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VISTA PANORÂMICA DO ANTIGO TESTAMENTO

Livro por livro

C. I. SCOFIELD
I

O PENTATEUCO

Os cinco livros atribuídos a Moisés ocupam, na estrutura da Bíblia, um


lugar muito peculiar e uma ordem que é inegavelmente a ordem da
experiência do povo de Deus em todos os séculos.
Gênesis é o livro das origens: da origem da vida e da ruína ocasionada
pelo pecado. A primeira declaração desse livro, “No princípio... Deus”, forma
um contraste impressionante com as palavras finais do mesmo: “e o puseram
num caixão no Egito”.
Êxodo é o livro da redenção, ou seja, da necessidade primordial da raça
caída.
Levítico é o livro de adoração e comunhão, quer dizer, daquilo que
constitui a atividade própria dos redimidos.
Números fala das experiências de um povo peregrino e representa,
portanto, aos redimidos, que transitam, através de um mundo hostil, em
direção à herança prometida.
Deuteronômio, com sua mensagem retrospectiva e preditiva, é um livro
de instrução para os redimidos no tocante à sua entrada na terra prometida.
Que os monumentos babilônicos e assírios contêm narrativas que
oferecem uma similaridade grotesca com o majestoso relato bíblico da
criação e do dilúvio é certo; como também é certo que esses monumentos
antecedem cronologicamente a obra de Moisés. Mas tudo isso, longe de
invalidar confirma a inspiração divina do relato mosaico. Pode-se dizer que,
inevitavelmente, alguma tradição deve ter sido recebida naquela região, que é
o berço antigo da raça humana. Tal tradição, de acordo com o
desenvolvimento que se efetua em toda tradição, assumiria certas
características grotescas e mitológicas, que tanto abundam nos relatos
babilônicos. Como consequência, o primeiro passo na obra de inspiração
divina seria, necessariamente, mudar as tradições, que são comumente
absurdas e infantis, pela revelação da verdadeira história; e tal história
encontramos aqui, expressada na palavra de incomparável grandeza e numa
ordem que se se entende de maneira correta, é absolutamente científica.
No Pentateuco temos, por conseguinte, uma verdadeira e lógica
introdução para toda a Bíblia, e, como tipo, um compêndio da revelação
divina.
Antes, porém, de entrarmos no estudo dos cinco primeiros livros da
Bíblia, é conveniente olharmos as notas a seguir apresentadas sobre os nomes
de Deus.
Em Gênesis 1:1, encontramos o nome Elohim, que algumas vezes se
escreve El ou Elah, e que é traduzido por Deus em português. É o primeiro
dos três nomes primários da Deidade. Em sua estrutura é um nome que
engloba pluralidade na unidade, e está formado de El, “poder” ou “o que é
poderoso”, e Alah, que significa “jurar”, “comprometer-se a si mesmo por
meio de um voto”, e implica, portanto, a ideia de fidelidade. A unidade e
pluralidade que esse nome engloba são afirmadas diretamente em Gênesis
1:26 (pluralidade), e no versículo 27 desse mesmo capítulo (unidade). Ver
também Gênesis 3:22. É assim, pois, que a trindade se encontra em forma
latente no nome Elohim. Com seu significado especial de “Poderoso”, esse
nome é usado de modo muito adequado no primeiro versículo de Gênesis.
Elohim é empregado cerca de 2.500 vezes no Antigo Testamento.
Em Gênesis 2:4 encontramos o nome Senhor. Em seu sentido
primário, o nome Senhor (Jeová) significa “o que existe em Si mesmo”.
Literalmente significa, como em Êxodo 3:14, “o que é o que Ele é, e,
portanto, o eterno EU SOU”. Mas Javah, do qual se forma o nome Jeová, ou
Yaveh, também tem a ideia de “será”, quer dizer, chegar a ser conhecido, e
assinala assim para uma revelação contínua e progressiva que Deus faz de Si
mesmo. Combinando essas ideias que o termo Javah engloba, podemos
então chegar ao significado do nome Jeová. Ele é o que existe em Si mesmo e
se revela a Si mesmo. Esse nome representa uma revelação mais avançada
que aquela do nome “Deus” (El, Elah, Elohim), que sugere certos atributos
da Deidade, como poder, etc., mais que seu Ser essencial.
É na continuação da criação de Adão que o nome Jeová aparece pela
primeira vez nas Escrituras. Esse detalhe é bastante significativo. Foi Deus
(Elohim) quem disse: “Façamos o homem à nossa imagem” (Gênesis 1:26);
mas quando o homem, conforme ele se apresenta no segundo capítulo de
Gênesis, estava para ocupar o lugar proeminente na cena e dominar a criação,
é o Senhor Deus (Jeová Elohim) que atua. Isso indica claramente uma
relação especial que a Deidade, em seu caráter de Jeová Deus, tem com o
homem. Em todas as Escrituras é dada ênfase para tal relação.
Jeová é o nome divino que se relaciona de maneira particular com a
obra da redenção. Quando o pecado entrou no mundo e a redenção se tornou
necessária, foi Jeová Elohim que buscou aos que haviam pecado (Gênesis
3:9-13) e lhes vestiu com “vestimentas de peles” (Gênesis 3:21), que é um
bonito tipo da justiça que o Senhor provê através da base do sacrifício
(Romanos 3:21,22). A primeira revelação clara de Si mesmo por meio do
nome Jeová foi feita em relação com a obra para redimir do Egito o povo
escolhido (Êxodo 3:13-17).
Quando Deus é apresentado como Redentor, a ênfase está sobre
aqueles atributos de Jeová que se põem em movimento por causa do pecado e
da salvação do homem. Estes atributos são: (a) sua santidade (Levítico
11:44,45; 19:1,2; 20:26; Habacuque 1:12,13); (b) seu ódio do pecado e o
juízo do mesmo (Deuteronômio 32:35-42; Gênesis 6:5-7; Salmos 11:4-6;
66:18; Êxodo 34:6,7); (c) seu amor pelos pecadores e a redenção deles,
sempre com base na justiça divina (Gênesis 3:21; 8:20,21; Êxodo 12:12,13:
Levítico 16:2,3; Isaías 53:5,6,10). As Escrituras não dizem nada sobre uma
salvação provida por Jeová aparte de sacrifício.
Em sua relação redentora com os seres humanos, Jeová tem sete nomes
compostos que o revelam como aquele que supre todas as necessidades do
homem, desde que esse caiu no pecado até o tempo da redenção final. Os
nomes compostos da Deidade são os seguintes: (a) Jeová-jireh, “o Senhor
proverá” (Gênesis 22:13,14), isso é, proverá um sacrifício; (b) Jeová-rafah,
“o Senhor sara” (Êxodo 15:26). O contexto indica que esse nome se refere à
cura física; mês nele também está implícito o sentido mais profundo, de curar
a alma do pecado; (c) Jeová-nissi, “o Senhor é nossa bandeira” (Êxodo 17:8-
15). O contexto interpreta esse nome. O inimigo era Amaleque, que é um tipo
da carne, e a batalha daquele dia pode representar o conflito descrito em
Gálatas 5:17: a luta do Espírito contra a carne. A vitória foi devida
completamente à ajuda divina; (d) Jeová-salom, “o Senhor é nossa paz”, ou
“o Senhor envia paz” (Juízes 6:24). Quase todo o ministério de Jeová se
expressa e ilustra nesse capítulo. Jeová odeia e julga o pecado (versículos 1-
5); Jeová ama e salva aos pecadores (versículos 7-18), mas faz isso só por
meio do sacrifício (versículos 19-21). (Ver também Romanos 5:1; Efésios
2:14; Colossenses 1:20); (e) Jeová-rá-ah, “o Senhor é meu pastor” (Salmo
23). No Salmo 22, Jeová faz a paz por meio do sangue do sacrifício na cruz;
no Salmo 23, Jeová é o Pastor dos seus que estão no mundo (João 10:7); (f)
Jeová-sidkenu, “o Senhor é nossa justiça” (Jeremias 23:6). Esse nome de
Jeová ocorre numa profecia concernente à restauração e conversão futuras de
Israel. Então Israel lhe louvará como Jeová-sidkenu: “o Senhor é nossa
justiça”. (g) Jeová-sama, “o Senhor está presente” (Ezequiel 48:35). Esse
nome indica a perene presença de Jeová entre seu povo (Êxodo 33:14,15; 1
Crônicas 16:27,33; Salmos 16:11; 97:5; Mateus 28:20; Hebreus 13:5).
Senhor (Jeová) também é o nome distintivo da Deidade quanto aos
pactos estabelecidos com Israel (Êxodo 19:3; 20:1,2; Jeremias 31:31-34).
Jeová Deus (hebraico: Jeová-Elohim) é o primeiro dos nomes
compostos da Divindade. O nome Jeová Deus é usado de modo muito
particular nos casos seguintes: (1) quanto à relação que Deus sustenta com o
homem: (a) como Criador (Gênesis 2:7-15); (b) como a autoridade moral
sobre o homem (Gênesis 2:16,17); (c) como o Criador e Governador das
relações do homem na terra (Gênesis 2:18-24; 3:16-19, 22-24); e (d) como o
Redentor do homem (Gênesis 3:8-15,21); (2) quanto à relação da Deidade
com Israel (Gênesis 24:7; 28:13; Êxodo 3:15,18; 4:5; 5:1; 7:6, etc.;
Deuteronômio 1:11,21; 4:1; 6:3; 12:1, etc.; Josué 7:13,19,20; 10:40,42: Juízes
2:12; 1 Samuel 2:30; 1 Reis 1:48; 2 Reis 9:6; 10:31; 1 Crônicas 22:19; 2
Crônicas 1:9; Esdras 1:3; Isaías 21:17).
Em Gênesis 14:18 lemos: “Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e
vinho; era sacerdote do Deus Altíssimo”. “Altíssimo”, ou seja, “o Deus mais
alto” (Hebraico: El Elyon). Elyon significa simplesmente “o mais alto”.
A primeira menção desse nome (versículo 18) assinala seu significado
especial. Quando Abraão regressa de obter a vitória sobre os reis
confederados (Gênesis 14:1-17), Melquisedeque, “rei de Salém e sacerdote
do Deus Altíssimo” (El Elyon), sai para se encontrar com ele e o abençoa em
nome de El Elyon, “que possui os céus e a terra”. Essa revelação produziu
uma impressão muito profunda no patriarca, que não apenas deu para
Melquisedeque imediatamente os dízimos de todos os despojos da batalha,
senão também que quando o rei de Sodoma lhe disse que ficasse com parte
