Você está na página 1de 45

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

ALICIA MARCY DE CARVALHO BELLEGARD

DOLO E RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA: UMA ANÁLISE À


LUZ DA AÇÃO SIGNIFICATIVA

CURITIBA
2021
ALICIA MARCY DE CARVALHO BELLEGARD

DOLO E RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA: UMA ANÁLISE À


LUZ DA AÇÃO SIGNIFICATIVA

Artigo apresentado como requisito parcial à obtenção


do título de Bacharel em Direito, Curso de Graduação
em Direito, Setor de Ciências Jurídicas, Universidade
Federal do Paraná.

Orientador: Professor Doutor Paulo César Busato.

CURITIBA
2021
TERMO DE APROVAÇÃO
AGRADECIMENTOS

Por mil vezes, aos meus pais. Se fiz, o que fiz e irei fazer é por eles. Existe um
universo de coisas em cada um que agradeço, por serem o que são e fazerem o que
fazem. Nada seria ou teria sem eles.
A mim, pela persistência e todas as outras coisas que só eu sei. À Alicia que
desde sempre quis a graduação, que se desdobrou para conquistá-la.
À Universidade Federal do Paraná, minha casa, por vezes mais que minha
própria casa, por me mostrar e ensinar a humanidade, por resistir em tempos
sombrios, por ser parte de um sonho. Tudo que me proporcionou é inesquecível.
A todas as mulheres pelo que são. Principalmente as que me antecedem e não
puderam fazer o que faço agora. Se faço, também é por vocês. Dedico a todas aquelas
que foram impedidas de estudar, trabalhar e serem o que são durante séculos e são
tolhidas até hoje.
Ainda no rol de mulheres fortes e admiráveis, agradeço à Mariana Cesto, minha
luz acadêmica que apareceu nos quarenta e cinco minutos do segundo tempo e hoje
considero amiga. À minha psicóloga, ela sabe de todos os motivos. À minha mãe.
Agradeço pela sorte de compor o GRR noturno de 2016, pela parceira e
cumplicidade pouco vistas nas duas décadas que tenho, se “sobrevivi” foi graças a
todos que o compõe (rs).
A todos meus professores, representados aqui na pessoa de Paulo Busato, o
qual faz jus ao termo “orientador” muito antes de ser oficialmente meu orientador.
Admirável como homem e profissional. Detentor do brilhantismo, sinceridade e
comentários cirúrgicos que pretendo um dia ter.
RESUMO

O objetivo deste trabalho diz respeito a possibilidade de atribuição do dolo em


face a uma pessoa jurídica, a fim de que seja penalmente responsabilizada por um
ato criminoso de maneira independente e autônoma. E o faz partindo-se do
pressuposto de que o ordenamento jurídico penal brasileiro recepcionou a
responsabilidade penal da pessoa jurídica a partir da Constituição Federal de 1988.
Espaça
Para tanto, é preciso desmistificar algumas questões relativas a uma imputação penal mento
entre
sobre a pessoa jurídica, de modo que se demonstrará a sua presença e existência em
linhas
momentos históricos muito anteriores à Constituição citada, seja em contexto de simples
common law ou civil law. Se evidenciará a capacidade de ação da pessoa jurídica e a
possibilidade de esta manifestar vontade. Por fim, o presente artigo trata acerca da
possível existência de dolo a partir de uma ação penalmente imputável decorrente de
uma pessoa jurídica, o que se faz com fundamento na filosofia da linguagem e a
concepção significativa de ação.

PALAVRAS-CHAVE: filosofia da linguagem, penal, dolo, ação significativa, pessoa


jurídica.
Tirar caixa alta. Apenas inicia com letra minúscula. // Cada palavra-chave inicia com letra
minúscula e são separadas por ponto (não por virgula)
RESUME

El objetivo de este trabajo consiste en la posibilidad de imputar el dolo a una


persona jurídica, para que pueda ser considerada penalmente responsable por la
comisión de un acto delictivo de manera independiente y autónoma. Lo hace partiendo
de la base según la cual, el ordenamiento jurídico penal brasileño admite la
responsabilidad penal de las personas jurídicas desde la Constitución Federal de
Espaça
1988. Para ello, es necesario desmitificar algunas cuestiones relativas a la imputación
mento
penal de las personas jurídicas, de manera que se demuestre su presencia y entre
linhas
existencia en momentos históricos anteriores a la citada Constitución, ya sea sobre el simples
contexto del common law o del civil law. Asimismo, se evidenciará la capacidad de
acción de la persona jurídica y la posibilidad de que manifieste su voluntad. Por último,
este artículo aborda la posible existencia de dolo a partir de una acción penalmente
imputable derivada de una persona jurídica, lo que se hace a partir de la filosofía del
lenguaje y de la concepción significativa de la acción.

PALABRAS CLAVE: Filosofía del lenguaje, penal, dolo, acción significativa, persona
jurídica.

Tirar caixa alta. Apenas inicia com letra minúscula. // Cada palavra-chave inicia com letra
minúscula e são separadas por ponto (não por virgula)
SUMÁRIO Adequar o sumário levando em conta os
apontamentos inseridos a seguir.

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 8
1 RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA................................................ 9
1.1 COMENTÁRIOS SOBRE A ORIGEM E EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE
PENAL dA PESSOA JURÍDICA ............................................................................................ 9
1.2 AUTORRESPONSABILIDADE E HETERORRESPONSABILIDADE ........................... 13
1.3 A AÇÃO DA PESSOA JURÍDICA SOB O VIÉS SIGNIFICATIVO ................................. 17
2 DOLO – CONCEPÇÕES CLÁSSICAS ............................................................................. 20
2.1 DO CAUSAL NATURALISMO AO FINALISMO: O DOLO NATURAL .......................... 20
2.2. DOLO NORMATIVO E FUNCIONALISMO ....................................................................... 23
2.2.1. Funcionalismo teleológico .................................................................................................... 24
2.2.2 Funcionalismo sistêmico ...................................................................................................... 26
3 O DOLO DA PESSOA JURÍDICA CONFORME UMA CONCEPÇÃO SIGNIFICATIVA
DA AÇÃO ............................................................................................................................... 28
3.1 CONCEPÇÕES CLÁSSICAS DE DOLO E A RESPONSABILIDADE PENAL DA
PESSOA JURÍDICA .............................................................................................................. 28
3.2 O DOLO SEGUNDO UMA CONCEPÇÃO SIGNIFICATIVA .......................................... 30
3.3 A ATRIBUIÇÃO DO DOLO À PESSOA JURÍDICA SEGUNDO UMA CONCEPÇÃO
SIGNIFICATIVA ..................................................................................................................... 34
CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 38
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 39
Verificar a paginação. 8
A folha de capa não contabiliza
como página. (item 15.6, p. 234 -
Manual de normatização)

INTRODUÇÃO A INTRODUÇÃO deve receber o número 1. Ver exemplo, p. 46 do


Manual

Este trabalho pretende demonstrar a possibilidade do dolo da pessoa jurídica.


Tal objetivo se concretizará a partir de um panorama geral acerca da responsabilidade
penal da pessoa jurídica, desde sua origem.
Em segundo momento, será debatida a questão atinente ao dolo, perpassando
suas concepções ontológicas e normativas, do causal-naturalismo ao funcionalismo.
Culminando, por fim, sobre como o dolo pode ser lido e atribuído a uma pessoa
jurídica a fim de gerar uma responsabilização de cunho penal.
Adianta-se desde já que o marco teórico aqui adotado diz respeito às teses
produzidas por Tomás S. Vives Antón, com uma análise a partir da ação significativa
e da filosofia da linguagem.
Tanto a atualidade quanto a importância do tema são cirurgicamente descritos
pelo professor Paulo Busato1, o qual evidencia a constante violação, por pessoas
jurídicas, a bens jurídicos tutelados pelo Direito penal. Destaca-se que importantes
violações a direitos2 têm sido praticadas sob o manto da “inatingibilidade” de uma
pessoa jurídica, mantida por teorias e fundamentos ultrapassados.
Ainda, ao contrário do que possa parecer, não se trata de uma expansão
desenfreada do objeto do Direito penal, mas sim da preservação de seu escopo
fundamental. Daí se denota sua atualidade, visto que, por meio do estado de coisas
atual, nota-se uma constante desobrigação pelas pessoas jurídicas em face dos
danos causados a bens jurídicos como a vida, o meio ambiente, o patrimônio público
e privado, violações estas crescentes.

1 Neste sentido, Paulo Busato: “são precisamente os direitos fundamentais mais básicos das pessoas
que têm sido vilipendiados constantemente pelas atividades corporativas. Qualquer breve vislumbre
das mais recentes e relevantes catástrofes criminosas ocorridas no Brasil faz denotar a presença do
envolvimento de pessoas jurídicas. Desde a instalação de esquemas permanentes de compra de
vantagens ilegais nas contratações públicas envolvendo os mais altos escalões da nação em toda sorte
de crimes contra a administração pública até a destruição de porções inteiras de cidades, rios e
ecossistemas para preservar lucros, todos os crimes mais graves perpetrados no Brasil do século XXI
têm o envolvimento explícito de pessoas jurídicas. Se o Direito Penal não está presente para isso –
vale dizer, para enfrentar os ataques mais graves aos bens jurídicos importantes para o
desenvolvimento social das pessoas – seu desenho passa longe de uma obediência ao princípio de
intervenção mínima. Ele estará, isso sim, servindo de escudo permanente à preservação das
desigualdades sociais em proveito dos poderosos e em detrimento dos oprimidos.”( BUSATO, Paulo
César. A responsabilidade criminal de pessoas jurídicas na história do direito positivo brasileiro. Revista
de Informação Legislativa: RIL, v. 55, n. 218, abr./jun. 2018, p. 95.)
2 Destaca-se aqui os atos cometidos pelo banco HSBC em suposto conluio com narcotraficantes, os

fatos da cidade de Mariana pela empresa Samarco e os ocorridos em Brumadinho pela empresa Vale.
9

Tal vilipêndio, devido a um contexto de supremacia do lucro e do consumo, tem


atingido uma escalabilidade e proporções incalculáveis.
Logo, se indica uma nova leitura do dolo a partir do conceito de ação
significativa de Tomás S. Vives Antón. A adoção de tal teoria não apenas vem a suprir
lacunas e insuficiências deixadas pelos modelos anteriores, como apresenta solução
justa para que haja uma incidência do Direito penal sobre a pessoa jurídica de modo
independente de uma pessoa física.

