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Árvore de Causas - ADC, na investigação descrições de 184 acidentes, feitas por 2 Herbst, P. G. (1962) - Autonomous
contramestres e pessoal do serviço de segu- group functioning and exploration in
de “doenças e acidentes de trabalho”.[30] behavior theory and measurement.
rança de uma mesma usina siderúrgica e London. Tavistok Publications.
Perante o exposto, julgamos oportuno e ocorridos entre 1965 e 1968. Em outras Herbst, P. G. - ”Analyse des
dimensions des systèmes de
necessário realizar algumas considera- palavras, os autores tiveram à sua disposi- production” (document
ções visando contribuir para o debate de ção registros de AT cuja qualidade em ter- dactylographié, non daté).
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mos de clareza, precisão e riqueza de de- Como unidade ou categoria de análise, o
talhes propiciou o início do desenvolvimen- método utiliza a atividade que, por sua
to de método, hoje conhecido internacio- vez, é formada por quatro componentes:
nalmente, principalmente a partir de sua in- indivíduo (em seus aspectos físicos e psico-
clusão, em 1983, na Enciclopédia da Or- lógicos); tarefa, representada pelo conjun-
ganização Internacional do Trabalho.[34] to de ações executadas pelo indivíduo en-
quanto participante da produção (de bens
Três publicações merecem menção em rela- ou serviços, direta ou indiretamente); ma-
ção ao método ADC, por se tratar de estu- terial, entendido como todos os meios téc-
dos que deram continuidade à investigação nicos para que o indivíduo possa executar
de CUNY e KRAWSKY,[9] completando e sua tarefa; e meio de trabalho, isto é, o
aprofundando os enunciados iniciais. Trata- ambiente físico e social no qual o indiví-
se de um estudo de KRAWSKY, CUNY e duo executa sua tarefa.[9, 17, 32]
MONTEAU, de 1972,[17] um segundo estu-
do, de MONTEAU[32], datado de 1974 Como conceito fundamental ao seu desen-
(reeditado em 1977 pelo Office des Publi- volvimento, o método utiliza o conceito de
cations Officielles des Communautés Euro- variação, o que significa que, em relação
peenes) e, finalmente, um texto de 1975 de ao desenrolar habitual da atividade, ou
MERIC, MONTEAU e SZEKELY.[23] seja, sem ocorrência de acidente, alguma
coisa se passou de forma não habitual e a
Do ponto de vista do contexto francês dos
isto denomina-se variação. Cabe ressaltar
anos 70, trata-se de país que, tendo apre-
que a variação é identificada em relação
sentado período de decréscimo de incidên-
ao trabalho real e não ao trabalho pres-
cia dos acidentes de trabalho em função da
crito.[23, 32] Isto significa que, se na inves-
adoção de medidas técnicas (segurança de
tigação de um acidente, depara-se com
máquinas, melhoria de postos de trabalho,
uma situação na qual uma prescrição não
etc.) e de controle de ambientes e de condi-
é cumprida sistematicamente, este fato
ções de trabalho (por meio de todo apara-
não constitui uma variação, mas um fato
to jurídico-institucional adequadamente pre-
habitual ou um antecedente habitual ou
parado e estruturado), começa a apresen-
permanente, conceito este desenvolvido
tar estagnação da taxa de freqüência des-
por oposição ao de variação.
tes fenômenos. Tal situação, levando à
busca de novos instrumentos para enfrenta- A compreensão exata do conceito de varia-
mento do problema representado pelos aci- ção, estabelecido por comparação a uma
dentes, gera o método INRS (sigla da insti- situação permanente ou habitual, é impres-
tuição que o desenvolveu), atualmente co- cindível à utilização do método ADC. As-
nhecido como Método de Árvore de Cau- sim, precisa ficar claro que, se a atividade
sas ou, simplesmente, método ADC. se desenvolve de forma habitual, sem ocor-
rência de nenhuma alteração – variação –
não haverá acidente. O contrário, entretan-
2.2 Aspectos teóricos e metodológicos to, não é verdadeiro, isto é, pode haver va-
O método ADC parte de dois princípios riação em relação à atividade normal, sem
básicos: o de que o acidente do trabalho que sobrevenha um acidente.[9, 17, 32] Por
é um fenômeno multicausal e que ocorre exemplo, a designação de um trabalhador
no interior de um sistema sócio-técnico para outro posto de trabalho que não o seu
aberto, configurando sinal ou sintoma de constitui uma variação, contudo, em gran-
disfuncionamento deste, de acordo com a de parte das vezes em que isto ocorre, não
análise de FAVERGE.[11] sobrevêm acidentes.
