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PENTECOSTALISMO

17 Razões Porque Deixei O Movimento De Línguas

ALFRED H. POHL

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ÍNDICE

Introdução -------------------------------------------------------- 3
Dois Extremos ---------------------------------------------------- 6
Histórico Pessoal ------------------------------------------------- 7
Razão 1 ------------------------------------------------------------ 9
Razão 2 ----------------------------------------------------------- 12
Razão 3 ----------------------------------------------------------- 20
Razão 4 ----------------------------------------------------------- 25
Razão 5 ----------------------------------------------------------- 29
Razão 6 ----------------------------------------------------------- 34
Razão 7 ----------------------------------------------------------- 36
Razão 8 ----------------------------------------------------------- 38
Razão 9 ----------------------------------------------------------- 42
Razão 10 ---------------------------------------------------------- 46
Razão 11 ---------------------------------------------------------- 53
Razão 12 ---------------------------------------------------------- 56
Razão 13 ---------------------------------------------------------- 58
Razão 14 ---------------------------------------------------------- 62
Razão 15 ---------------------------------------------------------- 69
Razão 16 ---------------------------------------------------------- 72
Razão 17 ---------------------------------------------------------- 75

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INTRODUÇÃO
Após um culto certa noite, um irmão cristão, pastor no Movimento
Pentecostal, aproximou-se de mim e perguntou: “Poderia dizer-me
numa sentença ou duas por que deixou o Movimento Pentecostal?” Ele
estava pedindo uma impossibilidade! Como poderia eu condensar tudo
que estava envolvido numa decisão tão importante, revolucionária para
a vida, numa ou duas sentenças? Deixei por uma série de razões, e
simplesmente dar uma listagem dessas razões sem uma boa explicação
respaldada pelas Escrituras cumpriria muito pouco e na verdade
resultaria em mal-entendidos.
Neste testemunho proponho-me não só a alistar algumas das principais
razões por que saí ou não estou hoje no Movimento de Línguas, mas
também ampliar a exposição de cada uma, pelo menos em certa
medida, segundo o espaço permita. Referências aos ensinos sobre
línguas do pentecostalismo e evangelho pleno serão maiores do que às
igrejas pentecostais tradicionais, conquanto haja muitos pontos de vista
e doutrinas diferentes entre as denominações que adotam tais
princípios. Nem todos no movimento de línguas concordam quanto às
doutrinas do Espírito Santo.
Alguns perguntam por que deixei o trabalho pastoral para dedicar-me a
um ministério de viagens especializado em ensinar a doutrina do Espírito
Santo: em grande medida o meu ministério agora envolve mensagens
advertindo o povo de Deus. Justifica-se isso? Seria algo amorável falar
sobre este assunto quando sentimentos são tão delicados nessa área? Em
resposta, sugiro, para sua consideração, as seguintes três razões:

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1. O MINISTRO DE DEUS DEVE ANUNCIAR TODO O CONSELHO DE DEUS
Em Atos 20:20 e 27 Paulo declarou: “Porque jamais deixei de vos
anunciar todo o desígnio de Deus”. Creio pessoalmente que, em grande
escala, a falha da parte de ministros fundamentalistas e não-
pentecostais em ensinar e pregar ousada e claramente a verdadeira
doutrina do Espírito Santo ao nosso povo: a) tem sido injusta e carente
de amor a nossas congregações; b) tem em muitos casos resultado
nesses mal-orientados irmãos serem enredados por falsos ensinos; c)
tem contribuído para dividir ou abalar igrejas, etc. Permitam-me
perguntar: por que não deveríamos ensinar as doutrinas nas quais
cremos em nossas próprias igrejas? Não devemos isso ao nosso povo,
bem como àqueles que poderiam considerar filiar-se a nossas igrejas?
Isso poderia poupar muita dor de coração para todos os envolvidos mais
adiante. Certamente, não devemos ensinar com malícia, mas em amor
(Ef 4:15). Mas a falha em oferecer o correto ensino sobre o Espírito
Santo para evitar sentimentos feridos agora ou temer o fanatismo não
irá levar nosso povo a crescer “em tudo naquele que é o cabeça, Cristo”
(Ef 4:15). Este ficará despreparado para os ventos de falsas doutrinas
que possam soprar com vigor sobre o terreno.

2. A COISA MAIS AMORÁVEL QUE UM MINISTRO DE DEUS PODE FAZER É


TANTO PROCLAMAR QUANTO DEFENDER A VERDADE DA PALAVRA DE
DEUS.
Este não é somente o meu direito, mas também minha obrigação! Eu,
como embaixador de Deus, sou responsável por ensinar o povo de Deus.
Deixar de fazê-lo pode resultar em que alguns sejam desviados. Quem
receberá a culpa?

3. UM VERDADEIRO MINISTRO DA PALAVRA DEVE TER, JUNTAMENTE


COM O TEMA DE EXALTAÇÃO A CRISTO, UMA NOTA DE ADVERTÊNCIA.
Foi o que Paulo fez. Em Atos 20:31, falando aos anciãos efésios, ele
disse:
“Portanto, vigiai, lembrando-vos de que por três anos, noite e dia, não
cessei de admoestar, com lágrimas, a cada um”. Novamente, em
Colossenses 1:28 ele disse: “A quem anunciamos [ou seja, Cristo],
admoestando a todo o homem, e ensinando a todo o homem em toda a
sabedoria; para que apresentemos todo o homem perfeito em Jesus
Cristo”.

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Uma nota de advertência é parte importante da mensagem do ministro
de Deus. Não é fácil nem agradável, mas é essencial. Se eu souber que a
ponte adiante na estrada foi tragada pela enchente e vejo você
seguindo rumo ao perigo, que tipo de amigo seria se simplesmente lhe
sorrisse, gesticulasse com a mão e gritasse, “tenha um bom dia”?
Precisamos advertir porque amamos a Deus, o Seu povo e a Palavra de
Deus!
Desejo tornar claro que não sou um cruzado contra o movimento
carismático. Em vez disso, se assim permite que me expresse, um
militante pela Verdade. Creio que, onde quer que as Escrituras deixem
clara a verdade em contraste com o erro, precisamos tomar nossa
posição pela autoridade final da Palavra de Deus. Isso eu tive que fazer,
com grande custo para minha própria vida. Não sou contra as pessoas
adeptas das línguas, conquanto não possa concordar com os seus
ensinos. Mas prontifico-me a ajudá-las e aqueles que estão confusos e
inseguros quanto ao que Deus realmente tem para si segundo a Sua
vontade expressa nas Escrituras. Creio que o Senhor conduziu-me a este
caminho a fim de que, conhecendo por experiência pessoal as
armadilhas e problemas envolvidos, eu possa ser capaz de ajudar e
ministrar a outros que se encontrem em circunstâncias semelhantes.
É meu desejo também ajudar muitos a um reconhecimento do que a
verdadeira vida cheia do Espírito realmente seja. Creio que nós, no
movimento de línguas, cometemos um sério erro em dar tanta ênfase
sobre o falar em línguas, de tal modo que passamos por algo muito
importante. Estando tão ocupados com o que consideramos ser a
evidência de ser cheio do Espírito, como seja, o falar em línguas,
perdemos em grande medida o sentido e significado da vida cheia do
Espírito segundo a Escritura. Minha preocupação é com essa genuína
vida cheia do Espírito que tanto desejo ver vivenciada pelo povo de Deus
hoje, e estou certo de que muitos leitores compartilham desta
preocupação comigo.

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DOIS EXTREMOS
Há dois extremos, creio, que temos de evitar: Primeiro, quando não há
fogo numa igreja fria e formal; e, em segundo lugar, quando há um fogo
incontrolável na igreja. Qual dessas duas situações representa maior
perigo? Certamente a frieza e formalismo sem vida não produz frutos e
vida.
Mas, por outro lado, pensem no dano e reprovação produzida por um
tipo desequilibrado, extremista e fanático de atividade eclesiástica.
Uma boa regra a seguir é: “EVITE OS EXTREMOS”!
Em 1 Coríntios 14:26 nos é dito: “Seja tudo feito para edificação”, e no
verso 40 lemos: “Tudo, porém, seja feito com decência e ordem”. Eu
conheço algo do extremo do “fogo incontrolável” e sei que danos pode
causar.
Mas é também perigoso resvalar para o extremo do demasiado
formalismo e frieza. Lembremo-nos de que somos os detentores da vida
eterna. Nós crentes em Cristo temos essa “vida abundante” da qual
Cristo fala em João 10:10. Que sejamos aqui lembrados de que há uma
vida plena do Espírito e pelo Espírito controlada que é real, genuína,
escriturística, que cada um de nós, que somos crentes, deveríamos
conhecer em nossas atividades e experiências do dia a dia (Ef 5:18).
Muitos hoje estão questionando e desejando maior profundidade e
realidade em seu viver cristão. Isso é apreciável! Ao perceberem a
frieza e talvez pouca ênfase sobre a vida cheia do Espírito em suas
igrejas, começam a indagar-se se a resposta não poderia estar com o
Movimento Carismático.
É para corresponder a tais necessidades que estou dirigindo o meu
ministério agora, segundo o Senhor capacita.
Quem sabe eu poderia neste ponto sugerir brevemente a solução para
esse problema? (Ampliarei isto mais pelo fim deste livro). A resposta
para estes cristãos não se encontrará no fanatismo, mas num correto
entendimento do ensino bíblico sobre a doutrina do Espírito Santo e Sua
operação no crente e na igreja. Tudo de que precisamos já temos
potencialmente na HABITAÇÃO NO ÍNTIMO do Espírito Santo. Agora,
depende de nós apropriarmos-nos desse Espírito ou submeter-nos ao Seu
ministério em nós e por nosso intermédio.
A resposta, repito, não se acha no extremo de fanatismo ou “fogo
incontrolável”.

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HISTÓRICO PESSOAL
Para um breve histórico de minha história pessoal no Movimento de
Línguas:
Pertencia à Igreja Apostólica do Pentecostes do Canadá. Fui nela criado
desde a infância, fui nela salvo e batizado, nela ordenado e nela
preguei, lecionei em nossa Escola Bíblica por cinco anos, e fui o
secretário-missionário de nossa denominação por cinco anos--durante os
quais visitei e falei em quase todas as nossas igrejas pelo Canadá.
Apreciava plenamente o meu trabalho e responsabilidades na escola
bíblica, lecionar a Palavra de Deus para jovens e entusiasmados
estudantes. Juntamente com outros temas bíblicos eu ensinava Missões.
Eu lecionava durante os meses de inverno e no verão viajava e
ministrava nas várias igrejas e acampamentos no interesse de missões.
Meu coração estava em missões e eu amava o trabalho. Tive a alegria de
ver um bom número de nossos estudantes e outros responderem ao
chamado missionário e depois enviá-los para campos de trabalho.
Sentia-me completamente satisfeito e, aparentemente, havia
encontrado o meu “nicho “na vida e na obra do Senhor.

Mas por que, então saí?


Primeiro me esforçarei em alistar as razões principais, depois detalharei
uma a uma. Contudo, será impossível considerar cada razão plenamente
no escopo deste testemunho.

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DEIXEI O MOVIMENTO DE LÍNGUAS EM RAZÃO:

1. De sinceras convicções com respeito à suas doutrinas, ênfases e


práticas.
2. De uma base bíblica defeituosa para sua doutrina do Espírito Santo.
3. De uma exagerada ênfase sobre um dom do Espírito Santo.
4. De uma deficiência de ênfase de outras doutrinas.
5. De sua orientação à “experiência”.
6. Do solapamento da personalidade do Espírito Santo.
7. Do orgulho espiritual e desunião produzida por sua doutrina.
8. Do ensino de que o falar em línguas é um sinal de espiritualidade, e
mesmo de salvação.
9. Da busca por sinais, em vez de fé.
10. De atividades questionáveis praticadas ou toleradas.
11. Do temor de questionar as chamadas atividades do Espírito Santo.
12. Do ponto de vista de que a igreja coríntia era uma igreja modelar.
13. Do perigo de reivindicar revelação extra-bíblica.
14. Dos excessos e práticas enganosas toleradas em campanhas de cura
divina.
15. Da tendência à devoção cega e inquestionável a líderes populares.
16. Da possibilidade de que o Movimento Carismático seja
instrumentalidade em produzir a profetizada igreja ecumênica dos
últimos dias.
17. De sua distorção da verdadeira vida plena do Espírito.

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RAZÃO 1:
SINCERAS CONVICÇÕES CONCERNENTES À SUAS DOUTRINAS, ÊNFASES,
E PRÁTICAS
Como eu disse antes, sentia-me contente e feliz em meu trabalho e
posição no Movimento, sentia-me em casa na comunhão em que cresci,
era aceito e apreciado, sem ter qualquer pensamento de deixá-lo em
absoluto. Mas, conforme lecionava minhas aulas na Escola Bíblica, e era
confrontado com perguntas sérias e difíceis de estudantes inquiridores,
fui conduzido a um estudo mais profundo das Escrituras. Gradualmente
tornei-me cônscio de sérias deficiências e discrepâncias em nossas
doutrinas, ênfases e práticas. Eu discutia algumas dessas questões
perturbadoras com alguns de nossos irmãos que também questionavam
certas coisas. Alguns também finalmente abandonaram o Movimento,
mas outros sem dúvida sentiram que o preço de sair seria muito
elevado. E foi um preço elevado, como descobri mais tarde. Eu não
tinha quaisquer motivos ulteriores para sair, posso lhes assegurar!
Os fundamentalistas e pessoas que não se ligam a línguas não se
dispunham a aceitar-nos de braços abertos! Eu não tinha nenhum
chamado de igrejas para pastorear nem posições eclesiásticas rendosas.
Pelo contrário, estivemos numa espécie de “terra-de-ninguém” por
cerca de sete anos. Deixamos o pessoal de línguas, sendo considerados
por alguns como “traidores”, e o pessoal não ligado a línguas não
parecia seguro de que nos desejavam ou podiam confiar em nós. Foi um
período muito solitário, pois naqueles dias (1950) o abismo entre os
fundamentalistas e os pentecostais era muito largo. Hoje, em muitas
igrejas e denominações, não há praticamente abismo nenhum, com
resultante confusão doutrinária e falta de um claro ensino sobre a
doutrina do Espírito Santo.
O DILEMA
Por fim confrontei-me com um problema: Podia eu ensinar algo que
minha denominação sustentava, mas que eu chegara a ver não estar em
harmonia com as Escrituras? Poderia ensinar algo como verdade e
desorientar aqueles estudantes confiantes, quando eu próprio não cria
naquilo?
Por fim eu tive que tomar uma decisão. Que direção tomaria? Não podia
ensinar algo em que não cria. Não podia enganar outros. Ensinar algo
que agora via nas Escrituras ser contrário às doutrinas da denominação
seria muito anti-ético. E, além disso, o pensamento da prestação de
contas diante de Tribunal de Cristo tinha que ser levado em conta. Eu

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não podia prosseguir.
No encerramento do ano escolar minha esposa e eu deixamos a escola,
minha posição de missionário-secretário, e a denominação da forma
mais serena como pudemos. Nosso objetivo não era causar problemas,
nem prejudicar ou causar dano, mas sair e encontrar uma comunhão
onde pudéssemos servir, ensinar e pregar o que estávamos começando a
ver nas Escrituras, e desligar-nos dos métodos e práticas que agora
sentíamos ser antibíblicos. Deus nos deu a graça de fazê-lo desse modo,
e somos-Lhe gratos por isso! Muita coisa altamente anti-ética era feito e
está sendo feito em nome de Cristo hoje. Isso não devia ser assim!
Muitos descrentes revelam maior ética do que alguns cristãos! É uma
vergonha! Se um cristão não concorda com as doutrinas de sua igreja,
não deve assumir o papel de solapar essa igreja ensinando coisas
contrárias de modo disfarçado. Se não puder fazê-lo, então, creio, ele
(ou ela) deve ser suficientemente ético para sair sem alarde e encontrar
uma comunhão em que se ajuste. Mas não dividamos igrejas!
Neste ponto gostaria de dizer algo sobre “divisionismo” que é
característico de alguns carismáticos. Por que empenhar-se em assumir
a posse ou dividir igrejas, tudo em nome do Senhor, mas não para a
glória do Senhor? Quanta dor de coração, luta e ira é gerada nessas
tentativas que deviam ter o objetivo de acarretar um resultado
espiritual, quando na verdade o resultado de fato é frequentemente
carnalidade coríntia e tragédia.
A admoestação de Efésios 4:3 ainda tem força para hoje: “Procurando
guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz”.
Quase qualquer um pode perturbar, despedaçar ou dividir uma igreja, o
que geralmente não é difícil de se conseguir, mas é a verdadeira
operação do Espírito Santo que a mantém unida. E você, cristão, tem a
responsabilidade bíblica de trabalhar pela unidade e harmonia da igreja!
Você está trabalhando nisso?
Recentemente estive numa igreja que se achava quase dividida ao meio
dada a introdução de ensinos carismáticos, com as resultantes facções e
disputa. Foi de partir o coração ver a divisão e devastação causadas,
não pelo Espírito Santo, pois Ele não atua pela divisão e luta, mas o
rompimento foi resultado da obra de nosso inimigo, Satanás!
Por outro lado, um cristão não ligado a línguas que freqüente uma igreja
que promova línguas precisa ser ético também! Se não puder concordar,
que vá para outra parte em lugar de suscitar disputa dentro da igreja.
Digo, pois, irmãos, sejamos cuidadosos e éticos! Deus terá a cada um de

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nós responsável se destruímos, dividimos ou causamos desunião na
igreja. É uma questão perigosa “mutilar a Noiva de Cristo”! Tomem
cuidado! Quem ousa pôr as mãos sobre o corpo de Cristo--a Igreja?
(logicamente, estou aqui me referindo a uma igreja que
verdadeiramente crê na Bíblia). Creio que haverá séria chamada para
prestação de contas no Tribunal de Cristo nesse sentido. Novamente,
sejamos cuidadosos e éticos!
Quando deixamos o Movimento de Línguas, eu havia proferido esta
oração: “Senhor, não permite que eu me torne amargo contra meus
irmãos”! Eu sabia que a tendência natural seria reagir quando fosse
acusado de motivos inconfessáveis ou de negar o Espírito Santo ou
outras acusações desagradáveis. Mas agradeço ao Senhor por Ele ter tão
maravilhosamente respondido essa oração! À luz do Tribunal de Cristo
sou grato de que o Espírito Santo pôs essa oração em meu coração.