desses despojos, a resposta de Abraão foi: “Levanto minha mão ao Senhor, o
Deus Altíssimo (El Elyon), o que possui os céus e a terra, e juro que nada
tomarei de tudo o que te pertence, nem um fio, nem uma correia de
sandália...” (Gênesis 14:18-23).
O Senhor (Jeová) é conhecido por um rei gentil (Melquisedeque) pelo
nome de Deus Altíssimo (El Elyon); um gentil é o sacerdote de El Elyon, e
o seu caráter distintivo como o Deus Altíssimo é o de ser “aquele que possui
os céus e a terra”. De maneira muito apropriada a esse conhecimento que um
gentil tem de Jeová, segundo seu nome de “o Deus Altíssimo”, se diz em
Deuteronômio 32:8 que “o Altíssimo distribuía as heranças às nações...”.
Como “aquele que possui os céus e a terra”, era prerrogativa do Deus
Altíssimo distribuir a terra entra as nações como quisesse. Esse princípio é
mencionado em Deuteronômio 32:8. É com esse mesmo significado que o
nome El Elyon é usado em Daniel, o livro da profecia tocante aos gentios
(Daniel 3:26; 4:17,24,25,32,34,35: 5:18,21).
Como “aquele que possui os céus e a terra”, o Deus Altíssimo tem e
exerce autoridade em ambas esferas, quer dizer, no céu e na terra: a
autoridade celestial de El Elyon (por exemplo, Daniel 4:35,37; Isaías
14:13,14; Mateus 28:18) e a autoridade na terra de El Elyon (por exemplo,
Deuteronômio 32:8; Salmos 9:2-5; 21:7; 47:2-4; 56:2,3; 82:6,8; 83:16-18;
91:9-12; 2 Samuel 22:14,15; Daniel 5:18).
Em Gênesis 15:2 lemos: “Respondeu Abraão: Senhor Deus, que me
haverás de dar, se continuo sem filhos, e o herdeiro da minha casa é o
damasceno Eliezer? ”
“Senhor” (hebraico Adon, Adonai).
O significado básico de Adon ou Adonai é “Senhor”. Esse nome se
aplica nas Escrituras do Antigo Testamento tanto à Deidade como ao homem.
Na versão portuguesa, esse nome se escreve com maiúsculo se se aplica à
Deidade. Quando se refere ao homem, a palavra Adon ou Adonai pode
indicar uma das duas seguintes relações: senhor e esposo (Gênesis
24:9,10,12, “senhor” ou “amo” pode ilustrar o primeiro desses dois
significados; Gênesis 18:12, “esposo”, ilustra o último). Ambas relações,
“senhor” e “esposo”, existem entre Cristo e o crente (João 13:13, “Senhor”; 2
Coríntios 11:2,3, “esposo”).
Há dois princípios inerentes na relação de amo e servo: (a) o direito
que o amo ou senhor tem de receber obediência implícita (João 13:13;
Mateus 23:10; Lucas 6:46); (b) o direito que tem o servo de receber instrução
quanto ao seu serviço (Isaías 6:8-11). A clara distinção que é feita no uso dos
nomes divinos é ilustrada em Êxodo 4:10-12. Moisés reconheceu sua própria
incapacidade e disse “a Jeová: Ah! Senhor (Adonai)! Eu nunca fui
eloquente...” Dado que aqui se considera o assunto de serviço, Moisés se
dirige a Jeová chamando-o (de maneira muito apropriada) Senhor. Mas
quando se trata do poder necessário para realizar tal serviço não é o Senhor
(Adonai) senão Jeová que responde (referindo-se ao poder criador):
“Respondeu-lhe Jeová: Quem fez a boca do homem?... Vai, pois, agora, e eu
serei com a tua boca. ” A mesma distinção aparece em Josué 7:8-11.
“Senhor Deus“. Hebraico: Adonai Jeová. Quando esse nome
composto que reúne em si mesmo o significado particular de ambos
componentes é usado de maneira especial, sua ênfase está no caráter que a
Deidade manifesta no nome Adonai, mais do que no caráter divino revelado
no nome Jeová (Para ilustrar essa afirmação, as seguintes passagens são
suficientes: Gênesis 15:2,8; Deuteronômio 3:24; 9:26; Josué 7:7; Juízes 6:22;
16:28; 2 Samuel 7:18-20, 28, 29; 1 Reis 2:26; Salmos 69:6; 71:5; Isaías 7:7).
Em Gênesis 17:1 lemos: “Quando atingiu Abraão a idade de noventa e
nove anos, apareceu-lhe o Senhor, e disse-lhe: eu sou o Deus Todo-poderoso;
anda na minha presença e sê perfeito”.
“O Deus Todo-poderoso”. Hebraico El Shadai. O significado
etimológico do título Deus Todo-poderoso (El Shadai) é tanto interessante
como comovedor. Deus (El) significa “o que é forte ou poderoso”. O
qualificativo Shadai está composto da palavra hebraica “shad”, o peito, que
nas Escrituras é usado invariavelmente com referência ao peito feminino; por
exemplo em Gênesis 49:25; Jó 3:12; Salmos 22:9; Cantares 1:13; 4:5; 7:3, 7,
8; 8:1, 8, 10; Isaías 28:9; Ezequiel 16:7. Portanto, o significado primário de
Shadai é “o peito”. Deus é Shadai porque Ele é o que nutre e dá poder, e
desse modo Ele é também, num sentido secundário, aquele que satisfaz e se
derrama a Si mesmo na vida dos crentes. A criança impaciente e insatisfeita
encontra não apenas alimento e fortaleza senão também quietude, satisfação e
descanso no peito da sua mãe; assim El Shadai é o nome que apresenta a
Deus como o Sustentador e Fortalecedor do seu povo. É lamentável desde
todo ponto de vista que Shadai tenha sido traduzido pela palavra “Todo-
poderoso”. O primeiro nome, isto é, El ou Elohim, é suficiente para dar a
ideia de onipotência. “O Todo-suficiente” expressaria melhor tanto o
significado hebraico como o uso bíblico desse nome.
O Deus Onipotente (El Shadai) não apenas enriquece como também
faz com que o crente seja frutífero. Em nenhuma outra parte, se ilustra
melhor essa verdade que na passagem onde esse nome ocorre pela primeira
vez (Gênesis 17:1-8). A um homem que tinha noventa e nove anos de idade
e que estava “já amortecido” (Hebreus 11:12), o Senhor lhe disse: eu sou o
Deus Todo-poderoso (El Shadai) ... te multiplicarei extraordinariamente.
Com esse mesmo significado se usa o nome El Shadai em Gênesis 28:3, 4.
Como o Doador da capacidade de produzir fruto, o Deus Todo-
poderoso (El Shadai) castiga a seu povo. Quanto à relação moral existente
entre o castigo e a capacidade de dar fruto, ver João 15:2; Hebreus 12:10;
Rute 1:20. Daí que, o Todo-poderoso ou o Onipotente, seja o nome
característico de Deus no livro de Jó, onde ocorre trinta e uma vezes. A mão
de El Shadai cai sobre Jó, que era o melhor homem do seu tempo, não para
juízo, mas para purifica-lo e fazê-lo mais frutífero (Jó 5:17-25).
Em Gênesis 21:33 lemos: “Plantou Abraão tamargueiras em Berseba, e
invocou ali o nome do Senhor, Deus eterno”.
“Deus eterno”. Hebraico El Olam. O termo hebraico Olam é usado nas
Escrituras como segue: (a) quanto a coisas secretas ou escondidas (por
exemplo Levítico 5:2, “oculto”; 2 Reis 4:27, “encoberto”; Salmos 10:1,
“escondido”); (b) um tempo ou período indefinido (Levítico 25:32, “em
qualquer tempo, perpétuo”; Josué 24:2, “antigamente”). De modo que a
palavra é usada para expressar a duração eterna da Pessoa de Deus (Salmos
90:2, “de eternidade a eternidade”), e é o sinônimo hebraico do termo grego
aion, idade ou dispensação.
Portanto, as duas ideias de coisas que se mantem secretas e duração
indefinida se combinam na palavra Olam. Ambas ideias se acham incluídas
na doutrina das dispensações ou idades, e pertencem aos “mistérios” de Deus
(Efésios 1:9,10; 3:2-6; Mateus 13:11). O Deus “Eterno” (El Olam) é,
portanto, aquele nome divino em virtude do qual Deus é o Deus cuja
sabedoria dividiu todo o tempo e toda a eternidade no mistério das idades
sucessivas ou dispensações. Esse nome significa não apenas que Ele é eterno,
senão também que Ele está sobre todas as coisas eternas.
Em 1 Samuel 1:3 lemos: “Este homem subia da sua cidade de ano em
ano a adorar e a sacrificar ao Senhor dos Exércitos em Silo”.
“Jeová (Senhor) dos Exércitos”. Hebraico “Jeová Sabaoth”.
Sabaoth significa simplesmente “hostes”, mas se refere especialmente
a batalhas ou serviço. Essas duas ideias (batalhas ou serviço) vão juntas no
uso corrente do título “Jeová Sabaoth”. Jeová é o Senhor (serviço) dos
exércitos (batalhas). Portanto, esse é o nome de Jeová em sua manifestação
de poder. “Jeová dos exércitos, Ele é o Rei da glória” (Salmos 24:10), e
segundo o testemunho das Escrituras do Antigo Testamento, esse título se
manifesta especialmente nos tempos de dificuldade para Israel. O título
“Jeová dos exércitos” não é encontrado no Pentateuco, tampouco de maneira
direta em Josué e Juízes, e ocorre raras vezes nos Salmos; mas Jeremias, o
profeta do período em que o juízo sobre a nação israelita se aproxima, o usa
cerca de oitenta vezes. Ageu, em dois capítulos, o emprega catorze vezes; e
Zacarias, em catorze capítulos, chama a Jeová de “o Senhor dos exércitos”
cerca de cinquenta vezes. Em Malaquias, esse título aparece vinte e cinco
vezes. Na maior intensidade da sua angústia, o salmista anima duas vezes seu
coração com a certeza de que “o Senhor dos exércitos está conosco” (Salmos
46:7,11). Os significados e usos do título “Jeová dos exércitos” podem ser
resumidos da maneira seguinte: (1) os “exércitos” são celestiais. O título se
refere em primeiro lugar aos anjos, mas inclui também a ideia de todo o
poder divino ou celestial que está à disposição para suprir as necessidades do
povo de Deus (Gênesis 32:1,2; Isaías 6:1-5; 1 Reis 22:19; Lucas 2:13-15). (2)
em seu uso geral, esse é o título distintivo da Deidade em relação com a ajuda
e consolação divinas oferecidas a Israel em seus tempos de divisão e fracasso
(1 Reis 18:15; 19:14; Isaías 1:9; 8:11-14; 9:13-19; 10:24-27; 31:4,5; Ageu
2:4; Malaquias 3:16,17; Tiago 5:4).
Vamos, agora, entrar no estudo dos cinco primeiros livros da Bíblia.
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PRIMEIRO LIVRO DE MOISÉS

