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INFRAÇÃO PENAL (CRIME/CONTRAVENÇÃO PENAL)

O conceito de infração penal varia conforme o enfoque.

Enfoque forma: infração penal é aquilo que assim está rotulado em uma norma penal
incriminadora, sob ameaça de pena.
Conceito material: infração penal é comportamento humano causador de relevante e
intolerável lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado, passível de sanção penal.
Conceito analítico: leva em consideração os elementos estruturais que compõem
infração penal, prevalecendo fato típico, ilícito e culpável.

Infração penal é gênero, podendo ser dividida em crime (ou delito) e contravenção penal.

Obs1: o Brasil adotou o sistema dualista ou binário. Divide a infração penal em crime e
contravenção penal.

CURIOSIDADE: na Espanha, a infração penal divide-se em crime, delito e contravenção. No


Brasil é infração penal sinônimo crime, e contravenção penal é sinônimo de crime anão, crime
liliputiano e crime vagabundo.

Obs2: Essas espécies de infração penal não guardam entre si distinções de natureza
ontológica (no mundo do ser, não há diferença), a diferença é axiológica, ou seja, valorativa
(fatos mais graves é crime, fatos menos graves é contravenção).

Obs3: o rótulo de crime ou contravenção penal para determinado comportamento humano,


depende do valor que lhe é conferido pelo legislador (uma opção política).

1. Diferenças entre crime e contravenção penal

Apesar de ontologicamente idênticos (aplicando-se às contravenções as regras gerais do CP),


crime e contravenção possuem algumas diferenças trazidas pela própria lei, diferenças essas
que devem orientar o legislador na sua opção politica (se crime ou contravenção).

1.1. Quanto à pena privativa de liberdade imposta

Art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal:

“Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer
isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a
infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas
alternativa ou cumulativamente”.

Crime: pode ser punido com reclusão ou detenção


Contravenção penal: prisão simples (cumprida sem o rigor penitenciário – art. 6º da
Dec. Lei 3.688-41 - lei das contravenções penais).
RECLUSÃO DETENÇÃO PRISÃO SIMPLES
 Crime mais grave;  Crime menos grave;  Contravenção penal;
 Regime inicial: fechado,  Regime inicial:  Regime inicial: semiaberto
semiaberto e o aberto; semiaberto e o aberto. e aberto.

CUIDADO! Não existe OBS: jamais será cumprido


regime fechado na detenção, no fechado, nem mesmo por
mas pode ser cumprida no meio da regressão.
fechado, por meio da
regressão.

1.2. Quanto à espécie de ação penal

Art. 17 da LCP: A ação penal é pública, devendo a autoridade proceder de ofício.

incondicionada

PÚBLICA

CRIME condicionada

PRIVADA

CONTRAVENÇÃO PENAL Ação penal pública incondicionada.

EXCEÇÃO: A doutrina estabelece como exceção a contravenção das vias de fato (art. 21 da
LCP) também seja ação penal pública condicionada dependendo de representação. Para o
STF e STJ continua incondicionada.

1.3. Quanto à admissibilidade (punibilidade) da tentativa

Art. 4º. LCP: Não é punível a tentativa de contravenção.

CRIME: é punível em regra.


CONTAVENÇÃO: a tentativa não é punível.
1.4. Quanto à extraterritorialidade da lei penal brasileira

CRIME: é admissível extraterritorialidade.


CONTRAVENÇÃO: não admite extraterritorialidade.

Art. 2º da LCP: A lei brasileira só é aplicável à contravenção praticada


no território nacional.

1.5. Quanto à competência para processar e julgar

CRIME:

a) Justiça Estadual;
b) Justiça Federal.
CONTRAVENÇÃO: só é competência da Justiça Estadual.

CUIDADO! Quando o contraventor tem foro por prerrogativa de função federal, a competência
é do TRF.

Art. 109, CF/88: aos juízes federais compete processar e julgar:

IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento


de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e
ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral.

1.6. Quanto ao limite das penas

Art. 10 da LCP: a duração da pena de prisão simples não pode, em


caso algum, ser superior a 5 anos (...).

1.7. Sujeitos (ativo e passivo) do crime.

Sujeito ativo do crime: é a pessoa que pratica a infração penal, qualquer pessoa física,
capaz e com 18 anos completos pode ser sujeito ativo de crime.

ATENÇÃO! Pessoa jurídica pode figurar como sujeito ativo de crime?

A CF/88, no art. 225, § 3º, anuncia: “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados” (grifos
aditados).

Seguindo o mandado constitucional de criminalização, nasceu a Lei 9.605/98 (Lei dos Crimes
Ambientais). Reza seu art. 3º, caput: “As pessoas jurídicas serão responsabilizadas
administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração
seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado,
no interesse ou benefício da sua entidade”.

1ª corrente: a pessoa jurídica não pode praticar crimes, nem ser responsabilizada
penalmente. A empresa é uma ficção jurídica, um ente virtual, desprovido de consciência e
vontade. A intenção do Constituinte não foi criar a responsabilidade penal da pessoa jurídica. O
texto do § 3º do art. 225, da CF apenas reafirma que as pessoas naturais estão sujeitas a
sanções de natureza penal, e que as pessoas jurídicas estão sujeitas a sanções de natureza
jurídica.
Conclusão: A pessoa física pode ser responsabilizada administrativa, civil e
penalmente; a pessoa jurídica pode ser responsabilizada civil e administrativamente,
jamais penalmente.

2ª corrente: apenas pessoa física pratica crime. Entretanto, nos crimes ambientais, havendo
relação objetiva entre o autor do fato típico e ilícito e a empresa (infração cometida por decisão
de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício
da entidade), admite-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica.

