Você está na página 1de 63

DAVID HUME

1012: XXX XXX RESUMO


de
UM TRATADO
DA NATUREZA HUMANA

edição bilíngüe

Direittis da Tradução: Rachel Gutiérrez


José Sotero Caio
Revisão da Tradução: Carmen Serralta Hurtado

Desenho da capa: retrato de David Hume.

ICKX:~"Mr'cUr Tradução:
Rachel Gutiérrez e José Sotero Caio

EDITORA PARAULA
.
40

Apresentamos ao leitor o texto e a


tradução de um escrito singular do filó-
sofo David Hume (1711-1776), publi-
cado em 1740 com o título An Abstract
of A Treatise of Human Nature, ou seja,
Resumo de um Tratado da Natureza Hu-
mana. Sua singularidade consiste em ter
sido publicado anonimamente pelo filó-
sofo com o objetivo de chamar a atenção
do público para a importância e origina-
lidade do Tratado da Natureza Humana,
o qual, segundo a apreciação do próprio
Hume, teria vindo à luz do mundo como
um natimorto. Sumariando-o cuidadosa-
mente neste escrito, julgava Hume que
pudesse torná-lo um tanto mais inteli-
gível aos seus leitores.
O Tratado, com efeito, tinha sido pu- Humana como uma novíssima visão filo-
blicado pouco antes: eni 1739 os dois sófica da totalidade do mundo. Essa in-
primeiros livros: Livro I — Sobre o enten- tuição proporcionou-lhe efetivamente a
dimento e Livro II — Sobre as Paixões; em idéia básica do Tratado da Natureza Hu-
1740, o Livro III — Sobre a Moral. Não mana, sua principal obra, seu trabalho
ganhou, conforme almejara seu autor, mais profundo e mais meditado.
a imediata simpatia do público. De tal O fato de ter sido o Tratado pratica-
sorte que, desiludido, resolveu fazer-lhe mente ignorado pelos seus contemporâ-
este sumário, atribuindo o desinteresse neos, levou Hume a refundi-lo sucessiva-
"à extensão e abstração do argumento". mente. Em 1748 apareceram os Ensaios
sobre o entendimento humano. Trata-se
1. Hume e sua obra da reconstrução do Livro I do Tratado,
cujo título definitivo veio a ser, a partir
Nasceu David Hume em Edimburgo de 1758, Investigações sobre o entendi-
(Escócia) de uma família da pequena no- mento humano. Em 1751 vieram à luz
breza fundiária, em 26 de abril de 1711. as Investigações sobre os princípios da
Muito cedo apaixonou-se pelo estudo Moral, ou seja, uma nova redação do Li-
dos clássicos e da filosofia. Com 18 anos vro III do Tratado. Considerada pelo pró-
de idade, surgiu-lhe a intuição de um prio autor como a melhor de suas obras,
novo panorama de pensamento — a new seu mérito foi em seguida obscurecido
scene of thought: a Ciência da Natureza pelo valor que a posteridade atribuiu às

viii
Investigações sobre o entendimento huma- timos foi o célebre Adam Smith, antigo
no. Entre 1752 e 1757 publicou outras professor de Lógica e Filosofia Moral na
obras, entre as quais se destacaram as Universidade de Glasgow e autor do fa-
duas Histórias da Inglaterra. Em 1763 moso Inquérito sobre a Natureza e as Cau-
foi nomeado secretário da Embaixada da sas da Riqueza das Nações (1776). Desde
Inglaterra em Paris, entrando em boas o mês de março de 1775, a saúde de
relações com Diderot, D'Alembert e com Hume preocupava muito seus amigos.
outros enciclopedistas. Em 1776 regres- Logo se diagnosticou um tumor no fí-
sou à Inglaterra acompanhado por Rous- gado que rapidamente se agravou. Fa-
seau, oferecendo a este sua proteção. leceu em Edimburgo o "célebre David
Não obstante, a grave mania de persegui- Hume" (como dizia Kant) no dia 27 de
ção que dominava Jean-Jacques fez com agosto de 1776.
que este o acusasse de encabeçar uma
2. A Ciência da Natureza Hu-
conspiração para arruiná-lo. O caso pro-
mana como o novo cenário do
duziu muito rumor, levando Hume a pensamento: a propósito de
expor publicamente sua posição (Cf. Rume e Kant.
Letters, II, 7-5; 13-17, 27-36, etc.).
Em julho de 1769, regressa a Edim- Acrescentando à designação do seu
burgo para retomar sua vida de estudos, Tratado da Natureza Humana o sub-
rodeado pela alegria de suas relações de título: "uma tentativa de introduzir o
amizade. Um dos seus amigos mais ín- método experimental de raciocinar nos
assuntos morais", indicou claramente metafísica tradicional desde sua criação
Hume quais os traços essenciais para ele entre os antigos gregos. Ninguém melhor
do novo cenário do pensamento. Assim do que Kant, para quem "a lembrança
como Bacon, Galileu e Newton, à base de David Hume foi justamente o que há
da observação e do raciocínio experi- muitos anos — diz ele — interrompeu
mental, haviam construído uma sólida pela primeira vez meu sono dogmático",
perspectiva da natureza física, tratava- resumiu o verdadeiro problema colo-
se agora de aplicar o mesmo método cado pelo filósofo escocês:
também à natureza humana. Hume não
se vê sozinho neste empreendimento. Hume tomou como ponto de par-
Cita, entre outros, Locke, Shaftesbury, tida um único mas importante con-
Mandeville, Hutcheson e Butler como os ceito da metafísica, ou seja, o da
mais recentes instauradores de um novo conexão entre causa e efeito (e, por
estilo de filosofar no Reino Unido. Parece conseguinte, os conceitos daí deri-
então que seu projeto consiste em se vados, de força e de ação, etc.); de-
tornar o Newton da Ciência da Natureza safiou a razão, que pretende ter ge-
Humana. Entretanto, esse novo cenário rado este conceito em seu seio, a
do pensamento veio a significar, de fato, responder-lhe precisamente com
o desenrolar de um encarniçado campo que direito ela pensa que uma coisa
de batalha no qual se levou a cabo a possa ter sido criada de tal maneira
maior ofensiva jamais pensada contra a que, uma vez posta, possa-se depre-

xii
ender daí que outra coisa qualquer mar: não há em parte alguma e
também deva ser posta; pois isso é nem pode haver uma metafísica.
o que afirma o conceito de causa. (Prolegômenos)
Demonstrou de maneira irrefutável
ser totalmente impossível a razão Todo o esforço do projeto crítico de
pensar esta con~apriori e a par- Kant consistiu, como se sabe, em tentar
tir de conceitos, pois ela encerra a solucionar a questão levantada por Hu-
necessidade; não é, pois, possível me. Compreender profunda e exausti-
conceber que, pelo fato de uma coi- vamente a natureza da razão pura —
sa ser, outra coisa deva ser neces- tal foi o programa que Kant se propôs
sariamente e como seja possível in- em suas obras mais celebradas, a saber:
troduzir a priori o conceito de tal Crítica da Razão Pura (1781), Crítica da
conexão... A partir daí concluiu que Razão Prática (1788) e Crítica da Facul-
a razão não tem a faculdade de pen- dade do Juízo (1790). Importa muito ob-
sar em. tais conexões, mesmo de um servar que Hume jamais colocara em dú-
modo geral, porque seus conceitos vida a utilidade e mesmo a indispensa-
não passariam então de simples fic- bilidade do conceito de causa para todo
ções e todos os seus pretensos co- conhecimento da natureza em geral. Sua
nhecimentos a priori não seriam questão se concentrava precisamente na
mais do que experiências comuns seguinte direção: Será que o conceito de
mal rotuladas, o que equivale a afir- causa (substância, força, ação, etc.) tem

XV
xiv
efetivamente uma verdade intrínseca, co muito explícito. Kant, por sua vez, ten-
independente de toda experiência (pas- tou deslocar o problema para um hori-
sada, presente ou possível)? Será que, zonte decididamente metafísico ou qua-
por conseguinte, tal conceito teria uma se-metafísico (transcendental). Já de um
aplicabilidade mais ampla do que a de outro ângulo, os filósofos ingleses, quer
se limitar aos objetos da experiência? Po- antecessores, quer contemporâneos de
deria — por outras palavras — ser apli- Hume, manifestaram juntamente com ele
cado legitimamente ao campo do pensa- a lúcida consciência de que a via que pro-
mento puro, ou seja, aos temas tratados curavam era um método completamente
pela metafísica, tais como Deus e a alma? original. Original, não somente em rela-
Ora, parece que a questão de Hume ção ao espírito filosófico do resto da Eu-
ainda hoje não se acha completamente ropa de então, mas também em relação
resolvida, não obstante o esforço genial à maneira como os filósofos da Antigüi-
de Kant para enfrentá-la. Ainda hoje,
dade haviam tratado dos assuntos hu-
com efeito, não parece claro em que ce-
manos. Daí porque — sem dar ouvidos
nário real deve ser colocado o problema apressados à censura tradicional que
epistemológico, ou seja, o problema do descarta Hume como um cético inconse-
valor de verdade dos conhecimentos hu-
qüente — a questão posta por ele precisa
manos. Não há dúvida que a perspectiva ser, mais urna vez, reexaminada.
sistemática de Hume se colocava clara- É evidente que tal exame não cabe
mente dentro de um quadro antropológi- dentro dos limites desta nossa apresen-