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RAZÃO 2:
FALTA DE BASE BÍBLICA PARA SUA DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO
O pessoal de línguas edifica sua doutrina do Espírito Santo em grande
parte no livro de Atos e em 1 Coríntios capítulos 12-14. A ênfase recai
sobre Atos e me recordo de meu próprio ministério baseado nesse livro,
no qual eu formulava doutrina sem reconhecer que se tratava de um
livro histórico, um registro do início da Igreja, e não basicamente um
livro de doutrina, como são as Epístolas.
Meu primeiro ponto, então, neste tópico é:
FORMULANDO A DOUTRINA NO LIVRO DE ATOS
No estudo do livro de Atos o estudante cuidadoso deve reconhecer
várias características importantes do livro. A menos que o faça pode
terminar com doutrinas estranhas, peculiares e errôneas, o que, de
fato, muitos têm feito.
Considerem comigo as quatro características seguintes de Atos que
denominei “Chaves Para um Apropriado Entendimento do Livro de
Atos”:
1. Trata-se basicamente de um livro histórico, não um livro
doutrinário como as Epístolas.
2. É um livro que registra a transição do Velho para o Novo
Testamento, da Era da Lei para a Era da Graça--a Era da Igreja.
3. É um livro que registra os início da Igreja.
4. É um livro que primariamente se centraliza em torno dos
apóstolo de Cristo--é de fato “os Atos dos Apóstolos”.
Meus comentários sobre cada uma dessas quatro chaves devem
necessariamente ser breves aqui.
Contudo, os que desejem um estudo ampliado podem solicitar um jogo
de fitas intitulado “The Four Group Recepções of the Holy Spirit in the
Book of Atos”. [Não traduzido]

CHAVE 1: ATOS É, BASICAMENTE, UM LIVRO HISTÓRICO, E NÃO


DOUTRINÁRIO.
Por outro lado, as Epístolas foram escritas primariamente para revelar e
ensinar a doutrina da Igreja. É perigoso, portanto, começar a formular

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nossas doutrinas sobre ocorrências históricas em Atos porque a) há uma
possibilidade muito real de que interpretemos mal as ocorrências
registradas. Obviamente, é isso que, exatamente, está sendo feito, pois
temos tantas diferentes interpretações, todas derivadas do mesmo livro
de Atos; b) Em vista de que Atos é um livro de transição e dos inícios da
Igreja, a plena revelação da verdade da Igreja ainda não está ali
registrada ou revelada. Isso se dá nas Epístolas.
Nas Epístolas temos o “desabrochar pleno” da revelação do Novo
Testamento ou da verdade da Igreja. Que isso assim é, permitam-me
recordar uma declaração muitas vezes repetida por Paulo, “eis que vos
digo um mistério”. O que ele quis dizer por “mistério”?
Obvimente, era uma verdade neotestamentária não revelada mesmo em
Atos, mas que estava sendo revelada nas Epístolas. Ver 1 Coríntios
15:51-52; Efésios 3:1-6, etc. Devemos ser muito cuidadosos, então, para
considerar os eventos no livro de Atos sob a luz plena das Epístolas para
guiar-nos na formulação de nossas doutrinas.
CHAVE 2: ATOS É UM REGISTRO DA TRANSIÇÃO DO VELHO PARA O
NOVO TESTAMENTO, DA ERA DA LEI PARA A ERA DA IGREJA.
A menos que este fato seja reconhecido, atraímos a possibilidade de
interpretação errada. Quando eu ensino o livro de Atos, geralmente
sugiro sete razões porque deve ser considerado um livro de transição.
Permitam-me assinalar duas ou três razões aqui brevemente
apresentando as seguintes perguntas:
Primeiro, deve um crente na Era da Igreja ser batizado antes ou depois
de receber o Espírito Santo? Em Atos 8:12-17 e 19:5-6 lemos que eles
foram batizados antes de terem recebido o Espírito Santo. Mas em Atos
10:44-48 foram batizados depois. Ambas as práticas estão registradas
em Atos. Qual é a correta?
Em segundo lugar, deve um crente ser batizado nas águas mais de uma
vez? Em Atos 19:3-5 lemos que os doze homens em Éfeso que já haviam
sido batizados foram rebatizados sob o ministério de Paulo. Por quê?
Deve ser essa a prática normal ao longo da Era Cristã? Ou devemos aqui
reconhecer uma transição--de crentes do Velho Testamento adentrando
a Era Cristã, vindo para a Igreja? Ao lermos Atos 19:1-7 cuidadosamente,
descobrimos que aqueles doze homens foram discípulos de João Batista
na sua transição de passagem a integrar a Igreja.
Paulo reconhece a transição, ou, doutro modo, por que ele os batizou
novamente? Não teria sido porque reconheceu que o primeiro batismo
deles nas águas não foi um batismo válido para crentes na Era Cristã,

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para “cristãos”?
CHAVE 3: ATOS É UM REGISTRO DOS PRIMÓRDIOS DA IGREJA
Considerem isto: Primeiro, Deus estava introduzindo um novo plano e
programa, e formando uma nova corporação, a Igreja, que não existia
no Velho Testamento mas teve seu início em Atos.
O que ocorreu no Pentecostes (Atos 2), Samaria (Atos 8), Cesaréia (Atos
10), e Éfeso (Atos 19), não é um avanço na velha corporação, ou seja, o
corpo de crentes veterotestamentários, mas, o começo da nova
corporação, a Igreja.
Em segundo lugar, eventos inaugurais geralmente são singulares,
ocorrências que se dão uma só vez e não são necessariamente repetidos
depois. Tal como o início da Era da Lei no Monte Sinai (Êxo. 9:16-18),
houve alguns eventos incomuns que não se repetiram novamente, de
modo que podemos esperar que certos eventos singulares e incomuns
que ocorreram no início da Era da Igreja, não deviam ser duplicados ao
longo de toda a Era da Igreja.
Em terceiro lugar, eventos que se passaram na inauguração da Igreja
não têm necessariamente que ser adotados como padrão permanente
para o ministério do Espírito Santo ao longo da Era da Igreja.
CHAVE 4: ATOS É UM LIVRO QUE SE CENTRALIZA PRIMARIAMENTE
SOBRE OS APÓSTOLOS DE CRISTO.
Notem o título, “Os Atos dos Apóstolos”.
Nele, o Espírito Santo descreve a proeminência, a importância, e a
autoridade daqueles homens que foram especialmente escolhidos pelo
Senhor para pessoalmente O representarem na obra de completar o
estabelecimento dos alicerces da Igreja. Isso é claramente expresso em
Efésios 2:20: “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos
profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina”.
O Senhor Jesus havia começado a fundação da Igreja, mas deixou a obra
de completar essa tarefa àqueles homens escolhidos aos quais
concedeu, não somente grande responsabilidade, mas também grande
autoridade e poder.
Aos apóstolos, e àqueles a quem esses autorizaram, foram dadas
credenciais, sinais confirmadores, os mesmos sinais confirmadores que o
próprio Cristo teve, para capacitá-los a completarem a fundação da
Igreja que, logicamente, tem que ver com o seu princípio. Ou seja, é
sobre isso que Paulo está falando em 2 Coríntios 12:12: “Os sinais do

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meu apostolado foram manifestados entre vós com toda a paciência, por
sinais, prodígios e maravilhas”. Ver também Hebreus 2:3-4: “Como
escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação, a
qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois
confirmada pelos que a ouviram; Testificando também Deus com eles,
por sinais, e milagres, e várias maravilhas e dons do Espírito Santo,
distribuídos por sua vontade?”
PERGUNTA: Se todo cristão deve realizar “sinais, prodígios, atos
poderosos”, então onde e quais são os “sinais de um apóstolo” sobre
que Paulo está falando? Portanto, percebam: sinais especiais
credenciadores foram concedidos aos apóstolos para estabelecer os
fundamentos da Igreja. Esses “sinais, prodígios, atos poderosos” visavam
aos inícios ou inauguração da Igreja e não a serem o padrão normal ao
longo de sua história. Contudo, muitos estão se empenhando em
duplicar essas coisas hoje, as coisas que pertenciam aos apóstolos e aos
primórdios da Igreja.
Ao concluir esta seção, permitam-me repetir que devemos ser
cuidadosos quanto ao estabelecimento de nossas doutrinas em Atos
porque é um livro histórico e não basicamente um livro de doutrinas.
Devemos reconhecer o seu caráter transicional e também que se trata
do registro dos primórdios da Igreja no que Deus empregou apóstolos
especialmente escolhidos e habilitados para completarem a fundação da
Igreja. Portanto, devíamos entender os eventos registrados em Atos à
luz do “desabrochar pleno” da revelação divina como nos foi dada nas
epístolas doutrinais. Para uma consideração de 1 Coríntios 12-14,
tecerei comentários sob a RAZÃO12 mais adiante nestes estudos.
O ENSINO DA EXPERIÊNCIA EM DOIS ESTÁGIOS
Outro erro doutrinário, como agora percebo, geralmente admitido pelo
pessoal de línguas, e isso também em grande medida baseado em Atos,
é sobre a experiência em dois estágios. Ou seja, que num ponto “A” do
tempo você foi salvo, e daí, num ponto “B”, mais cedo ou mais tarde, se
jamais se der, você experimenta o batismo do Espírito Santo, falando
em línguas como evidência. Esse ponto de vista deixa de levar em conta
o seguinte:
1. No Velho Testamento, os crentes não recebiam o Espírito Santo e não
eram por Ele imbuídos como nós cristãos agora na Era da Igreja (1 Cor.
6:19- 20). Os crentes do Velho Testamento que entravam na Igreja em
Atos não estavam experimentando uma “segunda bênção”, mas, de fato
uma “primeira”, no que concerne à Igreja ou ao Corpo de Cristo. Não
estavam avançando no velho Corpo, mas entrando num novo Corpo, a

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Igreja.
2. A experiência de salvação normal da Era da Igreja envolve o
recebimento do Espírito Santo no momento em que se crê em Cristo, e
até que tenha recebido o Espírito Santo a pessoa não pertence a Cristo e
a Seu Corpo (Rm 8:9).
3. As recepções do Espírito Santo dos quatro grupos, registradas em Atos
(capítulos 2, 8, 10, e 19) envolvem a experiência de recebimento do
Espírito Santo na Era da Igreja para nela habitar e no crente individual,
e não uma segunda, pois antes do Pentecostes, o Espírito Santo não
havia sido dado ainda (ver João 7:37-39).
Nós [na igreja pentecostal] nos empenhávamos em apoiar esse ensinos
da experiência em dois estágios do livro de Atos. Contudo, um estudo
detido de Atos demonstrará que esse ponto de vista é errado.
Novamente, o tempo não me permite aqui entrar em detalhes, mas
farei referência a uma passagem-chave que empregam
costumeiramente, e que eu próprio empregava para provar esse ensino
da experiência em dois estágios.
É Atos 19:1-7. Por favor, tomem tempo para ler esta porção bíblica
antes de prosseguir:
“E sucedeu que, enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo, tendo
passado por todas as regiões superiores, chegou a Éfeso; e achando ali
alguns discípulos, disse-lhes: Recebestes vós já o Espírito Santo quando
crestes? E eles disseram-lhe: Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito
Santo. Perguntou-lhes, então: Em que sois batizados então? E eles
disseram: No batismo de João. Mas Paulo disse: Certamente João
batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse
no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. E os que ouviram
foram batizados em nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes Paulo as
mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e
profetizavam. E estes eram, ao todo, uns doze homens”.
PERGUNTA: Esses homens haviam sido “salvos” no sentido
neotestamentário normal da palavra antes que Paulo os tivesse
encontrado, e agora, sob o ministério de Paulo, estariam
experimentando uma “segunda bênção”, um batismo ou recebimento do
Espírito Santo?
Ou foi esse um primeiro encontro com o prometido Consolador, o
Espírito Santo?
Por favor, considerem isto:

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1. Esses homens eram discípulos de João Batista (versos 3-4) e
estavam saindo do Velho Testamento, entrando na Era da Igreja.
Lembrem-se que os crentes do Velho Testamento não receberam o
Espírito Santo. Assim, esses homens, conquanto crentes no que concerne
ao ministério de João Batista, não tinham ainda recebido o prometido
Consolador (João 14:16-18), e indicaram isto no verso dois quando
disseram: “Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo”. Esta
certamente não é linguagem de nenhum cristão neotestamentário!
Obviamente eles não tinham informação da vinda do Espírito Santo no
Pentecostes, etc.
2. Notem a avaliação de Paulo de sua condição espiritual.
Ele aparentemente sentiu alguma falta nesses “discípulos”, daí que fez
a pergunta:
“Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes?” O termo grego aqui
não indica um lapso de tempo entre o crer e o receber. Mas com esta
pergunta, Paulo está sondando se eles eram crentes neotestamentários
que haviam recebido o Espírito Santo ou se ainda eram santos
veterotestamentários mal informados. É por isso que Paulo lhes
respondeu como fez no verso 4:
“João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que
cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo”.
Como podem ver, eles ainda estavam do outro lado da cruz e do
Pentecostes em sua experiência. E, ademais, Paulo reconheceu este
fato permitindo-lhes serem agora batizados como cristãos na Era da
Igreja.
Dizer, portanto, que esses homens eram “salvos” antes de seu encontro
com Paulo e depois receberam o Espírito Santo aqui como uma “segunda
bênção” está longe de ser a verdade. Tenho um folheto publicado pela
Gospel Publishing House, Springfield, Missouri, EUA, que contém esta
declaração: “Os doze homens em Éfeso eram pessoas salvas--
„discípulos‟--mas não tinham recebido o Espírito Santo”.
Que conclusão equivocada! Contudo, tenho de admitir que eu próprio
outrora pregava dessa maneira.
Uma PERGUNTA final: Se esses homens fossem cristãos salvos antes de
se terem encontrado com Paulo, e não tinham ainda recebido o Espírito
Santo, à luz do ensino da Epístola, como encontramos em Romanos 8:9:
“Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de

17
Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse
tal não é dele”, onde então se situavam eles espiritualmente?
Obviamente, então, esse décimo nono capítulo de Atos não pode ser
usado honestamente como prova do ensino de uma experiência de
“segunda bênção” como algo a ser normal para a Era da Igreja.
O ENSINO DE QUE O BATISMO E O RECEBIMENTO DO ESPÍRITO SANTO
SÃO SINÔNIMOS
Outro ensino em que a maioria do pessoal de línguas erra é de que o
batismo e o recebimento ou a obtenção da plenitude do Espírito são
uma coisa só e a mesma. Mas esses são dois ministérios do Espírito Santo
diferentes e separados. O que se segue é de uma brochura promocional
de uma igreja pentecostal que vi na Colúmbia Britânica (Canadá) em
1978: “O batismo no Espírito Santo é também chamado por outras frases
sugestivas--„Repleto com o Espírito Santo,‟ „o dom do Espírito foi
derramado,‟ „a Promessa do Pai,‟ „O Espírito Santo veio sobre eles,‟
„Dotação do alto”. Essa falha em distinguir entre batismo e plenitude,
bem como entre outros ministérios e as atividades do Espírito Santo tem
resultado em muita confusão. O batismo do Espírito é referido em 1
Coríntios 12:13 como colocando-nos no Corpo de Cristo--a Igreja. Ali
lemos: “Pois em um só Espírito todos nós fomos batizados em um
corpo”. Este é um evento único que não se repetiria e tem lugar na
conversão. Mas o enchimento com o Espírito Santo não é um evento
singular, antes pode repetir-se vez após vez. Ver Atos 4:8, onde se diz
que Pedro é cheio com o Espírito Santo conquanto fosse cheio do
Espírito no Pentecostes em Atos 2. Em Atos 4:31 vemos todo o grupo da
Igreja novamente sendo cheio.
Esse enchimento do Espírito Santo é referido em Efésios 5:18, onde nos
é dito: “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas
enchei-vos do Espírito”. Eruditos do grego nos informam que a frase
“ser cheio do Espírito Santo” de fato significa “estai constantemente
sob o controle do Espírito”. O enchimento ou plenitude, pois, não é
apenas uma experiência de somente uma vez na vida, mas uma vida
diária constantemente submetida ao controle do Espírito Santo, de
modo que as palavras „cheio‟ ou „plenitude‟ assumam o sentido de
„pleno controle‟ pelo Espírito Santo.
Por outro lado, o batismo é uma inserção única no Corpo de Cristo, para
não ser repetida. Não podemos dizer que esses dois ministérios do
Espírito Santo sejam idênticos. Uma pessoa pode ser batizada com o
Espírito, mas não ser cheia; contudo, não pode ser cheia sem ser
batizada com o Espírito.

18
Algumas pessoas do Movimento de Línguas também ensinam que há dois
batismos no Espírito, um em Cristo, por ocasião da conversão, e um
segundo no Espírito Santo como uma experiência subseqüente. Esse
ensino, entretanto, está em direta contradição com a clara afirmativa
de Paulo de que há somente um batismo no Espírito--Efésios 4:5.
Considerem também o seguinte:
1. Em parte alguma no Novo Testamento lemos de qualquer cristão
experimentando o batismo no Espírito mais de uma vez, mas com
respeito à plenitude--sim! Em outras palavras, o batismo não é
repetível, mas sim sua plenitude.
2. Não há ordem em parte alguma nas Epístolas de que os cristãos
devam buscar o batismo, mas há para a plenitude (Ef 5:18).
3. Se o batismo é uma experiência subseqüente à conversão e é
tão importante como o pessoal de línguas insiste em que seja,
então não parece estranho que não haja referência em parte
alguma nas Epístolas para se buscar o batismo?
Outro ensino do pessoal de línguas deve ser mencionado aqui antes de
deixarmos esta seção, e trata-se do falar em línguas como EVIDÊNCIA
INICIAL do batismo do Espírito Santo.
Observem a frase “evidência inicial”. Eles ensinam que todos os cristãos
devem experimentar a experiência da segunda bênção do batismo ou
enchimento com a evidência acompanhante de falar em línguas. Mas
isto não se ajusta à pergunta de Paulo, “Falam todos em outras
línguas?” em 1 Coríntios 12:30, onde a resposta obviamente é, “Não”.
Para contornarem isso têm que inverter o ensino da “evidência inicial”
que mais uma vez baseia-se numa interpretação questionável de eventos
no livro de Atos e é inteiramente sem apoio das Epístolas.
Não há uma clara referência na Escritura sobre a qual possam edificar
esse ensino particular. Contudo, é tão básico para todo o seu sistema de
crença e prática.

19
RAZÃO 3:
UMA EXAGERADA ÊNFASE SOBRE UM DOM DO ESPÍRITO SANTO
Já observaram como nós humanos temos a tendência de ir a extremos?
Isso é especialmente verdadeiro em questões religiosas. Observem como
algumas doutrinas ou ensinos em particular são realçados ou exaltados
acima de outras doutrinas importantes. E muitas vezes o próprio nome
denominacional indica isto. Tomem o nome “Adventistas do Sétimo
Dia”. Esse nome fala do que estão realçando e consideram mais
importante, o “sétimo dia” (sábado) e o “advento” (retorno de Cristo).
Essas são suas posições peculiares e tornaram-se a razão para sua
existência como denominação, em primeiro lugar. Vejam outros nomes
também: Igreja da Santidade, Igreja Triunfante da Chuva Serôdia, Igreja
Batista Sinais e Maravilhas, Igreja do Evangelho Pleno, Igreja
Pentecostal, Igreja do Avivamento Bíblico, etc. Algumas dessas igrejas
tornam público por seus títulos quais são suas doutrinas peculiares e
quais, na sua avaliação, são as doutrinas e práticas mais importantes.
Enfim, foi como suas denominações tiveram início.
Essa ênfase excessiva explica em parte, pelo menos, a existência de
tantas denominações hoje. O pessoal pentecostal tem exaltado um dom
único do Espírito, qual seja, o dom de línguas, acima de todos os outros
dons e fora de toda proporção. Eles o têm exaltado num extremo não-
escriturístico. Em minha opinião, estão cometendo o mesmo erro que
Ellen G. White, do adventismo do 7o. dia, cometeu. Ela alegava ter tido
uma visão em que o quarto mandamento (o do sábado) destacava-se
acima dos demais nove, e estava circundado por um halo luminoso.
Disso concluiu que ela e sua denominação deviam reconhecer a
observância do sábado como a mensagem e doutrina de máxima
importância para a sua igreja. E é nisso que situam a sua ênfase. Para
muitos pentecostais-carismáticos, o falar em línguas tornou-se o que a
observância do sábado representa para os adventistas do sétimo dia!
Notem esta expressão de extremismo no seguinte texto:
O FALAR EM LÍNGUAS, SEGUNDO ELES, É A EVIDÊNCIA DO BATISMO OU
PLENITUDE DO ESPÍRITO SANTO
Este é o ponto de vista mantido por muitos no Movimento de Línguas,
mas nem todos o adotam igualmente. Eu tive formação de crer nisso e o
preguei.
Mas tal posição, descobri por meu estudo e observação, é insustentável.
Por quê?

