, os locais de convers ã o, os m i co em termos de tem po e com bu s t í vel.
caminhos alternativos mais curtos etc.: Pelo co- Os inúmeros procedimen tos e estratégias
nheci m en to que você já tem , a gen te já sabe o ca- ado t ados pelos motoc i clistas em relação à rota
minho mais curto. têm como finalidade encontrar perc u rsos me-
Con tu do, o caminho mais curto nem sem- n ores e/ou tr â n s i tomais flu en te , vi s a n dore a l i-
pre é o esco l h i do. An a l i s a n do-se a rota el a bora- zar a tarefa com men or tem po de de s l oc a m en-
da, foi po s s í vel identificar deslocamentos em to. E tal prop ó s i to é alcançado pelo con h eci-
semicírculos, em detrimen to de um perc u rso m en to do trânsito e das vias, das redes sociais
l i n e a r; teori c a m en te mais econ ô m i coem tem- de cooperação e do planejamen to baseado na
po e com bu s t í vel. O motociclista escl a rece por ex periência ac u mu l ad a .
que esco l h eu o tra j eto O probl ema todo é que no
caso dessa rota [alternativa], não tem rua que
f avo re ce...onde o tr â n s i toé mais livre. Tempo e “petr ó l eo”:
Nas em presas pesquisadas foi observado os determ i n a n tes que predom i n a m
que os motoc i clistas mantêm uma intensa rede
solidária de ajuda mútu a . Eles trocam inform a- Eles [ cl i en te s ] sem pre falam o seg u i n te: “A mer-
ções com seus pare s , pessoalmen te , pelo tel efo- cadoria sai da China, aqui ela gasta 24 hora s”.
ne ou rádio, proc u rando saber como chegar a Às vezes eu gasto um dia pa ra fazer a entrega.
determ i n ado en dere ç o. Para localizar uma ru a Eles questionam essa parte. Por quê?” (Motoc i-
de s conhecida, eles con sultam também o mapa clista en trevi s t ado).
ou guia da cidade. Um dado importante para se O rel a to do motociclista contém uma das
el a borar a rota é con h ecer a localização do nú- principais qu eixas apre s en t adas pelos cl i en te s ,
m ero desejado nas qu ad ra s . An tec i p ad a m en te , que ch egam a comparar o serviço de motoci-
os motociclistas planejam o acesso a ruas que clista com serviços aéreos. Os atrasos não são
permitirão ch egar o mais próximo po s s í vel do com preen d i dos pelos cl i en tes até mesmo para
ponto desejado. tarefas que envolvam transações em mais de
Os motoc i clistas que en tregam mala-diret a uma rep a rtição públ i c a , local trad i c i onalmente
analisam antec i p ad a m en te os endereços e or- c a racterizado por filas ex tensas e aten d i m en to
denam as correspondências na mesma seq ü ê n- demorado. O coordenador dos motociclistas
cia da rota planejad a . A rua escolhida para ini- da em presa A exem p l i f i c a : O clien te passa qua-
ciar a distri buição é aquela com maior número tro serviços pa ra el e . Se ele pa rar em dois ba n co s
de malas-diretas. Ele explica que faz entregas em dia de pico, o clien te acha que ele está en ro-
nessa rua e também nas cabeceiras das vias lando com o servi ç o.
perpen d i c u l a re s : Eu mato a ponta aqui, ó. Se eu A impaciência manifestada pelos clientes
já estou passando aqui, eu faço duas en tregas ou revela como a sociedade da era virtual desco-
três nel a . Fei to isso, ele retorna, em ziguezague, n h ece as condições con c retas do trabalho dos
pelas ruas perpendiculares e com p l eta as en tre- motoc i clistas. A ativi d ade imaterial não exclu i ,
gas pen den te s . p a ra a sua efetivação, a produção material (Li-
Um motoc i clista enu m era as va n t a gens que ma et al., 2002). O ato de negociar ou dem a n-
ele obtém fazen do o seq ü en c i a m en to pr é vio das dar serviços por meio de tecnologias informa-
malas-diret a s: Ganho tem po, ganho co m bu s t í vel , c i onais não se fecha em si mesmo; sua efetiva-
eco n o m i zo bastante. Também é melhor a gen te ção depen de de ações materiais cuja dinâmica
perder um pou co de tem po aqui, colocando em or- esbarra em bu roc racias, variabilidades, deter-
d em certa, do que a gen te fazer uma coisa corren- m i n a n tes não con tro l á veis e de s l oc a m en tos no
do e ter que sair co rrendo na rua, que é peri go so. e s p a ç o. São constrangimen tos que ninguém
En t ã o, a ord em ficando bem - feita, não pre cisa a pode negar, mas que os “cliente s” menospre-
gen te andar co rrendo na ru a. E ssas palavras con- zam ou de s con h ecem a real gra n deza.
911

