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Wolfgang Kohler Psicologia Da Gestalt
Wolfgang Kohler Psicologia Da Gestalt
Psicologia da Gestalt
EDITORA ITATIAIA
Nova York
GESTALT PSYCHOLOGY
Para
MAX WERTHEIMER
1968
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED JN BRAZIL
SUMÁRIO
1. Exame do Bebaviorismo 9
3. Crítica da Introspecção 44
5. Organização Sensorial 81
7. Comportamento 121
8. Associação 144
9. Evocação 11
Indice 205
Capítulo 1
Exame do Behaviorismo
possa firmar-se. Em meu próprio caso, que pode ser considerado como
alguma coisa neste mundo: algo que contemplo, embora sem que se
outras coisas neste mundo: por exemplo, minha mão e meus dedos,
Que restou? A resposta foi que, daí para diante, nenhum aspecto da
experiência imediata poderia ser considerado como parte do mundo real.
Se, assim, tanto as características primárias quanto as secundárias do
mundo conhecido pela experiência derivavam de influências que o ambiente
exercia sôbre o organismo, êste ambiente já não poderia ser identificado
como o meio experimentado pelo homem, O meio experimentado pelo
homem constitui o efeito de tais influências, e não pode, pois, ao mesmo
tempo, ser considerado como as causas originadoras de tais influências.
Assim sendo, a ciência teve de construir um mundo objetivo e
independente, de coisas físicas, espaço físico, tempo físico e movimento
físico, e de afirmar que tal mundo não aparece, de modo algum, na
experiência direta.
'o
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interesse pela afirmação, poderá ser forçado a aceitá-la como tendo uma
significação precisa. Para êsse fim, apenas precisamos apresentar as
definições exatas dos têrmos que empregarmos. Assim, há definições
exatas para o pêso atômico e para o número atômico de um elemento, bem
como para a analogia e a homologia das estruturas morfológicas. Não há
físico ou biólogo que não conheça a significação exata dessas palavras.
Ouçamos, porém, os psicólogos que falam, por exemplo, acêrca da
indistinção característica da visão periférica. Que acepção exata pode ser
atribuída a essa palavra, enquanto não fôr ela exatamente definida? Tal def
inição, no entanto, afigura-se impossível, sempre que tenhamos de nos
haver com os dados finais da experiência direta. Se pedirmos ao psicólogo
uma definição de indistinção, êle procurará definir a expressão,
negativamente, como falta de clareza. Isso, porém, de pouco nos vale, uma
vez que temos de indagar ao psicólogo o que êle entende por clareza.
Talvez êle nos responda que a clareza é uma propriedade normal da parte
central de um campo visual adequado. Infelizmente, tal campo terá mais de
uma propriedade normal e na pseudodefinição do psicólogo não é
apresentada di/erentia specifica, e além disso o vocábulo "adequado" exige
uma definição, tanto como indistinção e clareza. Seja como fôr, o psicólogo
lançou mão, em tal caso, do único recurso cabível quando, como se dá no
campo da experiência direta, não se pode chegar a uma definição de
verdade: limitou-se a apontar para uma determinada direção. Quando não
podemos definir um têrmo, podemos dar uma indicação sôbre as condições
nas quais a coisa em questão pode ser experimentada. No caso de outros
compreenderem as palavras, mediante as quais são descritas tais
condições, êstes outros poderão ajustar o têrmo indefinido ao aspecto de
sua própria experiência, ao qual o têrmo em questão está realmente
destinado a referir-se. Quanto é, porém, grosseiro e vago tal processo, em
comparação com a elegância das definições da ciência exata!
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reações verbais. -
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Não deixa de ser verdade, porém, que as coisas, neste Último sentido,
foram os primeiros objetos que conheci. Além dísso, compreendo agora que
jamais poderia conhecer diretamente quaisquer outros objetos tais como os
do mundo físico. É claro que as características do mundo físico só poderiam
ser investigadas como uni processo de inferência ou interpretação, por mais
necessária que a interpretação pudesse ser. Era em contraste com êste
mundo, o interpretado, que o mundo diante de mim poderia agora ser
chamado de mundo de experiência direta.
Mas como posso dizer que uma cadeira, por exemplo, é uma experiência
objetiva, se tenho que admitir que ela depende de certos processos de meu
organis A cadeira não se torna subjetiva sob êste aspecto? Torna.se e não se
torna. Neste momento mesmo, mudamos a significação dos t&mos
"subjetivo" e "objetivo". No parágrafo anterior, "objetivo" denotava uma
característica que, em contraste com outras, algumas partes da minha
experiência possuem em si mesmas (exatamente como têm tamanho, côr,
solidez, etc.). Como, porém, tem sido usado até agora, o têrnio "subjetivo"
refere-se à dependência genética
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de tôda experiência para com meu organismo físico. Neste último sentido, o
subjetivismo não é, em si mesmo, um atributo experimentado, mas antes
uma relação que atribuímos a tdas as experiências e, portanto, também às
objetivas, já que aprendemos a considerá-las como resultados de processos
orgânicos. Com muita freqüência, são dois significados da expressão
confundidos da maneira mais lamentável, como se o que é genèticamente
subjetivo também tivesse de aparecer como subjetivo na experiência.
Alguns psicólogos adeptos da introspecção, por exemplo, mostram-se
inclinados a achar que, a rigor, a cadeira que tenho diante de mim deve ser
um fenômeno subjetivo, que só aparece diante de mim como conseqüência
da aprendizagem ou interpretação. Por outro lado, como não se pode
encontrar tal cadeira subjetiva, os partidários do behaviorismo zombam dos
adeptos da introspecção, por viverem em um mundo de fantasmas
imaginários. A simples verdade é que algumas das experiências, que
dependem de processos em meu organismo, têm o caráter objetivo, ao
passo que outras, que dependem de processos diferentes no mesmo
organismo, têm o caráter subjetivo, liste contraste nada tem a ver com o
subjetivismo genético de ambos os tipos de experiência, isto é, com o fato
de ambos dependerem de fenômenos que ocorrem dentro do organismo.
Espero que, depois disso, se tornem impossíveis mal-entendidos a respeito
da expressão "experiência objetiva". Quando falo a respeito de uma cadeira,
refiro-me à cadeira de minha vida quotidiana e não a um fenômeno
subjetivo.
Por outro lado, como já vimos, a cadeira da experiência objetiva não pode
ser identificada com a cadeira como parte do mundo do físico. Ora, como o
mundo da experiência direta foi o primeiro que conheci, e como tudo que
sei a respeito do mundo físico foi, posteriormente, inferido de certos
fenômenos do mundo experimentado, como poderia eu ignorar o mundo
experimentado? Afinal de contas, êle contínua a ser a única base de que
disponho para as minhas suposições a respeito dos fatos físicos. Se quiser,
poderei, sem dúvida, levantar a questão de saber se, em um certo sentido,
o mundo físico não será o mais importante. Mesmo, contudo, que eu deva
admitir tal fato, do ponto de vista do conhecimento ou da comunicação, o
mundo experimentado é anterior ao da física. Além disso, a única maneira
de que disponho para investigar as realidades físicas consiste em observar
experiências objetivas e delas tirar as conclusões adequadas. Na realidade,
com o progresso da Fisiologia poderemos descobrir os processos nervosos
que ligam nossas observações às nossas conclusões e apresentarmos,
assim, uma teoria física daqueles fenômenos. Ainda nesse caso, porém,
como o mundo da Fisiologia faz parte do mundo físico, jamais se tornará
diretamente accessível a nós. Qualquer progresso que possamos alcançar
na Fisiologia dependerá das observa. ções do que chamamos corpo através
de experiência perceptiva direta. Se ouvirmos os adeptos do behaviorismo,
teremos a impressão de que
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ciência. Assim, não pode ser por causa de tal crença que a Psicologia não
está progredindo com maior rapidez.
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"Que posso saber sôbre a experiência direta de outrem? Jamais terei uma
prova definitiva da validade de tal conhecimento. Na Física, porém, a
questão é diferente. Ali, estamos a salvo". O adepto do behaviorismo
esquece-se de que provar a existência de um mundo físico independente é
quase tão difícil quanto nos certificarmos de que outras pessoas têm
experiências. Se eu fôsse um purista extremado, poderia pôr em dúvida o
primeiro ponto, exatamente como os adeptos do behaviorismo refutam a
presunção da experiência direta nos outros. Seja porque fôr, não lhes
ocorreu aplicar sua crítica à presunção do mundo físico. Não afirmaram:
"Não se deve atuar baseando-se em um mundo físico, que permanece
sempre como simples presunção". Ao contrário, presumem a realidade de
tal mundo com tôda a saudável candura que lhes falta em Psicologia. Talvez
isso se deva ao fato de as realizações das ciências físicas serem
impressionantes e terem-se tornado o ideal do behaviorismo. Mas, como
purista metodológico, o partidário do behaviorismo não deveria considerar
meras realizações como prova satisfatória em outras matérias. É claro que,
pessoalmente, estou, a êsse respeito, tão convencido quanto qualquer
adepto do behaviorismo. Também sei muito bem que as ciências muitas
vêzes acreditam e pressupõem, quando a epistemologia pode ter suas
dúvidas. Mas, partindo dêsse ponto de vista também posso acreditar,
naturalmente, que os outros têm experiência direta. O importante é saber
que isso serve para tornar meu trabalho mais simples e mais eficiente.
Repetindo: considero perfeitamente justificada essa atitude, uma vez que
verifico que meus trabalhos na Física também se baseam na experiência
direta; que, naquela ciência, a presunção da experiência direta nas outras
pessoas é tida como coisa natural, e que, portanto, a enorme superioridade
da física sôbre a psicologia não pode vir das diferenças a êsse respeito.
BIBLIOGRAFIA
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Capítulo 2
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Por que motivo tal dificuldade aflige a Psicologia e não parece existir na
Física? A resposta é bem simples: a Física é uma ciência antiga e a
Psicologia está na infância. Os físicos levaram séculos para, pouco a pouco,
substituir observações diretas e mais qualitativas por outras indiretas, mas
grandemente precisas. Seu êxito se deveu ao conhecimento do mundo físico
prèviamente adquirido. A maior parte das medições e métodos indiretos
pressupõe uma ampla base de informações. Os físicos tiveram de colhêr
essas informações, quando suas observações ainda eram mais qualitativas
e menos precisas. Sàmente dessa maneira puderam descobrir aquelas
importantes relações físicas, graças às quais a observação direta e
qualitativa é hoje tão amplamente substituída pela medição indireta e
precisa. Oersted teve de descobrir a deflexão de um ímã nas proximidades
de uma corrente elétrica, antes que se tornassem possíveis medições
exatas das intensidades das correntes. Sua observação foi qualitativa e
direta, mas o fruto foi um processo indireto e quantitativo. Mesmo em
nossos dias, Rõentgen não procedeu a medições imediatamente após ter
descoberto os raios X. Antes de mais nada, teve de analisar suas
propriedades em experimentação qualitativa. Mais tarde, sem dúvida, seus
raios puderam tornar-se um meio de medir as constantes dos cristais.
Esquecemo-nos com muita facilidade do fato de que, no comêço, mas
também quando surgem novos campos mais particularizados, as ciências
naturais dependem quase completamente da observação qualitativa. Não
resta a menor dúvida de que os métodos indiretos e quantitativos
constituem, presentemente,
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Parece que, nesse meio tempo, a lição foi esquecida. Quando se observa a
energia com que psicólogos capazes medem inteligências individuais, quase
se tem a impressão de estar no tempo de Fecbner. É verdade que, do ponto
de vista prático, êsse trabalho não deixa de ter valor. Parece que, a grosso
modo, uma capacidade geral para certas
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Embora esta seja a maneira pela qual tenho de raciocinar acêrca de meus
sujeitos, não posso excluir minha própria experiência direta, quando observo
seu comportamento. Como poderia exclui-la, se mesmo quando emprego os
métodos mais indiretos na Física, tenho de confiar em fatos perceptivos?
