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Agulhamento
Técnicas Clássicas,
Tradicionais e
Modernas
Apresentação
Após realizarmos o diagnóstico e termos identificado as condições de plenitude ou de deficiência,
podemos traçar a estratégia de tratamento, que envolverá a seleção correta dos pontos de acupuntura mais
adequados para a ocasião.
Além disso, devemos identificar quais as técnicas de manipulação das agulhas são mais adequadas
para o caso, dependendo de ser um estado de plenitude ou de deficiência.
Agulhas
Nove agulhas clássicas
No ano de 1968, no condado de Mancheng, na província de Hebei,
uma tumba antiga da Dinastia Han Ocidental, enterrada no ano 113 A.C., foi
escavada. Dentre as relíquias encontradas, havia quatro agulhas de ouro e cinco
agulhas de prata.
No capítulo 7 do Ling Shu, podemos encontrar uma afirmação a
respeito da importância do conhecimento das funções das agulhas:
“Na importância que se concede à acupuntura, a função das agulhas é a
mais sutil. Cada uma das agulhas é adequada a um fim. São elas longas ou
curtas, grandes ou pequenas. Cada uma delas tem sua aplicação. Se o emprego
delas não for adaptado, a doença não pode ser modificada.”
Filiforme
A agulha que empregamos com maior freqüência para os tratamentos com acupuntura é uma
evolução da sétima agulha dentre as nove agulhas clássicas, a Hao Zhen. Este tipo de agulha é conhecido
amplamente por agulha filiforme ou agulha fina. Na China as agulhas recebem o nome de Zhen, enquanto
que no Japão o nome é Shin.
A agulha filiforme no decorrer de seu desenvolvimento já foi produzida em diversos tipos de
materiais diferentes como outro, prata, cobre, ferro, porém hoje em dia, a grande maioria das agulhas, na
atualidade, são produzidas em aço inoxidável.
Revisando
Agulhamento
Diversos são os procedimentos envolvidos com a adequada utilização das agulhas filiformes na
prática, desde o momento em que o praticante segura a agulha até o momento em que ele a retira do
paciente após todos os procedimentos.
O praticante deve estar atento a cada etapa e cada procedimento para que o melhor resultado
terapêutico possa ser alcançado.
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A inserção de agulha que se faz com a utilização de um condutor, mandril, é a mais popular na
atualidade, principalmente no ocidente, por sua facilidade de aplicação e de aprendizado.
O condutor para a inserção de agulhas é identificado em chinês, mesmo que não seja tão
empregado como no Japão ou no ocidente, pelo nome de jìnzhēnguǎn (进针管).
Este método foi desenvolvido no Japão, por volta de 1600 pelo renomado acupunturista Waichi
Sugiyama, que era deficiente visual, e tinha dificuldade em localizar o ponto com uma das mãos e ter que
utilizar esta mesma mão para posicionar a agulha de maneira adequada na outra mão e posteriormente
inserir a agulha.
Para uma boa administração da acupuntura, o praticante deve, antes de qualquer coisa, saber
exatamente como inserir as agulhas, porém a inserção somente não basta. O acupunturista deve dominar
os princípios de seleção da angulação, da profundidade e o direcionamento do agulhamento.
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Na prática da acupuntura a seleção correta e a precisa localização dos pontos de acupuntura para
tratamento é muito importante. No entanto, se estes forem devidamente selecionados e localizados e o
acupunturista inserir a agulha na direção errada, na profundidade errada ou na angulação errada, os efeitos
terapêuticos desejados não serão alcançados.
Angulação do agulhamento
Esta etapa do tratamento com acupuntura implica no conhecimento, por parte do acupunturista, do
ângulo formado pelo corpo da agulha após esta já ter sido penetrada na pele do paciente.
Direção do agulhamento
A grande maioria dos praticantes de acupuntura no Brasil tende a direcionar a ponta da agulha de
acordo com o fluxo de Qi que circula pelos Canais Principais (Jing Mai).
Além desta recomendação, a direção do agulhamento deve ser norteada de acordo com a região se
deseja que o Qi chegue. Ou seja, a ponta de agulha deve estar direcionada para o local ou área que se
deseja estimular, o foco do tratamento.
