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Apostila de

MISSÕES URBANAS

Pr. Dr. Cl esi l vi o d e Castro S ou sa


Ministro Evangélico - Professor e Doutor em Teologia -
Diretor Geral – ITEF / CNPTEC
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Tema: Palavra do Diretor

Antes de começar nossos estudos, quero agradecer por ter se matriculado no


nosso Seminário Maior de Estudos Teológicos, quero dar-te as boas vindas e te desejar
bons estudos. Quero que saiba que estarei aqui pra te auxiliar no que for necessário,
contudo, quero que se esforce com toda dedicação pra obter um bom estudo.
Fazer um estudo teológico não é algo difícil, mas também não é tão fácil,
contudo, quando buscamos a direção do Espírito Santo, com toda dedicação e devoção,
somos levados a ter toda revelação que necessitamos.
Tenho total confiança em você, querido aluno, confiança essa que me leva a
saber que no futuro próximo, será um grande defensor da fé, e quem sabe um grande
obreiro capaz de pregar o evangelho com toda excelência e amor.
Quero aqui fazer uma aliança com você, uma aliança a qual primeiramente será
feita com o Senhor JESUS CRISTO, filho de Deus. A aliança é que irá estudar com desejo de
aprender mais de Deus, com intenção de ser edificado, com amor e alegria, e quando
possível, poder falar e compartilhar tudo quanto tem aprendido a outros para a glória de
Deus.
Busquem estudar a Bíblia todos os dias com a intenção de conhecer intimamente
seu autor, o Espírito Santo, que a Palavra de Deus seja seu alimento constante, isso fará
que venhas a ter um conhecimento e crescimento espiritual.
Não estude e não leia a Bíblia somente com um objeto de estudo, mas estude
com os olhos espirituais pedindo sempre a revelação de Deus e aplicando tudo que
aprender e ler em sua vida, tudo que ler, veja como um espelho pra você e não como algo
que somente serve pra outras pessoas, e o mais importante, leia crendo sem duvidar.
(Hebreus 11.1)
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Introdução
As questões que nos motivam para esta pesquisa são um embasamento teórico para o
estudo missiológico da cidade. Por isso decidimos estudar 3 assuntos. Primeiramente a
história do crescimento das cidades. Como segundo capítulo, problemas atuais das cidades, e
por último, algumas reflexões teológicas.
A motivação principal é o crescimento rápido das cidades, aliás, de toda a população
mundial no último século, a qual se acumula geralmente nas cidades.
Uma das fontes utilizadas foi a revista “Grosstadt”, numa edi ção de 1997. Alguns
dados podem estar desatualizados, mas acrescentamos a vantagem de tratar de
exemplos específicos de cidades atuais.
Notamos que os problemas das cidades foram abordados, e não as soluções. Na
verdade vêm ocorrendo várias iniciativas públicas e privadas neste sentido. Desta forma
os problemas são muito variados, conforme os mesmos são tratados, e conforme as
características próprias das regiões e sua história. Conscientemente listamos e abordamos
problemas urbanos, pois o objetivo desta monografia dentro de uma tríade de trabalhos (1,
a problemática da urbanização; 2, um guia prático para compreender a cidade; 3, análise da
cidade de Leonberg) é instrumentalizar, ou no mínimo, gerar uma consciência, para a análise
concreta de cidades com objetivo missiológico.
Procuramos na medida do possível mesclar dados acerca do Brasil. Não é a intenção
escrever um capítulo específico acerca do mesmo, mas à medida que dados foram
aparecendo, fomos mesclando dentro dos assuntos como forma de sublinhar a realidade
brasileira neste trabalho.
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1- O CRESCIMENTO DAS CIDADES

O tema “Cidades em crescimento” é muito atual. Basta estarmos atentos


para o uso das expressões como “conurbação”, “metrópole”, “região
metropolitana” e “megalópole”, etc. Grandes aglomerações urbanas têm
sido o resultado de expansão urbana, provocada pelo desenvolvimento da
indústria, da tecnologia, dos transportes e das comunicações. (DA SILVA
FILHO: Interações urbanas)
O processo de urbanização é o aumento relativo da população
das cidades acompanhado da redução percentual dos moradores do
campo. Um país é considerado urbanizado quando a taxa de
moradores das cidades ultrapassa 50% do total de habitantes. Nesse
sentido, o Brasil é uma nação urbanizada. (Correio Braziliense
Online)
Conforme o censo de 2000 (IBGE), cerca de 80% dos brasileiros vivem
nas cidades. Analisando a situação dos anos 1940, quando cerca de 70% da
população brasileira morava no campo, vemos uma inversão. (Correio
Braziliense Online)
Quase metade dos 6,3 bilhões de habitantes do planeta mora em
cidades. Em todo o mundo mais de 1 bilhão de pessoas vivem em
favelas e áreas invadidas. (Correio Braziliense Online)
Para que tenhamos uma idéia da verdadeira “explosão” da população
mundial, reproduzimos abaixo uma tabela da população mundial (U.S. Bureau of
the Census).
Ano População Ano População
-10000 1 (milhão) 1920 1,86
-5000 5 1930 2,07
-1000 50 1940 2,3
-500 100 1950 2,555,360,972
-400 162 1960 3,039,669,330
-200 150 1970 3,708,067,105
1 170 1980 4,454,389,519
500 190 1990 5,284,679,123
1000 254 2000 6,085,478,778
1500 425 2010 6,812,248,283
1700 600 2020 7,510,699,958
1800 813 2030 8,111,883,766
1900 1,55 (bilhão) 2040 8,623,136,543
1910 1,75 2050 9,050,494,208
O que é cidade? Uma definição bastante concreta nos dá a enciclopédia
Wissen, a qual resumimos aqui.
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Cidade é uma forma milenar de agrupamentos humanos com determinadas


regras e status. Como marcas principais de uma cidade entende-se hoje: área
residencial densa e concentração de trabalho, principalmente com meios de
sobrevivência secundários e terciários, contendo departamentos políticos,
econômicos, administrativos e culturais.
As marcas da cidade são em lugares diferentes do mundo compreendidas
de forma diferente, de modo que podemos diferenciar uma cidade típica
européia, oriental, chinesa, indiana, japonesa. (Wissen Stadt)

1.1- História
As grandes culturas antigas construíram também suas grandes cidades, p. ex.,
Jericó na Palestina, Babilônia, Nínive, Kisch, Ur e Uruk na Mesopotâmia, Susã na
Pérsia, Harapa e Mohenjo-Daro na Índia; Yin na China, Theben e Menphis no Egito.
Estas queriam ser símbolos portentosos do poder dos reis-deuses. (WISSEN:
Verstädterung)
Na Grécia antiga, a cidade tinha especial sigificado, pois a organização de
cidades-estado era o elemento constituinte e norteador da vida grega antiga. A
fuwnção de proteção não tinha tanta importância como em outras civilizações, tanto
que somente no séc. 5 a.C. a cidade grega foi rodeada por um muro.
A civilização romana começou a construir cidades no séc. 5 a.C. na Itália
(Norba, Velitrae, etc); O modelo portentoso que se desenvolveu no período dos
imperadores se espalhou, tendo como inspiração a cidade de Roma. Muitas cidades
foram fundadas a partir de mercados e áreas comerciais (p.ex. Paris), também ao
lado de vaus de rios, estradas, cruzamentos (Andernach) e acampamentos militares,
gerava o interesse de implantar uma cidade. Estas cidades foram perdendo seu
significado depois da queda do império. (WISSEN Verstädterung)
Na Baixa Idade Média a urbanização foi irregular e sem planejamento,
enquanto as cidades romanas antigas diminuíam em população ou se
desertificavam. (WISSEN Verstädterung)
Somente mais tarde surgiram cidades a partir de diferentes raízes, cuja
significância cresceu com o florescimento do comércio e indústria (Oppidum, Wik,
Markt, Burg), e que desenvolveram seus próprios sistemas legais (Lübecker,
Magdeburger, Kölner Stadtrecht), e puderam se tornar instâncias independentes
(cidades reais livres) e ses tornaram um fator político crescente desde o final da
Idade Média ao lado da nobreza e do clero. Na alta Idade Média as cidades se
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uniram em ligas. O número de habitantes no séc. 14 e 15 era muito variável por