Conclusão: A pessoa física pode ser responsabilizada administrativa, civil e


penalmente; a pessoa jurídica também, apesar de reconhecer que pessoa jurídica não
pratica crime.

3ª corrente: a pessoa jurídica é um ente autônomo e distinto dos seus membros, dotado de
vontade própria. Pode cometer crimes ambientais e sofrer pena. A CF/88 autorizou a
responsabilidade penal do ente coletivo, objetiva ou não. Deve haver adaptação do juízo de
culpabilidade para adequá-lo às características da pessoa jurídica criminosa. O fato de a teoria
tradicional do delito não se amoldar à pessoa jurídica, não significa negar sua
responsabilização penal, demandando novos critérios normativos. É certo, porém, que sua
responsabilização está associada à atuação de uma pessoa física, que age com elemento
subjetivo próprio (dolo ou culpa).

Conclusão: tanto pessoa física quanto a jurídica praticam crimes ambientais, podendo
ser responsabilizadas administrativa, civil e penalmente.

ATENÇÃO! A responsabilidade penal da pessoa jurídica está necessariamente atrelada a uma


responsabilidade de uma pessoa física certa e determinada, ou esta pode ser dispensada ?

1. STJ: a denúncia deve imputar o fato criminoso à pessoa física para também abranger a
pessoa jurídica criminosa;
2. STF 1ª Turma: a denúncia pode imputar o fato criminoso somente à pessoa jurídica,
principalmente nos casos em que desconhece a pessoa física autora do comportamento
indesejado ao meio ambiente.
Classificação do crime quanto ao sujeito ativo:

CRIME COMUM CRIME PRÓPRIO CRIME DE MÃO PRÓPRIA


 O tipo penal não  O tipo penal exige  O tipo penal exige
exige qualidade ou qualidade ou qualidade ou
condição especial do condição especial do condição especial do
agente agente. agente, porém, não
 Admite coautoria e  Admite coautoria e admite coautoria,
participação. partição, mesmo de só participação,
pessoas que não chamado de CRIME
Ex: homicídio. possuem os DE CONDUTA
predicados exigidos INFUNGÍVEL.
pelo tipo.
Ex: falso testemunho.
Ex: peculato.
 É incompatível com a
teoria do domínio
do fato, adotada pelo
STF.

1.8. Sujeito passivo: é a pessoa ou ente que sofre as consequências da infração


penal. Pode figurar como sujeito passivo qualquer pessoa física ou jurídica, ou
mesmo ente indeterminado (destituída de personalidade jurídica. Ex: a
coletividade, a família, etc., conhecido pela doutrina como CRIME VAGO).

O sujeito passivo classifica-se em:

a) sujeito passivo constante (mediato, formal, geral ou genérico): É o Estado, interessado


na manutenção da paz pública e da ordem social.

b) sujeito passivo eventual (imediato, material, particular ou acidental): é o titular do


interesse penalmente protegido.

Classificação doutrinária quanto ao sujeito passivo:

1. Sujeito passivo eventual: é classificado em:


a) Comum: o tipo não exige condição especial do ofendido. Ex: homicídio.
b) Próprio: quando o tipo exige condição especial do ofendido. Ex: infanticídio (o
sujeito deve ser nascente ou neonato).
Crimes de dupla subjetividade passiva? Crimes que tem, obrigatoriamente,
pluralidade de vítimas. Ex: violação de correspondência (art. 151 do CP).
Morto pode ser vítima de crime? Não sendo titular de direitos, não é sujeito passivo de
crimes.

CUIDADO: têm-se os crimes contra os respeito aos mortos, a coletividade é a vítima, o CP


punindo a honra do morto, a família é a vitima.

E os animais? Não são vitima de crimes, embora possam figurar como objeto material
do delito. No crime de maus tratos contra animais, a coletividade e o proprietário podem
ser as vítimas.
Pode o homem ser, ao mesmo tempo, sujeito ativo e passivo do crime? Em regra
não. ATENÇÃO: Rogério Greco admite uma exceção no crime de rixa – art. 137 do CP,
caracterizada pelo tumulto generalizado entre mais de duas pessoas.

1.9. Objetos (material e jurídico) do crime material

Objeto material é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa.

É possível crime sem objeto material? Nem todo crime tem objeto material.

Crimes de mera conduta não tem objeto material;


Crimes omissivos puros não possuem objeto matéria;
Crimes formais podem ou não ter objeto material (ex. falso testemunho não tem
objeto material).

ATENÇÃO: Os crimes materiais tem objeto material, porque o resultado, necessariamente,


deve produzir-se sobre pessoa ou coisa.

Objeto material x Crime impossível: a ausência ou impropriedade absoluta do objeto


material faz surgir à figura do crime impossível (art. 17 do CP). Ex: disparar contra
cadáver.

Objeto jurídico do delito revela o interesse tutelado pela norma, o bem jurídico
protegido pelo tipo penal.

Obs1: Crimes pluriofensivos: protegem mais de um interesse jurídico. Ex: crime de roubo
(art. 157) protege a incolumidade pessoal + patrimônio da vítima.

Obs2: não existe objeto sem objeto jurídico. A missão fundamental do direito penal é proteger
bens jurídicos.
2. SUBTRATOS DO CRIME

2.1. Conceito analítico de crime compreende as estruturas do delito prevalecendo, hoje,


que, sob o enfoque analítico, crime é composto de três substratos: fato típico,
ilicitude (ou antijuridicidade) e culpabilidade.