xvi
tação. O certo é que o ceticismo de Hume devessem estar sempre em conexão com
— tão proclamado e censurado, mas nem ela para produzir conhecimentos confiá-
sempre bem aquilatado e compreendido veis. Eis porque, para Hume, era óbvia e
— se situava tão somente no plano da viável uma ciência antropológica, mes-
metafísica tradicional. Uma vez que ele mo que não fosse possível chegar à cer-
não acreditava que se pudesse navegar teza de seus últimos princípios de acordo
por águas claras entre o Cila de Berkeley com os tradicionais ensinamentos da
e o Caribde de Locke, também não pre- metafísica.
tendeu nunca justificar uma ciência hu- Com incontestável coerência, portan-
mana que almejasse ir além da expe- to, concebe Hume o cenário apropriado
riência. Sendo assim, ao passo que Hume à crítica do alcance e limites dos conheci-
ensinava que todos os nossos conceitos mentos humanos num sistema científico
derivam em última análise da experiên- de natureza antropológico-filosófica. Em
cia (externa ou interna) — seguindo contraste com Kant, jamais pensou que
nisto, aliás, o famoso adágio aristotélico- fosse preciso apresentá-lo como dotado
tomista: "nada se acha na inteligência de prerrogativas racionais puras, isto é,
sem que antes se achasse nos sentidos" apoiado numa síntese apriorística. Para
(nihil est in intellectu quod prius non ele, com efeito, a ordem puramente lógi-
fuerit in sensu), tentou Kant, por seu la- ca não podia ser o horizonte adequado
do, mostrar que eles seriam de fato inde- para tratar do problema epistemológico.
pendentes da experiência, muito embora Sob este ponto de vista, assinala sua ple-

xviii
nossa vida e nossa ação inteiramente
na adesão às críticas de Leibniz contra dependem. Padrões que são também os
as estreitezas dos lógicos de seu tempo, nossos guias na maior parte de nossas
conforme se lê no resumo aqui apresen- especulações filosóficas.
tado. E mais: manifesta porquê, a seu Percebe-se assim o espírito segundo
juízo, a ordem lógica e criteriológica per- o qual se desenvolveu a epistemologia
tence a um conjunto de fatos humanos humeana. Talvez se deva hoje retomar,
mais vasto (como as paixões, as emoções, depois de Kant, a perspectiva de Hume,
os sentimentos, os desejos, etc.) fora do aprofundando-a em novas e fecundas di-
qual a ordem dos conceitos nem pode reções. Uma delas conduz, por exemplo,
ser arrancada completamente, nem, por ao caminho de uma antropologia das
conseguinte, exatamente compreendida. profundezas sugerida pelas pesquisas
Deve-se dizer que as aludidas censu- psicanalíticas interpretadas e compreen-
ras de Leibniz contra a mentalidade es- didas filosoficamente. Contudo, este é
treita dos velhos lógicos de seu tempo um projeto a ser examinado noutra opor-
conservam ainda hoje todo o seu alcan- tunidade.
ce, desde que se trate de criticar certas
visões grosseiramente dogmáticas ou
cientificistas de muitos lógicos e episte- José Sotero Caio
mólogos contemporâneos. Pois, em ge- Rio de Janeiro, setembro de 1994.
ral, é de probabilidades e outros padrões
de evidência — lembra-nos Hume — que
An Abstract of
a book lately published, entituled,
A Treatise of Human Nature, &c.

Resumo de
um livro recentemente publicado,
intitulado
Um Tratado da Natureza Humana, etc.
0.0 00 0.00 41*
PREFACE PREFÁCIO

y expectations in this small per- inha expectativa em relação a este


formance may seem somewhat M pequeno empreendimento pode
extraordinary, when I declare that my parecer uni tanto extraordinária, ao decla-
intentions are to render a larger work rar que minha intenção é tornar uma obra
more intelligible to ordincuy capacities, extensa - mais inteligível, para a capaci-
by abridging it. 'Tis however certain, that dade do leitor comum, mediante seu re-
those who are not accustomed to abstract sumo. É, contudo, certo que as pessoas
reasoning, are apt to lose the thread of não familiarizadas com o raciocínio abs-
argument, where it is drawn out to a trato tendem a perder o fio da argumen-
great leng th, and each part fortified with tação, quando esta se desdobra muito
all the argumenta, guarded against all the extensamente e cada parte se solidifica
objections, and illustrated with all the com todos os argumentos, prevenida
views, which occur to a writer in the contra todas as objeções e ilustrada com
diligent survey of his subject. Such Read- todas as perspectivas que ocorrem a um
ers will more readily apprehend a chain escritor ocupado na exploração diligente
of reasoning, that is more single and do seu tema. Tais leitores captarão com
concise, where the chief propositions only mais rapidez uma cadeia de raciocínios
are linkt on to each other, illustrated by mais concentrada e concisa, na qual as
some simple examples, and confirmed by proposições-chave se articulam mutua-
a few of the more forcible argumenta. The mente, ilustradas por alguns exemplos
parts lying nearer together can better be simples e confirmadas por alguns poucos
compared, and the connexion be more argumentos mais decisivos. Encontrando-
easily traced from the first principies to se as partes mais próximas umas das ou-
the last conclusion. tras, podem ser melhor comparadas, bem
The work, of which 1 here present como pode ser mais facilmente traçada a
the Reader with an abstract, has been conexão entre elas desde os primeiros
complained of as obture and difficult to princípios até à última conclusão.
be comprehended, and I am apt to think, A obra, cujo resumo apresento aqui
that this proceeded as much from the ao leitor, foi criticada como obscura e de
length as from the abstractedness of the difícil compreensão, e inclino-me a pensar
argument. If I have remedy'd this in- que tal crítica procede tanto da extensão
convenience in any degree, I have attain'd quanto da abstração do argumento. Se tal

26 27
my end. The book seem'd to me to have
such an air of singularity, and novelty as inconveniente tiver sido remediado em
claim'd the attention of the public; es- alguma medida, dou por cumprido meu
pecially if it be found, as the Author seems objetivo. O livro pareceu-me possuir tal at-
to insinuate, that were his philosophy mosfera de singularidade e novidade que
receiv'd, we must alter from the foun- mereceria a atenção do público; especial-
dation the greatest part of the sciences. mente se tiver fundamento, como o autor
Such bold attempts are always advan- parece insinuar, que, uma vez acolhida sua
tageous in the republic of letters, because filosofia, seremos obrigados a alterar desde
théy shake off the yoke of authority, ac- suas bases a maioria das ciências. Tão arro-
custom men to think for themselves, give jadas tentativas são sempre de grande pro-
new hints, whkh men of genius may carty veito na república das letras, porque abalam
further, and by the very opposition, o jugo da autoridade, habituam os homens
lustrate points, wherein no one before a pensar por si mesmos, dão sugestões no-
suspected any difficulty. Vas que os homens de gênio podem levar

The Author must be contented to adiante e, pela própria oposição, esclare-


wait with patience for some time before cem pontos nos quais ninguém antes sus-
the learned world can agree in their sen- peitara nenhuma dificuldade.
timents of his performance. 'Tis his mis- O Autor precisa contentar-se com es-
perar pacientemente durante algum tempo

28
29
fortune, that he cannot make an appeal até que o mundo culto venha a aceitar a
to the people, who in all matters of com- sua realização. Para seu infortúnio, não
mon reason and eloquence are found so lhe é possível fazer apelo ao povo, o qual,
infallible a tribunal. He must be judged em todas as questões de razão comum e
by the FEw, whose verdict is more apt to eloqüência, é considerado um tribunal tão
be corrupted by partiality and prejudice, infalível. Deve ser julgado por aqueles
especially as no one is a proper judge in Poucos cujo veredito é mais suscetível de

these subjects, who has not often thought ser corrompido pela parcialidade e precon-
of them; and such are apt to form to ceito, sobretudo quando ninguém é juiz
themsélves systems of their own, which apropriado nos assuntos sobre os quais não
they resolve not to relinquish. I hope the pensou com freqüência; e tais indivíduos
Author will excuse me for intermeddling tendem a elaborar para si mesmos sistemas
in this affair, since my aim is only to tn- próprios, que decidem não abandonar. Es-
crease his auditoty, by removing some dif peln que o Autor me perdoe por me imiscuir
ficulties, which have kept many from ap- neste assunto, já que meu objetivo é tão
prehending his meaning. somente ode aumentar sua audiência remo-
1 have chosen one simple argum- vendo algumas dificuldades que impedi-
ent, whih 1 have carefully traced from the ram a muitos de apreender seu significado.
beginning to the end. This is the only Escolhi um único argumento que

30 31
desenvolvi cuidadosamente do começo ao
point I have taken care to finish. The rest
fim. Foi este o único ponto que tive o cuida-
is only hints of particular passages, which
do de levar a cabo. Quanto ao resto, trata-
seem'd to me curious and remarkable.
se de sugestões sobre certas passagens es-
pecíficas, que me pareceram curiosas e
dignas de nota.

33
32
e 00 ,* § §§4
4
00041141Esne0
his book seems to be wrote up 1_4'1 ste livro parece ter sido escrito
on the same plan with several %>obedecendo ao mesmo plano de
other works that have had a grèat vogue vários outros trabalhos, que têm tido
of late years in England. The philoso- grande voga na Inglaterra, nos últimos
phical spirit, which has been so much anos. O espírito filosófico, que tanto se
improved ali over Europe within these desenvolveu nestas oito décadas em toda
last fourscore years, has been carried to a Europa, neste reino foi levado tão longe
as great a length in this kingdom as in quanto em qualquer outro. Nossos auto-
any other. Our writers seem even to have res parecem até ter inaugurado um novo
started a new kind of philosophy, which tipo de filosofia, que promete mais entre-
promises more both to the entertainment tenimento e proveito à humanidade do
and advantage of mankind, than any que qualquer outro conhecido pelo mun-
other with which the world has been yet do. A maioria dos filósofos da Antigüi-
acquainted. Most of the philosophers of dade que trataram da natureza humana
mostrou mais delicadeza de sentimentos,
antiquity, who treated of human nature,
senso justo da moral, ou grandeza de
have shewn more of a delicacy of sen-
alma, que profundidade de raciocínio e
timent, a just sense of morais, ora great-
reflexão. Contentou-se em representar o
ness of soul, than a depth of reasoning
senso comum humano sob a mais viva luz
and reflection. They content themselves
e com a melhor forma de pensamento e
with representing the common sense of
expressão, sem seguir sistematicamente
mankind in the strongest lights, and with
uma cadeia de proposições, nem organi-
the best turn of thought and expression,
zar as várias verdades em uma ciência
without following out steadily a chain of
rigorosa. No entanto, vale a pena ao me-
propositions, orforming the several truths
nos perguntar se a ciência do homem não
into a regular science. But 'tis at least
comporta a mesma precisão de que se jul-
worth while to try if the science of man
gam suscetíveis várias partes da filosofia
will not admit of the same accuracy which
natural. Parece haver toda a razão do
several parts of natural philosophy are
mundo para supor que ela pode ser levada
found susceptible of. There seems to be
ao mais alta grau de exatidão. Se, exa-
ali the reason in the world to imagine
minando vários fenômenos, verificamos
that it may be carried to the greatest
que obedecem a um princípio comum, e
degree of exactness. If, in examining sev-
se podemos ligar esse princípio a outro,
eral phaenomena, we find that they re-

