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FACULDADE IGUAÇU

MARCELO APARECIDO DE MELO

A RESPONSABILIDADE DO ESTADO PELAS MUTILAÇÕES E MORTES DE


MOTOCICLISTAS NO TRÂNSITO

CIDADE OCIDENTAL - GO

2023
FACULDADE IGUAÇU

MARCELO APARECIDO DE MELO

A RESPONSABILIDADE DO ESTADO PELAS MUTILAÇÕES E MORTES DE


MOTOCICLISTAS NO TRÂNSITO

Artigo Científico apresentado à FACULDADE


IGUAÇU, como parte das exigências para a
obtenção do título de Pós-graduação Gestão
e Normatização do Trânsito.

CIDADE OCIDENTAL - GO

2023
A FARRA DA TRANSPOSIÇÃO DE SERVIDORES PARA O CARGO DE GUARDA
MUNICIPAL

Marcelo Aparecido de Melo

RESUMO
Todos os dias milhares de motociclistas se acidentam nas vias públicas brasileiras,
muitos sofrem mutilações e outros perdem as vidas em cima de uma motocicleta,
motocicleta que utilizam para ir trabalhar ou como ferramenta de trabalho, porém
muitas dessas ocorrências poderiam ser evitadas, se o Estado brasileiro
disponibilizasse para os candidatos a motociclistas um curso de pilotagem, onde
pudessem aprender técnicas básicas de pilotagem, de como realizar curvas e de
como executar corretamente uma frenagem, a falta deste componente no currículo
do candidato a motociclista tem muitas vezes consequências fatais, a
irresponsabilidade do Estado na formação do motociclistas destrói todos os dias
milhares de sonhos, de famílias e de vidas.

Palavras-chave: Mutilações. Despreparo. Motociclistas. Pilotagem.

ABSTRACT

Every day thousands of motorcyclists have accidents on Brazilian public roads, many
suffer mutilations and others lose their lives on top of a motorcycle, a motorcycle that
they use to go to work or as a work tool, but many of these occurrences could be
avoided if the Brazilian State made available to candidate motorcycle riders a riding
course, where they could learn basic riding techniques, how to make curves and how
to correctly perform braking, the lack of this component in the curriculum of the
candidate to become a motorcycle rider has often fatal consequences, going State
responsibility in the training of motorcyclists destroys thousands of dreams, families
and lives every day.

Keywords: Mutilations. Unprepared. Bikers. Piloting.


INTRODUÇÃO

O estado brasileiro é o real culpado por grande parte das mutilações e mortes dos
motociclistas em nossas rodovias e estradas, a falta de uma legislação que capacite
os candidatos a motociclistas a realmente aprenderem a pilotar é a grande vilã por
trás de todas as tragédias do cotidiano no trânsito do Brasil.

Não é raro vermos um motociclista no chão quando estamos transitando pelas


rodovia e estradas de nosso país, na verdade, sempre que percebemos que houve
um acidente a primeira coisa que nos vem à cabeça é: mais um motoqueiro no chão,
e quase invariavelmente é verdade, é absurdo o número diário de acidentes com
motociclistas em nossas vias.

Em parte, os próprios motociclistas são culpados pelos acidentes que os acomete,


porém também são vítimas, vítimas dos motoristas apressados e sem paciência, que
não observam as regras do trânsito, mas também são vítimas do Estado, o Estado
que não os capacita verdadeiramente para pilotar uma motocicleta, o Estado que o
joga no meio do trânsito caótico de nosso país, sem a mínima habilidade para guiar
uma motocicleta.

Como esperar que uma pessoa que fez um pequeno percurso dentro de uma pista
elaborada apenas para testar o seu equilíbrio e quase nada mais além disso, possa
e saiba fazer uma curva, possa executar uma frenagem corretamente, que essa
pessoa despreparada saiba qual a postura correta em cima de uma motocicleta?

Não tem como, porque isso depende de conhecimento prévio e de prática, depende
de ter assimilado conceitos básicos de pilotagem que salvarão a sua vida e a vida de
outras pessoas, quer sejam passageiros, pedestres e até mesmo os condutores de
outros veículos.