Além disso, como vimos, no estudo do comportamento tenho de usar muitas
formas de experiência objetiva que já não são usadas nos processos
quantitativos da Física. Se, porém, minha experiência é aceitável como base
de minhas afirmações acêrca do comportamento de outros, por que motivo
deveria eu hesitar em utilizá-la, ao formular hipóteses acêrca das funções
do sistema nervoso?
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alguns dos processos acêrca dos quais o experimentador deseja ter pelo
menos uma hipótese verossímil. Em tais condições, parece natural usar
minha experiência direta como base de operações teóricas. É bem verdade
que nem todos os fenômenos de meu sistema nervoso que contribuem para
o meu comportamento, são acompanhados de experiência direta. Nesse
ponto, qualquer hipótese que formulemos dessa maneira será de âmbito
limitado. Deverá deixar-se aos cuidados da Fisiologia ultrapassar essas
limitações no futuro. Infelizmente, as concepções da Fisiologia acêrca das
funções do cérebro são, hoje, quase tão especulativas quanto nossas
próprias suposições. Será, assim, aconselhável tirar-se o máximo proveito
da oportunidade que a dedução partida da experiência direta oferece ao
psicólogo.
Não se propõe que, para tal fim, façamos a introspecção no sentido técnico
da palavra. Apenas serão usadas para a finalidade visada simples
informações a respeito da experiência, as informações que estão aptos a
fazer todos os observadores de pessoas, animais, instrumentos, etc.
Comecemos com a experiência objetiva. Em condições normais, a
experiência objetiva depende de fenômenos físicos que estimulam os
órgãos do sentido, mas também depende de fenômenos fisiológicos da
espécie que pretendemos agora examinar. O físico se interessa pelo
primeiro fato: a dependência da experiência objetiva com relação a eventos
físicos, ocorridos fora do organismo lhe permite deduzir, da experiência, em
que consistem aquêles fenômenos físicos. Nós nos interessamos pelo
segundo fato: como a experiência depende de fenômenos fisiológicos
ocorridos no cérebro, tal experiência deve conter sugestões sôbre a
natureza daqueles processos. Em outras palavras, argumentamos que, se a
experiência objetiva nos permite apresentar uma descrição do mundo físico,
também nos deve permitir apresentar uma descrição do mundo fisiológico
com o qual está estreitamente relacionada.
as
2 Laç. cit.
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BIBLIOGRAFIA
1921.
W. K5h1er: The Pktce o.f Value in a World of Factus (Cap. IV). 1938.
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Capítulo 3
Crítica da Introspecção
Villiam James descreveu muito bem como um súbito interêsse por certos
fenômenos "irregulares" assinala, muitas vêzes, o comêço de uma nova era
na ciência. Em tais ocasiões, o que fôra excepcional torna-se, muitas vêzes,
o centro de trabalhos científicos. Iremos, agora, travar conhecimento com a
introspecção, em sua qualidade de processo pelo qual um sistema artificial
de Psicologia é protegido contra seme- lhante revolução. A proteção é
alcançada por meio de uma técnica que serve para afastar observações
particularmente interessantes. Ao estudar a introspecção, não pretendo
considerar uma escola em particular. O que tenho a dizer se refere a todos
os psicólogos que tratam a experiência da maneira que será examinada nas
páginas seguintes.
ver um livro. Se eu levanto o livro, direi que sinto seu pêso como algo que
se encontra fora dos meus dedos e mais ou menos no lugar em que o livro
também é visto, O crítico observará que estas afirmações são típicas da
linguagem de um observador desprovido de conhecimento. Acrescentará
que, para os objetivos práticos da vida quotidiana, tais afirmações podem
ser inteiramente satisfatórias, mas que nem por isso divergem grandemente
das descrições que um psicólogo esclarecido apresentaria. Por exemplo: as
afirmações implicam que as expressões o "livro" e "escrivaninha" se referem
a objetos ou coisas. Em uru estudo correto de Psicologia, tais expressões
não são admissíveis, segundo os adeptos da introspecção, pois se a
observação se destina a nos fornecer os dados simples e primários
referentes à experiência, devemos aprender a fazer a importantíssima
distinção entre sensações e percepções, entre o mero material sensorial e o
conjunto de outros ingredientes com os quais êsse material se impregnou,
em conseqüência dos processos de aprendizagem. Não podemos ver um
livro - diz-nos o adepto da introspecção - porque esta expressão implica
conhecimento acêrca de certa classe de objetos, à qual pertence o
espécime presente, da utilização de tais objetos, etc. A simples visão nada
tem a ver com tal conhecimento. Como psicólogos, cabe-nos a tarefa de
separar tôdas essas significações adquiridas do material visto per se) o qual
consiste de simples sensações. Pode ser realmente difícil efetuar-se a
separação e concentrarmos nossa atenção nas sensações com as quais
devemos estar inicamente preocupados, mas a capacidade de se conseguir
tal coisa é precisamente o que distingue o psicólogo do leigo. Todo o mundo
deve admitir que, originainiente, o ato de pegar um livro não pode dar a
experiência de um pêso fora dos dedos que seguram o objeto. No comêço,
pode ter havido apenas sensações de contacto e talvez de esfôrço dos
dedos. Donde se conclui que o pêso externo deve ser o produto de um longo
processo, no qual as puras sensações de nossa mão se ligaram, pouco a
pouco, a outros fatôres. Um raciocínio semelhante mostra, sem demora,
que, entre os legítimos dados sensoriais não cabe a existência de objetos.
Os objetos só existem para nós quando a experiência sensorial se
impregnou completamente de significação. Quem pode negar que, na vida
adulta, a significação impregna tôdas as experiências? Isso leva, afinal, a
uma espécie de ilusão. Para um alemão, o substantivo 'Igel" não parece
caber a nenhum outro animal a não ser o ouriço-cacheiro. No entanto, a
palavra "eagle" que, em inglês, tem pronuncia idêntica à de "Igel" em
alemão, para um inglês ou norte-americano não pode representar outra
coisa senão um uAdler))l
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e o sentido atribuído aos sons, que variam de um país para outro. Outro
exemplo: o sinal + dá bem a impressão de seu significado de operação de
adição, especialmente quando é visto entre dois números; no entanto, podia
muito bem ter sido escolhido como símbolo da divisão. Se, durante um
momento, hesitarmos em aceitar essa afirmação, assim faremos apenas
porque a conexão de uma significação particular com aquêle simples sinal
ficou em nós gravada desde que começamos a freqüentar a escola primária.
Logo, porém, que a enorme fôrça da conexão tenha sido compreendida na
presente situação, estaremos prontos a admitir que, provàvelmente, coisa
alguma da experiência pura de um adulto pode estar isenta de semelhantes
influências. Até mesmo as mais impressionantes características de
determinadas experiências podem derivar de tal fonte.
tamanho, do ponto de vista da ótica, uma vez que suas dimensões lineares
variam exatamente como suas distâncias. Na verdade, o retânguio colocado
a maior distância parece muito maior que o mais próximo. Mas isto é
precisamente o que os partidários da introspecção não aceitam como
afirmação verdadeira sôbre fatos sensoriais. Tal afirmação, sustentam êles,
não se pode referir à verdadeira experiência sensorial. E também nos
oferecerão uma prova de que sua opinião é certa. Convidar-nos-ão a olhar,
através de um orifício, uma tela que colocam, diante dos nossos olhos. Os
dois retângulos aparecerão, então, em um fundo hofnogêneo, porque a tela
esconde todos os outros objetos. Nestas condições, a diferença entre os
tamanhos dos retângulos provàvelmente será um tanto reduzida. Se não
desaparece inteiramente, o experimentador pode ir mais longe, ajudando-
nos a ver os tamanhos como êles realmente são, de acôrdo com sua
convicção. Poderá escurecer o aposento e acender a luz apenas por uma
fração de segundo, o que servirá para eliminar os niovimentos dos olhos e
da cabeça. E bem possível que, então os retângulos tenham o mesmo
tamanho. O adepto da introspecção poderá, também, convidar-nos a
adquirir certa prática, que não posso descrever aqui, e, depois de certa
aprendizagem, os retângulos poderão, na verdade, aparentar o mesmo
tamanho, mesmo que sejam deixados de lado a tela com o orifício e todos
os outros recursos. Uma vez conseguido isto, o psicólogo da introspecção
estará satisfeito. "Agora - dirá - você já sabe o que quer dizer introspecção".
Afinal de contas - acrescentará - os observadores submetidos à
aprendizagem têm de achar que os retângulos são iguais. De outro modo,
as pessoas poderiam chegar ao ponto de acreditar que a pós-imagem de um
objeto muda seu tamanho, de acôrdo com a distância da qual elas o vêem
em uma tela, porque, na observação do leigo, o tamanho da pós-imagem
não parece mudar, quando varia a distância do ponto de fixação do ôlho.
Naturalmente, de acôrdo com o adepto da introspecção a pós-imagem não
pode realmente mudar, uma vez que, naquelas circunstâncias, a área do
pós-efeito retiniano permanece rigorosamente constante.
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Tôdas as coisas que rodeiam os papéis, a tela vertical, etc. são excluídas da
visão. E, nestas circunstâncias, vê-se, através dos orifícios, o mesmo matiz
de cinzento. É claro que estas são as verdadeiras sensações - afirmam os
adeptos da introspecção, que, provàvelmente, também explicarão que,
depois de alguma prática, qualquer pessoa poderá reconhecer a igualdade
dos dois brilhos, sem a ajuda de algum dispositivo especial. Quando isso se
der, tais pessoas estarão aptas a observar com a atitude de introspecção.
Quando os pintores ainda se mostravam interessados na observação dos
objetos, geralmente assumiam essa atitude, a fim de ver o verdadeiro brilho
das coisas.
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Se tôdas as observações dessa espécie são ilusões que nos enganam, não
sàmente quanto à natureza de determinadas condições físicas, mas
também acêrca de nossos próprios dados sensoriais, deve haver, então,
algum fator poderoso que obscureça êsses dados, já que não são revelados
pela introspecção. Já sabemos qual é a natureza da influência deformante.
Pelo menos, os partidários da introspecção estão plenamente convencidos,
como nos exemplos anteriores, de que ela se identifica com o aprendizado.
Raciocinam êles da seguinte maneira: o homem que se aproxima de nós na
rua parece tornar-se maior, como deveria parecer de acôrdo com razões
meramente óticas. O círculo que se encontra em um plano obliquo não nos
aparece como uma elipse; parece continuar como círculo, embora sua
imagem retiniana possa ser uma perfeita elipse. O objeto branco sombreado
permanece branco, o papel prêto plenamente iluminado continua prêto,
embora o primeiro possa refletir muito menos luz que o outro.
Evidentemente, êstes três fenômenos têm alguma coisa em comum. O
objeto físico como tal permanece sempre o mesmo, ao passo que o estímulo
de nossos olhos varia, quando são mudadas a distância, a orientação ou a
iluminação daquele objeto constante. Ora, o que parece que
experimentamos concorda muito mais com a invariabilidade real do objeto
físico do que com os estímulos variantes. Daí, as condições de constância de
tamanho, constância de forma e constância de brilho. Sem dúvida alguma,
era justamente isto que teríamos de esperar, se tais constâncias derivassem
de nosso conhecimento da situação física, ou, em outras palavras, se
surgissem em conseqüência de alguma forma de aprendizagem. Dia após
dia, desde a mais tenra infância, verificamos que, quando nos aproximamos
de um objeto distante, mostra êle ser muito maior do que era, quando visto
a maior distância. Do mesmo modo, ficamos sabendo que os objetos
colocados em posição obliqua não mostram sua forma verdadeira, quando
os olhamos de frente. Também estamos perfeitamente famffiarizados com o
fato de que objetos vistos sob condições anormais de iluminação mostram
um brilho ou falta de brilho falsos que são substituídos pelo brilho ou falta
de brilho corretos, quando as condições se normalizam. Tais observações
foram repetidas tantas vêzes, e ficamos sabendo, tão: bem que existem em
cada caso os tamanhos reais, formatos. reais e o brilho real, que, pouco a•
pouco, nos tornamos
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que levam a sério suas palavras, quando afirmam que o seu método é o
único correto para encarar as experiências. Se isso fôr verdade, dirão os
psicólogos, o estudo da experiência não nos pode interessar, sem dúvida
alguma. Faremos uma coisa mais realista: estudaremos o comportamento
natural. Atualmente, sabemos que aquilo que fôra considerado como
conseqüência das concepções da escola da introspecção já não é uma
possibilidade, mas um fato, O behaviorismo surgiu em grande parte como
reação contra aquela escola.