37
36
solve themselves into one common prin- chegaremos finalmente àqueles poucos
cipie, and can trace this principie into princípios simples, dos quais todos os ou-
another, we shall at last arrive at those tros dependem. E embora jamais possa-
few simple principies, on which ali the mos chegar aos últimos princípios, é uma
rest depend. And tho' we can never arrive satisfação ir até onde nos permitem nos-
at the ultimate principles,'tis a satis- sas faculdades.
faction to go as far as our faculties will Parece ter sido este o propósito de
allow us. nossos filósofos mais recentes, e, entre
This seems to have been the aim of outros, o deste autor. Ele propõe anato-
our late philosophers, and, among the mizar metodicamente a natureza hu-
rest, of this author. He proposes to anat- mana, e promete só chegar a conclusões
omize human nature in a regular man- autorizadas pela experiência. Fala das
ner, and promises to draw no conclusions hipóteses com desprezo; e insinua que
but where he is authorized by experience. aqueles dos nossos compatriotas que as
He talks with contempt of hypotheses; and baniram da filosofia moral prestaram um
insinuates, that such of our countrymen serviço mais significativo ao mundo do
as have banished them from moral phi- que Lord Bacon, que ele considera o pai
losophy, have done a more signal service da física experimental. Menciona, nesta
to the world, than my Lord Bacon, whom ocasião, o Sr. Locke, Lord Shaftsbury, o

38 39
he considers as the father of experimental Dr. Mandeville, o Sr. Hutchison, o Dr. But-
physicks. He mentions, on this occasion, ler, os quais, embora discordem entre si
Mr. Locke, my Lord Shaftsbury, Dr. em muitos pontos, parecem todos concor-
Mandeville; Mr. Hutchison, Dr. Butler, dar em fundar suas acuradas investiga-
who, tho' they differ in many points ções da natureza humana inteiramente
among themselves, seem ali to agree in sobre a experiência.
founding their accurate disquisitions of Além da satisfação de tomar co-
human nature intirely upon experience. nhecimento do que nos diz respeito mais
Beside the satisfaction of being ac- de perto, podemos afirmar tranqüilamen-
quainted with what most nearly concerns te que quase todas as ciências são com-
us, it may be safely affirmed, that almost preendidas pela ciência da natureza hu-
ali the sciences are comprehended in the mana, e dela dependem. A única finali-
science of human nature, and are de- dade da lógica é explicar os princípios e
pendent on it. The sole end of logic is to Operações de nossa faculdade de raciocí-
explain the principies and operation of nio, e a natureza de nossas idéias; a moral
our reasoning faculty, and the nature e a crítica dizem respeito aos nossos gostos
of our ideas; morais and criticism regard e sentimentos; e a política considera os ho-
our tastes and sentiments; and politics mens enquanto unidos na sociedade e de-
consider men as united in society, and pendentes uns dos outros. Este tratado da

40 41
dependent on each other. This treatise natureza humana, portanto, parece
therefore of human nature seems intend- destinado a tornar-se um sistema das
ed for a system of the sciences. The author ciências. O autor completou o que diz res-
has finished what regards logic, and has peito à lógica e lançou os fundamentos
laid the foundation of the other paris in das outras partes em sua consideração
his account of the passions. sobre as paixões.
The celebrated Monsieur Leibniz O célebre Sr. Leibniz observou que
has observed it to be a defect in the com- é um-defeito dos habituais sistemas da
_mon systems of logic, that they are very lógica a prolixidade quando explicam as
copious when they explain the operations operações do entendimento, na formula-
of the understanding in the forming of ção de demonstrações; mas são demasia-
demonstrations, but are too concise when do concisos quando tratam das probabili-
they treat of probabilities, and those other dades e daqueles outros padrões de evi-
measures of evidence on which life and dência dos quais a vida e a ação depen-
action intirely depend, and which are our dem inteiramente, e que são nossos guias
guides even in most of our philosophical até mesmo na maior parte de nossas es-
speculations. In this censure, he com- peculações filosóficas. Nessa censura, en-
prehends the essay on human under- globa o ensaio sobre o entendimento hu-
standing, la recherche de la vérité, and mano, la recherche de la vérité et l'art de

42
Part de penser. The author of the treatise
penser. O autor do tratado da natureza
of human nature seems to have been
humana parece ter percebido este defeito
sensible of this defect in these philo- de tais filósofos e dedicou-se, tanto quanto
sophers, and has endeavoured, as much lhe foi possível, a supri-lo. Como seu livro
as he can, to supply it. As his book con- contém um grande número de especula-
tains a great number of speculations very ções muito novas e dignas de nota, será
new and remarkable, it will be impossible impossível dar ao leitor uma justa noção
to give the reader a just notion of the do todo. Por isso, limitar-nos-emos prin-
whole. We shall therefore chiefly confine cipalmente à sua explicação de nossos
ourselves to his explication of our reason- raciocínios sobre causa e efeito. Se conse-
ings from cause and effect. If we can make guirmos tomá-la inteligível ao leitor, poderá
this intelligible to the reader, it may serve servir como uma amostra do conjunto.
as a specimen of the wholl. Nosso autor começa com algumas
Our author begins with some de- definições. Chama percepção o que quer
finitions. He calls a perception whatever que se apresente à mente, quer empregue-
can be present to the mind, whether we mos nossos sentidos, sejamos movidos pela
employ our senses, or are actuated with paixão, ou exercitemos nosso pensamento
passion, or exercise our thought and re-
e reflexão. Divide nossas percepções em
flection. He divides our perceptions into duas espécies, a saber, impressões e idéias.

44
45
two kinds, viz. impressions and ideas. Quando sentimos qualquer tipo de paixão
When we feel a passion or emotion of any ou emoção, ou captamos as imagens de
kind, or have the images of externai ob- objetos externos trazidas por nossos sen-
jects conveyed by our senses; the percep- tidos, a percepção da mente é o que ele
tion of the mind is what he calls an im- chama impressão, palavra empregada por
pression, which is a word that he employs ele em umnovo sentido Quando refletimos
in a new sense. When we reflect on a pas- sobre uma paixão, ou um objeto que não
sion or an object which is not present, está presente, esta percepção é uma idéia.
this perception is an idea. Impressions, As impressões são, portanto, nossas per-
therefore, are our lively and strong per- cepções vívidas e fortes; as idéias são per-
ceptions; ideas are the fainter and weak- cepções mais esmaecidas e fracas. Essa
er. This distinction is evident; as evident distinção é evidente; tão evidente como a
as that betwbct feeling and thinking. distinção entre sentir e pensar.
The first proposition he advances, A primeira proposição que ele adi-
is, that ali our ideas, or weak perceptions, anta é que todas as nossas idéias, ou per-
are derived from our impressions, or cepções fracas, derivam de nossas impres-
strong perceptions, and that we can never sões, ou percepções fortes, e que jamais
think of any thing which we have not seen podemos pensar em qualquer coisa que
without us, or felt in our own minds. This não tenhamos visto fora de nós, ou senti-

47
proposition seems to be equivalent to that do em nossas próprias mentes. Essa pro-
which Mr. Locke has taken such pains to posição parece equivalente àquela que o
establish, viz. that no ideas are innate. Sr. Locke tanto se esforçou em demonstrar,
Only it may be observed, as an inaccuracy segundo a qual não existem idéias inatas.
of that famous philosopher, that he com- Todavia, podemos observar, como uma
prehends ali our perceptions under the imprecisão daquele famoso filósofo, o
term of idea, in which sense it is false, abranger todas as nossas percepções sob o
that we have no innate ideas. For it is termo idéia, nesse sentido sendo falso
evident our stronger perceptions or im- afirmar que não temos idéias inatas. Pois
pressiona are innate, and that natural af- é evidente que nossas mais fortes percep-
fection, love of virtue, resentment, and ções ou impressões são inatas, e que a afei-
ali the other passions, arise immediately ção natural, o amor da virtude, o ressen-
from nature. I am persuaded, whoever timento e todas as outras paixões, brotam
would take the question in this light, imediatamente da natureza. Estou persua-
would be easily able to reconcile ali par- dido de que se alguém examinasse a ques-
ties. Father Malebranche would find tão sob essa luz, seria capaz de reconciliar
himself at a loss to point out any thought todas as correntes. O Padre Malebranche
of the mind, which did not represent teria muita dificuldade em apontar qual-
something antecedently felt by it, either quer pensamento da mente que não repre-

49
internally, or by means of the externai sentasse algo precedentemente sentido por
senses, and must allow, that however we ela, fosse internamente, ou por meio dos
may compound, and mix, and augment, sentidos externos, e deveria admitir que,
and diminish our ideas, they are ali de- embora possamos compor, misturar,
rived from these sources. Mr. Locke, on aumentar ou diminuir nossas idéias, todas
the other hand, would readily acknow- elas derivam dessas fontes. O Sr. Locke,
ledge, that ali our passions are a kind of por outro lado, reconheceria prontamente
natural instincts, derived from nothing que todas as nossas paixões são uma
but the original constitution of the human espécie de instintos naturais derivados
mind. apenas da constituição original da mente
Our author thinks, "that no discov- humana.
ery could have been made more happily Nosso autor pensa "que nenhuma
for deciding ali controversies concerning descoberta poderia ter sido mais feliz, pa-
ideas than this, that impressions always ra decidir todas as controvérsias concer-
take the precedency of them, and that nentes às idéias, dó'que esta de que as im-
every idea with which the imagination is pressões sempre as antecedem, e que toda
furnished, first makes its appearance in idéia que preenche a imaginação, faz antes
a correspondent impression. These latter sua aparição em uma impressão corres-
perceptions are ali so clear and evident, pondente. Essas últimas percepções são