Alguns pontos de acupuntura exigem direcionamentos bem determinados para as agulhas para que
sejam evitadas possíveis lesões ou ainda que efeitos terapêuticos específicos possam ser obtidos.
Profundidade do agulhamento
Esta etapa do tratamento implica no acupunturista decidir, dentre diversos fatores, qual será a
profundidade mais indicada para a inserção da agulha, sendo que esta possui uma relação muito próxima
com a angulação da agulha, visto que quanto menor for o ângulo mais superficial será a inserção, e o
contrário também é verdadeiro.
Controle da Mente
治神 - zhìshén
O princípio de controle da Mente (Shen) faz referência ás técnicas de indução, promoção, do De
Qi através de duas condições básicas. A primeira delas relaciona-se com a concentração da Mente (Shen)
do acupunturista e a segunda delas relaciona-se com a regulagem das atividades mentais do paciente.
Deve ficar claro que aqui, o termo geral Mente (Shen) está em referência, principalmente, a um de
seus aspectos, o Yi, que normalmente é traduzido como intenção. O acupunturista deve utilizar o seu Yi
para penetrar a agulha, o acupunturista deve utilizar o seu Yi para manipular o Qi do paciente enquanto
manipula a agulha e assim sucessivamente, de modo que a máxima chinesa “以意引气 yǐ yì yǐn qì – Use
a Intenção para direcionar o Qi” seja buscada ao máximo.
A concentração da Mente (Shen) do acupunturista implica no fato de que este deve concentrar seu
Qi e prestar o máximo de atenção no paciente, observando as alterações e buscar a sensação do De Qi
debaixo da ponta da agulha.
No Capítulo Jiu Zhen Shi Er Yuan, primeiro capítulo do Ling Shu é possível encontrar a seguinte
passagem:
“Ao segurar a agulha, deve-se fazê-lo de maneira decidida, mirando o ponto de acupuntura
acuradamente e picar prontamente; a agulha não deve deslizar da direita para a esquerda. O
acupunturista deve concentrar sua Mente (Shen) na ponta da agulha, prestando atenção no paciente...”
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A regulagem das atividades mentais do paciente implica em fazer com que a Mente (Shen) do
paciente, que possivelmente se encontre dispersa, retorne e fazer com que os pensamentos ruins como
medo ou ansiedade durante o agulhamento sejam amenizados, eliminados.
Para alcançar a tranqüilidade do paciente é importante que se ofereça uma detalhada explicação
sobre o tratamento por acupuntura, para que este possa aliviar possíveis tensões devido ao medo de
agulha, além de aumentar a confiança no profissional e no tratamento a ser realizado.
O acupunturista pode ainda solicitar que o paciente foque sua atenção no local que está sendo
agulhado para que possa descrever as sensações percebidas na região, ajustar as manipulações e ampliar
os efeitos terapêuticos.
Sensação do De Qi
得气 - déqì
O De Qi, traduzido para o português como chegada do Qi ou obtenção do Qi, é de fundamental
importância para a prática bem sucedida da acupuntura.
O De Qi é percebido após a inserção e manipulação da agulha no local correto do ponto de
acupuntura e na profundidade adequada, onde os pacientes e os praticantes mais experientes relatam
sensações particulares.
A importância do De Qi pode ser evidenciada através da seguinte passagem do Capítulo Jiu Zhen
Shi Er Yuan, primeiro capítulo do Ling Shu:
“Ao fazer a acupuntura, se não foi conseguido o De Qi não se deve inquietar quanto ao número das
manipulações. Após conseguir o De Qi pela acupuntura pode-se então fazer a retirada da agulha. Não é
necessário reiterar a puntura ... A chegada da energia atesta a eficiência da acupuntura. Revela-a como
o vento escorraça as nuvens. Permite pela sua clareza ver imediatamente o azul do céu. Encerra a regra
fundamental da acupuntura”.
A experiência clínica indica que a sensação do De Qi com características diferentes tem diferentes
efeitos terapêuticos em doenças diferentes. Para o paciente a sensação do De Qi pode se apresentar de
maneiras diferentes, com destaque para sensação de peso, adormecimento, distensão, dor, sensação de
choque elétrico, sensação de onda ou bolha de ar, frio ou calor.