De maneira simplificada pode-se dizer Outro aspecto que precisa ficar claro em
que o método ADC compõe-se de um con- relação ao conceito de variação diz res-
junto de princípios e de regras que permi- peito ao não-cumprimento sistemático de
tem, a partir do acidente (e também do normas ou regras de segurança. Se uma
quase-acidente, do incidente e do desgas- norma ou regra não é jamais cumprida,
te material) identificar progressivamente isto constitui um fato habitual e, por si só,
os fatores envolvidos em sua gênese, ini- não explica a ocorrência do acidente,
cialmente próximos ao AT e sucessiva- para o que é imprescindível a existência
mente a montante do mesmo. de pelo menos uma variação.[32]
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dos nesta fase. É imprescindível que se ob- refa dos dois consistia em abastecer o tri-
tenha uma descrição clara, precisa, des- turador com a matéria-prima, recolher o
provida de interpretações e de emissão de produto triturado em sacos e estocá-los
juízos de valor. A observância desta exi- por meio de palette transportado manual-
gência requer, por um lado, certo domínio mente para local ao lado do triturador.
na linguagem falada e escrita e, por outro,
treinamento apropriado ao uso do método. Normalmente o trabalho era realizado
sob responsabilidade de um chefe de
No momento da coleta de dados é funda- equipe cuja presença havia sido julgada
mental a participação dos diferentes ato- dispensável à noite e o controle do traba-
res, direta ou indiretamente envolvidos no lho dos Srs. A. e L. havia sido confiado di-
AT, para que se obtenham todas as infor- retamente ao responsável por outro setor,
mações possíveis sobre os fatos que efeti- o qual deveria ser chamado apenas em
vamente ocorreram. caso de dificuldade.
Dado que o número de trabalhadores esta-
2.3.2 Organização das informações
ou fatos va reduzido em relação à jornada normal,
uma empilhadeira utilizada para outra ta-
Os fatos que constam da descrição do refa encontrava-se disponível. Por sua pró-
acidente devem ser organizados (listados) pria iniciativa o Sr. L., que não possuía ha-
levando em consideração tratar-se de va- bilitação para operar a empilhadeira, co-
riação ou fato habitual e segundo compo- meçou a utilizá-la, pois a chave da mesma
nente da atividade a que pertença: indiví- encontrava-se sobre o painel.
duo (I), tarefa (T), material (M) ou meio de
trabalho (MT). Segundo os Srs. A. e L., perto de meia-
noite e meia, isto é, três horas e meia
A decisão de apresentar de modo prático após o término da jornada normal, estan-
esta etapa, por meio da descrição de um do ambos cansados, pensaram em utili-
acidente do trabalho a partir do qual será zar a empilhadeira para economizar seus
construída a ADC,3 coloca já dois aspectos esforços na estocagem dos sacos.
que merecem ser explicitados: por um lado,
o da complexidade do fenômeno em si e, Quando o Sr. L. efetuava uma curva em
por outro lado, o da indicação do uso do marcha a ré para mudar a posição do
método, isto é, para casos ocorridos em veículo, este tombou, prensando-o entre o
condições nas quais os problemas mais gra- solo e a coluna direita do teto de seguran-
ves, relativos à falta de segurança de máqui- ça, causando-lhe traumatismos múltiplos.
nas, à concepção inadequada de postos de Analisando-se a organização dos fatos,
trabalho e à existência de modos operató- evidencia-se que a cada um deles corres-
rios perigosos, já foram solucionados. Nes- ponde uma frase composta de sujeito, ver-
tas circunstâncias, aspectos organizacionais bo e, conforme o caso, complemento. A
envolvidos na gênese dos AT e evidencia-
empilhadeira (sujeito) tomba (verbo). O
dos com o uso de método ADC adquirem
chefe da equipe (sujeito) é (verbo) um subs-
grande importância para a prevenção des-
tituto provisório (complemento). As frases
tes fenômenos, como poderá ser constatado
são formuladas de maneira clara, objetiva,
no exemplo apresentado a seguir.
de preferência com o verbo no presente do
Resumo do acidente indicativo, sem emprego de palavras que,
por seu próprio sentido, impliquem inter-
Sr. L., 28 anos, trabalhador não-especia- pretação ou emissão de juízo de valor.
lizado. Nesse sentido, cabe referir que o fato “os
Srs. A. e L. querem ganhar tempo” foi re-
A empresa funcionava excepcionalmente
gistrado diante das circunstâncias, isto é,
à noite a fim de dar vazão a um exceden-
trabalho noturno, ultrapassando em 3
te de estoque de matéria-prima. Por esta
3 Adaptação de acidente do horas e meia a jornada normal e por haver
razão o número de trabalhadores era re-
trabalho discutido durante Curso sido expresso pelos dois trabalhadores.