motivo da epidemia da peste. Veneza, Londres e Paris tinham como grandes
cidades mundiais, mais de 100.000 habitantes. (Wissen Verstädterung)
No séc. 19 se desenvolveu a cidade industrial. A base para isso foi a nova
ordem da sociedade nas revoluções populares, reformas agrárias liberais,
liberdade de expressão, industrialização e revolução dos meios de
transporte. A cidade moderna é geralmente uma cidade industrial. Suas
marcas são o alto grau de centralização, multifuncionalidade, trânsito
intenso, modificações no clima, crescente administração municipal,
dificuldades de provisionamento e eliminação de resíduos, são as marcas
da urbanização na Segunda metade do século 20. Isto é principalmente o
caso nos países subdesenvolvidos, cujas metrópoles ainda não são
capazes de receber e aprovisionar as multidões que recebem. (Wissen
Verstädterung)
As cidades cresceram rapidamente, tanto os setores industriais quanto as
zonas residenciais cresceram imensamente, e geralmente de forma desumana,
trazendo vários problemas, como de provisionamento, de higiene e trânsito.
Somente a pouco tempo se tem feito grandes esforços para solucionar estes
problemas, pois as conseqüências sobre a vida humana são sempre mais evidentes.
(p.ex. poluição e envenenamento do ar pelo crescimento da motorização pessoal;
poluição das águas pela processamento insuficiente do lixo). (Wissen Verstädterung)
Desde o início, a principal função das cidades foi de proteção, contendo
castelos, depósitos, e sendo cercada por muros e fossos. Os “urbanistas” da época
se preocupavam pela segurança, principalmente das áreas residenciais, estradas e
pontes. Muitas cidades eram fundadas por reis e outros nobres comoinstâncias
representativas. O desenho das ruas das cidades era variado, conforme a função da
cidade, pois somente com o surgimento dos automóveis motorizados é que o
trânsito começou a determinar o traçado das ruas.
Com a industrialização as cidades começaram a “transbordar“. No séc. 19 o
fornecimento de água e canalização, e a necessidade de estradas determinava o
processo de urbanização. Na entrada do séc. 20, os arquitetos começaram a discutir
aspectos estéticos, sociais, higiênicos e sociológicos, avan çando com o passar do
tempo para a concepção da “urbanização interdisciplinar”. (Wissen Städtebau)
Ultimamente as planificações de cidades muitas vezes são feitas em
computadores, através da simulação (p.ex. “sim-cities”), porém até mesmo isso é
uma tarefa difícil devido à imprevisibilidade humana. (Wissen Städtebau)
Diga-se também que atualmente há uma crescente consciência ecológica
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neste ramo, de modo que já se procura construir as cidades de forma menos danosa
ao ambiente. (Wissen Städtebau)

1.2- Multidisciplinaridade
Urbanismo é uma ciência multidisciplinar, que abrange estudos por parte de
várias ciências, como por exemplo: arquitetura, urbanismo, sociologia, história,
geografia, educação, direito, ciência política, filosofia e economia, etc.

1.3- Terminologia

1.3.1- Sistema urbanos


Chamamos “sistemas urbanos” as redes que várias cidades formam, onde os
maiores centros influenciam os menores. Este poder de influência e liderança é tanto
maior quanto mais diversificada e desenvolvida for a sua economia. A influência se
estende por vários graus, as maiores sobre as médias, e estas sobre as pequenas.
(DA SILVA FILHO: Interações urbanas.)

1.3.2- Conurbação
Uma definição de conurbação dada por DA SILVA FILHO (Interações urbanas)
é bem clara.
É o encontro de duas ou mais cidades próximas em razão de seu
crescimento. (...) Isso ocorre principalmente em regiões mais
desenvolvidas, onde geralmente há uma grande rodovia que expande
continuamente a área física das cidades. Exemplos: Juazeiro e Petrolina,
no Rio São Francisco; região do ABCD, em São Paulo; regiões com as de
Nova Iorque, da Grande São Paulo, do Grande Rio e outras.

1.3.3- Metrópole
Centros urbanos muito grandes, que possui os melhores equipamentos
urbanos de um país ou região, liderando a rede urbana e exercendo forte influência
sobre as cidades menores, chegando por vezes a ser um polo regional, nacional ou
mundial.
A partir da década de 50, o crescimento e a multiplicação das metrópoles
foi espetacular. Em 1950, por exemplo, só existiam sete cidades com
mais de 5 milhões de habitantes, a passo que em 1990 já existiam
dezenas de cidades com mais de 5 milhões de habitantes. Muitas delas
se expandiram tanto seus limites acabaram se encontrando com os limites
de outros municípios vizinhos, formando enormes aglomerações
chamadas regiões metropolitanas. (DA SILVA FILHO: Interações
urbanas.)
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1.3.4- Região metropolitana


Região metropolitana então, é um agrupamento de cidades que se integram a
uma principal através de serviços públicos e de infra-estrutura em comum. (DA
SILVA FILHO: Interações urbanas)

1.3.5- Megalópole
Megalópole é uma conurbação de várias metrópoles, formando uma extensa e
gigantesca área urbanizada. Corresponde às mais importantes e maiores
aglomerações urbanas da atualidade. É encontrada em regiões de intenso
desenvolvimento urbano, e nelas as áreas rurais estão praticamente ausentes. A
megalópole brasileira encontra-se em formação ao longo do eixo metropolitano São
Paulo–Rio de Janeiro. (DA SILVA FILHO: Interações urbanas)
As principais megalópoles contemporâneas são:
Boswash O nome vem Localização: nordeste População: cerca de 50 Metrópoles
de Boston e dos Estados Unidos; milhões de habitantes; abrangentes: Nova
Washington; York, Filadélfia,
Baltimore e
Washington.
Chippits Localização: ao sul dos População: equivalente Metrópoles
Estados Unidos, na à de Boswash; abrangentes: Cleveland
região dos Grandes e Detroit;
Lagos;
Tokkaido Localização: sudeste do População: cerca de 45 Metrópoles
Japão; milhões de habitantes; abrangentes: Tóquio,
Kawasaki, Nagoya,
Quioto, Kobe e Osaka;
Megalópole renana Localização: Europa População: cerca 33 Metrópoles
ocidental, junto ao vale milhões de habitantes; abrangentes: Amsterdã,
reno; Düsseldorf, Colônia,
Bonn e Stuttgart.

1.3.6- Explosao demografica


Nome dado ao crescimento rápido e excessivo de população verificado
sobretudo após a revolução industrial, no século XVIII.
A explosão urbana causou sérios problemas de degradação ambiental,
poluição, transportes (a primeira linha do metrô só foi inaugurada no Brasil depois de
1970), abastecimento d'água e saneamento. (BARSA: Explosão demográfica)
A soma das cidades-de-milhão, que em 1870 somente incluia 4 (London,
Paris, Tokyo, New York), estava em 2000 além das 250; A soma das
Megacidades com mais de 10 milhões cresceu principalmente nos países
em desenvolvimento, e de 1970 a 1995 cresceu de uma (Shangai) a 11.
45% da humanidade mora hoje em cidades. (Wissen Verstädterung)
Veja apendice sobre populacao mundial no tempo
9

1.4- Migração

1.4.1- Êxodo rural


A explosão demográfica das grandes cidades se deve em grande parte ao
êxodo rural. O que atrai uma pessoa do campo para a cidade? Esta pergunta é
importante quando levamos em conta que viver em uma cidade pode produzir uma
realidade com terríveis desdobramentos.