Gênesis

Gênesis é o livro das origens. Em suas páginas é apresentado não


apenas o princípio dos céus e da terra e a origem da vida vegetal, animal e
humana, senão também o início de todas as instituições e relações humanas.
Desde o ponto de vista dos tipos bíblicos, esse livro fala do novo nascimento,
ou seja, a nova criação, numa cena onde tudo era caótico.
Com o livro de Gênesis começa a revelação que em forma progressiva
Deus faz de Si mesmo e que culmina na Pessoa do Senhor Jesus Cristo. Os
três nomes primários da Deidade – Elohim, Jeová e Adonai – e os cinco
nomes compostos mais importantes que se atribuem a Deus, ocorrem em
Gênesis, e isso numa ordem progressiva que não poderia ser trocada sem cair
em confusão.
O problema do pecado – com referência aos efeitos que esse tem sobre
a vida terrena do homem e sua relação com Deus – assim como a resposta
divina a tal problema, são encontradas aqui na essência. Quatro dos oito
pactos que determinam tanto a relação do homem com seu Criador como a
obra da redenção divina, estão registrados nestas páginas; quer dizer, o pacto
Edênico e os pactos celebrados com Adão, Noé e Abraão. Esses são os pactos
fundamentais e com eles se acham estreitamente relacionados, como um
detalhe adicional ou desenvolvimento dos mesmos, os outros quatro pactos:
Mosaico, Palestino, Davídico e o Novo Pacto.
Gênesis forma parte da própria estrutura do Novo Testamento, onde é
citado mais de sessenta vezes em dezessete livros. Portanto, num sentido
profundo as raízes de toda a revelação subsequente foram plantadas bem
profundamente no livro de Gênesis e todo aquele que queira compreender
verdadeiramente tal revelação deve começar seu estudo nessas páginas.
A inspiração de Gênesis pelo Espírito Santo e seu caráter de revelação
divina, se autenticam por meio do testemunho da história e das afirmações do
Senhor Jesus Cristo (Mateus 19:4-6; 24:37-39: Marcos 10:4-9; Lucas 11:49-
51; 17:26-29,32; João 1:5; 7:21-23; 8:44,56).
O livro de Gênesis tem cinco divisões principais: I. Criação (1:1-2:25).
II. A queda e redenção do homem (3:1-4:7). III. As distintas sementes, Caim
e Sete, até o dilúvio (4:8-7:24). IV. Desde o dilúvio até Babel (8:1-11:9). V.
Desde o chamado de Abraão até a morte de José (11:10-50:26).
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SEGUNDO LIVRO DE MOISÉS

Êxodo
1730 A.C.

O livro de Êxodo (saída) relata a libertação dos descendentes de Abraão


da escravidão egípcia, e põe diante do leitor, em forma de tipo, toda obra de
redenção. Mas assim como toda redenção é efetuada para que os redimidos
tenham com Deus uma relação que pode ser expressa em adoração,
comunhão e serviço, Êxodo, na promulgação da lei e nas instruções
referentes ao sacrifício e ao sacerdócio, chega a ser não apenas o livro da
redenção senão também, em forma de tipo, o livro das condições sobre as
quais se baseia a relação espiritual que os redimidos têm com Deus.
De maneira ampla, Êxodo ensina que a redenção é essencial para toda
relação do homem com o Deus santo, e que mesmo os redimidos não podem
ter comunhão com Ele a menos que se limpem constantemente de toda
contaminação.
Em Êxodo, Deus, que até esse ponto tinha se relacionado com os
israelitas somente por meio do pacto com Abraão, lhes traz como uma nação
para Si mesmo por meio da redenção, lhes põe debaixo do pacto Mosaico e
habita entre eles na nuvem de glória. Gálatas explica a relação que existe
entre a lei e o pacto com Abraão. Através dos mandamentos, Deus ensinou a
Israel quais eram as justas demandas da Deidade. A experiência sob os
mandamentos trouxe convicção de pecado para Israel, enquanto que a
provisão de um sacerdócio e um sacrifício (os quais estão cheios de formosos
tipos de Cristo) foram para o povo culpável um caminho de perdão, de
purificação e de restauração à comunhão e ao culto do Deus verdadeiro.
Êxodo tem três divisões principais: I. Israel no Egito (1-15). II. Desde o
Mar Vermelho até Sinai (16-18). III. Israel no Sinai (19-40).
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TERCEIRO LIVRO DE MOISÉS

Levítico
1444 A.C.

A relação entre Levítico e Êxodo é a mesma que existe entre as


epístolas e os evangelhos. Êxodo é o livro da redenção, e como tal, estabelece
o fundamento para a purificação, adoração e serviço do povo redimido.
Levítico oferece detalhes quanto à conduta, adoração e serviço desse povo.
Em Êxodo, Deus fala do monte que para os israelitas estava proibida a
aproximação; em Levítico, Ele fala do tabernáculo, no qual Ele morava no
meio do seu povo, para os ensinar aquilo que segundo a santidade divina era
adequado que eles fizessem quando se aproximavam Dele para terem
comunhão.
A palavra chave do livro de Levítico é santidade, e ocorre oitenta e sete
vezes. O versículo chave é 19:2.
Há nove divisões principais em Levítico: I. As ofertas, 1:1-6:7. II. A lei
das ofertas, 6:8-7:38. III. Consagração, 8:1-9:24. IV. Um exemplo
admoestador, 10:1-20. V. O Espírito Santo deve ter um povo limpo, 11-15.
VI. Expiação, 16-17. VII. As relações do povo de Deus, 18-22. VIII. As
festas do Senhor, 23. IX. Instruções e admoestações, 24-27.

QUARTO LIVRO DE MOISÉS

Números
1444 A.C.

Este livro deriva seu nome do fato que suas páginas narram o censo de
Israel. Historicamente, Números continua a narrativa iniciada desde o ponto
onde Êxodo a deixou, e é o livro das peregrinações que o povo redimido teve
que realizar pelo deserto, devido seu fracasso de não haver entrado em Canaã
ao chegar em Cades.
Como um tipo, Números é o livro do serviço e conduta do povo de
Deus, e completa assim, com os livros precedentes, uma formosa ordem de
caráter espiritual: Gênesis, o livro da criação e da queda; Êxodo, o livro da
redenção; Levítico, o livro da adoração e comunhão; e Números, o livro
daquilo que deve vir em continuação: serviço e conduta.
É importante notar que nada foi deixado à própria vontade de cada
indivíduo. Cada servo foi enumerado, lhe foi indicado seu lugar na família e
determinado um serviço específico. O paralelo no Novo Testamento dessa
ordem se encontra em 1 Coríntios 12.
A segunda lição de caráter tipológico é que Israel falhou
completamente sob a prova das circunstâncias no deserto.
Números se divide em cinco partes principais: I. A ordem das tribos,
1:1-10:10. II. Do Sinai a Cades, 10:11-12:16. III. Israel em Cades, 13:1-
19:22. IV. As peregrinações no deserto, 20:1-33:49. V. Instruções finais,
33:50-36:13.
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QUINTO LIVRO DE MOISÉS

Deuteronômio
1405 A.C.

Em Deuteronômio encontramos os últimos conselhos que Moisés deu


aos israelitas, tendo em vista a entrada que logo fariam na terra que Deus, em
seu pacto, lhes tinha prometido. Este livro contém um resumo das
peregrinações de Israel no deserto, o qual é muito importante porque revela o
juízo moral de Deus acerca de tais peregrinações. Além disso, estão repetidos
os dez mandamentos para o benefício da nova geração que tinha se levantado
no deserto; são dadas instruções necessárias para a conduta que Israel deve
observar na terra prometida, e são também estabelecidos os termos do pacto
palestino (30:1-9). Este livro reflete a severidade da lei. As palavras chaves
são: “tu farás”; e os versículos chaves são: 11:26-28.
É importante observar que, enquanto que a terra da promessa foi dada
incondicionalmente a Abraão e sua semente no pacto que Deus fez com ele
(Gênesis 13:15; 15:7), foi sob o pacto palestino – o qual era de caráter
condicional (Deuteronômio 28:1-29:29) – que Israel entrou em Canaã sob a
direção de Josué. Quando a nação violou completamente as condições de dito
pacto, o reino foi primeiramente dividido (1 Reis 12) e a seguir o povo foi
expulso da terra prometida (2 Reis 17:1-18; 24:1-25:11). Porém, esse mesmo
pacto (Deuteronômio 30:1-9), promete de maneira incondicional para Israel
uma restauração nacional que ainda está para acontecer (Gênesis 15:18) –
Segundo seu estabelecimento (Gênesis 12:1-4) e confirmação (Gênesis
13:14-17; 15:1-7; 17:1-8), o pacto que Deus fez com Abraão está dividido em
sete partes distintas:
(1) “De ti farei uma grande nação”. Isso se cumpriu de três
maneiras: (a) na posteridade natural de Abraão: “como o pó da
terra” (Gênesis 13:16; João 8:37), isto é, o povo judaico. (b) na
posteridade espiritual de Abraão: “Olha para os céus e conta as
estrelas, se é que o podes. E lhe disse: será assim a tua posteridade”
(Gênesis 15.5; João 8:39; Romanos 4:16,17; 9:7,8; Gálatas:
3:6,7,29), isto é, todos os homens que creem no evangelho, quer
sejam judeus ou gentios (aqueles que não são judeus). (c) essa
promessa também foi cumprida por meio de Ismael (Gênesis 17:18-
20).
(2) “E te abençoarei”. Isso se cumpriu de duas maneiras: (a)
materialmente (Gênesis 13:14,15,17; 15:18; 24:34,35); (b)
espiritualmente (Gênesis 15:6; João 8:56).
(3) “E te engrandecerei o nome”. O nome de Abraão se encontra
entre os nomes de fama internacional.
(4) “Sê tu uma benção” (Gálatas 3:13,14).
(5) “Abençoarei os que te abençoarem”. O cumprimento dessa
promessa se acha estreitamente relacionado com a cláusula
seguinte.
(6) “E amaldiçoarei os que te amaldiçoarem”. Isso se cumpriu de
forma maravilhosa na história da dispersão de Israel. Os povos que
perseguiram aos judeus sofreram fracassos inevitáveis, enquanto
que as nações que protegeram Israel prosperaram. Essa verdade será
demonstrada de forma mais notável no futuro (Deuteronômio 30:7;
Isaías 14:1,2; Joel 3:1-8; Miquéias 5:7-9: Ageu 2:22: Zacarias 14:1-
3; Mateus 25:40,45).
(7) “Em ti serão benditas todas as famílias da terra”. Essa é a
grande promessa evangélica que foi cumprida na semente de
Abraão, o Cristo (Gálatas 3:16; João 8:56-58), e que torna mais
específica a promessa feita no pacto com Adão concernente ao
descendente da mulher (Gênesis 3:15).
Deuteronômio está dividido em sete partes principais: I. Resumo da
história de Israel no deserto, 1:1-3:29. II. Repetição da lei, com advertências e
exortações, 4:1-11:32. III. Instruções, advertências e predições, 12:1-27:26.
IV. As grandes profecias finais que resumem a história de Israel até a
segunda vinda de Cristo e contêm o pacto da Palestina, 28:1-30:20. V.
Conselhos finais para os sacerdotes, levitas e para Josué, 31. VI. O cântico de
Moisés e suas bênçãos de despedida, 32,33. VII. A morte de Moisés, 34.
II