Diante das exigências de tempo por parte ram a motoc i cl eta desligada sobre passarelas e
dos cl i en te s , as em presas adotam uma orga n i z a- faixas de pede s tre s ; solicitam auxílio do co l eti-
ção da produção que su bm ete os motoc i clistas a vo de trabalho. O utro s , ao con trário, apesar de
el evada den s i d ade de tra b a l h o. Observou-se qu e alcançarem os re su l t ados pretendidos, i n c re-
o rádio e o tel efone são uti l i z ados ininterru pt a- mentam os riscos: andam na contramão do
men te pela iti n eralista da em presa A. A remu n e- tr â n s i to e transitam nas calçadas e passarelas de
ração por de s l oc a m en to asseg u ra à em presa qu e pede s tres com a motoc i cl eta ligad a .
os motoc i clistas também façam con t a to da ru a ,
informem o término de cada tarefa e se ofere-
çam para realizar outra s . As s i m , mesmo a dis- As estratégias e modos operatórios
tância e dispondo de um número reduzido de para evitar aciden tes no tr â n s i to
trabalhadores para aten der à exped i ç ã o, a em-
presa A consegue manter o ritmo de trabalho Mesmo qu a n do estão se deslocando no tr â n s i-
em níveis el evado s . Isso torna o trabalho do mo- to, os motoc i clistas desenvo lvem várias regras
toc i clista uma luta ince s s a n te contra o tempo, de prudência. Eles identificam o melhor mo-
pois cada minuto econ om i z ado representa, além men to para ultrapassar o veículo à frente: É
de ganhos financeiros, corre s ponder à ex pect a ti- quando o veículo perm i te que você pa s se . Você es-
va do cl i en te por um pron to atendimento. tá sendo vi s to pelo moto rista. Pa ra con f i rmar se
Ao lado do tem po, o dispêndio de com bus- foi vi s to pelo motorista, seus ge s tos de obser-
t í vel é outro import a n te fator a ser con s i dera- vação antecedem os modos operatórios: Pelo
do pelo motoc i clista prof i s s i on a l . Ju n tos con s- retrovi so r, você vê se o moto rista te vi u. Se ele não
tituem os elementos determinantes no mo- te vi u , você dá um toquinho na bu z i n a.
men to em que ele planeja e exec uta o trabalho. Recon h ecen do um ri s comaior de aciden te s
A autocon f rontação das rotas confirma: Ten h o nos cru z a m en tos, um motoc i clista ex peri en te da
que olhar o tem po que eu ga s to, o petróleo que eu empresa A detalha o modo operatório imple-
quei m o. En t ã o, quer dizer, é tem po e petr ó l e o, a m en t ado qu a n do preten de seguir em fren te sem
minha prioridade. a l terar a direção: Todos os cru z a m en tos que tiver,
Para economizar tempo e combustível, os você tem que pa ra r, ob serva r. Mesmo você estando
m o toc i clistas também se apóiam freqüente- certo, você se to rna errado, po rque se aco n te cer um
men te no coletivo de trabalho. Na ex pedição da acidente quem vai sair no prej u í zo é vo c ê.
em presa A , foi ob s ervado que eles ficam aten- Pelas filmagens e ob s ervações re a l i z adas nas
tos às demandas apre s entadas aos co l egas. Um ruas, con s t a tou-se que um dos procedimen to s
deles passou a sua tarefa ao co l ega e solicitou- mais uti l i z ados pelos motoc i clistas para evitar
lhe que a exec utasse. Ao ser interrogado sobre ac i den tes é ac i onar a buzina antes das ultrapas-
s eu gesto, ele esclareceu: Po rque ele ia passar sagens, adotada também para chamar a aten-
pr ó ximo lá, eu ia pa ra outro lugar, ele ia fazer ção de pedestres que atravessam a rua sem
mais rápido pa ra mim. Quando ele precisar, eu olhar para os lados ou que perm a n ecem nas
faço pa ra ele a mesma co i s a. vias atrapalhando o tr â n s i to.
Em fren te à em presa A , foi observado que Nos meses de junho a setem bro, os motoc i-
um motoc i cl i s t a , após ter recebi do a ordem de clistas utilizam uma ou duas antenas met á l i c a s
s ervi ç o, empurrava sua motocicl eta de s l i gada, na fren te do veículo para evitar ac i den tes pro-
beira n do o meio-fio, na con tramão do trânsi- voc ados por linhas de pipa com cerol (mistura
to. Ele ju s tifica seu ato: Eu pa s so de um quartei- de pó de vidro e cola utilizada por crianças e
rão pa ra o ou tro em pu rrando ela no canti n h o, no ado l e s centes na linha de pipa para cortar a do
pa s seio, e eco n o m i zo de cinco a seis quilômetro s. advers á ri o ) . As linhas com cerol podem ferir as
E enu m era as va n t a gens: Evito fazer um deslo- art é rias cervicais do motociclista e causar a sua
camen to maior, eco n o m i zoga sol i n a , ganho mu i- morte .
to mais no fim do mês e eco n o m i zo tem po. Por is-
so que eu sou rápido.
A busca por agilidade e econ omia de com- Discussão: por que os motoc i clistas
bu s t í vel se traduz em proced i m en tos e modo s se aciden t a m ?
operatórios distintos. Alguns não aumentam os
ri s cos de ac i dentes: con sultam o guia da cida- Os depoimen tos dos motociclistas apre s enta-
de; não desligam a motocicleta ao colocar a dos revelam que os ac i den tes são even tos re su l-
correspondência na caixa do correio; empur- tantes de interações de sistemas soc i o t é c n i cos
912