Mas voltemos ao nosso estudo do introspeccionismo. Não seria justo chamar
suas descobertas de "irreais". Quando aplico os métodos daquela escola,
freqüentemente deparo com as mesmas experiências com que deparam
seus adeptos. Estou, porém, longe de atribuir a tais fatos um grande valor,
como se êles fôssem mais "verdadeiros" do que os fatos da experiência
quotidiana. Se a experiência comum acarreta conhecimento adquirido, as
experiências reveladas pela introspecção dependem da atitude
introspectiva. Não se pode provar que existam também na ausência de tal
atitude. Além disso, se admitirmos, por um momento, que todos os
fenômenos sôbre os quais estamos falando, são, na realidade, produtos de
conhecimento prèviamente adquirido, teremos de deduzir que todos êsses
fenômenos não são fatos reais e, portanto, desprovidos de significação
psicológica? Não será certa quantidade de H20 que tenho diante de mim um
verdadeiro composto químico porque sei que êle é formado pela oxidação
do hidrogênio? Seria o hidrogênio um "verdadeiro" corpo químico e a água
não? Não deve a água ser estudada pelo químico? Não vejo por que motivo
uma experiência impregnada de conhecimento adquirido deva ser
considerada como menos importante que as experiências que não sofrem
tal influência. Tomemos o caso do símbolo +, cuja aparência é certamente
afetada pelo nosso conhecimento de uma operação matemática. Quando o
vemos entre números, êle nos aparece como "mais", isto é, a significação
adquirida parece localizada no campo visual. Trata-se, sem dúvida, de um
fato estranho que provoca de pronto fascinantes indagações. Por que não
investigaremos tais problemas? A situação corresponde exatamente a tôdas
as outras experiências, às quais, correta ou incorretamente, a explicação
empírica está sendo aplicada. Não há nenhuma razão para que ignoremos
os problemas que elas abrangem, quando lhes são prêsas etiquêtas tais
como aprendizado, significação e conhecimento prèviamente adquirido.
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têm pouco a ver com a aprendizagem, mas muito a ver com as convicções
acêrca do mundo como pura experiência sensorial.
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BIBLIOGRAFIA
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Capítulo 4
2 Op. clt. Frank, Psych.ol. Forsch., 7, 1926; 10, 1927. Beyrl, Zeitsch. 1.
Psychøl..
100, 1926.
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mente, podemos dizer que o organismo era, para êle, o que o céu tinha sido
para Aristóteles: cheio de esferas de cristal. É bem verdade que êle não
conhecia as leis da dinâmica. Mas, embora nós as conheçamos bastante, as
principais alterações da teoria biológica dos tempos de Descartes até hoje
parecem antes aperfeiçoamentos de sua maneira de pensar do que
descobertas de conceitos essencialmente novos, a respeito da ordem da
função na biologia. Qual é a nossa própria situação nesse campo? Sem
dúvida, a concepção mecanicista da vida é encarada hoje com certo
cepticismo. Por outro lado, os biólogos não parecem ter explicação muito
melhor da ordem orgânica.
Sem dúvida alguma, foi uma máquina dêsse tipo que Aristóteles pensou,
quando considerou a ordem dos movimentos celestes. Suas esferas eram as
condições topográficas que êle supunha manterem aquela ordem. Desde
Descartes, os neurologistas trabalharam baseando-se em presunções
semelhantes, sempre que a função neural nos animais e no homem
apresentava uma ordem notável. Segundo afirmam, a dinâmica neural em si
mesma jamais executaria uma função coordenada. Assim, a presunção de
condições anatômicas especiais tornou-se uma questão, um fato
indiscutível, em qualquer caso em que o sistema nervoso apresentava um
comportamento bem ordenado.
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O fato de, nesta teoria, o fator dinâmico ser reduzido a uma importância
diminuta ainda tem outra conseqüência. Na Física, as inter-relações
dinâmicas dependem dos processos e materiais inter-relacionados. Assim,
por exemplo, em uma solução que contém Na2 S04 e BaC12, será
precipitado BaSO4, devido a certas características de Ba, SO' e H20 que, por
suas mútuas relações, determinam o que acontecerá na mistura. Duas
correntes elétricas provocam atração recíproca de seus condutores, se
ambas têm a mesma direção, mas ocorre a repuisão se as correntes têm
direções opostas. A regra geral é que "características em relação", como
exemplificadas nestes casos, são decisivas para a interação. É evidente que,
uma vez que a teoria mecanícista exdui quaisquer inter-relações dinâmicas
entre as partes de um campo, tal campo pode ser disposto de qualquer
maneira arbitràriamente escolhida. Em um simples mosaico, cada elemento
é de todo indiferente à natureza de seus vizinhos. Nenhuma outra
conseqüência da teoria mostra mais claramente o que está envolvido na
exclusão das inter-relações dinâmicas. Com efeito, acabamos de
compreender que, se existem tais inter-relações, os fatos físicos não podem
ser, certamente, insensíveis às características de outros fatos ocorridos em
sua vizinhança. Êste ponto será ainda mencionado, quando examinarmos a
associação e a reestruturação em outro capítulo.
Quando apresentarmos aos psicólogos êste quadro de suas presunções
acêrca das funções fisiológicas, a maior parte dêles hesitará em concordar.
Afirmará que as suposições preliminares a respeito dos processos do
sistema nervoso não podem ser tomadas no sentido demasiadamente
literal. Quem não admitirá - observarão êsses psicólogos - que, em algumas
partes do tecido, há soluções de continuidade das conexões condutoras? A
isso, eu retrucaria que, se a primeira tentativa de descrever a função
nervosa usar analogias sômente de uma espécie, o tipo mecanicista quer
dizer que outras analogias provàvelmente jamais ocorreram aos teóricos.
Preliminar ou finalmente, é com uma imagem mecanicista que estamos aqui
tratando e jamais se menciona qualquer princípio essencialmente diferente.
Quanto à questão das soluções de continuidade, a contribuição dessa idéia
não é maior que certa falta de função precisa na máquina. Ainda pressupõe,
como no caso normal, que a ordem é mantida pela separação de fenômenos
locais, e ela está longe de apontar conseqüências positivas que a falta de
completa separação teria. Dêsse modo, nossas idéias acêrca dos pro f Q
flP1IJflÇ1Ç (IA L111P 11fl'i
tica acêrca do que deve ser a natureza das coisas, apesar das experiências
em contrário. Até onde alcança a observação, o estímulo retiniano local não
determina sàzinho quais devem ser o tamanho, a forma, a localização e o
brilho da experiência local, nem a velocidade retiniana sàzinha determina a
velocidade vista, como seria o caso, se apenas a geometria dos fatos
retinianos determinasse as experiências espaciais. No que diz respeito à
observação, podem ser citadas muitas das chamadas ilusões, para mostrar
que os processos locais dependem de conjuntos de estímulos. Até certo
ponto, esta controvérsia acabará sendo resolvida por princípios
pragmáticos: vencerá o lado cujos princípios se mostrarem mais fecundos
para o maior progresso da Psicologia.
Além disso, mostrou-se que muitas experiências sensoriais não podem ser
relacionadas com condições puramente locais de estímulo, porque tais
condições locais jamais dão origem a qualquer coisa semelhante àquelas
experiências. Os fatos a que estou aludindo são atributos apenas de certas
áreas do espaço e certas extensões na dimensão do tempo. Ora, processos
físicos ampliados, cujas partes são funcionalmente inter-relacionadas,
também podem ter características próprias, que não podem ser
relacionadas com condições meramente locais. A teoria mecanicista do
sistema nervoso, porém, exclui essa possibilidade, porque a presunção de
processos ampliados com partes funcionalmente inter-relacionadas é
incomparável com os principais dogmas de sua teoria.
73
Há, naturalmente, vários argumentos que têm servido para defender a oria
mecanicista. Tem-se dito, algumas vêzes, que esta teoria apresenta uma
imagem particularmente clara e simples da função nervosa, imagem que
todo
o mundo pode compreender, uma vez que a ordem, na vida prática, é, por
tôda parte, imposta por disposições ad hoc. Devo confessar que tal política
de esfôrço menos científico me parece inaceitável. Quando uma questão se
refere à verdadeira natureza de certa matéria sob estudo, não devem ser
levados em conta, de modo algum, o bem-estar e os hábitos do cientista.
Além disso, sàmente os psicólogos, neurologistas e fisielogistas
economizam tempo e esfôrço com presunções que explicam a ordem por
disposições coercitivas do tecido. Seu problema é, apenas, empurrado para
outros, pois, sempre que um problema de função é interpretado como sendo
de disposições coercitivas, a ciência da evolução biológica da ontogenia e
da filogenia é implicitamente solicitada a explicar a origem das disposições
histológicas. Assim, o fato de evitarem-se dificuldades em algumas ciências
significa mais dificuldades em outras ciências. Além disso, mais cedo ou
mas tarde, problemas funcionais terão que ser encarados do ponto de vista
funcional. Talvez seja possível explicar a ontogenia de estruturas
anatômicas por disposições especiais que operam no ôvo e no germe, mas
ninguém tentará explicar a filogenia por disposições que a tenham forçado a
tomar determinado rumo.
74
76
77
Suponhamos, ainda, que seja despejado óleo em um líquido, com o qual não
se mistura. Apesar da violenta interação das moléculas na superfície comum
dos líquidos, o limite permanece nftidamente definido. Evidentemente essa
distribuição ordenada não é imposta por quaisquer formas rígidas de
coerção; resulta, pelo contrário, precisamente dos fatôres dinâmicos que
atuam na região delimitadora. Se a densidade específica de ambos os
líquidos fôr a mesma, as fôrças superficiais mudarão a forma do óleo até
que se forme uma pequena esfera, que flutua no outro liquido. Poderiam ser
acrescentados fàcilmente inúmeros outros exemplos. Não há dúvida de que,
enquanto a dinâmica não fôr perturbada por impactos acidentais vindos do
exterior, sua tendência é no sentido de estabelecer distribuições bem
ordenadas.
78
Não temos motivos para negar que a tarefa que esta teoria enfrenta é
enormemente mais difícil do que qualquer coisa que a teoria mecanicista
tem de tratar. Quando qualquer indagação sôbre a distribuição de processos
é respondida em função de disposições anatômicas, não serão necessários
muitos conhecimentos acêrca da natureza dos processos envolvidos. Por
outro lado, uma teoria em que a dinâmica desempenha um papel essencial
não pode ser formulada sem conhecimento dos princípios de auto-
distribuição em geral, ou sem hipóteses acêrca da natureza dos processos
participantes. Na ausência de provas fisiológicas suficientes, relativas a
êsses processos, as hipóteses sôbre sua natureza só podem derivar de fatos
da experiência sensorial. Na situação agora apresentada, tais hipóteses
também só podem ser verificadas por meio de novas observações nesse
campo. Será necessário ainda algum tempo antes de podermos pisar
terreno firme. Deve ser lembrado, contudo, que quaisquer perplexidades
que possamos encontrar em nosso caminho, de modo algum devem ser
relacionadas com o conceito fundamental da autodistribuição dinâmica. Elas
podem ser causadas por hipóteses errôneas a respeito de processos
particulares, aos quais êsse conceito deve ser aplicado, no caso do cérebro
humano.