sobre o Método de Árvore de duzido, pois, após a jornada normal,
Causas, ministrado por Michel apenas uma parte do efetivo continuava Outro aspecto importante diz respeito a
Meric de 14 a 18 de abril de 1994
no Centro de Formação do trabalhando. O Sr. L. trabalhava há vá- não elaborar frases contendo dois (ou
INRS - Paris. rios anos com o Sr. A. no triturador. A ta- mais) fatos distintos do tipo “banco tomba
e prensa pé direito”, pois os fatos antece- evitar formulação do tipo “por que Y aconte-
dentes ao tombamento do banco não são ceu?”, pois tende a provocar resposta simpli-
os mesmos da prensagem do pé. No ficada, não induzindo ao raciocínio).
exemplo dado, os dois fatos constituem
No caso, a resposta é: foi necessário que
variação do componente tarefa. Entretan-
o Sr. L. tivesse sido prensado entre a colu-
to, algumas vezes cometem-se falhas,
agrupam-se fatos pertencentes a compo- na da empilhadeira e o solo.
nentes diferentes, configurando desrespei- A indagação seguinte é: este fato (ser
to às regras do método. Isto geralmente prendado...) é suficiente para explicar as
ocasiona a perda de coerência do esque- lesões sofridas pelo Sr. L.? No caso, a res-
ma (árvore), podendo invalidar o uso do posta é afirmativa, levando à construção
método. Portanto, além do domínio da lin- do esquema apresentado a seguir.
guagem, ainda mais fundamental é o do-
mínio dos princípios e regras do método.
T I
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de ter sido prensado entre a coluna da caso, significa que o tombamento da em-
empilhadeira e o solo constitui condição pilhadeira, somado à existência e posição
necessária e suficiente para produzir trau- da coluna, foram fatos necessários e sufi-
matismos múltiplos no Sr. L. cientes para que o Sr. L. fosse prensado.
A questão que se coloca a seguir é: o que
foi necessário acontecer para que o Sr. L.
fosse prensado entre a coluna da empilha- T
deira e o solo? A primeira resposta é: que
a empilhadeira tenha tombado. Em segui- A empilhadeira
da: este fato (tombamento da empilhadeira) tomba
foi suficiente para prensar o Sr. L. ou houve T
necessidade da presença de algum outro
fato? No caso, a resposta é que o tomba- O Sr. L. é
mento foi necessário, mas não suficiente, prensado
M
pois uma característica da empilhadeira, entre a coluna
isto é, a coluna do teto teve participação. da empilhadeira
A coluna do teto e o solo
À representação gráfica apresentada a se- situa-se à frente e
guir dá-se o nome de conjunção e, no à direita
Os Srs. A. e L. ?
estão cansados
T
T T
A
Os Srs. A. e L. O Sr. A. muda a empilhadeira
T
ganham tempo posição da tomba
empilhadeira
O Sr. L. faz curva
MT em marcha a ré
T T I
O chefe da
equipe é um
substituto
provisório
Figura 1. Esquema parcial de acidente de trabalho típico com tombamento de
empilhadeira
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é a esterilização da imaginação ao pensar
as medidas de prevenção.[26]
São possíveis outras quatro configurações
ainda não mencionadas, que serão apre-
sentadas a seguir. Fato A Fato B
MT
Fato A Fato B
É meia-noite e meia
MT (3h30min após término
da jornada normal)
No caso de haver dúvidas quanto à ocor-
rência do fato A, representa-se a figura O trabalho é
realizado à noite MT
por linha tracejada:
A equipe está reduzida
MT
O transporte
de sacos é I
feito com
pallete manual ?
Os Srs. A.
e L. estão
cansados
MT T T
T
? É meia-noite O Sr. L. A
e meia muda a empilhadeira
Os Srs. A. T tomba
empilhadeira
e L. ganham
de posição
MT tempo
O Sr. L. faz
curva em
marcha a ré
O trabalho é MT T T I
realizado à
noite
? MT A
O Sr. L. O Sr. L é O Sr. L sofre
MT empilhadeira
opera a prensado poli-
está disponível
Existe um empilhadeira entre a traumatismos
excedente coluna
A equipe
de estoque dianteira
está MT M direita do
reduzida
teto e o solo
A chave da Uma das
empilhadeira colunas do
está no teto fica na
painel frente e à
direita do
condutor
MT
A equipe é
chefiada por
substituto
provisório
T Fato 1
O transporte de
sacos é feito com I Fato 3
palette manual
Os Srs. A. e L.