com p l exos, como fazer en tregas no qu ad ro da dos por aqu eles que analisam e/ou julgam os
a tual “s oc i ed ade da inform a ç ã o” que se de s en- aciden tes e com port a m en tos.
vo lve sobre um espaço urbano não transform a- A visão que sobressai na análise é, port a n to,
do. A ativi d ade dos motoc i clistas profissionais p a rcial e incri m i n a t ó ria, pois está cen trada nos
re s pon de a demandas técnicas (serviço com de s vios (con tu do, s em pre inevi t á veis) do qu a-
qu a l i d ade e no tem po certo) no interi or de re- dro prescri to. O resultado é a el a boração de um
lac i on a m en tos sociais de trabalho e de proce s- conjunto de regras que pre s c revem tarefas e
sos intersubjetivos dominados pelas relações con dut a s , acom p a n h ada da ten t a tiva de obri gar
com os cl i en tes. As inúmeras estratégias e mo- os tra b a l h adores a se conform a rem com a exe-
dos operatórios que a categoria implementa cução rigorosa de normas pre s c ritas (Llory,
para evitar ac i den te s , em bora assim pareça, ra- 1999). Essas normas acabam não sen do cum-
ra m ente corre s pon dem a uma ação mecânica e pridas de acordo com o esperado, pois as ins-
totalmente eviden te (Llory, 1999). Encontra- truções de s consideram certas propriedades –
se, aqui, mais uma razão para que as em pre s a s como ori entação cognitiva, seqüencialidade,
dei xem uma margem de liberd ade na or ganiza- temporalidade – somente percebidas quando as
ção do trabalho, perm i ti n do que os motoc i cl i s- regras são colocadas em prática (Coulon, 1995).
tas possam não só desenvo lver, mas, também, Nessa pers pectiva, não são os erros isolado s
m obilizar as suas com petências. que devem ser particularmente considerados
O uso das antenas é mais uma comprova- c ri t é rio absoluto de fra gi l i d ade hu m a n a , pois o
ção de que os motociclistas profissionais não tra b a l h ador se pro tege con tra eles e até mesmo
são “ Lo u cos pelo peri go” ( Revista Veja, 7/7/99); os provoca (Am a l berti, 1996), qu a n do experi-
sua preocupação em aten der os clientes não menta e se experimenta. Por conseguinte, o
perm i te atribu i r-lhes um com port a m en to an- s i n toma de disfunções não é cometer erro s ,
ti-social, como foram estigmatizados pelos ve í- mas não mais detectá-los ou recuperá-los
culos de imprensa e pela sociedade em geral. (Ibid.). E isso sobrevém quando os processos
Mesmo com reduzida margem de liberdade, de trabalho não dispõem de todas as defesas,
eles procuram improvisar medidas que estão ou qu a n do os níveis metacogn i tivos, ou seja o
ao seu alcance para re sg u a rdar sua segurança. con h ec i m en to que o trabalhador tem daqu i l o