50
51
that they admit of no controversy; tho' todas tão claras e evidentes que não admi-
many of our ideas are so obscure, that 'tis tem controvérsia; embora muitas de nos-
almost impossible even for the mind, sas idéias sejam tão obscuras que é quase
which forms them, to tell exactly their impossível, até para a mente, que as for-
nature and composition." Accordingly, ma, dizer exatamente sua natureza e com-
wherever any idea is ambiguous, he has posição". Conseqüentemente, toda vez que
always recourse to the impression, which uma idéia é ambígua, o autor pode re-
must render it clear and precise. And when correr à impressão, que a tornará clara e
he suspects that any philosophical term precisa. E quando suspeita (o que é tão
has no idea annexed to it (as is too com- comum) que determinado teimo filosófico
mon) he always asks from what impres- não se vincula a nenhuma idéia, pergunta
sion that idea is derived? And if no im- sempre: de que impressão deriva tal idéia?
pression can be produced, he concludes E se impressão alguma pode ser en-
that the term is altogether insignificant. contrada, conclui que o teimo é absoluta-
'Tis after this manner he examines our mente insignificante; e seria de desejar que
idea of substance and essence; and it were esse método rigoroso fosse aplicado com
to be wished, that this rigorous method were mais freqüência em todos os debates
more practised in ali philosophical debates. filosóficos.
'Tis evident, that ali reasonings É evidente que todos os raciocínios

52 53
concerning matter of fact are founded on a respeito da realidade se fundam na rela-
the relation of cause and effect, and that ção de causa e efeito, e que nunca pode-
we can never infer the existence of one mos inferir a existência de um objeto de
object from another, unless they be con- outro objeto, a menos que estejam inter-
nected together, either mediately or im- ligados mediata ou imediatamente. Para
mediately. In order therefore to under- compreender estes raciocínios, portanto,
stand these reasonings, we must be perfec- devemos olhar à nossa volta para en-
tly acquainted with the idea of a cause; contrar alguma coisa que seja a causa de
and in order to that, must look about us to outra.
find something that is the cause of another. Eis uma bola de bilhar pousada so-
Here is a billiard-ball lying on the bre a mesa, e outra que se move na direção
table, and another bali moving towards da primeira, com rapidez. As bolas se cho-
it with rapidity. They strike; and the bali, cam; e a que antes se encontrava em re-
which was formerly at rest, now acquires pouso adquire agora um movimento. Este
a motion. This is as perfect an instance é um exemplo tão perfeito da relação de
of the relation of cause and effect as any causa e efeito como qualquer outro conhe-
which we know, either by sensation or cido, seja pela sensação ou pela reflexão.
reflection. Let us therefore examine it. 'Tis Examinemo-lo, pois. É evidente que as
evident, that the two balis touched one duas bolas se tocaram antes que o movi-

54 55
another before the motion was commun- mento tivesse se comunicado, e que não
icated, and that there was no interval houve intervalo entre o choque e o movi-
betwixt the shock and the motion. Con- mento. Contigüidade no tempo e no espaço
tiguity in time and place is therefore a é, portanto, unia circunstância requerida
requisite circumstance to the operation à operação de todas as causas. É igual-
of dl causes. 'Tis evident likewise, that mente evidente que o movimento que foi
the motion, which was the cause, is prior a causa, é anterior ao movimento que foi
to the motion, which was the effect. o efeito. Prioridade no tempo é, portanto,
Priority in time, is therefore another re- outra circunstância requerida em qual-
quisite circumstance in every cause. But quer causa. Mas isso não é tudo. Se expe-
this is not ali. Let us try any other balis rimentarmos quaisquer outras bolas do
of the same kind in a like situation, and mesmo tipo, em situação semelhante, ve-
we shall always find, that the impulse of rificaremos sempre que o impulso de uma
the one produces motion in the other. produz movimento na outra. Eis, então,
Here therefore is a third circumstance, uma terceira circunstância, isto é, a da con-
viz. that of a constant conjunction be- junção constante entre a causa e o efeito.
twixt the cause and effect. Every object Todo objeto como causa produz sempre
like the cause, produces always some ob- algum objeto como efeito. Além dessas três
ject like the effect. Beyond these three cir- circunstâncias: contigüidade, prioridade e

56 57
cumstances of contiguity, priority, and conjunção constante, não há nada que eu
constant conjunction, I can discover no- possa descobrir nessa causa. A primeira
thing in this cause. The first bali is in mo- bola está em movimento; encosta na se-
tion; touches the second; immediately the gunda; imediatamente, a segunda entra
second is in motion: and when I try the em movimento. E quando faço a expe-
experirnent with the same or like balis, riência com a mesma bola, ou com outras
in the same or like circumstances, I find, semelhantes, em circunstâncias idênticas
that upon the motion and touch of the ou semelhantes, verifico que a partir do
one bali, motion always follows in the movimento e toque de uma bola, segue-se
other. In whatever shape I turn this mat- sempre um movimento da outra. Não
ter, and however I examine it, I can find posso encontrar nada além disso, por mais
nothing farther. que examine a questão sob vários pontos
This is the case when both the cause de vista.
and effect are present to the senses. Let Esse é o caso quando tanto a causa
us now see upon what our inference is quanto o efeito estão presentes aos senti-
founded, when we conclude from the one dos. Vejamos, agora, em que se funda nos-
that the other has existed or will exist. sa inferência, quando deduzimos de um
Suppose I see a bali moving in a streight que o outro ocorreu ou irá ocorrer. Supo-
line towards another, I immediately con- nhamos que vejo uma bola movendo-se,

58 59
clude, that they will shock, and that the em linha reta, em direção a outra; imedia-
second will be in motion. This is the in- tamente concluo que vão entrar em cho-
ference from cause to effect; and of this que, e que a segunda adquirirá movi-
nature are all our reasonings in the con- mento. Essa é a inferência de causa a efei-
duct of life: on this is founded all our belief to; e dessa natureza são todos os nossos
in histoiy: and from hence is derived ali raciocínios na conduta da vida. Nisto se
philosophy, excepting oniy geometry and funda toda a nossa crença na história, e
arithmetic. If we can expiam the inference daí deriva toda a filosofia, excetuando-se
from the shock of two balis, we shali be apenas a geometria e a aritmética. Se po-
able to account for this operation of the demos explicar a inferência a partir do
mind in all instances. choque de duas bolas, seremos capazes de
Were a man, such as Adam, creat- dar conta desta operação da mente em
ed in the full vigour of understanding, qualquer caso.
without experience, he would never be Se um homem fosse criado, como
able to infer motion in the second bali Adão, no pleno vigor do entendimento,
from the motion and impulse of the first. sem experiência, jamais seria capaz de in-
It is not any thing that reason sees in the ferir o movimento da segunda bola, a par-
cause, which make us infer the effect. tir do movimento e impulso da primeira.
Such an inference, were it possible, would Não é algo que a razão enxergue na causa

60 61
amount to a demonstration, as being que nos faz inferir o efeito. Tal inferência,
founded merely on the comparison of i- se fosse possível, equivaleria a uma de-
deas. But no inference from cause to effect monstração, fundada meramente na com-
amounts to a demonstration. Of which paração de idéias. Mas nenhuma infe-
there is this evident proof. The mind can rência de causa a efeito equivale a uma
always conceive any effect to follow from demonstração. Disto temos uma prova
any cause, and indeed any event to follow evidente. A mente sempre pode conceber
upon another: whatever we conceive is qualquer efeito seguindo-se a qualquer
possibie, at least in a metaphysical sen- causa e, na verdade, qualquer aconteci-
se: but wherever a demonstration takes mento seguindo-se a outro. O que quer que
place, the contrai), is impossible, and im- concebamos é possível, ao menos num
plies a contradiction. There is no demons- sentido metafísico, mas onde ocorre uma
tration, therefore, for any conjunction of demonstração, o contrário é impossível, e
cause and effect. And this is a principie, implica contradição. Não há nenhuma de-
which is generally allowed by philoso- monstração, pois, para qualquer conjunção
phers. de causa e efeito. E esse é um princípio
It would have been necessary, geralmente admitido pelos filósofos.
therefore, for Adam (if he was not ins- Teria sido necessário, portanto, a
pired) to have had experience of the Adão, (se não fosse inspirado) ter tido a

62 63
effect, which followed upon the impulse experiência do efeito que se seguiu ao
of these two balis. He must have seen, in impulso das duas bolas. Precisaria ter
several instances, that when the one bali visto, em várias ocasiões, que quando uma
struck upon the other, the second always das bolas batia na outra, a segunda sempre
acquired motion. If he had seen a suf- adquiria movimento. Se tivesse presen-
ficient number of instances of this kind, ciado um número suficiente de casos desse
whenever he saw the one bali moving to- tipo, quando visse o movimento de uma
wards the other, he would always con- bola em direção à outra, concluiria sem-
clude without hesitation, that the second pre, sem hesitação, que a segunda se mo-
would*acquire motion. His understanding vimentaria. Seu entendimento se antecipa-
would anticipate his fight, and form a ria à sua visão, e formaria uma conclusão
conclusion suitable to his past experience. ajustada à sua experiência passada.
It follows, then, that ali reasonings Segue-se que todos os raciocínios
concerning cause and effect, are founded relativos a causa e efeito são fundados na
on experience, and that ali reasonings experiência, .e que todos os raciocínios ad-
from experience are founded on the sup- vindos da experiência são fundados no
position, that the course of nature will pressuposto de que o curso da natureza
continue uniformly the same. We con- continuará uniformemente o mesmo. Con-
clude, that like causes, in like circum- cluímos que causas semelhantes, em seme-