20
1. Se o falar em línguas é A evidência, então todas as outras
evidências--tal como o testemunhar para Deus (Atos 4:31), e a
vida de semelhança a Cristo, e o fruto do Espírito (Gl 5:22-23)--
perdem importância.
2. Uma vez que obviamente o falar em línguas pode ser imitado, e
é, pelos pagãos, espíritas, etc., torna-se uma evidência
questionável. O engano e contrafação podem introduzir-se. Tal
pensamento por si só devia fazer-nos questionar seriamente tal
ensino.
Isto é precisamente o que me ocorreu enquanto ainda estava no
Movimento de Línguas. Como um Secretário-Missionário denominacional
estava visitando e ministrando em nossas igrejas em Ontário certo
verão. Enquanto me encontrava numa dessas igrejas, o pastor
consultou-me quanto à possibilidade de ele e sua família irem para a
Jamaica como missionários. Levei sua folha de solicitação para nossa
sede em Saskatoon, Saskatchewan [na região cento-oeste do Canadá],
onde os apresentei a nosso Concílio Missionário.
Finalmente essa família foi enviada para a Jamaica. Não muito depois
da chegada deles lá, recebi uma carta desse irmão. Parte dessa carta
assim reza:
“Por toda a Jamaica há uma classe de pessoas conhecidas como
„Pocomania.‟ Essa palavra significa „meio-louco‟. Eles crêem em toda
forma de superstições e praticam toda espécie de maldade. Sendo que
são em geral muito pobres, geralmente têm seus cultos ao ar livre. É
bastante comum ver grupos dessas pessoas tocando tambores e
cantando nas ruas e ao longo das estradas. No último domingo à noite vi
cinco grandes grupos em cerca do mesmo número de quarteirões. Com
freqüência se podem ouvir seus tambores até tarde da noite. Eles falam
em línguas e cantam nossos corinhos, e pelo fato de que isso traz grande
opróbrio sobre o verdadeiro Evangelho, torna a pregação do Evangelho
difícil”.
Fiquei chocado, particularmente com a declaração, “eles falam em
línguas”. Por toda minha vida foi-me ensinado, e eu mesmo ensinava,
que o falar em línguas é A evidência do batismo do Espírito Santo, que
todo o fenômeno de falar em línguas procedia de Deus, e agora era
informado de que os pagãos também falam em línguas! O que era isso?
Não fosse o caso de que eu conhecia o missionário pessoalmente, é
possível que nem acreditasse nele. Mas aqui estava um de nossos
próprios homens dizendo-me isso! Tal fato realmente levou-me a pensar
e investigar, somente para descobrir que muitos não-cristãos também

21
falam em línguas--feiticeiros pagãos, espíritas, mórmons, uma ala de
muçulmanos, etc.
Certa vez falei numa igreja missionária em Alix, Alberta. Durante a
mensagem mencionei o incidente acima do que se passa na Jamaica.
Quando concluí minha mensagem, um jovem das Ilhas Cook [perto da
Nova Zelândia], que estava presente na reunião aquela noite, levantou-
se e publicamente confirmou o que eu havia dito, de que os pagãos
falam em línguas na sua ilha.
Desse modo, o ensino de que o falar em línguas é A evidência do
batismo do Espírito Santo abre as portas para a possibilidade de línguas
falsas ou imitações serem aceitas como evidência genuína da plenitude
do Espírito Santo. Por outro lado, que melhor evidência há do que uma
vida transformada, um viver semelhante a Cristo que se demonstra
mediante o fruto do Espírito sendo manifesto: “Mas o fruto do Espírito
é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé,
mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei”. (Gl 5:22-23)?
Isso é difícil de imitar ou contrafazer!
Também me recordo da excitação de algumas pessoas do Movimento de
Línguas que visitaram o Templo Mórmon na Cidade do Lago Salgado,
Utah [EUA]. Contaram-me que haviam descoberto que os mórmons
também falam em línguas, e voltaram com a impressão de que deve
haver uma íntima relação entre eles, algum tipo de parentesco
espiritual! Aparentemente, se somente eles falassem em línguas, então
alguma doutrina falsa pode ser relevada! E é onde hoje jaz o grande
perigo. O moderno (novo) Movimento Carismático admite que há
faladores de línguas que não revelam um novo nascimento ou
arrependimento como os conhecemos e a Bíblia ensina.
TAMBÉM, AO PESQUISAR AS ESCRITURAS, VI QUE O DESTAQUE QUE
DÁVAMOS AO DOM DE LÍNGUAS ERA ANTIBÍBLICO
Caímos no mesmo erro em que incorreram os coríntios. Foi para corrigi-
los que Paulo escreveu sua primeira epístola. Ele não escreveu para
incentivá-los a fazer maior uso do dom de línguas, mas, em vez disso,
para corrigi-los no seu exagero e abuso desse dom. O dom de línguas é
claramente um dos menores dons. Na primeira lista de dons em 1
Coríntios 12:8-10, tal dom, com o seu dom-irmão de interpretação de
línguas, é o último na ordem. Isto também é verdade na segunda lista no
mesmo capítulo, 1 Coríntios 12:28, onde novamente aparece em último
na lista. Além disso, nas outras duas principais listas dos dons nas
epístolas--Efésios 4:11 e Romanos 12:6-8--o dom de línguas nem é
mencionado. Isso nos devia dizer algo sobre a importância relativa desse

22
dom.
Daí notem a avaliação de Paulo quanto à importância do dom de línguas
em 1 Coríntios 14:5,6:
“E eu quero que todos vós faleis em línguas, mas muito mais que
profetizeis; porque o que profetiza é maior do que o que fala em
línguas, a não ser que também interprete para que a igreja receba
edificação. E agora, irmãos, se eu for ter convosco falando em línguas,
que vos aproveitaria se não vos falasse ou por meio da revelação, ou da
ciência, ou da profecia, ou da doutrina?”
E em 1 Coríntios 14:19-20:
“Todavia eu antes quero falar na igreja cinco palavras na minha própria
inteligência, para que possa também instruir os outros, do que dez mil
palavras em língua desconhecida. Irmãos, não sejais meninos no
entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no
entendimento”.
Poderíamos acrescentar uma referência mais aqui--1 Coríntios 13:1:
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse
amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine”.
Obviamente estas passagens ensinam que o dom de línguas não é o mais
destacado dos dons, como os coríntios erroneamente pensavam (tal
como fazem muitos hoje). Foi devido a imaturidade dos coríntios em
entender isso que Paulo acrescentou o verso 20 de 1 Coríntios 14 ao
verso 19: “Irmãos, não sejais meninos no juízo...” Em outras palavras,
ele está dizendo que devem “crescer” e “amadurecer”. Com efeito,
está dizendo: “Não continuem em sua forma infantil de pensamento”.
Vejam 1 Coríntios 3:1, 2, onde ele os chama de bebês espirituais. Ele
está dizendo, “Não permaneçam num estado de incompreensão do
propósito de Deus por conceder o dom de línguas, mas, ao contrário,
creçam, amadureçam!” Ele apela a que tenham pensamento maduro e
correto, não a preocupação infantil com um dos menores dons.
Um carismático que incentivava todos a buscarem a experiência de
línguas foi confrontado com o fato de que alguns que tinham
experimentado línguas não demonstravam quaisquer mudanças básicas
em seu estilo de vida, mas ainda estavam envolvidos em práticas
pecaminosas. Ele respondeu: “Bem, se as línguas não endireitarem suas
vidas, eu não sei o que o fará”. Este é um exemplo de exaltar um dom
menor situando-o em posição de suprema importância, o que é
inteiramente antibíblico. Sejamos cuidadosos e estudemos com oração

23
as Escrituras, evitando tais erros e extremos que não glorificam a Cristo!

24
RAZÃO 4:
UMA FALTA DE ÊNFASE NAS OUTRAS DOUTRINAS, PARTICULARMENTE
A OBRA DE CRISTO NA CRUZ
A excessiva ênfase que atribuíamos a línguas resultou numa reduzida
ênfase de outras importantes doutrinas. Isso era especialmente
verdadeiro com respeito à mensagem principal e central da Igreja--a
pregação do simples e básico Evangelho de Jesus Cristo em Sua morte,
sepultamento e ressurreição (1 Co 15:1-4).
PERGUNTA 1: Existe qualquer doutrina ou mensagem que a Igreja deve
destacar acima das outras?
PERGUNTA 2: Existe perigo de tornar-nos desequilibrados, pendendo
para um lado?
Creio que a resposta a ambas as perguntas é um definido “Sim!” Isso se
torna claro quando estudamos as epístolas aos coríntios. Em sua
excessiva ênfase sobre línguas deixam de atribuir ao simples Evangelho
de Cristo o lugar de suprema importância que devia ocupar na Igreja. É
como especializar-se em minudências. Tornam-se unilaterais em
doutrina e, conseqüentemente, em prática. Este é um constante perigo
para as igrejas, mesmo em nossos dias. Temos que estar
constantemente em guarda para que não alcancemos extremos
antibíblicos.
Por exemplo, permitam-me contar-lhes o que um irmão cristão me
narrou recentemente sobre um encontro que teve com um crente nas
línguas. Esse homem disse ao meu amigo: “Irmão, você já falou em
línguas? “Meu amigo respondeu “Não”. Diante disso [o carismático]
disse-lhe: “Bem, então você não tem nada!”
Enquanto eu, quando um jovem pregador, estava ministrando no
Movimento de Línguas, fui informado um dia de que os líderes de nossa
denominação estavam criticando minha pregação. Diziam que eu estava
pregando em demasia sobre a cruz e não mencionando línguas o
suficiente! Isso me perturbou grandemente! Eu realmente desejava a
aprovação de nossos pastores e desejava fazer o que era certo. Como
vêem, cresci sob o ministério de um pastor dedicado que conhecia o
Evangelho e o realçava. Ele amava e ensinava o livro de Romanos e
assinalava a importância da cruz de Jesus Cristo e a justificação pela fé.
Agora, era-me dito para mudar minha ênfase no ministério. O que eu
devia fazer?
Uma vez mais, recorri às Escrituras. A igreja coríntia era a grande igreja

25
do dom de línguas, de modo que comecei a ler e estudar sobre a ênfase
quanto a línguas. E conforme eu lia, descobria que, conquanto eu me
achasse fora de compasso com a igreja coríntia, eu realmente não
estava fora de compasso com Paulo. Li no capítulo 1 de 1 Coríntios,
versos como o 18 e 23:
“Nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os
judeus, loucura para os gentios”.
E o verso 24 prossegue: “Mas para os que foram chamados, tanto judeus
como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus”.
E daí, quando cheguei ao capítulo 2, verso 2, li estas palavras de Paulo à
igreja de Corinto:
“Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e
este crucificado”.
Senti-me grandemente aliviado e encorajado. Eu podia estar “fora de
compasso” com meus líderes denominacionais, mas estava “em
compasso” com Paulo! Eu me encontrava em boa companhia! Pois
obviamente Paulo estava lidando com o mesmo problema que eu estava
defrontando.
Notaram onde Paulo coloca sua ênfase? Sim, ele estava determinado a
que nada, nem mesmo as línguas, tomassem o lugar da mensagem todo-
importante da cruz--o simples, porém poderoso Evangelho de Cristo!
Agora, por favor, observem as palavras “entre vós” (1 Cor. 2:2). Paulo
estava escrevendo isto à grande igreja faladora de línguas de seus dias.
(Incidentalmente, o falar em línguas não é mencionado como ocorrência
de qualquer das demais igrejas a que as epístolas foram escritas). Paulo,
se estivesse em busca de popularidade e em “sintonia” com os coríntios,
devia ter mencionado a cruz mais as línguas (talvez ele pudesse chamá-
lo de “Evangelho Pleno”), contudo não o fez! Para Paulo, a “pregação
da cruz” era de máxima importância, e nada devia desviá-lo disso. Mas
ao fazê-lo, ele se tornou um dos pregadores mais impopulares para a
igreja coríntia. Creio que sei um pouco como é isso também--“Ele prega
a cruz em demasia, e não menciona línguas suficientemente!”
Em sua segunda carta aos Coríntios, capítulo 11, versos 3-7, Paulo
novamente lembra aqueles crentes sobre a importância do simples e
básico “Evangelho de Deus” numa fé e proclamação da Igreja. Lemos no
verso 3: “Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua
astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos
sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo”. Notem em

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suas palavras, a simplicidade que há em Cristo. É, repito, a perene
tentação para uma igreja desviar-se dessa simplicidade do Evangelho e a
ele fazer acréscimos ou dele subtrair. Estejamos atentos! Paulo daí
prossegue os advertindo quanto a findar com “outro Jesus”, “outro
espírito”, “outro evangelho”. Sóbrias palavras!
Um pensamento mais: Já notaram onde Paulo situa sua definição do
Evangelho? Sim, em sua Epístola aos Coríntios, a igreja que destacava as
línguas! Mas não somente isso. Segue-se logo após seu ensino detalhado
sobre os dons, e particularmente seu tratamento do dom de línguas nos
capítulos 12-14. Encontramos a sua definição do evangelho bem no
começo do capítulo 15, vesos 1-4. Após mostrar aos coríntios o seu erro
de destacar as línguas, Paulo agora lhes fala onde deviam dar ênfase.
Notem suas palavras:
“Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho
anunciado; o qual também recebestes, e no qual também
permaneceis. Pelo qual também sois salvos se o retiverdes tal como
vo-lo tenho anunciado; se não é que crestes em vão. Porque
primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo
morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi
sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as
Escrituras”.
Percebam como ele começa: “Também vos notifico, irmãos, o
evangelho”. A palavra é também traduzida por “agora”. Paulo está
dizendo, “Agora, irmãos”. Tendo acabado de concluir o seu ensino
sobre a questão do abuso das línguas em sua igreja, ele está dizendo,
com efeito: “Tenho algo muito mais importante para vos declarar”.
Imaginem Paulo tendo que, nessas alturas, declarar o evangelho à igreja
de Corinto! Podem ver quão longe eles se desviaram do Evangelho por
sua errônea ênfase. Tornaram-se unilaterais, desequilibrados. Assim,
Paulo é forçado uma vez mais a declarar-lhes esse simples Evangelho
que lhes havia pregado quando começou sua igreja.
E a simplicidade desse Evangelho é incorporada nos três pontos cardeais
da definição de Paulo nos versos 3 e 4: “Cristo morreu por nossos
pecados. . . foi sepultado, e . . . ressuscitou ao terceiro dia!” Esse é o
evangelho que Paulo pregava, pelo qual somente são salvos os
pecadores, e que era, é e sempre será a mensagem suprema da Igreja.
Satanás tentará o máximo para deter essa mensagem. Às vezes ele
emprega o fanatismo e a ênfase errada de parte dos cristãos para atingir
os seus fins.

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Não desapontemos o nosso Senhor por não dar destaque ao Evangelho ou
por acrescentar ou subtrair dele. Pois somente ele prossegue sendo a
mensagem de Deus a um mundo perdido. Com Paulo (Rm 1:16), digamos
sempre: “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o
poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu,
e também do grego”.

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RAZÃO 5:
SUA ORIENTAÇÃO À “EXPERIÊNCIA”
Para muitos no Movimento de Línguas a experiência tomou máxima
importância, lançando o ensino escriturístico para segundo plano. A
experiência tornou-se o critério da verdade. É perigoso edificar
doutrinas sobre experiência. A Bíblia, não nossa experiência, é a última
instância de autoridade.
Lembro-me bem de uma ilustração que empregava em meus tempos no
Movimento de Línguas. Um pastor fundamentalista havia ouvido que um
garoto de cor em sua congregação estava freqüentando reuniões
pentecostais. Ele chamou o garoto à parte e advertiu-o quanto a
adquirir experiências falsas. Mas antes que pudesse terminar sua
admoestação, o rapazinho espertamente respondeu: “É tarde demais,
pastor, eu já a obtive!” Agora esta resposta, que supostamente
comprovava algum fato, que pode despertar alguns risos e améns,
realmente pode ser muito enganosa. Não prova que a “experiência” seja
genuína. Em segundo lugar, a experiência pode facilmente ser mal
interpretada e incorretamente rotulada com um nome bíblico.
Poderíamos indagar, “É essa experiência realmente o „enchimento‟
sobre o qual a Bíblia fala? Comentando sobre isto, o Dr. João F.
Walvoord declarou: “O teste final (de qualquer experiência) deve
sempre ser o que as Escrituras realmente ensinam (João Walvoord, The
Holy Spirit, Dunham Publishing Company, 1958).
Há experiência e experiência. As pessoas ouvem vozes, vêem visões,
têm sonhos, têm contatos com seres não-humanos, caem prostradas
sobre o assoalho, vêem luzes, e por aí vai. Se devemos crer e aceitar
tudo isso como genuíno e procedente de Deus, e edificar doutrina sobre
tais alegações, onde estaríamos? Como então podemos saber a verdade?
Há somente um meio, e este é provar todas as coisas com a régua das
Escrituras, não pela experiência. O erro muitas vezes cometido é ter a
“experiência” e daí tentar adequá-la às Escrituras, e encontrar um
“rótulo” para ela.
Devemos também estar muito seguros de que sabemos o que as
Escrituras realmente ensinam; doutro modo, podemos ainda ajustar
nossas experiências às Escrituras, colocar um rótulo bíblico sobre elas, e
seguir adiante atribuindo, sem saber, nossas experiências à obra do
Espírito Santo. Que isso tem sido feito e é feito ninguém pode
honestamente negar.
Algum tempo atrás li sobre alguns cristãos brasileiros que reivindicavam

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ter recebido mensagens de Deus de que deviam afogar seus filhos por
causa do terrível futuro que enfrentariam se crescessem neste mundo
atribulado. Os enganados pais assassinaram seus próprios filhos! Agora,
estou seguro de que eram sinceros e estavam convencidos de que as
vozes que ouviram procediam de Deus. Mas estavam sinceramente
enganados porque suas ações eram contrárias ao ensino da Palavra de
Deus, as Escrituras. Lembrem-se que uma experiência não prova sua
própria genuinidade! Também, nunca torçam as Escrituras para as
acomodarem a suas experiências!
Um evangelista passou várias horas discutindo e examinando o ensino
básico do Movimento Carismático à luz das Escrituras com uma senhora
carismática, somente para ouvi-la dizer: “Oh, mas minha
experiência...!” Ele então lhe perguntou: “Tomará as Escrituras ou sua
experiência?” Não houve, porém, qualquer clara resposta da parte dela.
Quando se coloca a experiência no mesmo pé que as Escrituras, comete-
se um grave erro. A experiência sozinha pode ser muito enganosa.
Notem a advertência de Cristo em Mateus 7:22-23:
“Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em
teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome
não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca
vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade”.
Aqui o Senhor fala de miraculosas experiências sendo realizadas por
não-cristãos. Eles haviam sido enganados em crer, por suas
experiências, que eram instrumentos do poder do Senhor quando na
verdade eram obreiros da iniqüidade. E notem também que eles
estavam empregando o nome do Senhor em tudo isso. Cuidado com o
engano, particularmente com o que se pratica empregando o nome de
Jesus!
O Dr. João F. Walvoord em seu livro intitulado The Holy Spirit [O
Espírito Santo], escreve o seguinte:
“O teste final deve sempre ser o que as Escrituras realmente
ensinam. A experiência pode servir como um teste parcial
das conclusões, mas em si mesma a Bíblia deve ser tomada
como a autoridade final. A experiência sempre possui dois
terrenos fatais para o erro: 1) uma incompreensão da própria
experiência em si quanto a seu conteúdo e origem divina; 2)
uma defeituosa conclusão quanto ao sentido doutrinário da
experiência. Daí, por um lado uma experiência supostamente
de origem divina pode ser puramente psicológica, ou, pior,

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um estratagema enganoso de Satanás. Por outro, uma
genuína experiência pode ser mal interpretada e má
rotulada.”
Demasiadas vezes o buscador da experiência de línguas é quase forçado
a falar em sons estranhos, e quando o faz, essa experiência lhe é então
interpretada por algum carismático e rotulada como o “batismo”. Mas
seria? Tomamos o ensino escriturístico por nosso guia ou as palavas de
um homem ou mulher? Declara o Dr. Walvoord:
“Sempre tendemos a interpretar a Escrituras mediante a
experiência, em lugar de interpretar a experiência por meio
da Escritura. O fator da experiência humana aproxima-se
muito de alguns aspectos da doutrina do Espírito Santo, mas
a experiência não pode ser normal, e se normal não pode ser
apropriadamente interpretada. Muito mal tem vindo
mediante doutrinas arbitrárias estabelecidas em última
análise sobre experiência, em vez de ser sobre a revelação”
(João Walvoord, The Holy Spirit, Grand Rapids: Zondervan).
Em vista de que “experiência” é tão enfatizada, há grande perigo de
que alguns busquem a “experiência” em vez do próprio Espírito Santo.
Em outras palavras, o “dom” se torna mais importante do que o Doador.
Preocupo-me grandemente com uma expressão que ouvi com
freqüência: “Você recebeu, irmão?” O que se quer dizer com isso?
Refere-se meramente à experiência? Temo que esse é o sentido para
muitas pessoas do Movimento de Línguas hoje. Parece-me que a
experiência de falar em línguas tornou-se um símbolo de status.
Concede-lhes prestígio espiritual e torna-os “aceitáveis” a seus irmãos
carismáticos.
Outro erro, creio, é o ensino de que todas as experiências registradas na
Escritura devem ser experiência normal de cristãos hoje. Um homem,
referindo-se ao falar em línguas, empenhou-se em provar que essa
experiência era para todo cristão hoje porque “está na Bíblia”. Será que
precisamos recordar a nós próprios que a circuncisão também se acha na
Bíblia, no Novo Testamento, inclusive no livro de Atos? Significa isso que
todos os cristãos deviam ser circuncidados hoje? O que dizer das
“línguas como de fogo” que “pousou uma sobre cada um deles” no
Pentecostes e de “um som como de um vento impetuoso”? Devemos
buscar essas experiências hoje porque “estão na Bíblia”? Faríamos bem
em prestar atenção às palavras de um professor de Bíblia, F. D. Taylor,
Sr., que sumariou esta pergunta com as seguintes palavras: “Todas as
experiências na Bíblia foram dadas para instrução, mas não foram todas

31
dadas para duplicação” (F. D. Taylor, Sr., Should I Speak in Tongues?,
Scarborough, Ontario: Everyday Publicações).
Nunca nos esqueçamos da importância dos ensinos da Escrituras. Em 2
Timóteo 3:16-17 lemos: “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e
proveitosa [para o quê?] para ensinar, para redargüir, para corrigir, para
instruir em justiça; [para o quê?] Para que o homem de Deus seja
perfeito [completo , maduro, cumpridor do propósito de Deus], e
perfeitamente instruído para toda a boa obra”. É a Escritura,
primariamente, e não as experiências, que podem “equipar-nos” para
um viver e serviço eficazes por Cristo.
Foi Pedro quem, com Tiago e João, testemunhou a transfiguração de
Cristo sobre o monte (Mat. 17:1-9). Que experiência extraordinária deve
ter sido esta para ele. Mas, após recordar o episódio, notem o que ele
diz em sua 2a. epístola, no capítulo 1, vs. (19-21). Lemos em parte:
“Temos assim tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem
em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso . .”.
Estava Pedro edificando sua teologia ou doutrina sobre essa maravilhosa
experiência ou tinha ele algo “mais seguro”?
Sim, ele tinha algo mais seguro. Era a Palavra de Deus que fora dada
mediante “homens santos de Deus” que “falaram da parte de Deus
movidos pelo Espírito Santo” (verso 21).
Com efeito, Pedro aqui está dizendo: “Eu tenho algo mais digno de
confiança, „mais seguro‟ do que essa experiência do alto da montanha;
é a Palavra de Deus revelada, e pronunciada pelos profetas nas
Escrituras”. A Palavra “mais segura” da Escritura é a melhor e final
autoridade, não a experiência.
Uma senhora que era muito dada a experiências carismáticas estava
recentemente tentando me convencer de que estas eram todas tão
maravilhosas e genuínas. Mantive-me fazendo referência às Escrituras e
tentei mostrar-lhe que devemos ser guiados pelas doutrinas das
Escrituras, não por nossa interpretação de experiências tidas, e que a
Bíblia é a autoridade final da verdade. Após um pouco ela revelou-se
muito irritada e disse: “Doutrina! Doutrina! Estou doente e farta dessa
palavra!” Desafortunadamente, ela estava situando a experiência acima
da Palavra de Deus. É exatamente essa atitude e falha em reconhecer as
Escrituras como a autoridade suprema e final que conduz à confusão e,
muitas vezes, ao naufrágio espiritual. Construamos sobre a sólida rocha
da Palavra de Deus, não sobre a areia movediça das nossas experiências
e interpretações humanas delas!

