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MOTOBOYS: FASTER IS BETTER

Por: Liz Paola Morillo Díaz

No ano 2016 houveram 8.484 acidentes com motos nas vias municipais do Belo Horizonte
a partir das cifras do DEAV postadas no jornal virtual Em.com.br, inclusive, segundo
Valquíria Lopes (2017), numa publicação feita no mesmo jornal afirma que das 130 mortes
no trânsito de BH em 2016, 71 estavam relacionadas com motocicletas. Numa entrevista
feita por Valquíria ao delegado Bernardo Machado, da Delegacia Especializada em
Acidentes de Veículos, ele afirmou que a aumento na quantidade de motocicletas e avanço
está relacionado ao vínculo com atividades de trabalho, ele declara:

“Em uma cidade com cada vez mais engarrafamentos, o motociclista consegue se deslocar
com rapidez no trânsito, usando um veículo mais barato que os automóveis e também mais
economicamente viável.” (Bernando Machado, 2017)

Sendo os motociclistas professionais um grupo de risco laboral. Os fatores psicossociais


para a saúde dos trabalhadores estão sendo cada vez mais reconhecidos, estes estão
permitindo mudanças nas organizações, pelo que é conveniente e necessário a
identificação, a avaliação e o controle com fim de evitar os riscos associados à saúde e
segurança do trabalhador (CEM, 2013).

A partir do curto apresentado na aula de Saúde mental & Trabalho “Motoboys: Vida
louca”, se propôs um analise do trabalho dos motoboys tendo presente as estratégias que
poderiam ser implementadas na prevenção da ocorrência de acidentes de trabalho nesta
categoria laboral.

Para a análise é preciso levar em consideração algumas perguntas a serem respondidas pelo
interventor antes de propor qualquer plano de atuação.

Quais são os fatores organizacionais e as variabilidades relacionadas à atividade de


trabalho dos motociclistas profissionais?

Moreno e Baez retomam as contribuições de Daza e Pérez no ano de 1997, dizendo que os
fatores organizacionais são condições que estão presentes em uma situação relacionadas à
organização, o conteúdo de trabalho e a conclusão da tarefa, e estes têm a capacidade de
afetar o bem-estar ou a saúde (física, mental ou social) do trabalhador quanto ao
desenvolvimento de trabalho (2010). Os fatores relacionados à atividade de trabalho dos
motociclistas profissionais percebidos foram:

A política e filosofia da organização: Sendo as variável “rápido”, “velocidade”, “para


ontem”, o fator que tem prioridade no serviço de entrega, a política de agilidade (referindo-
se a que tão rápido faz a entrega) o que vai colocar à motociclista na competência.

A cultura da organização deles está constituída pelas marcas inconscientes que produz o
trabalho de serviço ao cliente, onde a satisfação do cliente é a satisfação do contratante,
sendo a subjetividade do cliente a que vai qualificar o trabalho do motoboy.

Relações industriais: Os motociclistas como motoboys e moto-taxis são reconhecidos pelo


estado brasileiro como uma carreira profissional, pelo que existem políticas públicas que
regulam o trabalho deles, os motoboys têm a possibilidade de convênios coletivos com
diferentes contratantes e o clima laboral da profissão está marcado segundo o desempenho
da atividade e os ambientes que implique a mobilização e a relatividade do empregador.

Quais são os fatores de risco relacionados aos acidentes de trabalho enfrentados pelos
motoboys profissionais?

Os fatores de risco são contextos laborais com a capacidade de afetar o bem-estar ou a


saúde (físico, psíquico ou social) do trabalhador (FeSB, 2015). Para o caso dos motoboys
profissionais, os fatores de risco identificados foram:

Os fatores que se referem à própria tarefa, pareceria que os motoboys ao terem um grau de
envolvimento afetivo com a particularidade da mobilidade na sua moto, este fator atua
como agente protetor no momento de optar por esta categoria de trabalho.

“Eu e o motor”, “A moto é liberdade”

Além disto, o ritmo e as exigências do trabalho dos motociclistas está resultando em riscos
e acidentes.

“Louco por ser rápido em uma cidade lenta”, “Para ganhar mais devo correr mais”
Outro fator de risco está nas horas de trabalho, ao serem eles quem gerenciam a quantidade
de horas trabalhadas, existem casos que decidem por possuir uma variedade de contratos, o
que implica num aumento no tempo implementado na realização do trabalho, ante a
precariedade de remuneração, para eles a extensão das jornadas é a possibilidade de obter
um maior benefício econômico. Neste mesmo sentido, a duração do trabalho dos
motociclistas profissionais, pode implicar constantes variações, os turnos de trabalho na
noite e em dias festivos tem incidência na vida social e familiar do trabalhador, as
mudanças no ritmo biológico não coincidem com as exigências do entorno social do
sujeito.