OS LIVROS HISTÓRICOS

Os assim chamados livros históricos do Antigo Testamento são doze e


incluem desde Josué até Ester. Todavia, precisamos lembrar que todo o
Antigo Testamento está cheio de material histórico. A exatidão histórica
destes escritos, que muitas vezes é posta em dúvida, tem sido confirmada
ultimamente pelo testemunho de monumentos pertencentes à mesma época
dos eventos aqui narrados.
O conteúdo dos livros históricos é a história da ascensão e queda da
nação israelita; enquanto os profetas predizem a restauração e glória futuras
de que essa mesma nação será objeto no reinado do Messias.
A história de Israel está dividida em sete períodos distintos:
I. Desde o chamado de Abraão até o Êxodo, Gênesis 12:1-
Êxodo1:22 (comparar com Atos:7). O livro de Jó pertence a esse
período e mostra a maturidade e profundidade do pensamento
filosófico e religioso da época patriarcal, assim como o alcance
da revelação que o homem tinha recebido já naquela época.
II. Desde o Êxodo até a morte de Josué. A história desse período
está contida nos livros de Êxodo, Números, Deuteronômio,
Josué, e naquelas partes do livro de Levítico que tratam da
história de Israel. As grandes figuras de Moisés, Arão e Josué
dominam essa época.
III. O período dos juízes, desde a morte de Josué até o chamamento
de Saul, Juízes 1:1-1 Samuel 10:24.
IV. O período dos reis, desde Saul até o cativeiro, 1 Samuel 11:1-2
Reis 17:6; 25:30-2 Crônicas 36:23.
V. O período dos cativeiros, de Ester, e das partes históricas do
livro de Daniel. Com o cativeiro de Judá começam “os tempos
dos gentios”. A característica destes tempos é a sujeição política
de Israel aos poderes mundiais dos gentios (Lucas 21:24).
VI. O período da nação restaurada, sempre sob o domínio dos
gentios, desde o final dos setenta anos do cativeiro e o regresso
do remanescente fiel dos judeus até a destruição de Jerusalém, 70
D.C. A história desse período, escrita sob inspiração divina, se
encontra em Esdras, Neemias, Ageu, Zacarias e Malaquias no
Antigo Testamento, e em material histórico e biográfico do Novo
Testamento. Durante esse período, Cristo, o rei prometido no
pacto com Davi e a semente anunciada nos pactos com Adão e
Abraão, veio a esse mundo, foi rejeitado como rei e crucificado,
se levantou dentre os mortos e subiu aos céus. Ao final desse
mesmo período, a igreja foi estabelecida e os escritos do Novo
Testamento, com exceção dos escritos de João (evangelho,
epístolas e Apocalipse), foram revelados.
VII. A presente dispersão de Israel (Lucas 21:20-24), que há de
terminar, segundo o testemunho de todos os profetas do Antigo
Testamento, com o retorno nacional prometido no pacto
palestino (Deuteronômio 30:1-9). A restauração parcial do povo
israelita ao final dos setenta anos do cativeiro foi predita por
Daniel e Jeremias, e o propósito da mesma foi para que o
Messias pudesse vir e cumprir as profecias de seus sofrimentos.
No ano 70 D.C. Jerusalém foi destruída de novo e os
descendentes do remanescente fiel de Judá foram forçados a sair
da Palestina e participar assim da dispersão que continua até o
dia de hoje (nota do tradutor: essas palavras foram escritas por
Scofield em 1909, portanto antes da fundação do estado judeu
em 1948).

Josué
1405 A.C.

O livro de Josué relata a consumação da redenção de Israel da


escravidão egípcia; pois a redenção tem duas partes, uma negativa e outra
positiva. Os israelitas foram libertados do Egito para ser levados para a terra
prometida (Deuteronômio 6:23). A frase chave desse livro é: “Meu servo
Moisés está morto” (Josué 1:2). A lei, cujo representante era Moisés, não
podia dar a vitória para um povo pecador (Hebreus 7:19; Romanos 6:14; 8:2-
4).
Num sentido espiritual, o livro de Josué é a epístola de Efésios do
Antigo Testamento. “Os lugares celestiais” de Efésios são para o cristão o
que Canaã era para os israelitas; um lugar de conflito – e, portanto, não um
tipo do céu – mas, ao mesmo tempo, um lugar de vitória e benção por meio
do poder divino (Josué 21:43-45; Efésios 1:3).
O governo, assim como no passado, era teocrático, e Josué sucedeu a
Moisés como o governante sujeito à vontade de Deus.
O livro de Josué está dividido em quatro partes principais: I. A
conquista, capítulos 1-12. II. A repartição da terra, capítulos 13-21. III. A
discórdia incipiente, capítulo 22. IV. Os últimos conselhos e a morte de
Josué, capítulos 23-24.

Juízes
1375 A.C.

Esse livro recebe o nome de Juízes porque em suas páginas se narra a


história de treze homens levantados por Deus como libertadores de Israel,
durante o tempo de decadência e divisão nacionais que seguiu à morte de
Josué. Por meio desses homens, Deus continuou governando pessoalmente a
Israel. O versículo que resume a condição de Israel naquele período é o
seguinte: “cada qual fazia o que achava mais reto” (17:6). Há dois fatores que
sobressaem nesse livro: o completo fracasso de Israel e a graça persistente de
Deus.
Na eleição dos juízes se ilustra aquela grande declaração de Zacarias
que encontramos no capítulo 4, versículo 6, de seu livro: “Não por força nem
por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos”, como também
a afirmação de Paulo em 1 Coríntios 1:26: “visto que não foram chamados
muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre
nascimento”.
O livro de Juízes relata sete apostasias, sete escravidões sob sete nações
pagãs, e sete libertações. O paralelo espiritual dessa situação se encontra na
história da igreja professante desde os tempos dos apóstolos, na multiplicação
das seitas e na perda do sentido da unidade da igreja, que é o corpo de Cristo
(1 Coríntios 12:12,13).
Juízes se divide em duas partes principais: I. 1-16; versículo chave,
2:18. II. 17-21; versículo chave, 21:25.

Rute
1130 A.C.

Essa linda história deve ser lida ao lado da primeira metade do livro dos
Juízes, já que aqui, nas páginas de Rute, se oferece um quadro da vida
israelita daqueles tempos.
Do ponto de vista dos tipos bíblicos, pode-se deduzir que o livro de
Rute é uma representação da igreja (Rute) como sendo a esposa gentil (não
judia) de Cristo, o belemita, que é capaz de redimir. Essa história também
apresenta uma ilustração do que é a experiência cristã normal: I. A decisão de
Rute, capítulo 1. II. O serviço de Rute, capítulo 2. III. O descanso de Rute,
capítulo 3. IV. A recompensa de Rute, capítulo 4.

O primeiro livro de Samuel


1103 A.C.
Nesse livro é apresentada a biografia de Samuel, o último dos juízes.
Aqui também está relatado tanto o fracasso moral do sacerdócio sob a direção
de Eli, como o dos juízes no intento de Samuel para tornar seu ofício
hereditário (1 Samuel 8:1). Samuel foi fiel no desempenho de seu ministério
profético, e com ele inicia a linha de profetas que escreveram suas
mensagens. Começando com Samuel, o profeta e não o sacerdote tem o lugar
de proeminência em Israel. A teocracia, da forma em que os juízes a
exerceram, chega a seu fim nesse livro (8:7), e começa a monarquia com
Saul.
Há quatro divisões principais nesse livro: I. A história de Samuel até a
morte de Eli, 1:1-4:22. II. Desde a captura da arca até o pedido do povo por
um rei, 5:1-8:22. III. O reinado de Saul até o chamado de Davi, 9:1-15:35.
IV. Desde o chamado de Davi até a morte de Saul, 16:1-31:13.