MT estão cansados Fato 2
É meia-noite e meia
(3h30min após o fim I
da jornada normal)
Os Srs. A. e L. M
querem ganhar tempo
A matriz da prensa
está deteriorada M
T A peça se
T quebra
O transporte de
sacos é feito com I A peça é
palette manual posicionada
incorretamente
Os Srs. A. e L.
MT estão cansados
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Esta configuração não pode existir, se respei- mente, tal fato representará uma varia-
tados os princípios do método: se os fatos A ção; entretanto, com o passar do tempo
e B ocorreram da forma habitual, apenas es- transformar-se-á em fato habitual ou per-
tes dois fatos são incapazes de dar origem à manente. Esta é uma das razões que tor-
variação X. O que costuma ocorrer são situa- na difícil, em certas circunstâncias, esta-
ções habituais muito frágeis quanto à segu- belecer se determinado fato já pode ser
rança (situações de baixa fiabilidade), nas considerado como habitual ou ainda
quais pequenas variações, difíceis de se de- constitui uma variação. Nesta situação
tectar, passam despercebidas.[16, 35] Nestes adota-se a seguinte representação:
casos deve-se representar:
Fato A
Uma questão a ser colocada neste mo-
mento é a da apresentação do método
ADC com o nível de detalhamento que
vem sendo realizado. À primeira vista,
Fato B Fato C esta opção poderá parecer fruto de pre-
ciosismo acadêmico, cujo efeito poderá
? ser o de afugentar profissionais interessa-
dos no uso do método.
Neste caso, a variação inicial não detec- Entretanto duas ordens de fatores deter-
tada é representada por um sinal de inter- minaram essa opção. A primeira refere-
rogação, posicionado no mesmo alinha- se à constatação, feita em 1985 pelo
mento dos fatos A e B. Institut pour l’Amelioration des Conditions
Da mesma forma, a configuração apresen- de Traivail – Inpact4 que, avaliando a uti-
tada a seguir, embora teoricamente possí- lização do método ADC na França, con-
vel – existência de recuperação com o fato cluiu que sua difusão se acompanhara
Z representando o prosseguimento do tra- de algumas deturpações limitantes de
balho como habitualmente desenvolvido – suas potencialidades.[16]
na verdade não se verifica na prática. Nesse mesmo sentido, também merece
menção estudo realizado em 1982, pelo
próprio INRS,[14] relativo à implantação
controlada do método, entre engenheiros e
técnicos de segurança de instituição estatal
Fato R ligada à Seguridade Social. Estes profissio-
nais, com vários anos de experiência em
segurança do trabalho (53% dos quais
Fato Z com mais de 10 anos de experiência) fo-
ram submetidos a treinamento para uso do
método e, posteriormente, seu desempe-
Fato S
nho foi avaliado. Nesta avaliação[14] cons-
tatou-se que, embora em 57% dos casos o
Assim, diante da mesma deve-se checar desempenho pudesse ser considerado
se está realmente correta (R e S são varia- bom, foram encontrados vários tipos de er-
ções? Z é um fato habitual? Z decorre da ros, classificados em duas categorias:
conjunção dos fatos R e S?) – erros relacionados à coleta e organiza-
ção das informações: descrições impre-
Um aspecto a ser lembrado é que, com o cisas; mais de um fato organizado de
passar do tempo, uma variação pode maneira associada; interrupção preco-
4 Órgão de assessoramento da
Confederation Française transformar-se em fato permanente. Por ce da coleta de informações com conse-
Democratique du Travail - CFDT, exemplo, um dispositivo qualquer é im- qüentes lacunas: não utilização das ca-
uma das centrais sindicais de
trabalhadores da França. plantado em um equipamento e, inicial- tegorias de análise – Indivíduo, Tarefa,
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balho em grupo e com participação de – estabilidade da medida em relação ao
elementos de diversos níveis hierárquicos. tempo: por exemplo, medidas que impli-
A etapa de elaboração de medidas cura- cam apenas modificações do comporta-
tivas também deve respeitar esta recomen- mento dos operadores em geral são
dação de trabalho em equipe. pouco estáveis, principalmente se asso-
ciadas ao item a seguir;
Um aspecto que deve ser reforçado e, de
certa forma, relacionado com a recomenda- – custo da medida para o operador: me-
ção de “dar asas à imaginação”, diz respei- didas que implicam esforços adicionais