1 RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA Cada seção primária deve ser


iniciada em página distinta. Ver
item 15.7.2, d, p. 236 do Manual
O objeto do presente estudo diz respeito ao dolo da pessoa jurídica.
Entretanto, em primeiro momento interessa discorrer, em termos gerais, acerca da
responsabilidade penal da pessoa jurídica, o que se faz a partir de sua origem,
perpassando pelos modelos que discorrem acerca de tal responsabilização e tratando
por fim acerca da ação da pessoa jurídica. Posteriormente, tratar-se-á, portanto, de
uma verticalização do tema sobre o dolo.

1.1 COMENTÁRIOS SOBRE A ORIGEM E EVOLUÇÃO DA RESPONSABILIDADE


PENAL DA PESSOA JURÍDICA

Apesar de René Dotti classificar a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98)


como um “modismo contrabandeado do velho mundo”3 e Eugênio Zaffaroni a
interpretar como “novidade legislativa”4, a responsabilidade penal da pessoa jurídica
se mostrou presente em momentos históricos muito anteriores a uma inserção mais
incisiva de dispositivos legais vigentes na Constituição Federal de 1988 ou na Lei nº
9.605/1998 e precederam até mesmo as fórmulas clássicas de teoria do delito.
Explica-se, em síntese, a partir do medievo.5

3 DOTTI, René Ariel (Coord.). Responsabilidade penal da pessoa jurídica: em defesa do princípio da
imputação penal subjetiva. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011ª, p. 163-202.
4 ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Parecer a Nilo Batista sobre a responsabilidade penal das pessoas

jurídicas. In: PRADO, Luiz Régis; DOTTI, René Ariel (Coord.). Responsabilidade penal da pessoa
jurídica: em defesa do princípio da imputação penal subjetiva. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2011, p. 47-68.
5 Cumpre neste momento elucidar questão acerca do nascimento da pessoa jurídica e sua

responsabilização penal. Primeiramente, conforme Shecaira eram “destacadas as sanções da Idade


Antiga à Idade Média, as quais eram impostas às tribos, comunas (pessoas coletivas), cidades, vilas,
famílias” (SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade Penal da Pessoa jurídica – De acordo
10

Nos termos de Affonso Arinos de Mello Franco, “todos os autores são acordes
em constatar que na Idade Média, era habitual e frequente a aplicação de repressões
penais aos atos praticados pelas pessoas jurídicas”6. Igualmente Rothenburg
descreve que “cidades, colégios, monastérios ou corporações de ofício eram sujeitos
criminais ativos reconhecidos pela lei”7. Marinucci8 trata de esclarecer, portanto, que
se trata de equívoco encarar a responsabilidade penal da pessoa jurídica como
criação recente, visto que esta existiu durante sete séculos até o século XIX. Ademais,
Tomás y Valiente é capaz de indicar uma série de momentos em que o Direito Penal
Ibérico abarcava a responsabilidade penal de pessoas jurídicas no período que
antecedeu a queda da Bastilha9.
Acontece que, coincidentemente (ou não) tais previsões sumiram com a
Revolução Burguesa, movimento essencialmente capitalista10.
A ideia de coletividade e a responsabilização do ente coletivo por seus atos
eram predominantes no feudalismo, mas sofreram derrocada com a ascensão de
ideias renascentistas baseadas em um discurso individualista e de defesa dos
interesses burgueses. Ou seja, restava conveniente para a classe em ascensão o

com a Lei 9.605/98. São Paulo: RT, 1998, p. 23). Ou seja, a responsabilização de entres coletivos
existia antes mesma da figura da pessoa jurídica. A origem da pessoa jurídica, entretanto, remonta ao
século XIV, na Inglaterra, por meio das corporations em contexto de ascensão mercantil e
descobrimento de terras. Acerca de sua responsabilidade, “até o século XVII, mesmo as chamadas
business corporations dependiam de autorização governamental – Coroa ou Parlamento – para existir
e já existiam, então precedentes dos Tribunais ingleses, nos quais se responsabilizou penalmente
pessoas jurídicas [...] Pouco a pouco foram sendo criadas novas fórmulas de composição das
corporations, à margem das autorizações ou permissões públicas. A falta dos controles e registros fazia
com que cada vez fosse menos possível a identificação das pessoas físicas que as compunham. Era
o caso das joint stock companies [...] no século XVIII, as join stock companies já desenvolviam
atividades altamente especulativas, com amplo risco de fraude, o que fez com que o Parlamento inglês,
em 1720, aprovasse o Bubble Act, voltado à condenação de entidades não constituídas pela Coroa ou
pelo Parlamento em virtude da prática de crime”. (BUSATO, Paulo César. Responsabilidade penal de
pessoas Jurídicas e a ordem das revoluções. Revista de Estudos Criminais, nº 70, jul/set 2018, p.
49-50).
6 FRANCO, Affonso Arinos de Mello. Responsabilidade Criminal das pessoas jurídicas. Rio de

Janeiro: Graphica Ypiranga, 1930, p. 32.


7 ROTHENBURG, Walter Claudius. A pessoa jurídica criminosa: estudo sobre a sujeição criminal

ativa da pessoa jurídica. Curitiba: Juruá, 1997, p. 30.


8 MARINUCCI, Giorgio. La responsabilidade penal de las personas jurídicas. In: Estudios penales en

homenaje a Enrique Gimbernat Ordeig. Madrid: Edisofer, v. 1, 2008, p. 1173.


9 TOMÁS Y VALIENTE, Francisco. El Derecho penal de la monarquía absoluta. Siglos XVI – XVII –

XVIII. Madrid: Editorial Tecnos, 1969, p. 302.


10 Nesse mesmo sentido, BUSATO evidencia o fato de que, conforme cita, “a revolução industrial

chegou ao continente europeu antes do que a revolução industrial política permitiu uma interferência
para a salvaguarda das atividades das corporações frente ao Estado que não foi possível no Direito
anglo-saxão, eis que, na Inglaterra, as várias e sucessivas revoluções políticas precederam a revolução
industrial”. (BUSATO, Paulo César. Responsabilidade penal de pessoas jurídicas e a ordem das
revoluções. Revista de Estudos Criminais nº 70, jul/set 2018, p. 47).
11

desaparecimento da imputação penal sobre pessoas jurídicas11. Esse movimento,


portanto, se consolida com Feuerbach influenciado por Savigny e a redação da teoria
da ficção12, a qual considera a pessoa jurídica como “incapaz de delinquir”13.
Elucida Paulo Busato, acerca de referido recorte histórico:

“uma vez que o homem e só ele, seria o centro da organização jurídica,


somente contra ele deveriam estar voltados os mecanismos jurídicos de
citação longa, que exceda controle social jurídico-penal. [...] Na penumbra, porém, organizava-se um
arsenal de normas a serem afirmadas relativamente às corporações, sempre
três linhas, não usa aspas. e progressivamente tendo reconhecidos direitos e garantias, mas nunca se
Ver item 8.3.1.2, p. 83 do Manual submetendo ao controle social ingente do sistema punitivo. Como se nota,
resumidamente e mui ao contrário do que se costuma afirmar entre os
penalistas, a ausência de responsabilidade penal de pessoas jurídicas – e
não a sua presença – é um mero soluço histórico, que possui causas
específicas e determinadas, vinculadas às peculiaridades da revolução
francesa” 14

As experiências descritas se deram de forma diferenciada na Inglaterra e, de


consequência, nos Estados Unidos. Com base em precedentes jurisprudenciais, a
responsabilização penal de entes coletivos remonta ao ano de 1846 em um contexto
de nascimento de corporações. À época não se debatia acerca do viés subjetivo da
imputação15, tal questão passou a ser analisada posteriormente com a ascensão e
protagonismo alcançado pelas corporações16. A responsabilização penal de pessoas
jurídicas nesses países perdura até os dias atuais.
Essa experiência pelo common law se deu visto que nos países que o adotam
houve uma revolução política antes da revolução econômica. Ou seja, no momento
em que foi possível alterar os ditames acerca da responsabilização penal da pessoa
Verificar a utilização do termo "ibidem" nas notas de rodapé.
11 Ibidem, p. 62-68. Ver exemplo de utilização no item 8.8.1, p. 115, do Manual.
12 Citada teoria, proveniente do século XIX, nos termos de Paulo Lôbo entende que “só o homem é
capaz de direitos. Mas o sistema positivo pode modificar esse princípio estendendo a capacidade a
entes que não são homens, por simples ficção, para efeitos patrimoniais. Esses entes, sendo simples
ficção da lei, são naturalmente incapazes de querer e agir, e têm necessidade de perpétua
representação, à semelhança dos incapazes. [...] A teoria da ficção corresponde à fase incipiente de
afirmação do Estado liberal. É apropriada ao espírito individualista da época, ao mesmo tempo em que
fortaleceu o nascente Estado [...]”. (LÔBO, Paulo. Direito Civil: parte geral. 3 ed. São Paulo: Saraiva,
2012, p. 167)
13 MIR PUIG, Santiago. Derecho penal. 10 ed. Barcelona: Reppertor, 2015, p. 204.
14 BUSATO, Paulo César. A responsabilidade criminal de pessoas jurídicas na história do direito positivo

brasileiro. Revista de Informação Legislativa: RIL, v. 55, n. 218, p. 85-98, abr./jun. 2018, p. 78.
15 De início, nos termos de Paulo César Busato, “a doutrina britânica cuidou de atribuir responsabilidade

penal à pessoas jurídicas por danos, nos chamados strict liability, onde não se exige elemento subjetivo
(mens rea), pelo que haviam certos delito que, por sua natureza, não poderiam ser reconhecidos como
de autoria da pessoa jurídica”. Houve após a consolidação de discussões sobre o viés subjetivo da
imputação penal da pessoa jurídica, a qual passou a ser amplamente admitida. (BUSATO, Paulo César.
Responsabilidade penal de pessoas Jurídicas e a ordem das revoluções. Revista de Estudos
Criminais nº 70, jul/set 2018, p. 51).
16 Ibidem, p. 57-60.
12

jurídica, já tinha ocorrido a pulverização do poder entre nobreza, clero e a coroa, de


modo que uma mudança nos moldes do que ocorreu em países de civil law (qual seja
a exclusão da pessoa jurídica da responsabilização penal), restou prejudicada17.
Referido apanhado histórico diz respeito à realidade da época em solo europeu.
Em contexto brasileiro, o Código Criminal do Império de 1830 previa a
existência de crimes cometidos por corporação, conforme artigo 80 do referido
Código. Mais além, em 1890 por meio do artigo 1.033, do Código de Processo Penal18,
novamente há menção à possibilidade de cometimento de crime por corporação por
crime que diz respeito à obediência a “superior fora do país”. Acerca do histórico da
responsabilidade penal da pessoa jurídica no Brasil, Busato explica:

“o Império do Brasil foi uma construção política derivada precisamente da


invasão francesa do território português, [...]; obviamente, as ideias que
inspiraram a Revolução Francesa não tinham acolhida. Finalmente, é preciso
citação longa, que exceda dizer que a condição de colônia do Brasil, totalmente vilipendiado e
três linhas, não usa aspas. saqueado, não permitia, na época, a formação de uma estrutura de poder
Ver item 8.3.1.2, p. 83 do Manual econômico burguês à margem do Estado, menos ainda a composição de
grandes corporações capazes de interferir na decisão política. Tal tradição
somente foi suprimida durante um período muito breve de nossa história
legislativa que – não por acaso – coincide precisamente com um Código
Penal editado num regime ditatorial civil e sua reforma redigida sob um
regime ditatorial militar, quando as garantias individuais tiveram escassa
relevância.” 19

Em 1940 houve supressão total no que tange à responsabilidade penal da


pessoa jurídica, influência lógica da teoria do delito alemã aliada à teoria da ficção e
ao delito assentado sob um conceito ontológico de ação.
Atualmente, a Constituição Federal de 1988 inequivocamente abarca a
responsabilidade penal da pessoa jurídica, por meio dos artigos 173, § 5º e 225, § 3º.
Além disso, a Lei de Crimes Ambientais, em seu artigo 3º, define que “as pessoas
jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o

17 Ibidem, p. 74.
18 Interessante evidenciar que Costa e Silva descreve que a responsabilidade penal da pessoa jurídica
passou a sofrer restrições, através do artigo 25 do Código de Processo Penal de 1890, o qual descrevia
que “a responsabilidade penal é exclusivamente pessoal”. Porém, relata o autor que “[...] nem sempre
assim se pensou. O direito canônico admitiu a responsabilidade penal dos entes coletivos (capítulos,
conventos, congregações, cidades, municípios). Sob o influxo do direito germânico, a pratica medieval
reconheceu que taes entes eram capazes de perpetrar crimes que podiam por causa deles sofrer
punição. Essa capacidade foi combatida por Sinibaldo dei Fieschi (depois de Innocencio IV), que,
afirmando ser a universitas uma pessoa meramente ideal ou fictícia concluiu que ella não podia praticar
acto algum” (SILVA, Antonio José da Costa. Código Penal dos Estados Unidos do Brasil
comentado. Ed. Fac-similar. Brasília: Senado Federal, 2004, p. 155).
19
BUSATO, Paulo Cesar. Direito Penal: Parte Geral. Atlas Editora, 2011, p. 94.
13

disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu
órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade”.20
Logo, evidente que a responsabilidade penal da pessoa jurídica não se trata de
uma novidade e menos ainda que está atrelada exclusivamente ao common law. Além
disso, sua supressão, inclusive no Brasil, se deu devido a um contexto de ascensão
de ideais capitalistas e o retorno de sua previsão legal atualmente é incontestável.

1.2 AUTORRESPONSABILIDADE E HETERORRESPONSABILIDADE

Para tratar acerca da atribuição subjetiva em face de entes coletivos,


precipuamente é preciso realizar um recorte no que diz respeito aos modelos de
heterorresponsabilidade e autorresponsabilidade.
Em linhas gerais, no que tange à heterorresponsabilidade21, a responsabilidade
penal da pessoa jurídica é condicionada à atuação de uma pessoa física, por meio da
qual esta age em nome ou benefício daquela22, a pessoa física é responsabilizada em
conjunto com a pessoa jurídica. Figura como defensor desta posição doutrinária
Shecaira, o qual afirma que:

20 Nesse sentido, Rothenburg: “a Constituição só não disse expressamente que a pessoa jurídica é
responsável criminalmente. Porém, deixou explícito, verbalmente, que a lei poderá instituir esta
responsabilidade” (ROTHENBURG, Walter Claudius. Pessoa jurídica criminosa. Curitiba: Juruá,
1997, p. 24) No mesmo sentido, indica Fernando Galvão que, “na perspectiva de uma interpretação
literal, lógico-sistemática ou teleológica, fica evidente que a Constituição permite a responsabilidade
penal da pessoa jurídica” (GALVÃO, Fernando. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. 2. ed.
Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 6).
21 Destaca-se que são considerados dois modelos em heterorresponsabilidade: o modelo vicariante e

o de identificação, ambos oriundos do Direito Civil baseados no conceito de respondeat superior. Sobre
respondeat superior, Busato e Ângela dos Prazeres: “é um conceito fundamental da jurisprudência
anglo-americana, com reflexos [...] que define um tipo de relação fiduciária entre pessoas naturais e
jurídicas que surge quando uma organização – principal -, consciente de que outra – o a gente -, a qual
controla, atua em seu nome, ou age em sua representação. [...] daí deriva o princípio da respondeat
superior, consistente em um critério de atribuição de responsabilidade ao ente principal pelas
consequências legais dos atos praticados pelo agente controlado.” (BUSATO, Paulo César;
PRAZERES, Ângela. Heterorresponsabilidade e autorresponsabilidade penal de pessoas jurídicas.
Especial referência ao fato de conexão” In: GRECO, Luís; BUSATO, Paulo César. Responsabilidade
penal de pessoas jurídicas: anais do III seminário Brasil-Alemanha. Ed. São Paulo: Tirant lo
Blanch, p. 12).
22 GUARAGNI, Fábio André. “Interesse ou benefício” como critérios de responsabilização da pessoa

jurídica decorrentes de crimes – a exegese italiana como contributo à interpretação do art. 3o da lei
9.605/1998. In: BUSATO, Paulo César; GUARAGNI, Fábio André. Responsabilidade penal da
pessoa jurídica: fundamentos criminológicos, superação de obstáculos dogmáticos e requisitos
legais do interesse e benefício do ente coletivo para a responsabilização criminal. Curitiba: Juruá,
2013, p. 71.
14

citação longa, que exceda “É impensável haver responsabilidade coletiva sem a co-autoria da pessoa
individual, em face da relevância daquela conduta para o reconhecimento do
três linhas, não usa aspas. crime da pessoa coletiva e desse co-autor para a execução do crime. Pode-
Ver item 8.3.1.2, p. 83 do Manual se afirmar que um crime só existirá quando houver sacrifício a um bem
jurídico relevante na órbita penal.” 23

Ou seja, além da violação a bem jurídico e demais requisitos atinentes à


configuração do crime, seria necessário a coautoria da pessoa física a fim de
estabelecer a responsabilidade da pessoa jurídica em esfera penal. Isto pois, partindo
do pressuposto de que a análise subjetiva é reservada à pessoa natural, a pessoa
jurídica atuaria através de seus representantes (pessoa física) que são sujeitos da
ação, os quais produzem os efeitos penalmente imputáveis, restando à pessoa
jurídica uma imputação de caráter objetivo24. Posicionamento este proveniente da
crença de que, com base em conceitos finalistas, falta ao ente coletivo a capacidade
de ação ou omissão típica.
Na concepção vicariante de heterorreponsabilidade, a responsabilidade da
pessoa jurídica é decorrente da atuação de pessoa diversa25. Aqui, se fala em
responsabilidade penal da pessoa jurídica caso o ato da pessoa física tenha ocorrido
no exercício de suas funções e com a intenção de beneficiar o ente moral.
Já o modelo de identificação utiliza do conceito de órgão. Entendendo-se o
órgão como parte da pessoa jurídica, se a pessoa natural age como órgão do ente
coletivo, logo, o ato do órgão responsabiliza a pessoa jurídica em si como um todo26.
Ou seja, quando a pessoa física representante do ente moral pratica um ilícito,
entende-se que a própria pessoa jurídica também cometeu o crime.

23 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade penal da pessoa jurídica – de acordo com a Lei
9.605/98. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1998. p. 149.
24 Nesse sentido, explica-se: “esses efeitos jurídicos realizados pela pessoa física podem sim coincidir

com os efeitos naturalísticos descritos pelo tipo objetivo, mas tão-somente o exercício da vontade – em
sentido psicológico – é portador da possibilidade de imputação subjetiva em termos jurídico-penais. A
vontade de agir, porém, não pode ser imputada à pessoa jurídica, ou seja, a vontade do representante
ou dos membros da pessoa jurídica não pertence à pessoa jurídica. Apenas os efeitos – a situação de
fato objetiva, resultante da ação da pessoa individual – podem ser atribuídos – objetivamente – à
pessoa jurídica.” CARVALHO, Érika Mendes de; CARVALHO, Gisele Mendes de. Direito penal de risco
e responsabilidade penal das pessoas jurídicas: fundamentos e implicações. In: PRADO, Luiz Régis;
DOTTI, René Ariel (Coord.). Responsabilidade penal da pessoa jurídica: em defesa do princípio
da imputação penal subjetiva. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2010. p. 254.
25 GUARANI, Fábio André; LOUREIRO, Maria Fernanda. Responsabilidade penal da pessoa jurídica:

rumo à autorresponsabilidade penal, in: CHOURK, Fauzi Hassan; LOUREIRO, Maria Fernanda
(coord.)]. Aspectos contemporâneos da responsabilidade penal da pessoa jurídica. Tomo II. São
Paulo: FECOMÉRCIO, 2015, p. 173-174.
26 HEINE, Gunter. La responsabilidad penal de las empresas: evolución internacional y consecuencias

nacionales, in: HURTADO POZO, José. Responsabilidad penal de las personas jurídicas, 1997, p.
23-25.
15

Tais modelos esbarram em problemas essenciais, dentre os quais limita-se a


citar nesse momento, além da imposição de dependência da pessoa jurídica pela
pessoa física, a questão ligada ao princípio da culpabilidade, visto que “uma das
questões centrais em termos de imputação penal é que qualquer réu só pode
responder por fatos próprios e jamais por fatos alheios”27.
Em contraposição às teses descritas, para autores inclinados a uma
interpretação com base na autorresponsabilidade, a pessoa jurídica deve responder
pelo ilícito penal independentemente da imputação a uma pessoa física28. Aqui, nas
palavras do professor Paulo Busato e Tracy Reinaldet, “a responsabilidade penal da
pessoa jurídica pode ser a única existente em um caso concreto, o que faz denotar
sua mais completa autonomia”29. Assim, caso ocorresse a participação da pessoa
Intervenção /
física, esta se daria por meio do concurso de pessoas. contribuição
Há modelos que se pretendem de autorresponsabilidade e cita-se aqui a
imputação baseada em problemas na auto-organização da pessoa jurídica.
Desenvolvido por Gomez-Jara Díez, o professor Paulo Busato o define da seguinte
maneira:

“os defensores desta perspectiva assumem a ideia de autorreferencialidade


da empresa [...] sendo a pessoa jurídica ou física, a pena tem o sentido de
estimular a adoção de uma postura de cidadão fiel ao Direito. Afirma-se ser
citação longa, que exceda possível a RPPJ, estando presentes os seguintes requisitos: um fato de
três linhas, não usa aspas. referência; a circunstância de que a pessoa jurídica tenha se organizado de
tal modo a gestar um risco acima do permitido de ocorrência de fatos como o
Ver item 8.3.1.2, p. 83 do Manual de referência; que tal risco tenha se realizado no resultado lesivo concreto;
que se tenha atuado em nome ou por conta da pessoa jurídica e que tudo
tenha sido feito de acordo com o interesse da pessoa jurídica [...] não se
imputa fazer, mas sim organizar-se...”30