O segundo livro de Samuel


1011 A.C.

Assim como o primeiro livro de Samuel indica o fracasso do homem


em Eli, Saul, e mesmo em Samuel, o segundo livro assinala a restauração da
ordem por meio da ascensão do rei eleito por Deus, Davi, ao trono de Israel.
Esse livro também trata do estabelecimento do centro político de Israel em
Jerusalém (2 Samuel 5:6-12) e do estabelecimento do centro religioso em
Sião (2 Samuel 5:7; 6:1-17). Quando tudo havia sido posto em ordem dessa
maneira, Jeová estabeleceu o grande pacto com Davi (2 Samuel 7:8-17), do
qual haveria de emanar, dali em diante, toda verdade concernente ao reino.
Em suas “últimas palavras” (23:1-7), Davi descreve o reino milenar que está
ainda por vir.
Esse livro se divide em quatro partes principais: I. Desde a morte de
Saul até o estabelecimento de Davi como rei de Judá em Hebrom, 1:1-27. II.
Desde a unção em Hebrom até a ascensão de Davi ao trono como rei sobre
todo Israel, 2:1-5:25. III. Desde a conquista de Jerusalém até a rebelião de
Absalão, 6:1-14:33. IV. Desde a rebelião de Absalão até a compra da área do
templo, 15:1-24:25.

O primeiro livro dos Reis


971 A.C.

O primeiro livro dos Reis narra a morte de Davi, o reino de Salomão, a


edificação do templo, a morte de Salomão, a divisão do reino no tempo de
Roboão e Jeroboão, e a história dos dois reinos até os tempos de Jeorão em
Judá e Acazias em Samaria. Esse livro inclui também o ministério poderoso
de Elias.
Há sete divisões principais nesse livro: I. Desde a rebelião de Adonias
até a morte de Davi, 1:1-2:11. II. Desde a ascensão de Salomão ao trono até a
dedicação do templo, 2:12-8:66. III. Desde a confirmação do pacto com Davi
até a morte de Salomão, 9:1-11:43. IV. Desde a divisão do reino até a morte
de Jeroboão e Roboão, 12:1-14:31. V. A história dos reinos de Judá e Israel
até a ascensão de Acabe ao trono de Israel, 15:1-16:28. VI. Desde a ascensão
de Acabe até sua morte, 16:29-22:40. VII. Desde o reino de Josafá até a
ascensão de Jeorão ao trono de Judá e de Acazias ao de Israel, 22:41-53.

O segundo livro dos Reis


852 A.C.

Esse livro continua a história dos reinos de Judá e Israel até os


desterros. Inclui também o traslado de Elias ao céu e o ministério de Eliseu.
Durante esse período, Amós e Oséias profetizaram em Israel, e Obadias, Joel,
Isaías, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias e Jeremias em Judá.
O segundo livro dos Reis está dividido em sete partes: I. O ministério
final de Elias e seu traslado ao céu, 1:1-2:11. II. O ministério de Eliseu desde
o traslado de Elias até Jeú ser ungido rei, 2:12-9:10. III. O reinado de Jeú
sobre Israel, 9:11-10:36. IV. Os reinados de Atalia e Joás sobre Judá, 11:1-
12:21. V. Os reinados de Jeoacaz e Jeoás sobre Israel, e o ministério final de
Eliseu, 13:1-25. VI. Desde a morte de Eliseu até o desterro de Israel, 14:1-
17:41. VII. Desde a ascensão de Ezequias até o desterro de Judá, 18:1-25:30.

O primeiro livro de Crônicas


1011 A.C.

Os dois livros de Crônicas, do mesmo modo que os dois livros dos


Reis, formam apenas um livro no cânon judaico. Juntos, esses dois livros
cobrem o período que se estende desde a morte de Saul até os desterros. Eles
foram escritos provavelmente durante o cativeiro babilônico e se diferenciam
dos livros dos Reis pelo relato mais completo que fazem da história de Judá e
pelos muitos detalhes que omitem em sua narração do período já
mencionado. A importância tipológica dos livros de Crônicas se encontra
provavelmente na bênção que recebe o povo terreno de Deus em relação com
a monarquia de Davi e da sua descendência.
O primeiro livro de Crônicas está dividido em três partes principais: I.
Genealogias oficiais, 1:1-9:44. II. Desde a morte de Saul até a ascensão de
Davi ao trono. III. Desde a ascensão de Davi ao trono até sua morte, 13:1-
29:30.

O segundo livro de Crônicas


971 A.C.

Esse livro prossegue a história começada no primeiro livro de Crônicas.


Seu conteúdo está dividido em dezoito partes, com base nos reinados que se
sucederam desde o tempo de Salomão até os desterros; relata a divisão do
reino de Davi com Jeroboão e Roboão, e se caracteriza pela descrição de uma
apostasia que vai sempre aumentando e que é interrompida temporariamente
pelas reformas estabelecidas com Asa, capítulos 14-16; Josafá, 17:1-19; Joás,
capítulo 24; Ezequias, capítulos 29-32, e Josias, capítulos 34,35. A condição
religiosa do povo, mesmo nos tempos dos melhores reis, está descrita no livro
de Isaías capítulos 1-5.
10

Esdras
536 A.C.

Esdras, o primeiro dos livros escritos depois do cativeiro (Esdras,


Neemias, Ester, Ageu, Zacarias e Malaquias) relata o regresso para a
Palestina, por decreto de Ciro e sob a direção de Zorobabel, do remanescente
dos judeus que colocou os fundamentos do templo (536 A.C.). Tempos
depois (458 A.C.), Esdras chegou à Palestina e restaurou a lei e o cerimonial.
Mas a maior parte do povo e dos príncipes preferiram continuar na Babilônia
e Assíria, onde estavam prosperando materialmente.
Os livros escritos depois do cativeiro tratam do pequeno remanescente
formado por aqueles que eram os únicos que tinham um coração para Deus.
Esse livro está dividido em duas partes: I. Desde o decreto de Ciro até a
dedicação do templo, 1:1-6:22. II. O ministério de Esdras, 7:1-10:44.
11

Neemias
445 A.C.

Catorze anos depois do regresso de Esdras a Jerusalém, Neemias


conduziu outro grupo de judeus para lá (445 A.C) e restaurou nela os muros e
a autoridade civil. Estes são os eventos que o presente livro relata. Há oito
divisões principais no livro de Neemias: I. A jornada a Jerusalém, 1:1-2:20.
II. A edificação do muro, 3:1-6:19. III. O censo, 7:1-73. IV. O avivamento,
8:1-11:36. V. O censo dos sacerdotes e levitas, 12:1-26. VI. Dedicação do
muro, 12:27-43. VII. Restauração do culto no templo, 12:44-47. VIII. A
ordem mosaica restaurada 13:1-31.
A condição moral do povo naquele tempo é descrita na profecia de
Malaquias. O livro de Neemias provê muitos exemplos de uma fé individual
que atua à base da palavra escrita de Deus (exemplo 1:8,9; 13:1). Tal é o
princípio inculcado em 2 Timóteo 2.
12

Ester
479 A.C.

A importância do livro de Ester consiste em seu testemunho no que diz


respeito à proteção não manifesta mas efetiva que Deus dava ao seu povo
disperso, Israel. O nome de Deus não aparece nenhuma vez nessas páginas,
mas não há outro livro da Bíblia onde a providência divina seja mais
sobressaliente. Foi somente um remanescente do povo judeu que retornou
para Jerusalém. A maioria preferiu a vida fácil e lucrativa que estava
desfrutando sob o domínio dos persas na terra do cativeiro. Todavia, Deus
não os abandonou. O que Deus fez ali pelos judeus, com certeza Ele estava
fazendo também por todo o povo do pacto.
O livro de Ester está dividido em sete partes principais: I. A história de
Vasti, 1:1-22. II. Ester é proclamada rainha, 2:1-23. III. A conspiração de
Hamã, 3:1-15. IV. A valentia de Ester resulta no livramento do povo, 4:1-
7:10. V. A vingança, 8:1-9:19. VI. A festa de purim, 9:20-32. VII. Epílogo,
10:1-3.
III

OS LIVROS POÉTICOS

Os livros classificados como poéticos são os seguintes: Jó, Salmos,


Provérbios, Eclesiastes, Cantares e Lamentações. O termo “poético” não deve
ser tomado como se isso implicasse algo imaginário ou irreal, senão somente
como uma referência à forma literária em que esses livros estão escritos. Eles
descrevem as experiências do povo de Deus nas variadas circunstâncias da
vida terrena; mas, separado do ambiente puramente externo, essas
experiências são produzidas pelo Espírito na vida dos que pertencem a dito
povo, interpretadas para nós pelo Espírito, e escritas pelos santos homens de
Deus ao serem inspirados pelo Espírito de Deus. Isso é verdade com relação a
todos os livros poéticos, incluindo os Salmos; porém, esses últimos possuem
também um caráter profético.
A poesia hebraica tem uma forma muito peculiar e requer uma palavra
de explicação. O ritmo não é obtido pela repetição dos sons similares, como
na poesia rimada, nem pelo acento rítmico do verso livre, mas pela repetição
das ideias. Isso é chamado paralelismo. Por exemplo,
“O Senhor é também alto refúgio para o oprimido.
Refúgio nas horas de tribulação” (Salmos 9:9).
O paralelismo é chamado sinônimo quando o pensamento é idêntico em
ambos versos, como no exemplo já citado. No paralelismo antitético a ideia
primária e a secundária acham-se em contraste; por exemplo,
“Pois o Senhor conhece o caminho dos justos.
Mas o caminho dos ímpios perecerá” (Salmos 1:6).
Quando a ideia principal é desenvolvida em paralelo, o paralelismo é
chamado sintético. Por exemplo,
“Sentir-te-ás seguro, porque haverá esperança.
Olharás derredor, e dormirás tranquilo” (Jó 11:18).
De acordo com esse método, os livros poéticos são épicos, líricos e
dramáticos, e oferecem exemplos de uma expressão literária que não tem
igual na literatura que não é divinamente inspirada.

1

1900 A.C.

O livro de Jó está escrito na forma de um poema dramático.


Provavelmente, esse seja o mais antigo dos livros da Bíblia, e pode-se
assegurar que ele foi escrito antes da proclamação da lei entregue por Deus a
Moisés, pois numa discussão como a apresentada no livro de Jó e que trata de
todos os aspectos do pecado, do governo providencial de Deus, e da relação
do homem com Ele, teria sido impossível evitar toda referência à lei se essa
fosse então conhecida. Jó era um personagem real (Ezequiel 14:20; Tiago
5:11), e os eventos ali narrados são históricos. De uma maneira muito notável
esse livro dá testemunho acerca do nível de desenvolvimento filosófico bem
como da cultura intelectual da era dos patriarcas. O problema que se debate é
o seguinte: porque os justos sofrem?
Há sete divisões principais nesse livro: I. O prólogo, 1:1-2:8. II. Jó e
sua esposa, 2:9,10. III. Jó e seus três amigos, 2:11-31:40. IV. Jó e Eliú, 32:1-
37:24. V. O Senhor e Jó, 38:1-41:34. VI. A resposta final de Jó, 42:1-6. VII.
Epílogo, 42:7-17.