Presento os três substratos, surge para o Estado o direito de punir, consequência


jurídica é a punibilidade.
FATO TÍPICO

1º substrato do crime (Bettiol).

1. CONCEITO: fato humano e indesejado, consistente numa conduta causadora de um


resultado com ajuste a um tipo penal (tipicidade).
2. REQUISITOS:
a) Conduta:
b) Resultado
c) Nexo causal:
d) Tipicidade:

ATENÇÃO: tipicidade penal não se confunde com tipo penal.

TIPICIDADE TIPO PENAL


Operação de ajuste fato-norma. Modelo de conduta proibida

TIPO PENAL

Descreve a conduta proibida pela norma, composto de elementos objetivos e, eventualmente,


elementos subjetivos.
ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO
Relacionados com a finalidade específica de que deve ou não animar o agente
POSITIVO NEGATIVO
Elemento indicando a finalidade que deve Elemento indicando a finalidade que não deve
animar o agente. animar o agente.
Ex: art. 33, § 3º da lei 11.343/06 – “oferecer Ex: art. 33, § 3º da lei 11.343/06 – “oferecer
droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, droga, eventualmente e sem objetivo de lucro,
para pessoa de seu relacionamento, para para pessoa de seu relacionamento, para
junto a consumirem”. junto a consumirem”.

 Elemento positivo: “para juntos a  Elemento negativo: “sem objetivo de


consumirem” (finalidade que deve lucro” (finalidade que não deve existir,
existir). sob pena de se transformar em tráfico
de drogas).
Em resumo:

ELEMENTOS DO TIPO PENAL


OBJETIVOS SUBJETIVOS
Descritivos Normativos Científicos Positivos Negativos

1º REQUISITO DO FATO TÍPICO: CONDUTA

Não há crime sem conduta (“nullum crimen sine conducta”).

OBS. 1: temos doutrina negando a possibilidade da pessoa jurídica de praticar crime


exatamente por não ter conduta, e sim, ser conduzida.

OBS. 2: não se confunde conduta com ato reflexo.

CONDUTA ATO REFLEXO


Movimento voluntário Movimento involuntário

TEORIAS DA CONDUTA

a) Teoria Causalista (Causal Naturalista / Clássica / Naturalística / Mecanicista).

Idealizada por Von Liszt, Beling, Radbruch.


Início do século XIX.

Premissas básicas:

Marcada pelos ideais positivistas;


Segue o método pelas ciências naturais (leis da causalidade);
O mundo deveria ser explicado através da experimentação dos fenômenos, sem espaço
para abstrações.
Trabalha o Direito Penal como se trabalha uma ciência exata – o direito observado
pelos sentidos.

Dica: o de seja do causalista é que o tipo penal seja composto somente de elementos objetivos
descritivos (são os elementos percebidos pelos sentidos).

Crime: (Teoria tripartite)

1. Fato típico (conduta)


2. Ilicitude
3. Culpabilidade
Conduta: movimento corporal voluntário que produz uma modificação no mundo exterior,
perceptível pelos sentidos.

Atenção: o dolo e a culpa são analisados somente na culpabilidade.

De acordo com a teoria causalista, a conduta é composta de vontade, movimento


corporal e resultado, porém a vontade não está relacionada com a finalidade do agente,
elemento este analisado somente na culpabilidade.

Tipo Normal ≠ Tipo Anormal

O causalista quer analisar a conduta utilizando a conduta somente utilizando os


sentidos.

TIPO NORMAL TIPO ANORMAL


 Composto somente de elementos  Composto de elementos objetivos
objetivos descritivos, permitindo normativos ou subjetivos, estes
observar a conduta pelos sentidos; elementos não são compreendido
pelos sentidos.

Críticas:

1- Ao conceituar conduta como “movimento humano”, esta teoria não explica de maneira
adequada os crimes omissivos (inação / sem movimento).

2- Não há como negar a presença de elementos normativos e subjetivos do tipo.

3- Ao fazer a análise do dolo e da culpa somente no momento da culpabilidade, não há como


distinguir, apenas pelos sentidos, a lesão corporal da tentativa de homicídio, por exemplo.

4- É inadmissível imaginar a ação humana como um ato de vontade sem finalidade.

b) Teoria Neokantista (Causal Valorativa)

Idealizada por Edmund Mezger.


Desenvolvida nas primeiras décadas do século XX.

Premissas básicas:

Tem base causalista;


Fundamenta-se numa visão neoclássica, marcada pela superação do positivismo
através da introdução da racionalização do método;
Reconhece que o direito é ciência do dever ser, e não do ser com fundamenta a teoria
causalista.

Crime: (Teoria tripartite)

1. Fato típico (conduta)


2. Ilicitude
3. Culpabilidade

Conduta: Comportamento humano voluntário causador de um resultado.

Dica: a teoria neokantista não se prende aos métodos da ciência exata, não depende somente
dos sentidos. Admite elementos não objetivos descritivos no tipo penal (normativos e
subjetivos). Sabe que o direito é do dever ser, dependendo de elementos normativos para ser
valorado.

Críticas:

1. Permanece considerando dolo e culpa como elementos da culpabilidade.


2. Analisando dolo e culpa somente na culpabilidade, ficou contraditória ao reconhecer
como normal elementos normativos e subjetivos do tipo.
c) Teoria Finalista: Criada por Hans Welzel.
Meados do século XX (1930 – 1960).
Percebe que o dolo e a culpa estavam inseridos no substrato errado (não devem
integrar a culpabilidade).