Colocar pessoas com esse nível de despreparo para guiar motocicleta em um


trânsito selvagem e que não os respeita, é uma maldade, é um massacre, é uma
carnificina que o Estado brasileiro faz com os motociclistas, que felizes ao obterem a
sua Carteira Nacional de Habilitação, CNH, não percebem que nunca tiveram uma
prática na via pública, nunca interagiram com o trânsito, que nunca aprenderam a
guiar a sua motocicleta, que estão colocando suas vidas em risco, ou melhor que
estão sendo enganadas pelo Estado para arriscarem as suas vidas no trânsito.

De nada adianta campanhas educativas, maio amarelo e outras do mesmo tipo, se o


Estado não dá o mínimo necessário de preparação para o condutor de motocicleta,
o motociclista, que muitas vezes são chamados pejorativamente de motoqueiros, a
melhor campanha seria para o Estado, para que este tivesse mais humanidade e
realmente prepare o motociclista a guiar uma moto, ensinando-lhe técnicas de
pilotagem que com certeza salvariam, salvaram (para quem as conhece e são
poucos) e salvarão a partir do momento que forem disseminadas nas auto escolas e
que fizerem parte do currículo do candidato a motociclista.

A PÉSSIMA FORMAÇÃO DO MOTOCICLISTA NO BRASIL

No Brasil a legislação de trânsito não prevê um curso de pilotagem para os


candidatos a condutores de motocicletas, sendo cobrados destes apenas a
realização de um percurso previamente traçado, dentro de uma área própria, os
pretensos condutores nem ao menos entram nas vias.
Imagem 1: Croqui da pista de teste para motociclistas idealizada pelo instrutor
Roberto Trincado, utilizada em São Paulo, instalada na Marginal Tietê.

Percebe-se que o percurso é composto por vários obstáculos, onde são testados os
reflexos, o equilíbrio e a observação às regras de trânsito como por exemplo: se o
farol está ligado, se a viseira está abaixada, se o candidato não derruba os cones no
percurso do slalow, entre outros quesitos avaliativos.

Porém o que não é cobrado e também não é ensinado na autoescola é as manobras


de pilotagem: como executar uma frenagem da maneira correta, como realizar uma
curva corretamente, a postura a ser adotada durante a pilotagem da moto, posição
dos pés, das mãos e dos braços, entre outros pontos que podem evitar um acidente
e até mesmo salvar a vida do motociclista.

TÉCNICAS BÁSICAS DE PILOTAGEM DE MOTOCICLETA

Há inúmeras técnicas de pilotagem, no entanto, aqui serão descritas algumas das


principais, que qualquer motociclista deve ter como conhecimento mínimo para que
possa conduzir seu veículo nas vias públicas com segurança, técnicas estas que a
meu entender deveriam obrigatoriamente ser ensinadas nas autoescolas e cobradas
na prova prática de pilotagem, se é que podemos chamar assim a prova que hoje
existe em nossa legislação.

Técnicas de Frenagem

Primeiramente vamos falar sobre a frenagem que com certeza é uma técnica de
suma importância, haja vista, que o tempo de parada da motocicleta pode ser a
diferença entre haver ou não um acidente, e ainda mais entre haver ou não uma
lesão ou até mesmo morte em caso de acidentes.

O manual do Instrutor de Pilotagem da Honda Brasil pontua que:

O domínio das técnicas de frenagem possibilita reduzir em mais de 50% a


distância de parada total da motocicleta frente ao obstáculo, reduzindo-se,
assim, o perigo de acidentes. Isso significa que se você não frear
adequadamente, vai precisar andar mais até que a moto consiga parar
(Manual do Instrutor – Pilotagem Honda Brasil, 2010, p.30).

A frenagem deve ser realizada em sua maior parte com freio dianteiro, o que pode
causar estranheza a muitos condutores pois estes acham que o freio dianteiro
derruba, porém é o inverso, ou seja, o freio traseiro é que derrapa quando utilizado
com maior potência, nos sistemas modernos de frenagem eletrônica ABS ou CBS, o
veículo distribui eletronicamente a frenagem na proporção 70% no freio dianteiro e
30% no freio traseiro.