Salmos
1000 A.C.

A descrição mais simples dos cinco livros dos Salmos é a que diz que
eles constituíam o livro divinamente inspirado de orações e louvores de
Israel. Os Salmos revelam a verdade, não de uma forma abstrata, mas em
termos da experiência humana. A verdade que assim é revelada é entretecida
nas emoções, desejos e sofrimentos do povo de Deus por meio das
circunstâncias através das quais eles têm que passar. Ao mesmo tempo, essas
circunstâncias são de tal natureza que elas constituem uma antecipação das
condições similares que tanto o Cristo na sua encarnação como o
remanescente do povo judeu na tribulação (Isaías 10:21) experimentarão; de
modo que os Salmos profetizam os sofrimentos, a fé e a vitória do Messias,
assim como seu povo Israel. Os Salmos 22 e 60 são um exemplo de tal
profecia. O Salmo 22 – considerado como o lugar santíssimo da Bíblia –
revela tudo o que ocupava a mente de Cristo quando ele clamou de forma
angustiante: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? ” O Salmo 60
é uma antecipação daquilo que estará no coração de Israel quando se voltar
para o Senhor (Deuteronômio 30:1,2). Outros Salmos profetizam de maneira
direta “os sofrimentos referentes a Cristo, e sobre as glórias que os
seguiriam” (1 Pedro 1:11; Lucas 24:25-27, 44). Um exemplo notável é o
Salmo 2 em sua apresentação do Ungido do Senhor, primeiro como o Cristo
rejeitado e crucificado (versículos 1-3; Atos 4:24-28), e depois como o rei
exaltado em Sião.
Os grandes temas dos Salmos são: Cristo, Jeová, a lei, a criação, o
futuro de Israel, e as emoções que o coração regenerado experimenta no
sofrimento, na alegria e na perplexidade. As promessas dos Salmos são em
primeiro lugar de caráter judaico e apropriadas para um povo que está
debaixo da lei, mas espiritualmente também são verdadeiras para a
experiência cristã, no sentido que elas revelam a mente de Deus e as emoções
de seu coração para com aqueles que se acham perplexos, aflitos,
desanimados ou abatidos.
Os Salmos imprecatórios são a voz do povo oprimido de Israel
clamando por justiça. Esse clamor é muito apropriado e correto no caso de
Israel, e está baseado nas claras promessas feitas a Abraão (Gênesis 15:18);
mas não é um clamor adequado para a igreja, que é um povo celestial que
está identificado com o Cristo rejeitado e crucificado (Lucas 9:52-55).
Os Salmos se dividem em cinco livros, cada um dos quais termina com
uma doxologia: I. Salmos 1-41. II. Salmos 42-72. III. Salmos 73-89. IV.
Salmos 90-106. V. Salmos 107-150.

Provérbios
970 A.C.
Esta coleção de ditos sentenciosos é uma expressão da sabedoria divina
aplicada às condições terrenas do povo de Deus. O fato que os Provérbios são
atribuídos a Salomão (1:1) implica apenas que ele reuniu e ordenou esse
grupo de ditos que, como fruto da sabedoria do Espírito, já circulavam entre o
povo talvez por muitos séculos (Eclesiastes 12:9). Os capítulos 25-29 eram
bem conhecidos nos dias de Ezequias (25:1). Os capítulos 30 e 31 são obra de
Agur e Lemuel.
O livro de Provérbios se divide em seis partes principais: I. Os filhos,
1-7. II. O louvor da sabedoria, 8-9. III. A loucura do pecado, 10-19. IV.
Admoestação e instrução, 20-29. V. As palavras de Agur, 30. VI. As palavras
do rei Lemuel, 31.

Eclesiastes
940 A.C.

Este é o livro do homem que se encontra “debaixo do sol”,


raciocinando acerca da vida. Temos aqui a maior altura que ele pode alcançar
com seu conhecimento de que há um Deus santo e que um dia Ele trará tudo
a juízo.
As frases principais que servem de chave para a interpretação do livro
são: “debaixo do sol”, “atentei”, “disse comigo”. A inspiração registra
exatamente tudo o que acontece, porém, as conclusões e os raciocínios são,
afinal, do próprio homem. É verdade que essas conclusões estão certas
quando declaram que, em vista do juízo vindouro, é vaidade dedicar a vida
apenas às coisas terrenas; mas a “conclusão” (12:13) se apega ao espírito da
lei mosaica, e se refere ao melhor que o homem pode fazer aparte da
redenção, e não antecipa o evangelho.
O livro de Eclesiastes está dividido em cinco partes: I. O tema, 1:1-3.
II. A demonstração do tema, 1:4-3:22. III. O tema se desenvolve à luz dos
sofrimentos, hipocrisias, incertezas, pobreza e riquezas do ser humano, 4:1-
10:20. IV. O melhor que o homem pode alcançar aparte de Deus, 11:1-12:12.
V. O melhor que o homem pode alcançar debaixo da lei, 12:13,14.

Cantares
960 A.C.

Não há outro lugar nas Escrituras onde a mente que não é espiritual
percorra um terreno tão misterioso e incompreensível como nesse livro,
enquanto que através dos séculos as almas mais piedosas nele têm encontrado
uma fonte de genuíno e precioso deleite.
Que o amor do esposo celestial corresponda a todas as analogias da
relação matrimonial parece incorreto apenas àquelas mentes que são tão
ascéticas que também consideram impuro o próprio anelo matrimonial.
A interpretação do livro de Cantares tem um aspecto duplo:
primeiramente, é a expressão do amor matrimonial em sua pureza original, tal
como Deus o estabeleceu na criação, e a vindicação desse amor tanto
contrariamente ao ascetismo como à luxúria, que são as duas maneiras em
que a santidade do matrimônio é profanada. A interpretação secundária e
mais ampla é aquela que descobre aqui a Cristo, o Filho de Deus, com sua
esposa celestial, a igreja (2 Coríntios 11:1-4).
De acordo com essa última interpretação, o livro tem seis divisões: I. A
esposa é apresentada em quieta comunhão com o esposo, 1:1-2:7. II.
Separação e reunião, 2:8-3:5. III. O gozo da comunhão, 3:6-5:1. IV.
Separação de interesses: a esposa satisfeita, enquanto o esposo trabalha para
outros, 5:2-5. V. A esposa busca ao amado e testifica dele, 5:6-6:3. VI.
Comunhão ininterrupta, 6:4-8:14.

IV

OS LIVROS PROFÉTICOS

Os profetas eram homens que Deus levantou em tempos de decadência


e apostasia em Israel. Antes de tudo, eles eram dirigentes de avivamentos
religiosos e patriotas que falavam em nome de Deus ao coração e à
consciência da nação. As mensagens proféticas oferecem dois aspectos: em
primeiro lugar, seu conteúdo se aplicava às condições locais e aos tempos dos
profetas; e em segundo lugar, elas prediziam o propósito divino para o futuro.
Comumente, a pregação surgia diretamente das circunstâncias locais (por
exemplo, Isaías 7:1-11 com versículos 12-14).
É necessário ter sempre presente o caráter judaico dos profetas.
Frequentemente, tanto seu ministério de pregação como o que se relaciona
com as circunstâncias locais, não é didático nem abstrato, senão que se refere
ao povo do pacto, ao seu pecado e fracasso, e também ao seu futuro glorioso.
Os gentios são mencionados como os instrumentos que Deus usa para
castigar a Israel, mas também como participantes da graça que ainda há de se
manifestar a Israel. A igreja, como um corpo, não aparece na visão do profeta
do Antigo Testamento (Efésios 3:1-6). A benção futura de Israel, como
nação, está baseada nas promessas de restauração e conversão expressadas no
pacto palestino (Deuteronômio 30:1-9) e na promessa do pacto feito com
Davi no que se refere ao reinado do Messias, o filho de Davi (2 Samuel 7:8-
17), e isso é o que dá à profecia o seu caráter messiânico. A exaltação de
Israel se obtém no reino, e o reino recebe da pessoa do rei, que é o filho de
Davi, mas também o “Emanuel”, o poder de abençoar.
Mas como o rei também é o filho de Abraão (Mateus 1:1), o redentor
prometido, e como a redenção se efetua apenas por meio do sacrifício de
Cristo, a profecia messiânica tem que apresentar a Cristo de duas maneiras:
como o Messias sofredor (por exemplo Isaías 53) e como o Messias que reina
(por exemplo Isaías 11). Essa dualidade – sofrimento e glória, fraqueza e
força – envolvia um mistério, que deixou perplexos aos profetas (1 Pedro
1:10-12; Lucas 24:26,27).
A solução desse mistério encontra-se, tal como fica esclarecido no
Novo Testamento, nas duas vindas de Cristo: a primeira para redimir por
meio do sofrimento; a segunda vinda para reinar em glória, quando as
promessas de caráter nacional feitas a Israel se cumprirão (Mateus 1:21-23;
Lucas 2:28-35; 24:46-48, com Lucas 1:31-33, 68-75; Mateus 2:2,6; 19:27,28;
Atos 2:30-32; 15:14-16). Na verdade, os profetas descrevem a vinda de
Cristo de duas formas que não podiam ser contemporâneas (por exemplo,
comparar Zacarias 9:9 com 14:1-9); mas a eles não foi revelado que entre a
vinda para sofrer e a vinda em glória haveriam de se manifestar certos
“mistérios do reino” (Mateus 13:11-16); nem tampouco lhes foi dado ver que
como resultado da rejeição sofrida pelo Messias, a igreja do Novo
Testamento seria estabelecida. Essas coisas eram para eles “mistérios
escondidos em Deus” (Efésios 3:1-10).
De maneira que, falando em termos gerais, a profecia relacionada com
o futuro trata do cumprimento dos pactos palestino (Deuteronômio 28:1-30:9)
e com Davi. O pacto feito com Abraão também tem seu lugar nessa classe de
profecia.
Os poderes dos gentios são mencionados em relação a Israel, mas a
profecia, com exceção de Daniel, Obadias, Jonas e Naum, não trata da
história mundial dos gentios. O livro de Daniel, como será observado depois,
tem um caráter muito peculiar.
As predições tocantes à restauração de Israel do cativeiro babilônico ao
final dos setenta anos, devem ser distinguidas daquelas que se referem à
restauração da presente dispersão mundial dos judeus. O contexto é sempre
claro. O pacto palestino é o molde de toda profecia no tocante ao futuro no
seu sentido mais amplo; pois inclui a desobediência nacional, a dispersão
mundial, o arrependimento, o regresso do Senhor, a reunião de Israel e o
estabelecimento do reino, a conversão de Israel, e o juízo dos opressores
desse povo.
A divisão correta dos profetas é a seguinte: profetas dos tempos antes
do exílio. Em Judá: Isaías, Jeremias (cujo ministério se estende até o exílio),
Joel, Obadias, Miquéias, Naum, Habacuque e Sofonias. Em Israel: Oséias,
Amós e Jonas. Profetas do exílio: Ezequiel e Daniel. Ambos eram de Judá,
mas profetizaram para toda a nação. Profetas do período posterior ao exílio,
todos de Judá: Ageu, Zacarias e Malaquias. A divisão que comumente se faz
entre profetas maiores e profetas menores é baseada tão somente no volume
dos livros e não é histórica nem cronológica.
Os temas que servem como chave para decifrar o significado da
profecia são: as duas vindas do Messias – sua vinda para sofrer (Gênesis
3:15; Atos 1:9) e sua vinda para reinar (Deuteronômio 30:3; Atos 1:9-11); a
doutrina do remanescente fiel dos judeus (Isaías 10:20); a doutrina do dia do
Senhor (Isaías 2:10-22; Apocalipse 19:11-21), e a doutrina do reino (Gênesis
1:26-28; Zacarias 12:8; Lucas 1:31-33; 1 Coríntios 15:28). Se se considera a
profecia como um todo, os seguintes capítulos são os fundamentais:
Deuteronômio 28,29,30; Salmos 2; Daniel 2,7,9.
Para determinar o significado de uma passagem em particular deve
levar-se em conta a profecia bíblica como um todo (2 Pedro 1:20). Disso se
deduz a importância de conhecer a fundo os temas acima indicados.
O detalhe no tocante ao tempo do fim, no qual convergem todas as
profecias, se entenderá com maior clareza se se acrescentam a tais temas
aqueles que tratam da besta (Daniel 7:8; Apocalipse 19:20) e do Armagedom
(Apocalipse 16:14; 19:17).