Teoria causalista Teoria neokantista Teoria finalista


 Dolo e culpa  Dolo e culpa Migra dolo e culpa
analisados na analisados na para o fato típico.
culpabilidade; culpabilidade;

Conduta = Ato de vontade sem conteúdo Conduta = ato de vontade


com conteúdo.

Crime: (nasceu Teoria tripartite)

Fato típico (conduta)


Ilicitude
Culpabilidade

Conduta: Comportamento humano voluntário psiquicamente dirigido a um fim (toda conduta é


orientada por um querer).

Dica: supera-se a cegueira do causalismo com um finalismo vidente.


“Cegueira”? Não enxerga a finalidade do agente na conduta.
“Vidente”? Enxerga a finalidade o agente na conduta.

Críticas:

1. Concentrou sua teoria no desvalor da conduta ignorando o desvalor de resultado.


2. Foi superada. Num primeiro momento, a teoria finalista conceituou conduta como
“comportamento voluntário psiquicamente dirigido a um fim ilícito” (exigindo uma
finalidade ilícita, não explicava os crimes culposos). O conceito foi corrigido excluindo-
se a expressão “ilícita”.
Num primeiro momento, a teoria finalista conceituou conduta como
“comportamento voluntário psiquicamente dirigido a um fim ilícito” (exigindo uma
finalidade ilícita, não explicava os crimes culposos).
Num segundo momento, a teoria finalista conceituou conduta como
“comportamento voluntário psiquicamente dirigido a um fim”, corrigindo o
conceito excluindo-se a expressão “ilícita”. Por isso essa segunda crítica foi
superada.

ATENÇÃO: O fato típico passa a ter duas dimensões:

FATO TÍPICO
DIMENSÃO OBJETIVA DIMENSÃO SUBJETIVA
 Conduta Dolo
 Resultado Culpa
 Nexo causal
 Tipicidade
Conduta = ato de vontade com conteúdo.
d) Teoria Social da Ação

Desenvolvida por Wessels, tendo como principal adepto Jescheck.


A pretensão desta teoria não é substituir as teorias clássica e finalista, mas acrescentar-
lhes uma nova dimensão, qual seja, a relevância social do comportamento.

Teoria causalista Teoria finalista Teoria social da ação


 Movimento humano  Comportamento Comportamento
voluntário, causador psiquicamente psiquicamente
de resultado, dirigido a um fim; dirigido a um fim,
perceptível pelos socialmente
sentigos; reprovável;

Crime: (Teoria tripartite)

1. Fato típico (conduta)


2. Ilicitude
3. Culpabilidade

Conduta: Comportamento humano voluntário psiquicamente dirigido a um fim, socialmente


reprovável.
Atenção: dolo e culpa integram o fato típico, mas são novamente analisados no juízo da
culpabilidade. O crime é fato típico, ilícito e culpável, a conduta permanece no fato típico, mas o
dolo e a culpa são analisados na culpabilidade.

Crítica: A principal crítica reside na vagueza do conceito “socialmente relevante”. Trata-se de


noção muito ampla, sendo arriscado incorporá-la ao Direito Penal, limitando sua intervenção.

1. Ganham força e espaço na década de 1970, discutidas com ênfase na Alemanha.


2. Buscam adequar a dogmática penal aos fins do Direito Penal.
3. Percebem que o Direito Penal tem necessariamente uma missão e que seus institutos
devem ser compreendidos de acordo com essa missão – (edificam o Direito Penal a
partir da função que lhe é conferida).

Conclusão: As teorias causalista, neokantista, finalista e social da ação analisam a conduta


sem atentar para a real missão do Direito Penal, superado pela teoria funcionalista, que analisa
a conduta e demais elementos do crime, de acordo com a missão do Direito Penal.

e) Funcionalismo (Teorias Funcionalistas)


1. Ganham força e espaço na década de 1970, discutidas com ênfase na Alemanha.
2. Buscam adequar a dogmática penal aos fins do Direito Penal.
3. Percebem que o Direito Penal tem necessariamente uma missão e que seus institutos
devem ser compreendidos de acordo com essa missão – (edificam o Direito Penal a
partir da função que lhe é conferida).

Conclusão: a conduta deve ser compreendida de acordo com a missão conferida ao Direito
Penal.
FUNCIONALISMO TELEOLÓGICO / DUALISTA / MODERADO / DA POLÍTICA CRIMINAL

CRIME: para Roxin, o crime é composto de três substratos: conduta pertence ao (fato típico),
ilicitude e reprovabilidade, esta última constituída de imputabilidade, potencial consciência da
ilicitude do fato, inexigibilidade de conduta diversa, necessidade de pena. Pena desnecessária
passa-se a não ter fato reprovável e não há mais crime.

Missão do Direito Penal: proteção de bens jurídicos.

Proteger os valores essenciais à convivência social harmônica.

Conduta: Comportamento humano voluntário causador de relevante e intolerável lesão ou


perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. Conceito atrelado à missão do Direito Penal.

FUNCIONALISMO SISTÊMICO / MONISTA / RADICAL

CRIME: para Jakobs, o crime é composto dos seguintes substratos:

Fato típico – conduta.


Ilicitude;
Culpabilidade;

Missão do Direito Penal: Assegurar a vigência do sistema.

Está relativamente vinculada à noção de sistemas sociais (Niklas Luhmann).


Conduta: Comportamento humano voluntário causador de um resultado violador do sistema,
frustrando as expectativas normativas.

As premissas sobre as quais se funda o Funcionalismo Sistêmico deram ensejo à exumação da


TEORIA DO DIREITO PENAL DO INIMIGO, representando a construção de um sistema
próprio para o tratamento do indivíduo infiel a sistema, umbilicalmente de acordo com a missão
do Direito Penal.