32
Encerrando esta seção, permitam-me citar um parágrafo de um
periódico cristão chamado Listening:
“Seja lembrado que não se pode confiar em experiências
religiosas. A primeira conscientização do Senhor, o êxtase da
adoração, o ato físico da água batismal, a segunda, terceira,
ou centésima bênção, são todas o que tem ocorrido EM você.
Obtenha sua confiança no que ocorreu POR você. O lustre de
sua experiência se esvai ou brilha segundo a sua saúde,
circunstâncias, estrutura mental. Mas o que o Salvador
realizou por você quando morreu sobre a cruz, o que Ele está
realizando agora vivendo sobre o trono, e tudo o que é seu
Nele nunca muda porque depende Dele, não de você”
(Listening, Master‟s House, Box 5055, London, Ontário).

33
RAZÃO 6:
O SOLAPAMENTO DA PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO
Para mim é muito claro que a Bíblia ensina a personalidade do Espírito
Santo. O pronome pessoal Ele é repetidamente empregado quando
referindo-se ao Espírito Santo. Por outro lado, muitas seitas negam Sua
personalidade e pensam que o Espírito Santo é meramente uma força
impessoal, um poder ou uma influência, mas não uma Pessoa.
Pouco antes de eu deixar o Movimento de Línguas, um irmão cristão
muito querido e professor de Bíblia assinalou-me que nossa
denominação e o pessoal de línguas em geral, estávamos, dada a nossa
doutrina do Espírito Santo, gradualmente escorregando para o erro das
seitas. Conquanto em teoria e em nossas Artigos de Fé adotemos a
personalidade do Espírito Santo, na prática, porém, O consideramos em
grande medida como um “Poder” ou uma “força impessoal”. De fato,
àquelas alturas eu não havia notado essa erosão gradual em minha
própria mente. Comecei a examinar sua advertência e descobri que era
de fato assim. Indaguei-me, “Por que se desenvolve essa tendência em
nosso pensamento?”
Eu acreditava que uma das principais razões para isso era a nossa ênfase
sobre experiência. A plenitude do Espírito Santo tornou-se uma
experiência desejável. Tornamo-nos mais ocupados com nosso dom do
que com o Doador. Isso aparece na freqüente indagação: “Você
recebeu?” Apenas analisemos essa declaração: o que queremos dizer por
tais palavras? (1) Se tudo com que estamos preocupados é uma
experiência, então a pergunta significaria apropriadamente se a
recebemos. E temo que para muitos é tudo quanto importa. (2) Mas se
reconhecemos que este é um encontro com o ministério do Espírito
Santo ou um encontro com o mesmo em nós, então dificilmente
podemos fazer tal indagação pensando na experiência em si. Há um real
perigo aqui de estarmos mais preocupados com o dom do que com o
Doador. (3) Mesmo que pudéssemos dizer, “Eu recebi o Espírito” temos
em mente o real ensino bíblico a respeito? Realmente, seria o caso de
termos mais Dele ou de Ele ter mais de nós? Acaso a Escritura não
destaca isto, de que devemos submeter nossos membros, nós próprios,
ao controle do Espírito Santo a fim de que Jesus seja o Senhor de nossas
vidas? Romanos 6:13 nos diz: “Oferecei-vos a Deus”; assim também o
verso 19 e Romanos 12:1-2. E acrescente-se a isso o sentido das palavras
“enchei-vos” em Efésios 5:18: “E não vos embriagueis com vinho, no
qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito”. A expressão “enchei-
vos” no grego significa “estar constantemente sob o controle de”. Os

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cristãos são assim instruídos e espera-se que estejam constantemente
sob o controle do Espírito Santo, ou “conduzidos pelo Espírito”, ou que
caminhem “no Espírito”. O caso, pois, é que o Espírito Santo, que habita
em cada crente, deve estar em controle dos corpos submetidos de todos
os cristãos, de modo que o Senhor Jesus possa ser glorificado mediante
eles. Não, realmente não devemos buscar uma “porção” maior do
Espírito Santo, mas devemos assegurar-nos de que nós próprios estamos
completamente submissos a Ele, de que Ele tenha tudo de nós!
Essa ênfase sobre a experiência reflete-se num folheto pentecostal que,
por alguma razão, conservo ainda comigo. Trata-se do folheto No. 4285,
publicado pela Gospel Publishing House, Springfield, Missouri, e tem por
título “The Baptism of the Spirit”. Permitam-me citar-lhes apenas uns
poucos excertos aqui para ilustrar o que estou tentando dizer:
“Na casa de Cornélio (romanos) eles a receberam oito anos
após o dia de Pentecostes... Os discípulos em Éfeso (gregos)
a receberam vinte anos após o primeiro derramamento. . . .
Multidões a estão recebendo hoje. . . . Ela é para você. . . .
Somos instruído a buscá-la . . . Orar por ela. . . Louvar a
Deus por ela em fé . . .” .
[N.T.: O autor destaca que em inglês o pronome usado é “it” (ele ou
ela, empregado para coisas) e não “Him”, empregado como os pronomes
Ele, ou O].
Creio ser esse tipo de ensino que solapa e reduz nosso conceito de
personalidade do Espírito Santo e nossa fé Nele. Sei como isso,
inconscientemente, me afetou.

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RAZÃO 7:
ORGULHO ESPIRITUAL E DESUNIÃO PRODUZIDOS POR SUA DOUTRINA
Pela própria natureza de sua doutrina do Espírito Santo, a porta é
aberta para a possibilidade de que se introduza o orgulho espiritual, e
que o falador de línguas julgue-se espiritualmente superior ao irmão que
não teve experiência semelhante. Conquanto esse sentimento
geralmente não seja abertamente expresso, não obstante ali está.
Tenho observado isto muitas vezes, tanto em meus anos no Movimento
como também desde que eu saí. Em caso de que alguém pense ser esta
uma avaliação injusta, permitam-me citar de um folheto que tenho
diante de mim bem agora, escrito por um bem conhecido ministro
pentecostal, R.E. McAlister, e publicado pela Gospel Publishing House,
Springfield, Mo. É o Evangel Tract No. 251.
“É admitido por estudantes da Bíblia por todo o mundo que o
falar em línguas segundo o Espírito inspire é um sinal.
Suponhamos que façamos a pergunta: „É sinal do quê?‟ A
resposta se acha na Palavra do próprio Deus, pois
encontramos o sinal acompanhado do recebimento do
Espírito Santo quando Deus padronizou a experiência do
cristão no Novo Testamento. Todos os outros, a despeito do
que professam ou aleguem, ESTÃO ABAIXO DE SEU NÍVEL”.
(Destaque acrescentado)
Destarte, com o ensino de uma segunda bênção com evidência de falar
em línguas, vem o inevitável pensamento: “Todos os outros estão abaixo
de seu nível”. “Eu alcancei”. “Eu me encontro num plano mais
elevado”. “Eu sou mais espiritual”.
Isto me faz lembrar da mesma atitude que era tão comum na igreja
coríntia, e que Paulo deplorava. Há pouco tempo minha atenção foi
atraída para uma declaração que Paulo empregou várias vezes em sua
primeira carta aos coríntios. Pode encontrá-la no capítulo 5, verso 2. A
sentença é “andais vós ensoberbecidos”. Seis vezes estas palavras
aparecem nessa epístola. A Exhaustive Concordance of the Bible de
Strong nos informa que a palavra “ensoberbecido” significa “cheio de
ar”.
Que descrição da condição espiritual da igreja de Corinto!
Sim, eles tinham os dons do Espírito, especialmente o dom de línguas,
em operação na igreja. Julgavam-se “espirituais”, mas eram cegos ao
fato de que pessoas “espirituais” não são “orgulhosas”. Eles estavam
“ensoberbecidos”, “cheios de ar”, eram espiritualmente orgulhosos,

36
mas do ponto de vista de Deus, são chamados “carnais” quatro vezes em
1 Coríntios 3:1-4. Por quê? Por causa de sua ignorância espiritual (1 Cor.
12:1)--sua incompreensão e particularmente abuso do dom de línguas.
Que esse sentimento de superioridade e orgulho espiritual ainda existe
descobri há não muito tempo. Após um culto de domingo pela manhã em
que estava falando numa série de mensagens sobre o Espírito Santo, um
homem aproximou-se de mim. Ele quase esfregou o botão fixo na lapela
de seu paletó no meu rosto e perguntou-me se eu sabia o que era
aquilo. Eu não respondi de imediato porque estava sem os meus óculos e
não podia focalizar os olhos sobre o botão tão perto de meus olhos.
Tentei recuar para obter o foco, mas ele continuou me seguindo. Antes
que eu pudesse ler o que dizia o botão, ele disse: “Você não sabe nada
sobre isto! Se soubesse iria reconhecê-lo de imediato”. Daí ele deu-me
umas batidinhas no ombro, apresentando-se em toda a sua altura e,
olhando do alto para mim, mais embaixo, disse: “Bem, eu tenho mais do
que você tem!” Com isso ele volveu-se e caminhou para fora da igreja.
A propósito, o botão que ele trazia era da Associação de Homens de
Negócio do Evangelho Pleno.
Não só a doutrina e ênfase deles produzem orgulho espiritual em alguns,
mas também abre a porta para a desunião e divisão. Um resultado
natural dessa experiência, ensino e ênfase de línguas é produzir dois
grupos na igreja--os que “têm” e os que “não têm”. Talvez possamos
chamar a isso de “conscientização de categorias cristãs”.
Não, não poderia ser óbvia sobre a superfície, mas o problema ali está.
Um cristão se separa de outro porque julga que sua “experiência” o
colocou num plano mais elevado do que a de seu irmão que “não tem”.
Ou pode tratar-se de um grupo inteiro que se separará dos demais
crentes ou uma igreja de outra. A atitude de que “temos mais do que
vocês têm” parece ser a razão básica subjacente para essas infelizes
separações e divisões. Esta não é simplesmente uma divisão carismática-
fundamentalista, mas ocorre, surpreendentemente, também com
freqüência entre o próprio pessoal de línguas. Não era este um
problema em Corinto igualmente? Havia divisões e “panelinhas” em sua
igreja (ver 1 Coríntios 3:1-4). Tudo isso, Paulo nos informa, não é um
sinal de espiritualidade, mas de carnalidade, como lemos em 1 Coríntios
3:3:
“Porquanto, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é
assim que sois carnais e andais segundo o homem?”

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RAZÃO 8:
O ENSINO DE QUE O FALAR EM LÍNGUAS É UM SINAL DE
ESPIRITUALIDADE OU MESMO DE SALVAÇÃO
Um homem que havia há pouco experimentado o falar em línguas disse
que estava seguro agora de estar salvo. Poderíamos então fazer-lhe a
pergunta: “Como podemos realmente saber que estamos salvos?” Qual é
a segurança confiável de que passamos da morte para a vida? Seria
algum tipo de experiência? Se for, podemos confiar completamente em
experiências? Neste caso, sabemos que o falar em línguas pode ser e é
imitado. Pagãos, espíritas, mórmons, etc. também experimentam o
falar em línguas. Aparentemente há carismáticos hoje que obviamente
nunca se arrependeram, não têm revelado mudança ou transformação
de vida e, contudo, são faladores de línguas. Muitos católicos-romanos
carismáticos continuam a venerar Maria e a ela orar, freqüentam a
missa, rezam para os “santos”, etc., etc. Devemos aceitá-los como
nossos irmãos em Cristo simplesmente à base do falar em línguas?
Podem eles, ou podemos nós com segurança, edificar sobre o
fundamento de uma “experiência”?
Basicamente, a segurança de nossa salvação repousa sobre a inalterável
e sempre confiável Palavra de Deus--Suas promessas ao crente. Uma tal
promessa e palavra de Deus a nós se acha em 1 João 5:13: “Estas cousas
vos escrevi a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que
credes em o nome do Filho de Deus”. Como podemos saber que temos a
vida eterna? Este verso nos diz claramente que nossa garantia jaz sobre
a Palavra escrita de Deus.
Experiências, emoções, sentimentos podem mudar ou desaparecer, mas
a sólida rocha da Palavra de Deus permanece. Pela fé descansamos em
Sua promessa. Não disse Ele: “Em verdade, em verdade vos digo: Quem
ouve a Minha Palavra e crê Naquele que Me enviou, tem a vida eterna,
não entra em juízo, mas passou da morte para a vida” (João 5:24)?
Eu cri em Sua Palavra; Nele cri, portanto tenho a vida eterna! Como sei?
Não por sentir alguma coisa, não porque tive uma visão ou ouvi uma
voz, ou falei em línguas, mas simples e basicamente porque ELE ASSIM O
DISSE! Eu simplesmente O tomo por Sua Palavra. Eu tenho Sua Palavra
que me respalda! E é impossível que Deus minta (Hb 6:18). Que
segurança! Preciso de mais? Por simples fé em Sua Palavra eu recebi
salvação. Por simples fé em Sua Palavra tenho segurança de minha
salvação!
Certamente haverá outras evidências comprobatórias, e estas são

38
também mencionadas na Palavra de Deus, que revela a realidade da
nova criatura dentro em nós. Deve haver e haverá uma mudança em
nosso estilo de vida, tal como lemos em 2 Co 5:17: “Assim que, se
alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis
que tudo se fez novo”.
Isso é mais plenamente desenvolvido na epístola de 1 João onde lemos
palavras tais como estas: “Nós sabemos que passamos da morte para a
vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama a seu irmão permanece
na morte” (1 João 3:14); e, “E nisto sabemos que o conhecemos: se
guardarmos os seus mandamentos”, isso é, Sua Palavra (1 João 2:3). Se
nós realmente conhecemos o Senhor, haverá uma mudança de atitude
para com a Palavra de Deus, e um amor crescente por ela e obediência
a ela. Desejaremos cumprir a vontade de Deus. Mas o tempo não nos
permite avançar aqui neste tópico.
É O FALAR EM LÍNGUAS EVIDÊNCIA DE ESPIRITUALIDADE?
Em segundo lugar, é o falar em língua uma evidência de maior
espiritualidade? De fato, agora, como podemos saber que somos
espirituais? Pode algo basear-se numa experiência de uma vez por todas,
uma vez na vida? É esta a prova definitiva? Ou é possível que haja
evidências de uma espiritualidade interior manifestada em nossa
caminhada e viver diários?
Tomar o falar em línguas como evidência de uma vida espiritual cheia
do Espírito ou controlada pelo Espírito é desconsiderar o ensino de 1
Coríntios.
Por favor, notem que aos crentes coríntios não faltava “nenhum dom”
(1:7).
Eles tinham os dons do Espírito em sua igreja e davam particular ênfase
ao dom de línguas como vemos nos capítulos 12-14. Contudo, a despeito
de tudo isso, Paulo os chama de “carnais” quatro vezes no capítulo três.
E “carnal” é o oposto de “espiritual”. Além disso, Paulo lhes lembra que
eles tinham disputas, divisões, fornicação, discórdias, desordens na
mesa do Senhor, etc. na igreja deles que todo o seu falar em línguas não
podia compensar. Eles eram carnais a despeito de tal dom. Então,
podemos perguntar--o que lhes estava faltando?
Eles não percebiam, como muitos hoje também não percebem, que a
espiritualidade não é determinada pela manifestação dos dons do
Espírito, mas pela manifestação do fruto do Espírito! É por isso que,
creio, Paulo “sanduichou” o “Capítulo do Amor” (13) entre os dois que

39
tratam dos dons, os capítulos 12 e 14. Não se trata de ter ele mudado
de assunto e subitamente decidiu escrever sobre amor, mas que estava
tentando mostrar aos Coríntios, tão empolgados com sua ênfase sobre
línguas, que estavam perdendo de vista “um caminho sobremodo
excelente” (12:31), não tinham o fruto do Espírito em sua igreja e vidas.
Faltava-lhes o fruto do Espírito que é a evidência da presença interior
do Espírito Santo ativamente produzindo semelhança a Cristo na vida do
crente, em outras palavras, a vida espiritual frutífera, controlada pelo
Espírito e dEle cheia.
Paulo inicia o capítulo 13 com estas palavras: “Ainda que eu falasse as
línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal
que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia,
e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse
toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse
amor, nada seria”.
O que é amor? É o fruto básico do Espírito. Diz Gálatas 5:22-23: “Mas o
fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade,
bondade, fé, mansidão, temperança. Contra estas coisas não há lei”.
Conquanto eu outrora cresse e ensinasse que o falar em línguas fosse a
evidência de ser cheio do Espírito e de espiritualidade, à luz do ensino
da Palavra de Deus, tive que alterar completamente meu ponto de
vista.
Para encerrar esta seção, desejo assinalar brevemente o que agora creio
serem as características (ou evidências) de um cristão realmente cheio
do Espírito e espiritual:
1) Uma vida crucificada, de negação própria (não apenas uma
experiência de uma única vez, mas uma VIDA), Gl 2:20; 6:14.
2) Uma vida submissa, entregue ao Senhor. A vontade humana
sujeita a Sua vontade, Rm 6:13, 19; 12:1-2.
3) Um viver semelhante a Cristo -- Gl 2:20b; Rm 8:29.
4) Uma vida frutífera--o fruto do Espírito manifestando-se, João
15:5,8; Gl 5:22-23.
5) Uma vida eficiente no serviço de Cristo e no testemunho--Atos
1:8; 4:31.
6) Uma vida que glorifique a Deus--João 15:8; 1 Co 6:20.
Aqui há duas passagens que deviam ser consideradas neste contexto:

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Mateus 7:20: “Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis”, e João
13:35: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes
amor uns aos outros”.
Por favor, observem que não diz, se vocês falarem em línguas ou
tiverem qualquer dom em manifestação em sua vida, mas “amor”, o
fruto básico.
Este é também o ensino claro de 1 Coríntios capítulo 13.