27 BUSATO, Paulo César; PRAZERES, Ângela. Heterorresponsabilidade e autorresponsabilidade penal


de pessoas jurídicas. Especial referência ao fato de conexão” In: GRECO, Luís; BUSATO, Paulo César.
Responsabilidade penal de pessoas jurídicas: anais do III seminário Brasil-Alemanha. Ed. São
Paulo: Tirant lo Blanch, 2020, p. 10.
28 BUSATO, Paulo César; GUARAGNI, Fábio André. Responsabilidade penal da pessoa jurídica:

fundamentos criminológicos, superação de obstáculos dogmáticos e requisitos legais do


interesse e benefício do ente coletivo para a responsabilização criminal. Curitiba: Juruá, 2013. p.
71.
29 BUSATO, Paulo César; REINALDET, Tracy Joseph. Crítica ao uso dogmático do compliance como

eixo de discussão de uma culpabilidade de pessoas jurídicas. In: GUARAGNI, Fábio André; BUSATO,
Paulo César. Compliance e Direito Penal. São Paulo: Atlas, 2015, p. 33.
30 BUSATO, Paulo César; PRAZERES, Ângela. Heterorresponsabilidade e autorresponsabilidade penal

de pessoas jurídicas. Especial referência ao fato de conexão” In: GRECO, Luís; BUSATO, Paulo César.
Responsabilidade penal de pessoas jurídicas: anais do III seminário Brasil-Alemanha. Ed. São
Paulo: Tirant lo Blanch, 2020, p. 17.
16

que reside
Entretanto, há um equívoco reside no fato de que se exige um ato de referência, e
esse ato é a “existência de uma conduta cometida por uma pessoa física que lesione ou ponha
em perigo bem jurídico protegido”31. Ou seja, exige-se, portanto, uma conduta e, de
consequência, uma dependência de um ato da pessoa física.
Para ir ao encontro com uma verdadeira autorresponsabilidade da pessoa
jurídica, o viés que se deve considerar é aquele fundado na ação significativa32. Isto
pois “o sentido da ação de uma pessoa jurídica simplesmente não tem porque se
sobrepor ao sentido da ação da pessoa física. O que sim, parece necessário, é que
ambas façam sentido, quando de seu uso na linguagem comum”33.
Somente a leitura da autorresponsabilidade com base em concepções
significativas fornece embasamento para superar as limitações das teorias clássicas
acerca da ação da pessoa jurídica, visto que interpretada como expressão de
sentido34. Ademais, por meio de tal teoria os óbices oferecidos pela culpabilidade
restam superados, visto que é possível a identificação de uma vontade35 própria da
pessoa jurídica e a apreensão de uma pretensão subjetiva de ilicitude. Trata-se,
portanto, da existência de uma base de injusto e culpabilidade próprios da pessoa
jurídica, de maneira autônoma e independente36.

31 PÉREZ CEPEDA, Ana Isabel. Modelos Tradicionales de imputación de responsabilidad penal a las
personas jurídicas, in: CUESTA ARZAMENDI, José Luis de la. Responsabilidad penal de las
personas jurídicas, Cizur Menor: Thomson-Aranzadi, 2013, p. 35.
32 Para entender a responsabilidade verdadeiramente autônoma da pessoa jurídica, importante a

superação da crença de que a pessoa jurídica não é capaz de ação. E, ainda melhor, uma
internalização de que a pessoa jurídica é capaz de ação, tema tratado no ponto 1.3.
33 BUSATO, Paulo César; PRAZERES, Ângela. Heterorresponsabilidade e autorresponsabilidade penal

de pessoas jurídicas. Especial referência ao fato de conexão” In: GRECO, Luís; BUSATO, Paulo César.
Responsabilidade penal de pessoas jurídicas: anais do III seminário Brasil-Alemanha. Ed. São
Paulo: Tirant lo Blanch, 2020, p. 22.
34 CARBONELL MATEU, Juan Carlos. Responsabilidad penal de las personas jurídicas: reflexiones em

torno a su dogmática y al sistema de la reforma de 2010. Cuaderno de Política Criminal, núm. 101,
2010. p. 14.
35 Sobre vontade e culpabilidade: “a vontade da pessoa jurídica não deriva de uma mera somatória,

compreendida simplesmente como vontade em direção favorável ou contrária ao ato injusto, mas sim
uma resultante, que em um problema de forças que agem sobre um corpo, pode determinar um
resultado para uma direção diferente de todas as forças que interferem sobre o objeto. [...] este
resultado implica a superação da questão da reprovação pessoal, pois esta reside na possibilidade de
orientação da conduta no sentido da produção de um resultado desvalioso, seja por imprudência, seja
por dolo, conclui-se inevitavelmente atendido o princípio da culpabilidade para a atribuição da RPPJ. A
conduta passa a ser propria da pessoa jurídica, reprovada como tal”. (BUSATO, Paulo César;
PRAZERES, Ângela. Heterorresponsabilidade e autorresponsabilidade penal de pessoas jurídicas.
Especial referência ao fato de conexão” In: GRECO, Luís; BUSATO, Paulo César. Responsabilidade
penal de pessoas jurídicas: anais do III seminário Brasil-Alemanha. Ed. São Paulo: Tirant lo
Blanch, 2020, p. 28-29).
36 PASSAMAR BOLDOVA, Miguel Ángel. La introducción de la responsabilidad penal de las personas

jurídicas en la legislación Española. Estudios Penales y Criminológicos, v. XXXIII. Santiago de


Compostela, 2013, p. 232.
17

Conceito basilar para a compreensão de uma autêntica autorresponsabilidade


do ente moral e de todo o fundamento da teoria significativa é a ação. Logo, passa-se
a discorrer sobre tal categoria.

1.3 A AÇÃO DA PESSOA JURÍDICA SOB O VIÉS SIGNIFICATIVO

Configura desarrazoado discorrer acerca de ação significativa sem se referir


a Tomás Salvador Vives Antón. Seus estudos com fundamento na teoria de Ludwig
Wittgenstein aliado a Habermas formam a essência do que se conhece acerca de
ação significativa. A ação com base em tal teoria, portanto, é vista como expressão
de sentido, do qual deve se levar em consideração seu contexto. Nos termos de Vives,
“a ação […] passa […] a ser entendida não como o que os homens fazem, senão
como o significado do que fazem, não como substrato, senão como sentido”37. O
significado extraído da ação diz respeito a uma interpretação baseada em jogos de
linguagem38.
O critério essencial de análise sobre a ação passa a ser composto de outros
elementos além de exclusivamente a subjetividade, levando em consideração o
contexto social em que é produzida a ação analisada, passando a ser necessária uma
análise global do seu entorno e das regras que a abarcam 39. Acerca do disposto, para
Vives, “a ação, como portadora do sentido, é o resultado de um processo de
interpretação conforme a regras. […] Cada interpretação, até onde a imputação possa
levar-se a cabo, constitui uma nova ação”40. Complementa o tema, o seguinte trecho
de obra do professor Paulo Busato:

37 VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Fundamentos del Sistema Penal: acción significativa y
derechos constitucionales. 2 ed. Valencia: Tirant lo Blanch, 2011, p. 197.
38 Ibidem, p. 227.
39 Acerca das regras e da linguagem, Vives Antón explica: “esta "exterioridade" das regras determina

que o significado da conduta, ou, em outras palavras, o tipo de ação, não pode ser derivado, sem mais,
da regra que o sujeito pretende seguir ou infringir, mas se baseia naquelas que são socialmente
pertinentes a fim de qualificar o seu comportamento. Ou seja: para falar de ação é necessário que os
sujeitos tenham a capacidade de formar e expressar intenções; mas, as ações que realizam não
dependem das intenções que pretendem expressar, mas do significado que é socialmente atribuído ao
que fazem. A analogia com a linguagem pode ser esclarecedora aqui: para que haja linguagem é
necessário que os sujeitos querem dizer algo; mas o significado do que dizem não depende do que
querem dizer com ela, mas do significado que, de acordo com a "gramática" da língua em que se
expressam, pode ser atribuído a suas expressões”. (VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Fundamentos
del Sistema Penal. 2 ed. Valencia: Tirant lo Blanch, 2011, p. 230).
40 Ibidem, p. 195.
18

“enquanto se busca identificar um conceito de ação jurídico-penalmente


relevante, cumpre rechaçar os conceitos exclusivamente ontológicos ou
exclusivamente normativos, optando por uma idéia de que se situa na relação
citação longa, que exceda comunicativa do sujeito com o objeto, do autor do delito com o Sistema de
três linhas, não usa aspas. controle social manipulado pelo Estado, e mais, com o próprio contexto social
Ver item 8.3.1.2, p. 83 do Manual de tal atuação. Deste modo, se estará dotando o conceito de ação de um
sentido de realidade social legitimado não por verdades universais nem por
determinação das instâncias de poder, mas por um filtro interpretativo
absolutamente dinâmico que é a evolução da própria sociedade à qual se
refere.”41

Logo, resta evidente que, ao menos à luz da filosofia da linguagem, e diferente


do que advoga o finalismo, as ações ou intenções não são aferíveis através da mente
do sujeito.
Apesar de o professor Paulo César Busato reconhecer que o conceito da ação
significativa não desconsidera por completo a ação proposta pelo finalismo, mas sim
requer a “adição de outros elementos de cunho valorativo”42, resta equivocado
classificar a ação como uma dualidade ontológica entre parte objetiva e subjetiva
(sendo esta atrelada à subjetividade e pretensão impossível de uma suposta captação
de conteúdos inacessíveis na mente do sujeito à época do ato lesivo). O que pode
existir por sua vez é uma análise sobre a expressão de sentido43 da ação com base
na linguagem, de forma atenta ao contexto e às regras sociais em que está imerso o
agente que pratica a ação44.
No modelo significativo, prescinde-se do dualismo objetivo-subjetivo da teoria
do delito vigente, considera-se a ação como sentido, que não é proveniente do
aspecto externo do objeto ou interno do sujeito, mas lido sob o viés da linguagem45.
Conforme descreve Fletcher:

41 BUSATO, Paulo César. Direito penal e ação significativa: uma análise da função negativa do
conceito de ação em direito penal a partir da filosofia da linguagem. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2005, p. 185.
42 BUSATO, Paulo César. Vontade Penal da Pessoa Jurídica – um problema prático de imputação de

responsabilidade criminal. Novos Estudos Jurídicos. Ano VI, nº 12, abril/2001. p.173.
43 Nesse sentido, explica Martínez-Buján Pérez: “que la concepción ontológica de la acción, como algo

que hay en el mundo, ha pasado a entenderse de una forma diferente: no como algo que los hombres
hacen, sino como el significado de lo que hacen; no como un sustrato, sino como un sentido.”
MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ, Carlos. La “concepción significativa de la acción” de T. S. Vives y sus
correspondencias sistemáticas con las concepciones teleológico-funcionales del delito. Anuario da
Facultade de Dereito da Universidade da Coruña, n. 5, p. 1075-1104, 2001, p. 1.078.
44 VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Fundamentos del Sistema Penal: acción significativa y

derechos constitucionales. 2 ed. Valencia: Tirant lo Blanch, 2011, p. 232.