to a eventuais avaliações quanto ao custo para o operador em geral são rapida-
das medidas curativas propostas. Todavia, o mente abandonadas;
momento de se preocupar com tal aspecto, – deslocamento do risco ou surgimento de
isto é, com relação a custo/eficácia, virá novos riscos: este é um aspecto freqüen-
quando da escolha das medidas a serem temente esquecido de ser analisado e,
implantadas.[23] E, neste sentido, quanto realmente, uma medida de prevenção
maior o leque de medidas curativas propos- adotada em relação a determinado ris-
tas, maiores as possibilidades de escolha. co pode introduzir um novo risco não
previsto inicialmente;
Segundo MERIC, MONTEAU e SZEKELY[23]
– a amplitude da medida: algumas medi-
esta fase do trabalho “apela aos conheci-
das de prevenção têm alcance limitado
mentos, à experiência e à imaginação”. Se-
enquanto outras, na medida em que su-
gundo estes autores, na verdade, existem
primem fatores comuns a vários aciden-
apenas dois grandes grupos de medidas
de prevenção possíveis: as que suprimem tes, apresentam alcance ampliado;
os fatores de acidente e as que os tornam – nível de anterioridade lógica: quanto
compatíveis com o desenvolvimento do tra- mais a montante em relação à lesão, em
balho em condições de segurança, isto é, geral maior é sua amplitude de atuação
sem que sobrevenham acidentes. (item anterior), mas, além disso, seus
efeitos podem se fazer sentir sobre ou-
Tomando como exemplo um fator de aci- tros fatores, mesmo não se restringindo
dente freqüentemente encontrado em vá- a fatores do acidente considerado como
rias empresas, como é o caso da utiliza- caso-índice da medida;
ção de uma mesma máquina ou equipa-
– prazo de aplicação: após a ocorrência
mento por diferentes equipes e/ou servi-
do acidente, algumas medidas têm de
ços, de forma mais ou menos anárquica,
ser adotadas sem tardar, visando evitar
é possível constatar que este fator costu-
a repetição do mesmo acidente e isto
ma estar na origem de outros, de modo a
deve ser feito independentemente da
configurar uma disjunção. Como medidas
adoção de outras medidas que depen-
curativas, diante de situação como esta,
derão não só de prazos para sua im-
pode-se propor: que a máquina e/ou
plantação mas também de negociação
equipamento passe a ter um responsável;
no interior da empresa.
que somente este a opere; adoção de
providências relativas à sua manutenção
(por exemplo, pelo responsável) etc.
2.4 Conceito de fator potencial de
acidentes
2.3.6 Escolha de medidas preventivas
A exposição realizada até o momento
Se por um lado é fácil calcular o custo da abordou o método ADC como ferramenta
adoção de uma medida preventiva, por de diagnóstico dos fatores implicados na
outro lado, a avaliação de sua eficácia gênese dos acidentes de trabalho, pela
coloca vários problemas. Disto decorre qual a prevenção pode ser pensada e co-
que, freqüentemente, os aspectos relati- locada em prática de maneira mais am-
vos aos custos acabam preponderando. pla e, portanto, mais eficaz.
Quanto aos aspectos técnicos a serem ob- Um conceito importante para a prevenção é
servados por ocasião da análise das me- o de fator potencial de acidentes que, ape-
didas de prevenção pelo menos seis crité- sar de não completamente elaborado do
rios são considerados fundamentais:[23] ponto de vista científico, apresenta grande
uma generalização do tipo máquina peri- das regras do método, conduz a indaga- geralmente encontram-se outros
ções acerca de aspectos situados à distân- mais gerais como falha e/ou
gosa é ampla demais e pouco operacio- inadequação da organização do
nal enquanto máquina com zona de ope- cia do AT como, por exemplo, concepção trabalho no que diz respeito ao
ração permitindo acesso de parte do cor- de máquinas e organização do trabalho. aprovisionamento dos postos de
trabalho com instrumentos,
po constitui uma formulação que ainda fa- O método ADC, segundo PHAM e MON- ferramentas, materiais necessários
cilita a prevenção na medida em que, TEAU[39] “permite particularmente estabe- e apropriados à execução das
tarefas, cuja conseqüência é a
com base nela, todas as máquinas serão lecer a complexidade do fenômeno aci- improvisação, com conseqüências
verificadas quanto a esta característica. dente ao considerar o máximo de elemen- negativas para a segurança.