Ao ad qu i ri rem ex periência, os tra b a l h ado- que já sabe , e os processos de confiança se con-
res modificam seus comportamentos, passan- f u n dem, acei t a n do-se mu i tos riscos. As defe s a s
do aos poucos a assumir ati tu des mais ousad a s . podem não funcionar por falta de competên-
As modificações do com port a m en to diante das cia, de tempo ou de con ju n turas emocionais
disfunções do processo produtivo são, comu- parti c u l a res como estresse, hiperm o tivação etc.
mente, os únicos meios que os trabalhadore s ( Am a l berti, 1996).
d i s p õ empara avaliar os seus limites de ad a pt a- A pesquisa re a l i z ada evidenciou que “os
ç ã o, con s ti tu i n do um fator importante para o m odos de andar a vida”, nos termos de Tambel-
de s envo lvi m en to de habi l i d ades e de k n ow - h ow lini (1978), dos motoc i clistas consti tu em uma
profissional (Rasmu s s en , 1987). Desse modo, reação construída e moldada em função das
os trabalhadores se ex perimentam e ad qu i rem peculiaridades e dos estímulos sobre os quais a
ex periência. Nessas situações, o erro está rel a- a tividade se estrutu ro u : a pressão dos cl i en tes
c i on ado à impossibilidade de rec u pera ç ã o, por por serviços rápidos, pontuais e de confiabili-
ocasião dos “ex perimen to s” con s c i en tes e sub- d ade; a el evada demanda de serviços; as prec á-
con s c i entes co l ocados em pr á tica pelos traba- rias relações de trabalho; a ocorrência de gra n-
l h adores (Ra s mu s s en , 1987). de número de circunstâncias não con tro l á veis;
O interesse exclusivo nas normas pre s c ri t a s o uso da motocicleta como meio de desloca-
faz com que a dimensão su bj etiva de s envo lvida mento rápido no trânsito con ge s tionado das
pelos trabalhadores não seja percebida pelos gra n des cidade s .
inve s ti gadores dos ac i den te s . A iniciativa, a de- Os re sultados obti dos ex p l i c a ram o modo
d i c a ç ã o, a criatividade, a inven tivi d ade, o do- opera t ó rio de ri s co implem en t ado no tr â n s i to
mínio de si e a mobilização – ou s avo i r-faire de pelos motociclistas profissionais como o últi-
prudência –, os con h ecimen tos tácitos e as re- mo rec u rso da categoria, não como um proce-
gras não formais mobilizados pelos trabalha- d i m en to de ro tina, mas como forma de ação
dores escapam aos olhos dos investigadore s d i a n tede circunstâncias especiais relac i on adas
(Llory, 1999). Daí certos comportamen tos e à or ganização do tra b a l h o, que deve , port a n to,
h á bi tos do tra b a l h ador não serem com preen d i- ser obj eto de transformação.
913