45 Nesse sentido, sobre uma ação e omissão, Carbonell Mateu explica: “a ação se manifesta através

do movimento ou de sua ausência, que deixaram de ser ações para converter-se em meros suportes
físicos – possivelmente prescindíveis – de um significado social”. Logo, “o relevante não é nem o
movimento, nem sua ausência, mas precisamente esse código comunicativo”. (CARBONELL MATEU,
Juan Carlos. Aproximación a la dogmática de la responsabilidad penal de las personas jurídicas. In:
CARBONELL MATEU, J.C. GONZÁLEZ CUSSAC, J.L. BERENGUER,Orts. Constitución, Derechos
19

citação longa, que exceda “ampla a percepção da causalidade, incluindo do mundo todo e a história
psicológica do sujeito. Nesse sentido, a ação humana é explicada como um
três linhas, não usa aspas. evento natural: a totalidade dos fatores causais dita a ação. É assim que os
Ver item 8.3.1.2, p. 83 do Manual deterministas concebem a ação. [...] A chave para uma abordagem humanista
não é a explicação da ação como produto de forças causais, mas a
compreensão de como os seres humanos agem quando certamente
atuam.”46.

Acerca do sentido, este não se projeta de dentro para fora, da mente para a
sociedade, mas sim, de fora para dentro, de forma que a finalidade subjetiva resulta
insuficiente para delimitar o significado que atribuímos às ações. Logo, em um
contexto significativo, prescinde-se da análise da finalidade subjetiva e dos processos
internos de deliberação do sujeito, essa análise se dá por meio de uma reflexão sobre
normas sociais. O que há, segundo a teoria de significativa, são ações como
interpretações que podem se dar ao comportamento humano conformes distintas
regras sociais47, que deixa de ser configurada como vontade subjetiva destinada a um
fim. Passa a assumir protagonismo, portanto, o entorno da conduta analisado a partir
da linguagem.
Tal abordagem faz com que a pessoa jurídica seja capaz de ação, de forma
que o intérprete prescinde da análise da conduta de um substrato psicológico que guia
a vontade destinada a um fim. Isto pois não se faz uma análise sobre a intenção
daquele que perpetua o ato, mas sim uma abordagem a partir da “maneira com a qual
nós, enquanto observadores, entendemos se o movimento ou nenhum movimento
constituem ação”48.
Ademais, Carbonell Mateu expõe uma lógica clara a fim de exprimir que tem
sentido tudo aquilo que pode ser fonte de significado ao mesmo tempo em que
interessa ao Direito somente aquilo que lhe convém, o que se é selecionado para
importar em termos técnicos, jurídicos e penais. Logo, em fidelidade a tal lógica “quem

Fundamentales y Sistema Penal. Semblanzas y estúdios com el motivo del setenta aniversario
del Profesor Tomás Salvador Vives Antón. Tomo I. Valencia: Tirant lo Blanch, 2009, p. 316).
46 Redação original: “amplía la percepción de la causalidade incluyend el mundo circundante y la historia

psicológica del sujeito. La acción humana se explica, pues, como um evento natural: la totalidade de
los factores causales dicta la acción. Esta es la forma em que los deterministas conciben la acción. [...]
La clave para uma aproximación humanista no es la explicación de la acción como produto de las
fuerzas causales, sino la comprensión de como los seres humanos actúan cuando efetivamente lo
hacen”. FLETCHER, George P. Conceptos básicos de derecho penal. Valencia: Tirant Lo Blanch,
1997, p. 90.
47 VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Fundamentos del Sistema Penal: acción significativa y

derechos constitucionales. 2 ed. Valencia: Tirant lo Blanch, 2011, p. 219-221.


48 FLETCHER, George Patrick. The Grammar of Criminal Law: American, comparative, and

international, v. I. New York: Oxford University Press, 2007, p. 282.


20

pode descumprir um dever exigível é sujeito de direito. E ninguém duvida da


capacidade de uma pessoa jurídica para descumprir obrigações e adquirir, com isso,
responsabilidades [...] [logo] se a ação é significado, as pessoas jurídicas tem
capacidade de ação; podem ser sujeitos de delito”49. Ou seja, considerando ser a que
“ação é uma expressão de sentido” sendo aferível pela linguagem comum através da
ideia de que “rompimento de barragem em cidade Y foi causado pela empresa X”,
passa a ser possível também sua responsabilização penal.
Em suma, a pessoa jurídica pode ser fonte de significado através de condutas
próprias, não apenas material e fisicamente, mas também produzindo o contexto da
ação. E, considerando que tais condutas são ações à luz do viés significativo, caso
algumas destas ações seja contrária ao ordenamento jurídico penal,
consequentemente a pessoa jurídica se torna capaz de praticar crimes e responder
pela prática destes50.
Logo, superadas e esclarecidas algumas indagações acerca da
responsabilização penal da pessoa jurídica e sua capacidade de ação, faz-se mister
avançar no sentido de elucidar questões no que tange ao dolo, análise esta que se
fará progressivamente desde as concepções clássicas até uma leitura sob viés
significativo.

2 DOLO – CONCEPÇÕES CLÁSSICAS Cada seção primária deve ser iniciada em página
distinta. Ver item 15.7.2, d, p. 236 do Manual

Partindo-se do pressuposto de que se mantém a categoria do dolo na teoria do


delito, e que, além disso, tal categoria foi criada em torno da psique humana, para que
se pretenda uma imputação penal sobre a pessoa jurídica é necessário identificar
como lidar com o dolo em tal caso.

2.1 DO CAUSAL NATURALISMO AO FINALISMO: O DOLO NATURAL

49 CARBONELL MATEU, Juan Carlosl. Aproximación a la dogmática de la responsabilidad penal de las


personas jurídicas. In: CARBONELL MATEU, J.C., GONZÁLEZ CUSSAC, J.L. BERENGUER,Orts.
Constitución, Derechos Fundamentales y Sistema Penal. Semblanzas y estúdios com el motivo
del setenta aniversario del Profesor Tomás Salvador Vives Antón. Tomo I. Valencia: Tirant lo
Blanch, 2009, p. 317.
50 CARBONELL MATEU, Juan Carlos. Responsabilidad penal de las personas jurídicas: reflexiones em

torno a su dogmática y al sistema de la reforma de 2010. Cuaderno de Política Criminal, núm. 101,
2010, p. 13.
21

A ascensão do iluminismo, a superação dos costumes da Idade Média e a


expansão do conhecimento através das universidades, fez surgir um interesse pela
ciência natural, considerando que esta fornecia embasamento para fomentar os
interesses econômicos da classe em ascensão51. Nesse contexto, o conhecimento
passou a depender da aplicação do método da ciência natural para ser considerado
como válido.
Evidentemente, esse movimento ecoou na seara penal, de modo que, nos
termos do professor Paulo Busato, “a pretensão de todos os estudiosos do fenômeno
criminal era de afirmar o caráter científico do seu objeto de estudo”, fato que gerou
uma cisão com a criminologia. Sendo assim, as categorias penais passaram a
perseguir uma padronização científica firmada, por exemplo, no fenômeno de causa
e efeito proveniente da física, da busca por uma verdade absoluta e de categorizações
de inspiração darwinista acerca da divisão do todo em partes, que poderia, por meio
da união de diversos elementos, finalmente imputar a pena a um indivíduo.
Essa sistematização é evidenciada por Von Liszt, representante do causal
naturalismo, segundo o qual “a ciência do Direito é e deve ser uma ciência
propriamente sistemática, pois somente a ordenação de conhecimentos, em forma de
sistema, garante aquele domínio seguro e diligente sobre todas as particularidades”52.
Dito contexto implicou na formulação pelo causal naturalismo de um conceito
de ação de cunho newtoniano e uma teoria do delito separada entre elementos
objetivos, compostos pelo tipo e antijuridicidade, e o aspecto subjetivo reservado

51 Complementa a ideia expressa, Paulo Busato: “não foi por acaso que se desenvolveu imediatamente
após a era dos descobrimentos a chamada Revolução Industrial. Apesar de evidentes diferenças entre
os modelos jurídicos continental e insular europeus, houve um claro traço comum: o objetivo de
proteção de um padrão social que se interessava basicamente pela evolução de um tipo especifico de
ciencia: a ciencia natural. É que esse modelo de ciência era fonte de produção e, como tal, integrava-
se perfeitamente no modelo de acumulação de capital. Os inventos e a ciencia voltaram-se nitidamente
para o incremento dos meios de produção. Cada vez mais se viu uma ciencia voltada aos interesses
do homem. Principalmente os interesses de cunho econômico.”(BUSATO, Paulo Cesar. Direito Penal:
Parte Geral. Atlas Editora, 2015, p. 213)
52 LISZT, Franz Von. Tratado de Derecho Penal. 4 ed. Trad. De Luiz Jiménez de Asúa, Madrid:

Editorial Reus, 1999, p. 6.


22

apenas à culpabilidade53, consideradas como parte de um todo a ação, antijuridicidade


e a culpabilidade54.
O dolo, por sua vez, constituía parte da culpabilidade em conjunto com a culpa.
Os elementos subjetivos compunham exclusivamente a culpabilidade e não possuíam
relação com a tipicidade. Em seu conteúdo, o dolo seria definido como a comissão de
um delito com conhecimento e vontade, aquilo que era pretendido pelo agente no
momento do ato. Era tido como dolo qualquer meio reconhecido como necessário para
a finalidade perseguida pelo agente, abrangendo-se os resultados acessórios e
necessários ligados ao resultado principal e às consequências supervenientes55.
Ocorre que o causalismo passou a receber críticas devido sua insuficiência
teórica para abranger questões basilares, como o delito omissivo e a tentativa. Sendo
assim, após propostas formuladas pelos movimentos positivistas e o neokantismo,
desembocou-se no finalismo.
Ainda fiel às concepções ontologicistas, o finalismo surge fundado na
percepção de que o mundo possui uma lógica natural, por meio da qual se extraem
elementos, e, sendo assim, o sistema não pode vir a ultrapassar essa realidade.
Diferentemente do que advogam os causal-naturalistas, por meio dos quais a
ação configura movimento voluntário capaz de causar modificação no meio externo,
a ação no contexto finalista é encarada como natural e necessariamente dirigida a
uma finalidade, e o tipo penal passa a ser elemento composto por uma dupla
dimensão, uma subjetiva e outra objetiva, daí que dolo e a culpa são deslocados da
culpabilidade para o tipo 56.
O dolo então é definido como a vontade final que rege o acontecimento causal,
isso se dá visto que para os finalistas a ação é destinada necessariamente a um fim57.