1.4.2- Êxodo rural no Brasil


As migrações produziram uma mudança social. Até os anos 60 havia no Brasil
apenas duas cidades com mais de 1 milhão de habitantes (SP e RJ). A partir dos
anos 60 ocorrem fortes correntes migratórias, principalmente do Nordeste em
direção ao Sudeste e acelera-se o ritmo do êxodo rural.
Com a mecanização e a conseqüente diminuição de pessoas empregadas no
campo há a migração. Porém o trabalhador rural é mão-de-obra desqualificada para
os centros urbanos, e não encontra colocação na indústria e gera a hipertrofia do
setor de serviços e comércio, ou simplesmente sobrevivem na economia informal ou
praticando atividades ilícitas. (OLIVEIRA FARIA: Sociologia Jurídica)
Evolução da População Urbana no Brasil (%)
Distribuição da
1.940 1.960 1.980 1.990
População
Rural 68,8 55,3 32,4 24,5
Urbana 31,2 44,7 67,6 75,5

1.4.3- Exemplo de Bombaim


Sua importância comercial na Índia transformou Bombim para o mais
importante centro de imigração. A população cresceu rapidamente, principalmente
depois de 1941 e várias localidades e comunidades foram se agregando ao centro
de Bombaim. Na população total o crescimento é constante, somente na própria
Bombaim-city houve um pequeno decréscimo.
No ano de 1981 mais de 50% dos habitantes eram imigrantes, e entre 1971 e
1981 Bombaim assinalou um crescimento de 1,1 milhão de habitantes. Nesta época
11% de todo êxodo rural da Índia era dirigido a Bombaim. Mas já neste tempo a taxa
de natalidade ultrapassava a de imigração em cerca de 200 mil pessoas, entremeio
a taxa de natalidade ultrapassa a de imigração em 4 vezes (1994). A imigração em
toda a Índia é marcada pela busca de trabalho, de modo que a maioria dos
imigrantes são homens (para cada 1000 homens, somente 829 mulheres, dados de
10

1991).
A densidade demográfica alcança em Bombaim valores que nenhuma cidade
européia alcança. Em 1991 viviam no centro de Bombaim 16500 pessoas por Km²,
em comparação Berlim e Munique têm uma média de 4000 hab/Km². Nas favelas
estes valores aumentam consideravelmente, pois vivem em média 24.300 hab/Km²,
em alguns casos, como Dharavi, a maior favela, até mais que 170.000 hab/Km².
(Großstädte: Bombaim)

1.5- Capitalismo
O capitalismo, que divide e subordina o rural ao urbano, a cidade passa a ser o
lugar da indústria e do trabalho assalariado.
O capitalismo tentou reduzir sua dependência da indústria ao petróleo. Por
isso, nos anos 90, a economia capitalista reorganizou-se em torno de fatores de
produção privilegiados: ciência e tecnologia e microeletrônica. A princípio, essa
tecnologia mostrou-se acertada, havendo uma real retomada do crescimento e
redução da dependência.
Contudo, essa nova direção criou a necessidade de investimentos
pesados em tecnologia. Esta é cada vez mais rapidamente sucateada,
demandando novos investimentos. Reduz-se o tempo de rotação do
Capital. Isso gerou uma competitividade cada vez mais acirrada, que se
expandiu para todo o planeta. A globalização é a ruptura das relações
econômicas inter-nações, que se tornam parte de um sistema único. Essa
economia, que vai além das fronteiras, afeta até esmo a soberania das
nações, exigindo a superação dos ordenamentos jurídicos nacionais. Da
mesma forma, o crescimento do sistema financeiro internacional colocou
em xeque a soberania monetária dos países. (OLIVEIRA FARIA.
Sociologia Jurídica)

1.6- Globalização
Em relação ao crescimento das cidades, um fator é de vital significado, a
globalização, a qual veio se desenvolvendo desde o século XVI, e sofreu uma forte
aceleração nas últimas décadas.
Globalização da economia significa integrar os mercados em nível
mundial no sentido de que um produto, independentemente de sua
origem ou procedência possa estar oferecido para consumo em qualquer
parte do globo terrestre.(OLIVEIRA FARIA, Sociologia do direito)
Aparentemente o sistema de mercado é um jogo de troca, no qual todos os
jogadores beneficiam-se por nele estarem envolvidos, limitados a regras que
governam as trocas de mercado, buscando tratar todos com igualdade e dar o
11

máximo de chances de cada um.


A globalização sob o aspecto da conveniência do consumidor, pode significar
conforto e interesse econômico, porque permite obter produtos de qualidade a
preços diferenciados. Porém do ponto de vista social, a globalização apresenta
sinais de ser cada vez menos inclusiva, homogeinadora ou convergente,
aumentando a polarização entre países e classes quanto à distribuição de riqueza,
renda e emprego. (DA SILVA FILHO)
Com a revolução das comunicações, o processo de globalização tornou-
se mais rápido, além de ter se tornado mais abrangente, envolvendo não
só o comércio e capitais, mas também telecomunicações, finanças e
serviços antes cobertos por várias formas de proteção.(DA SILVA FILHO)
A cidade de Budapeste é analisada pela Sra. LICHTENBERGER (1997: 87),
que verifica como a mesma está no campo de batalha da sociedade de consumo.
Enquanto capital estrangeiro rapidamente constroi novas instituições financeiras,
bancos, seguradoes e hotéis, aparecem também pequenas empresas apoiadas por
dinheiro estatal para desempregados que ocupam aos milhares as ruas e passagens
da metrópole húngara, oferecendo principalmente roupas e alimentos. Pela entrada
da Áustria na U.E., ocorreu uma grande onda de falências.

1.7- Grandes construções


O crescimento populacional têm gerado a necessidade de mais habitação e
prédios comerciais. Neste sentido nas últimas décadas têm surgido construções
“faraônicas”, como grandes prédios e pontes. Citamos alguns exemplos abaixo.
Foi inaugurado o Taipeh 101. O maior prédio do mundo foi inaugurado na
Sexta-feira em Taipeh. Na abertura do prédio comercial, de 508 metros de
altura, “Taipeh 101”, falou o presidente Chen Shui-bian de um “símbolo do
progresso e bem-estar de Taiwan”. As festividades foram ofuscadas pela
catástrofe na Ásia. Nunca antes foi construído um arranha-céus t ão alto
numa região tão ameaçada de terremotos e Taifuns. Mais de 60% de
todos os tremores de terra do mundo acontecem nesta região. (T-Online
Nachrichten, 01.01.2005)
O presidente francês, Jacques Chirac, inaugurou nesta terça-feira a ponte
de Millau, ao sul do país. A nova construção é a mais alta do mundo, com
uma estrutura que se eleva 343 metros sobre o rio Tarn, ou seja, uma
altura 23 metros superior à torre Eiffel de Paris. (...) A partir de 17 de
dezembro, os motoristas poderão cruzar os 2.460 metros de cimento e
aço pelo preço de 4,90 euros, evitando o tráfego pesado de Millau, o mais
temido entre a Espanha e o norte da Europa, sobretudo nos meses de
verão. Pontiaguda, fina e elegante, a ponte, que pesa 290 mil toneladas e
está apoiada sobre sete gigantescos pilares, foi concebida principalmente
para resistir aos ventos. Seus construtores garantem que pode agüentar
12

ve
ntos de até 250 km/h. (...) Erguida em tempo recorde de três anos, a obra
foi idealizada em 1987 e a primeira pedra foi colocada em dezembro de
2001.(Folha de SP - 14/12/2004)