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RAZÃO 9:
BUSCA DE SINAIS, EM VEZ DE FÉ
Neste momento em que escrevo tenho diante de mim um recorte de
uma página dedicada às igrejas do Calgary Herald [Calgary, Alberta,
Canada]. Trata-se de um anúncio de cultos de uma igreja carismática--
com grande ênfase sobre milagres. Uma reunião é chamada “Noite de
Milagres”. A palavra „milagres‟ aparece quatro vezes neste único
anúncio. E há outros semelhantes. Por que essa ênfase sobre milagres, o
espetacular, o sensacional?
Vêm-me à mente as palavras do Senhor Jesus em Mateus 12:38-40:
“Então alguns dos escribas e dos fariseus tomaram a palavra, dizendo:
Mestre, quiséramos ver da tua parte algum sinal. Mas ele lhes
respondeu, e disse: Uma geração má e adúltera pede um sinal, porém,
não se lhe dará outro sinal senão o do profeta Jonas. Pois, como Jonas
esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho
do homem três dias e três noites no seio da terra”.
Jesus disse: “Uma geração má e adúltera pede um sinal!” Essa busca por
sinais certamente não conta com a aprovação divina! Por quê? Notem
como o Senhor prossegue aqui nos versos 39 e 40. Sim, havia um sinal
com o qual deviam ocupar-se--esse era o sinal de Jonas que apontava
diretamente para a morte, sepultamento e ressurreição do Senhor
Jesus. Esse é o grande sinal que Deus deu ao mundo que muitas
gerações têm e estão deixando de reconhecer.
Em 1 Coríntios 1:21-24 Paulo lida com o mesmo assunto e está em total
harmonia com Cristo. Notem como ele o expressa: “Visto como na
sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria,
aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação. Porque os
judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a
Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os
gregos. Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes
pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus”.
No verso ele declara: “Os judeus pedem sinal”. Assim, o que Paulo faz a
respeito? Acaso produz sinais e maravilhas para atender ao seu anseio
por isso? Não!
Conquanto Paulo pudesse fazê-lo, como um apóstolo no cronograma
divino, não o faria simplesmente para satisfazer a curiosidade e atender
à demanda pelo espetacular (ver 2 Co 12:12), mas para autenticar o seu
apostolado e sua mensagem quando requerido. Mas aqui, aos buscadores
de sinais, ele tem somente um sinal, no verso 23:

42
“Nós pregamos a Cristo crucificado!” E no capítulo 2 verso 2 ele
diz : “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus
Cristo, e este crucificado”.
O cristão não deve preocupar-se com sinais, maravilhas, e milagres, mas
com a obra de Cristo por ele sobre a cruz e com o Seu Evangelho. Isso
somente é “o poder de Deus para a salvação de todo o que crê” (1 Co
1:24; Rm 1:16). O erro dos coríntios, que está sendo perpetrado hoje,
era que se preocupavam com o espetacular com exclusão do simples,
contudo maravilhoso e poderoso Evangelho de Cristo que tem por
enfoque a obra da cruz.
Os carismáticos falam sobre “poder” em suas reuniões--manifesto no
miraculoso e incomum. Mas é esse o “poder” que salva as almas dos
homens? Somente o Evangelho de Cristo poder fazer isto!
Ademais, o cristão deve “andar por fé, não por vista” (2 Cor. 5:7). Mas o
buscador de milagres deseja sempre ver! Lembrem-se da lição que o
Senhor ensinou a Tomé, que, também tinha dito: “Se eu não vir o sinal
dos cravos em suas mãos . . . de maneira nenhuma o crerei”. A isso
Jesus respondeu: “Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os
que não viram e creram” (João 20:24-29). A fé genuína repousa sobre a
Palavra de Deus, não sobre a vista.
O derradeiro perigo de buscar sinais e milagres jaz no fato de que nos
últimos dias Satanás empregará o miraculoso para enganar as multidões,
culminando nos enganos do Anticristo e Falso Profeta.
TOMEM NOTA DESSAS ADVERTÊNCIAS:
1) A advertência de Cristo em Mateus 24:24: “Porque surgirão falsos
cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se
possível fora, enganariam até os escolhidos”. Evidentemente, “sinais e
maravilhas” podem ser e serão realizados por falsos cristos e falsos
profetas. Quantos são e serão enganados por eles?
2) A advertência de 2 Ts 2:8-12: “E então será revelado o iníquo, a
quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo
esplendor da sua vinda; a esse cuja vinda é segundo a eficácia de
Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo
o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o
amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a
operação do erro, para que creiam a mentira; para que sejam julgados
todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na
iniqüidade”.

43
Parece que a ferramenta básica de engano empregado pelo Anticristo
será seus poderes de realizar milagres. Quão eficaz isso será e é visto
hoje pelo apetite antibíblico de tantos por tanto sinais, maravilhas e
milagres.
Dar-se-ia o caso de que estão sendo preparados para o grande engano
sobre o qual lemos aqui e também em Apocalipse capítulo 13?
Poderíamos bem perguntar-nos porque o Senhor permitirá esse poderoso
engano. A resposta, creio, está bem nesta passagem de 2 Ts 2. Nos
versos 10 e 12 encontramos estas cláusulas: “porque não receberam o
amor da verdade” e “não creram a verdade”. Duas vezes a palavra
verdade aparece aqui. Deus permite esse poderoso engano, essa
“grande mentira”, para dominar um povo que negligenciou e rejeitou a
VERDADE--a Palavra de Deus, as Escrituras, e o próprio Cristo, que é a
Verdade (João 14:6). Em vista de que não puseram as Escrituras no seu
lugar devido--no PRIMEIRO LUGAR, mas foram atrás do espetacular, do
miraculoso, do sensacional, para satisfazerem seu anseio antibíblico por
essas coisas, Deus “lhes enviará a operação do erro, para que creiam a
mentira”.
Caros leitores, nosso reconhecimento da suprema autoridade da Palavra
de Deus (Verdade) é todo-importante. Doutrina é importante!
Permaneçam em sintonia com o Livro, a Bíblia!
Todas as experiências, sinais, maravilhas, milagres, devem sujeitar-se às
Escrituras. Nossa fé deve basear-se na imutável e eterna Palavra de
Deus.
Em ligação com este pensamento sugiro que também leiam Apocalipse
13:11-18.
Em conclusão, busquem João 4:46-54 onde encontramos o belo registro
da cura do nobre. Quando o pai aproximou-se do Senhor em busca de
cura para o seu filho, o Senhor lhe disse (verso 48): “Então Jesus lhe
disse: Se não virdes sinais e milagres, não crereis”. Por que Ele reagiu
desse modo? Creio que foi para provar a fé do pai--seria ele como a
maioria dos judeus, buscador de sinais, ou tinha fé genuína que podia
sustentar-se na mera Palavra do Senhor?
Então, quando o Senhor simplesmente disse (verso 50) “Vai, o teu filho
vive” ele apenas tomou o Senhor por Sua palavra. O verso prossegue
dizendo: “E o homem creu na palavra que Jesus lhe disse, e partiu”.
Quão bela é esta simplicidade de fé! Ele não pediu por um sinal de que
seu filho estivesse curado. Simplesmente creu na declaração do Senhor
Jesus, sem quaisquer sinais. Como isso deve ter agradado o Senhor que

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constantemente era incomodado por buscadores de sinais! Que
possamos nós também ser achados nas fileiras desse nobre! Lembrem-se
de Hebreus 11:6:
“Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele
que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos
que o buscam”.

45
RAZÃO 10:
ATIVIDADES QUESTIONÁVEIS PRATICADAS E TOLERADAS
Escrevendo à igreja coríntia, Paulo apóstolo disse: “Porque Deus não é
de confusão”, e “Tudo, porém, seja feito com decência e ordem” (1 Co
14:33,40). Tendo sido criado no Movimento de Línguas, eu não via a
importância dessas palavras como agora as considero. Pois naquela
época as atividades em nossas igrejas pareciam-me bem normais; eram
parte do que eu havia sido ensinado desde a infância e tinha como certo
e apropriado. Mas ao encará-las à distância agora, e à luz destas e
outras passagens, sinto-me envergonhado de alguns dos procedimentos,
métodos e ocorrências que testemunhei. Mesmo naquela época eu me
sentia às vezes abalado com o que via.
Uma das ocorrências muito comuns era o que costumávamos chamar
“cair sob o poder”. Quando envolvia senhoras que caíam prostradas ou,
as vezes, agitadas sobre o assoalho, eram rapidamente cobertas com
capas ou cobertores para impedir que se descobrissem. Essa prática é
ainda seguida hoje.
É muito difícil reconciliar esse tipo de coisa com a Escritura. “Tudo,
porém, seja feito com decência e ordem”.
Se essas pessoas são realmente “prostradas pelo Espírito Santo”, é
muito estranho que o mesmo Espírito Santo que nos deu as Escrituras
entre em choque com as Escrituras que nos concedeu! Isto não pode ser.
TRÊS PERGUNTAS SOBRE A PROSTRAÇÃO NO ESPÍRITO
Devemos indagar-nos--esta prática e experiência é escriturísica?
Eis três perguntas a considerar:
1) Há qualquer clara declaração nas epístolas para apoiá-la?
Quanto eu saiba, não há qualquer ensino escriturístico que o faça.
2) Há qualquer claro registro dessa ocorrência na história bíblica da
Igreja primitiva no livro de Atos?
Onde encontramos essa “imposição de mãos” sobre os crentes que
resulte em grandes números caindo ao chão? Alguns fazem referência à
experiência de Saulo na estrada de Damasco (Atos 9). Saulo, ou Paulo,
porém, não era um crente na época, pelo contrário, era um perseguidor
dos cristãos. Ele estava sendo “abordado” pelo Senhor! Ademais,
ninguém impôs mãos sobre ele antes que caísse ao chão. Outros referem
João 18:6, quando os que foram levar Jesus cativo caíram: “Quando,

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pois, lhes disse: Sou eu, recuaram, e caíram por terra”. Todavia, estes
definidamente vieram em busca do Senhor, não para serem abençoados
ou curados, mas eram, de fato “inimigos” que vinham para prendê-Lo.
Não eram crentes, nem houve imposição de mãos sobre eles. Comparem
esse evento com Salmo 27:2: “Quando os malvados, meus adversários e
meus inimigos, se chegaram contra mim, para comerem as minhas
carnes, tropeçaram e caíram”.
3) Há qualquer evidência escriturística de que um espírito mau
pudesse fazer isso?
Sim. Em Lucas 4:35 lemos: “E Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te, e
sai dele. E o demônio, lançando-o por terra no meio do povo, saiu dele
sem lhe fazer mal”. Ver também Lucas 9:42:
“E, quando vinha chegando, o demônio o derrubou e convulsionou;
porém, Jesus repreendeu o espírito imundo, e curou o menino, e o
entregou a seu pai”. Há ampla evidência de que devotos dos maus
espíritos, tais como feiticeiros, passaram por experiências
semelhantes e certamente não pelo Espírito Santo.
Também considerem isto: Muitas vezes nas filas de orações as pessos
que vêm à frente buscando cura “caem prostradas sob o poder”. Em vez
de seres curadas (e para isso vieram), parece que são simplesmente
“deixadas à parte”. Onde está a base escriturística para essa prática?
Isso não é o que ocorria quando os doentes vinham ao Senhor ou a Seus
apóstolos!
Lembrem-se disto: as experiências não devem automaticamente ser
aceitas como procedendo de Deus ou do Espírito Santo simplesmente
porque têm lugar numa igreja ou num ambiente religioso! Quaisquer
manifestações do espírito que não se relacionem com uma profunda
convicção do pecado e genuíno arrependimento devem ser questionadas
à clara luz da Escritura.
É verdade, contudo, que na história de reavivamentos da Igreja, houve
aqueles que estiveram sob profunda convicção de seus pecados, e num
genuíno estado de arrependimento, caíram ao chão perante o Senhor.
Eu pessoalmente ouvi o irmão Duncan Campbell, o reavivalista escocês,
contar de uma jovem que estava organizando um baile para os jovens de
sua comunidade na primeira noite das reuniões de reavivamento do Sr.
Campbell na cidade. Isso, logicamente, ela fez em oposição às reuniões.
Mas o Espírito Santo trouxe-a à convicção do pecado de modo que ela foi
correndo à igreja após o culto e caiu perante o altar do Senhor. Não
houve imposição de mãos. Foi uma genuína ministração do Espírito

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Santo.
Há exemplos de prostração em temor, humilhação e arrependimento nas
Escrituras também, mas o que está ocorrendo em algumas áreas hoje
parece ser de caráter diferente, em grande medida de criação humana e
manipulada. Todas essas manifestações que não se relacionam com uma
profunda convicção de pecado e verdadeiro arrependimento, e não
suportam o teste das Escrituras, particularmente das epístolas, devem
ser evitadas. “O amor seja não fingido. Aborrecei o mal e apegai-vos ao
bem” (Rm 12:9).
Ademais, na área de buscar-se a experiência de línguas, é deplorável a
que extremos alguns vão. A excessiva ênfase do valor da experiência de
línguas tem trazido consigo uma variedade de métodos questionáveis
para produzi-la. Parece que alguns estão tão ansiosos por falar em
línguas que tentarão quase qualquer coisa para fazer com que isso tenha
lugar. Ou o buscador da experiência ou a pessoa por ela orando, ou
ambos, muitas vezes são responsáveis pelos métodos empregados.
Eis alguns dos métodos questionáveis que observava:
A pessoa que busca o dom, fica orando ou louvando ao Senhor numa voz
audível, sendo agitada pelas mãos do que ora por ela. O resultado é uma
vibração ou tremor na voz do buscador ou buscadora. “É isso aí,
irmã(o)” ou algo semelhante é o incentivo que ouve ao aparentemente
alcançar a “experiência”. Mas, pior ainda, chega a ser doentia a visão
de alguém assim tendo sua mandíbula manipulada por algum assistente
superzeloso para distorcer as palavras de quem busca o dom e produzir
sons incomuns, algo freqüentemente praticado. Então, há aqueles que
“ensinam as pessoas a falarem em línguas”. Repetição de certas frases
deve ser praticada, às vezes em velocidades aceleradas, até que língua
apropriada seja perdida, e sons ininteligíveis resultem. Fitas cassete
para ensinar os buscadores pela experiência como “falar em línguas”
estão disponíveis. Que base bíblica há para “ensinar” crentes a falar em
línguas? Isso é completamente estranho ao conceito neotestamentário
de dom de línguas. Nos três casos de línguas sendo faladas no livro de
Atos (capítulos 2,10,19), não ocorre o mínimo indício de terem primeiro
sido “ensinados como falar em línguas”.
[N.T.: Neste contexto poderíamos imaginar que lições semelhantes
deviam estar disponíveis sobre como interpretar as línguas, profetizar,
realizar curas, etc.--A.G.B.]

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NOVA MANEIRA DE FALAR EM LÍNGUAS
Outro método que testemunhei e que muito me perturbava, ainda que
estivesse envolvido de todo o coração no Movimento de Línguas vem-me
à mente.
Numa série de reuniões especiais mantidas em certa igreja em
Saskatoon, Sask., o evangelista tinha uma “nova” maneira de levar as
pessoas a falarem em línguas.
Após a mensagem da noite ele chamava todos os buscadores a irem à
frente e sentarem-se nos bancos da frente. Então brevemente explicava
que procedimentos deviam seguir. Seria diferente dos métodos
convencionais que geralmente empregávamos. Esta era a sua teoria: “O
buscador necessita iniciar o som, que é sua responsabilidade, e a
responsabilidade do Espírito Santo é tomar o som e produzir o som das
línguas a partir dele”.
Ele citava a passagem: “... abre bem a tua boca, e ta encherei” (Sl
81:10). Então instava todos os buscadores que estavam sentados, e não
ajoelhados, a inclinarem a cabeça para trás e abrirem a boca, e então
pronunciarem um som. Ele sugeria que simplesmente dissessem “Ah-h-h-
h”--para extrair o som e prosseguirem o proferindo. Era uma estranha
cena! Mesmo para alguém criado no Movimento de Línguas isso era
demais. Ali estavam algumas fileiras de pessoas adultas sentadas, com
cabeças para trás, bocas abertas, todos dizendo “Ah-h-h-h...” E o
evangelista e o pastor caminhavam para diante e para trás das fileiras,
impondo as mãos sobre eles e, em alguma extensão, agitando-os para
obterem um tremor de seus sons, e encorajando-os a pronunciá-los mais
alto e “deixar sair!”
Por esses padrões, ele estava tendo êxito em obter alguns sons
estranhos e peculiares de alguns dos buscadores, que rotulava como
“falar em línguas”. Eu, todavia, punha-me a indagar para mim mesmo:
“Isso estaria em harmonia com o „segundo o Espírito lhes concedia que
falassem‟ (Atos 2:4), ou pareceriam línguas de feitura humana?”
Mas isso ainda não era tudo. O que realmente me chocava e levou-me a
começar a pensar seriamente sobre esse tipo de procedimento, foi o
que testemunhamos poucos minutos depois. Uma velha senhora,
buscadora, estava sentada no banco da frente contra a parede,
louvando ao Senhor e orando de sua maneira costumeira, quando o
evangelista, percorrendo as fileiras de bancos dos buscadores, chegou
até onde ela estava. Ele descobriu que ela não estava proferindo o “Ah-
h-h”. Assim ele tornou-lhe muito claro que desejava que ela nada

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dissesse, a não ser “Ah-h-h”. Ela começou, mas quando o evangelista
afastou-se percorrendo a fileira, e retornou até ela, já estava louvando
novamente ao Senhor e dizendo, “Jesus, Jesus, etc”. Então, para meu
grande espanto, ouvi-o dizer à senhora algo como: “Senhora, eu lhe
disse para dizer „Ah-h-h‟! Se não parar de louvar ao Senhor e dizer
„Jesus, Jesus‟, não orarei mais com a irmã!”
Estava eu ouvindo coisas? Mal podia crer no que ouvia! E para que não
cometesse um equívoco ao mais tarde citar suas palavras, tratei de
anotá-las num caderno de notas.
Tinha que seriamente indagar-me: o que é isso? É bíblico? Quando é
errado louvar ao Senhor? É seguro omitir o nome do Senhor Jesus de
minha oração, especialmente quando buscando a plenitude do Espírito
Santo? Poderia tal tipo de procedimento deixar o buscador aberto para a
entrada de outro espírito? Acaso Pv 18:10 não nos diz que “Torre forte é
o nome do Senhor, à qual o justo se acolhe e está seguro”? A que
poderia o buscador estar se disponibilizando com esse procedimento?
E, simplesmente porque alguém profere alguns sons ininteligíveis não
prova que isso é o Espírito Santo falando. Há maus espíritos que
“chilreiam e murmuram”. Isaías 8:19 diz: “Quando vos disserem:
Consultai os necromantes e os adivinhos, que chilreiam e murmuram,
acaso não consultará o povo ao seu Deus? A favor dos vivos se
consultarão os mortos?”
Esse incidente abriu-me os olhos quanto aos perigos de utilizar métodos
de feitura humana, pois os resultados são questionáveis, na melhor das
hipóteses, e não o produto do próprio Espírito Santo.
Ao pesquisar as Escrituras descobrimos que o falar em línguas foi
produzido pelo Espírito Santo, não criado pelo homem. Atos 2:4 declara:
“Segundo o Espírito lhes concedia que falassem”. E o dom de línguas,
mencionado em 1 Coríntios 12:11, bem como os outros dons, são dados
“como lhe apraz a cada um, individualmente”, não arranjado ou
produzido pelo homem. É uma prática perigosa brincar com línguas ou
tentar manufaturá-las. O Espírito Santo é perfeitamente capaz de
conceder o dom de línguas, se Ele assim desejar, sem os questionáveis
métodos humanos!
Paulo também se refere à outra desordem na igreja de Corinto em 1 Co
14:27-28: “E, se alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso por
dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete. Mas, se
não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e
com Deus”. Há uma limitação ordenada que aqui se trata. Com

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freqüência isso não é respeitado pelos líderes por temor de impedirem a
“obra do Espírito Santo” ou ofendê-Lo, ou ofender alguém. Disso resulta
a confusão.
Mas no verso 33 lemos: “Deus não é de confusão”.
Ao concluir esta seção, muitos outros métodos questionáveis poderiam
ser mencionados, tais como explorar o sensacional, reuniões
sensacionais, oradores sensacionais, métodos sensacionais, publicidade
de reuniões sensacionais de curas e milagres. Alguns até tentam atrair
multidões apresentando crianças pregadoras, ou meninos pregadores,
sem considerar o perene prejuízo que isso poderia acarretar à criança
envolvida. Há não muito tempo um evangelista carismático no Canadá
Ocidental estava conduzindo reuniões numa tenda cerca de quinze
quilômetros de nossa casa, nas quais apresentava um garoto-pregador
cujos retratos adornavam as coloridas propagandas. Fui pessoalmente
convidado a ouvir esse garoto-prodígio. Algumas pessoas pareciam
empolgadas com ele. Há sempre os que são atraídos por esse tipo de
sensacionalismo. Mas poderíamos perguntar o que estão fazendo com
essa criança? Como toda essa popularidade e aclamação o afetará no
tempo e na eternidade?
Em seu livro, Truth About Tongues [A verdade sobre as línguas], o Dr.
Hugh F. Pyle oferece esta informação sobre Marjoe Gortner, uma
“criança-pregadora” que foi “usada” por anos dessa maneira:
“O ator de TV Marjoe Gortner foi ordenado para pregar com
a idade de quatro anos e era promovido como um menino-
prodígio no circuito da pregação de milagres. Ele pregou por
anos. As mulheres caíam sobre o chão ao seu toque e
comando. Ele agora diz que estava apenas „atuando‟ e que
enquanto podia ter feito muito dinheiro no negócio de cura
divina, cansou-se de tudo aquilo quando atingiu os dezessete
anos, e percebeu o que sua mãe havia feito para ele.
Contudo, grandes multidões tinham fé em seu poder de curar
pela „imposição de mãos‟. Marjoe ri a respeito de tudo
aquilo e declara que era tudo psicossomático” (Hugh F. Pyle,
Truth about Tongues, Denver: Accent Publicações).