A teoria do Direito Penal do Inimigo está presente nos pensadores filósofos da antiguidade.

DIREITO PENAL DO INIMIGO / DIREITO PENAL BÉLICO:

FUNDAMENTOS: o delinquente, autor de determinados crimes não é ou não deve ser


considerado como cidadão, mas como um cancro societário que deve ser extirpado (Munoz
Conde).

PENSADORES: Protágoras, São Tomás de Aquino, Kant, Locke, Hobbes.

Jakobs exumou o Direito Penal do inimigo (e não o inventou), inspirando-se nestes


pensadores.
Jakobs fomenta o Direito Penal do inimigo para o terrorista, traficante de drogas, de
armas e de seres humanos e para os membros de organizações criminosas
transnacionais.

Lei 12.850/13.

CARACTERÍSTICAS:

1. Antecipação da punibilidade com a tipificação de atos preparatórios. Quer evitar o


inicio da execução de determinados crimes. Já quer punir o crime no nascedouro e não
esperar a execução, flexibilizando o princípio da lesividade.
2. Condutas descritas em tipos de mera conduta e de perigo abstrato.
3. Descrição vaga dos crimes e das penas, flexibilizando o princípio da legalidade.
4. Preponderância do Direito Penal do Autor, flexibilização do princípio da exteriorização
do fato.
5. Surgimento das chamadas “leis de luta e de combate”: leis de ocasião (lei 12.850/13)
– campo fértil para o Direito de Emergência.
6. Endurecimento da execução penal – RDD (regime disciplinar diferenciado)
7. Restrição de garantias penais e processuais: Direito Penal de 3ª velocidade.

Qual dessas teorias o Brasil adotou?

O Código Penal, com a reforma de 1884, de acordo com a maioria, adotou o finalismo.

CUIDADO: o Código Penal Militar é causalista, analisando dolo e culpa na culpabilidade.

CÓDIGO PENAL MILITAR

“Art. 33. Diz-se o crime:


Culpabilidade
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de
produzi-lo;
II - culposo, quando o agente, deixando de empregar a cautela,
atenção, ou diligência ordinária, ou especial, a que estava obrigado em
face das circunstâncias, não prevê o resultado que podia prever ou,
prevendo-o, supõe levianamente que não se realizaria ou que poderia
evitá-lo.
Excepcionalidade do crime culposo
Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser
punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica
dolosamente.”
A doutrina moderna trabalha com as premissas do funcionalismo de Roxin, salvo o
substrato da reprovabilidade, que não vingou.

1º REQUISITO DO FATO TÍPICO: CONDUTA – CARACTERÍSTICAS

1. Comportamento voluntário (dirigido a um fim);

Está presente nas condutas culposas e dolosas.

Condutas dolosas: o fim é a lesão ou o perigo de lesão ao bem jurídico


tutelado.
Condutas culposas: prática de um ato, cujo resultado previsível seja
capaz de causar lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado.

2. Exteriorização da vontade

A vontade aparece por meio de uma ação ou omissão.


 CONDUTA: CAUSAS DE EXCLUSÃO

1. Caso fortuito ou força maior

Maria Helena Diniz:

Força maior: fato da natureza ocasionando o acontecimento (ex.: raio que provoca
incêndio).
Caso fortuito: o evento tem origem em causa desconhecida (ex.: cabo elétrico que sem
motivo aparente se rompe provocando incêndio).

Em resumo: nos dois casos, estar-se diante de fatos imprevisíveis ou inevitáveis, não havendo
comportamento voluntário. Se não há comportamento voluntário, não há conduta.

2. Involuntariedade

Ausência de capacidade de dirigir a conduta de acordo com uma finalidade.

a) Estado de inconsciência completa: Ex: sonambulismo e hipnose (não existe


comportamento voluntário).
b) Movimento reflexo: sintoma de reação automática do organismo a um estímulo
externo (ato desprovido de vontade);

Movimento reflexo x reação em curto circuito.

Movimento reflexo Reação em curto circuito


 Impulso completamente fisiológico,  Movimento relâmpago provocado pela
desprovido de vontade; excitação, acompanhado de vontade.
 Ex: susto.  Ex: excitação de torcida organizada
 Não há conduta. (comuns em crimes multitudinários ou
crimes de multidão, onde o agente age
com dolo de ímpeto).
 Há conduta.

3. Coação física irresistível: o coagido é impossibilitado de determinar seus movimentos


de acordo com a sua vontade.

CUIDADO: não abrange a coação moral irresistível.


Coação moral irresistível Coação física irresistível
É inexigibilidade de conduta diversa, Exclui conduta e, por sua vez,
desaparecendo culpabilidade. desaparece o fato típico;
CRIME DOLOSO

Art. 18 - Diz-se o crime:


Crime doloso
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de
produzi-lo;

CRIME DOLOSO

Dolo: vontade consciente dirigida a realizar (ou aceitar realizar) a conduta descrita no tipo
penal.

ATENÇÃO: a noção de dolo não se esgota na realização da conduta, abrangendo resultado e


demais circunstâncias da infração penal, para evitar responsabilidade penal objetiva.

Elementos do dolo:

1. Elemento volitivo: vontade de praticar a conduta descrita na norma.


2. Elemento intelectivo: consciência da conduta e do resultado que poderá advir dessa
conduta.

CUIDADO: não raras vezes há doutrina conceituando dolo como vontade + livre + consciência.
A liberdade ou não da vontade não é elemento do dolo, mas circunstâncias que deve ser
analisada na culpabilidade.