Já para o acupunturista, a sensação do De Qi pode ser percebida como uma sensação de aperto, em
profundidade, ou por uma sensação de tensão ao redor da agulha ou por debaixo desta. O ideal é que o
acupunturista mais experiente consiga identificar esta sensação sob a agulha antes mesmo que o paciente
descreva a sensação.
Deve ficar claro que o De Qi não é somente sentido no local do agulhamento mas pode e ver ser
sentido no local afetado pela patologia quando empregados pontos denominados distantes, sendo que
estas sensações estão relacionadas com a propagação da sensação do De Qi e a eficácia do tratamento,
sendo que esta circulação da sensação é considerada como um dos elementos essenciais e mais
importantes para o tratamento.
Em diversos estudos realizados com relação ao De Qi foi constatado que a intensidade das
sensações do De Qi aumentam no decorrer das sessões de acupuntura. Várias outras foram as
constatações destes estudos como que a obtenção do De Qi é relativamente bem mais fácil nos pontos
dolorosos, identificados pelos chineses como pontos A Shi (阿是穴 – āshìxué), nos pontos próximos das
grandes articulações (joelho, cotovelo...), pontos de intersecção entre os Canais Principais, a sensação do
De Qi pode durar por longos períodos indo de horas até mesmo alguns dias após a sessão de tratamento.
Manipulações básicas
Na prática da acupuntura o domínio das técnicas de manipulação das agulhas é de grande
importância para os resultados terapêuticos a serem alcançados. De maneira geral as mais diversas
manipulações de agulhas têm por finalidade a obtenção, direcionamento, aumento ou melhora da
sensação do De Qi.
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Manipulações suplementares
Pré e pós agulhamento
Estas manipulações suplementares são aquelas que deveriam ser realizadas antes da realização da
inserção da agulha em si e após o agulhamento, com o objetivo principal de melhorar a performance gral,
de todo o processo, do agulhamento, assim como permitir que possam ser obtidos melhores efeitos
terapêuticos.
Estas manipulações não visam estimular a agulha em si, mas sim o corpo do paciente.
1- Procurar com os dedos (揣法 chuǎifǎ)
Esta manipulação suplementar é um importantíssimo pré-requisito para a realização do
agulhamento, visto que implica na melhor localização, busca, do ponto de acupuntura. Podendo ser
subdivido em busca com a unha, busca por pressão, busca garfando, buscar com rotações, buscar por
balanços.
2- Seguir (循法 xúnfǎ)
Os dedos são empregados para palpar, sentir, seguir o trajeto do Canal onde a agulha será inserida,
promovendo a circulação do Qi. Esta manipulação pode ser divida em duas outras, o seguir pressionando
e o seguir com o dedo.
Manipulações suplementares
Na agulha
As manipulações suplementares são aquelas que complementam os estímulos gerados pelas
manipulações básicas, tendo por objetivo principal a promoção da obtenção da sensação do De Qi, assim
como a o reforço desta sensação.
1- Penetração (进法 jìnfǎ)
Esta manipulação implica no aprofundamento da agulha desde uma região mais superficial até
uma região mais profunda.
2- Rotação (捻法 niǎnfǎ)
Após a agulha ser inserida, no ponto de acupuntura, o praticante executa movimentos repetidos de
rotação da agulha para promover e fortalecer o De Qi.
3- Piparote (弹法 tánfǎ)
Esta manipulação implica no estímulo da agulha através de leves batidas, piparotes, enquanto esta
permanece no paciente.
4- Raspar (刮法 guāfǎ)
Esta manipulação implica na raspagem do cabo da agulha com o polegar ou dedo indicador para
promover o De Qi.
5- Balançar (摇法 yáofǎ)
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Esta manipulação implica na realização de movimentos circulares pequenos com a agulha, como
se a balançasse para os lados no momento da retirada da agulha.
6- Inclinar como um arco (努法 nǔfǎ)
Esta manipulação implica em dobrar a agulha de modo que toda a sua estrutura apresente-se com a
forma de um arco.
Tonificação e Dispersão
Manipulações Gerais
Após a obtenção da sensação do De Qi, através da realização das manipulações básicas e
suplementares, o acupunturista deve aplicar uma ou mais das manipulações de tonificação ou de dispersão
de acordo com a situação de deficiência ou plenitude do paciente, respectivamente.
