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Intensivo I – Processo Civil – Aula 1 – Resumo da doutrina do Daniel

Amorim Assumpção combinado com Fredie Didier JR.

1) EVOLUÇÃO HISTÓRICA

A evolução histórica do direito processual costuma ser dividida em três


fases:

a) Praxismo ou sincretismo: nesta fase havia a distinção entre o processo e


o direito material – o processo era estudado apenas em seus aspectos
práticos, sem preocupações cientificas.

b) Processualismo: nesta fase é demarcado as fronteiras entre o direito


processual e o direito material, sem preocupações científicas.

c) Instrumentalismo: em que, não obstante se reconheçam as diferenças


funcionais entre o direito processual e o direito material, se estabelece
entre eles uma relação circular de interdependência – o direito
processual concretiza e efetiva o direito material, que confere ao
primeiro o seu sentido. Na fase instrumentalista, o processo passa a ser
objeto de estudo de outras ciências jurídicas, como a sociologia do
processo – que se concentrou nos estudos sobre o acesso a justiça.
Além disso, há grande preocupação com a efetividade do processo,
tema que não existia até então, e a tutela de novos direitos, como os
coletivos.

Parece mais razoável considerar a fase atual de evolução como a quarta


fase do direito processual civil.

Fala se então do Neoprocessualismo: o estudo e aplicação do Direito


processual de acordo com esse novo modelo de repertório teórico. O termo
Neoprocessualismo tem uma interessante função didática, pois remete
rapidamente ao Neoconstitucionalismo, que, não obstante a sua polissemia,
traz a reboque todas as premissas metodológicas apontadas, além de toda
produção de doutrina a respeito de tema, já bastante difundida.

Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, costuma-se denominar


esta fase de desenvolvimento do direito processual de formalismo-valorativo,
exatamente por destacar a importância que se deve dar aos valores
constitucionalmente protegido na pauta de direitos fundamentais na construção
e aplicação do formalismo processual.

2) DIFERENÇA ENTRE NORMAS PRINCÍPIOS E NORMAS REGRAS

Normas princípios Normas regras


Pautas genérica (programas Pautas específicas (impõem,
abstratos) permitem ou proíbem)
Permite adaptações conforme o Aumentam a segurança jurídica
tempo e local, mas geram (menor amplitude interpretativa), mas
insegurança (amplitude prejudicam a adaptação.
interpretativa)
Podem se implícitas Como regra, são expressamente
previstas.
Conflitos (combinação pela Conflito (impossibilidade de
ponderação) combinação: exclusão de um_

3) DIMENSÕES DOS PRINCÍPIOS (NORMAS PRINCÍPIOS)

a) A primeira dimensão é a OBJETIVA


A dimensão objetiva significa dizer que a norma princípio consubstancia um
vetor, o qual poderá ser:
 Legislativo: o legislador é obrigado a criar normas regras
que veiculem o comando da norma princípio.
 Interpretativo: o princípio deve fazer com que o intérprete
analise a norma conforme o princípio constitucional ou
infraconstitucional.

b) A segunda dimensão é a SUBJETIVA (função normativa dos


princípios)
O princípio também significa uma posição jurídica de vantagem parra o seu
destinatário.

4) CLASSIFICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS PROCESSUAIS (2


CATEGORIAS)

a) A primeira classificação dos princípios se diz respeitos aos PRINCÍPIOS


INFORMATIVOS OU FORMATIVOS (AXIOMAS JURÍDICOS)

Os princípios informativos ou formativos do processo civil são axiomas


jurídicos – verdades tidas como absoluta – porque eles NÃO POSSUEM
CONTEÚDO POLÍTICO-IDEOLÓGICO. Consequentemente, por possuírem tal
característica, tais princípios são adotados em todos os países do Mundo
(verdade universal)

São quatro os princípios informativos ou formativos:


I) LOGÍCO
- O processo deve ter uma ordem estrutural no sentido de que certos atos
precedem outros. Portanto, é impossível um processo em que a sentença
preceda o pedido.

II) ECONÔMICO

- O princípio econômico é um veto econômico-operacional. Ideia é alcançar


o maior resultado com o menor esforço.