79
BIBLIOGRAFIA
80
Capítulo 5
Organização Sensorial
Para que semelhante concepção possa ser aplicada aos processos que
sustentam a experiência sensorial, devemos evitar um êrro. Em seu protesto
contra o atomismo psicológico, Wilhiam James afirmou, certa vez, que, no
campo sensorial, as experiências locais são entrelaçadas com suas vizinhas,
de maneira tal que fica fora do alcance da teoria puramente intelectual.
Também achava êle que a experiência sensorial original é uniformemente
contínua e que todos os cortes e limites são introduzidos posteriormente no
campo, por motivos pragmáticos.
81
82
Disso, porém, não concluo que a côr verde, em si mesma, deriva de tais
conhecimentos. Ao contrário, sei que, como fato sensorial que existe
independentemente, o verde adquiriu significações secundárjas e estou
plenamente disposto a reconhecer as vantagens que têm, na vida prática,
essas significações adquiridas. Exatamente da mesma maneira, afirma a
Psicologia da Gestalt, as unidades sensoriais adquiriram nomes, tornaram-
se ricamente simbólicas e sabe-se agora que elas têm certos usos práticos,
embora existissem como unidades, antes que lhes fôssem ajuntados
quaisquer dêsses fatos posteriores. A Psicologia da Gestalt sustenta que é
precisamente o isolamento original dos conjuntos circunscritos que torna
possível para o mundo sensorial aparecer tão inteiramente impregnado de
sentido para o adulto, pois, em sua gradual penetração no mundo sensorial,
a significação segue as linhas traçadas pela organização natural;
habitualmente, penetra nos conjuntos isolados.
- dirá - parece algo distinto porque é mais escuro que o cinzento do nevoeiro
em tôrno. Em outras palavras: não há necessidade de ser presumido
qualquer conhecimento especial a respeito de grupos particulares de
sensações, sígnificando objetos específicos, O senhor parecerá subestimar
as extraordinárias realizações da aprendizagem, se restringir seus feitos a
casos específicos. Desde a mais tenra infância, conjuntos de sensações que
têm aproximadamente a mesma côr e diferem, sob êsse aspecto, do seu
ambiente, tendem a atuar como unidades, isto é, a se moverem e serem
movidos, aparecer e desaparcer ao mesmo tempo.
83
0*
Fic. 1
85
84
oooooccoco
0÷
Fic. 2
também essa linha reta constituía um todo compacto, do qual o vaso com o
alimento podia ser fàcilmente distinguido como uma coisa independente.
Mesmo na situação da Fig. 3, em que o objeto adequado
Fio.
00
00
Fio. .
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87
Fic. 5
88
89
90
evidentes, acrescenta-se, às vêzes, que podem ser suficientes as simples
tendências de se mover, ou, como outra explicação, que a simples
reestruturação de experiências cinestésicas passadas pode dar a um campo
sua aparência organizada.
91
1
ir
icr
FIG. 6
Depois dessa discussão, o leitor não ficará surpreendido ao saber que lesões
graves no centro visual do cérebro produzem uma espécie de "cegueira" em
pessoas que, ao mesmo tempo, não estão, de modo algum, privadas da
visão. O exame cuidadoso de um caso dêsse gênero, feito por Gelb e
Goldstein revelou que o campo visual do paciente sofrera uma mudança
radical, tendo aquela organização desaparecido quase completamente. No
lugar em que fixava a atenção, o paciente era capaz de perceber uma
pequena fração de uma linha, por exemplo, mas não podia mais ver
conjuntos extensos com formatos nítidos. Uma observação particularmente
interessante é a de que êle, espontânea- mente, começara a confiar mais
na experiência motora do que na visão. Seguindo com movimentos de
cabeça as frações de contornos que lhe eram claras, conseguia êle criar
conjuntos motores e reconhecê-los. Se seu nome era escrito em um quadro
negro, seguia êle, dêsse modo, as primeiras letras e logo adivinhava o resto.
Era possível, porém, excluir êsse processo por um recurso muito simples.
Algumas linhas da mesma côr das letras eram traçadas sôbre o nome. Como
o paciente jamais vira o nome como um objeto apresentado
simultâneamente, não podia também vê-lo como uma coisa e as linhas que
atravessavam as letras como um desenho diferente. Em conseqüência,
seguia êle partes de uma letra e depois partes de uma linha, cortando a
letra indiscriminadamente. O resultado era que, nessas condições, não
podia ler o nome. A propósito: o exemplo mostra até que ponto a função
motora que acompanha a visão depende da organização visual. De um
modo geral, a organização é uma questão de amplas áreas do campo.
Quando apenas frações locais são organizadas até certo grau, torna-se
impossível o contrôle que a organização em uma área maior exerce
normalmente sôbre os movimentos dos olhos.
Não é difícil, por outro lado, explicar porque unidades visuais mostram pelo
menos a tendência de corresponder a objetos físicos. As coisas que existem
em tôrno de nós, ou foram feitas pelo homem, ou são produtos da natureza.
Os objetos do primeiro tipo são fabricados para as nossas necessidades
práticas. Naturalmente, nós lhes damos formas e superfícies que os tornam
susceptíveis de serem vistos e reconhecidos como unidades. Para que isso
aconteça, não se torna necessário que os princípios da organização
sensorial sejam explicitamente conhecidos pelos artifices. Sem tal
conhecimento, êles submetem o trabalho àqueles princípios. Como
conseqüência, os objetos que êles constróern aparecem, geralmente, como
unidades visuais isoladas. Além disso, não é de modo algum fácil produzir
um objeto um tanto compacto que, em um ambiente simples, não satisfaça
as condições gerais do isolamento. A camuflagem é urna arte difícil.
A situação não é muito diferente no que diz respeito aos objetos produzidos
pela natureza. Há uma condição que é satisfeita por muitas coisas naturais:
dentro da área de tal coisa as propriedades superficiais tâm a tendência de
ser mais ou menos da mesma espécie, ao passo que as propriedades
superficiais das áreas adjacentes são, em sua maior parte, de espécie
diferente. A diferença é devida ao fato de que a origem comum das partes
de um objeto tem probabilidade de dar-lhes características superficiais
comuns. Via de regra, estas características não são exatamente repetidas
nas superfícies adjacentes, que têm urna origem diferente, Dêsse modo, é
assegurada, no caso da maioria dos objetos, urna condição de isolamento
visual. Mesmo se urna pedra estiver meia enterrada na areia, que consiste
de porções diminutas da mesma espécie de pedra, a diferença de coesão e,
portanto, de pormenores visuais, entre os elementos superficiais da pedra e
os da areia será, na maioria dos casos, suficiente para tornar a pedra
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97
e assim isolar a Fig. 7b. Essas mudanças, que realmente influen Pia
98
ciam a situação sensorial, tornam-se particularmente aperentes se fôr
considerado o ponto que é o centro objetivo da Fig. 7. Quando as linhas "a"
são favorecidas, de maneira que resulte a Fig. 7a, o ponto é deslocado para
a direita, como também o é, naturalmente, quando as linhas assinaladas
com "b" não são desenhadas, O ponto desloca-se para a esquerda, quando
destacamos a Fig 7b.
FIG. 7h
a organização torna-se quase tão estável quanto era a princípio. Ëste fato
pode ser considerado como prova para se presumir que os processos
organizados realmente alteram as condições de seu próprio meio e que êste
fato é responsável pela inversão,6
BIBLIOGRAFIA
M. Werthejmer: "Untersuchungen zur Lehre von der Gestalt, II". Py. chol.
Forshch. 4, 1923.
100
FXG. 8
101
Capítulo 6
área mais ampla; depende de algo mais que estímulo local. O mesmo
acontece com o tom escuro ou indistinção que aparece como uma qualidade
das coisas vistas em um canto escuro. Também aí nenhuma impressão local,
examinada separadamente, apresenta indistinção, mas algumas áreas
extensas apresentam. A "claridade" e a "nitidez" como atributos de um
campo têm o mesmo caráter transiocal. Também podemos mencionar a
característica tactil de uma superfície que é chamada "áspera" (em alemão
"rauh"). Não há o caráter de aspereza em uma experiência puramente local
do tacto.
103
102
105
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Observações minuciosas dêsse tipo foram feitas pela primeira vez por
Rubin, que expôs suas conclusões com grande número de exemplos.'° O
fato de que, em determinada ocasião, apenas áreas particulares de um
campo têm formas, foi demonstrado conclusivamente, quando sujeitos, que
tinham visto uma forma na primeira apresentação de tal modêlo, não
reconheceram êsse modêlo, se era vista uma segunda
Fia. 9
107
Fic. 10
As coisas que nos rodeiam são, em sua maior parte, entidades bem
estáveis. Em conseqüência, suas formas específicas são vistas regular-
mente, enquanto não houver a interferência de condições surgidas ao acaso
ou camuflagens intencionais. Ë por êsse motivo que o problema da forma
visual é tão fàcilmente deixado de lado e que muita gente
109
Fio. 9a
FIG. 9b
Fia. c
ainda pode acreditar que "as formas são apresentadas na projeção
retiniana". Não há, contudo, forma visual a que nosso estudo não se aplique.
Em qualquer parte do campo visual que tenha forma, os processos devem
ter características particulares responsáveis pelo fato. Essas características
não se apresentam em tôdas as partes do campo. Se, em um dia claro,
caminhamos por uma rua, entre casas altas, o céu fica cercado pelas
superfícies mais escuras das casas. Nestas circunstâncias, vemos como uma
forma a superfície iluminada do céu? Em via de regra, não. A área iluminada
não tem forma própria. Embora seja rodeada por superfícies diferentemente
coloridas, essa parte do céu permanece como "um fundo sem forma". Os
contornos continuam a ser a beira das casas; as casas têm formas, mas a
parte visível do céu não tem. Se quisermos ver como tendo forma uma área
circunscrita do céu, temos de olhá-la através de um orifício aberto em um
pano que colocamos sôbre a cabeça. Se o orifício tem a forma da letra H, a
zona correspondente do céu será vista como um H bem claro em um fundo
escuro.
11 Certa vez, K. Bühler tentou dar uma explicação de uma forma muito
característica, a da linha reta. Presumiu que todos os pontos da retina que
formam uma linha reta estão anatômicamente ligados de um modo especial
e que isso dá a uma linha reta sua aparência particular. Esta hipótese tem o
caráter de uma teoria mecanicista. Não creio que possamos ter esperança
de resolver o problema dêsse modo. Há grande número de formas
altamente características, além da linha reta. Deveremos presumir que haja
um dispositivo anatômico especial, ou melhor, grande número de
dispositivos, para cada forma, uma vez que cada uma pode ser projetada
sôbre muitas partes diferentes da retina?
110
Depois desta discussão, não será necessário gastar muito tempo com o
conceito da configuração experimentada ou forma prôpriamente dita na
dimensão do tempo. No caso de melodias, de ritmos, de movimentos vistos,
etc, teríamos simplesmente que repetir o que já foi dito no caso de formas
simultâneamente oferecidas. A forma de um motivo musical começa em
determinado ponto e termina em outro; então pode-se seguir outro motivo.
Em determinado caso, porém, não há uma forma experimentada que se
estenda, por exemplo, do segundo tom da primeira frase musical ao terceiro
tom da frase seguinte. Entre as duas frases, fica o chamado intervalo
"morto" que corresponde, como tempo, à mera extensão ou terreno fora de
uma forma visual. Ainda, quando, em uma câmara escura um ponto
luminoso em movimento descreve a trajetória da Fig. 6, vemos certas
formas de movimento, tais como 1, II e III. Não vemos, porém, outras
formas, como, por exemplo, uma forma que corresponde a uma fração de 1,
a extensão de horizonte seguinte e uma fração de II, conjuntamente. Mais
uma vez, a forma experimentada concilia-se com a organização de
conjuntos e subconjuntos correspondentes.