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tos da situação de trabalho”. Como conse- da do método, em geral com conseqüên-
qüência, as possibilidades de prevenção cia para a prevenção.[16]
também se ampliam.[22, 23, 39]
Como pré-requisitos à sua aplicação, o
A representação esquemática do aciden- método ADC exige domínio de lingua-
te – árvore – torna o método um verdadei- gem e treinamento.[14, 16, 25] Além disso,
ro instrumento de comunicação,[22, 40] no período inicial de sua utilização por
pois permite que o mesmo seja visualiza- técnicos recentemente treinados é impor-
do de forma global e detalhada. Este as- tante a previsão de reciclagens e/ou de
pecto, aliado ao princípio que determina acompanhamento.[16, 40]
que a investigação dos fatores de aciden-
Quanto ao treinamento em si, aspectos
te se apóie sobre o rigor e a lógica e que
como deficiências no ensino do método,
somente fatos constem da árvore, faz do
em geral relacionadas à qualidade dos
método ADC uma ferramenta de diálogo
professores, curta duração dos cursos, au-
entre diversos atores no interior da em-
sência de programas de acompanhamento
presa.[22] Da mesma forma, ao colocar di-
posterior já foram identificados como impli-
ferentes interlocutores face a face para
cados no uso deturpado do mesmo.[14, 16]
discutir os acidentes ocorridos, passa a
influenciar o comportamento em relação à Outro aspecto apontado como fator limi-
prevenção e, dessa forma, pode ser consi- tante relaciona-se ao dispêndio de tempo
derado como uma ferramenta de mudan- necessário à adequada execução de todas
ça das práticas de prevenção.[22, 39] as fases do método, bem como a participa-
PHAM[40] assinala que a aplicação do ção de diferentes tipos de profissionais de
método ADC leva a um melhor conheci- diferentes níveis hierárquicos, conforme a
mento do trabalho e de seus riscos; ao fase de aplicação, da coleta de dados à
aprendizado do confronto de opiniões escolha de medidas de prevenção. Este as-
com base em informações de naturezas e pecto tem limitado a aplicação do método
de fontes diversas e, sobretudo, de resolu- pelas empresas.[14, 16, 24, 25]
ção de problemas em grupo.
Segundo PHAM e MONTEAU,[39] “a apli-
Se por um lado o método ADC parte da cação durável do método ADC depende
concepção de acidente como fenômeno da capacidade da empresa para integrar
pluricausal, por outro lado sua aplicação esta ação a uma política de prevenção
revela de maneira clara este aspecto, planejada e concebida como um dos ele-
constituindo pois ferramenta valiosa para mentos de gerenciamento da empresa”. A
a superação da visão dicotômica (fatores vontade política da empresa é necessária,
humanos e fatores técnicos) por referên- sem dúvida, à implantação do método na
cia aos fatores envolvidos na gênese dos investigação de seus acidentes de traba-
acidentes de trabalho. lho, que poderemos denominar “ponto de
partida”. Entretanto um aspecto ainda não
Importante potencialidade do método é re-
discutido pelos pesquisadores diz respeito
presentada pelo fato de que, mesmo des-
à fase de escolha de medidas de preven-
conhecendo o processo de produção no
ção a partir da investigação de um ou
qual sobreveio o AT, o domínio do mesmo
mais acidentes, quando confrontada com
permite ao investigador elaborar as per-
o Código do Trabalho em vigor na Fran-
guntas necessárias, para que os técnicos
ça. Por exemplo, o método ADC propicia
conhecedores do processo as respondam
a identificação de fatores organizacionais
e, desta forma, sejam reconstituídos os
localizados bem a montante da lesão
principais fatos do acidente, possibilitan-
(como ficou evidenciado no acidente do
do a construção da árvore de causas e
tombamento da empilhadeira); na medida
sua utilização tendo em vista a prevenção.
em que tais fatores (como outros) não es-
Como aspectos limitantes à sua utiliza- tão previstos no código citado, a adoção
ção, a experiência francesa tem permiti- de medidas curativas relativas aos mes-
do identificar algumas dificuldades[14, 16] mos depende exclusivamente de negocia-
que, quando não enfrentadas e resolvi- ção entre os diversos interlocutores, com
das, têm levado a uma utilização deturpa- interesses muitas vezes opostos.
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de latência” entre a ocorrência do aci- Esta circunstância permitiu o aprofunda-
dente e a coleta de informações, partici- mento do estudo do método ADC, que cul-
pação de funcionários das empresas ape- minou com a discussão de acidentes inves-
nas na fase de coleta de informações, tigados em Botucatu com especialistas do
sem participação na elaboração da árvo- Centro de Pesquisa do Institut National de
re, as etapas iniciais do método – coleta Recherche et de Sécurité - INRS, na França.
de informações, leitura e interpretação da
Do total de acidentes do trabalho típicos in-
árvore (itens 2.3.1 a 2.3.4) – puderam
vestigados em Botucatu, 42 foram discuti-
ser razoavelmente desenvolvidas por par-
dos com especialistas franceses. Para cada
te dos profissionais do PST. Entretanto,
um destes acidentes, haviam sido previa-
como o método ADC pressupõe o engaja-
mente desenvolvidas as seguintes etapas:
mento da empresa, sendo pois parte de
coleta de informações (descrições detalha-
uma política global de segurança
das, acompanhadas de esquemas e de fo-
desta,[39, 41] neste sentido, a experiência
tografias), organização das informações e
não se concretizou. As propostas de me-
construção dos esquemas (árvore).