1ª situação: vontade + livre + consciência (dolo – com culpabilidade);

2ª situação: vontade + não livre + consciência (dolo – sem culpabilidade);

Dolo é a vontade consciente de querer praticar a infração penal.

Teorias do dolo

1. Teoria da vontade

Dolo é a vontade consciente de querer praticar a infração penal.

2. Teoria da representação
Fala-se em dolo sempre que o agente tiver a previsão do resultado como possível e, ainda
assim, decidir prosseguir com a conduta.

ATENÇÃO: acaba abrangendo no conceito de dolo a culpa consciente.


3. Teoria da representação

Fala-se em dolo sempre que o agente tiver a previsão do resultado como possível e, ainda
assim, decidir prosseguir com a conduta, assumindo o risco de produzir o evento.

ATENÇÃO: não mais abrange a culpa consciente, uma vez que o agente não mais assume o
risco de produzir o evento, acreditando evita-lo.

4. Teoria do consentimento / assentimento

Fala-se em dolo sempre que o agente tiver a previsão do resultado como possível e, ainda
assim, decide prosseguir com a conduta, assumindo o risco de produzir o evento.

# Quais dessas teorias foram adotadas no Brasil?

Teorias da vontade
Teoria do assentimento

CONSIDERA-SE O CRIME DOLO TEORIA


DOLOSO
Quando o agente quis o Direto Teoria da vontade
resultado
Quando o agente assumiu o Eventual Teoria do assentimento
risco de produzi-lo.

Espécies de dolo:

1. Dolo normativo ou híbrido: adotado pela teoria neoclássica ou neokantista, essa


espécie de dolo integra a culpabilidade, trazendo, a par dos elementos consciência e
vontade, também a consciência atual da ilicitude, elemento normativo que o diferencia
do dolo natural.
1.1. Elementos:
a) Elemento volitivo – vontade;
b) Elemento intelectivo – consciência;
c) Elemento normativo – consciência atual da ilicitude.

2. Dolo natural ou neutro: é o dolo componente da conduta, adotado pela teoria finalista.
O dolo pressupõe apenas consciência e vontade.
2.1. Elementos:
a) Elemento volitivo – vontade;
b) Elemento intelectivo – consciência;

OBS: despido do elemento normativo consciência da ilicitude (passou a ser elemento da


própria culpabilidade).
3. Dolo direto / determinado / imediato / incondicionado. Configura-se quando o
agente prevê um resultado, dirigindo sua conduta na busca de realizar esse evento.
4. Dolo indeterminado / indireto: o agente, com sua conduta não busca resultado certo
e determinado.
4.1. Dolo alternativo
O agente prevê pluralidade de resultados, dirigindo a sua conduta para realizar
qualquer deles.
Tem a mesma intensidade de vontade de realizar os resultados previstos.

Atenção! A doutrina divide o dolo alternativo em duas espécies:

a) Dolo alternativo objetivo: ocorre quando a vontade indeterminada estiver relacionada


com o resultado em face da mesma vítima. Ex: disparar contra a vítima para ferir ou
matar, tanto faz.
b) Dolo alternativo subjetivo: ocorre quando a vontade indeterminada envolver vítimas
diferentes de um mesmo resultado. Ex: disparo contra grupo de pessoas para matar
qualquer delas.

4.2. Dolo eventual

O agente prevê pluralidade de resultados, dirigindo a sua conduta para realizar


um deles, assumindo o risco de realizar o outro.
A intensidade da vontade em relação aos resultados previstos é diferente.
DOLO ALTERNATIVO DOLO EVENTUAL
Os resultados previstos são Os resultados não são todos queridos,
igualmente queridos. Ex: arts. 129 ou quer a lesão, mas quanto o homicídio
121. assume o risco.

5. Dolo cumulativo: o agente pretende alcançar 2 resultados em sequência

Obs: hipótese de progressão criminosa.

Ex.: o agente, depois de ferir a vítima, resolve provocar sua morte.

DOLO ALTERNATIVO DOLO CUMULATIVO


O agente quer ferir ou matar O agente quer ferir e, depois, resolve matar

6. Dolo de dano: a vontade do agente é causar efetiva lesão ao bem jurídico tutelado.

Ex: dirige a conduta para matar a vítima – art. 121 do CP.

7. Dolo de perigo: o agente atua com a intenção de expor a risco o bem jurídico tutelado.

Ex: dirige a conduta para periclitar a vida da vítima – art. 132 do CP.

8. Dolo genérico: o agente atua com vontade de realizar a conduta descrita no tipo penal
sem um fim específico.
9. Dolo específico: o agente atua com vontade de realizar a conduta descrita no tipo
penal com um fim específico.

OBS.: hoje não se fala mais em dolo genérico e dolo específico.

Dolo genérico – dolo


Dolo específico – dolo + elemento subjetivo do tipo.

10. Dolo geral / erro sucessivo: Analisado na aula de erro de tipo.


11. Dolo de 1º grau: é o dolo direto.

12. Dolo de 2º grau: é também espécie de dolo direito.

No dolo de 2º grau, a vontade do agente se dirige aos meios utilizados para alcançar
determinado resultado.
Abrange os efeitos colaterais do crime, de verificação praticamente certa.
Obs: O agente não persegue imediatamente os efeitos colaterais, mas tem por certa sua
ocorrência, caso se concretize o resultado imediatamente pretendido. Ex:

DOLO DE 2º GRAU E DOLO EVENTUAL - DIFERENÇAS

DOLO DE 2º GRAU DOLO EVENTUAL


Espécie de dolo direto Espécie de dolo indireto
O resultado paralelo é certo e O resultado paralelo é incerto e
inevitável; evitável.
Ex: abater o avião para matar o piloto, Ex: atirar carro em movimento para
com relação aos demais tripulantes matar motorista, demais passageiros
tem-se dolo de 2º grau (morte certa). tem-se dolo eventual (morte incerta).