64
65
stances, will always produce like effects. lhantes circunstâncias, produzirão sempre
It may now be worth while to consider, efeitos semelhantes. Vale agora conside-
what determines us to form a conclusion rar o que nos determina a tirar uma con-
of such infinite consequence. clusão de tão infinita conseqüência.
`Tis evident, that Adam with all his É evidente que Adão, com toda a sua
science, would never have been able to ciência, jamais teria sido capaz de demons-
demonstrate, that the course of nature trar que o curso da natureza deve conti-
must continue uniformly the same, and nuar uniformemente o mesmo, e que o
that the future must be conformabie to futuro deve ser conforme ao passado. O
the past. What is possible can never be que é possível nunca pode ser demons-
demonstrated to be false; and 'tis possible trado como falso.; e é possível que o com-
the course of nature may change, since portamento da natureza possa mudar,
we can conceive such a change. Nay, I uma vez que podemos conceber tal modi-
will go farther, and assert, that he could ficação. Não é só isto; irei além e afirmarei
not so much as prove by any probable que Adão não conseguiria provar, por
arguments, that the future must be con- quaisquer argumentos prováveis, que o
formable to the past. Ali probable argum- futuro deve ser conforme ao passado. To-
ents are built on the supposition, that dos os argumentos prováveis são cons-
there is this conformity betwixt the future truídos sobre a suposição de que há esta

67
and the past, and therefore can never conformidade entre o futuro e o passado,
prove it. This conformity is a matter of e, por conseguinte, nunca podem provar
fact, and if it must be proved, will admit tal suposição. Tal conformidade é uma
of no proof but from experience. But our questão de fato, e se deve ser provada, só
experience in the past can be a proof of admitirá prova que resulte da experiência.
nothing for the future, but upon a sup- Mas nossa experiência no passado nada
position, that there is a resemblance bet- pode provar para o futuro, senão na supo-
wixt them. This therefore is a point, which sição de haver semelhança entre um e
can admit of no proof at all, and which outro. Esse é um ponto, pois, que absolu-
we take for granted without any proof. tamente pode ser comprovado e que assu-
We are determined by CUSIOM alone mimos como certo sem qualquer prova.
to suppose the future conformable to the Somos determinados exclusiva-
past. When I see a billiard-ball moving mente pelo Hikarro a supor o futuro con-
towards another, my mind is immediate- forme ao passado. Quando vejo uma bola
ly carry'd by habit to the usual effect, and de bilhar movendo-se em direção a outra,
anticipates my fight by conceiving the minha mente é imediatamente levada pe-
second bali in motion. There is nothing lo hábito ao efeito costumeiro, e antecipa
in there objects, abstractly considered, minha visão, concebendo a segunda bola
and independent of experience which em movimento. Nada há, nesses objetos,

69
leads me to forrt any such conciusion and considerados abstrata e independente-
even after I have had experience of many mente da experiência, que me leve a tal
repeated effects of this kind, there is no conclusão. E mesmo depois de eu ter tido
argument, which determines me to sup- a experiência de muitos efeitos dessa espé-
pose, that the effect will be conformable cie, nenhum argumento me determina a
to past experience. The powers, by which supor que o efeito será conforme à experi-
bodies operate, are entirely unknown. We ência passada. As forças pelas qi tais os cor-
perceive only their sensible qualities: and pos agem são inteiramente desconhecidas.
what reason have we to think, that the Percebemos apenas suas qualidades sen-
same powers will always be conjoined síveis: e que razão temos para pensar que
with the same sensible qualities? as mesmas forças hão de aparecer sempre
'Tis not, therefore, reason which is unidas às mesmas qualidades sensíveis?
the guide of life, but custom. That alone Não é, pois, a razão que conduz a
determines the mind, in all instances, to vida, mas o hábito. Apenas ele determina
suppose the future conformable to the a mente, em todas as circunstâncias, a su-
past. However easy this step may seem, por que o futuro é conforme ao passado.
reason would never, to all eternity, be able Por mais simples que este passo possa pa-
to make it. recer, nem em toda a eternidade a razão
This is a very curious discovely, but seria capaz de dá-lo.

70 71
leads us to others, that are still more Essa é uma descoberta muito curio-
curious. When I see a billiard-ball mov- sa, mas nos leva a outras mais curiosas
ing towards another, my mind is im- ainda. Quando vejo uma bola de bilhar
mediately carried by habit to the usual movendo-se em direção a outra, minha men-
effect, and anticipate my fight by con- te é imediatamente levada pelo hábito ao
ceiving the second bali in motion. But efeito costumeiro e antecipa minha visão
is this all? Do I nothing but CONCEIVE the concebendo a segunda bola em movimento.
motion of the second bali? No surely. I Mas isso será tudo? Não faço senão CONCE-
also BELIEVE that it will move. What then BER o movimento da segunda bola? Certa-
is this belief? And how does it differ from mente que não. Também ACREDITO que ela
the simple conception of any thing? Here vai se mover. Que é, pois, essa crença? E
is a new question unthought of by philo- como se distingue da simples concepção
sophers. de qualquer coisa? Eis uma nova questão
When a demonstration convinces não pensada pelos filósofos.
me of any proposition, it not only makes Quando uma demonstração me con-
me conceive the proposition, but also vence da validade de uma proposição, não
makes me sensible, that 'tis impossible to apenas me faz conceber a proposição, mas
conceive any thing contrary. What is de- também me dá consciência de que é impos-
monstratively false implies a contradic- sível conceber algo contrário. O que é de-

72
tion; and what implies a contradiction monstrativamente falso implica contra-
cannot be conceived. But with regard to dição; e o que implica contradição é in-
any matter of fact, however strong the concebível. Todavia, no que diz respeito
proof may be from experience, I can al- a uma questão de fato, não importa quão
ways conceive the contrary, tho' I cannot forte possa ser a prova obtida por meio
always believe it. The belief, therefore, da experiência, posso sempre conceber o
makes some difference betwixt the con- contrário, embora nem sempre possa acre-
ception to which we assent, and that to ditar nele. A crença, portanto, estabelece
which we do not assent. certa diferença entre a concepção a que
To account for this, there are only assentimos e aquela a que não assentimos.
two hypotheses. It may be said, that belief Para explicar esta questão, há so-
joins some new idea to those which we mente duas hipóteses. Pode-se dizer que
may conceive without assenting to them. a crença acrescenta uma idéia nova àque-
But this hypothesis is false. For first, no las que podemos conceber sem lhes dar
such idea can be produced. When we nosso assentimento. Mas essa hipótese é
simply conceive an object, we conceive it falsa. Em primeiro lugar, porque tal idéia
in all its parts. We conceive it as it might não pode ser produzida. Quando simples-
exist, tho' we do not believe it to exist. mente concebemos um objeto, concebe-
Our belief of it would discover no new mo-lo em todas as suas partes. Concebe-

74 75
qualities. We may paint out the entire mo-lo como poderia existir, embora não
mo-lo
object in imagination without believing acreditemos que exista. Nossa crença nele
it. We may set it, in a manner, before não descobriria nenhuma nova qualidade.
our eyes, with every circumstance of time Podemos representar o objeto inteiro na
and place. 'Tis the ver), object conceived imaginação, sena acreditar nele. Podemos
as it might exist; and when we believe it, colocá-lo, de certo modo, diante de nossos
we can do no more. olhos, com todas as circunstâncias de tem-
Secondly, The mind has a faculty po e espaço. É o próprio objeto concebido
of joining all ideal together, which in- tal como poderia existir, e quando cremos
volve not a contradiction; and therefore não podemos fazer nada além disso.
if belief consisted in some idea, which we Em segundo lugar, a mente tem a fa-
add to the simple conception, it would be culdade de unir todas as idéias que não
in a man's power, by adding this idea to envolvem contradição; e, por isso, se a
it, to believe anything, which he can con- crença consistisse em alguma idéia que
ceive. acrescentássemos à simples concepção, es-
Since therefore belief implies a con- taria no poder do homem, ao acrescentar-
ception, and yet is something more; and lhe tal idéia, crer em qualquer coisa que
since it adds no new idea to the concep- pudesse conceber.
tion; it follows, that it is a different Uma vez, pois, que a crença implica

76 77
rot of conceiving an object; something uma concepção, e ainda é algo mais, e uma
that is distinguishable to the feeling, and vez que não acrescenta nenhuma idéia nova
depends not upon our will, as all our ideas à concepção, segue-se que se trata de um
do. My mind runs by habit from the Mono diferente de conceber um objeto; algo
visible object of one bali moving towards que se pode distinguir do sentir, e que não
another, to the usual effect of motion in depende de nossa vontade, como ocorre
the second bali. It not only conceives that com todas as nossas idéias. Minha mente,
motion, but feels something different in por hábito, corre do objeto visível de uma
the conception of it from a mere reverte bola movendo-se em direção a outra, para
of the imagination. The presence of this o efeito usual do movimento na segunda
visible object, and the constant conjunc- bola. Não apenas concebe tal movimento,
tion of that particular effect, render the mas sente na sua concepção algo que difere
idea different to the feeling from those de um simples devaneio da imaginação. A
loose ideas, which come into the mind presença desse objeto visível e a conjunção
without any introduction. This conclusion constante daquele efeito específico, tor-
seems a little surprizing; but we are led nam a idéia, em relação ao sentir, diferente
into it by a chain of propositions, which daquelas idéias vagas que vêm à mente
admit of no doubt. To ease the reader's sem nenhuma introdução. Essa conclusão
memory I shall briefly resume them. No parece um tanto surpreendente; mas so-

78
matter of fact can be proved but from its mos levados a ela por uma cadeia de
cause or its effect. Nothing can be known proposições que não admitem dúvidas. Pa-
to be the cause of another but by ex- ra ajudar a memória do leitor, vou resumi-
perience. We can give no reason for ex- las brevemente. Nenhuma questão de fato
tending to the future our experience in pode ser provada senão a partir de sua cau-
the past; but are entirely determined by sa ou de seu efeito. Nada pode ser conheci-
custom, when we conceive an effect to do como sendo causa de outra coisa senão
follow from its usual cause. But we also pela experiência. Não podemos apresentar
believe an effect to follow, as well as razão alguma para estender ao futuro nos-
conceive it. This belief joins no new idea sa experiência do passado; mas somos in-
to the conception. It only varies the man- teiramente determinados pelo costume
ner of conceiving, and makes a difference quando concebemos um efeito seguindo-
to the feeling or sentiment. Belief, there- se a sua causa habitual. Mas também cre-
fore, in all matters of fact arises only from mos que um efeito se segue, ao mesmo
custom, and is an idea conceived in a tempo que o concebemos.- Tal crença não
peculiar manner. acrescenta nenhuma idéia nova à concep-
Our author proceeds to explain the ção. Apenas modifica a maneira de conce-
manner or feeling which renders belief ber e produz uma diferença para a sensi-
different from a loose conception. He bilidade ou sentimento. A crença, portanto,