1.8- Crescimento de São Paulo


A título de exemplo do crescimento das cidades escolhemos a cidade de São
Paulo.
A região metropolitana de São Paulo abrange hoje além do município de São
Paulo, como zona central, 38 municípios com uma área total de 8051 Km². A área
construída de 1747 Km² cresceu entre 1983 e 1993 em 372 Km². A Grande São
Paulo abrigava em 1994 16,3 milhões de pessoas, dos quais 10 milh ões (61%)
vivem no município de São Paulo, como em municípios como Guarulhos, São
Bernardo do Campo, Santo André e Osasco mais que 0,5 Mio. De habitantes, uma
população maior que a Holanda (15,1 Mio.) ou Chile (13,4 Mio). (KOHLHEPP:
1997:138)
São Paulo se expandiu tremendamente desde os anos 60, se
apresentando hoje como a mais imponente concentração de arranha-céus
da América-latina. A muito se desenvolveram em torno da cidade regiões
dinâmicas, retirando do centro muitas de suas funções, que se
transferiram para novos sub-centros. (KOHLHEPP: 1997:140)
Nas tabelas abaixo vemos duas situações. Primeiramente o crescimento
explosivo, em segundo momento, a diminuição percentual do crescimento nos
últimos anos.
Tabela 1: desenvolvimento populacional das maiores regiões metropolitans do
Brasil 1960 – 1994 (KOHLHEPP: 1997:138)
Região Hab. Hab. Hab. Hab. Crescim. Crescim. Crescim.
Metropolit (Mio.) (Mio.) (Mio.) (Mio.) Anual (%) Anual (%) Anual (%)
ana 1960 1970 1980 1994* 60-70 70-80 80-94*
São Paulo 4,79 8,14 12,59 16,33 5,4 4,5 1,9
Rio de 4,99 7,08 9.01 10,12 3,5 2,5 1,0
Janeiro
Belo 0,89 1,61 2,61 3,70 6,1 5,0 2,5
Horizonte
Porto 1,11 1,53 2,23 3,27 3,3 3,5 2,6
Alegre
Recife 1,24 1,79 2,35 3,04 3,7 2,7 1,9
Salvador 0,73 1,15 1,77 2,74 4,6 4,4 3,2
Fortaleza 0,66 1,04 1,58 2,56 4,7 4,3 3,5
Curitiba 0,51 0,82 1,44 2,19 4,8 5,8 3,0
Belém 0,42 0,66 1,00 1,44 4,5 4,3 2,7
Brasil 31,30 52,09 80,44 110,88** 5,2 4,4 3,02
hab.
Cidades
Brasil 70,07 93,14 119,00 155,48 2,9 2,5 1,9
Total
13

Fonte: IGBE: Censos Demográficos 1960-1991.* Valores estimados cf.


EMPLASA; ** 1991
São Paulo era acima de tudo o destino dos imigrantes do Nordeste brasileiro,
onde tanto o sertão maltratado pelas secas, como, mais tarde, também das regiões
urbanas com pouca possibilidade de emprego. Destino das migrações em massa era
inicialmente as plantações de café no sudoeste do Brasil, no estado vizinho Paraná,
de onde partiu uma grande onda migratória para São Paulo no início dos anos 60,
com o fim do boom do café. O destino dos migrantes era encontrar emprego nas
zonas industriais em expansão, como também a construção civil e florescimento.
Apesar das taxas de natalidades estarem caindo, o índice de jovens é muito grande,
devido às famílias que migraram. (KOHLHEPP: 1997:138)
O centro antigo em torno da Praça da Sé está se degradando através da
degradação das edificações pelo pouco investimento, especulação
imobiliária, muitos prédios (semi-)abandonados. Barulho, sujeira,
criminalidade, alta concentração de marginais, juntando com pouca
presença de organização governamental levou a uma desvalorização
desta região central. Os investimentos privados e públicos se concentram
em novos locais longe do centro. (KOHLHEPP: 1997:140)
Nos anos 90 a taxa de natalidade têm caído, conforme tabela, especialmente
no município de São Paulo.
14

2- OS PROBLEMAS CRESCEM COM O CRESCIMENTO

A urbanização é o deslocamento de grandes segmentos da população rural


para centros urbanos. As cidades estão ficando maiores, mais complexas e cada vez
mais desafiadoras.
O conhecimento sobre a cidade, está em crise. O balanço desse conhecimento
é decepcionante. A sociologia contemporânea ainda elabora à partir de construções
conceituais velhas, que não mais se ajustam ao mundo novo. Muito se produz,
porém muito pouco é acrescentado do ponto de vista sociológico, para o
conhecimento de um mundo mutante. Raros são os sociólogos que se aventuram a
uma explicação contemporânea. (SOUZA: 5)
Com a explosão demográfica crescem e surgem muitos problemas, por
exemplo: Fome, miséria, competição, solidão, relações meramente econômico-
financeiras, violência, pobreza, marginalização. Tudo isso são características dos
grandes centros urbanos. (Cidades e Questões Urbanas)
A urbanização desordenada, que pega os municípios despreparados para
atender às necessidades básicas desses migrantes, causa uma série de problemas
sociais e ambientais. Dentre eles destacam-se o desemprego, a criminalidade, a
favelização e a poluição do ar e da água. (Correio Braziliense Online)
Miséria, epidemias, suicídios, prostituição e criminalidade. Desemprego,
pobreza, trabalho infantil, mercado informal, vulnerabilidades sociais, endividamento,
crescente desumanização, baixa qualidade de vida, tráfico e consumo de droga,
poluição, lixo, pobreza, exclusão. Estas são algumas das principais contradições,
impasses, disputas territoriais e lutas sociais que percorrem o espaço urbano.
(PEREIRA DE ARAÚJO: 1998)

2.1- O crescimento dos problemas nas grandes cidades


O autor Robert RICKARDS (1997:134), escreve acerca da cidade de Atlanta, e
em certa altura faz um apanhado do desenvolvimento dos problemas das cidades
15

americanas desde os anos 50.


Assim se acresceram aos problemas não-solucionados das grandes cidades
americanas nos anos 50, pobreza, segregação, destruição da família e diminuição
da capacidade do sistema edicacional.
Durante os anos 60 a dependência de ajuda social e o desemprego longo;
Durante os anos 70 o crescimento da criminalidade e a crise fiscal;
Durante os anos 80 a drogadicção e gravidez adolescente, feminização da
pobreza e da AIDS. Como resultado as cidades americanas são palco de várias
crises que se interrelacionam que ameaçam explodir a qualquer momento. A
situação não é igual em todas as grandes cidades.
A problemática racial permanece e é perigosa. A mudança dos brancos para
zonas melhores deixou para trás uma classe baixa negra nas grandes cidades.
Apesar da melhora econômica dos negros, a diferença entre estes e os brancos
aumentou. Nas cidades moram cerca de três vezes mais negros na pobreza que
brancos. Acrescente-se que a polarização psicológiva entre as raças continuou
aumentando. Os negros acreditam que os preconceitos raciais e a discrimeinação
têm crescido, enquanto os brancos de omitem de cumprir as medidas
governamentais que deveriam diminuir as conseqüências da discriminação.

2.2- Transportes
A explosão demográfica sofrida pelas principais cidades do mundo no século
XIX, devido sobretudo à imigração provocada pela rápida industrialização, logo
mostrou que o transporte de superfície, individual ou coletivo, não conseguiria
atender às necessidades da população. Para enfrentar esse problema, Londres
inaugurou, em 1863, a primeira linha de transporte subterrâneo do mundo, quase
trinta anos antes do metropolitano (metrô) de Chicago, o segundo a ser construído.
(BARSA: Transporte)