Deve ficar claro, no entanto, que a prática da tonificação e da dispersão não envolve somente as
manipulações em si, mas todo o processo do agulhamento, desde as técnicas envolvidas na pegada e
inserção da agulha até a sua retirada do corpo do paciente.
O objetivo do acupunturista ao realizar manipulações de tonificação é um fortalecimento do Qi do
corpo do paciente, mais especificamente o Qi Verdadeiro (Zhen Qi, 真气 zhēnqì) ou Qi Correto (Zheng
Qi, 正气 zhèngqì), associado com a capacidade de resistência do corpo às agressões.
Já o objetivo do acupunturista ao realizar manipulações de dispersão é o enfraquecimento ou
eliminação do mais diversos agentes patogênicos, sob o termo geral de Qi Patogênico Maligno ou
Perverso ou Prejudicial (Xie Qi, 邪气 xiéqì).
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Agulhamentos Clássicos
O Ling Shu apresenta basicamente três grandes grupos de variedades de agulhamentos:
• nove técnicas de agulhamentos, relacionadas com nove tipos de enfermidades ou alterações
diferentes;
• doze técnicas de agulhamentos, relacionadas com as doze divisões do corpo, os doze Canais
Principais;
• cinco técnicas de agulhamentos, relacionadas com as profundidades diferentes do agulhamento de
acordo com a patologia e com o Órgão (Zang), envolvido na enfermidade presente.
Agulhamentos Clássicos
Cinco Agulhamentos
1. Ban Ci, puntura superficial ou meia puntura;
2. Bao Wen Ci, puntura leoparda ou vascular;
3. Guan Ci, puntura das articulações;
4. Hegu Ci, puntura do Hegu ou irradiada;
5. Shu Ci, puntura do ponto Shu ou profunda.
Ban Ci, puntura superficial ou meia puntura, técnica de puntura que trabalha com inserção bastante
superficial e retirada rápida da agulha, bem no nível da pele, técnica relacionada com as patologias
associadas ao Pulmão, trata a energia mais superficial do corpo, expulsando os agentes patogênicos
localizados neste nível, sendo empregada no tratamento de febre decorrente de fatores patogênicos
exógenos, tosse e asma;
Bao Wen Ci, puntura leoparda ou vascular, técnica de puntura que trabalha com diversas inserções
subseqüentes com a finalidade de perfurar os Vasos Sangüíneos em volta da área afetada, evocando
manchas na pele similares àquelas dos leopardos, método empregado para tratar dores e inchaços, técnica
relacionada com as patologias associadas ao Coração, pois este está em relação direta com os Vasos
Sangüíneos;
Guan Ci, puntura das articulações, técnica de puntura que trabalha com inserção profunda e rápida na
região ao redor das articulações das extremidades dos membros superiores e dos membros inferiores,
principalmente para tratar reumatismo nos tendões, porém deve-se evitar os sangramentos, insere-se a
agulha perpendicularmente em seguida obliquamente para frente e para trás, técnica relacionada com as
patologias do Fígado, pois este está associado com os Tendões;
Hegu Ci, puntura do Hegu ou irradiada, técnica de puntura que trabalha com inserção oblíqua e profunda
na região intramuscular, em seguida retira-se a agulha e insere novamente dirigindo a ponta para um lado
e depois para o outro lado, formando uma representação do formato de uma pé de galinha, com a
finalidade de tratar problemas musculares, como dores e contraturas, técnica relacionada com o Baço,
pois este está associado com os Músculos;
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Shu Ci, puntura do ponto Shu ou profunda, técnica de puntura que trabalha com uma inserção
perpendicular rápida seguida de uma retirara também rápida, porém bastante profunda, na região dos
ossos, com a finalidade de tratar patologias relacionadas com dores ósseas, por exemplo, técnica
relacionada com as patologias do Rim, pois este está associado com os Ossos.