Fic. xi
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Fio. iz
Fio. 13
Darei mais alguns exemplos em que objetos bem conhecidos e suas formas
serão destruídos porque a organização forma entidades maiores. A Fig. 15
pode ser descrita de várias maneiras, mas ninguém, espon EE3
FIG. 15
3. Não faltará, ainda, quem se mostre inclinado a admitir que a forma visual
vem de experiências tácteis ou motoras. Essa tese é tão inaceitável quanto
a interpretação correspondente no caso da organização em si mesma. A
forma é uma característica que as experiências têm ou deixam de ter. Ë
irredutível a outros atributos. Assim, se
Fic. i7
Fia. iG
114
115
14 No caso dos adultos, deve ser satisfeita mais uma condição para que a
transposição não afete determinada forma visual. A maior parte dos objetos
muda de aparência quando toma nova orientação no espaço e
particUlarmente quando virados de cabeça para baixo. Êste fato, que revela
uma curiosa anisotropia do campo visual nos adultos, não parece existir nas
crianças de tenra idade.
mente as mesmas, quando os próprios estímulos são mudados. Assim,
vemos, mais uma vez, que as mesmas condições que determinam o
isolamento de entidades específicas no espaço e no tempo também são
decisivas para os atributos delas, segundo Ehrenf eis.'5
117
118
Pode-se dizer que êsse caráter de solidez a que acabei de me referir ocorre
apenas como um atributo de coisas isoladas. Pertence, evidentemente, à
classe geral das qualidades de Ehrenfels. Alguns psicólogos poderão
inclinar-se a atribuir êsse caráter a experiências tácteis que adquirimos ao
manejar os objetos físicos, mas não há nenhum motivo particular que nos
impeça de considerá-lo um atributo das coisas visuais em si mesmas, Na
verdade, pode êle pertencer aos constituintes primários da significação que
as expressões "coisa" ou "substância" têm na vida comum. Seja como fôr, a
figura e o fundo mostram-se de maneira muito diferente no campo visual. A
constância da côr, por exemplo, mostra-se mais forte para a figura do que
para o futuro. Tem-se verificado que a intensidade de uma mancha colorida
é maior na área de uma figura que dentro de um fundo da mesma côr
objetiva. Por outro lado, as pós-imagens são mais vivas quando observadas
sôbre uma figura do que em um simples fundo.
119
BIBLIOGRAFIA
120
Capítulo 7
Comportamento
Será difícil compreender os capítulos seguintes sem que primeiro
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123
de "eu" - é, até certo ponto, uma coisa visual, do mesmo modo que um lápis
ou um livro são coisas visuais. Ora, da mesma maneira que as coisas
aparecem fora umas das outras, o "eu" aparece visual- mente externo às
coisas e vice-versa. Se o aparecimento daquelas coisas em lugares
diferentes não causa assombro a quem quer que seja, porque essa
separação pode ser compreendida em função da localização de seus
correlativos fisiológicos no cérebro, não temos motivo para nos surpreender
com a posição relativa de tais objetos visuais, por um lado, e o "eu" visível,
por outro lado. Não se torna necessária, assim, qualquer hipótese especial
para explicar porque sou visualmente separado de tais objetos e êles de
mim. Se há qualquer paradoxo no aparecimento dêles externamente, isto é,
fora de mim, então exatamente o mesmo paradoxo deveria ser encontrado
na relação espacial, digamos, do lápis e do livro. As pessoas em geral não
conhecem tal coisa simplesmente porque deixam de distinguir o corpo,
como experiência perceptiva, do organismo, como sistema físico, que, como
tal, jamais ocorre em qualquer experiência. Naturalmente, tais pessoas
também ignoram o fato de que a parte visual do "eu" é fisiolàgicamente
causada pela projeção de partes do organismo sôbre sua própria retina e
pelos processos correspondentes no cérebro que têm uma localização
particular em que estão cercados pelos processos correspondentes a outros
objetos visuais. Não creio que a confusão termine jamais, a no ser que nos
acostumemos a dar um nome ao "eu" perceptivo e outro ao organismo
físico. Sugiro, como tenho feito nestas linhas, que o primeiro seja chamado
de "corpo", ficando o vocábulo "organismo" reservado ao sistema físico que
deve ser estudado pelos anatomistas e fisiologistas.
um objeto físico em espaço físico. Isso quer dizer que tal pessoa espera que
partes de espaço visual sejam localizadas em relação a partes de espaço
físico, o que é uma coisa inteiramente impossível.
Talvez tudo isso seja bem conhecido para ser mais uma vez discutido
demoradamente. Há alguns anos, contudo, um psiquiatra europeu afirmou
ser êste o mais difícil problema entre os que dizem respeito ao espfrito com
relação ao corpo: como podem as coisas aparecer fora de nós, quando na
realidade estão localizadas dentro de nós?
14
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126
127
Será desnecessário observar que se trata, mais uma vez, de uma teoria
empírica, que deve ser encarada com cautela. Se fôsse correta, seríamos
incapazes de compreender qualquer comportamento que não tivesse
freqüentemente ocorrido em nós mesmos. Os fatos não se mostram muitos
acordes com esta conclusão. Por acaso não compreendemos outras pessoas
que são extremamente diferentes de nós mesmos? A típica virilidade de
Douglas Fairbanks impressionava-me muito, embora, infelizmente, jamais
eu pudesse oferecer algo de comparável. Por outro lado, algumas vêzes vejo
estampado no rosto de outra pessoa uma repelente ganância, para a qual
não existe correspondente em minha própria experiência.
128
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(Tôdas as gaivotas dão a impressão de que seu nome é Emma). Acho que
Morgenstern tinha tôda a razão. O som de "Emma" como um
130
FIO. iS
Pio. !9
131
Não faltará quem se recuse a tirar qualquer conclusão de tais fatos, sob a
alegação de que nada se pode deduzir de simples analogias. Não posso,
contudo, aceitar êsse argumento, pois o que entendemos por analogia é
precisamente uma espécie de semelhança. Além disso, quando experiências
subjetivas recebem nomes que também se aplicam a fatos perceptivos, isso
não acontece a êsmo. Se um dêsses nomes é aplicado apenas a fenômenos
subjetivos particulares, e outro a outros diferentes, igualmente particulares,
deve haver um princípio que regula as várias aplicações. Ëste princípio
também deve atuar quando, em uma vigorosa descrição de fatos íntimos,
alguém inventa uma dessas transferências de têrmos e, também quando os
outros compreendem o que êle quer dizer. O único princípio que posso
descobrir é que certas experiências dos mundos interno e perceptivo se
parecem umas com as outras.
132
133
A lição que se pode tirar dêste exemplo é aplicável muito além do presente
caso. Muitos acontecimentos dinâmicos na experiência subjetiva tendem a
expressar em formas de comportamento percebido que, de certo modo, se
assemelham àqueles acontecimentos. Geralmente, tanto os processos
emocionais como os intelectuais têm características que também são
conhecidas graças à música, isto é, pela experiência auditiva. Crescendo e
diminuendo, accelerando e ritardando são exemplos evidentes. Estas
expressões, porém, são aplicáveis não apenas a fatos auditivos como
também a fatos percebidos visualmente. Assim, quando tais feições
dinâmicas ocorrem na vida íntima de uma pessoa, podem ser
representadas, de maneira muito adequada, pelo comportamento dessa
pessoa, tal como é percebido, auditiva e visualmente, pelos outros. Na
verdade, é isto que acontece constantemente. Quando alguém se lembra de
uma injustiça de que foi vítima, provàvelmente, enquanto sua indignação
fôr aumentando, caminhará cada vez mais depressa. Assim o maior ritmo e
a menor intensidade de suas reflexões emocionais são bem refletidos no
accelerando e crescendo de seus movimentos, tais como são vistos pelos
outros. Naturalmente, a mesma agitação íntima pode expressar-se em um
accelerando e ri/orzando do comportamento vocal. Outra coisa: olhemos
uma pessoa em manhãs diferentes. Algumas vêzes, seus movimentos são
equilibrados e calmos, mas, outras vêzes, sua fisionomia e suas mãos
denotam instabilidade e desassossêgo. Tal pessoa não precisará dizer-nos,
no primeiro caso, que se encontra descansada e bem disposta, e no
segundo, que está inquieta; de certo modo, ambas as situações íntimas nos
são diretamente evidentes. Do mesmo modo, a hesitação e a incerteza são
acompanhadas por formas de comportamento que, como fatos perceptivos,
se parecem com aquêles estados interiores. O observador pode, por
exemplo, ver movimentos em várias direções, cada um dêles tornando-se
mais vagaroso mal é iniciado e com sua seqüência destituída de
organização unitária. Além disso, desde que os sêres humanos não sejam
particularmente inibidos, qualquer brusca descontinuidade em suas
experiências será, provàvelmente, seguida por súbitos fenômenos de seu
comportamento percebido. Em um momento de súbito temor, os sêres
humanos dão um pulo para trás, ou estremecem. Quando uma pessoa
experimenta aquêle relâmpago pelo qual alguma nova idéia nos chega de
sibito, pode parar no meio de uma frase e também dar um tapa na testa.
Assim, seus processos mentais e sua aparência aos olhos dos outros
apresentam a mesma descontinuidade. Muitas vêzes, o comportamento de
um homem se revela como organizado de uma maneira que está de acôrdo
com a organização de sua verdadeira planificação e ação. As ações que vêm
de uma fonte determinadora mostram-se como uma corrente coerente de
fatos visuais. Por outro lado, quando a ação, tal como é subjetivamente
experimentada, consiste de partes relativamente isoladas, a mesma
"ËIe estendeu o braço para tocar a cabeça do animal com o dedo indicador
da mão esquerda, mas afastou-a de súbito antes do contacto."
135
dedo físico e o animal físico. Não obstante, o autor - que abomina a própria
idéia da experiência - é aqui tão fortemente influenciado por um fato de
agrupamento visual que, por um momento, se esquece de seus axiomas de
behaviorismo e presta informações de maneira que só tem sentido partindo
do ponto de vista da experiência perceptiva. Na realidade, faz êle ainda
pior, pois, ao empregar a expressão "estendeu o braço para" adota o ponto
de vista da psicologia intencional. Na segunda informação, o mesmo se
aplica às palavras "evitando o contacto com". É claro que, se alguém "evita
contacto" com um objeto ou se "estende o braço" para alguma coisa, os
fatos psicológicos envolvidos estão excelentemente retratados no campo
perceptivo de um observador.