didas de prevenção não foram objeto de
discussão entre interlocutores de vários ní- As primeiras discussões mostraram que as
veis hierárquicos da empresa e profissio- descrições continham informações ade-
nais do PST, restringindo-se a propostas quadas às exigências do método e as la-
corretas por parte deste último. cunas existentes não eram, segundo os es-
pecialistas franceses, maiores do que o
Pode-se dizer que foi possível, até certo esperado. Em alguns casos, entretanto,
ponto, dominar os princípios do método e faltou-nos experiência para, no mínimo,
utilizá-lo preponderantemente como ins- tentar aprofundar a investigação de al-
trumento de sensibilização para a noção guns fatores organizacionais situados
de pluricausalidade dos acidentes do tra- bem a montante da lesão.
balho e, portanto, como instrumento de
confrontação em relação à culpabiliza- Quanto às formulações de alguns fatores,
ção do acidentado pelo evento que o viti- também às primeiras discussões, eviden-
mou. Quanto ao seu emprego como ins- ciou-se que as mesmas não eram adequa-
trumento de prevenção, pode-se dizer das tanto no que se referia à linguagem
que a experiência não teve condições de quanto ao emprego de verbos que por si
concretizar-se na plenitude que as poten- só implicavam interpretação (pensar, de-
cialidades do método são capazes de sejar, querer, tentar, etc.), devendo ser
propiciar, por razões já expostas. substituídos pela descrição dos gestos ou
atos, quanto por algumas formulações
Das empresas de maior porte do municí- que continham mais de um fato, não rara-
pio de Botucatu, possuidoras de Serviço mente classificados como componentes
Especializado em Segurança e Medicina diferentes da atividade, como, por exem-
do Trabalho - SESMT, apenas uma interes- plo, o “Sr. Y cai e fratura a perna”. O que
sou-se pelo método, oferecendo oportuni- parece simples questão de semântica, na
dade de treinamento no uso do mesmo a verdade configura a construção impediti-
alguns de seus profissionais. va da elaboração coerente da árvore. “O
Sr. Y fratura a perna” (componente indiví-
duo) tem fator(es) antecedente(s) diversos
4 Discussão de casuística de de “o Sr. Y cai” (componente tarefa).
Botucatu com especialistas do A retomada desses aspectos, já comentados
INRS-França no item 2, decorre de constituirem erros co-
metidos não só pelos técnicos franceses no
Inicialmente cabe destacar a situação privi-
seu aprendizado, mas também por nós, isto
legiada do PST de Botucatu, particularmen-
é, erros conhecidos, acerca dos quais inte-
te de acesso a referências bibliográficas e ressados no uso do método e eventuais trei-
de interlocução com especialistas brasilei- nandos devem ser devidamente alertados.
ros e estrangeiros, decorrente do fato de o
programa desenvolver-se com participação O abandono da precisão de linguagem,
direta de profissionais da universidade. do conceito de variação, da categoria da
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Uma primeira colocação é a de que a ex- de heterogeneidade das empresas brasilei-
tensão e gravidade deste problema no ras em relação às condições de segurança
Brasil merece uma abordagem global que e é preciso que se considere estas caracte-
vise desde os aspectos ligados ao registro rísticas quando da adoção de medidas de
das informações junto à Previdência So- prevenção sensu lato. A prática cotidiana,
cial (repressão à não-notificação, melho- aliás, tem revelado que no interior de uma
ria da qualidade de informações das mesma empresa é possível constatar-se
CAT, etc.), passando pelos aspectos rela- diferenças significativas entre seus vários
cionados à assistência médica aos aci- setores em relação à segurança.
dentados (garantia de assistência imedia-
Por outro lado, o quadro epidemiológico
ta após o acidente, acesso aos vários ní-
dos acidentes do trabalho em nosso país –
veis de assistência, etc.), enfrentamento
incidência elevada com elevada propor-
das questões relacionadas com a readap-
ção de acidentes graves e fatais – indica
tação e reintegração dos acidentados e,
situação na qual a adoção de medidas
sobretudo, colocação em prática de
técnicas de prevenção (segurança de má-
meios de prevenção destes fenômenos.