53 Sobre o tema, Mezger: “Todo hecho punible presenta um aspeco objetivo y outro subjetivo. El hombre
tiene uma doble natureza material y psíquica. También su conducta, en la convivencia humana,
presenta siempre, por consiguiente, un aspecto extemo, perceptible físicamente, y otro interno y
psíquico. No con toda exactitud, pero en forma comprensible y corriente, se denominan,
respectivamente, aspecto "objetivo" y "subjetivo" del hecho punible. En tal sentido, todo hecho punible
contiene necesariamente relaciones objetivas y subjetivas.” (MEZGER, Edmund. Derecho Penal.
Parte General. Editorial Bibliografica Argentina. Buenos Aires: 1958, p. 78).
54 A tipicidade para os causalistas não figura como categoria independente, mas sim um “adjetivo

agregado” às demais categorias como “ação típica”, “antijuridicidade típica” ou “culpabilidade típica”.
(MEZGER, Edmund. Derecho Penal. Parte General. Editorial Bibliografica Argentina. Buenos Aires:
1958, p. 80).
55 Ibidem, p. 226-228.
56 BUSATO, Paulo Cesar. Direito Penal: Parte Geral. Atlas Editora, 2015, p. 227.
57 O autor Hans Welzel fundamenta sua teoria da ação em Aristóteles ao afirmar que “la teoria de la

acción finalista, de ninguna manera, es algo completamente nuevo; hace mucho conocida em sus
rasgos fudnamentales, fue descubierta ya por Aristóteles” (WELZEL, Hans. Derecho penal – parte
23

Conforme Welzel, “a ação tipicamente adequada não pode ser entendida de forma
alguma sem a tendência subjetiva da vontade que determina a ocorrência externa”58.
Acerca do dolo, o autor o define como “o fator que cria o objetivo da ação, é um
elemento essencial do conceito de injusto”59.
Ou seja, o causal-naturalismo e o finalismo possuem divergências conceituais
e estruturais no que diz respeito ao dolo. Entretanto, apesar de terem ocorrido críticas,
modificações e adaptações no que concerne à teoria do delito, ambas as teses
acabam marcadas por concepções ontológicas e resistentes às contribuições da
política-criminal, visto que rechaçada à época, quedando em um isolamento
dogmático nocivo.
O tipo penal finalista, impermeável a aspectos político-criminais, tornou-se
inconciliável com a evolução das ciências sociais, sendo superado, portanto, na
década de 70 pelas teses funcionalistas60, que serão a seguir tratadas.

2.2. DOLO NORMATIVO E FUNCIONALISMO

Com bases radicadas em Durkheim e Merton61, a atenção do funcionalismo


volta-se para os conteúdos que preenchem as categorias da teoria do delito e o que
as influencia62.

general. Buenos Aires, Roque Depalma Editor, 1956, p. 8). Entendendo-se, neste sentido, como algo
que nasce de dentro para fora do sujeito destinado a um fim, de modo que “o movimento dos membros
instrumentais em ações desse tipo está em quem as executa, e se o princípio delas está nele, também
está em sua mão realizá-las ou não.” (PRADO, Luiz Regis, Teorias da Imputação Objetiva do
Resultado, uma aproximação crítica a seus fundamentos, Revista dos Tribunais, 2002, p. 19).
58 Redação original: “la acción típicamente adecuada no puede ser compreendida di ninguna manera

sin la tendencia subjetiva de voluntad que determina el acontecer exterior”. WELZEL, Hans. Derecho
penal – parte general. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, 1956, p. 69.
59 Redação original: “el factor que crea lo objetivo de la acción, es un elemento esencial del concepto

de lo injusto”. Sobre o tema, Welzel: “la acción es antijurídica solamente como obra de un determinado
autor, que, por su contenido de voluntad, imprime su sello al hecho. Qué meta ha fijado finalistamente
el autor al hecho objetivo; desde qué punto de vista ha obrado; qué deberes le incumbieron; todo ello
determina decisivamente lo injusto del hecho, juntamente con la eventual lesión de bienes jurídicos.”
(WELZEL, Hans. Derecho penal – parte general. Buenos Aires: Roque Depalma Editor, 1956, p. 70).
60 BUSATO, Paulo Cesar. Direito Penal: Parte Geral. Atlas Editora, 2015, p. 154.
61 Ibidem, p. 236-238.
62 Sobre o tema, Paulo Busato: “o sistema de imputação já não seria mais considerado um fim em si

mesmo, voltado para uma coerência interna, mas sim um meio de realização de uma proposição geral
externa. Os elementos componentes do conceito de crime deixam de ser autossuficientes e passam a
ser funcionalizados [...] a verdade absoluta, a ideia de uma realidade unívoca, própria das teorias
ancoradas em pressupostos ontológicos, é substituída pelo reconhecimento da plurivocidade da
realidade, da coexistência de distintas formas de interpretação. Isso conduz, naturalmente, ao envio
dos problemas jurídico-penais para uma solução no campo axiológico. Desde logo, é possível perceber
que não se admite mais, do jurista, uma postura anódina, um pretenso “distanciamento científico”.
(BUSATO, Paulo Cesar. Direito Penal: Parte Geral. Atlas Editora, 2015, p. 238).
24

Posterior ao movimento causal-naturalista e finalista, a crítica do funcionalismo


se dá em face da anterior pretensão de estruturação da teoria do delito com base em
conceitos formais ontológicos que se presumem verdadeiros, e de uma lógica de mera
subsunção do fato à norma, gerando um conflito com os fins da pena.
Busca-se uma sintonia com o fim em que se propõe o Direito penal, não a partir
do encaixe de um fato em categorias teórico penais a fim de gerar uma pena, mas
sim, de uma análise macro, que leva em consideração as funções que o Direito penal
cumpre ou deveria cumprir para, só assim estruturar-se a teoria do delito63.
Surgiram, portanto, as teorias que passaremos a discorrer nesse momento. As
teses que serão destacadas a fim de verticalizar o tema proposto dizem respeito a
duas categorias distintas, quais sejam o funcionalismo teleológico e sistêmico,
representados respectivamente por Claus Roxin e Gunther Jakobs.

2.2.1. Funcionalismo teleológico

Em suma, o funcionalismo teleológico objetiva a proteção dos bens jurídicos


orientada por valorações político-criminais, por meio da prevenção geral especial.
Para Claus Roxin, deve existir uma relação dialética e complementar entre dogmática
e política-criminal, visto que essa união faz com que exista um sistema jurídico penal
mais próximo de soluções justas para casos concretos64.
Tal posicionamento permite que haja um sistema aberto, regulável conforme a
política-criminal adotada, afastando-se de uma pretensão de verdade imutável com
respostas automáticas provenientes de um sistema dogmático fechado65.
Porém, em que pese trate o funcionalismo teleológico de uma preocupação de
cunho prático com o ideal de humanidade e justiça criminal, isso não significa
desprendimento total da norma66. Ademais, neste contexto é preciso ter

63 Sobre o tema: “o funcionalismo não implica, como acontece com a contraposição causalismo-
finalismo, uma nova proposta estrutural de teoria do delito [...] o funcionalismo afeta isto sim, o conteúdo
das categorias do delito.” (BUSATO, Paulo Cesar. Direito Penal: Parte Geral. Atlas Editora, 2015, p.
224).
64 ROXIN, Claus. Derecho Penal. Parte General. Fundamentos. La estrutura de la teoria del delito.

2ed. Tradução de Diego-Manuel Luzón, Miguel Díaz y García Conlledo e Javier de Vicente Remesal.
Madrid: 1997, p. 223.
65 ROXIN, Claus. Funcionalismo e Imputação Objetiva no Direito Penal. Trad. Luís Greco. Rio de

Janeiro: Renovar, 2002, p.249


66 ROXIN, Claus. Estudos de direito penal. Trad. Luís Greco. 2. ed. rev. Rio de Janeiro; São Paulo;

Recife: Renovar, 2008, p. 61-63.


25

constantemente em vista o objetivo de proteção dos bens jurídicos67 e alinhamento


com os fins da pena.
Sobre ação, Claus Roxin a define como “algo empiricamente pré-existente (seja
causalidade, conduta voluntária ou finalidade) e que estaria igualmente na base de
todas as manifestações de conduta punível, apenas por causa da identidade do
aspecto valorativo”68. Para o autor, a ação adquire um caráter pessoal, no sentido de
que a ação manifesta a personalidade do autor69. O tipo possui conteúdo cognitivo e
volitivo, e, por meio dele é que se valora a ação desde o ponto de vista da necessidade
abstrata da pena70. Sobre este ponto, interessante a descrição de Paulo César
Busato:

“a delimitação entre dolo e imprudência já não decorre simplesmente de


análise binária de ausência ou presença de elementos psicológicos como a
citação longa, que exceda vontade ou o conhecimento, mas se ancora precisamente no questionamento
três linhas, não usa aspas. a respeito da adequação ou não da aplicação da pena pelo delito doloso, ou
Ver item 8.3.1.2, p. 83 do Manual seja, se leva em conta a necessidade ou não do recrudescimento da resposta
penal.”71
Excluir parêntesis
Acerca do dolo, portanto, é basilar para a formulação de seu conceito sob a
égide de um funcionalismo teleológico - e para a teoría como um todo) - a centralidade
dos bens jurídicos. Sendo assim, o dolo em si é encarado como uma decisão feita
pelo agente no sentido de transgredir os bens jurídicos penalmente tutelados72.
A sua relação com o tipo entretanto é peculiar, visto que apesar de seguir como
categoria autônoma, por meio do qual o tipo subjetivo abarca a imprudência o dolo,

67 Bens jurídicos para Roxin: “circunstancias dadas o finalidades que son útiles para el individuo y su
libre desarrollo em el marco de um sistema social global estructurado sobre la base de esa concepción
de los fines o para el funcionamiento del proprio sistema”. (ROXIN, Claus. Derecho Penal. Parte
General. Fundamentos. La estrutura de la teoria del delito. 2ed. Tradução de Diego-Manuel Luzón,
Miguel Díaz y García Conlledo e Javier de Vicente Remesal. Madrid: 1997, p. 56)
68 Redação original: “algo empiricamente preexistente (ya sea la causalidade, la conducta voluntaria o

la finalidad) y que estaria por igual em la base de todas las manifestaciones de conducta punible, sino
sólo por la identidade del aspecto valorativo”. Ibidem, p. 218.
69 Ibidem, p. 252.
70 Acerca da tipicidade: “tipicidade penal não se contenta com a simples adequação do fato à previsão

típica, essa é uma das funções, o tipo cumpre uma função delimitadora negativa de intervenção jurídico-
penal, cumpre função dogmática de descrever os elementos cujo desconhecimento exclui o dolo.”
BUSATO, Paulo Cesar. Direito Penal: Parte Geral. Atlas Editora, 2015, p. 240.
71
BUSATO, Paulo Cesar. Direito Penal: Parte Geral. Atlas Editora, 2015, p. 240.
72 ROXIN, Claus. Zur Abgrenzung von bedingtem Vorsatz und bewußter Fahrlässigkeit.