80 81
seems sensible, that 'tis impossible by em todas as questões de fato, brota apenas
words to describe this feeling, which ev- do costume, e é uma idéia concebida de
ery one must be conscious of in his own um modo peculiar.
breast. He calls it sometimes, a stronger Nosso autor passa a explicar o modo
conception, sometimes a more lively, a ou o sentir que torna a crença diferente
more vivid, a firmer, or a more intense de uma concepção vaga. Parece reconhe-
conception. And indeed, whatever name cer que é impossível descrever com pala-
we may give to this feeling, which cons- vras este sentir, de que cada um deve se
titutes belief, our author thinks it evident, conscientizar no seu íntimo. Chama-o às
that it has a more forcible effect on the vezes de concepção mais forte, e outras
mind than fiction and mere conception. vezes de mais vívida, mais animada, mais
This he proves by its influence on the firme, ou mais intensa. De fato, não impor-
passions and on the imagination; which ta o nome que dermos a tal sentir que cons-
are only moved by truth or what is taken titui a crença, nosso autor julga evidente
for such. Poetry, with all its art, can nev- que ele produz na mente um efeito mais
er cause a passion, like one in real life. It enérgico do que a ficção ou a mera concep-
fails in the original conception of its ob- ção. Prova-o pela influência que exerce
jects, which never feel in the same man- sobre as paixões e a imaginação; que só
ner as those which command our belief são movidas pela verdade ou pelo que se

82 83
and opinion. toma como verdade. A poesia, com toda a
Our author presuming, that he had sua arte, jamais pode causar uma paixão,
sufficiently proved, that the ideas we as- como as da vida real. Falha na concepção
sent to are different to the feeling from original de seus objetos, que nunca se _fa-
the other ideas, and that this feeling is zem sentir do mesmo modo que aqueles
more firm and lively than our common que comandam nossa crença e opinião.
conception, endeavours in the next place Nosso autor, presumindo ter provado
to explain the cause of this lively feeling suficientemente que as idéias às quais
by an analogy with other acts of the mind. assentimos são diferentes das outras, e que
His reasoning seems to be curious; but este sentir é mais firme e vivo do que nossas
could scarce be rendered intelligible, or concepções comuns, procura, a seguir, ex-
at least probable to the reader, without plicar a causa deste vivo sentimento, por
a long detail, which would exceed the meio de uma analogia com outros atos da
compass I have prescribed to myself. mente. Seu raciocínio parece curioso; mas
I have likewise omitted many argu- dificilmente se tomaria inteligível, ou ao
ments, which he adduces to prove that menos provável para o leitor, sem uma lon-
belief consits merely in a peculiar feeling ga e detalhada explanação, o que excede-
or sentiment. 1 shall only mention one; ria os limites que me impus.
our past experience is not always uni- Omiti igualmente muitos argumen-

84 85
form. Sometimes one effect follows from tos que ele aduz para provar que a crença
a cause, sometimes another: In which case consiste meramente num tipo peculiar de
we always believe, that that will exist sentir ou sentimento. Mencionarei apenas
which is most common. I see a billiard- um: nossa experiência passada nem sempre
ball moving towards another. I cannot é uniforme. Algumas vezes um efeito se se-
distinguish whether it moves upon its gue a uma causa, outras vezes, outro. Nesse
axis, or was struck so as to skim along caso, sempre acreditamos que ocorrerá o
the table. In the first case, I know it will mais comum. Vejo uma bola de bilhar mo-
not stop after the shock. In the second it vendo-se em direção a outra. Não posso
may stop. The first is most common, and distinguir se move-se sobre seu eixo ou se
therefore I lay my account with that ef- foi batida para deslizar sobre a mesa. No
fect. But I also conceive the other effect, primeiro caso, sei que não irá parar depois
and conceive it as possible, and as con- do choque; no segundo, pode parar. O pri-
nected with the cause. Were not the one meiro caso é mais comum, por isso apóio
conception different in the feeling or sen-, meu cálculo sobre esse efeito. Mas também
timent from the other, there would be no concebo o outro efeito, e o concebo como
difference betwixt them. possível e em conexão com a causa. Se uma
We have confin'd ourselves in this concepção não fosse diferente da outra, no
whole reasoning to the relation of cause que diz respeito ao sentir ou sentimento,

86 87
and effect, as discovered in the motions não haveria nenhuma diferença entre elas.
and operations of matter. But the same Restringimo-nos, em todo esse ra-
reasoning extends to the operations of the ciocínio, à relação de causa e efeito, desco-
mind. Whether we consider the influence berta nos movimentos e operações da ma-
of the will in moving our body, or in téria. Mas o mesmo raciocínio se estende
governing our thought, it may safely be às operações da mente. Quer consideremos
affirmed, that we could never foretel the a influência da vontade no movimento do
effect, merely from the consideration of nosso corpo, ou no controle do nosso pen-
the cause, without experience. And even samento, pode-se afirmar com segurança
after we have experience of these ef- que jamais conseguimos predizer o efeito,
fects,'tis custom alone, not reason, which pela mera consideração da causa, sem a
determines us to make it the standard of experiência. E mesmo depois de termos a
our future judgments. When the cause is experiência desses efeitos, é o hábito ape-
presented, the mind, from habit, imme- nas, não a razão, que nos determina a fazer
diately passes to the conception and belief deles o padrão de nossos futuros julgamen-
of the usual effect. This belief is something tos. Quando a causa está presente, a men-
different from the conception. It does not, te, pelo hábito, passa imediatamente à
however, join any new idea to it. It only concepção e crença no efeito costumeiro.
makes it be felt differently, and renders Essa crença é algo diferente da concepção.

88 89
it stronger and more lively. Não lhe acrescenta, no entanto, nenhuma
Having dispatcht this material point idéia nova. Apenas nos faz senti-la diferente-
concerning the nature of the inference mente, tornando-a mais forte e mais viva.
from cause and effect, our author returns Tendo esgotado esse ponto impor-
upon his footsteps, and examines anew tante concernente à natureza da inferência
the idea of that relation. In the consi- de causa e efeito, nosso autor retorna sobre
dering of motion communicated from one seus passos e reexamina a idéia dessa rela-
bali to another, we could find nothing but ção. Ao considerar o movimento transmiti-
contiguity, priority in the cause, and cons- do de uma bola para a outra, só pudemos
tant conjunction. But, beside these cir- encontrar contigüidade, prioridade na cau-
cumstances, 'tis commonly suppos'd, that sa e conjunção constante. Todavia, além
there is a necessary connexion betwixt the dessas circunstâncias, supõe-se comumen-
cause and effect, and that the cause pos- te que existe uma conexão necessária entre
sesses something, which we call a power, causa e efeito, e que a causa possui algo
or force, or energy. The question is, what que chamamos poder, ou força, ou energia.
idea is annex'd to these terms? If ali our A questão é a seguinte: que idéia se vincu-
ideas or thoughts be derived from our im- la a esses termos? Se todas as nossas idéias
pressiona, this power must either discov- ou pensamentos derivam de nossas impres-
er itseif to our senses, or to our internai sões, tal força deve revelar-se ou aos nossos

90 91
feeling. But so little does any power dis- sentidos ou ao nosso sentimento interior.
cover itself to the senses in the operations Mas os sentidos percebem tão precaria-
of matter, that the Cartesians have made mente qualquer poder nas operações da
no scruple to assert, that matter is utter- matéria, que os cartesianos não tiveram
ly deprived of energy, and that ali its nenhum escrúpulo em afirmar que a maté-
operations are perform'd merely by the ria é totalmente desprovida de energia, e
energy of the supreme Being. But the ques- que todas as suas operações são realizadas
tion still recurs, What idea have we of meramente pela energia dó Ser supremo.
energy or power even in the Supreme Entretanto, a questão volta mais uma vez:
Being? All our idea of a Deity (according Que idéia temos de energia, ou poder, mesmo
to those who deny innate ideas) is nothing no Ser supremo? Toda a nossa idéia de uma
but a composition of those ideas, which Divindade, (de acordo com aqueles que ne-
we acquire from reflecting on the ope- gam as idéias inatas), não passa de uma
rations of our own minds. Now our own composição daquelas idéias adquiridas a
minds afford us no more notion of energy partir da reflexão sobre as operações de
than matter does. When we consider our nossas próprias mentes. Ora, nossas men-
will or volition a priori, abstracting from tes não nos dão maior noção de energia
experience, we should never be able to in- do que nos dá a matéria. Quando conside-
fer any effect from it. And when we take ramos nossa vontade, ou volição, a priori,

92 93
the assistance of experience, it only shows abstraída a experiência, não somos capa-
us objects contiguous, successive, and zes de inferir daí qualquer efeito. E quando
constantly conjoined. Upon the whole, recorremos à experiência, ela nos mostra
then, either we have no idea at ali of force apenas objetos contíguos, sucessivos e
and "energy, and these words are alto- constantemente reunidos. Afinal, pois, ou
gether insignificant, or they can mean não temos idéia alguma de força e energia,
nothing but that determination of the e essas palavras são de todo sem significa-
thought, acquir'd by habit, to pass from ção, ou nada querem dizer além da deter-
the cause to its usual effect. But whoever minação do pensamento, adquirida pelo
wouid thoroughly understand this must hábito, de passar da causa ao seu efeito
consult the author himfelf. 'Tis sufficient, usual. Todavia, quem quiser compreender
if I can make the learned world appre- essa questão perfeitamente, deve consul-
hend, that there is some difficulty in the tar o próprio autor. É suficiente que eu con-
case, and that whoever solves the dif- siga fazer o mundo culto captar que existe
ficulty must say some thing very new and no caso certa dificuldade, e quem a resol-
extraordinary; as new as the difficulty ver tem algo novo e extraordinário a dizer,
itself. tão novo quanto a própria dificuldade.
By all that has been said the reader Por tudo o que foi dito, o leitor per-
will easily perceive, that the philosophy ceberá facilmente que a filosofia contida