quinas, melhoria na concepção de postos
É necessária a definição de uma política de trabalho e eliminação de modos opera-
global com diretrizes estabelecidas pelo tórios perigosos) serão capazes de fazer
Governo Federal, abrangendo não só mi- baixar a incidência e diminuir a gravida-
nistérios diretamente envolvidos com as de destes fenômenos, como já explicado
questões Trabalho e Saúde, mas realmente neste texto (item 2.1).
ampliando a visão do problema, ao qual
O segundo aspecto, relacionado ao ante-
dizem respeito vários outros aspectos
rior, diz respeito às garantias de treina-
como, por exemplo, política industrial,
mento mínimo, necessário à prática do
agrícola, de educação, de transporte, etc.
método ADC nos termos propostos pela
Se, no interior de uma empresa, a ocorrên-
nova NR-5.[30]
cia de um acidente de trabalho é sintoma
de disfuncionamento, como discutiu-se em Ao longo da descrição do método e da
vários momentos deste texto, no interior da apresentação da experiência desenvolvida
sociedade brasileira, os acidentes do tra- pelo PST de Botucatu tentou-se esclarecer
balho, com a extensão e gravidade com que se trata de método, com exigências tais
que vêm ocorrendo, revelam grande dis- para sua utilização adequada, que torna
funcionamento desta mesma sociedade. imprescindíveis: treinamento, acompanha-
mento posterior e/ou reciclagens. O méto-
No nível político, entretanto, não é fácil
do ADC exige bem mais do que perguntar
tomar decisões setoriais mantendo os
“por quê?” – aliás não é exatamente a per-
pontos de referência globais, principal-
gunta mais indicada – e unir “as causas le-
mente na ausência de definição de uma
vantadas... por meio de linhas que demons-
política de trabalho e saúde. Tampouco a
trem as relações entre elas”.[30]
ausência de tal política deverá imobilizar
os setores progressistas que, no interior Isto não significa, absolutamente, abando-
do aparelho de Estado, desenvolvem nar a idéia de sua utilização. Ao contrário,
ações visando ao avanço em direção a trata-se exatamente de fazer o diagnóstico
melhores condições de trabalho. da situação para iniciar uma longa cami-
nhada em direção à segurança do traba-
É com estas questões em mente que será
lho, na qual, se adequadamente utilizado,
analisada a implantação do Método de Ár-
o método ADC certamente terá lugar reser-
vore de Causas via Anexo III da NR-56 [30]
vado. Nesse sentido, atualmente não se
apenas em relação a investigações de aci-
observam condições, particularmente em
dentes de trabalho, aos quais o método efe-
termos de recursos humanos, para dar iní-
6 A Portaria nº 1.351 do Ministério tivamente se aplica.
cio a treinamento da envergadura exigida
de Trabalho (Diário Oficial da
União, 2/1/95, p. 49-52) mantém, O primeiro aspecto diz respeito ao uso ge- para pôr em prática este método de inves-
no tocante às investigações de neralizado do método no Brasil que, acre- tigação de AT, nos modelos propostos pela
acidentes do trabalho, a mesma
redação da Portaria nº 5, de 18 de ditamos, seja muito difícil, para não dizer Secretaria de Segurança e Saúde no Tra-
abril de 1994.[30] impossível. É preciso levar em conta a gran- balho - SSST do Ministério do Trabalho.
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lho - SESMT, que inclua pelo menos um en- posteriormente discutida com os espe-
genheiro de segurança e com recomenda- cialistas do INRS que o desenvolvem,
ção expressa de participação de cipeiros, estamos convencidos de que este méto-
do acidentado, contramestre e de profissio- do, se adequadamente aplicado, pode-
nais de níveis hierárquicos superiores, que rá vir a constituir uma das ferramentas7
detenham poder de decisão (por exemplo, para a prevenção dos acidentes de tra-
quanto a medidas de segurança a serem balho no Brasil, cuja importância tende-
implantadas), de modo a configurar real- rá a crescer, à medida em que situações
mente um trabalho em equipe? de perigo, evidentes à simples inspe-
ção, começarem a ser eliminadas. Entre-
Convém reafirmar aqui a observação de
tanto, para que isso se concretize, será
PHAM[39] de que “a aplicação duradoura
imprescindível a escolha de estratégias
do método ADC depende da capacidade
adequadas, ante a gravidade do pro-
da empresa de integrar esta prática a
blema, a precariedade das estruturas
uma política de prevenção planejada e
estatais responsáveis pela fiscalização
concebida como um dos elementos do ge-
dos ambientes de trabalho e a insufi-
renciamento da empresa”.
ciência de núcleos de formação em se-
Conhecendo o método ADC, tendo par- gurança, para citar apenas os proble-
ticipado de sua utilização em Botucatu, mas mais prementes.
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