Isaías
739 A.C.

Isaías tem sido justamente considerado como o principal dos profetas


que escreveram suas predições. Seu testemunho tem maior alcance que os
dos demais profetas e ele é, de maneira muito peculiar, o profeta da redenção.
Em nenhuma outra porção bíblica escrita sob a lei encontramos uma visão tão
clara da graça divina como nesse livro.
A igreja não aparece aqui (Efésios 3:3-10), mas o Messias em sua
pessoa e sofrimentos, e a bênção que os gentios receberão por seu intermédio,
são reveladas plenamente nessas páginas.
Aparte daquela seção do testemunho relacionado com os tempos do
profeta e que inclui admoestações relacionadas ao juízo que viria sobre as
nações mais poderosas da época, as mensagens de Isaías relacionadas ao
futuro englobam sete grandes temas: I. Israel no exílio e o juízo divino sobre
os opressores desse povo. II. O regresso da Babilônia. III. A manifestação do
Messias em sua humilhação (por exemplo, capítulo 53). IV. A bênção dos
gentios. V. A manifestação do Messias em juízo. VI. O domínio do renovo
justo de Davi na era do reino. VII. O novo céu e a nova terra.
O livro de Isaías tem duas partes principais: I. O profeta olha para os
cativeiros, 1:1-39:8. A chave dessa seção se encontra em 1:1,2. II. O profeta
olha mais além dos cativeiros, 40:1-66:24. Capítulo 40:1,2 é a chave dessa
porção.

Jeremias
627-575 A.C.

Jeremias começou seu ministério no décimo terceiro ano de Josias,


cerca de sessenta anos depois da morte de Isaías. Na primeira parte da sua
carreira profética, Sofonias e Habacuque foram seus contemporâneos,
enquanto que Daniel foi ao final da mesma. Depois da morte de Josias, o
reino de Judá se apressou em direção ao triste fim que encontrou no cativeiro
babilônico. Jeremias permaneceu na terra da Palestina exercendo seu
ministério a favor dos pobres do remanescente (2 Reis 24:14) até que eles se
foram para o Egito, para onde ele os seguiu e morreu, não muito tempo
depois do princípio dos setenta anos do cativeiro. Tendo profetizado não
apenas antes do desterro de Judá senão também durante o mesmo, Jeremias
liga aos profetas de antes do desterro com os profetas do desterro, isto é,
Ezequiel e Daniel.
A visão de Jeremias inclui: o cativeiro babilônico; o regresso do povo
depois dos setenta anos do desterro; a dispersão mundial dos judeus; a
reunião final desse povo; a era do reino; o dia do juízo sobre as nações dos
gentios, e o remanescente fiel de Israel.
A profecia de Jeremias se divide em seis partes principais: I. Desde o
chamamento do profeta até sua mensagem aos primeiros cativos, 1:1-29:32.
II. Profecias e eventos sem ordem cronológica, 30:1-36:32. III. Desde a
ascensão de Zedequias até seu cativeiro, 37:1-39:18. IV. As profecias de
Jeremias na Palestina depois do cativeiro final de Judá, 40:1-42:22. V. O
profeta no Egito, 43:1-44:30. VI. Diversas profecias, 45:1-52:34.

Lamentações
586 A.C.

O significado comovedor desse livro deve-se ao fato que suas páginas


revelam o amor e a dor do Senhor pelo seu povo que Ele mesmo está
castigando; um amor e uma dor que o Espírito transmite ao coração de
Jeremias (Jeremias 13:17; Mateus 23:36-38; Romanos 9:1-5).
Os capítulos indicam as partes em que o livro está dividido, quer dizer,
em cinco lamentações.
4

Ezequiel
593 A.C.

Ezequiel foi levado para a Babilônia durante o intervalo entre a


primeira e a última deportação de Judá (2 Reis 24:11-16). Assim como no
caso de Daniel e do apóstolo João, ele profetizou fora da Palestina, e sua
profecia, semelhante à deles, usa o método de símbolos e visões. Em
contraste com os profetas da época prévia ao cativeiro, cujo ministério estava
relacionado primordialmente com Judá ou com o reino das dez tribos,
Ezequiel é a voz do Senhor para “toda a casa de Israel”.
Falando em termos gerais, o propósito do seu ministério era manter
diante dos olhos da geração nascida no desterro os pecados nacionais que
tanto tinham degradado a Israel (por exemplo, Ezequiel 14:23), e sustentar a
fé dos desterrados através das profecias relacionadas à restauração nacional, a
execução da justiça divina sobre os opressores do povo, e a glória nacional
sob a monarquia davídica.
O livro de Ezequiel consiste em sete grandes temas proféticos que são
indicados através da expressão: "a mão do Senhor veio sobre mim” (Ezequiel
1:3; 3:14, 22; 8:1; 33:22; 37:1; 40:1). As subdivisões são indicadas com as
palavras: “veio a mim a palavra do Senhor”.
5

Daniel
605 A.C.

Daniel, assim como Ezequiel, era um judeu cativo na Babilônia. Ele era
de descendência real (1:3). Em face de sua capacidade pessoal e presença
agradável, os babilônios lhe educaram para o serviço no palácio do rei. Na
atmosfera contaminada duma corte oriental, Daniel viveu uma vida
singularmente piedosa e frutífera. Sua longa vida se estendeu desde os dias de
Nabucodonosor até os dias de Ciro, rei da Pérsia, e foi contemporâneo de
Jeremias, Ezequiel (14:20), Esdras e Zorobabel.
O livro de Daniel é a introdução indispensável da profecia constante no
Novo Testamento, cujos temas são: a apostasia da igreja, a manifestação do
homem do pecado, a grande tribulação, o regresso do Senhor, as
ressurreições e os juízos. Todos esses temas, com exceção do primeiro deles,
também são discutidos na profecia de Daniel.
Todavia, Daniel é de maneira distinta o profeta “dos tempos dos
gentios” (Lucas 21:24). Sua visão engloba todo o período do domínio
mundial dos gentios até o final catastrófico do mesmo e o estabelecimento do
reino messiânico.
O livro de Daniel possui quatro divisões principais: I. Introdução. A
história pessoal de Daniel desde a conquista de Jerusalém até o segundo ano
de Nabucodonosor, 1:1-21. II. As visões de Nabucodonosor e seus resultados,
2:1-4:37. III. A história pessoal de Daniel nos dias de Belsazar e Dario, 5:1-
6:28. IV. As visões de Daniel, 7:1-12:13.

Oséias
750-718 A.C.

Oséias era um contemporâneo de Amós em Israel e de Isaías e


Miquéias em Judá e seu ministério continuou depois do primeiro cativeiro do
reino do Norte, ou seja, o cativeiro assírio (2 Reis 15:29). Seu estilo é
abrupto, metafórico e figurado.
Israel é a esposa adúltera e repudiada do Senhor que, porém,
finalmente será purificada e restaurada. Essa é a mensagem distintiva de
Oséias, e pode ser resumida em duas palavras: Lo-ammi, “não meu povo”, e
Ammi, “meu povo”. Israel não é simplesmente apóstata e pecador. É a
posição elevada a que essa nação foi levantada que dá a seu pecado um
caráter especial.
O livro de Oséias está dividido em três partes principais: I. A esposa
desonrada, 1:1-3:5. II. O povo pecador, 4:1-13:8. III. A bênção e glória finais
de Israel, 13:9-14:9.
7

Joel
825-815 A.C.

Joel, que era um profeta de Judá, exerceu seu ministério provavelmente


durante o reinado de Joás (2 Crônicas 22-24). É possível que em sua
juventude tenha conhecido o profeta Elias, e foi certamente um
contemporâneo de Eliseu. As pragas de insetos, que foram como um sinal do
castigo divino, deram lugar à revelação do futuro “dia do Senhor” (Isaías
2:12) em seus dois aspectos do juízo para os gentios e bênção para Israel.
A profecia de Joel está dividida em três partes principais: I. A praga de
insetos, 1:1-20. II. O dia do Senhor, 2:1-3:8. III. Um olhar retrospectivo do
dia do Senhor e a bênção plena do reino, 3:9-21.
8

Amós
760-750 A.C.