Muitos leitores devem estar familiarizados com o exemplo seguinte, que tirei
da psicologia social. Um homem que ocupa posição elevada, para a qual
talvez tenha o coração demasiadamente bom, está acostumado a tratar
seus subordinados como amigos. Quando se vê obrigado a censurar
severamente um dêles e fazê-lo sentir que as relações amistosas
terminaram, tal homem pode-se tornar um objeto altamente sugestivo para
observação. Se não tiver adquirido experiência em ocasiões anteriores, terá
êle a maior dificuldade para dizer as palavras decisivas. Apesar da
seriedade de suas intenções, não dirá tais palavras e, sim, outras que não
vão diretamente ao centro da questão. Se o outro homem é bastante
sensível, adivinhará tôda a verdade pelo que ouve, mas o que é realmente
dito deixa uma espécie de véu em tôrno da questão principal. Visto de fora,
o comportamento do alto funcionário é a imagem de sua perturbação
interior. Êle sabe muito bem o que deveria fazer, mas fatôres sociais o
impedem de agir exatamente de acôrdo com êsse programa. Podemos vê-lo
caminhando de um lado para o outro, diante do culpado, fugindo
constantemente à ação direta. Quando pára, seus olhos são dignos de
observação. No jôgo sensível dos olhos, as resoluções internas, mas
também as dificuldades, de uma pessoa tornam-se mais reconhecíveis do
que em qualquer outra parte. Naturalmente, é bem fácil olhar diretamente
para os olhos de um homem, quando lhe dizemos amabilidades em que êle
não acredita de todo. Neste caso, as fôrças sociais não oferecem resistência,
mas, ao
136
O motivo pelo qual essas semelhanças não são fatos com os quais o
psicólogo esteja famffiarizado, reside, provàvelmente, na tendência analítica
da nossa ciência. Enquanto raciocinarmos sôbre situações perceptivas, em
função de matizes locais de brilho, colorido, etc., não encontraremos apoio
para o ponto de vista de que o comportamento costuma parecer-se com os
fatos mentais. Se, porém, encararmos o comportamento de um modo mais
simples, e permitirmos que o agrupamento, direção, tensão, etc., nos
impressionem como naturalmente impressionam, então tal ponto de vista
não mais nos surpreenderá.
137
Mesmo se tudo isso é verdade, nossa compreensão das outras pessoas não
continua a ser um processo indireto? Na verdade, quando as vemos e
ouvimos, as outras pessoas podem, muitas vêzes, apresentar caracte
rísticas que se parecem com suas experiências interiores. Não obstante, tais
fatos perceptivos não são, por êsse motivo, idênticos às experiências
interiores daquelas pessoas. Neste ponto, portanto, a presente análise não
parece oferecer melhor solução de nosso problema que tem sido oferecida
por outros. Também nós parecemos necessitar de um passo final, uma
inferência, que conduza de certas experiências perceptívas aos processos
mentais dos outros. A semelhança pode facilitar essa inferência; mas a
inferência, ou algum outro processo indireto, parece ser necessária em
qualquer circunstância.
Procurarei, agora, explicar porque não posso aceitar êste raciocínio. Assim
fazendo, terei de defender certa forma de behaviorismo embora não o
behaviorismo que foi estudado no Capítulo 1.
Se, em uma noite, eu me lembro dos contactos com outras pessoas que tive
durante o dia, chego à conclusão de que, em sua maior parte, não me
pareceu particularmente difícil compreender tais pessoas. No entanto, tenho
certeza de que, durante êsses contactos, dificilmente eu me terei ocupado
das experiências internas daquelas pessoas per se. E agora que reflito sôbre
isso, posso naturalmente tentar deliberada- mente evocar imagens da
maneira pela qual o Sr. X e a Sra. Y provàvelmente ter-se-iam sentido nesta
ou naquela ocasião. Também posso fazer essas tentativas quando me
encontro, realmente, junto de tais pessoas. Durante o esfôrço, porém, em
breve percebo que se trata de um processo com o qual não estou, de modo
algum, familiarizado; evidentemente, raras vêzes, pratico algum ato desta
espécie na vida social normal. Além disso, o esfôrço costuma perturbar a
maneira pela qual naturalmente compreendo as pessoas e que muitas vêzes
parece atuar de maneira muito mais satisfatória. Quando os compreendo
dêsse modo, presto atenção principalmente à voz e à aparência das
pessoas; naturalmente, também, quando elas falam, ao conteúdo de suas
palavras. Mas também aqui poucas vêzes traduzo o conteúdo dessas
palavras em função da experiência subjetiva. Ao contrário, são palavras em
si mesmas que parecem trazer o sentido em questão. Aparentemente,
sempre me esqueço de dar o passo final, mediante o qual devemos
penetrar na vida íntima de outras pessoas.
138
139
Esta é, parece, a razão pela qual nos contactos sociais da vida comum
poucas vêzes é dado o passo final entre os fatos perceptivos e os processos
mentais. Do ponto de vista da simples fenomenologia não precisa êle ser
dado. Se eu me refiro à calma de um homem que está diante de mim, refiro-
me a um fato que percebo. Essa "calma" parece ser da mesma espécie do
estado que algumas vêzes encontro e algumas vêzes deixo de encontrar em
mim mesmo. Em circunstâncias ordinárias, não me interessa qualquer outra
calma que possa ser atribuída ao homem. Do mesmo modo, se o homem
"fica excitado", o crescendo, que ocorre diante de meus olhos e ouvidos,
não é, naturalmente, um fato sensorial neutro; em vez disso, a dinâmica do
acontecimento perceptivo é, ou contém o que eu chamo a excitação do
homem. Não indago a mim mesmo se alguma coisa que pertence a um
mundo diferente acompanha a impressionante exibição. Tal questão
sàmente se apresenta quando assumo a atitude artificial com que os
filósofos e psicólogos encaram a situação. Naturalmente, na vida
quotidiana, jamais assumo tal atitude. Quando tomo consciência da
"hesitação", "inquietação", "determinação", "depressão", "esquivança",
"aproximação", etc., de outra pessoa, poucas vêzes sou tentado a ir além
dos fatos perceptivos em si mesmos, os quais, repito, estão longe de ser
fatos neutros. Quando emprego comumente tais expressões, elas se
referem a acontecimentos no espaço perceptivo.
Nossa análise tem uma conseqüência que não foi mencionada até agora. Se
o organismo de um ser humano pode emitir estímulos que dão origem a
fatos perceptivos "com ingreclintes psicológicos", não há razão para que os
estímulos que vêm de outras fontes nunca sejam capazes de causar efeitos
semelhantes. Naturalmente, as imagens de pessoas, particularmente
daquelas que vemos se movendo em uma tela de projeção, satisfazem as
condições necessárias. Independentemente, contudo, de exemplos tão
banais, há outros acontecimentos e objetos que nos impressionam da
mesma maneira. Poucas pessoas podem ouvir o retumbante crescendo de
uma trovoada distante como um fato sensorial neutro; à maior parte delas
parece "ameaçador". No que diz respeito à percepção, várias condições
meteorológicas aparecem igualmente impregnadas de características
psicológicas.b0 Falamos, assim, de tempo "calmo" e "ameaçador", "feio" e
"bonito", etc. Tais expressões são empregadas também com relação a
paisagens, ao aspecto das ruas de uma cidade e assim por diante.
Repetindo: seria surpreendente e constituiria séria objeção à nossa
argumentação geral, se sàmente as criaturas vivas e suas imagens
apresentassem as características de Ehrenfeis dêsse tipo. Ao contrário,
porém, a freqüente ocorr'ência de fenômenos semelhantes em outras partes
do mundo perceptivo corrobora nossa tese de que não há necessidade de
apelar para interpretações dependentes de experiências subjetivas. O
homem moderno não atribui tais experiências a uma tempestade ou
paisagem, e, no entanto, ouve a ameaça na trovoada e a benevolência em
algumas paisagens.
140
141
142
inúteis para o cientista. Por êsse motivo, são êles sômente tidos como
certos de um modo preliminar e, com notáveis exceções, postos
inteiramente de lado nas medições de verdade. No nosso caso, parece
aconselhável seguir, mutatis mugandis, o exemplo, ísto é, confiar no
entendimento imediato, tal como aqui se descreveu, desde que, num
determinado caso, não haja motivo para desconfiança. Se fôssemos rejeitar
inteiramente seu testemunho, poderíamos, com facilidade, perder de vista
fatos que escapam a métodos mais ortodoxos de Psicologia. Nenhum
psicólogo, contudo, deve confiar no entendimento nesse sentido, sem estar
plenamente consciente de seu perigo.
BIBLIOGRAF
Capítulo 8
Associação
1 Podemos, também, dizer que o segundo som tem uma característica que
lhe pertence, como segundo membro de um par (Cf. Capítulo 6).
144
145
tais casos são, habitualmente, muito exatos. Assim, o que fica do passado,
isto é, do primeiro som, deve ser suficientemente representativo de sua
altura, para fazer com que o segundo surja na direção correta. Por outro
lado, êste traço do primeiro som não pode, sob todos os aspectos, pertencer
à mesma classe do processo que, cinco segundos antes, acompanhou a
experiência do primeiro som. Se êle fôsse precisamente da mesma espécie,
haveria também a experiência correspondente, o que, como vimos, não
precisa geralmente ser o caso. Assim, sàmente algum efeito daquele
primeiro processo pode restar, enquanto o próprio processo se atenua. É
êste efeito que deve representar o próprio processo. Na verdade, deve êle
representar êsse processo tão bem que o segundo som aparece com a
relerência correta ao nível do primeiro.
o 4 na Fig. 10, o que significa que o 4 passou a ser uma coisa isolada, tal
pessoa prontamente o verá de nôvo no futuro e em seguida reestruturará o
seu nome. Disso se deduz que os traços das experiências passadas não
constituem um contínuo indiferente nem um mosaico de fatos locais
independentes, e, sim, que devem ser organizados de maneira que se
pareçam com a organização dos processos originais. Com essa organização,
participam dos processos de reestruturação.
A mesma propriedade dos traços também pode ser deduzida dos fatos de
reconhecimento. Quando Rubin preparou seus sujeitos para que êles
apreendessem certos desenhos em uma distribuição particular de figura e
fundo, êsses sujeitos as reconheciam muito bem se, posteriormente, as
condições experimentais favorecessem a mesma organização. Se, porém,
uma área que, em primeiro lugar, fôra figura, se tornava o fundo na
segunda apresentação e vice-versa, os pacientes viam-se diante de novas
formas que, naturalmente, não reconheciam. Os estímulos, contudo, eram
exatamente os mesmos da primeira apresentação. Também aqui os traços
atuavam de acôrdo com a organização e não como meros agregados de
fatos locais independentes. Podemos ir mais longe: na maior parte dos
casos de reestruturação, o próprio material ativado é evidentemente
organizado. Foi demonstrado ser isto verdade não sômente com as imagens,
mas também com as "melodias"
motoras familiares, por Michotte e Vand der Veldt.3 Indivíduos que têm
imagens visuais muito vivas admitem que a imagem de determinada árvore
se destaca como figura de um ambiente ou fundo mais escuro. Na verdade,
na livre imaginação e no sonho podemos contemplar cenas que diferem
muito de qualquer experiência que tenhamos tido antes. Não obstante,
mesmo as mais estranhas criações dos sonhos continuam sendo figuras que
apresentam as características essenciais da organização.
148
147
1 AO
149
11
152
153
Sob êsse aspecto, as sílabas sem sentido devem ser consideradas como o
pior material que poderia ser escolhido para se descobrir a natureza
essencial das associações. Como tais sílabas não se organizam
espontâneamente, em grupos bem caracterizados e específicos, a natureza
da associação espontânea não pode tornar-se aparente ao psicólogo que ie
utiliza apenas dêsse material. Além disso, como as séries de sílabas são
construídas ao acaso, pouca coisa nos ensinam a respeito da maneira de
que depende o aprendizado, no que pode ser chamado de estrutura de uma
série. Embora esta consista apenas de material sem sentido, que é
homogêneo até certo ponto, pode-se construir uma série de muitas
maneiras diferentes. As sílabas podem ser ajuntadas como vizinhos que se
ajustam uns aos outros fonèticamente, ou se pode fazer exatamente o
contrário. Alguns pares podem ser construídos de acôrdo com um princípio,
alguns de acôrdo com outro. A série inteira pode apresentar uma estrutura
específica, ou pode ser uma série indiferente tal como as comumente
usadas. Tôdas essas variações devem ser examinadas, se quisermos saber
se a organização é ou não um fato essencial que sustenta cada associação.
Pelo que atrás ficou dito, estamos inclinados a dizer que isto é, realmente, o
que se dá.