É importante que o condutor de motocicletas conheça bem o sistema de freios, o


peso de uma motocicleta em movimento está distribuído, de forma equilibrada, entre
a rida traseira e dianteira, quando se freia, o peso da moto vai todo para frente e isso
sobrecarrega a roda dianteira fazendo com que ela se agarre ao solo com mais força
(Manual do Instrutor – Pilotagem Honda Brasil, 2010, p.32).

No entanto o acionamento dos freios dianteiros não deve ser realizado de maneira
brusca, “alicatando”, e sim de maneira suave progressiva. Evitar o uso dos freios nas
curvas e quando a roda dianteira estiver curva, pois esta manobra fará com a que a
motocicleta derrape.

Acionar o freio dianteiro aos poucos, nunca de maneira brusca. Manter o


punho baixo, para facilitar a volta do acelerador, ao acionar o freio dianteiro.
Numa curva, procure usar os dois freios ao mesmo tempo antes da
inclinação; mas se mesmo assim for preciso diminuir durante a curva, use o
freio motor e nos casos extremos, utilize os freios suavemente. Nunca use o
freio dianteiro quando a roda dianteira estiver curva, pois a moto derrapará
(Manual do Instrutor – Pilotagem Honda Brasil, 2010, p.32).

Embora a frenagem simples seja eficiente esta técnica possui uma variação que
apresenta uma eficiência maior, a frenagem com redução de marcha, esta técnica
consiste em utilizar os freios juntamente com o freio motor, o que acontece quando o
condutor freia, aperta a embreagem e reduz a marcha, soltando novamente a
embreagem para apertá-la em seguida e reduzir mais uma marcha, assim
procedendo até a parada total da motocicleta.

Mesmo que pareça complicada esta técnica não o é, bastando que para isso o
condutor pratique e logo estará aplicando esta técnica automaticamente, o mesmo
princípio se aplica à frenagem simples e a qualquer outra técnica de pilotagem.

Pilotagem nas Curvas

A realização de curvas é outro quesito que causa acidentes uma vez que grande
parte dos motociclistas não sabem como proceder corretamente nesta etapa do
percurso, é comum ouvir supostos motociclistas experientes dizer que não “deitam”
a moto para fazer curva, ou seja, não sabem fazer curva, pois a inclinação da
motocicleta é essencial para a realização de uma curva.

Um dos pontos mais sensíveis da pilotagem de motocicletas é a realização de


curvas. Muitos condutores de motocicletas se envolvem em acidentes exatamente
quando da realização de curvas (PARKS, 2015, p.70).

Para a realização de uma curva é necessário que o piloto freie antes de entrar na
curva e não dentro dela, que a motocicleta tenha um grau de inclinação que
possibilite a realização da curva, não se faz uma curva com o guidom e sim com a
inclinação do veículo.

Neste sentido Parks afirma que: o momento correto para frenagem é durante a
preparação para curva, como já destacado, e que esta frenagem deve ser realizada
com a motocicleta reta, não inclinada (PARKS, 2015, p.98).

Outro ponto importante, agora levantado por Hough, é que o piloto deve fixar o olhar
para o ponto em que deseja ir e não para o meio fio ou outro ponto qualquer, pois
isto fará com que caia.
A motocicleta vai literalmente para onde o condutor olha, assim para se realizar uma
curva com qualidade o condutor de motocicletas deve ter em mente que deve olhar
para onde quer seguir (HOUGH, 2008, p.102).

Fonte: https://eritonmotos.wordpress.com/2013/12/02/andar-de-moto-e-fazer-curvas-
aprenda-a-executar-a-curva-perfeita/

Imagem 2: Piloto realizando curva de maneira correta, o mesmo inclina a motocicleta


para não perder o traçado.

As utilizações destas duas técnicas já seriam suficientes para salvar milhares de


vidas no trânsito de nosso país, bem como de minimizar as consequências de um
acidente, impedindo que outros milhares de motociclistas viessem a passar seus
dias em uma cadeira de rodas.
O Estado tem que tomar consciência e rever o modelo avaliativo para a concessão
de carteiras de habilitação para motociclistas, um treinamento mais sério, voltado
para a prática da pilotagem salvaria vidas e famílias de tragédias que são frequentes
no cotidiano da nação brasileira.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A falta de sensibilidade e de visão dos órgãos gestores e normatizadores do trânsito


brasileiro e do Estado como um todo é a grande responsável pela maior parte da
gravidade nos acidentes motociclísticos, os candidatos a habilitação de motocicleta,
não recebem nenhum treinamento em técnicas de pilotagem e as aulas práticas de
que participam obrigatoriamente não os preparam para a realidade do trânsito nas
vias públicas de nossas cidades.