13. DOLO
a) Dolo antecedente:
b) Dolo concomitante: o único dolo que interessa.
c) Dolo subsequente:

DOLO ANTECEDENTE DOLO CONCOMITANTE DOLO SUBSEQUENTE


O dolo é anterior a É o dolo existente É o dolo posterior a
conduta; no momento da conduta;
conduta;
14. Dolo de propósito: A vontade é refletida, pensada.

Obs: caracteriza a premeditação. CUIDADO: a premeditação não necessariamente agrava ou


qualifica o crime.

15. Dolo de ímpeto: caracterizado por ser repentino, sem intervalo entre a fase da
cogitação e da execução.

Obs: presente nas ações de curto circuito. É atenuante de pena (art. 65, “e” do CP).

CRIME CULPOSO

Art. 18 - Diz-se o crime:

Crime culposo

II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência,


negligência ou imperícia.

Conceito: O crime culposo consiste numa conduta voluntária que realiza um evento ilícito não
querido ou aceito pelo agente, mas que lhe era previsível (culpa inconsciente) ou
excepcionalmente previsto (culpa consciente) e que poderia ser evitado se empregasse a
cautela necessária.

CRIME CULPOSO = Conduta voluntária + resultado ilícito involuntário.

CP MILITAR

“Art. 33. Diz-se o crime:

II - culposo, quando o agente, deixando de empregar a cautela,


atenção, ou diligência ordinária, ou especial, a que estava obrigado em
face das circunstâncias, não prevê o resultado que podia prever ou,
prevendo-o, supõe levianamente que não se realizaria ou que poderia
evitá-lo.”

Elementos do crime culposo:

1. Conduta humana voluntária: ação ou omissão dirigida pelo querer, causando um


resultado involuntário.
DOLO CULPA
Vontade dirigida a realização de um Vontade dirigida a realização de um
resultado ilícito; resultado lícito, diverso daquele que
efetivamente se produz;

2. Violação de um dever de cuidado objetivo:

O agente na culpa viola seu dever de diligência (regra básica para o convívio social).
O comportamento do agente não atende o que esperado pela lei e pela sociedade.

# Como apurar se houve ou não infração do dever de diligência? De acordo com a maioria,
o operador deve analisar a circunstâncias do caso concreto, pesquisando se uma pessoa de
inteligência mediana evitaria o perigo.

 Se evitável pelo homem médio, caracteriza violação do dever de diligência;


 Se inevitável pelo homem médio, não caracteriza violação do dever de diligência

Formas de violação do dever de diligência:

a) Imprudência: precipitação, afoiteza. É a forma positiva da culpa, ligada à ação.

Ex.: conduzir veículo em alta velocidade em dia de chuva.

b) Negligência: ausência de precaução. É a forma negativa da culpa, ligada à omissão.

Ex.: conduzir veículo automotor com pneus gastos.

c) Imperícia: falta de aptidão técnica para o exercício de arte ou profissão.

Ex.: condutor que troca pedal do freio pelo pedal da embreagem, não conseguindo parar o
automóvel.

 Pode haver a cumulação das três formas de violação.

ATENÇÃO! Na denúncia, o Ministério Público deve apontar a forma de violação do dever de


diligência, descrevendo no que consiste, sob pena de inépcia da peça acusatória e a ampla
defesa do denunciado.

Ex.1: “Fulano matou culposamente Beltrano” - não aponta a forma de violação do dever
de diligência.
Ex.2: “Fulano, com manifesta imprudência, matou Beltrano” - aponta a forma de violação
do dever de diligência, não descreve no que consistiu a imprudência.

Ex.3: “Fulano, dirigindo em alta velocidade em dia de chuva, nisso, aliás, consistiu sua
imprudência, matou Beltrano” – FORMA CORRETA: aponta não só no que consiste a
forma de violação do dever de diligência, como descreve no que consistiu a imprudência.

# PROBLEMA: MP denuncia Fulano por crime culposo, indicando ter havido imprudência.
Durante a instrução, comprova-se a culpa, porém decorrente de negligência. O juiz pode
condenar Fulano ou deve enviar os autos para o MP aditar a inicial?

# R: para não violar o principio da ampla defesa, o MP deve aditar a inicial (art. 384 do CPP –
emendatio libelis).

3. Resultado naturalístico involuntário: em regra, o crime culposo é material (exige


modificação no mundo exterior).

CULPA = Conduta voluntária + resultado ilícito involuntário.

ATENÇÃO: temos casos excepcionais de crime culposo sem resultado naturalístico (crime
culposo formal ou de mera conduta).

• LEI Nº 11.343/06 (ART. 38)

Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas


necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50


(cinqüenta) a 200 (duzentos) dias-multa.

Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho Federal


da categoria profissional a que pertença o agente.

4. Nexo entre conduta e resultado:


5. Resultado involuntário previsível: possibilidade de prever o perigo advindo da conduta.

CUIDADO: ainda que previsto o perigo não se descarta a culpa, desde que o agente acredite
poder evitar o resultado previsto (culpa consciente).

6. Tipicidade:
Art. 18, parágrafo único, CP.

Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser


punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica
dolosamente.

Se o tipo penal quer punir a forma culposa, deve ser expresso.