154
155
Não faltará quem diga que não importa, se aceitarmos uma ou outra teoria
de associação, uma vez que não estamos em condições de examinar o
cérebro e decidirmos qual é a verdadeira. Adotar tal ponto de vista, porém,
seria interpretar errôneamente qualquer hipótese. Se uma hipótese tem um
conteúdo específico, também deve ter implicações específicas, e estas
podem ser verificadas. No caso presente, tais implicações são bem
evidentes.
Isto é bem natural, uma vez que, nesta regra, se supõe tàcitamente que a
associação é uma conexão semelhante a uma corda, graças à qual coisas
igualmente indiferentes umas às outras e à associação são forçadas a uma
espécie de parceria. Por outro lado, a organização está longe de constituir
uma agregação que se impõe a materiais recipro156
157
158
12 Um passo decisivo nesta direção foi dado por K. 8. Lashley (Jøurn. Genet.
Psychol. 37, 1930). que introduziu no repertório da psicologia animal o
:IumYing stanci, cujo mérito principal Consiste no fato de forçar,
virtualmente, o animal a prestar atenção às partes essenciais da situação
experimental.
159
BIBLIOGRAFIA
160
CAPÍTULO 9
Evocação
161
1 Aqui e sempre que falamos sôbre animais, uso expressões tais como
"aparecer" para simplificar as coisas. Tenha ou não tenha a galinha um
campo visual no sentido humano dos vocábulos, tais expressões têm um
sentido funcional claro, ue é o único em que estamos aqui interessados.
163
1c)
164
165
vez formado tal fato unitário, qualquer grupo de estímulos que corresponda
a uma fração considerável da situação original causará a evocação de suas
outras partes. Na realidade, isto não se dá, porque, entre as características
de uma experiência organizada e os estímulos correspondentes, não há, de
modo algum, relações ponto por ponto. O processo organizado depende de
todo o conjunto dos estímulos e de suas "características em relação", de
uma maneira que não pode ser analisada nos efeitos independentes dos
estímulos locais. Por êste motivo, uma fração do conjunto original de
estímulos não estabelece um processo que tenha sido contido realmente no
acontecimento original. Pelo contrário, tal fração dá origem a um processo
que, em certos aspectos, difere da parte correspondente do fenômeno
original. Em conseqüência, o processo agora oferecido pode não ter versão
equivalente no traço unitário daquele fenômeno, e pode, por êste motivo,
ser incapaz de causar a evocação de suas outras partes. Assim, por
exemplo, a Fig. 20 não é susceptível de evocar as linhas que faltam na letra
H, embora, geomètricamente, tal figura represente a maior parte de um H.
Do mesmo modo, a Fig. 21 não provocará a evocação das linhas faltosas de
um R. Vendo um H ou um R, não vimos, naturalmente, as figuras 20 ou 21
como verdadeiras formas visuais. Assim, os traços do H e do R não contêm
partes que correspondam às linhas apresentadas em nossas figuras e não
ocorre a evocação.
166
sub-conjunto do rosto. Apesar disso, como tal linha não parece muito
diferente da mesma linha como parte de todo o perfil, o processo
correspondente àquela linha se assemelha à parte do processo em que se
baseia o perfil como uma forma visual, e também os traços
correspondentes. Neste caso, é muito provável que ocorra a evocação.
22. Na Fig. 23, mesmo a primeira linha vertical da esquerda perdeu sua
tendência de evocar a Fig. 22, porque na Fig. 22 a linha vertical é isolada
como algo à parte, ao passo que, na Fig. 23, constitui ela a extremidade
esquerda de uma série de paralelas.
liste último ponto introduz mais uma restrição a que estão sujeitas as
possibilidades de evocação. Um agregado de estímulos pode tornar-
167
[1
Fio. o
Fio. ar
'III
FIG. 33
FIG. 22
169
Por váris vêzes, temos observado que todo o mundo experimenta seu "eu"
como uma entidade particular entre outros muitos objetos.
Conseqüentemente, deve haver no cérebro processos que correspondem
não apenas a experiências objetivas, como também outros correspondendo
ao "eu" experimentado. Os processos que representam o "eu" diferem, sob
muitos aspectos, dos que correspondem a objetos exteriores, mas deve
haver também características que ambos possuem em comum. Isso se
deduz do fato de, algumas vêzes, estar o "eu" em interação com
experiências externas, de maneira precisamente igual à ação recíproca das
experiências externas entre si. Dois exemplos serão suf icientes para
corroborar esta observação.
neste caso o sujeito sente que seu corpo gira na direção oposta. Dêste
modo, o "eu" apresenta o fenômeno do movimento induzido, exatamente
como o fazem os objetos exteriores.
171
170
1 '7
173
175
174
Como base para a evocação, não basta que o sujeito seja apenas dirigido,
de algum modo, para o objeto presente. Nas experiências de Lewin, era
necessário um vetor dirigido ao componente como se pertencesse a
acontecimentos do passado; de outro modo, a evocação não ocorria. Fatos
semelhantes podem ser observados fàcilmente na vida comum. Assim, por
exemplo, objetos muito conhecidos estão fortemente associados aos seus
nomes. Não obstante, quando caminhamos por uma rua e somos levados a
olhar muitas coisas, ficamos longe de relembrar os nomes da maior parte
dessas coisas. Se fôr levantada a objeção de que os objetos estão
associados a muitas outras coisas além de seus nomes e que tôdas essas
várias associações inibem umas às outras, êste próprio argumento admite
que inúmeras associações poderosas não levam normalmente à evocação
correspondente. É lamentável que êste fato seja constantemente ignorado
nas teorias empíricas. Quando, porém, as associações se tornam realmente
eficientes? Suponhamos que o leitor está andando comigo por uma rua e
que acaba de aceitar minha explicação, acêrca da falta de evocação no que
diz respeito aos nomes dos objetos comuns. É provável que, imediatamente
depois disso, o leitor dê seus nomes a todos os objetos conhecidos que
encontrar na rua. Isso prova claramente que a inibição mútua das várias
associações não pode ser o principal fator que impede a evocação em tal
situação. Realmente, onde estão agora essas inibições? O ponto decisivo é,
naturalmente, que nossa conversa provocou no leitor uma atitude, não
sàmente para com os nomes em si mesmos, mas também para com a
nomenclatura como uma forma especial de evocação. Como
178
O Dr. Lewin entende que, de certo modo, êste fato pode ser explicado em
função de um princípio que foi discutido no comêço dêste capítulo.
Lembramos que se um A foi associado com um B, a apresentação de A não
acarretará a evocação de B, no caso de as características de A não serem já
as mesmas que eram quando a associação se formou. Também sabemos
que essas características serão alteradas se, apesar de serem dados, de
nôvo, os estímulos correspondentes a A, A é parte de uma organização
mudada na última ocasião. Ora, quando, durante a aprendizagem, uma
sílaba é lida de modo natural, é tomada como uma unidade simples. Se,
porém, o sujeito obedecer depois à recomendação, de acôrdo com a qual a
primeira e a última letra da sílaba têm de mudar de lugar, o sujeito
aprenderá a sílaba em função desta tarefa. Como conseqüência, a sílaba
aparecerá em uma organização modificada. Assim, por exemplo, suas duas
letras mais importantes já não se apresentarão nas partes mais destacadas.
Isto pode bastar para tornar a sílaba incapaz de evocar, espontâneamente,
sua companheira. A explicação parece corroborada pela observação de que
a maior parte dos sujeitos de Lewin não percebeu que sílabas conhecidas
eram apresentadas entre as novas. Seria aconselhável fazer experiências
semelhantes com outros materiais, cujas características fôssem mais
específicas do que sílabas sem sentido e que apresentassem menos
probabilidades de serem perceptivelmente mudadas em um nôvo campo.
Nem eu, nem o Dr. Lewin nos convencemos de que já se possa apresentar
uma teoria inteiramente adequada a respeito dêsses fatos. Em
178
Hesito em aceitar tal coisa como tese geral. Para falar a verdade, a teoria
psicológica foi muito longe ao presumir que, quando associações poderosas
tenham sido formadas, a evocação ocorrerá espontâneamente, e em
qualquer situação. Por outro lado, deveremos supor que, durante tôda a
nossa vida, não ocorra qualquer evocação a não ser que seja apoiada por
um vetor naquela direção? Talvez seja aconselhável manter nossa decisão
em suspenso, até que investigações futuras esclareçam melhor o
assunto.13 Enquanto isto, a verdade é que, precisamente, se ficar provado
que os vetores desempenham importantíssima parte na evocação, o
aparecimento e desaparecimento de tais vetores tornar-se-ão problemas de
psicologia particularmente importantes. Os vetores surgem e persistem,
mas também se modificam e desaparecem, por muitas razões. Pode-se
presumir com segurança que, no estudo de tais fatos, mais uma vez nos
defrontaremos com os problemas da evocação. Não sabemos muita coisa a
respeito da evocação de vetores em si mesmos, mas merece tôda a nossa
atenção a possibilidade de vetores que se mostraram ativos por uma vez
serem de nôvo suscitados pela evocação.
Por esta e por outras razões, não devem ser tiradas conclusões exageradas
das explanações anteriores. É verdade que as atuais teorias sôbre
179
180
Fic. 24.
181
por acaso, um bom caminho para chegar a B, de maneira que B pudesse ser
evocado.
BIBLIOGBAFIA
1901.
182
Capítulo 10
Discernimento
(In sight)
183
184
185
dúvida de que foi o súbito tremor que me assustou e não qualquer outra
coisa? Evidentemente não. Mais uma vez a emoção foi sentida como tendo
sido causada por uma experiência particular. Via de regra, não precisamos
aprender, pouco a pouco, que acontecimentos intensos inesperados são
seguidos pelo temor, como se a priori uma fisionomia amável ou o perfume
de uma rosa também, devessem ser acompanhados pelo temor. Quando o
temor nos domina de súbito, sempre o sentimos como procedendo de fatos
particulares.
186
187
188
189
meiro tipo, sua importância, no que diz respeito à observação, nada tem a
ver com o que possa acontecer em outros casos. Da mesma maneira que
posso ter certeza absoluta de que agora estou vendo certa flor como
vermelha, embora, se posteriormente me tornasse daltônico, esta flor me
aparecesse como cinzenta - assim também determinada experiência de
dependência causal deve ser aceita por si mesma, ainda que outras
experiências em situações semelhantes não apresentem as mesmas
características.
Todo o mundo sabe que a disposição de ânimo pode mudar, sem que
saibamos quais são as causas da mudança. Do mesmo modo que podemos
sentir de súbito que apanhamos um resfriado, sem saber onde nem quando,
algumas vêzes nos sentimos irritadiços, sem que tenhamos experimentado
uma causa para êsse estado de ânimo. Na verdade, a irritação não tarda a
encontrar algo em que se descarrega e, então, êsse algo em questão
provàvelmente parecerá um objeto adequado. Antes que isso aconteça,
porém, nada mais podemos fazer do que adivinhar qual será a causa oculta
do estado de ânimo, pois, a princípio, êsse estado não se referia a objeto
algum em particular. Na realidade, podem ser responsáveis alguma
condição meteorológica que afete o
Dêste exemplo, podemos tirar duas lições. Em primeiro lugar, êle confirma o
ponto de vista de que, conquanto relações dinâmicas possam ser
experimentadas, os efeitos também podem ser patentes, quando nenhuma
experiência aponta suas causas. A segunda lição é que ambas as espécies
de determinação podem ser unidas em um único fato. Realmente, quando
estamos irritados e descobrimos alguma coisa que esteja, mais ou menos,
de acôrdo com essa disposição interna, o objeto em questão imediatamente
aparecerá como uma causa de todo adequada a um acesso de raiva. E, no
entanto, nossa reação pode ser muito exagerada pelas causas ocultas que
nos tornaram irritadiços muito antes dessa ocasião.3
191
190
Há uma espécie particular de clareza que não se combina muito bem com a
convicção do leigo e com minhas afirmações neste capítulo. Éste ideal de
clareza seria alcançado se o mundo pudesse ser con4 Assim, por exemplo,
em algumas das discuss6es de Platêo, a respeito das caracteristicas do
mundo verdadeiramente real, a mesma tendência faz sentir sua presença
de maneira inequívoca.