Amós, que era de Judá mas profetizou no reino do Norte, 776-763


A.C., (1:1; 7:14,15), exerceu seu ministério durante o reinado de Jeroboão II,
um governador capaz, mas idólatra, que conduziu seu reino ao zênite do
poder. Nada poderia parecer mais improvável que o cumprimento daquilo
que Amós anunciava; porém, dentro de cinquenta anos o reino foi
completamente destruído. A visão de Amós, não obstante, cobre mais que o
reino do Norte e inclui toda a “casa de Jacó”.
A profecia de Amós se divide em quatro partes principais: I. Juízos
sobre as nações que rodeiam a Palestina, 1:1-2:3. II. Juízos sobre Judá e
Israel, 2:4-16. III. Controvérsia do Senhor com “toda a família” de Jacó, 3:1-
9:10. IV. A glória futura do reino davídico, 9:11-15.
9

Obadias
840 A.C.

A evidência interna parece estabelecer que o ministério de Obadias


teve lugar no reinado da sanguinária Atalia (2 Reis 8:16-26). Se isso está
certo e se o ministério de Joel foi durante o reinado de Joás, então Obadias é
cronologicamente o primeiro dos profetas que escreveram suas mensagens e
o primeiro a fazer uso da expressão “o dia do Senhor”.
Esse livro está dividido em quatro partes principais: I. A humilhação de
Edom, versículos 1-9. II. A dimensão do pecado de Edom, versículos 10-14.
III. O juízo futuro de Edom no dia do Senhor, versículos 15,16 (Isaías 34;
63:1-6). IV. A inclusão de Edom no reino futuro, versículos 17-21 (Números
24:17-19).

10
Jonas
785 A.C.

O Senhor Jesus deu testemunho do caráter histórico do personagem


chamado Jonas (Mateus 12:39-41), como também do fato que a permanência
desse profeta dentro do grande peixe foi um sinal ou tipo da permanência do
Filho de Deus no túmulo e da sua ressurreição. Ambos eventos são
miraculosos e ambos são igualmente críveis. 2 Reis 14:25 se refere ao
cumprimento de uma profecia que Jonas tinha anunciado. Jonas era um judeu
fanático que oferecia resistência para pregar numa cidade de gentios e que
ficou irado quando Deus a perdoou. Como um tipo, Jonas representa aquilo
que a nação judaica tem sido e tem experimentado fora da sua própria terra.
Os judeus têm sido causa de grande dificuldade para os gentios, e, ao mesmo
tempo, um testemunho para todos os povos; eles têm sido expulsos pelos
gentios, mas também milagrosamente preservados; na sua mais profunda
angústia pelo futuro, eles clamam ao Senhor, o Salvador, encontram
libertação, e se convertem em missionários para o mundo gentil (Zacarias
8:7-23).
Jonas é um tipo de Cristo na posição que Ele ocupa como o Enviado de
Deus, e como aquele que foi levantado dentre os mortos e leva as novas de
salvação aos gentios.
Os capítulos indicam as divisões do livro de Jonas.

11
Miquéias
735-701 A.C.

Miquéias, um contemporâneo de Isaías, profetizou durante os reinados


de Jotão, Acaz e Ezequias, de Judá, e de Pecaías, Peca e Oséias, de Israel (2
Reis 15:23-30; 17:1-6). Ele era um profeta em Judá (Jeremias 26:17-19),
porém o livro que leva seu nome tem a ver principalmente com Samaria.
O livro de Miquéias se divide em três mensagens proféticas, cada uma
das quais começa com a palavra “ouvi”: I. 1:1-2:13. II. 3:1-5:15. III. 6:1-
7:20.

12

Naum
635-620 A.C.

Naum profetizou durante o reinado de Ezequias, provavelmente cerca


de cento e cinquenta anos depois de Jonas. Ele tinha um só tema: a destruição
de Nínive. De acordo com Deodoro Sículo, essa cidade foi destruída
aproximadamente um século depois do ministério de Naum, tal como havia
previsto. A profecia de Naum segue um tema contínuo que não está sujeita a
uma análise como os outros livros bíblicos.
Do ponto de vista moral, o tema é o seguinte: a santidade do Senhor
precisa tratar o pecado com juízo.

13

Habacuque
620-609 A.C.
O ministério de Habacuque provavelmente ocorreu nos últimos anos de
Josias. Do profeta mesmo não sabemos nada. Foi revelado para ele o caráter
do Senhor em termos da mais elevada espiritualidade. Entre os profetas, ele
era o único cuja maior preocupação não era que Israel escapasse do castigo
divino, senão que a santidade do Senhor fosse vindicada. Escrita na véspera
do cativeiro, a profecia de Habacuque é o testemunho que Deus dá de si
mesmo em oposição ao panteísmo e a idolatria.
O livro está dividido em cinco partes principais: I. A perplexidade de
Habacuque devido aos pecados de Israel e o silêncio de Deus, 1:1-4.
Historicamente esse é o tempo em que o Senhor mostrou sua paciência
devido ao arrependimento de Josias (2 Reis 22:18-20). II. A resposta do
Senhor à perplexidade do profeta, 1:5-11. III. Tendo recebido a resposta
divina, o profeta expressa o testemunho do Senhor, 1:12-17; mas estará na
torre de vigia aguardando mais luz, 2:1. IV. O profeta vigilante recebe a
resposta da “visão”, 2:2-20. V. Tudo culmina com o sublime salmo do reino
entoado por Habacuque, 3:1-19.
Como um todo, o livro de Habacuque levanta e responde a pergunta no
tocante a uma possível contradição no caráter de Deus, devido ao fato de ter
permitido o mal. O profeta pensava que a própria santidade de Deus proibia
que Ele continuasse tratando com Israel em razão do pecado que a nação
praticava. A resposta de Deus anuncia uma invasão dos caldeus (1:6), e uma
dispersão mundial (1:5). Porém o Senhor não é apenas ira; Ele “tem prazer na
misericórdia” (Miquéias 7:18), e introduz nas suas respostas as promessas de
1:5; 2:3,4,14,20.

14

Sofonias
630-620 A.C.

Sofonias era contemporâneo de Jeremias e desempenhou seu ministério


durante o reinado de Josias. Era uma época de avivamento (2 Reis 22);
todavia, o cativeiro era iminente, e Sofonias assinala a situação moral que,
apesar do avivamento superficial sob Josias (Jeremias 2:11-13), tinha tornado
ele inevitável.
Há quatro divisões principais no livro de Sofonias: I. A invasão
próxima por Nabucodonosor, um tipo do dia do Senhor, 1:1-2:3. II. Predições
de juízo sobre certos povos, 2:4-15. III. A condição moral de Israel, razão
pela qual viria o cativeiro, 3:1-7. IV. O juízo das nações, seguido pela bênção
do reino sob o Messias, 3:8-20.

15

Ageu
520 A.C.

Ageu era um profeta do remanescente fiel que tinha sido restaurado


depois dos setenta anos do cativeiro. As circunstâncias sob as quais ele
cumpriu seu ministério são encontradas nos livros de Esdras e Neemias. A
tarefa de Ageu, Zacarias e Malaquias foi a de animar, repreender, e instruir ao
débil e dividido remanescente fiel da nação judaica. O tema de Ageu estava
relacionado com o templo não terminado, e sua missão era admoestar e
animar aos edificadores.
As divisões do livro são determinadas pela expressão “veio a palavra
do Senhor por intermédio do profeta Ageu”: I. O evento que motivou a
profecia, 1:1,2. II. O desagrado divino pela interrupção da obra, 1:3-15. III.
Os templos: o templo de Salomão, o templo do período da restauração, o
templo da era do reino, 2:1-9. IV. Impureza e castigo, 2:10-19. V. A vitória
final, 2:20-23 (ver Apocalipse 19:17-20; 14:19; Zacarias 14:1-3).

16

Zacarias
520 A.C.

Assim como Ageu, Zacarias era um profeta do remanescente fiel que


regressou para a Palestina após os setenta anos do cativeiro. Há muito
simbolismo no livro de Zacarias, mas as passagens difíceis que contêm
podem ser interpretadas com facilidade à luz de todo o conjunto da profecia
que está relacionada com os vários temas proféticos. Comparando-se com as
demais profecias do reino, as grandes passagens relacionadas ao Messias de
Zacarias se tornam perfeitamente claras. Nas predições desse profeta estão
apresentadas as duas vindas de Cristo (Zacarias 9:9 com Mateus 21:1-11 e
Zacarias 14:3,4). De modo mais amplo que Ageu e Malaquias, Zacarias
revela a mente divina referente aos poderes mundiais dos gentios que
rodeiam ao remanescente fiel que já foi restaurado na Palestina. Deus tem
dado para eles autoridade (Daniel 2:37-40) e lhes fará responsáveis diante
dele pela conduta que observarem. Como sempre, a base da prova a que serão
submetidos será a maneira em que tenham tratado a Israel (Zacarias 2:8).
O livro de Zacarias está dividido em três grandes seções: I. Visões
simbólicas à luz da esperança do Messias, 1:1-6:15. II. A missão desde a
Babilônia, 7,8. III. O Messias em sua rejeição e em seu reino, 9-14.

17

Malaquias
430-420 A.C.

Malaquias, “meu mensageiro”, o último dos profetas do remanescente


fiel que foi restaurado depois dos setenta anos do cativeiro, profetizou
provavelmente no tempo de confusão durante a ausência de Neemias
(Neemias 13:6). A mensagem de Malaquias revela o amor do Senhor, os
pecados dos sacerdotes e do povo, e o dia do Senhor. Assim como Zacarias,
Malaquias contempla as duas vindas do Messias e prediz a vinda de dois
precursores (Malaquias 3:1 e 4:5,6). Como um todo, Malaquias trata do juízo
moral de Deus contra o remanescente que tinha sido restaurado por sua graça
sob a direção de Esdras e Neemias. Ele tinha estabelecido seu templo entre
eles, mas a adoração que o povo oferecia era formal e falsa.
O livro tem quatro divisões naturais: I. O amor de Deus por Israel, 1:1-
5. II. Repreensão dos pecados dos sacerdotes, 1:6-2:9. III. Repreensão dos
pecados do povo, 2:10-3:18. IV. O dia do Senhor, 4:1-6.

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