III) JURÍDICO

- Todo sistema processual deriva de dado ordenamento jurídico.


Consequentemente, aquele tem afeições deste.
Obs: Não necessariamente o ordenamento jurídico é escrito.

IV) POLÍTICO
- Em todos os países do Mundo o processo é um instrumento pelo qual o
Estado manifesta a sua vontade, dentre outras finalidades.
b) A segunda classificação dos princípios diz respeito aos PRINCÍPIOS
GERAIS/ GENÉRICOS/ FUNDAMENTAIS (EXPLÍCITOS OU
IMPLICÍCITOS)

Os princípios gerais possuem conteúdo político-ideológico – cada país


escolhe os seus. Em relação ao Brasil, os princípios gerais podem ser
divididos em:

-Constitucionais (CF, art. 5 e incisos)

- Infraconstitucionais ( CPC, art. 1º a 12 e outros)

5) PRINCIPIOS PROCESSUAIS

5.1) Devido Processo legal:

Diz o art. 5º. LIV, da CF que “ninguém será privado da liberdade sem o
devido processo legal”, consagração atual do princípio ora analisado. É pacífico
que o devido processo legal funciona como um SUPRAPRINCÍPIO, um
princípio-base, norteador de todos os demais que devem ser observados no
processo.
O devido processo legal é uma garantia contra exercício abusivo do
poder, qualquer poder.
Atualmente o princípio do devido processo legal deve ser analisado
sobre duas óticas, falando-se em devido processo legal substancial
(substantive due process) e devido processo legal formal (procedural due
process).
No sentido substancial o devido processo legal diz respeito ao campo
de elaboração e interpretação das normas jurídicas, evitando-se a atividade
legislativa abusiva e irrazoável e ditando uma interpretação razoável quando da
aplicação das normas jurídicas.
No sentido formal (procedimental) encontra-se a definição tradicional
do princípio, dirigido ao processo propriamente dito, obrigando-se o juiz no
caso concreto a observar os princípios processuais na condução do
instrumento estatal oferecido aos jurisdicionados para a tutela de seus direitos
matérias. Contemporaneamente, o devido processo legal está associado a uma
ideia de processo justo, que permite a ampla participação da partes e efetiva
proteção de seus direitos.

5.2) Contraditório:
Segundo o art. 5, LV, da CF, “aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerente”. O contraditório e ampla
defesa também são previstos na lei da arbitragem.
Só existe contraditório se forem respeitados cumulativamente três
requisitos (tripé): CONHECER; PARTICIPAR; INFLUIR.

5.3) Princípios dispositivo e inquisitivo (inquisitório):


No sistema INQUISITIVO PURO o juiz é colocado como a figura central
do processo, cabendo a ele a sua instauração e condução sem a necessidade
de qualquer provocação das partes. A liberdade de atuação do juiz é livre e
irrestrita.
No sistema DISPOSITIVO PURO o juiz passa a ter uma participação
condicionada a vontade das partes, que definem não só a existência e
extensão do processo – cabendo ao interessado a sua propositura e definição
de elementos objetivos e subjetivos-, como também o seu desenvolvimento =,
que dependerá de provocação para que prossiga.
O sistema brasileiro é o SISTEMA MISTO (DA DEMANDA/ DO
IMPULSO OFICIAL/ DA INÉRCIA) o sistema brasileiro tem preponderância do
princípio dispositivo. Ao menos na jurisdição contenciosa é correto afirmar que
esse sistema misto é essencialmente um sistema dispositivo temperado com
toques de inquisitoriedade. A convivência desses dois sistemas no direito
brasileiro fica bem clara no art. 2º do NCPC, que prevê a necessidade de
provocação do interessado para que exista o processo (princípio dispositivo) a
ser desenvolvido por impulso oficial (princípio inquisitivo).