Transfixação
Tou Ci Fa
透刺法
A técnica onde o acupunturista estimula mais um ponto ao mesmo tempo e com uma única agulha
é conhecida como transfixação, Tou Ci Fa (透刺法), sendo que Feng Runshen, renomado praticante do
norte da China, cita em uma obra já publicada em português que esta técnica também pode ser
identificada pelos seguintes nomes: agulhamento de atravessar o mar; agulhamento de atravessar a viga;
agulhamento de atravessar o tórax; método grosso.
Para que o acupunturista consiga extrair o máximo de efeitos terapêuticos da técnica de
transfixação, este deve conhecer bem a técnica, conhecer muito bem as funções dos pontos de acupuntura
a serem estimulados, isoladamente e quando estimulados em conjunto, além de ter destreza suficiente
para a inserção e manipulação das agulhas.
As recomendações da literatura sugerem a utilização de agulhas com um comprimento médio
maior que 70mm, sendo que o mínimo sugerido seria de 50mm, além disso devemos estar atento para o
diâmetro das mesmas, pois, se por um lado as agulhas finas podem vir a diminuir a dor da inserção em
relação as agulhas mais grossas, por outro lado as agulhas finas tendem a entortar com mais facilidade, o
que pode atrapalhar muito no momento de seus aprofundamentos.
O praticante deve confiar na força de sua mão direita, porém é a mão esquerda que possui um
papel de maior importância na inserção e aprofundamento das agulhas na técnica da transfixação.
Já no capítulo 78 do Nan Jing, importantíssimo texto clássico da Medicina Tradicional Chinesa,
podemos encontrar uma passagem demonstrando a grande importância da mão esquerda nos
procedimentos da acupuntura:
“Aqueles que conhecem a acupuntura (agulhamento) confiam na mão esquerda. Aqueles que não
conhecem a acupuntura (agulhamento) confiam na mão direita.”
O praticante deve conhecer muito bem a anatomia superficial e profunda da área onde a agulha
será inserida e também de todo o trajeto que a agulha percorrerá, visto que em alguns casos a agulha
passa entre ossos, por exemplo.
Um outro fator muito importante para o sucesso do tratamento mediante a aplicação das técnicas
de transfixação é a postura do paciente. Postura esta que deve ser a mais relaxada e confortável possível
para o paciente e a mais adequada possível para a passagem das agulhas.
Após o acupunturista ter escolhido a técnica de transfixação para o tratamento do paciente, após
ter selecionado os pontos de acupuntura ou áreas que receberão os estímulos, após ter preparado os
materiais a serem empregados, após ter sido determinada a melhor postura a ser adotada pelo paciente e
após a inserção, o praticante deve proceder com as devidas manipulações para obtenção do De Qi e
tonificação ou dispersão, dependendo de cada caso em especial, para a posterior penetração em
transfixação da agulha.
A transfixação em si pode ser, didaticamente, classificada de algumas maneiras, como podemos
observar a seguir, segundo as indicações e nomenclaturas sugeridas pelo professor Feng Runshen, do
Instituto de Medicina Tradicional Chinesa da Mongólia, e pelo Dr. Zhang Dengbu, da Universidade de
Medicina Tradicional Chinesa de Shandong:
Direção da agulha;
Angulação da agulha;
Canais.
Direção da agulha:
Unidirecional: o acupunturista somente deve realizar a inserção da agulha em um ponto em
direção de outro, sem impossibilitada ou não recomendada a inserção na direção contrária;
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Angulação da agulha:
Horizontal: deve-se inserir a agulha de maneira bastante superficial, desde o ponto de inserção até
o ponto de chegada, formando um ângulo de aproximadamente 15° com a pele;
Oblíqua: deve-se inserir a agulha com uma angulação de aproximadamente 45°, sendo que após a
inserção da agulha o praticante pode, deve, re-adequar a sua angulação para que o ponto de chegada seja
atingido de maneira satisfatória;
Perpendicular: deve-se inserir a agulha de modo a formar um ângulo de 90° com o pele do ponto
se inserção, sendo necessário um bom conhecimento anatômico, visto que neste modo de inserção a
agulha tende a penetrar mais profundamente.