A remu n eração por de s l oc a m en toé um fa- m en to dos motoc i clistas prof i s s i on a i s , das rel a-
tor de risco, no en t a n to, menos forte do que a ções con tratuais às relações com os clientes,
pressão das em presas e dos clientes para que os passando por medidas de reorganização das
m o tociclistas cumpram as tarefas nos tem po s vias de trânsito. Todas essas recomendações
determinados. As exigências por um atendi- têm como obj etivo último aliviar os con s tra n-
men to com pon tualidade , pre s teza e con f i a bi l i- gimentos materiais, organizacionais e sociais,
d ade é que leva os motociclistas a adotar pro- perm i ti n do que os motoc i clistas prestem servi-
cedimentos de ri s cono tr â n s i to. ço com agilidade, mas sem nece s s i d ade de as-
Viu-se que os proced i m en tos geradores e sumir com port a m en tos de alto ri s co. Pelo fato
poten c i a l i z adores dos riscos de aciden tes são de ser um trabalho relativa m en te recen te, a i n-
recon h ec i dos pela categoria como efei to da or- da não reg u l a m en t ado, por se realizar em vias
ganização do tra b a l h o, e não uma nece s s i d ade públicas e por ser um serviço pre s t ado diret a-
pe s s oal de sen tir fortes emoções. Ao con tr á ri o, men te a um cl i en te que exige pre s teza e qu a l i-
os re su l t ados obtidos com a análise da ativi d a- dade, todas essas mudanças exigem negoc i a-
de real não apenas revelam a importância da ções sociais para serem efetivad a s . Nos limites
or ganização do trabalho, mas também a nece s- de s te arti go, a pre s entamos alguns re su l t ados da
s i d ade de se alarga rem suas “m a r gens” trad i c i o- negociação da convenção co l etiva, assinada re-
nais, recon h ecen do e fac i l i t a n do os ajustes qu e cen temen te en tre o sindicato dos motoc i clistas
os motociclistas profissionais con s troem para prof i s s i onais e os em pre s á rios do setor.
c u m prir os obj etivos estabel ec i dos, como as re- A negociação se deu com a intermediação
des sociais solidárias no planejamento das ro- do Fórum Estadual de Saúde e Segurança do
tas, no con trole tem poral das tarefas e nas ne- Tra b a l h ador de Minas Gerais (FESSTMG), co-
gociações das demandas de serviço com ch ef i a s orden ado peloMi n i s t é rio Públ i codo Trabalho.
e clientes. Em vista disto, os mediadores do In s ti tu í do em ago s tode 2000, o Fórum tem por
acordo co l etivo formu l a ram cl á u sulas de saúde objetivo principal aglutinar agentes sociais e
e segurança que fac i l i t a s s emesses aju s tes pra ti- instituições em torno de ações con juntas de
cados pelos motoc i clistas. Som en te qu a n do as promoção de melhorias das condições de tra-
m a r gens de liberd ade deixadas pela or ganiza- balho num processo de negociação social das
ção do trabalho são estreitas, não levando em questões relativas à saúde do tra b a l h ador (Li-
con s i deração as exigências de tem po e os con s- ma, 2003).
trangimentos do espaço, os motoc i clistas pro- O que motivou a criação do FESSTMG foi
fissionais alteram o modo operatório de pilo- a con s t a t a ç ã o, com p a rtilhada por espec i a l i s t a s
tar com vistas a aumentar a agilidade. de diversas insti tuições rel ac i on adas à saúde do
A re a l i d ade vivida pela categoria consti tu i , tra b a l h o, da ineficiência das ações de preven-
dessa forma, uma exigência social passível de ção e de mel h orias das condições de trabalho
tra n s form a ç ã o, não determ i n ada pela caracte- tal como elas vêm ocorren do. Apesar de todo o
rística intrínseca da profissão ou do perfil do esforço realizado no Brasil nos últimos 30
tra b a l h ador, ao con trário da percepção nega ti- anos, tanto para compreender os problemas
va da soc i ed ade e dos especialistas em seg u ra n- qu a n to para implementar programas de pre-
ça a re s pei to dos motoc i clistas prof i s s i on a i s . venção e legislação sobre o assu n to, os índice s
de ac i den tes e doenças rel ac i on adas ao tra b a-
lho con ti nuam el evado s .
Con clu s ã o : negociação social No caso dos motoc i cl i s t a s , o Ministério Pú-
e mel h oria das condições de trabalho blico do Trabalho, a Fu n d acen tro e a Del egac i a
dos motociclistas profissionais Regi onal do Trabalho negoc i a ra m , em con ju n to,
os termos de uma convenção coletiva do tra b a-
A mudança do foco de análise, do comporta- l h o, com repre s en t a n tes dos trabalhadores e de
men to do motoc i clista para as condições mate- empregadores do setor de motof rete . O início
ri a i s , or ga n i z ac i onais e sociais de realização de do processo se deu com a realização de mesa-re-
sua atividade, d i reciona igualmente as trans- don d a , re a l i z ada no Mi n i s t é rio Públ i co do Tra-
formações para as condições de trabalho, com- balho, em setem bro de 2004, quando os re su l t a-
preendidas nesta pers pectiva mais ampla. As- dos da pe s quisa foram apre s entados aos a tore s
sim, em termos práti co s , a partir da pesquisa, sociais da área de saúde , de trabalho e de tr â n s i-
foram formuladas recom endações que cobrem to, repre s en t a n tes dos tra b a l h adores e em prega-
vários aspectos determinantes do comporta- dores. No even to foi ex p l i c i t ada a comp l ex i d ade
914

