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LÓGICA
AULA I
§ 1. Apresentação do Curso
1. Objetivo. – O objetivo deste curso é apresentar lógica clássica, como desenvolvida por
Aristóteles e pela tradição escolástica, enquanto técnica. Isso significa duas coisas: (i) não
tratarei da lógica moderna, e (ii) tudo o que for ensinado aqui deve ser avaliado por sua
utilidade. Não tratarei da lógica moderna, porque este curso se insere no plano da Confraria,
que passa pelo ensino das artes liberais, e a lógica que compõe o Trivium é a lógica
aristotélica. Digo que apresentarei a lógica como técnica e que, por essa razão, tudo o que for
ensinado aqui deve ser avaliado por sua utilidade, porque, se o nosso fim é o ensino das artes
liberais, iremos muito mal se, em vez de ensinarmos uma arte, ou seja, um conhecimento que
nos serve para a produção de alguma coisa, ensinarmos apenas um belo sistema de conceitos.
de verbalizar a própria experiência. O fim da gramática é, então, que a nossa alma seja como
um espelho cristalino.
Se essa arte é, por um lado, fundamental, por outro, é insuficiente. Ainda que um leitor
viva imaginativamente com plenitude o que lê, se não conseguir integrar em sua alma suas
várias leituras, pecará por sua volubilidade. Esta, pois, é a função da lógica: integrar as
contradições em uma compreensão superior. E, como o filósofo é aquele que, diante da
perplexidade ocasionada pela consciência de uma contradição, busca superá-la, a lógica é o
instrumento da filosofia.
Enfim, após ter integrado as experiências contraditórias em uma compreensão superior,
devemos buscar actuar essa verdade. A esse fim serve a retórica, que diz respeito ao discurso
enquanto ação humana.
§ 2. O Órganon de Aristóteles
Finalmente, para que eu ligue essas representações pela sua comparação com a
realidade, é necessário que eu tenha essas representações. A formação interior dessas
representações é a chamada simples apreensão. Embora sejam operações distintas, a simples
apreensão e o juízo se dão de modo muito concomitante; a simples apreensão já contém juízos
virtuais, porque os conceitos que formo têm um supósito, um sentido, uma referência a coisas.
A simples apreensão é semelhante à visão: enquanto dormimos, não vemos; no momento em
que acordamos, nossa visão não é nítida, é confusa: as várias coisas que estão em nosso
campo de visão aparecem como que fundidas uma com as outras. Gradualmente, as coisas
vão se distinguindo, até que cada uma fique com sua figura bem delimitada. Do mesmo modo,
enquanto nosso intelecto está adormecido, não distinguimos os vários lógoi, as formas
inteligíveis das coisas. Quando despertamos, e damos atenção intelectual às coisas, aos
poucos seus lógoi vão se distinguindo. O esforço da simples apreensão é, de certo modo, mais
passivo, e se evidencia no esforço por encontrar os nomes próprios dos fenômenos.
objeto uma forma invisível, ainda que se apresente em várias imagens visíveis como uma
proporção interna.
Tanto os atos da imaginação como os do intelecto são atos interiores, isto é, não tem
como objeto algo que está diante de nós fisicamente. Porém, os atos da imaginação, ainda
assim, têm como objeto algo visível, algo que eu poderia ver. A imaginação é, portanto, um
sentido interno. Já o intelecto não é um sentido, mas é uma faculdade humana diferente, com
um objeto invisível.
11. Resumo:
I. A lógica, ainda que teorética, é uma técnica, e, portanto, deve ser avaliada por sua utilidade;
II. A função da lógica entre as artes do Trivium, a partir da qual sua utilidade deve ser aferida,
é a de integrar dialeticamente a consciência do leitor;
III. O Órganon é o conjunto dos tratados de Aristóteles sobre a lógica, chamados orgânicos,
ou instrumentais, porque a lógica é o órgão, ou instrumento, da filosofia.
IV. É composto por seis ou oito livros: o livro das categorias, o de interpretatione, os
primeiros analíticos, os analíticos posteriores, os tópicos, o das refutações sofísticas, o sobre a
retórica e a Arte Poética.
V. Os livros do Órganon são tradicionalmente divididos segundo as operações da razão e os
graus de certeza.
VI. As operações da razão são três: a simples apreensão, o juízo e o raciocínio, ou discurso.
Fenomenologicamente, podemos dizemos que o raciocínio é o ato interior que surge do
esforço de encontrar as razões de algo ou extrair suas conseqüências; o juízo é o ato interior
que surge do esforço de comparação entre uma representação e a realidade; a simples
apreensão é o ato interior mais passivo, que surge de uma aberta à racionalidade das coisas e
se evidencia no esforço por encontrar o nome próprio de um fenômeno.
VII. As operações da razão se distinguem das da imaginação. As operações da imaginação
também são atos interiores, mas tem como objeto algo sensível. O intelecto tem como objeto
uma proporção invisível que pode ser comum a várias coisas visíveis.
VIII. O discurso possui um aspecto formal, relativo à validade de sua inferência, e um aspecto
material, que diz respeito à sua certeza.
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CONFRARIA DE ARTES LIBERAIS
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