2.3- Habitação

2.3.1- Especulação imobiliária


CLEMENS analisa a questão da especulação imobiliária na cidade de
Bombaim, do qual apresentamos um resumo.
O enorme crescimento econômico e populacional de Bombaim gera várias
consequências, tanto na metrópole e a circunvizinhança sempre adensante, como
16

no meio rural. Internamente surgem os problemas habitacionais, de emprego,


provisionamento de coisas essenciais como água, eletrecidade, educação e saúde
que são de importância decisiva. Porém estas questões estão ligadas a questões
externas, por exemplo provisionamento de água, que apesar do alto índice
pluviométrico comente pode ser aproveitado através de projetos de açudes e
canalização. Ao lado disso a situação na península não oferece mais espaço para
todas as necessidades, assim que o mercado imobiliário está esgotado e grande
parte da população é forçado à marginalização. Conflitos de interesse que atingem
as instituições políticas e administrativas estão relacionados.
A polarização do mercado imobiliário na Grande-Bombaim e especialmente no
centro da cidade não está relacionado somente com a explosão demográfica e
crescimento dos assentamentos, mas também pela situação econômica e social.
Muitos proprietários de imóveis especulam em torno da valorização imobiliária e
deixam suas terras ociosas. Os preços dos imóveis em Bombaim entrementes
podem ser comparáveis aos de Nova Iorque e Hongkong. Na região sul de Bombaim
custava em 1992 um m² até cerca 3800 DM. Além disso 55% das propriedades se
concentram na mão de somente 5% da população.
Resultado desse desenvolvimento é a saída para o mercado imobiliário
informal, ou seja favelamento, invasões de terras ou invadir as margens das
rodovias. Favelamentos acontecem geralmente ilegalmente em terrenos ociosos, ou
seja, terrenos privados com fins especulativos ou terrenos públicos reservados. No
ano de 1976, as favelas estavam 54% em terreno público, e 46% em terreno
privado.
A necessidade de moradia de Bombaim é estimada em cerca de 60.000
unidades anuais, dos quais são aprontadas no mercado formal somente 15 a 20 mil.
Porque a construção civil legal é insignificante e o mercado negro oferece a venda
de imóveis abertamente, até mesmo a classe média tende a se favelar. Imóveis de
aluguel não valem a pena, por motivo do tabelamento de preços pelo governo, e por
isso há muito tempo de espera e tempo para reforma. Avaliações afirmam que em
1990 em Bombaim cerca de 19650 prédios ameaçados de desabamento, levando
em conta que entre 1970 e 1990, 2142 desabaram.
Escrevendo acerca da cidade chinesa de Shangai, Wolfgang TAUBMANN
(1997: 123) escreve que, o provisionamento com espaço habitacional está sempre
mais precário. A longa decadência da infra-estrutura e da constru ção civil, e também
17

o rápido desenvolvimento dos últimos anos geraram vários impasses para o


desenvolvimento urbano.

2.3.2- Bairros de luxo, super(e sub-)valorização de áreas


Wolf GAEBE (1997: 99) escreve acerca de Londres que, tendências
contraditórias são observáveis no crescimento, renovação e decadência. O boom de
construção e reformas que vem acontecendo desde os anos 70 no centro de
Londres, que gerou um crescimento de escritórios, áreas de lazer e moradias de
luxo, atraindo muitos prestadores de serviços de alto nível para residências de alto
padrão. Além da City London, pertencem Mayfair e St. James às regiões mais caras.
Para lá vão o comércio e financistas e escritórios de multinacionais. Por causa da
baixa qualidade habitacional de grande parte da cidade e por causa da seletividade
na escolha de novos locais por parte de novos investidores, existem grandes áreas
sub-utilizadas e decadentes. Também a malha viária, por falta de investimentos está
em parte ultrapassada e sobrecarregada. Sobrecarga ambiental e caos no trânsito
são problemas cotidianos.

2.4- Emprego
No quesito emprego os problemas das grandes cidades são marcantes. Por
exemplo, o autor Wolf GAEBE (1997: 98) escreve acerca da cidade de Londres.
Londres vem ganhando empregos na área de prestação de serviços e vem
perdendo sua base de produção (deindustrialização), numa quantidade de mais que
1,3 milhões desde os anos 50. Vem crescendo a força de trabalho altamente
qualificada e especializada (bem paga), assim como as carreiras e chances mal-
pagas, p.ex. trabalho doméstico, na gastronomia e outras prestações de serviço. O
desemprego juvenil está cada vez maior, e novos empregos surgem geralmente só
no setor privado e principalmente na prestação de serviços profissionalizada.

2.5- Meio ambiente


BAYAZ (1997:103) escreve sobre a enorme sobrecarga para o meio-ambiente
que representa a cidade de Istambul, a qual é o centro econômico e cultural da
Turquia. Os dados falam por si. Extrema poluição do ar, da água, sonora, o
problema do lixo e o problema do trânsito. Este gera diariamente um caos infinito.
Estas são as maiores preocupações dos habitantes de Istambul, na qual estão mais
de 80% do comércio e indústria do país.
18

A poluição do ar acontece primeiramente pelas fábricas, por carros e por


aquecimento com carvão barato. A consciência ambiental de muitos empresários
istambulenses deixa a desejar. Maiores investimentos para proteção ambiental são
difíceis, diante da constante crise econômica. Já existem trabalhos na área de
medição da poluição, porém medir ainda não resolve o problema.
Meios de financiamento insuficientes e leis ineficientes protelam a proteção
ambiental. Muitas indústrias em torno de Istambul são co-responsáveis pela poluição
do ar, da terra e do Bósforo. Filtros conforme as normas internacionais nas chaminés
das indústrias ainda são raros. Também os resíduos industriais de muitas fábricas
escorrem para riachos próximos. A poluição do solo deterioram a qualidade da água
potável.
Crescimento urbano, alta industrialização e a mais alta concentração de
trânsito conduziram em São Paulo a uma diversidade de problemas ambientais.
Cobertura da superfície pela construção dificulta a drenagem das chuvas e diminue
o acesso a parques públicos. Poluição do ar e dos rios, poluição sonora e emissões
pelo trânsito como problemas com eliminação de resíduos de lixo e esgoto são os
problemas mais graves. (São Paulo)
A quantidade de resíduos tóxicos no ar têm diminuído um pouco, porém ainda
é alarmante, causado pelas indústrias e pelo trânsito, situação esta que somada com
o terreno desnivelado e inversões climáticas freqüentes no inverno, fazem que
doenças respiratórias sejam freqüentes.
O trânsito coloca São Paulo em sérias dificuldades. Apesar do anel viário em
torno do centro, grandes cruzamentos e túneis, eliminação de estradas antigas,
ainda assim o trânsito é caótico, que sob fortes chuvas pode provocar paralização
total do trânsito. Desde 1975 o número de automóveis de 4,5 milhões, tem se
triplicado, absorvendo 21% dos automóveis de todo o Brasil e 57% dos do estado de
São Paulo.
Cerca de 15000 ônibus e o Metrô se encarregam do transporte público, pois o
tempo médio dos trabalhadores em São Paulo para o trabalho é de 2,5 horas.
A poluição hídrica por esgotos idustriais e residenciais levou a que os dois
principais rios (Tietê e Pinheiros) se tornassem mortos biologicamente, e
praticamente a puro esgoto, com alta concentração de metais pesados. Para a
provisão de água potável, importantes represas no sul da cidade estão poluídas por
esgotos de bairros não planejados e favelas, tornando-as inúteis para o provimento
19

de água potável, tendo como conseqüência o mau cheiro, contaminação, gosto ruim
e altos custos de canalização. Somente a metade da cidade de São Paulo está
provida de um sistema de esgoto, e somente 7,5% dos esgotos são tratados.
Trabalhos estão sendo realizados para reverter este quadro, mas a dimensão do
problema é deprimente.
A eliminação do lixo, numa quantidade diária de 17000 toneladas de lixo
doméstico da região metropolitana gera, por falta de espaço correto, cerca de 350
lixões, que poluem o solo, as águas subterrâneas e o ar. 92% do lixo é depositado,
pois a reciclagem e compostagem são projetos que ainda estão no papel,
aguardando soluções que dependem da política, ou seja, mais lentas que o
necessário.