do probl em a , a nece s s i d ade de um novo model o a s su n to, cujo conteúdo de segurança e saúde
de atuação, n ece s s á rio para a mel h oria das con- no trabalho é inédito no país.
dições de saúde e trabalho da categori a . A parti r Os re su l t ados da análise er gonômica da ati-
daí, 12 reu n i õ e s , ora qu i n zen a i s , ora semanais, vi d ade mostraram os motociclistas profissio-
num total de 60 horas, foram efetivadas com a nais sob uma ótica produtiva, desenvolvendo
m ediação e coordenação do FSSTMG e parti c i- uma gestão eficaz dos com promissos cogniti-
pação da Fu n d acen tro, Del egacia Regional do vos. Ou seja, a atividade foi analisada em condi-
Trabalho e os representantes dos tra b a l h adores e ções normais, com os motoc i clistas co l oc a n do
empregadores. em pr á tica – nas empre s a s , no trânsito, nas re-
O termo básico da convenção foi produzi- p a rtições e nos con t a tos com os cl i en tes – inú-
do pelo Mi n i s t é rio Públ i co do Trabalho a par- m eros modos opera t ó rios e estra t é gias que su s-
tir de algumas con tri buições dos repre s entan- tentam o processo produtivo e a sua seg u rança,
tes da categoria patronal e dos trabalhadores. assim como as circunstâncias que os levam a
Co u be à Fu n d acen tro el a borar as cl á u sulas re- adotar comportamen tos de alto risco. Esse co-
l a tivas às questões de saúde e seg u ra n ç a . A nor- nhecimento mostrou ser bem mais profícuo pa-
ma coletiva foi finalizada em março de 2005, ra as ações de prevenção do que as investigações
com 67 cl á u sulas. Destas, 34 são pertinentes à clássicas dos ac i den tes, com a vantagem de re-
s eg u rança e saúde no trabalho (Quad ro 1), re- con h ecer o saber de s envo lvido pelos pr ó prios
pre s en t a n do uma conquista importante para trabalhadore s , con tra s t a n do com as normas de
esta categoria prof i s s i on a l , até então tra b a l h a n- s eg u rança pre s c ri t a s , gera l m en te incom p a t í vei s
do sem nenhuma reg u l a m entação em âmbito com a atividade. Tanto o con te ú do qu a n to a
federa l , estadual ou mu n i c i p a l . Esse con s ti tui o con s trução social desta norma co l etiva não te-
pri m ei ropasso que, cert a m en te , s erá o em brião riam sido po s s í veis sem esse mergulho no coti-
de futu ra legislação federal e municipal sobre o diano dos motociclistas profissionais.
915