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PERGUNTAS QUE TEMOS DE FAZER
Falando sério, irmãos, antes de embarcar em novos métodos de realizar
a obra do Senhor, indaguemo-nos primeiro estas perguntas:
1) É realmente escriturístico?
2) É edificante? 1 Co 14:26: “Seja tudo feito para edificação”.
3) É decente e de boa ordem? 1 Co 14:40: “Tudo, porém, seja
feito com decência e ordem”.
4) Está glorificando o Senhor e o Evangelho de Jesus Cristo? 1 Co
10:31: “Fazei tudo para a glória de Deus”.
Por favor, observem que estas perguntas são exatamente aquelas que os
coríntios carnais sem dúvida falharam em indagar-se na conduta de sua
igreja, pois as referências que eu mencionei acima são todas da
primeira epístola aos Coríntios, a eles dirigida em todas as áreas de suas
fraquezas e falhas. Que hoje possamos ser cuidadosos para não
cometermos os mesmos erros que eles cometeram!

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RAZÃO 11:
O TEMOR DE QUESTIONAR AS CHAMADAS ATIVIDADES DO ESPÍRITO
SANTO
Esse temor se manifestaria por falha em questionar ou julgar, conquanto
algumas dessas atividades pareçam estranhas, fora de propósito, ou
mesmo erradas. Lembro-me que em muitas ocasiões em nossos cultos na
igreja, quando alguém “profetizava” ou “falava em línguas”, a
congregação inclinava a fronte e ouvia quieta e quase temerosamente.
A mensagem que procedia era, como parecia, mais respeitada do que
quando a própria Escritura estava sendo lida. Não seria isso Deus
falando-nos diretamente?
E quem ousaria questionar essas mensagens? Mas deviam ser
questionadas ou desafiadas? Essa temerosa submissão a toda declaração
tida por profética devia ser questionada, segundo 1 Co 14:29: “E falem
dois ou três profetas, e os outros julguem”. Não só devia haver ordem
no modo de dar as mensagens, mas devia haver um julgamento da
validade da profecia. Isso, quanto eu saiba, raramente se fazia. As
mensagens eram recebidas festivamente como genuínas.
Posso dar-lhes um exemplo? Um evangelista foi convidado a falar numa
série de reuniões na grande igreja da cidade em que me encontrava na
época. Ele reivindicava ser um profeta, e de vez em quando apresentava
uma mensagem “profética”, geralmente à parte de seus sermões. Ele
começava essas “profecias” numa voz elevada e estrondosa, geralmente
com as palavras: “Assim diz o Senhor”, ou “o Espírito fala
expressamente”, ou outras palavras introdutórias empregadas pelos
profetas bíblicos. Quando ele começava, um silêncio absoluto seguia-se
e as pessoas inclinavam a cabeça e, quase com temor, aguardavam essa
“mensagem de Deus”. Nenhuma vez ouvi qualquer julgamento ou
questionamento por qualquer dos líderes ou pastores da igreja. Tudo
parecia ser aceito como verdade divina. Quando eu expressei minhas
reservas, fui visto como alguém que corria o perigo da ira de Deus por
não receber “a mensagem”.
Certa ocasião, pelo final dos anos 40, esse homem apresentou uma
“mensagem profética” informando-nos de que todos os cristãos nascidos
de novo, de qualquer denominação, estariam unidos numa só igreja
pelos anos 60. E, acrescentou: “Se o que eu estou dizendo hoje não vier
a se passar, podem chamar-me a cobrar e dizer que eu sou um
mentiroso!” Gostaria de ter o número de seu telefone! Obviamente, ele
era um falso profeta. Mas aventuro-me a dizer que mais de 90 por cento
das pessoas ali creram nele, mas há muito se esqueceram sobre sua

53
profecia. O teste bíblico dos profetas se acha em Dt 18:22: “Quando o
profeta falar em nome do Senhor, e essa palavra não se cumprir, nem
suceder assim; esta é palavra que o Senhor não falou; com soberba a
falou aquele profeta; não tenhas temor dele”. Notem que o Velho
Testamento estabelecia severos castigos sobre os falsos profetas--era
morte! Por quê? Dt 13:5 assim reza: “E aquele profeta ou sonhador de
sonhos falou rebeldia contra o Senhor... para te apartar do caminho que
te ordenou o Senhor teu Deus”.
Muitas vezes fiz-me esta pergunta: “Por que tantos cristãos são tão
ingênuos? Por que são tão facilmente enganados pelos atos de astutos
enganadores?” E isso a despeito de todas as advertências das Escrituras.
Há pelo menos uma dúzia de advertências diretas no Novo Testamento
sobre engano.
Apenas consideremos três aqui: Mateus 24:4: “Vede que ninguém vos
engane”. Essa advertência do Senhor Jesus é dada três vezes nesse
capítulo.
Efésios 4:14: “Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados
em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com
astúcia enganam fraudulosamente...” Notem a frase, “não sejamos
mais meninos”. O Senhor espera que cresçamos e amadureçamos, e não
que sejamos “levados em roda por todo o vento de doutrina”.
E Romanos 16:17-18 expressa esta advertência: “E rogo-vos, irmãos, que
noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que
aprendestes; desviai-vos deles. Porque os tais não servem a nosso
Senhor Jesus Cristo, mas ao seu ventre; e com suaves palavras e lisonjas
enganam os corações dos simples”. Notem estas palavras aqui: “contra a
doutrina que aprendestes”. Doutrina é muito importante! Esses
enganadores devem ser julgados pela doutrina das Escrituras, não
acatados festivamente, temidos ou seguidos.
O temor de atribuir a obra do Espírito Santo ao Diabo ou demônios era e
é muito real no Movimento de Línguas. Há, logicamente, uma base
bíblica para isto, Mt 12:31-32. Mas ir a um extremo e permitir que o
engano siga sem ser desafiado, mesmo quando somos
escrituristicamente advertidos vez após vez, é também ser
desobediente e pecador!
É verdade que atribuir a obra do Espírito Santo a Satanás é um pecado
bastante sério, mas é também um sério pecado quando atribuímos as
obras da carne e de Satanás ao Espírito Santo! Temo que muito disso
seja feito hoje. O Espírito Santo recebe crédito para muitas e muitas

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coisas que Ele não faz! Irmãos, evitemos esse pecado também!

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RAZÃO 12:
O PONTO DE VISTA DE QUE A IGREJA DE CORINTO ERA MODELAR
Pelo fato de que o falar em línguas é de tanta proeminência na 1ª
Epístola aos Coríntios e, incidentalmente, não é mencionada em
nenhuma das outras epístolas, tornou-se uma epístola muito importante
para nós. Eu, pessoalmente, como estou certo ser o caso de muitos
outros, considerava a igreja de Corinto como modelar na área dos dons
do Espírito Santo, particularmente o dom de línguas.
AQUI, PORÉM, DIRIJAMOS A NÓS MESMOS ALGUMAS PERGUNTAS:
1) FOI ESTA EPÍSTOLA ESCRITA PARA INCENTIVAR O USO ILIMITADO DE
LÍNGUAS, OU FOI ESCRITA PARA CORRIGIR A SUA EXCESSIVA ÊNFASE E
ABUSO NA IGREJA DE CORINTO?
2) É TUDO O QUE TRANSPIRAVA NA IGREJA DE CORINTO
DOUTRINARIAMENTE CORRETO E PODE ASSIM SER USADO COMO BASE
PARA DOUTRINA POR TODAS AS IGREJAS EM TODAS AS ERAS?
Podemos tomar por base a conduta daquela igreja como sendo exemplar
e agradável ao Senhor? Em suma, devem nossas igrejas hoje empenhar-
se em ser semelhante à igreja de Corinto? É uma igreja “modelo”?
Eu não examinava a primeira epístola aos Coríntios com estas perguntas
em mente. Dado o ensino com ênfase sobre línguas em que fui criado,
sentia e cria que devíamos assemelhar-nos mais aos coríntios, pois não
tinham eles o Espírito em operação nessa igreja?
O capítulo 1, verso 7, nos conta que a eles não havia falta de nenhum
dom. E dentre todas as igrejas, deve ter sido a mais espiritual por causa
da grande proeminência de línguas em seus cultos, pois somente nessa
igreja as línguas são mencionadas nas epístolas. Eles se destacavam no
falar em línguas!
Quão equivocado estava eu! Não é estranho como extremos doutrinários
podem cegar uma pessoa para a verdade?! Desde então aprendi, e não
foi do dia para a noite, que estava errado em meu entendimento da
epístola de 1 Coríntios.
Respondendo agora a nossas perguntas, primeiro, Paulo não escreveu
essa epístola para elogiar os coríntios por sua ênfase em falar em
línguas, ou para instá-los a fazerem ainda mais o mesmo, e sim para
trazê-los de volta a um uso mais restrito e ordeiro desse dom. De fato,
ele os instou a se preocuparem mais com os “melhores dons” (12:31).
Disse ele: “Procurai com zelos os melhores dons”, sendo um deles o dom

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de profecia (14:5): “Eu quisera que vós todos falásseis em outras
línguas; muito mais, porém, que profetizásseis”. Em 14:19 ele
acrescenta estas palavras: “Contudo, prefiro falar na igreja cinco
palavras com o meu entendimento, para instruir outros, a falar dez mil
palavras em outra língua”. Em outros termos, ele está lhes dizendo
claramente que estavam colocando a ênfase no lugar errado.
Em segundo lugar, Paulo torna muito claro em sua carta que os cristãos
coríntios, conquanto tivessem os dons do Espírito em operação em sua
igreja, não obstante eram “carnais” (3:1-4). Notem algumas das poucas
manifestações nada espirituais e “carnais” que se faziam presentes
naquela igreja:
Contendas--1:11; divisões--1:10, 12, 13; carnalidade--3:1-4; fornicação--
5:1; levar uns aos outros a tribunais--6:6-7; desordens na mesa do
Senhor--11:17, 20-22; imaturidade em questões espirituais--3:1, 12:1,
14:20; falta de ordem nas reuniões da igreja--14:40.
O que isso nos indica? A lição é clara. É possível ter os dons e, contudo,
falhar em espiritualidade. Leiam 1 Co 13:1-3 novamente! Lembrem-se
que a espiritualidade não é medida por seus dons, mas pelos frutos que
produz! Nessa área, então, a igreja de Corinto certamente não devia ser
seguida como uma igreja modelar!
A IGREJA DE CORINTO FALHA EM SER UMA IGREJA MODELO POR
CAUSA DE SUA FALTA DOS FRUTOS DO ESPÍRITO!
É isto que Paulo está tentando transmitir-lhes no capítulo 13
particularmente. “Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz,
longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança...”
(Gl 5:22-23). Mas nestas coisas a igreja de Corinto estava em falta. É por
isso que levavam uns os outros à justiça, eram briguentos, divididos e
demonstravam egoísmo e orgulho, etc. Não, a igreja de Corinto estava
longe de ser uma igreja modelo. Teria sido preferível tomar a igreja de
Filipos ou de Tessalônica como nosso modelo, mas daí, não há indicação
nas suas epístolas que falassem línguas!

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RAZÃO 13:
O PERIGO DE REIVINDICAR REVELAÇÃO EXTRABÍLICA
Enquanto ainda no Movimento de Línguas tive que defrontar o problema
de revelação divina--era a Bíblia um livro completo, concluído, ou Deus
estava continuamente revelando novas verdades, até os nossos dias?
Acaso a Bíblia contém tudo quanto o homem de Deus na era da Igreja
precisa para a fé e o viver a Ele consagrado, ou precisamos de
revelações adicionais?
Quando uma mensagem era dada em línguas e interpretada, ou quando
um “profeta” profetizava na assembléia, antecipando suas declarações
com o “Assim diz o Senhor”, ou “o Espírito declarou expressamente”,
seria isso de fato Deus falando por inspiração? Se sim, então estava essa
nova revelação em harmonia com a Escritura escrita? Se sim, podemos
adicioná-la à Bíblia? Seria esse “dom de profecia” o mesmo que tiveram
Pedro, Paulo, Tiago ou João?
Quando eu comecei a levantar tais perguntas, a resposta que recebia
era: “Não, nós não devemos adicionar às profecias de nossas Bíblias.
Eles simplesmente estão nos recordando verdades já na Bíblia, e devem
estar de acordo com as Escrituras”. Mas isso me levava a perguntar: “Se
não há novas verdades reveladas, por que não vamos às próprias
Escrituras em primeiro lugar, em vez de recorrer a esse método circular?
Somos por demais preguiçosos para ler, estudar e meditar? Devemos
obter nossas verdades bíblicas dessa maneira? A Bíblia não é suficiente?
Precisamos desse procedimento adicional?”
Em segundo lugar, temo que muitos cristãos, particularmente os mais
jovens, obtenham a impressão errada desse procedimento e concluam
que isto de fato é nova revelação--Deus falando diretamente por
inspiração. Estes se baseariam em tais mensagens para sua direção, o
que, em alguns casos, conduziu ao naufrágio espiritual. Se nos valermos
desse meio para nos guiar, ficamos abertos para o engano. A mensagem
pode ser alterada ou mesmo inventada pelo mensageiro. Lembremo-nos
das repetidas advertências nas Escrituras sobre os falsos profetas (Mt
24:11,24, etc.). Muitos descobriram isto para a sua tristeza. Mas sei com
certeza que as Escrituras são certas, confiáveis e seguras.
Lembrem-se da declaração em 2 Pedro 1:19: “E temos, mui firme, a
palavra dos profetas [as Escrituras], à qual bem fazeis em estar atentos,
como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça, e
a estrela da alva apareça em vossos corações”. As Escrituras! Elas são o
meio que Deus ordenou à fé, direção, crescimento e maturidade cristãs.

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Notem também a declaração de Paulo quanto a este ponto em 2 Tm
3:16-17: “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para
ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que
o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a
boa obra”. O que está Paulo dizendo aqui? De que necessita o homem de
Deus para guia, crescimento em maturidade, para produzir boas obras?
Não de novas revelações ou desses procedimentos forçados que podem
ser enganosas falsificações, mas das Escrituras que Deus concedeu à
Igreja mediante aqueles a quem Ele ordenou que lançassem o
fundamento da Igreja (Ef 2:20, 3:3-5). Leiamos estes versos: “Edificados
sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é
a principal pedra da esquina”; “Como me foi este mistério manifestado
pela revelação, como antes um pouco vos escrevi; por isso, quando
ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo, o
qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos dos homens, como
agora tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e
profetas”.
Paulo aqui reivindica o dom de profecia, pelo qual Deus revelou
“mistérios” (verdades não reveladas antes) mediante ele. Mas notem
cuidadosamente o verso 5: “O qual noutros séculos não foi manifestado
aos filhos dos homens [isto é, a verdade e doutrina da igreja] como
agora tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e
profetas”. “Agora... revelado”. Quando? Não uma contínua revelação ao
longo de toda a era da Igreja, como alguns tentam ensinar, mas a
palavra “agora” aponta especificamente para os dias de Paulo--o tempo
dos apóstolos. Deus nos concedeu a verdade da Igreja, o Novo
Testamento, mediante o qual o Espírito Santo falou (2 Pd 1:19-21).
Quando o último apóstolo depôs sua pena, o Novo Testamento estava
completo e a revelação cessou. Tudo de quanto precisávamos para toda
a era da Igreja, “para o ensino, para a repreensão, para a correção,
para a educação na justiça” (2 Tm 3:16), estava escrito e preservado
para nós no abençoado Novo Testamento ao complementar o Velho
Testamento. As Escrituras são completas! A Palavra escrita é suficiente,
e realmente não há necessidade de revelações orais adicionais!
Incidentalmente, isso significa que não há mais qualquer necessidade do
verdadeiro dom de profecia na igreja hoje. O cânon da Escritura está
completo.
Por que profecias então? Eis porque, em 1 Co 13:8-10 Paulo afirma: “O
amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo
línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte,
conhecemos, e em parte profetizamos; mas, quando vier o que é

59
perfeito, então o que é em parte será aniquilado”. Profecia, um dom de
revelação, foi concedida pelo Espírito Santo para nos conceder as
Escrituras do Novo Testamento, peça por peça, parte por parte, 27
livros ao todo. Mas agora que o cânon das Escrituras está “perfeito”, ou
seja, “completo”, esse dom, bem como os outros dons revelatórios aqui
mencionados--línguas e o dom do conhecimento, “cessariam” ou
“desapareceriam”. Por quê? Em vista de que o seu propósito na Igreja
foi cumprido e não havia mais necessidade ou emprego para os mesmos.
Por que, então, devemos insistir de que devemos ter esses dons em
operação na igreja hoje?
Um breve exame adicional de outras passagens que indicam que a
revelação da verdade neotestamentária para a Igreja está completa
deve ser aqui acrescentado, conquanto o tempo e o espaço não
permitam a inclusão de tudo sobre este assunto. Mas notem
particularmente Judas, vs. 3: “Amados, procurando eu escrever-vos
com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade
escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos
santos”. Por favor, notem as palavras “a fé”. Ele está falando aqui do
corpo de verdades que então foram dadas à Igreja, ou seja, o Novo
Testamento. A expressão “a fé” é também encontrada em Gálatas 1:23
“Mas somente tinham ouvido dizer: Aquele que já nos perseguiu anuncia
agora A FÉ”. E assim também em 1 Tm 4:1. É-me dito que o artigo
definido “a” no grego aqui indica a única fé.
Não há outra!
NÃO MAIS NECESSIDADE DE PROFECIAS!
Notem também as palavras “uma vez”, ou “uma vez por todas” como
variante que minha Bíblia traz à margem. Segundo W. E. Vine, o termo
grego aqui significa, “uma vez por todas, do que é de validade
perpétua, não requerendo repetição”. A mesma palavra grega é também
empregada em Hb 9:28: “Assim também Cristo, oferecendo-se UMA VEZ
uma vez para tirar os pecados de muitos”, como também em 1 Pedro
3:18: “Cristo morreu, UMA ÚNICA VEZ, pelos pecados”. Obviamente, a
expressão “uma vez” empregada nesses três versos significa que não
seria repetido. Foi um ato de uma vez por todas. Uma vez que assim é,
as Escrituras como dadas mediante a instrumentalidade dos apóstolos
são completas e finais. Não há revelação adicional requerida ou
posterior no plano divino para a Igreja.
Uma palavra mais aqui em Judas 3 merece nossa atenção. É a palavra
“dada”. “... batalhar pela fé que uma vez foi DADA aos santos”. John F.
MacArthur, Jr., em seu livro The Charismatics, assinala que no grego

60
esta palavra é um particípio aoristo passivo, que indica um ato
completado no passado sem elemento de continuidade (Op. Cit., Grand
Rapids: Zondervan, 1978). Assim, devemos concluir que as Escrituras são
a revelação final à igreja, e estão completas.
Alguns outros textos que indicam isto são Gl 1:6-9, Hb 1:2, 1 Co 15:1-4,
e Ap 22:18-19.
Há uma tendência perigosa no Movimento Carismático de buscar
revelações e declarações proféticas, à parte do texto das Escrituras. E
os extremos geralmente começam com pequenos desvios. Devemos
indagar-nos, “Onde isso tudo terminará?” Muitas seitas têm seguido por
esse rumo, como os mórmons, a Ciência Cristã, os Filhos de Deus, os
seguidores de Sun Myung Moon, e também a Igreja Católica Romana.
Lembrem-se disto: a grande tese Protestante é e sempre tem sido, de
que o Espírito Santo fala através das Escrituras! Com respeito a novas
revelações alguém disse: “Se é verdade, não é novo, e se é novo não é
verdade!” De volta às Escrituras devia ser nossa senha nestes dias de
perigosos e crescentes enganos! Encerro com esta passagem de
advertência, 1 Tm 4:1. Por favor, considerem-na atentamente: “O
Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns
da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de
demônios”.