2.6- Grandes acidentes e desastres


As grandes aglomerações também trazem consigo o risco de acidentes e
catástrofes naturais com grande número de atingidos, por motivo da grande
concentração de pessoas em determinados locais ou cidades, como nos exemplos
abaixo.
Incêndio mata 175 pessoas na Argentina. Um incêndio em uma discoteca
de Buenos Aires deixou ao menos 175 pessoas mortas e mais de 700
feridos no final da noite de ontem. Cerca de 4 mil pessoas, a maioria
jovens, assistiam a um show de rock quando chamas de fogos de
artificios começaram a se espalhar pelas paredes e pelo teto de lona do
local. (www.folha.uol.com.br: 01.01.2005)
As Nações Unidas dão início a maior operação humanitária da história
para prestar socorro às vítimas do tsunami, que matou mais de 23 mil
pessoas na Ásia, de acordo com informações da Cruz Vermelha. Um dos
riscos após a tragédia é o de uma epidemia que pode aumentar o número
de mortos. O médico infectologista Vicente Amato Neto explica que com a
desestruturação dos diferentes serviços que atendem a população, como
energia elétrica, abastecimento de água e saneamento básico, realmente
existe o risco da população ser infectada. As infecções transmitidas por
água e alimentos são o principal perigo. "Salmonelas, febre tifóide,
hepatite A, cólera, leptospirose e gastroenterites, como diarréia, são os
exemplos mais marcantes", diz. (http://tv.terra.com.br/jornaldoterra
27.12.2004)

2.7- Distância entre ricos e pobres


Em São Paulo (KOHLHEPP, 1997: 140), os ricos têm se retirado das vilas e
palacetes para apartamentos de luxo (acima de 500 m²), com dispositivos de
segurança, por exemplo no bairro Morumbi, culminando na formação dos
20

condomínios fechados, ou seja áreas residenciais muradas e guardadas por pessoal


armado, com acesso através de códigos, prestação de serviços de alto nível e a
proximidade de algum Shopping-center.
Muito perto destes estão as favelas. Nas construções antigas da classe média
e alta se desenvolveram os cortiços para os assalariados. Nestas cidades-dormitório
dividiam muitas pessoas um espaço muito apertado. Pela industrialização aconteceu
uma divisão espaço-socio-econômica dos diferentes grupos sociais, em difentes
quarteirões e bairros relativamente homogêneos.
As primeiras favelas surgiram, durante as grandes imigrações dos anos 40, no
leste e sul de São Paulo. Desde os anos 60 os assentamentos marginais cresceram
rapidamente. Atualmente as favelas se espalham por várias regiões da cidade,
principalmente no sul. No início dos anos 90 São Paulo contava com 800 mil
favelados, 3 milhões em cortiços e outros 2,4 milhões em outras moradias precárias.
65 mil eram sem-teto. A soma dos favelados cresceu mais desde os anos 80 que a
dos cortiços. A maior favela (Heliópolis), conta com 35000 habitantes e 8000
casebres. Em 1994 cerca de 19% dos paulistas morava em favelas ou cortiços. As
condições higiênicas destas regiões são por motivo de pouco ou nenhum
escoamento de esgoto e recolhimento de lixo e instalações sanitárias precárias
geralmente extremamente ruins, a taxa de mortalidade infantil é alta e doenças
contagiosas são comuns.
Através da ocupação espontânea ou bem planejada, são ocupados terrenos
públicos ou privados, produzindo assentamentos ilegais. Muitas vezes estes
assentamentos, em terrenos públicos vagos, nas margens dos rios,
estacionamentos, embaixo de pontes e viadutos, em torno de aeroportos e depósitos
de lixo. Isto é tolerado por medo de reações violentas, levando-se em conta a falta
de alternativas. Cerca de 65% dos terrenos públicos estão ocupados ilegalmente.

2.8- Conflito de gerações, tradicão x modernidade


Ahmet BAYAZ (1997: 102) analisando a cidade de Istambul escreve, que o
lapso entre tradição e modernidade em nenhum lugar é tão evidente quanto em
Istambul. A cidade entre oriente e ocidente, parece aos de fora cheia de
contradições. Moças com o lenço na cabeça e mulheres com o véu pertencem ao
cenário, assim como teenagers em mini-saias e mulheres em estilo vanguardista.
21

2.9- Conflitos raciais, culturais


Nos últimos 35 anos uma considerável soma de negros americanos conseguiu
se elevar à classe média e se mudar para bairros melhores. Negros americanos
ampliaram suas representações nos âmbitos municipais, estaduais e federais
constantemente. Mais o mais impessionante foi, como no caso de Atlanta, a eleição
de um prefeito negro, enquanto Denver e Miami prefeitos de origem hispânica e Los
Angeles de origem asiática. Fica a pergunta se estes dados representam mudanças
reais ou apenas simbólicas. (RICKARDS, 1997: 134)
22

3- IMPULSOS PARA UMA MISSIOLOGIA URBANA

3.1- Os (aparentes) benefícios missiológicos da cidade


Para o missionário a cidade ofece uma série de vantagens, que os missionários
na história já fizeram uso. Listamos abaixo alguns.
Facilidade de comunicação, pelos meios impressos (jornais, livros, panfletos), e
ultimamente os meios eletrônicos de comunicação, especialmente internet (um meio
pouco inexplorado).
Com a maior concentração de pessoas, a facilidade de reunir pessoas é maior.
Na cidade as pressões sociais, das tradições são menores, portanto as
conversões são mais fáceis.
Na cidade o índice de alfabetização é maior, facilitando o ensino e preparação
de líderes.
Facilidade de preparar uma rede de trabalho.

3.2- A decisão de Ló
A cidade oferece também uma série de riscos e tentações. Analisando esta
questão, o autor Arnold BAUM (130-152) escreve sobre a vida de Ló, especialmente
sua decisão perante a escolha proposta por Abraão.
Nossas decisões determinam nosso futuro. O homem é a soma de suas
decisões. A motivação principal da má decisão de Ló, com certeza não foi a busca
pela vontade de Deus, muito mais a ganância e desejo de posse, dinheiro, riquezas
e poder. Quando surgiu a possibilidade de determinar sua moradia, olhou para a
bela, irrigada, frutífera região do vale do Jordão.
Será que ele não sabia o que ocorria naquela cidade? Naturalmente, mas ele
quis colocar ali o destino da sua família. Com essa decis ão ele perdeu seu amigo e
tio Abraão e seus conselhos, em contrapartida convivendo com o povo de Sodoma
cada dia se impunha sofrimentos à sua alma (2 Pe 2.7-8). Chegou até mesmo a
23

perder sua liberdade (Gn 14.12). Perdeu seus bens e bem-estar, e escapou por
pouco com vida, perdendo sua esposa. Depois disso ainda passou pela experiência
de como suas duas filhas estavam impregnadas da mentalidade sodomita (Gn
19.31-36).
A tragédia de Ló é um modelo do que ocorre com muitos crentes, inicialmente
de vento em popa, pensam em adquirir o paraíso, caem nas garras da carnalidade,
perdendo a ocasião da conversão, a hora da graça, o kairós de Deus. Quanto mais o
tempo passa, mais endurecido fica o coração do homem para a graça de Deus.
Ló tomou a maior e mais perigosa decisão de sua vida.
Ló escolheu a grande cidade, e com isso o mundo, o pecado, a
decadência e a degradação. (BAUM: 132)
Esta decisão de Ló contrasta com a tentação de Jesus: tudo isso te darei... A
tentação foi muito semelhante: te darei os reinos deste mundo!
Missiologia urbana toca neste ponto em vários momentos:
O que chama o homem do interior para a cidade?
Como a igreja se relaciona com as coisas da cidade, o modo urbano de viver?
Até que ponto o cristão pode ou deve se tornar um “cidadão* deste mundo”, e
até que ponto ele é um “cidadão do céu”? (Jo 18.16) *Observe a palavra cidadão:
têm sua origem na palavra cidade!