Quadro 1
S í n tese das cl á u sulas de Segurança e Saúde da Convenção Co l etiva .
Condições de trabalho Quesitos da convenção co l etiva de trabalho

Formação Cursos com con te ú do e carga hor á ria def i n i dos e ministrados por: m o tociclistas ex peri en te s ,
Fu n d acentro, pre s t adores de serviço em direção defen s iva

Prêmio de produ ç ã o - competi ç ã o Proi bi do qu a l qu er sistema de premiação que esti mule com port a m en tos de ri s co no trânsito

E s t í mulo às regras de soc i a bi l i d ade Prêmio para o motoc i clista que não com eter infração de tr â n s i to
no tr â n s i to

E nvo lvi m en to dos cl i en tes E l a boração de guia de ori entação ao usu á rio
dos serviços In formação ao cl i en te sobre po s s í veis atrasos
De s con tos para cl i en tes que prop i c i a rem aten d i m en to rápido ao motociclista
L i m i te de tem po de espera para o cl i en te aten der motoc i cl i s t a

Apoio ao co l etivo de trabalho E s t í mulo e incen tivo por parte das em pre s a s
e redes solidárias

O r ganização do trabalho Tem po pre s c ri todiferen c i ado con forme a ex periência do motoc i cl i s t a , dia do mês,
pré e pós feri ado, condições meteoro l ó gicas e logrado u ros
Tem po para nova tos acom p a n h a rem motoc i clistas ex peri en tes
Ta refas com pra zo críti co re a l i z adas por dois motoc i cl i s t a s
L i m i te de tem po para acei te de tarefas urgen te s
Proi bição de locar os serviços de um mesmo motoc i clista para dois ou mais cl i en tes
simultaneamen te
Su gestão para com p a rti l h a m en to de tarefas com outras em presas em bairros disti n tos
ou cidades vi z i n h a s
Possibi l i d ade de negociação da demanda e do tem po pre s c ri tosem represália
aos motoc i cl i s t a s , mesmo na condição de terceiri z ado
In formação às em presas cl i en tes para cumpri rem também os termos da CCT
Hora ex tra de 100%

Con forto Repo u s o : local de espera nas em presas con tra t a n tes dos servi ç o s
Proi bi do o tra n s porte de caixas e baús su s ten t ados nas costas do motoc i clista

Mo to e ace s s ó rios Tem po livre semestral para manuten ç ã o, s em descon to em salário


Fiscalização da doc u m entação e condições do veículo
Cores cl a ras para roupas, baús e capacete s
Dispositivos ref l etivos
Baús térm i cos para con s ervação da tem peratura dos produtos e alimen tos
Obri ga toriedade de uso de antenas e dois retrovi s ores
Fornec i m en to de mapas

E PI Fornec i m en to, por parte das empre s a s , de todos os EPIs , capacetes fech ados e
cintas ref l etivas para trabalhos notu rn o s

Condições específicas de saúde Vacina con tra gri pe


Seg u ro - s a ú de
Proi bi do o serviço de rua em estado febril ou sob efei to de sed a tivos
Auxílio-lanche
916

Co l a bora dore s

EPH Diniz realizou o trabalho de campo. Autor da disser-


tação de mestrado que deu ori gem a este arti go, ele foi
orientado por AA Assunção e FPA Lima. Todos os autores
participaram da elaboração do artigo.

Referências bibl i ográficas

As sunção AA & Lima FPA 2003. A con tribuição da er go- Lima FPA 2003. Ações coorden adas em saúde do tra b a-
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Aprovado em 4/07/2005
Versão final apre s en t ada em 27/07/2005

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