No silêncio, o tipo penal só é punido a título de dolo.
Princípio da excepcionalidade do crime culposo.

OBS: para punir a culpa o legislador tem que se expresso.

EM RESUMO: ELEMENTOS ESTRUTURAIS DA CULPA

1. Conduta humana voluntária


2. Violação do dever de cuidado objetivo
3. Resultado involuntário
4. Nexo causal
5. Previsibilidade
6. Tipicidade

# E a previsibilidade subjetiva?

#R: A previsibilidade subjetiva, entendida como a possibilidade de conhecimento do perigo,


analisada sob o prisma subjetivo do autor, levando em consideração dos seus dotes
intelectuais (e não do homem médio), sociais e culturais, não é elemento da culpa, mas será
analisada pelo magistrado na culpabilidade, no campo da exigibilidade de conduta diversa.

ESPÉCIES DE CULPA:

1. Culpa consciente (com previsão / “ex lascivia”): o agente prevê o resultado, mas
espera que ele não ocorra, supondo poder evitá-lo com suas habilidades ou com a
sorte.

Obs: o agente mais do que previsibilidade tem previsão, porém o resultado continua
involuntário.

2. Culpa inconsciente (sem previsão / “ex ignorantia”): o agente não prevê o


resultado que, entretanto, era previsível.

OBS: qualquer pessoa de diligência mediana teria condições de prever o risco.


3. Culpa própria (propriamente dita): o agente não quer e não assume o risco de
produzir o resultado, mas acaba lhe dando causa por imprudência, negligência ou
imperícia.

- Culpa consciente

OBS.: culpa própria


(gênero)
- Culpa inconsciente

CRIME CULPOSO = Conduta voluntária + resultado ilícito involuntário.

4. Culpa imprópria (por equiparação / assimilação / extensão): É aquela em que o


agente, por erro evitável, imagina certa situação de fato que, se presente, excluiria a
ilicitude (descriminante putativa). Provoca intencionalmente determinado resultado
típico, mas responde por culpa, por razões de política criminal (art. 20, § 1º, 2ª parte
CP).

Culpa impropria – consequência da descriminante putativa por erro evitável

Obs1: a estrutura do crime é dolosa, mas o agente é punido a título de culpa, por razões de
política criminal.

Obs2: sendo a estrutura do crime dolosa, é a única culpa que admite tentativa.

Culpa impropria – conduta voluntária + resultado voluntário (punido a título de culpa por
razões de política criminal).

• CULPA IMPRÓPRIA (art. 20, § 1º, 2ª parte C.P.)

Descriminantes putativas

§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas


circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação
legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o
fato é punível como crime culposo.”

CULPA PRÓPRIA CULPA IMPRÓPRIA


Constituída de conduta voluntária + Constituída de conduta voluntária +
resultado involuntário; resultado voluntário, porém punido a
título de culpa por razões de política
criminal.

5. Culpa presumida (“in re ipsa”): Modalidade de culpa admitida pela legislação penal
anterior ao Código de 1940, consistente na simples inobservância de uma disposição
regulamentar.

Atenção: com a reforma do CP a culpa não se presume, devendo ser comprovada.

VOLUNTARIEDADE - RESUMO

CONSCIÊNCIA VONTADE
DOLO DIRETO O agente tem previsão O agente quer o resultado
DOLO EVENTUAL O agente tem previsão O agente aceita o resultado,
assumindo o risco.
FODA-SE
CULPA CONSCIÊNTE O agente tem previsão O agente não quer e não
aceita o resultado,
FUDEU acreditando poder evitar.
CULPA INCONSCIÊNTE O agente tem previsão O agente não tem vontade
quanto ao resultado.

# embriaguez ao volante com resultado morte:

 STF: indica, num primeiro momento culpa consciente, ou seja, o motorista bêbado que
atropela e mata uma pessoa até tem previsão do resultado, mas acredita poder evitar.
Já racha ou pega (competição de veículo automotor em via pública sem autorização) o
Supremo cabível dolo eventual, onde o agente tem previsão e aceita o resultado
considerando o perigo dessa prática.

OBS: no Direito Penal não existe compensação de culpa, aceito no Direito Civil.

CRIME PRETERDOLOSO

Agravação pelo resultado

Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde


o agente que o houver causado ao menos culposamente.

Lembrando: temos várias espécies de crimes agravados (qualificados) pelo resultado.

a) Crime doloso agravado/qualificado pelo dolo (ex.: homicídio qualificado)


b) Crime culposo agravado/qualificado pela culpa (ex.: incêndio culposo qualificado
pela morte culposa)
c) Crime culposo agravado/qualificado pelo dolo (ex.: homicídio culposo qualificado
pela omissão de socorro)
d) Crime doloso agravado/qualificado pela culpa (ex.: Lesão corporal seguida de
morte). Somente essa figura que configura o crime preterdoloso.

No crime preterdoloso, o agente pratica delito distinto do que havia projetado cometer, advindo
da conduta dolosa resultado culposo mais grave do que o projetado.

Obs: cuida-se de figura híbrida, havendo concurso de dolo no antecedente e culpa no


consequente.

DOLO NO ANTECEDENTE E CULPA NO CONSEQUÊNTE.

ELEMENTOS:

a) Conduta dolosa visando determinado resultado


b) Provocação de resultado culposo mais grave que o desejado
c) Nexo causal entre conduta e resultado
d) Tipicidade: não se pune crime preterdoloso sem previsão legal

ATENÇÃO! O resultado deve ser culposo. Se fruto de caso fortuito ou força maior, não
pode ser imputado ao agente (sob pena de responsabilidade objetiva).

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