3.3- Antigo Testamento


Fizemos uma pesquisa no AT acerca do termo cidade. O que encontramos
analisamos e aqui apresentamos um resumo. Entendemos que é importante
reproduzir aqui estes parágrafos como forma de mostrar que já no tempo do AT, as
cidades em diversos sentidos desempenhavam papel e importância semelhantes
aos atuais.
Era o local onde se ajuntavam os pobres: Alegrar-te-ás, na tua festa, tu, e o teu
filho, e a tua filha, e o teu servo, e a tua serva, e o levita, e o estrangeiro, e o órfão, e
a viúva que estão dentro das tuas cidades” (Dt 16:14, tb Dt 26:12).
A noção de territorialidade está centrada na cidade: “Quando no meio de ti, em
alguma das tuas cidades que te dá o SENHOR, teu Deus, se achar algum homem
ou mulher que proceda mal aos olhos do SENHOR, teu Deus, transgredindo a sua
aliança” (Dt 17:2), e resume o local de habitação: “Quando o SENHOR, teu Deus,
eliminar as nações cuja terra te dará o SENHOR, teu Deus, e as desapossares e
morares nas suas cidades e nas suas casas” (Dt 19:1), e local de justiça: “Então,
24

todos os homens da sua cidade o apedrejarão até que morra; assim, eliminarás o
mal do meio de ti; todo o Israel ouvirá e temerá”. (Dt 21:21, também 22:24 e 23:16)
É o centro de uma região, incluindo a parte rural, cf Dt 25:8.
Os pontos estratégicos de uma região: Sitiar-te-á em todas as tuas cidades, até
que venham a cair, em toda a tua terra, os altos e fortes muros em que confiavas; e
te sitiará em todas as tuas cidades, em toda a terra que o SENHOR, teu Deus, te
deu” (Dt 28:52).
É local de ensino: “Ajuntai o povo, os homens, as mulheres, os meninos e o
estrangeiro que está dentro da vossa cidade, para que ouçam, e aprendam, e
temam o SENHOR, vosso Deus, e cuidem de cumprir todas as palavras desta lei”
(Dt 31:12).
A tomada da terra prometida, praticamente foi a tomada das cidades, no livro
de Josué o termo cidade aparece 129 vezes (português), sempre associado à
tomada da terra.
Local de pecado: “Enquanto eles se alegravam, eis que os homens daquela
cidade, filhos de Belial, cercaram a casa, batendo à porta; e falaram ao velho,
senhor da casa, dizendo: Traze para fora o homem que entrou em tua casa, para
que abusemos dele” (Jz 19:22).
Local de habitação: Assim fizeram os filhos de Benjamim e levaram mulheres
conforme o número deles, das que arrebataram das rodas que dançavam; e foram-
se, voltaram à sua herança, reedificaram as cidades e habitaram nelas (Jz 21:23).
Comunicação, comoção comum: “Então, ambas se foram, até que chegaram a
Belém; sucedeu que, ao chegarem ali, toda a cidade se comoveu por causa delas, e
as mulheres diziam: Não é esta Noemi?” (Rt 1:19).
A fama, o bom nome se espalha na cidade: “Agora, pois, minha filha, não
tenhas receio; tudo quanto disseste eu te farei, pois toda a cidade do meu povo sabe
que és mulher virtuosa” (Rt 3:11).
“Porta da cidade” é uma expressão citada muitas vezes. O termo significa o
que para nós hoje é “praça”, observe versículos como: “Boaz subiu à porta da cidade
e assentou-se ali. Eis que o resgatador de que Boaz havia falado ia passando;
então, lhe disse: Ó fulano, chega-te para aqui e assenta-te; ele se virou e se
assentou” (Rt 4:1).
“As Cidades de Israel” é sinônimo de todo o Israel: “Sucedeu, porém, que,
vindo Saul e seu exército, e voltando também Davi de ferir os filisteus, as mulheres
25

de todas as cidades de Israel saíram ao encontro do rei Saul, cantando e dançando,


com tambores, com júbilo e com instrumentos de música” (1 Sm 18:6).
Identificada como lar, pátria, terra natal: “Já Samuel era morto, e todo o Israel o
tinha chorado e o tinha sepultado em Ramá, que era a sua cidade” (1 Sm 28:3);
“Levantando-se Absalão pela manhã, parava à entrada da porta; e a todo homem
que tinha alguma demanda para vir ao rei a juízo, o chamava Absalão a si e lhe
dizia: De que cidade és tu? Ele respondia: De tal tribo de Israel é teu servo” (2 Sm
15:2).
O que diferencia a missão urbana da rural? Pelos textos acima percebemos
que desde os tempos do AT, as cidades eram vistas como polos regionais. Algo
como missão rural, culto na roça, etc, não se conhece no AT. Mesmo o povo rural vê
a cidade como ponto de referência em sua fé.

3.3.1- Caracteristicas da cidade


Já nos textos do AT citados acima percebemos pontos positivos e negativos
das cidades: é o lugar para onde afluem os pobres, é o centro espiritual, é espa ço
para muitos pecados, é lugar de solução de conflitos, criação de rebeliões, e muito
mais.
A Industrialização, a Revolução das Comunicações e a Globalização trouxeram
muitas mudanças na função das cidades. Elas se tornam cada vez mais, ainda mais,
pontos de convergência, locais onde as pessoas se comunicam e se isolam(!), e,
principalmente, moram.
Através dos meios de comunicação se tem acesso aos lares de milhões de
pessoas. Também os cristãos fazem uso destes recursos. Porém as pessoas estão
cada vez mais solitárias, quem sabe justamente por causa destes “meios de
comunicação”, que em parte são meios de uma mão só, ou porque prendem as
pessoas em casa, etc.
Também as desigualdades sociais e a competição torna as pessoas mais
fechadas, isoladas.
A cidade é local de proximidade entre as pessoas, local de negociar, de
praticar a liberdade de negociar e ter acesso a tudo que existe.
Esta proximidade também gera tensões e conflitos.
A quantidade de pessoas habitando próximas gera outros problemas, toda
espécie de poluição, como lixo, poluição visual (construcoes, etc), do ar, da água.
26

Outros problemas também chamam a atenção, como doenças, epidemias,


tensões entre centro e periferia, migrações, exodo rural, miséria.

3.4- Novo Testamento


Notamos a ênfase que o evangelista Lucas coloca na missão urbana e na
questão do pobres, em contraste com os ricos (Lc 6.20, 24). (BARRO 2002: 58)
“Ao proclamar o Reino de Deus, Jesus mostrou-nos que o único caminho
para que o mundo, com seus reinos demoníacos, seja transformado é
através da mensagem poderosa que penetra, salva, cura, liberta e
perdoa.” (BARRO 2002: 61)
O ponto que nos chamou muita atenção, que em nossa opinião também foi o
grande responsãvel pelo “sucesso” da pregação de Jesus. Ele dirigiu sua obra para
as margens da sociedade, para os doentes, os pobres e sofridos.
“A periferia é a chave hermenêuticas para a compreensão da missão de
Jesus e da sua opção pelos excluídos da sociedade.” (BARRO 2002: 62)
O proprio Jesus quis deixar marcado que sua missão como encarnado neste
mundo, incluiu encarnar no cotidiano, por conseguinte nos sofrimentos do povo, a
maioria da população.
“O sofrimento é a marca patente da igreja através de toda a história da
missão. Aquele que seguir e poclamar Jesus deve aprender de seu
sofrimento.” (BARRO 2002: 70)
Seu sofrimento não foi apenas uma questão de injustiça por parte dos que o
julgaram, mas fez parte de sua encarnação como verdadeiro ser humano, como
exemplos citamos o credo niceno (“Cremos em Jesus Cristo (...) verdadeiro
homem...”), e as próprias palavras de Jesus no evangelho de Lucas, capítulo 9,
verso 22: “(...) É necessário que o Filho do Homem sofra muitas coisas, seja
rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas; seja morto e,
no terceiro dia, ressuscite”.