5.4) Princípio da motivação das decisões


Motivar e fundamentar significam exteriorizar as razões de decidir, e
nessa tarefa obviamente as opiniões pessoais do juiz são irrelevantes, devendo
o magistrado aplicar ao caso concreto o Direito, e não concretizar a suas
aspirações pessoais.
Segundo o art. 93, IX, da CF, todas as decisões proferidas em processo
judicial ou administrativo devem ser motivadas, sendo obrigatória aos
julgadores a tarefa de exteriorização das razões de decidir, com a
demonstração concreta do raciocínio fático e jurídico que desenvolveu para
chegar às conclusões contidas na decisão.
5.5) Princípio da Isonomia
A regra de que a lei deve tratar todos de forma igual (art. 5, caput e
inciso I, da CF) aplica-se também ao processo, devendo tanto a legislação
como o juiz no caso concreto garantir às partes “paridade de armas”, como
forma de manter equilibrada a disputa judicial entre elas. A isonomia no
tratamento processual das partes é fora, inclusive, do juiz demonstrar a sua
imparcialidade, porque demonstra que não há favorecimento em favor de
qualquer uma delas.

5.6) Princípio da publicidade dos atos processuais


Segundo a melhor doutrina, a publicidade dos atos processuais é a
forma mais eficaz de controle do comportamento no processo do juiz, dos
advogados, do promotor, e até mesmo das partes. Ao admitir a publicidade dos
atos, facultando a presença de qualquer do povo numa audiência, o acesso
aos autos do processo a qualquer pessoa que, por qualquer razão queira
conhecer seu teor, garante a aplicação do princípio.
A garantia dessa publicidade popular encontra-se consagrada na CF, no
art. 93, IX e X.

5.7) Princípio da economia processual


O princípio da economia processual deve ser analisado sobre dois
aspectos. Do ponto de vista SISTÊMICO o objetivo principal da economia
processual é obter menos atividade judicial e mais resultados. E para tanto
deve se pensar em mecanismos para evitar a multiplicidade de processos.
No segundo aspectos levantado, há no sistema processual alguns
institutos processuais que evitam a repetição de atos processuais, o que numa
análise macroscópica do princípio são extremamente importante, tais como a
reunião de ações perante o juízo prevento em razão e conexão ou continência,
a suspensão por prejudicialidade externa, a prova emprestada, o julgamento
por amostragem dos recursos especiais e extraordinários repetitivos e o
incidente de resolução de demandas repetitivas.

5.8) Princípio da instrumentalidade das formas


Sempre que o ato processual tenha uma forma prevista em lei, deve ser
praticado segundo a formalidade legal, sob pena de nulidade. Todo ato
processual tem uma finalidade jurídico-processual, um resultado a ser atingido
e, atingida essa finalidade, serão gerados os efeitos jurídicos programados na
lei, desde que o ato tenha sido praticado em respeito à forma legal. Nesse
sentido, a forma legal do ato proporciona segurança jurídica às partes, que
sabem de antemão que, praticando o ato na forma que determina a lei,
conseguirão os efeitos legais programados para aquele ato processual.
O princípio da instrumentalidade das formas, ainda que a formalidade
para a prática do ato processual seja importante em termos de segurança
jurídica, visto que garante à parte que a respeita a geração dos efeitos
programados por lei não é conveniente considerar o ato nulo somente porque
praticado em desconformidade com a forma legal. O essencial é verificar se o
desrespeito à forma legal para a prática do aro afastou-o de sua finalidade,
além de verificar se o descompasso entre o ato como foi praticado e como
deveria ser praticado segundo a forma legal causou algum prejuízo.
Registre-se que a aplicação do princípio ora analisado independe da
natureza da nulidade, alcançando tanto as relativas quanto as absolutas.

5.9) Princípio da razoável duração do processo


As partes têm direito de obter em prazo razoável a solução integral do
processo, incluída a atividade satisfativa. Não se deve confundir duração
razoável do processo com celeridade.

5.10) Princípio da cooperação


Exigisse que TODOS OS SUJEITOS do processo cooperem entre si
para que se obtenha a solução do processo com efetividade e em tempo
razoável. Como o dispositivo prevê a cooperação como dever, é natural que o
desrespeito gere alguma espécie de sanção, mas não há previsão nesse
sentido no dispositivo ora analisado.

5.11) Princípio da Boa-fé


Agir com boa-fé significa preservar dois valores PREVISIBILIDADE E
CONFIANÇA.
A boa-fé independe do elemento anímico. A cerificação de violação da
boa-fé é objetivo.

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