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Universidade Federal de Santa Maria

Centro de Ciências Sociais e Humanas


Comunicação Social – Produção Editorial
Comunicação e Cultura – Marília Barcellos
Isadora Laís Reolon
07/12/2018

O conto “No Seu Pescoço” narra a história de uma mulher nigeriana de 22 anos que ganha
na “loteria do visto americano” e vai para os Estados Unidos para, supostamente,
melhorar de vida.

Lá, ela se candidata a vaga de operadora de caixa no posto de gasolina e entra em uma
faculdade comunitária. No entanto, depois de ser abusada por seu tio, ela se muda de
cidade e começa a trabalhar em um restaurante por um dólar a menos do que as outras
garçonetes.

Akunna não faz faculdade pois precisa pagar o aluguel, e na cidade não tem uma
faculdade comunitária. Ela não possui bolsas, sapatos ou joias. Grande parte do salário
vai para seus pais na Nigéria – mas só as notas que recebe de Juan, pois as gorjetas são
amassadas.

Ela é marginalizada. Estranha o país e seus costumes e estranha, principalmente, quando


conhece um moço e descobre que ele pode parar de estudar por dois anos simplesmente
por que quis, para “se encontrar.”

O moço - diferente das outras pessoas que acreditavam que ela fosse jamaicana –
perguntou-lhe sobre seu país e seu povo. Mostrou-se conhecedor de parte da cultura e não
mostrava superioridade sobre os povos que conhecia. Eles começam a se conhecer. Ela
soube que ficou confortável com ele quando começou partilhar suas histórias.

No entanto, começam as diferenças/conflitos entre eles – estas notadas apenas por ela.
Como quando ele mentiu para um dono de loja dizendo que era sul-africano branco mas
estava nos Estados Unidos há muito tempo ou quando ele não a assumiu como namorada
em um restaurante.
Durante todo o conto, pequenos “conflitos” são evidenciados ao leitor e a Akunna, no
entanto, passam despercebidos pelo seu namorado. Ele nunca a entende, nem poderia,
acredito eu. Afinal, experiências diferentes, repertórios culturais diferentes e, sobretudo,
a construção da identidade é diferente.

Ele busca ser alternativo à sociedade americana, ser livre de preconceitos e se mostrar um
grande explorador da cultura africana, mas mesmo assim, é preso a construção social que
teve ali. Seu modo de ver os africanos, seu modo de agir para com a namorada - muitas
vezes a vendo como alguém que precisa de ajuda - tudo isso soa-me igual aos americanos
que acreditam estar fazendo boas ações doando para ONG’s e sentindo-se superiores, a
diferença dele é estar encoberto por um invólucro de ilusão de igualdade e bondade.

Há muitas coisas que podem ser analisadas em um só conto, mas quero analisar o que
notei nos contos que li: a estereotipação. Ela não ocorre por parte da autora em relação
aos nigerianos ou ao povo negro como um todo, tampouco a autora estereotipa os
americanos. Estando em seu lugar de fala, ela conduz muito bem, acredito eu, as
narrativas, mostrando de forma crua a realidade do seu povo. A estereotipação a qual me
refiro ocorre de maneira muito sutil: ela provem da hegemonia americana.

Sabemos que os estereótipos criam e modificam realidades, e que sua difusão é uma
tentativa das classes dominantes de moldar a sociedade conforme seus preceitos.
Geralmente, os estereótipos são usados para distorcer e denegrir a imagem de algum povo
ou comunidade. No entanto, o que posso notar – talvez de maneira errônea – é que a mídia
hegemônica também cria uma distorção, um estereótipo positivo das classes dominantes
e o mostra às minorias.

No caso dos contos, o que ocorre é a idealização dos Estados Unidos para o povo
nigeriano. Grande parte da população sonha em “ganhar na loteria do visto americano”
pois, supostamente, o estilo de vida deles é o ideal. Mas é sabido que os imigrantes são
marginalizados, explorados e ridicularizados; passa longe de ser algo ideal para algum
ser humano.

Assim, o papel da mídia de mostrar a realidade do outro acaba por mostrar uma visão
sensacionalista e distorcida, que corrobora para a dominação das classes ditas superiores
e para a marginalização contínua de minorias. Entretanto, também cria a abertura para
que livros como “No Seu Pescoço” entrem em debate e, consequentemente, outras
realidades possam ser exploradas de maneira mais real e subversiva.

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