A realização de uma prova basicamente de equilíbrio, onde o candidato sequer


passa marcha, não o prepara para nada, realizar parada com a moto colocando o pé
no chão não prepara o candidato para o trânsito, só prova que tem certa força na
perna para sustentar parcialmente o peso da motocicleta.

Passar em uma rampa de largura de aproximadamente vinte centímetros também


não prepara o candidato a enfrentar o trânsito, em suma o modelo de teste para a
concessão de carteira de habilitação de motocicleta, não serve para nada, o método
de ensino utilizado não ensina nada, e o candidato com uma habilitação de
motocicleta não está preparado para enfrentar o trânsito sequer de uma via local,
ainda mais de uma rodovia.

Urge a necessidade de uma mudança radical na preparação de candidatos a


motociclistas, fez necessário a inclusão do ensino de técnicas de pilotagem, porque
na verdade é isso que o condutor de motocicleta é, ele tem que saber fazer curvas,
tem que saber frear, tem que saber a posição de colocar os pés, a posição correta
no banco da motocicleta, a posição da mão nos manetes, enfim tem que saber guiar
uma motocicleta.
Enquanto o Estado não impor a obrigatoriedade de um curso de pilotagem para os
candidatos a motociclistas, enquanto eles não forem verdadeiramente preparados,
todos os acidentes, todas as lesões, todas as mutilações e todas as mortes de
motociclistas no trânsito brasileiro, será de única responsabilidade por conduta
omissiva do Estado.
REFERÊNCIAS

Apostila ROCAM/2º Batalhão de Polícia de Choque/PMSP-2005.

ARAÚJO, Julyver Modesto de. Código de Trânsito Brasileiro Anotado e Comentado.


6 ed. São Paulo: Letras Jurídicas, 2016.

CONFERÊNCIA PAN-AMERICANA SOBRE SEGURANÇA NO TRÂNSITO. Custos


dos Acidentes de Trânsito no Brasil.

FERNANDES, Betânia de Fátima. Segurança no trânsito de motocicletas: O


processo de aprendizagem X A realidade nas vias públicas. Belo Horizonte, 2008.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

HOLZ, Raquel da Fonseca. Realidade da motocicleta no ambiente urbano com foco


no Brasil. Porto Alegre, 2014.

HOUGH, David L. Proficient motorcycling: The ultimate guide to riding Weel. 2008.

HOUGH, David L. More proficient motorcycling: Mastering the ride. 2012.

Manual do Instrutor – Pilotagem Honda Brasil, CETH, Indaiatuba/SP 2010.

Manual de Motopatrulhamento Tático do GIRO/PMGO-2001.

Manual do Curso de Táticas em Ações de Motopatrulhamento Tático/PMES-2014.

Manual do Instrutor de Pilotagem On Road da Yamaha do Brasil.

Manual do Instrutor de Pilotagem Off Road da Yamaha do Brasil.


PARKS, Lee. Total control: High performance street riding techniques, 2ª Edition.
2015.

PAULO, A. Código de Trânsito Brasileiro. 10 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.

CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO (Brasil). Resolução nº 168, de 14 de


dezembro de 2004. Diário Oficial da União, Brasília, 22 dez. 2004.

CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO (Brasil). Resolução nº 285, de 29 de julho


de 2008. Diário Oficial da União, Brasília, 22 ago. 2008.

CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO (Brasil). Resolução nº 358, de 13 de agosto


de 2010. Diário Oficial da União, Brasília, 30 ago. 2010.

CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO (Brasil). Resolução nº 425, de 27 de


novembro de 2012. Diário Oficial da União, Brasília, 10 dez. 2012. 71.

SALVARO, João Carlos. Direção defensiva para motociclistas: como aumentar sua
segurança. 2ª ed. Santa Catarina: portal www.vias-seguras.com, 2012.

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