3.4.1- Profecia contra a cidade


A cidade no AT foi alvo de muitas profecias, prometendo bênçãos e maldições,
como nos seguintes exemplos.
“Como se fez prostituta a cidade fiel! Ela, que estava cheia de justiça! Nela,
habitava a retidão, mas, agora, homicidas” Is 1:21. “Sentença contra Damasco. Eis
que Damasco deixará de ser cidade e será um montão de ruínas” Is 17:1. “Naquele
dia, se entoará este cântico na terra de Judá: Temos uma cidade forte; Deus lhe põe
a salvação por muros e baluartes” Is 26:1. “porque ele abate os que habitam no alto,
27

na cidade elevada; abate-a, humilha-a até à terra e até ao pó” Is 26:5. “Porque eu
defenderei esta cidade, para a livrar, por amor de mim e por amor do meu servo
Davi” Is 37:35.
O próprio Jesus profetizou sobre Jerusalém (“Jerusalém, Jerusalém, que matas
os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os
teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o
quisestes! 38 Eis que a vossa casa vos ficará deserta.” Mateus 23:37 e 38)
Um hino “missio-urbano” (461 da Harpa Cristã) que nos inspira a fazer alguns
comentários.
1. Jerusalém por Cristo é contemplada.
Com os seus altos que rebrilham lá,
Mas entre as belas torres levantadas;
Vê as do templo onde esteve já;
Jesus com seu olhar mui penetrante,
Não vê somente o lindo exterior,
Mas sim as almas tristes, vacilantes,
Que rejeitaram Seu divino amor.
A análise de Cristo é dupla: primeiramente o exterior. Este verso evoca à
imaginação a situação quando Cristo olhava para a cidade a partir do Monte das
Oliveiras, e via o Templo reedificado por Herodes, com seu telhado de ouro, paredes
colossais, enfim uma construção admirável, à qual os próprios discípulos
comentaram: “Mestre, que pedras, que construções!”(Mc 13.1). Mas o olhar de
Jesus vai mais a fundo, pois ele vê a alma da cidade, ou melhor as almas dos
cidadãos.
2. Jesus chorou: Seu coração rasgado
Lamenta e sente uma dor sem par,
Por ver seu povo indo descuidado,
Pra perdição eterna caminhar!
Um som alegre sobe da cidade,
O povo está em festa a jubilar,
Mas quando o sol, se escondeu à tarde,
Jesus ao Cedrom foi pra lamentar.
Isto o leva a chorar. O autor do hino destaca uma situa ção imaginária, “um som
alegre se ergue da cidade”, na verdade uma realidade bem atual, que caracteriza a
cidade: os sons, sons de automóveis, gritos, aparelhagem de som. O ítem que mais
28

diferencia a cidade da zona rural parece ser este, o som e o silêncio. O som de festa
se cotidianizou, pelo uso de aparelhagens de som potentes, que animam o povo às
festas, de forma semelhante a Jerusalém. Porém no meio da noite Jesus está no
jardim orando e chorando por esta cidade que sabe se alegrar por meio das festas,
mas não encontra alegria na salvação de Deus.
3. Jerusalém, que segues o mau trilho,
E apedrejas os fiéis de Deus;
Ó quantas vezes quis juntar teus filhos,
Como a galinha ajunta os pintos seus;
Mas para Mim, as portas tu fechaste,
No dia que Eu vim te dar a paz;
Por teu pecado cega te tornaste,
Não aceitando o meu amor veraz!
Esta rejeição do amor de Deus é uma constante na cidade. Aqueles que
pregam o evangelho do amor, da reconciliação do homem com Deus (2 Co 5.20) e
com seu próximo (como a galinha junta os pintos seus), sofre os mais diferentes
tipos de apedrejamento.
4. Ainda se repete a mesma história,
Jesus do céu está a contemplar
Cidades que têm aparente glória,
E continua sempre a chorar;
Pois Ele é quem pode dar a vida
Às multidões que na condenação
Rejeitam, sim, a graça oferecida,
A eternal e grande salvacão!
Neste último verso a bola é jogada para frente. Também hoje as cidades são
lugar de “aparente glória”, veja por exemplo as construções faraônicas, prédios com
centenas de metros de altura, pontes quilométricas, e, principalmente multidões é
um termo que descreve bem as cidades. Cidades são habitação de multidões, que
rejeitam a graça de Deus oferecida. A graça oferecida por Jesus para Jerusalém é
um questionamento missiológico: rejeitar algo que nunca foi oferecido seria um
absurdo. A graça precisa ser oferecida, ou seja, pregada, para estas multid ões, e
aqui a importância da obra missionária urbana atual.
29

3.5- O modo urbano de viver


Até a pouco tempo, a maioria da população mundial vivia no campo, e mesmo nas
cidades, o estilo de vida não diferia em muito do clima campal. Esta situação está invertida
atualmente, pois o estilo urbano de viver tem penetrado nas zonas rurais. (Wissen
Verstädterung)
Toda esta monografia fica claro que existe um “modo urbano de viver”, ou seja, muito
marcado pelo mercado do consumismo, dos bens materiais, também dos bens “descartáveis”. O
cidadão vive cada vez mais isolado, alguns buscando a mera sobrevivência, outros buscando a
acumulação dos bens.
Numa reavaliação dos valores cristãos, precisa acontecer uma reflexão acerca do que
pensamos sobre os bens materiais, acerca do convívio (sim, porque “amor ao próximo” não
é somente caridade (bom samaritano), mas gostar do próximo, estar com ele, conviver
com ele, confiar nele. A confiança é um valor a ser resgatado, assim como todos os
valores humanos e pessoais.

3.6- Missão do Espírito Santo


Jorge Barro escolheu o texto de Lc 4.18-19 como aquele onde o próprio Cristo define sua
missão (BARRO 2002: 48).
O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres;
enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração
da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, 19 e apregoar o
ano aceitável do Senhor. (Lc 4.18-19)
Algumas conclusões, em primeiro lugar, a unção do Espírito Santo é o impulso inicial da
missão de Cristo, e entendemos por analogia, de toda missão cristã. (BARRO 2002: 48)
O próprio Jesus deixa claro a quem sua pregação se dirige. Esta “declaração de
própósito” de Jesus é uma espécie de “declaração estratégica”, ou “programa de
trabalho”.
“O programa de Jesus era um autêntico programa de salvação, no poder do Espírito
Santo, trazendo libertação, perdão, cura e restauração para os marginalizados pela
sociedade.” (BARRO 2002: 49)
O Reino de Deus não é somente pregado, mas ele deixa suas marcas visíveis no meio do
povo. Para a missiologia atual é um tema a ser rebuscado, retrabalhado, reenfatizado, pois sem
o impulso, a direção, a bênção do próprio Deus, através do Espírito Santo, nunca poderemos
definir nossa ação como sendo “em nome de Cristo (1 Co 12.3; 1 Jo 4.2).
30

“Através do poder e da unção do Espírito Santo somos chamados para


proclamar salvação, libertação, perdão, cura e restauração – as marcas
visíveis do Reino de Deus.” (BARRO 2002: 50)
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Conclusão

Os autores citados mostram que a leitura da cidade é algo realmente difícil.


Não vamos resolver os problemas da cidadeh, mas conhecê-los é necessário.
Não podemos viver fora da realidade, dos problemas pessoais e conjunturais que as
pessoas enfrentam. Transmitir o amor de Deus requer compreensão. Pregar a
salvação requer saber em que espécie de perdição as pessoas se encontram, o
mesmo se diga no espaço libertação (o que escraviza?). Para propor uma
reavaliação de valores, precisamos saber quais são os valores vigentes (cultura).
Para falar com as pessoas, precisamos conhecer quais são os espaços públicos de
comunicação, etc.
Nos diversas obras consultadas notamos vários pontos de vista: econônico,
social, político, ambiental. Não há uniformidade, não há métodos de análise até
agora reconhecidos. Por isso, especialmente, optamos em fazer uma leitura
missiológica da cidade e do urbanismo.
Queremos perseguir a pergunta: como o missionário olha a cidade? De que
maneira a missão de Deus se realiza na cidade? Como vamos ler a cidade? Dentre
as milhões de informações que querem que leiamos, quais são verdadeiras. Onde
podemos descobrir informações ocultas? Ou seria necessário praticamente uma
(des-)remontagem do próprio processo de leitura? Como o missionário e a igreja
podem se tornar relevantes num contexto urbano?
32

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