Canais:
Mesmo Canal: Neste tipo de transfixação o acupunturista seleciona tanto o ponto de inserção
como o ponto de chegada na trajetória do mesmo Canal Principal (Jing Mai), sendo que para tanto,
normalmente, o praticante se utiliza de inserção do tipo horizontal da agulha;
Canais Diferentes: Nestes tipos de transfixação o acupunturista seleciona pontos de inserção e de
chegada que não estão localizados no mesmo Canal Principal (Jing Mai), sendo que aqui o acupunturista
tem a opção de selecionar pontos de três maneiras distintas.
- Relação de Interior-Exterior: Aqui o acupunturista seleciona os pontos de inserção e de chegada em
Canais Principais (Jing Mai) diferentes e que possuem uma relação direta de Yin e Yang, ou seja,
possuem uma relação pareada de Interior e Exterior;
- Sem relação Interior-Exterior: Aqui o acupunturista seleciona os pontos de inserção e de chegada em
Canais Principais (Jing Mai) diferentes e que possuem uma relação indireta de Yin e Yang, ou seja, não
possuem uma relação pareada de Interior e Exterior, porém são de naturezas opostas;
- Adjacentes, de mesma natureza Yin ou Yang: Aqui o acupunturista seleciona os pontos de inserção e de
chegada em Canais Principais (Jing Mai) diferentes e que, no entanto, possuem a mesma natureza Yin ou
Yang;
Agulha de Fogo
Huo Zhen
A técnica de aplicação de agulha de fogo já fora primeiramente descrita no Ling Shu, mais
especificamente em seu capítulo 7, que trata sobre os métodos clássicos de agulhamento. Neste capítulo
podemos encontrar a seguinte citação:
“O nono tipo (de agulhamento) é chamado de Cui Ci, para tratar a Síndrome Bi com a agulha
esquentada ao rubro no fogo”.
Os autores contemporâneos sugerem que as agulhas a serem empregadas para o Huo Zhen devem
ter um comprimento médio de 2cun, sendo mais grossas que as tradicionais agulhas filiformes, com um
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diâmetro variando entre 0,5 e 1,2mm, sendo as mais grossas e mais longas indicadas para estímulos mais
profundos, enquanto que as mais finas e menores são indicadas para estímulos mais superficiais.
As agulhas descritas pelo Dr. Shi possuem cabos confeccionados em madeira com cerca de 5cm
de comprimento, com exceção apenas da Agulha de Três Cabeças:
Além das agulhas alguns outros utensílios são necessários para a boa prática da técnica Huo Zhen.
Dentre eles, destacam-se:
• Lamparina: empregada para produzir uma chama onde a agulha de fogo deve ser aquecida até
ficar com a ponta bem vermelha, ou rosa ou branca, dependendo do material. (pode ser substituído
por uma vela ou alguma outra fonte de chama, no caso de ausência da lamparina);
• Algodão: empregado logo após a retirada da agulha para estancar possíveis sangramentos
ocasionados pela agulha quente;
• Pronto curativo adesivo: empregado após a retirada da agulha sobre o local onde esta estava
inserida.
Ainda com relação ao aquecimento da agulha, gostaria de acrescentar que no grande, fundamental
e importantíssimo texto clássico da Dinastia Ming (1368 – 1644) sobre acupuntura, conhecido por Zhen
Jiu Da Cheng (Grande Compêndio de Acupuntura e Moxabustão), escrito, reunido, por Yang Ji Zhou em
1601 já apresentava algumas recomendações sobre a forma mais clássica de utilização da técnica de Huo
Zhen:
“Quando queimar a agulha, devemos torná-la vermelho vivo. Desta forma, os efeitos curativos podem
ser obtidos. Se a agulha não estiver vermelho vivo após o aquecimento, ela não produz qualquer efeito
sobre as doenças, mas machuca os pacientes.”
Com relação à inserção da agulha, já quente, o acupunturista deve realizar um movimento rápido e
preciso, a não ser em um caso específico a ser detalhado a seguir, a inserção pode ser superficial ou
profunda, de acordo com a profundidade da doença, as condições do paciente, a idade do paciente e o
Canal Principal (Jing Mai) onde a agulha é inserida.
Com relação à aplicação em si da técnica, os praticantes chineses costumam dividir os métodos de
estímulo com Huo Zhen em três diferentes tipos um para cada situação e com suas próprias indicações, o
agulhamento profundo, o agulhamento superficial e o agulhamento lento em cauterização.
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