Juristische Schulung (JuS), München, 1964, p. 59. Apud CABRAL, Rodrigo Leite Ferreira. DOLO Y
LENGUAJE: Hacia uma nueva gramática del dolo desde la Filosofía del Lenguaje. Tese (doutorado em
Direito) Universidad Pablo de Olavide. Sevilla, p. 390. 2016.
26

este serve como “baliza” para a culpabilidade73, determinando o grau de gravidade da


conduta do sujeito. Ou seja, o dolo era encarado como um grau de “medida” para a
culpabilidade dentro da teoría do delito.
De maneira diversa o exposto, entretanto, leciona Gunther Jakobs em sua tese
sobre o funcionalismo sistêmico, sendo este o objeto do próximo ponto.

2.2.2 Funcionalismo sistêmico

Apesar de os escritos de Gunther Jakobs abrangerem todas as categorias do


delito, o recorte que interessa ao presente estudo diz respeito à concepção de dolo
para referido autor.
O funcionalismo sistêmico utiliza como ponto de partida a teoria dos sistemas
de Niklas Luhmann74 e sua concepção do direito como um sistema autopoiético, de
uma necessidade de auto conservação. Logo, cumpriria o Direito penal o ofício de
proteção das suas próprias normas e de manutenção do sistema75, prescindindo até
mesmo da análise da ocorrência de lesão a um determinado bem jurídico76.
Nesse modelo, a estabilidade das normas é o principal objetivo do sistema
jurídico, visto que têm a função de estabilizar e institucionalizar as expectativas
sociais.

73 Nos termos de Claus Roxin: “el dolo es esencial para el tipo, porque sin él no se puede precisar en
la forma que exige el Estado de Derecho la descripción legal del delito: pero es igualmente relevante
para la culpabilidad, porque debe delimitar la forma más grave de la culpabilidad de la más leve (la
imprudencia) y por eso debe configurarse su contenido de acuerdo con los principios valorativos de
estas categorías.” (ROXIN, Claus. Derecho Penal. Parte General. Fundamentos. La estrutura de la
teoria del delito. 2ed. Tradução de Diego-Manuel Luzón, Miguel Díaz y García Conlledo e Javier de
Vicente Remesal. Madrid: 1997, p. 427).
74 Apesar das bases fundadas em Luhmann, a concepção de Jakobs também se aproxima do

pensamento de Hegel, no que tange ser “a pena a negação da negação do Direito”. (BUSATO, Paulo
Cesar. Direito Penal: Parte Geral. Atlas Editora, 2015. p. 242)
75 Sobre o tema, Jakobs: “la contribuicón que el Derecho penal presta al mantenimiento de la

configuración social y estatal reside em garantir las normas. La garantia consiste em que las
expectativas imprescindibles para el funcionamiento de la vida social, em la forma dada y em la exigida
legalmente, no se den por perdidas em caso de que resultem defraudadas” (JAKOBS, Gunther.
Derecho Penal. Parte General. Fundamentos y teoria de la imputación. Trad. Joaquin Cuello
Contreras. Jose Luis Serrano Gonzalez de Murillo. Madrid: Marcial Pons Ediciones Juridicas,1995, p.
48).
76 Nesse sentido, Jakobs: “La respuesta depende mas bein de la danosidad social de la conducta lesiva,

com la que no se corresponde necesariamente la disvaloración del comportamento lesivo para los
bienes”. (JAKOBS, Gunther. Derecho Penal. Parte General. Fundamentos y teoria de la
imputación. Trad. Joaquin Cuello Contreras. Jose Luis Serrano Gonzalez de Murillo. Marcial Pons
Ediciones Juridicas AS. Madrid: 1995, p. 47). Ainda, Busato afirma que para essa teoria “já não importa
se o sistema jurídico produz ou não resultado justo, mas sim que funcione, preservando sua identidade
e reduzindo a complexidade das relações sociais” (BUSATO, Paulo Cesar. Direito Penal: Parte Geral.
Atlas Editora, 2015, p. 242).
27

A pena não tem a função de prevenir delitos, mas sim garantir a vigência da
norma. O sujeito nesse contexto surge como portador de um papel a ser exercido em
um contexto social, visto como meio e não fim77, como objeto de imposição de uma
réplica frente ao questionamento da norma78.
Tal visão acaba por influenciar, portanto, a definição de dolo. De modo que se
entende o dolo como uma decisão do sujeito contra a vigência da norma79, por meio
da qual se viola a estabilidade dessa norma.
Ademais, ponto importante acerca da leitura de Jakobs80 sobre o dolo diz
respeito à prescindibilidade de uma análise sob o elemento volitivo. Isto pois,
conforme o autor, considerando que o que deve ser objeto de preocupação do Direito
penal diz respeito ao conhecimento do sujeito sobre a ação e seus resultados, não
importariam as suas manifestações subjetivas no momento da prática delitiva. Tal
raciocínio logicamente decorre do fundamento principal do funcionalismo sistêmico,
qual seja o objetivo de garantir a vigência e estabilidade da norma.
Sendo assim, consequentemente as nuances subjetivas do agente não são
consideradas, visto que o que interessa é a confiança dos sujeitos na norma e qual
será a resposta penal para aqueles que a transgridem81.
Superada a questão do dolo nas referidas teses, passa-se a tratar, portanto,
acerca da responsabilidade penal da pessoa jurídica sob a égide de da ação
significativa. Porém, anteriormente ao que diz respeito à leitura do dolo com base em
referida teoria, é necessário um recorte sobre seu conceito a partir dos modelos
clássicos.

77 Sobre o sujeito no funcionalismo: “ele não é entendido como sujeito autônomo, moralmente
responsável por seus próprios atos, senão apenas como um sub-sistema psico-físico, convertido em
centro de atribuição de responsabilidade somente com base em uma “capacidade” que lhe é atribuída
conforme critérios puramente normativos e funcionais. O sujeito acaba transformando, pois, em
portador de uma resposta penal simbólica, de uma função preventiva e integradora que se realiza “a
sua custa” segundo a expressão de Jakobs” (BARATTA, Alessandro. Integración-Prevención: Una
“Nueva” Fundamentación de la Pena Dentro de la Teoría Sistémica. Neopanopticum, 2005, p. 3).
78 GUNTHER, Jakobs. Parte General: Fundamentos y teoria de la imputación. Trad. Joaquin Cuello

Contreras. Jose Luis Serrano Gonzalez de Murillo. Marcial Pons Ediciones Juridicas AS. Madrid: 1995,
p. 13-14.
79 Ibidem, p. 311.
80 Ibidem, p. 316.
81 Neste sentido, Niklas Luhmann acredita que um sistema estará mais organizado quanto maior for a

suposição de que, uma vez transgredida a norma, será imposta a consequência jurídica. (LUHMANN,
Niklas. Sociologia do Direito II. Trad. Gustavo Bayer. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1985, p. 20.)
28

3 O DOLO DA PESSOA JURÍDICA CONFORME UMA CONCEPÇÃO


SIGNIFICATIVA DA AÇÃO

Considerando ser este o escopo deste trabalho, a partir desse momento se


discorre acerca da atribuição de dolo à pessoa jurídica. O viés que se defende aquí
diz respeito a uma teoria significativa. Entretanto, antes de tal tema, irá se tratar acerca
da concepção de dolo conforme as teorías clássicas.

3.1 CONCEPÇÕES CLÁSSICAS DE DOLO E A RESPONSABILIDADE PENAL DA


PESSOA JURÍDICA

Apesar de demais críticas82, o maior óbice para a imputação penal da pessoa


jurídica - no que tange ao recorte que importa a este trabalho, qual seja, o dolo -
parece residir na construção de uma teoria do delito fundada exclusivamente em torno
da conduta da pessoa humana. Ilustra tal afirmação o posicionamento categórico de
Edmund Mezger no sentido de que “todo ato punível é conduta humana [...] O ato
punível é ação no sentido amplo do termo. Isto significa, como já dissemos, que o ato
punível, o crime, é sempre a conduta humana"83 Ou seja, incontestável, ao menos em
sentido causalista, a impossibilidade de ação por qualquer outra coisa ou pessoa que
não a pessoa física.
No mesmo sentido, a teoria finalista propaga o conceito final de ação como
fenômeno exclusivamente humano, prevalecendo o entendimento de que a pessoa
jurídica é incapaz de ação84. Para esta teoria, acerca do tipo, composto pelo dolo,
defende-se que este é constituído por habilidades psíquicas dependentes de vontade
e de uma consciência corpórea, pressupostos estes não preenchidos pela pessoa

82 Em tese, afirma-se que são responsáveis pela suposta impossibilidade de imputação penal à pessoa
jurídica, a incapacidade de ação do ente coletivo e a impossibilidade de reprovação com base na
culpabilidade, neste sentido Dannecker define a pessoa jurídica como ausente de “capacidade de ação,
a capacidade de culpabilidade e a capacidade de aplicação dos fins da pena” (DANNECKER, Gerhard.
Reflexiones sobre la responsabilidad penal de las personas jurídicas. Trad. Ana Cristina
Rodríguez Yagüe. Revista Penal. Madrid: La Ley, n. 7, 2001, p. 44).
83 Redação original: “todo hecho punible es conducta humana.[...] El hecho punible es acción en el

sentido amplio del término. Esto significa, como ya hemos dicho, que el hecho punible, el crimen es
siempre conducta humana”. MEZGER, Edmund. Derecho Penal. Parte General. Buenos Aires:
Editorial Bibliografica Argentina, 1958, p. 80.
84 SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito penal: parte geral. 2. ed. rev. e amp. Curitiba: ICPC; Lumen

Juris, 2007, p. 433-435.