94 95
contain'd in this book is very sceptical, neste livro é muito cética, e tende a nos
and tends to give us a notion of the im- dar uma noção das imperfeições e dos es-
perfections and narrow limits of human treitos limites do entendimento humano.
understanding. Almost all reasoning is Quase todos os raciocínios são aí reduzidos
there reduced to experience; and the be- à experiência; e a crença, que acompanha
lief, which attends experience, is explain- a experiência, é explicada como não sendo
ed to be nothing but a peculiar sentim- senão um sentimento peculiar, ou uma
ent, or lively conception produced by vívida concepção produzida pelo hábito.
habit. Nor is this ali, when we believe any E isso não é tudo; quando acreditamos em
algo da existência externa, ou supomos que
thing of external existence,or suppose an
object to exist a moment after it is no um objeto existe no momento posterior ao
longer perceived, this belief is nothing but da percepção, essa crença não passa de um
a sentiment of the same kind. Our„author sentimento da mesma espécie. Nosso autor
insists upon several other sceptical topics; insiste em vários outros tópicos céticos; e
and upon the whole concludes, that we acaba, em suma, por concluir que assen-
assent to our faculties, and employ our timos às nossas faculdades e empregamos
reason only because we cannot help it. nossa razão simplesmente por não sermos
Philosophy wou'd render us entirely Pyr- capazes de evitá-lo. A filosofia nos tornaria
totalmente pirronianos, não fosse a na-
rhonian, were not nature too strong for it.

96 97
I shall conclude the logics of this tureza demasiado forte para isto.
author with an account of two opinions, Concluirei a lógica desse autor, com
which seem to be' peculiar to himself, as o relato de duas opiniões que parecem ser-
indeed are most of his opinions. He as- lhe peculiares, como, de resto, o são a
serts, that the soul, as far as we can con- maioria de suas opiniões. Afirma que a
ceive it, is nothing but a system or train alma, até onde somos capazes de concebê-
of different perceptions, those of heat and la, não passa de um sistema, ou sucessão
cold, love and anger, thoughts and sens- de diferentes percepções, as de calor e de
ations; all united together, but without frio, amor e ira, pensamentos e sensações,
any perfect simplicity or identity. Des- tudo interligado, mas sem nenhuma sim-
cartes maintained that thought was the plicidade perfeita ou identidade. Descartes
essence of the mind; not this thought or sustentava que o pensamento é a essência
that thought, but thought in general. This da mente; não este ou aquele pensamento,
seems to be absolutely unintelligible, since mas o pensamento em geral: e, portanto,
every thing, that exists, is particular: And devem ser nossas várias percepções par-
therefore it must be our several particular ticulares que compõem a mente. Digo com-
perceptions, that compose the mind. I say, põem a mente, e não pertencem a ela. A
compose the mind, not belong to it. The mente não é uma substância na qual as
mind is not a substance, in which the percepções são inerentes. Essa noção é tão

98 99
perceptions inhere. That notion is as un- ininteligível quanto a cartesiana, segundo
intelligible as the Cartesian, that thought a qual o pensamento, ou a percepção em
or perception in general is the essence of geral, é a essência da mente. Não temos
the mind. We-have no idea of substance nenhuma idéia de substância, de qualquer
of any kind, since we have no idea but espécie, uma vez que não temos nenhuma
what is derived from some impression, idéia que não derive de alguma impressão,
and we have no impression of any sub- e não temos nenhuma impressão de qual-
stance either material or spiritual. We quer substância, seja material ou espiri-
know nothing but particular qualities and tual. Nada conhecemos além de qualidades
perceptions. As our idea of any body, a particulares e percepções. Como nossa
peach, for instance, is only that of a par- idéia de qualquer corpo, um pêssego, por
ticular taste, colour, figure, fixe, consis- exemplo, é somente a de um gosto parti-
tence, Etc. So our idea of any mind is only cular, cor, forma, tamanho, consistência,
that of particular perceptions,without the etc. Assim, nossa idéia de mente é apenas
notion of anything we call substance, ei- a de percepções específicas, sem a noção
ther simple or compound. de nada que chamamos substância, seja
The second principle, which 1 pro- simples ou composta.
posed to take notice of, is with regard to O segundo princípio que me propus
Geometty. Having denied the infinite di- observar diz respeito à Geometria. Tendo

100 101
visibility of extension, our author finds negado a divisibilidade infinita da exten-
himself obliged to refute those mathem- são, nosso autor sente-se obrigado a refu-
atical arguments, which have been ad- tar aqueles argumentos matemáticos apre-
duced for it; and these indeed are the only sentados a favor daquela tese; tais argu-
ones of any weight. This he does by de- mentos, de fato, são os únicos que têm
nying Geometty to be a science exact e- algum peso. Para refutá-los, nega que a
nough to admit of conclusions so subtile Geometria seja uma ciência suficientemen-
as those which regard infinite divisibility. te exata para admitir conclusões tão sutis
His arguments may be thus explained. All como as que dizem respeito à divisibili-
Geometty is founded on the notions of dade infinita. Seus argumentos podem ser
equality and inequality, and therefore expostos assim: toda a Geometria está fun-
according as we have or have not an ex- dada nas noções de igualdade e desigual-
act standard of that relation, the science dade, e logo, a própria ciência terá menor
itself will or will not admit of great ex- ou maior exatidão, conforme tivermos ou
actness. Now there is an exact standard não um padrão mais ou menos exato dessa
of equality, if we suppose that quantity relação. Ora, existe um padrão exato de
is composed of indivisible points. Two igualdade, supondo-se que a quantidade
lines are equai when the numbers of the é composta de pontos indivisíveis. Duas
points, that compose them, are equai, and linhas são iguais quando os números de

102 103
when there is a point in one correspond- pontos que as compõem são iguais, e quan-
ing to a point in the other. But tho' this do cada ponto de uma corresponde a cada
standard be exact, 'tis useless; since we ponto da outra. Mas, mesmo que esse
can never compute the number of points padrão seja exato, é inútil, pois jamais
in any line. It is besides founded on the conseguimos contar o número de pontos
supposition of finite divisibility, and em nenhuma linha. Além disso, isto se
therefore can never afford any conclusion funda na suposição da divisibilidade finita,
against it. If we reject this standard of e, portanto, não pode fornecer qualquer
equality, we have none that has any pre- conclusão contra ela. Se rejeitarmos esse
tensions to exactness. I find two that are padrão de igualdade, não temos outro que
commonly made use of. Two lines above possua quaisquer pretensões de exatidão.
a yard, for instance, are said to be equal, Posso exemplificar com dois padrões comu-
when they contain any inferior quantity, mente usados. Duas linhas sobre unia jar-
as an inch, an equal number of times. da, por exemplo, são consideradas iguais
But this runs in a circle. For the quantity quando contêm qualquer quantidade in-
we cail an inch in the one is supposed to ferior, como uma polegada, o mesmo nú-
be equal to what we call an inch in the mero de vezes. Mas isso é um círculo vicio-
other: And the question still is, by what so. Pois a quantidade que chamamos de
standard we proceed when we judge them polegada, em uma das linhas, é suposta-

104 105
to be equal; or, in other words, what we mente igual à que chamamos de polegada
mean when we say they are equal. If we na outra. E a questão ainda é: por que
take still inferior quantities, we go on in padrão procede-mos quando as julgamos
infinitum. This therefore is no standard iguais: ou, com outras palavras, que que-
of equality. The greatest part of philo- remos dizer quando dizemos que elas são
sophers, when ask'd what they mean by iguais. Se tomarmos quantidades ainda
equality, say, that the word admits of no menores, seguiremos assim in infinitum.
definition, and that it is sufficient to place Logo, não é nenhum padrão de igualdade.
before us two equal bodies, such as two Os filósofos, em sua maioria, quando per-
diameters of a circle, to make us under- guntados sobre o que entendem por igual-
stand that term. Now this is taking the dade, respondem que a palavra não admi-
general appearance of the objects for the te definições, e que basta colocar diante
standard of that proportion, and renders de nós dois corpos iguais, tais como dois
our imagination and senses the ultimate diâmetros de um círculo, para fazer-nos
judges of it. But such a standard admits entender esse termo. Ora, isso é tomar a
of no exactness, and can never afford any aparência geral dos objetos como padrão
conclusion contraty to the imagination dessa proporção, e entregar à nossa ima-
and senses. Whether this question be just ginação e aos nossos sentidos o último
or not, must be left to the learned world julgamento sobre ela. Mas, tal padrão não

106 107
to judge. 'Twere certainly to be with'd, admite nenhuma exatidão e não consegue
that some expedient were fallen upon to fornecer conclusão contrária à imaginação
reconcile philosophy and common sense, e aos sentidos. Se a questão é válida ou
which with regard to the question of in- não, o mundo dos sábios deverá julgar. Se-
finite divisibility have wag'd most cruel ria certamente desejável que se descobrisse
wars with each other. algum expediente para reconciliar a filo-
We must now proceed to give some sofia com o senso comum, os quais, no que
account of the second volume of this work, concerne a questão da divisibilidade in-
which treats of the PASSIONS. 'Tis of more finita, sustentaram guerras muito cruéis.
easy comprehension than the first; but Devemos agora continuar, para fa-
contains opinions, that are altogether as zer alguma consideração sobre o segundo
new and extraordinary. The author be- tomo desta obra, que trata das PAIXÕES. É
gins with pride and humility. He ob- de compreensão mais fácil que o primeiro,
serves, that the objects which excite these mas contém igualmente opiniões inteira-
passions, are very numerous, and see- mente novas e extraordinárias. O autor co-
mingly very different from each other. meça examinando o orgulho e a humildade.
Pride or self-esteem may arise from the Observa que os objetos que despertam es-
qualities of the mind; wit, good-sense, sas paixões são muitos e, aparentemente,
learning, courage, integrity: from those muito diferentes uns dos outros. O orgu-