61
RAZÃO 14:
OS EXCESSOS E PRÁTICAS ENGANOSAS TOLERADAS NAS CAMPANHAS
DE CURAS DIVINAS
É desnecessário dizer que cresci num ambiente espiritual onde a cura
divina era um ensino e prática destacados. As campanhas de cura divina
eram muito populares, atraindo grandes multidões de longe e perto,
muitas vezes acarretando grandes despesas aos doentes que precisavam
de transporte e cuidados especiais. Mas também, para a maioria dos
enfermos, revelava-se um desapontamento. As suas expectativas tinham
sido tão elevadas, somente para serem destroçadas após toda a
excitação ter findado. Alguns pareciam experimentar um alívio
momentâneo da dor, mas a grande maioria não descobria quaisquer
benefícios duradouros. E a essas alturas o realizador de curas estaria
muito longe para ser questionado ou explicar-se. Um doente então era
simplesmente forçado a acusar-se de falta de fé ou, em alguns casos,
perder totalmente a fé. Esse tipo de procedimento concernente ao
tratamento dos doentes é uma questão muito séria e devia ser
questionada à luz das Escrituras. Muito reproche tem sido atribuído à
causa de Cristo pelas ações de algumas pessoas inescrupulosas que
reivindicam serem profetas, operadores de milagres ou de disporem do
dom de cura. Sobre esses, adverte-nos Pedro, “por avareza farão de vós
negócio com palavras fingidas” (2 Pd 2:1-3). Que desprezível! Passam a
imagem de serem os que podem ajudar, mas, na realidade, devido à
cobiça, saem a campo para explorar os que menos têm condições de
lhes dar dinheiro.
Neste ponto desejo tornar muito claro que creio na cura divina. Tenho
visto o Senhor curar enfermos em resposta à oração, não no ambiente
espetacular de campanhas especiais de cura, mas no simples
procedimento bíblico de Tiago 5:14-16. Também não desejo ser mal
compreendido como me opondo às orações pelos enfermos, longe de
mim tal. Mas eu creio que precisamos estar atentos às claras
advertências nas Escrituras com respeito aos falsos e enganadores que
vêm em nome de Cristo, mas não são dEle--Mateus 7:21-23. Antes de
examinarmos a Escritura sobre este tópico, desejo contar-lhes de uma
campanha de cura de que participei ativamente, na qual o Senhor abriu-
me os olhos às práticas enganosas que eram empregadas. Integrei-me a
essa campanha crendo firmemente na genuinidade do operador de curas
e seu dom de curar. Fiz tudo quanto podia para ajudá-lo. Estava cem
por cento em favor dele e em seu apoio e incentivei amigos doentes a se
deslocarem longas distâncias a fim de serem curados.

62
Nessa ocasião, creio que foi em 1947, eu pertencia ao corpo docente de
nossa escola bíblica denominacional em Saskatoon, Sask., Canadá. As
reuniões de cura eram realizadas no auditório da igreja adjacente ao
dormitório e escritório da Escola Bíblica. Minha responsabilidade era
colocar os vários enfermos, tais como os que vinham em macas, nos
vários quartos do dormitório. O operador de “curas” nessa campanha em
particular era William Branham dos EUA, que havia sido convidado pelos
dirigentes de nossa igreja para ministrar em algumas de nossas maiores
igrejas da cidade. Os cultos foram bem freqüentados por pessoas
procedentes de longas distâncias, muitas de outras províncias
canadenses.
Quando o Sr. Branham concluía sua reunião no auditório da igreja, eu o
tomava pelo braço e o conduzia de quarto em quarto no dormitório para
que ele orasse por aqueles que eram incapazes de assistir às reuniões ou
postar-se nas linhas dos buscadores de cura. Isto me deu uma excelente
oportunidade de trabalhar em íntimo contato com ele e observar o que
se passava. Permitam-me repetir aqui que na ocasião estava
inteiramente do lado do Sr. Branham, e orava fervorosamente com ele
pela cura daquelas queridas pessoas sofredoras. Na época, ele garantiu
a um após outro que estavam curados. Regozijei-me em louvor ao
Senhor com eles.
Uma prática comum do Sr. Branham era tomar a mão da pessoa enferma
e daí pronunciar algo como, “as vibrações em sua mão me dizem que
tem câncer. Mas orarei para que o Senhor lhe cure”. Quando terminava
de orar, ele dizia algo como, “as vibrações desapareceram, o câncer
está eliminado. Está curado(a)! Mas ficará doente por cerca de três dias
até que o seu organismo lance fora todo o tecido canceroso. Porém não
se preocupe, está curado(a). Apenas confie no Senhor”. Com palavras
semelhantes ele garantia a esses sofredores que iriam recuperar-se.
Isso, logicamente, trazia esperança e alegria a essas queridas almas,
muitas das quais respondiam com uma elevada dádiva financeira, às
vezes além de seus meios. Algumas vezes grandes montantes eram-me
entregues para repassá-los ao Sr. Branham, o que eu sempre fazia
alegremente, pois eu também cria nele.
Este deve ser apenas um breve retrato do que se passava dia após dia
durante toda a campanha, mas podem imaginar o regozijo que se criava
pelas declarações de cura desse homem, e a esperança que era
transmitida a centenas de pessoas que sentiam-se desesperadas em sua
dor e sofrimento. Gostaria de poder prosseguir contando que todas essas
pessoas, ou pelo menos um bom número delas, alcançaram a
recuperação. Mas não posso. O tempo passava, a campanha terminava,

63
e o Sr. Branham e sua equipe iam embora. Então eu começava a ver os
resultados sendo submetidos à prova do tempo. Era uma ocasião difícil
para nós, e particularmente para mim. Pois um por um daqueles que eu
pessoalmente vi “curados” e declarados tais pelo operador de “curas”
morriam. Nossa fé era severamente provada. Parentes dos falecidos
perguntavam: “Por quê?” O que lhes podíamos dizer?
Eu me fazia várias indagações: Se essas pessoas foram realmente
curadas, por que morreram? A fé delas falhou? Por que, então, tantos
fracassam em sua fé e perdem sua cura? Como se ajusta isso com os
eventos de cura registrados na Escritura? Acaso as pessoas curadas por
Cristo e Seus apóstolos perdiam sua cura? Estariam sujeitas a uma
reincidência de doenças caso sua fé falhasse? Ou, podia dar-se o caso de
que essas curas do Sr. Branham eram ilusórias e ilegítimas, afinal de
contas, embora nós crêssemos serem genuínas? E, pior ainda, seria
possível que havíamos sido vítimas do engano?
Todas essas perguntas foram sendo gradualmente respondidas nos dias e
semanas que se seguiram à campanha. O tempo e o espaço não me
permitem aqui pormenorizar os vários incidentes envolvidos, mas
simplesmente farei referência a uns poucos casos.
Nas primeiras semanas que se seguiram à campanha recebemos
informação após informação de pessoas cuja cura não havia persistido.
Ou haviam retornado a sua condição original, ou morrido. Era
perturbador! Alguns jornalistas “intrometidos” haviam realizado uma
investigação e seus relatórios feriram a reputação de nossas igrejas e
testemunho segundo mais e mais pessoas, que supostamente haviam
sido curadas, revelaram-se como não tendo experimentado realmente
cura alguma.
Um dia, enquanto estava ocupado no escritório da Escola Bíblica, recebi
um visitante. Ao ele entrar, imediatamente o reconheci como pai de
quatro de nossos estudantes da Escola Bíblica. Eles eram de uma família
altamente respeitada em nossa comunidade de fé. Mas não muitos dias
antes disso, durante a campanha, ele havia trazido a esposa de avião,
enferma com câncer, para Saskatoon. Havia telefonado para mim do
aeroporto para que providenciasse uma ambulância para levá-la até o
local das reuniões a fim de que orações de cura pudessem ser proferidas
por ela.
Fiz os arranjos devidos e coloquei-a num dos quartos do dormitório.
Naquela noite, quando o Sr. Branham terminou o seu programa no
auditório da igreja, conduzi-o até o seu quarto onde ele orou por ela e a
pronunciou curada. Desnecessário é dizer que todos nos regozijamos

64
juntos! Eles retornaram alegremente por ambulância e avião para casa.
Agora, vários dias depois, esse querido irmão sentava-se diante de mim
em nosso escritório com coração pesado e mente em turbulência. Ele
havia vindo de quase 300 km para conversar comigo. Antes de fazê-lo,
contudo, eu já sentia o que provavelmente havia ocorrido.
A despeito disso, porém, sua pergunta ainda me choca bastante: “Irmão
Pohl”, disse, “o irmão esteve ali junto ao leito de minha esposa na noite
em que o Sr. Branham orou por ela e a pronunciou curada, não esteve?”
Eu respondi, “sim, estive lá”. Ele prosseguiu, “pode me dizer por que
minha esposa que foi curada poucos dias atrás está agora na sepultura?”
Meus amigos, creio que esta foi uma das perguntas mais difíceis que
jamais me foi pedido para responder! Meus sentimentos de empatia para
com esse irmão eram evidentes. Mas como eu podia responder-lhe?
Deveria dizer-lhe que a sua fé, e a de sua família, havia falhado?
Contudo, a sua família era altamente reconhecida em nossa
denominação pela elevada espiritualidade. Ou, por outro lado, devia
dizer-lhe que talvez o Sr. Branham não possuía os dons de cura afinal de
contas e que todos fomos ludibriados? Admitir isso refletiria seriamente
sobre a sabedoria e integridade de nossos dirigentes denominacionais
que haviam trazido o Sr. Branham para o Canadá a fim de ministrar em
nossas igrejas.
De fato, não posso lembrar-me exatamente o que eu disse a esse
querido irmão. Mas sei que isso me despertou sérias reflexões quanto a
tudo isso. Comecei a questionar seriamente essa área toda de nosso
ensino e prática relativos à metodologia de cura divina. Não estou tão
certo, porém, se muitos outros fizeram o mesmo.
Alguém poderia talvez dizer que o seu caso teria sido uma exceção. Mas
teria sido? Então ocorreram demasiadas “exceções”! Permitam-me citar
outro caso:
Certa tarde, durante a campanha de cura, eu respondi a um chamado
telefônico. A chamada era de um pastor pentecostal de Ontário. Ele
havia vindo de avião com a esposa, afetada por câncer, e sua
enfermeira. Como noutras ocasiões, eu os admiti num quarto do
dormitório, e no devido tempo ela foi objeto da oração e o Sr. Branham
a pronunciou curada. Novamente houve muito regozijo. Lembro-me de
que o pastor me entregou um cheque de razoável soma de dinheiro para
transferir ao Sr. Branham. Ao fazê-lo, contou-me que não podia dar-se
ao luxo de oferecer esse tanto, mas o Sr. Branham merecia isso porque
sua esposa agora estava curada. Ele havia gasto milhares de dólares com

65
médicos que não a ajudaram.
Passaram-se várias semanas e eu, como secretário-missionário de nossa
denominação, tive que visitar e ministrar em nossas igrejas na província
de Ontário. Quando na vizinhança da cidade desse pastor, perguntei
sobre a condição de saúde de sua esposa, apenas para ser informado de
que ela havia falecido. Que golpe isso não deve ter sido para esse
querido irmão! Mas isso não foi tudo. Foi-me dito que ele tinha um bom
ministério radiofônico na sua cidade. Quando ele voltou das reuniões de
cura divina em Saskatoon, anunciou no seu programa de rádio que a
esposa havia sido maravilhosamente curada. Contudo, pouco tempo
depois teve que informar a sua audiência radiofônica que a esposa havia
morrido. Foi-me dito que isso acarretou um severo golpe sobre o seu
ministério radiofônico.
Meus amigos, que tipo de testemunho é esse ao mundo? Algo estava
errado. Teria a fé do pastor falhado?
Permitam-me perguntar: esse tipo de coisa acontecia com os que eram
curados por Jesus ou Seus apóstolos? Onde, então, está isso registrado?
Como cristãos, às vezes pensamos que não seremos “caridosos” se
relevarmos essas coisas, mas é isso verdadeira “caridade” ou amor? É
demonstração de amor permitir que esse tipo de coisa suceda em nossas
igrejas, para o desnecessário sofrimento, agonia, desapontamento, e
despesa dos enfermos? E, mais importante, é escriturístico deixar de
lidar com o falso, o ilusório? (ver Tito 1:7-14).
Como dirigentes da Igreja somos chamados para “proteger as
ovelhas... ou os lobos?”
Foi essa falha de nossa denominação, e do Movimento de Línguas em
geral, em lidar com ministros de elevada posição ou popularidade que
careciam de ser corrigidos ou desmascarados que se tornou uma das
maiores razões para eu deixar o Movimento. Cheguei à conclusão de que
a excitação, o espetacular, não eram o mais importante. Se genuína,
obra de glorificação a Deus operada pelo Espírito Santo não se fazia
presente nas reuniões de cura.
Agora, conquanto muito mais poderia ser dito, devo concluir esta seção
com este sumário: creio que o Senhor de fato cura hoje. Seu método
para nós é declarado em Tiago 5:14-15, onde as pessoas doentes devem
chamar os anciãos da igreja. Hoje isso foi revertido e os operadores de
“cura” são os que chamam os doentes! Grandes ofertas são geralmente
levantadas, boa parte das quais vai para o operador das “curas”.
Uma vez mais me é lembrada a advertência de 2 Pedro 2:3, onde lemos:

66
“por avareza farão de vós negócio com palavras fingidas...”
Tragicamente, por causa disso, “será blasfemado o caminho da
verdade”. Traz opróbrio sobre o Evangelho de Cristo.
Em segundo lugar, devemos examinar os resultados das modernas
campanhas de cura e compará-los com os de Cristo e Seus apóstolos.
Que percentual de pessoas pelas quais se orou por cura realmente foram
curadas? Geralmente, segundo o que tenho observado, a média é
baixíssima. Sim, há alguns curados. Há sem dúvida algumas curas
psicológicas, e daí há uns poucos cuja fé alcança até o próprio Cristo.
Creio que estes são curados a despeito do operador de curas, mas são
bem poucos em número. Não se enganem com o número que imagina ter
visto de pessoas curadas nas campanhas. Isso tudo pode ser muito
enganador. Apanhado na excitação e espírito da reunião, alguém pode
ser facilmente enganado. Tive o privilégio de estar “por dentro” dessa
campanha em particular e foram-me abertos os olhos a alguns dos
detalhes de bastidores. Se o tempo permitisse, eu poderia relatar vários
casos em que pessoas na audiência julgaram ter testemunhado um
milagre, quando nada disso de fato se deu.
Contudo, o mais importante, a pequena percentagem daqueles curados
hoje comparam-se muito desfavoravelmente com o registro bíblico.
Lemos a respeito do próprio Cristo em Mt 8:16: “E, chegada a tarde,
trouxeram-lhe muitos endemoninhados, e ele com a sua palavra
expulsou deles os espíritos, e curou todos os que estavam enfermos”.
Sobre os apóstolos, lemos em Atos 5:16: “E até das cidades
circunvizinhas concorria muita gente a Jerusalém, conduzindo enfermos
e atormentados de espíritos imundos; os quais eram todos curados”. Não
havia necessidade, naqueles dias, de perguntar: “Houve alguns que
foram curados?” Não! Todos eram curados! Esse era o verdadeiro dom
de cura.
Era genuíno. Que aqueles que professam ter os dons de cura hoje
produzam esse tipo de evidência! Mas, é triste dizer, eles ficam muito
aquém do genuíno.
Ademais, alguns dos modernos operadores de cura se “especializam” em
curar certos tipos de doenças. Evitam os casos mais difíceis tal como de
pessoas severamente deficientes. Mas as curas realizadas por Cristo e
Seus apóstolos não se limitavam a certas enfermidades. A respeito do
Senhor Jesus lemos que Ele curava “todas as enfermidades e moléstias
entre o povo” (Mt 9:35). E como lemos em Atos 5:16, os apóstolos
“curavam a todos”, obviamente toda enfermidade e doença era
enfrentada por eles.

67
Por fim, devemos também recordar que os maravilhosos dons-sinais
foram dados aos apóstolos, e àqueles a quem eles autorizavam, para
serem suas credenciais apostólicas ao serem chamados para completar o
lançamento dos alicerces da Igreja que Cristo havia começado (Ef 2:20).
A isso é que Paulo está se referindo em 2 Co 12:12 ao defender o seu
apostolado perante a igreja de Corinto. Lemos: “Os sinais do meu
apostolado foram manifestados entre vós com toda a paciência, por
sinais, prodígios e maravilhas”. Minha indagação aqui é: Se alguém à
parte dos apóstolos ou daqueles por eles autorizados pudessem realizar
esses impressionantes e genuínos milagres e curas, então onde e qual
seriam os sinais de um apóstolo? Devemos concluir, então, que esses
dons especiais de cura e milagres foram dados aos apóstolos como suas
credenciais enquanto concluíam o lançamento dos alicerces da Igreja, e
quando concluíram sua obra, e deixaram a cena terrena, esses dons-
sinais não mais eram vigentes.
A grande exibição do miraculoso que acompanhava Cristo e os apóstolos
nos primórdios da Igreja findou com o desaparecimento dos apóstolos.
Tentarmos duplicar isso hoje pode somente conduzir a confusão e
abertura de uma porta que dá lugar ao engano e desapontamento. Creio
que a história recente simplesmente demonstra isso.
A história eclesiástica também nos mostra que, com o desaparecimento
dos apóstolos, a grande exibição dos dons miraculosos cessou. Mesmo
perto do fim do ministério de Paulo aparentemente ele não empregou os
seus dons de curar ao escrever para Timóteo, em 2 Tm 4:20: “... deixei
Trófimo doente em Mileto”. Agora, se o moderno ensino de que Deus
deseja que todo o Seu povo esteja bem e saudável o tempo todo, por
que Paulo não exerceu os seus dons de cura e curou a Trófimo?
Sinceramente, ele poderia ter usado a ajuda de Trófimo em seu
ministério... Mas parece que mesmo então já o dom de cura havia
cessado.
Isso não significa que Deus não possa ou não realize curas hoje,
conquanto Ele haja retirado o dom. Ele é ainda soberano, e responde às
orações, se formos em busca dEle segundo Tiago 5:14-15.
Graças a Deus muitos foram curados, não mediante o dom, mas pela
“oração de fé”. Mas não devemos esperar a mesma demonstração
espetacular de curas e milagres que acompanharam o ministério de
Cristo e Seus apóstolos, pois isso lhes pertencia como suas credenciais e
aos primórdios da igreja. Agora, nós “andamos por fé, e não por vista”.
(2 Co 5:7).