192
193
194
Por diversas vêzes, tenho observado que, na experiência comum, nada pode
ser mais evidente que o discernimento (insight), isto é, a consciência de
determinação tal como é descrita neste capítulo. Raramente falta de todo
esta característica a um campo singular total. No entanto, apenas uma
pequena minoria dos psicólogos mostra compreender plenamente que êste
é um dos mais importantes conceitos psicológicos. É verdade que muitos se
expressam em têrmos que mostram que o díscernimento (insight) ocorre
em seus sujeitos ou em suas próprias experiências. É possível, contudo, que
isto aconteça apenas porque a convicção do leigo se traduz em certas
formas de linguagem, que os autores empregam sem se mostrar claramente
cônscios de suas implicações. Em conseqüência, o discernimento (insight)
não ocorre entre os conceitos que êles empregam realmente em suas
teorias. De fato, usar a linguagem do leigo não é a mesma coisa que
verificar quanto contém essa linguagem de boa psicologia. Há, também,
aquêles para os quais a análise da experiência de Hume e as idéias do
século XIX representam uma estrutura que jamais será sàriamente afetada
pelas conquistas posteriores. Aos seus olhos, o conteúdo dêste capítulo
deve, de certo, parecer puro misticismo. Suponhamos que um representante
dêsse grupo esteja viajando em um ônibus, onde tenha de
195
196
Uma vez formulada, a presente teoria é tão simples que pode quase parecer
banal. Esta impressão, contudo, desaparece logo que nos lembrarmos de
como a mesma situação seria tratada de acôrdo com as idéias agora
aceitas. Mais uma vez a teoria mecanicista e a teoria dinâmica apresentam
vivo contraste. Nem nas reações reflexas, nem nas condicionadas, nem
mesmo nas associações (como são habitualmente concebidas), as
características qualitativas de um processo têm qualquer influência além do
local dêste processo. Os efeitos dos fenômenos, em uma parte do cérebro
sôbre a situação em outras partes, são sempre transmitidos por via
suficientemente boas condutoras. Há primeiro um processo A em si mesmo,
depois a transmissão de impulsos nervosos ao longo de certos trajetos
como um segundo fenômeno e, finalmente, um efeito em um lugar B, um
terceiro fato, que é produzido por aquêles impulsos e não pela natureza
particular de A. Tendo o mesmo A como ponto de partida, se outro trajeto é
melhor condutor, entra em ação um processo diferente C em vez de B. A
ocorrência de A afeta B apenas devido às condições histólógicas, tais como
são oferecidas quando A é ativo. Suponhamos que pudéssemos mudar um
pouco a disposição das fibras nervosas. Talvez, se isso fôsse feito com
perícia, uma bebida gelada tornasse um homem com sêde aborrecido e
furioso.
Pode ser que esta interpretação fisiológica jamais tenha sido expressamente
formulada. Mas deveria ter sido, porque nenhuma outra interpretação pode
ser deduzida dos conceitos ora largamente aceitos na Neurologia e
Psicologia. Por que jamais é levada em consideração a teoria da ação direta
do campo? Por que, se preferirmos tratar em
197
Nossa vida está repleta de casos triviais desta espécie, mas é igualmente
evidente que também podem surgir impulsos para ações mais importantes
de uma maneira que possamos compreender perfeitamente. O como e o
porque de tais ações, muitas vêzes, não estão mais ocultos do que está a
maneira pela qual nossos sentimentos são despertados. Examinarei aqui
sàmente exemplos pertencentes à variedade mais simples.
Em uma bela manhã, estou sentado muito satisfeito em plena luz do sol.
Depois de algum tempo, porém, acho que está fazendo muito calor e, ao
mesmo tempo, surge a tendência de me afastar do lugar em que me
encontro. Parece agradável um lugar à sombra de uma árvore, nas
proximidades, e, imediatamente, o impulso para me afastar do soi torna-se
uma tendência para a sombra. Da mesma maneira que
198
199
Como último exemplo, escolheria uma simples situação prática. Por êste ou
aquêle motivo, quero partir uma tábua. Faço fôrça contra ela e, enquanto
sinto meu esfôrço contra a resistência da tábua, também sinto e vejo como
a tábua cede na direção da pressão. Devemos realmente acreditar em
Hume quando sustenta que, em minha experiência, o fato de a tábua ceder
está pouco relacionado com o meu esfôrço, como a côr da madeira ou,
digamos, o movimento de uma nuvem? Na verdade, sinto quando a tábua
cede diante de minha pressão, do mesmo modo que me sinto ceder quando
meço fôrças com um amigo, cada um de nós empurrando o outro com o
ombro, e perco a batalha. Além disso, logo que a tábua começa a ceder,
imediatamente sinto a tendência de aumentar a pressão e, também, essa
nova tendência é experimentada como resultante da mudança na
resistência da tábua.
200
201
Depois desta discussão, não parece necessário voltarmos à tese que explica
tais seqüências pela formação de conexões secundárias, isto é, associações
e reações condicionadas. Segundo os associacionistas, as associações são
cegamente formadas, no sentido de que a natureza de determinados
fenômenos não tem influência sôbre sua associação. Além disso, uma vez
formada uma associação, supõe-se que a evocação correspondente seja de
nôvo uma questão de melhores condutores, justamente como uma
seqüência reflexa. Em resultado, tudo que se acabou de dizer acêrca de
uma seqüência reflexa serve também de explicação em função de
associações ou reações condicionadas. No comportamento, qualquer
seqüência poderia ser bem estabelecida como a verdadeira, se a seqüência
objetiva adequada fôsse repetidamente apresentada. O resultado do
processo dependeria, também neste caso, ainda apenas da condutividade
dos trajetos. Assim, as expressões entendimento e discernimento (insight)
seriam, mais uma vez, inaplicáveis.'3
Admito, sem relutância, que estas observações estão longe de oferecer uma
descrição completa dos fatos em estudo. Mesmo se deixarmos de lado a
questão de saber precisamente que espécie de vetor está atuando em tais
circunstâncias, não explicamos porque a presença de tal vetor no cérebro
costuma ser seguida de movimentos que estão de acôrdo com a direção do
vetor. Parece que, durante os primeiros meses depois do nascimento, a
criança não é capaz de executar diretamente os movimentos que
correspondem a seus interêsses, com relação a determinados objetos.
Devemos, portanto, indagar que acôrdo entre as tendências
experimentadas (ou vetores físicos correspondentes no cérebro) e os
movimentos se forma pouco a pouco. Não faltará quem suponha que não há
entre os dois fatos qualquer relação natural, ou, em outras palavras, que,
originalmente, quaisquer tendências (e vetores correspondentes no cérebro)
possam ser seguidos por quaisquer movimentos imagináveis dos membros.
Se isso fôsse verdade, as seqüências corretas teriam de ser aprendidas
inteiramente e sem exceção. Outra presunção é a de que a direção dos
movimentos reais tem a tendência de confundir-se com a das tendências
motoras experimentadas (os vetores corticais correspondentes) e que, na
tenra infância, êste acôrdo ainda não se realizou, meramente porque a
maturação do sistema nervoso ainda não se completou. Certas observações
favorecem mais a segunda que a primeira hipótese. Mesmo assim,
presentemente, somos incapazes de dizer como a direção de um vetor
cortical acarretaria a direção correspondente a um movimento real, como
seria o caso, se a segunda presunção fôsse correta.
202
203
BIBLIOGRAFIA
1894.
204
ÍNDICE ONOMÁSTICO E DE ASSUNTOS
accelerando - 134.
adequação - 202.
alma - 13.
antropomorfismo - 77.
aprendizado - 50, 51, 55, 56, 81, 84, 85, 86, 111, 113.
aproximação - 140.
Arhenius - 35.
assimilação - 128.
associação - (Cap. 8, págs. 144 a 160), 168, 169, 170, 175, 176, 183,
202.
atenção - 172.
autodistribuição - 118.
autoprocessos - 197.
bacteriologia - 191.
Binet - 15.
Botânica - 38.
Cavendish - 30.
comportamento (Cap. VII, págs. 121 a 143) 16, 28, 34, 37, 41, 42.
- 187.
configuração experimentativa -.
111.
conhecimento adquirido - 50.
conjunto - 98.
conservadorismo 60.
crença apriorística - 71
daltonismo - 14, 85, 96. David Hume - 188, 192, 193, 195, 199, 200, 201.
dedução - 38.
depressão - 140.
descontinuidade - 134.
determinação - 140.
diminuendo - 134.
discontinuidade de propriedade -
94.
dualistas - 37.
Ebbinghaus - 151, 152. Ehrenfels (Christian von) - 102, 103, 104, 105, 110,
116, 117, 119,
137, 141.
205
emoções - 135.
54.
esquivança - 140.
estatística - 34.
estímulo - 35, 98; local 58, 63, 71, 72, 102, 103; externo - 16; periférico -
149; de reação - 70, 96, 117; retiniano - 78, 106.
"eu" - 170, 171, 172, 173, 177, 184, 194, 196, 198, 199; perceptivo
- 124.
evocação - (Cap. IX, págs. 161 e segs.), 173, 175, 176, 183, 192;
espontânea - 177.
144; local - 58; perceptiva - 136; sensorial - 56, 57, 58, 71,
125; auditiva - 45, 132; emocional - 132; externa - 171; objetiva -171;
subjetiva -131, 135.
Fechner - 15.
fenomenologia - 140.
filogenia - 75.
fixação - 172.
Fogelsonger - 168.
Frank - 63.
Freud - 191.
206
Gati - 170.
Gelb - 92.
gestaltqualitaten - 103.
Goldstein - 92.
Gottschaldt - 112.
Graz - 103.
H
hábito - 146, 183.
hesitação - 140.
f{ornbostel (E. von) - 131, 143. Hunter (W. S.) - 25, 86.
inervação - 138.
inquietação - 140.
instintos - 172.
interação - 71, '73, 74, 76, 77, 78, 79, 98, 103, 149, 170.
inter-relação - 149, 157, 182, 184. introspecção - (Cap. III, págs. 44 a 61),
12, 13, 17, 20, 38, 42, 43, 58, 63, 64, 67, 71.
Janet - 136.
Lawenstein - 146.
Lewin (K.) - 174, 175, 176, 177, 178, 179, 182, 189, 204.
Meinong - 103.
mente - 13.
misticismo - 195.
Morgenstern - 130.
58.
negatividade - 158.
neurologia - 184.
Newton - 23.
Nietzsche - 126.
observação - 71.
Oersted - 29.
organização - 159, 163, 164, 171, 193; bipolar - 172, 173, 185; fi siológic
117.
pensamento - 17.
perturbação - 119.
Platão - 192.
raios X - 29.
realidade - 10.
recordação - 128.
relação causal - 189, 200; compreensível - 186; dinâmica - 122, 191, 193,
194; emocional - 192; formal - 200; geométrica
- 95.
retenção - 152.
Scholz - 74.
207
Simon - 15.
superstições - 13.
T
teoria mecanicista - 66, 69, 73, 74, 180, 182, 183, 197, 198, 200,
201.
Ternus - 74.
Thorndike - 202.
T. T. Gibson - 101.
unidade-grupo - 155.
Usnadze - 131.
Vand der Veldt (J.) - 147, 160. vetores - 172, 173, 174, 176, 177, 178, 179,
202, 203.
Yerkes - 149.
Y
w
Werteheimer (Max) - 74, 80, 85, 86, 89, 101, 117, 120, 204.
Zeigarnik - 174.
Zoologia - 38.
Éste livro
pela
São Paulo,
persa
Belo Horizonte,
em 1968.
208