A comunicação entre o contratante e os motociclistas no intercâmbio do serviço, está


baseada na exigência de tempos curtos em cada entrega, resultando na ausência do controle
das suas próprias condições de trabalho e sendo uma alarmante sinal de risco laboral.

“Termina sendo mais importante o trabalho que a própria vida”

Na rua as coisas não melhoram, além dos múltiplos fatores de risco já abordados, os outros
motociclistas (particular ou de serviço), o ruído, o clima e os agentes químicos nas vias são
mais fatores que somam-se ao trabalho dos motociclistas, pelo que o contexto físico desta
categoria está constantemente exposto ao perigo.

“Fica um disputando o espaço do outro”

Por último a ser mencionado, no caso do desenvolvimento pessoal dos motociclistas


profissionais, o trabalho desta categoria ainda tem uma percepção de baixo valor social,
pela insegurança no trabalho ou a falta de promoção.

“São caras loucos”, “Não gosto de motoboys”, “Não acredito nos males necessários”

Respostas as perguntas e com base na pesquisa feita por Diniz, E.P.H. et al. (2005), ante a
estreita margem de liberdade deixada pela organização do trabalho, e desconsiderando as
exigências de tempo e a opressão do espaço, os motociclistas implementam mecanismos
cognitivos em vistas de atingir os objetivos de produção com segurança, eles alteram o
modo operatório de pilotar com vistas a aumentar a agilidade e ganhar tempo, executam
algumas estratégias na margem da organização do trabalho como é o caso da pré-
visualização das trajetórias, com fim de prever a ocorrência de acidentes, pretendendo
cumprir com as exigências estabelecidas pelo setor.

No processo do traço das vias, os motoboys implementam o apoio nas redes sociais
solidárias para o planejamento prévio das rotas a serem tomadas, o controle temporal das
tarefas a serem realizadas, a partir da pesquisa feita por Diniz, E.P.H. et al. (2005), foi
observado que os motociclistas mantêm uma carregada rede altruísta de ajuda mútua
caracterizada pela constante troca de informações com seus pares procurando as melhores
opções para se movimentar pela cidade e as negociações entre eles mesmos para efetuar as
demandas dos serviços.

Além das estratégias implementadas pelo ofício, o interventor psicossocial vai concentrar-
se na ampliação da margem de ação do trabalhador em práticas que reduzam ou eliminem a
incidência de riscos psicossociais associados à categoria profissional, com o objetivo de
evitar os riscos psicossociais, devem ser implementadas medidas preventivas que tendem
no:

Ajuste nos tempos de entrega, através do bom planejamento como base para a atribuição de
tarefas, no qual o tempo real e o prescrito conversem, ao que Diniz, E.P.H. et al. (2005)
diria que conhecer as vias permite aos motociclistas utilizar caminhos alternativos em vez
de procedimentos que incrementam os riscos de acidentes.

Outrossim, as chefias teriam que garantir o respeito e tratamento justo das pessoas,
proporcionando salários justos de acordo com as tarefas realizadas e qualificação do cargo.
Além disso, devem garantir a segurança social do empregado com condições de trabalho
(dia útil, salário, etc.), evitando as constantes mudanças contra a vontade do trabalhador.
Algumas outras alternativas de melhora das condições de trabalho dos motoboys com
intenção de melhora dos fatores de risco psicossocial, está na eliminação das condições de
isolamento social ou competitividade entre colegas, o que poderia reduzir ou eliminar a
exposição ao baixo apoio social e reforço.

BIBLIOGRAFIA
CONFEDERACIÓN DE EMPRESAS DE MÁLAGA (CEM). Guía de prevención de
riesgos psicosociales en el trabajo. Madrid. 2013

DINIZ, Eugênio Paceli Hatem; ASSUNCAO, Ada Ávila and LIMA, Francisco de Paula
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estratégias de prevenção. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 30 (111):
41-50. 2005

Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbso/v30n111/06.pdf

DINIZ, Eugênio Paceli Hatem; ASSUNCAO, Ada Ávila and LIMA, Francisco de Paula
Antunes. Prevenção de acidentes: o reconhecimento das estratégias operatórias dos
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Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v10n4/a14v10n4.pdf

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Disponível em: http://riesgoslaborales.feteugt-sma.es/portal-preventivo/riesgos-laborales/
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Disponível em: http://staging.ilo.org/public/libdoc/ilo/1986/86B09_301_span.pdf

VALQUIRIA LOPES. Das 130 mortes no trânsito de BH em 2016, 71 estavam


relacionadas com motocicletas. Em.com.br. Postado em 28/07/2017 06:00 / atualizado em
28/07/2017 07:59 Disponível em:
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2017/07/28/interna_gerais,887283/das-130-
mortes-no-transito-de-bh-em-2016-71-envolveram-motos.shtml

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