68
RAZÃO 15:
TENDÊNCIA À DEVOÇÃO CEGA E INQUESTIONÁVEL A LÍDERES
POPULARES
Há uma perigosa tendência no Movimento a idolatrar e atribuir indevida
reverência a líderes com habilidades e forte personalidade, ou, como
diríamos, “carisma”. Mesmo quando há flagrantes erros, incoerências e
práticas antibíblicas, muitos apoiarão, defenderão e cegamente seguirão
esses líderes. Numa seção anterior, fiz referência a um “profeta-
evangelista” que visitou uma de nossas igrejas. Lembro-me do
inquestionável respeito, reverência e admiração que as pessoas
revelavam, especialmente quando ele “profetizava”. Isso me faz
lembrar os samaritanos em Atos 8:9-11, que também davam indevida
reverência a Simão, o mago. Lemos estas palavras no vs. 10: “Ao qual
[ou seja, a Simão] todos atendiam, desde o menor até ao maior,
dizendo: Este é a grande virtude de Deus”. Acredito que muitos hoje são
semelhantemente enganados por falsos profetas e operadores de
supostos milagres, a despeito das advertências tantas vezes repetidas na
Bíblia contra o engano. O profeta evangelista mencionado revelou-se um
falso profeta, contudo a ele era atribuída grande honra e respeito por
praticamente toda a igreja.
É impressionante como essas personalidades astutas conseguem cativar
as mentes e corações de cristãos sinceros e ingênuos e cegá-los para
seus erros e faltas!
Lembro-me de ter ouvido, quando ainda garoto, relatórios luminosos
sobre Aimee Semple McPherson. Ela foi originadora de uma das
denominações de línguas, e aclamada como grande líder. Muitos de nós
teríamos considerado um grande privilégio vê-la e ouvi-la falar. Mas a
despeito de que grandes multidões a seguissem e idolatrassem, o quadro
nos bastidores não era nada luminoso. Um exame de seu registro é tão
decepcionante quanto revelador. Mas estou seguro de que muitos de
seus dedicados seguidores não crerão em nada que se prove contra ela.
Não podem e não desejam crer que sua reverenciada líder poderia ser
culpada de cometer qualquer erro.
Outro operador popular de milagres, o Sr. A. A. Allen, a quem ouvia pelo
rádio anos atrás e que teve um considerável número de apoiadores, foi
encontrado morto em seu quarto de hotel em San Francisco em 1970.
Ele aparentemente havia vindo para a cidade para uma operação de seu
joelho artrítico, mas morreu em seu quarto de hotel. Autoridades
médicas relataram que ele morrera de alcoolismo agudo e infiltração
gordurosa no fígado. Mas ouso dizer que muitos de seus fiéis seguidores

69
não creram no relatório dessas autoridades. Simplesmente não podem
crer que o seu líder pudesse fazer tal coisa.
Essa “lealdade cega” que prevalece demais em muitas áreas do
Movimento é que é alarmante. No campo do apoio financeiro, muitos
sinceros dentre o povo de Deus, dominados pelo “carisma” ou
personalidade de algum líder, dão generosas quantias como oferta a tais
pessoas, sem investigarem ou questionarem que uso se faz de suas
ofertas e dádivas.
Apenas para ilustrar, refiro-me a um item noticioso que apareceu no
periódico Calgary Herald, de 7 de junho de 1980. O artigo fazia
referência aos apelos do evangelista Rex Humbard por suporte
financeiro para seus programas de TV, e daí contava como ele gasta
algum desse dinheiro. Eis parte da citação:
“O evangelista Rex Humbard, que no ano passado disse que
seu ministério da TV estava em apertos financeiros e apelou
aos telespectadores para conseguir mais fundos, admite que
ele e seus filhos recentemente adquiriram uma casa em
condomínio na Flórida por 650.000 dólares.
„Meu povo não dá a mínima para a forma como gasto esse
dinheiro‟, declarou Humbard.
Humbard disse, em 24 de setembro passado, que o seu
ministério estava em débito de 3,2 milhões de dólares, mas
adquiriu uma casa em condomínio perto de Palm Beach, Fla.
juntamente com os filhos por 650.000 dólares, relatou esta
semana o Cleveland Press” (Calgary Herald, 7 junho de
1980).”
Quando o Sr. Humbard disse “O meu povo não dá a mínima para a forma
como gasto esse dinheiro” ele certamente revelou uma tendência óbvia
e uma realidade entre muitas pessoas carismáticas hoje, e ressaltou o
que estou tentando demonstrar.
Muitos cristãos hoje são por demais confiantes. Ousaremos lidar com o
dinheiro do Senhor desse modo leviano, seja no dar ou receber?
Não admira, pois, que muitos pastores e missionários tementes a Deus
que servem ao Senhor em pequenas igrejas ou em áreas difíceis estão
sofrendo por falta de apoio suficiente, porque o dinheiro de Deus está
sendo “drenado” por personalidades atraentes. Também pensem em
como os não-cristãos vêem tudo isso. Seria um bom testemunho? De
modo algum! O próprio fato de que esse repórter de jornal investigou e

70
o Calgary Herald publicou este artigo nos diz algo.
Esta tendência, portanto, de cega devoção e fidelidade a líderes com
forte personalidade, creio, é muito perigosa. Vemos muito do mesmo
em algumas das seitas mais conhecidas hoje. Tudo de quanto
precisamos para realçar este ponto é mencionar o nome de Jim Jones.
Em 1978 o mundo ficou chocado com o suicídio em massa de centenas
de fiéis seguidores de Jones. Por que fizeram isso? Porque muito antes
daquele fatídico dia eles dedicaram cega e inabalável fidelidade a
Jones. Começaram por confiar nele em tudo e para tudo, mesmo quando
fazia coisas erradas. Deixaram de pensar por si próprios. Estavam
enganados. Certamente não seguiam a Palavra de Deus devidamente no
que esta ensina ou não teriam seguido a Jones por muito tempo.
É tão importante, cristãos, que permaneçamos muito atentos à Bíblia.
Estudem-na! Creiam nela! Confiem nela! Sigam-na!
Alguém poderia objetar aqui e dizer que eu estou sendo muito duro
sobre o povo do movimento carismático, ou de línguas, nessa área.
Permitam-me, então, acrescentar este pensamento: é também verdade
entre os cristãos não ligados a línguas que podemos encontrar líderes
com forte personalidade que tiram vantagem de cristãos que neles
confiam. Mas há esta diferença--se o pessoal de línguas está certo de
que “possuem mais” e são “cheios do Espírito” porque falam em línguas
e são, portanto, “mais espirituais” do que os que não são ligados a
línguas, então deveriam ter um melhor registro nessa área! Se de fato
têm mais do que nós, isso devia ser evidente! Uma coisa é levantar uma
reivindicação, outra muito diversa é produzir a evidência.
Que nós todos, pela graça de Deus, nos empenhemos em ser mais
orientados segundo as Escrituras, mais leais a nosso Senhor Jesus Cristo
e às Escrituras do que a personalidades!

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RAZÃO 16:
A POSSIBILIDADE DE QUE O MOVIMENTO CARISMÁTICO SEJA A
INSTRUMENTALIDADE PARA PRODUZIR A PROFETIZADA IGREJA
ECUMÊNICA MUNDIAL DOS ÚLTIMOS DIAS
Estritamente falando, esta não foi uma razão por que abandonei o
Movimento de Línguas, mas é um motivo pelo qual não estou e não
estaria no Movimento hoje. Vejo sinais de grande perigo adiante. Alguns
outros cristãos compartilham das mesmas preocupações comigo. Desejo
que estivesse errado, mas todos os sinais presentemente indicam que o
Movimento Carismático poderia ser o denominador comum para uma
igreja ou organização mundial ecumênica. No passado, todas as
tentativas de conseguir ecumenicidade com base na fé, crença ou
doutrina falharam. Mas no Movimento Carismático, a unidade é
conseguida, não por unanimidade de doutrina, mas com base numa
experiência religiosa comum. Para eles, em grande medida, a doutrina
não é o mais importante. Mas a experiência é.
Destarte, não é de surpreender que nos círculos carismáticos pessoas de
muitas formações denominacionais e doutrinas podem todas adorar e ter
comunhão conjuntamente, não por concordarem sobre doutrinas, mas
porque concordam com uma experiência religiosa comum.
Esta é uma tendência muito perigosa! Por quê? Em vista de que pôr a
verdade de lado a fim de conseguir unidade por fim coloca Aquele que é
“a Verdade”, o Senhor Jesus, fora do Movimento. Isso é exatamente o
que está previsto em Ap 3:20: “Eis que estou à porta, e bato; se alguém
ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele
cearei, e ele comigo”. Aqui está um quadro da condição da Igreja nos
últimos dias. Vemos a Jesus em pé “fora” da Igreja, batendo à porta,
tentando entrar. Mas não há lugar para Ele. Doutrina e verdade podem
ser negligenciadas. A experiência tornou-se a coisa mais importante, e o
critério para pertencer à Igreja e dela participar não mais é a fé no
Evangelho de Jesus Cristo que torna alguém um cristão aceito. Aquele
que é “a verdade “não é mais desejado ou bem acolhido na Igreja, mas
deixado de fora... Que triste e trágica cena!
Pode dar-se, então, que o Movimento Carismático será a
instrumentalidade que ajudará a constituir a grande igreja mundial de
Apocalipse, capítulo 17?
É possível, se prosseguirem nos interesses de unidade a colocar a
experiência acima da doutrina. Qualquer coisa pode acontecer à Igreja
que se afasta dos sólidos fundamentos das verdades da Palavra de Deus.

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O Dr. Vernon McGee, numa programação radiofônica há não muito
tempo, fez referência a uma declaração de um carismático que disse
que nestes últimos dias Deus estava pondo de parte Sua Palavra a fim de
operar a união das igrejas! Será um triste dia, quando a Verdade deverá
ser sacrificada para obter-se a unidade! Mas é isso que vemos estar se
desenvolvendo hoje.
Talvez a advertência expressa por um querido tio pouco antes de ser
levado a descansar no Senhor esteja certa. Ele era um fervoroso cristão
pentecostal, e em minha última visita que lhe fiz, surpreendeu-me
grandemente com esta questão. Chamando-me pelo meu primeiro
nome, disse: “Sabia que o novo Movimento Carismático está conduzindo
nosso povo pentecostal para a igreja do Anticristo?” Nada do que ele
pudesse ter dito surpreendeu-me mais.
Mas, a partir desse ponto encontramo-nos em concordância e tivemos
uma proveitosa e magnífica conversação. Aquela foi a última visita que
lhe fiz, pois pouco depois ele veio a falecer.
Ele era um pentecostal dos velhos tempos, ou um daqueles que às vezes
chamamos de “pentecostais clássicos”. Estou descobrindo que alguns
desses pentecostais clássicos também estão ficando preocupados ou
alarmados com o que está se passando no “novo” Movimento
Carismático. Isso se evidencia por uma declaração feita por um autor
pentecostal, Sr. Harry Lunn, num artigo intitulado “Cuidado com o
Pentecostes Sem Cristo”. Diz ele: “Um Pentecostes sem
arrependimento, um Pentecostes sem Cristo, é isso o que alguns estão
experimentando hoje” (End Times Messenger, publicação da Igreja
Apostólica do Pentecostes do Canadá, Saskatoon, Sask., março de 1972).
Fiquei contente de ver esse artigo bem pensado e desafiador. Ele me diz
que alguns dos pentecostais clássicos estão também começando a ver os
sinais de advertência no “novo” Movimento Carismático.
Uma idosa tia minha, outra pentecostal clássica, também expressou suas
reservas ao dirigir-me esta indagação: “Como é isso que os católicos
carismáticos podem falar em línguas, e depois voltam para a Igreja
Católica e veneram Maria, oram aos santos e freqüentam a missa, etc.?
Como podem fazer isso? Há alguma coisa errada, não é mesmo?” Tive
que concordar com ela. Algo está errado! Não se sustenta à luz das
Escrituras. E para minha tia, era um problema especial porque ela
própria é uma conversa do catolicismo. Anos atrás quando ela foi salva,
sabia que não podia retornar para a Igreja Católica para ter comunhão e
adoração. Seria comprometer a verdade. Assim, agora ela não pode
compreender esses “novos” carismáticos.

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Estes são dias, portanto, em que devemos apegar-nos firmemente às
Escrituras. Há uma grande carência de estudo sério e profundo da Bíblia
entre o povo de Deus. Somente com a verdade seremos capazes de
combater a mentira.

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RAZÃO 17:
SUA DISTORÇÃO DA VERDADEIRA VIDA NA PLENITUDE DO ESPÍRITO
As Escrituras definidamente ensinam que há um enchimento do Espírito
para todo crente. Deus tem um plano pelo qual cada filho Seu pode
viver uma nova vida, uma vida de vitória, uma vida frutífera, um serviço
eficaz para Ele--uma vida que será semelhante à de Cristo e que
glorifica a Deus. A provisão básica de Deus para tornar isto possível é o
enchimento com o Espírito Santo, pois não podemos desenvolver vidas
santas e agradáveis a Deus em nossa própria força.
Já se perguntou alguma vez, por que o Senhor enviou o Confortador, o
Espírito Santo, para viver em mim? Qual foi o Seu propósito em fazê-lo?
Ao estudarmos os capítulos 14 a 16 do evangelho de João veremos um
número de razões, mas todas terminam apontando a um propósito
básico--a fim de que nós, pecadores, salvos pela graça, possamos viver
existências para a glória de Deus, troféus de Sua graça, e que também
possamos ser semelhantes ao nosso Salvador e Senhor vivendo vidas à
semelhança de Cristo.
O Senhor sabia que em nossa própria força isso seria impossível, assim
fez arranjos para que o Confortador, o Espírito Santo, habitasse em cada
crente--não somente para estar “com “ele, mas “nele”, João 14:17. (Ele
não poderia estar mais próximo de nós, podia?) Ademais, Ele “habita
conosco para sempre”! (João 14:16). Por que foi feito esse arranjo? Para
que, pela habitação do Espírito Santo, possamos submeter-nos em
nossos corpos a Ele, vivendo a vida de Cristo mediante nós--para que
possamos “viver” no Espírito e “andar” no Espírito.
Tudo de que precisamos para uma vida vitoriosa, agradável a Deus, já é
potencialmente nosso com a presença em nós do Espírito Santo!
Alguém pode perguntar: “Onde a plenitude do Espírito Santo entra, e o
que significa „ser cheio do Espírito Santo‟?” Nossa resposta a essas
perguntas, eu creio, determinará se mantemos o ponto de vista dos
carismáticos ou dos cristãos não-carismáticos. O pessoal de línguas
geralmente tem o conceito de que ser cheio do Espírito Santo
representa algo que ocorre num momento culminante, uma experiência
de uma vez na vida, por falar em línguas. Quando o falar em línguas
ocorre, assinala que o buscador “alcançou”. Agora alguns de fato crêem
que ocorrem novos enchimentos posteriores, mas seu entendimento de
plenitude deixa a impressão de que “agora eu a possuo”, e é o que
importa!
Como um jovem cristão no Movimento, adquiri essa impressão quando

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repetidamente ouvia testemunhos como: “Sou grato ao Senhor por ter
sido cheio com o Espírito Santo 40, 30, 10, ou seja quantos anos atrás,
com a evidência de falar outras línguas”. Isso me deixava pensando que
esse enchimento do Espírito Santo era algo como uma inoculação de
uma ocasião na vida. A partir dessa experiência estão perpetuamente
“cheios”. Contudo, em alguns casos, ficava a imaginar a eficácia dessa
experiência quando observava algo da conduta daqueles que assim
testificavam. Eu tinha que perguntar: “Se eles ainda estão cheios com o
Espírito, como podem fazer essas coisas tão erradas?” Algo não parecia
encaixar.
Por outro lado, a crença não-carismática, dos cristãos não ligados a
línguas, geralmente sustenta que a plenitude do Espírito Santo não é
uma experiência de uma vez na vida, mas envolve uma contínua
submissão ao enchimento do Espírito Santo, de modo que Ele possa
trazer nossas vidas diariamente em submissão ao senhorio de Cristo,
assim produzindo os frutos da justiça em nós. Em suma, é uma vida, não
uma experiência culminante na vida.
Outro ensinamento do pessoal carismático, ou de línguas, que contribui
para a confusão neste aspecto, é o de que a plenitude e batismo são
uma só experiência. Se fossem a mesma, então o ensino de que o
enchimento é uma experiência única na vida estaria correto, pois o
batismo é um evento único na existência de uma pessoa. Mas nunca
lemos nas Escrituras de alguém experimentando um segundo batismo do
Espírito.

Mas lemos várias vezes de cristãos experimentando novo enchimento.


Em parte alguma nas Escrituras temos uma ordem para que os crentes
sejam batizados no Espírito Santo, mas encontramos tal ordem
concernente ao encher-se do Espírito em Efésios 5:18.

O batismo e o enchimento são dois ministérios diferentes do Espírito


Santo. Pelo batismo todos os crentes são colocados no Corpo de Cristo, a
Igreja--1 Co 12:13. Ali, lemos: “Pois em um só Espírito, todos nós fomos
batizados em um corpo...” Trata-se de uma ação de Cristo de uma vez
por todas pelo Espírito que une o crente ao Seu Corpo, a Igreja. O uso
do verbo no passado--“fomos”--nos informa que todos os cristãos haviam
experimentado o batismo quando creram em Cristo. Não se trata de
uma experiência a ser novamente buscada. É por isso que não há ordem,
em parte alguma na Escritura, para os crentes buscarem o batismo.

Pelo batismo no Espírito somos agregados a Cristo. Já notou quantas


vezes a frase “em Cristo” aparece no Novo Testamento? O que isso

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significa? Como alcançamos essa posição? Pelo batismo do Espírito
Santo. No momento em que cremos em Jesus Cristo somos postos em
Cristo pelo batismo do Espírito. Mas agora devemos buscar o
enchimento. Vejamos Efésios 5:18, onde lemos: “E não vos embriagueis
com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito”.

Observem várias coisas que esta passagem nos diz:

1) Esta é uma ordem. Deus espera que cada cristão seja cheio com o
Espírito Santo. É o seu caso? É tão pecaminoso que não seja cheio do
Espírito quanto estar “embriagado”.

2) O enchimento não é opcional. Não é o caso de, “se eu desejar, eu


obterei!” Não! Deus espera que todos os cristãos sejam cheios, este é o
Seu plano para nós todos.

3) Esta ordem é dirigida a todos que já são cristãos, Efésios 1:1, e que já
foram batizados pelo Espírito Santo ingressando no corpo de Cristo, aos
que estão “em Cristo”.

4) Enchei-vos. Um detido exame dessas duas palavras pode ser de muito


auxílio. O grego aqui oferece o pensamento de “estar constantemente
sob o controle” do Espírito Santo. Anos atrás eu considerava o encher-se
do Espírito como uma experiência de uma só vez na vida. Um dia ouvi o
irmão Theodore Epp, do programa de rádio evangélico “Back to the
Bible Broadcast”, falar sobre Efésios 5:18. Ele assinalou esse sentido de
“ser cheio” no grego. Isso realmente chamou-me a atenção e ajudou-me
imensamente. Criava uma ligação de muitas passagens e verdades para
mim. Pois se um cristão é cheio com o Espírito, ele é realmente
controlado pelo Espírito. Não pode ser doutro modo. E se é controlado
pelo Espírito, então estará sob o senhorio de Cristo, que é onde
devemos nos achar. E ao estar sob o controle do Espírito ele também
“caminhará no Espírito”, e “viverá no Espírito”. A pessoa cheia do
Espírito, então, é alguém controlado pelo Espírito.

5) O Espírito Santo não é um poder, que você pode ter e usar, mas uma
Pessoa, que deseja ter a você e usá-lo! Isso nos suscita outro
pensamento: Se Ele está no controle, então não é o caso de eu ter “mais
dEle” (o conceito que tantos mantêm hoje ao buscarem a plenitude),
mas é o caso de Ele ter mais e mais “de mim”, sim, eu INTEIRO! (Rm
6:13,19; 12:1-2). Você não pode ter mais dEle, mas Ele pode, e devia,
ter mais de você.

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6) Todo cristão tem o Espírito Santo em sua vida como residente, mas o
cristão cheio do Espírito (por Ele controlado), tem-No em sua vida como
Presidente!

Em resumo, eu gostaria de repetir que creio que nossos pontos de vista


doutrinários sobre o Espírito Santo podem ou prejudicar ou cumprir o
maravilhoso plano e propósito de Deus de que todo cristão viva uma vida
frutífera, vitoriosa, e que honre a Cristo. Não há melhor testemunho a
um mundo perdido do que uma VIDA controlada pelo Espírito com o
fruto do Espírito em manifestação (Gl 5:22-23).
O mundo não se preocupa de quão freqüentemente gritemos e
clamemos: “Olhe para mim, eu sou cheio do Espírito porque falei em
línguas, etc.”, mas as pessoas notarão e cuidarão se perceberem uma
VIDA transformada, uma vida diariamente sob o controle do Espírito
Santo, uma vida que reflita: “Amor, alegria, paz, longanimidade,
benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio”. Tais
coisas são testemunhadas quando as pessoas vêem a Cristo vivendo em
nós! Este é o propósito de Deus para nossas vidas; não O desapontemos!

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