108 109
of the body; beauty, strength, agility, lho, ou auto-estima, pode derivar das qua-
good mein, address in dancing, riding, lidades da mente: a sagacidade, o bom-
fencing: from externai advantages; coun- senso, o conhecimento, a coragem e a inte-
try, family, children, relations, riches, gridade; das qualidades do corpo: a beleza,
houses, gardens, horses, dogs, cloaths. He a força, a agilidade, as boas maneiras, a
afterwards proceeds to find out that com- habilidade para dançar, cavalgar e esgri-
mon circumstance, in which ali these ob- mir; das vantagens exteriores: país, famí-
jects agree, and which causes them to lia, filhos, relações, riquezas, casas, jardins,
operate on the passions. His theory like- cavalos, cães, roupas. Em seguida, procura
wise extends to love and hatred, and other descobrir a circunstância comum a todos
affections. As these questions, tho' cu- esses objetos, que os leva a desencadear
rious, could not be rendered intelligible as paixões. Sua teoria se estende igualmen-
without a long discourse, we shall here te ao amor e ao ódio, e outros afetos. Como
omit them. essas questões, embora curiosas, não se-
It may perhaps be more acceptable riam compreendidas sem um longo dis-
to the reader to be informed of what our curso, vamos omiti-las aqui.
author says concerning free-will. He has Talvez o leitor prefira ser informado
laid the foundation of his doctrine in what sobre o que nosso autor diz a respeito do
he said concerning cause and effect, as livre arbítrio. Ele fundamentou sua doutri-

110 111
above explained. "'Tis universally ac- na naquilo que disse a respeito de causa e
knowledged, that the operations of ex- efeito comofoi exposto acima. "É univer-
ternai bodies are necessaty, and that in salmente reconhecido que as operações
the communication of their motion, in dos corpos exteriores são necessárias, e que
their attraction and mutual cohesion, na comunicação de sua moção, em sua
there are not the least traces of indif- atração e mútua coesão, não existem os
ference or liberty. (...) Whatever there- menores traços de indiferença ou liberda-
fore is in this respect on the same footing de. (...) Portanto, tudo o que a tal respeito
with matter, must be acknowledged to be esteja em pé de igualdade com a matéria,
necessaty. That we may kno- w whether deve ser reconhecido como necessário.
this be the case with the actions of the Para sabermos se esse é o caso das ações
mind, we may examine matter, and con- da mente, podemos examinar o assunto e
sider on what the idea of a necessity in perguntar em que se funda a idéia de uma
its operations are founded, and why we necessidade em suas operações, e por que
conclude one body or action to be the in- conduimos que um corpo ou ação é a causa
fallible cause of another. infalível de um outro."
"It has been observed already, that "Já foi observado que em nenhum
in no single instance the ultimate con- só exemplo, a conexão última de qualquer
nexion of any object is discoverable either objeto pode ser descoberta, seja por nossos

112 113
by our senses or reason, and that we can sentidos, ou por nossa razão, e que jamais
never penetrate so far into the essence and podemos penetrar tão profundamente a
construction of bodies, as to perceive the essência e construção dos corpos, a ponto
principie on which their mutual influente de percebermos o princípio sobre o qual
is founded. 'Tis their constant union a- se funda sua mútua influência. É só com
lone, with which we are acquainted; and sua união constante que o conhecemos;
'tis from the constant union the necessity daí se origina a necessidade, quando a
arises, when the mind is determined to mente é determinada a passar de um ob-
pass from one object to its usual atten- jeto para seu habitual correlato, e infere a
dant, and infer the existente of one from existência de um pelo outro. Aqui, pois,
that of the other. Here then are two par- estão duas particularidades que devemos
ticulars, which we are to regard as essen- considerar como essenciais à necessidade,
tial to necessity, viz. the constant union quais sejam, a união constante e a inferên-
and the inference of the mind, and wher- cia da mente, e onde quer que as encontre-
ever we discover these we must acknow- mos, devemos reconhecer uma necessida-
ledge a necessity." Now nothing is more de." Ora, nada é mais evidente do que a
evident than the constant union of par- constante união de ações particulares com
ticular actions with particular motives. motivos particulares. Se todas as ações não
If ali actions be not constantly united with são constantemente ligadas a seus motivos

114 115
their proper motives, this uncertainty is próprios, essa incerteza nada mais é do que
no more than what may be observed evety o que pode ser observado cada dia no com-
day in the actions of matter, where by portamento da matéria, onde, em razão
reason of the mixture and uncertainty of da mistura e incerteza de causas, o efeito
causes, the effect is often variable and é freqüentemente variável e incerto. Trinta
uncertain. Thirty grains of opium will kill grãos de ópio matarão qualquer homem
any man that is not accustomed to it; tho' não acostumado ao seu uso, embora trinta
thirty grains of rhubarb will not always grãos de ruibarbo nem sempre lhe sirvam
purge him. In like manner the fear of de laxativo. Assim também, o medo da mor-
death will always make a man go twenty te sempre levará um homem a afastar-se
paces out of his road; tho' it will not al- vinte passos do seu caminho, embora nem
ways make him do a bad action. sempre o leve a praticar uma má ação.
And as there is often a constant E como freqüentemente existe uma
conjunction of the actions of the will with conjunção constante entre as ações da von-
their motives, so the inference from the tade e seus motivos, assim a inferência de
one to the other is often as certain as any unia para outra é freqüentemente tão certa
reasoning concerning bodies: and there quanto qualquer raciocínio sobre os corpos:
i. /always an inference proportioned to the e há sempre uma inferência proporcional
constancy of the conjunction. On this is à constância da conjunção. Nisso fun-

116 117
founded our belief in wimesses, our credit damenta-se nossa crença em testemunhos,
in history, and indeed all kinds of moral nossa confiança na história, e, na verdade,
evidence, and almost the whole conduct todo tipo de evidência moral, e quase toda
of life. conduta de vida.
Our author pretends, that this rea- Nosso autor assegura que esse racio-
soning puts the whole controversy in a cínio traz nova luz a toda essa controvérsia,
new light, by giving a new definition of ao dar uma nova definição de necessidade.
necessity. And, indeed, the most zealous E, com efeito, os mais zelosos defensores
advocates for free-will must allow this do livre arbítrio devem admitir essa união
union and inference with regard to hu- e inferência no que diz respeito às ações
man actions. They will only den y, that humanas. Negarão apenas que isso esgote
this makes the whole of necessity. But a questão da necessidade. Sendo assim,
then they must shew, that we have an terão de mostrar que temos uma idéia de
idea of something else in the actions of algo mais nas ações da matéria; o que, de
matter; which, according to the foregoing acordo com o raciocínio anterior, é im-
reasoning, is impossible. possível.
Thro' this whole book, there are Ao longo de todo este livro, há gran-
great pretensions to new discoveries in des pretensões de novas descobertas em
philosophy; but if any thing can intitle filosofia; mas se qualquer coisa pode con-

118 119
the author to so glorious a name as that ferir ao autor um título tão glorioso como
of an inventor, 'tis the use he makes of o de inventor, é o uso que ele faz do prin-
the principie of the association of ideas, cípio da associação de idéias, que perpassa
which enters into most of his phiiosophy. a maior parte de sua filosofia. Nossa imagi-
Our imagination has a great authority nação tem grande ascendência sobre nos-
over our ideas; and there are no ideas sas idéias; e não há idéias, distintas umas
that are different from each other, which das outras, que ela não seja capaz de se-
it cannot separate, and join, and com- parar, juntar e compor em todas as varie-
pose into ali the varieties of fiction. But dades da ficção. Mas apesar do império
notwithstanding the empire of the im- da imaginação, existe um elo secreto ou
agination, there is a secret tie or union união entre idéias específicas, que deter-
among particular ideas, which causes the mina a mente a juntá-las mais freqüente-
mind to conjoin them more frequently mente, e faz com que uma, ao surgir, in-
together, and makes the one, upon its ap- troduza a outra. Daí advém o que chama-
pearance, introduce the other. Hence aris- mos apropos do discurso; daí a conexão
es what we call the apropos of discourse: da escrita. E daí aquela linha, ou cadeia
hence the connection of writing: and hence de pensamento, que um homem natural-
that thread, or chain of thought, which a mente sustenta, mesmo na mais vaga ré-
man naturally supports even in the loosest verie. Esses princípios de associação se

120 121
reverie. These principies of association reduzem a três, quais sejam, Semelhança:
are reduced to three, viz. Resemblance; um retrato faz-nos naturalmente pensar
a picture naturally makes us think of the no homem que foi retratado; Contigüi-
mari it was drawn for. Contiguity; when dade: quando St. Denis é mencionado, a
St. Dennis is mentioned, the idea of Paris idéia de Paris ocorre naturalmente; Causa:
naturally occurs. Causation; when we quando pensamos no filho, estamos aptos
think of the son, we are apt to carry our a transferir nossa atenção para o pai. Será
attention to the father. Twill be easy to fácil conceber de quão vastas conseqüên-
conceive of what vast consequence these cias devem ser esses princípios na ciência
principies must be in the science of human da natureza humana, se considerarmos
nature, if we consider, that so far as re- que, no que diz respeito à mente, são esses
gards the mind, these are the only links os únicos elos que atam entre si as partes
that bind the parts of the universe to- do universo, ou que nos ligam com qual-
gether, or connect us with any person or quer pessoa ou objeto exterior a nós. Pois,
object exterior to ourseives. For as it is by sendo apenas por meio do pensamento que
means of thought only that any thing ope- qualquer coisa opera sobre nossas paixões,
rates upon our passions, and as these are e como esses são os únicos laços de nossos
the only ties of our thoughts, they are pensamentos, eles são realmente, para nós,
really to us the cement of the universe, o cimento do universo, e todas as opera-


122 123
and ali the operations of the mind must, ções da mente, em grande medida, devem
in a great measure, depend on them. deles depender.

FINIS FINIS

124 125
EIE
Impressão:
Edeme Ind. Gráfica e Comunicação S.A.
Florianópolis - Tel: (048) 234.1122

EDITORA PARAU1A
Praça Júlio Bozzano, 51/31 - CEP 90040-240
Porto Alegre -Tel/Fax: (051) 331.6546

1995

MrZe° '4XL"J"

Você também pode gostar