29

jurídica85. Ou seja, a concepção de dolo, com fundamento finalista, é tida como


manifestação de vontade de produção de um resultado desvalioso, possuindo como
fonte inequívoca a vontade, a subjetividade humana86. Logo, ao considerar-se que
não é possível expressão de vontade pelo ente coletivo, consequentemente restaria
irreal a prática de crime pela pessoa jurídica.
Ocorre que, para as teorias de fundamento ontológico, o dolo será sempre
fundado na psique existente do sujeito apesar de este ser um meio impossível de
verificação do dolo, visto que o “dolo se projeta sobre uma realidade acontecida no
passado, a respeito da qual hão de se verificar determinados fenômenos psicológicos
que existiam na mente do sujeito no momento em que realizou o fato”87 e que tal
conteúdo é absolutamente inacessível.
Portanto, o fato de o delito ser encarado como feito imputável a um autor
individual, aqui representado pela pessoa natural e dependente de um fenômeno
psíquico, impediu-se a submissão da pessoa jurídica a um contexto de
responsabilidade penal.
Partindo para o funcionalismo, em tese, este se propõe a uma descrição
normativa do dolo88, enquanto as concepções causais e finalista pretenderiam-se
ontológicas.
Porém, apesar de as teorias funcionalistas advogarem no sentido da adoção
de uma concepção normativa do dolo, nota-se que tanto o funcionalismo sistêmico
quanto o funcionalismo teleológico ainda fazem referência ao subjetivo do sujeito.
Explica-se. Embora as teses funcionalistas pretendam atribuir o dolo de forma
normativa com base no que é identificável pelo mundo externo, ainda assim
implicitamente se requer a busca de uma correspondência entre o que é identificado
externamente (ou o que é apreendido pelo juiz como conduta dolosa) e o que se passa
na mente do sujeito no momento do cometimento do crime89. Ou seja, apesar de o

85Ibidem, p. 433-435.
86 Nesse sentido, Muñoz Conde: “Se llama acción todo comportamiento dependiente de la voluntad
humana. Sólo el acto voluntario puede ser penalmente relevante y la voluntad implica siempre una
finalidad. […] El contenido de la voluntad es siempre […] un fin. De ahí que la acción humana regida
por la voluntad sea siempre una acción final”. (MUÑOZ CONDE, Francisco; GARCÍA ARÁN, Mercedes.
Derecho penal: parte general. 3. ed. Valencia: Tirant lo Blanch, 1998, p. 238).
87 BUSATO, Paulo César; MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ, Carlos; DÍAZ PITA, María del Mar. Modernas

tendências sobre o dolo em direito penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 39.
88 Acerca do dolo para o funcionalismo sistêmico e teleológico, confira os pontos 2.2, 2.2.1 e 2.2.2.
89
Sobre o dolo, Jakobs: “la relación subjetiva del autor con las consecuencias principales se llama
intención. La relación positiva com el aspecto de los impulsos reside em que el autor obra en función
de las consecuencias principales y em este sentido quiere estas consecuencias.en cada caso particular
30

funcionalismo alegar entender o dolo normativamente, ainda há a pretensão de que a


interpretação dada ao dolo seja correspondente ao que efetivamente se deu na psique
do sujeito. Embora seja uma atribuição, essa atribuição deve corresponder ao que o
sujeito pensou. Logo, apesar de se alegar o contrário, não há o abandono de uma
dependência do dolo em face do conteúdo da mente do sujeito, o que implica e uma
impossibilidade de auferir dolo na pessoa jurídica. Aferir
Tal pretensão é encarada de modo diverso por uma concepção significativa de
dolo, a qual abarca a possibilidade de responsabilização penal da pessoa jurídica.
Logo, importa deste momento em diante, tratar acerca do dolo à luz de uma ação
baseada na filosofia da linguagem.

3.2 O DOLO SEGUNDO UMA CONCEPÇÃO SIGNIFICATIVA

Tratar-se-á a partir desse momento acerca da definição de dolo sob o viés


significativo, concepção esta vista como mais adequada para uma correta
interpretação no que diz respeito à responsabilidade penal da pessoa jurídica.
O viés que se pretende dar enfoque portanto, será o disseminado por Tomás
Salvador Vives Antón, que encontra bases em, dentre outros autores, Ludwig
Wittgenstein.
Ainda, cumpre esclarecer que não se trata a partir de então de propor o
desmantelamento ou condenação completa do que se referiu anteriormente como

ha de comprobarse si las acciones y reacciones psíquicas del autor han alcanzado el terreno de la
consciência [...] además, la interpretación de todos os elementos típicos depende del sentido de la
regulación, incluso cuando la interpretación es posible, designándose un arsenal de processos en el
mundo de la experiencia. [...] Dada esta situación, no es evidente lo que ha de ser objeto del dolo de
realización la base experimental de um circunstancia típica, su significación social o uma forma
intermedia. [...] sobre todo, han de comprobarse las afirmaciones de que a todo conocimiento de hechos
debe anadirse un conocimiento de la significación y que sólo um conocimiento de la significación
sustenta al dolo.” 321 (JAKOBS, Gunther. Derecho Penal. Parte General. Fundamentos y teoria de
la imputación. Trad. Joaquin Cuello Contreras. Jose Luis Serrano Gonzalez de Murillo. Madrid: Marcial
Pons Ediciones Juridicas,1995, p. 321-347). Sobre dolo, Roxin: “para caracterizar unitariamente las
tres formas de dolo se emplea casi siempre la descripción del dolo como "saber y querer (conocimiento
y volun-tad)" de todas las circunstancias del tipo legal intelectual ("saber") y el volitivo ("querer") están
en cada caso diferentemente configurados en sus relaciones entre sí. En el caso de la intención, en el
lado del saber basta con la suposición de una posibilidad, aunque sólo sea escasa, de provocar el
resultado”. ROXIN, Claus. Derecho Penal. Parte General. Fundamentos. La estrutura de la teoria
del delito. 2ed. Tradução de Diego-Manuel Luzón, Miguel Díaz y García Conlledo e Javier de Vicente
Remesal. Madrid: 1997, p. 414-415.
31

“teorias clássicas do delito”. Mas sim, oferecer uma nova leitura sobre os conceitos da
teoria do delito, seus significados e modos de interpretação90.
Ultrapassadas tais elucidações, passa-se a discorrer acerca do modelo
significativo.
Primeiramente, por meio de tal modelo, há uma contrariedade ao dolo como
processo psicológico91, visto que na ação significativa os elementos subjetivos da
ação não podem ser equiparados a processos físicos, pois tratam de processos
inapreensíveis na mente de outra pessoa, de modo que sua apreensão deverá ocorrer
por meio de elementos externos fundados na linguagem. Entende-se também a ação
de maneira diversa92, de forma que os elementos subjetivos devem ser entendidos
como elementos da ação, componentes de um sentido exteriorizado93.
Considerando que a concepção significativa considera a ação como significado,
o dolo corresponde ao compromisso com esse significado, um compromisso em
executar uma figura delitiva, de modo que se examinam as regras sociais e jurídicas
que definem a ação como típica94. De maneira geral, Carlos Martínez-Buján Pérez
interpreta a questão da seguinte forma:

“Bem, com base nessas premissas, o VIVES chega à conclusão de que, ao


contrário do que acontece com o desejo e mesmo com o propósito, uma
intenção não pode ser atribuída a um sujeito se não houver compromisso de
realizar a ação correspondente. Em outras palavras, a fim de determinar se
uma ação foi intencional, ter-se que prestar atenção não aos processos
mentais não verificáveis que residem nas profundezas da alma, aos desejos
e propósitos, mas ao fato de a ação realizada mostrar ou não um
compromisso de ação por parte do autor.”95

90 VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Fundamentos del sistema penal: acción significativa y derechos
constitucionales. Valencia: Tirant lo Blanch, 2011, p. 29.
91 Ibidem, p. 233.
92 Martínez-Buján Pérez: “que la concepción ontológica de la acción, como algo que hay en el mundo,

ha pasado a entenderse de una forma diferente: no como algo que los hombres hacen, sino como el
significado de lo que hacen; no como un sustrato, sino como un sentido.” MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ,
Carlos. La “concepción significativa de la acción” de T. S. Vives y sus correspondencias sistemáticas
con las concepciones teleológico-funcionales del delito. Anuario da Facultade de Dereito da
Universidade da Coruña, n. 5, p. 1075-1104, 2001, p. 1.078.
93 Nesse sentido: “hay que recalcar de nuevo, pues, que lo que usualmente viene conociéndose por la

doctrina dominante como tipo subjetivo, integrado por el dolo y la imprudencia, no pasa en el sistema
de VIVES a formar parte del juicio de reproche como una forma de "culpabilidad", sino que, como lógica
consecuencia de su concepción de la norma como directiva de conducta, pasa a incardinarse en la
antijuridicidad. (MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ, Carlos. La “concepción significativa de la acción” de T. S.
Vives y sus correspondencias sistemáticas con las concepciones teleológico-funcionales del delito.
Anuario da Facultade de Dereito da Universidade da Coruña, n. 5, p. 1075-1104, 2001, p. 1089-
1092).
94 Ibidem, p. 1094.
95 Redação original: “Pues bien, con base en tales premisas VIVES llega a la conclusión de que, a

diferencia de lo que ocurre con el deseo e incluso con el propósito, no se puede atribuir una intención
a un sujeto si no media el compromiso de llevar a cabo la acción correspondiente. En otras palabras,
32

Ressalta-se, porém, que apesar de se imputar a impossibilidade de uma


responsabilização penal da pessoa jurídica a um dolo de concepção ontológica
baseado em critérios subjetivos, a teoria significativa não desconsidera de todo a
influência da subjetividade, visto que entende que a comunicação ou percepção do
significado não provém de uma realidade do sujeito (interna) nem tampouco do objeto
(externa), mas da inter-relação entre eles. Dessa forma, a verificação sobre a
existência do conhecimento e da vontade do sujeito se dará por meios externos.
O dolo, portanto, é identificável caso tenha ocorrido um compromisso de atuar
do autor, como uma decisão em desfavor ao bem jurídico, compromisso esse que não
se finda em um processo naturalístico e psicológico, mas sim, normativamente.
Adianta-se que tal afirmação desmantela, nos termos do viés significativo, o óbice
dogmático com relação ao dolo da pessoa jurídica, conforme será visto a seguir96.
O dolo passa a ser normativo e, nesse sentido, Díaz Pita descreve que “não é
algo que existe, que seja constatável, mas sim o resultado de uma avaliação a respeito
dos fatos que faz com que se impute a responsabilidade penal”97. Para Vives, o dolo
figura como intenção de realizar fato antijurídico, como “compromisso com o resultado
lesivo”98, com uma análise sobre a cognição intelectual que proporciona ao agente os
dados para a tomada de decisão aliado a um compromisso de violação de um bem
jurídico.
A contribuição de Wittgenstein para uma teoria significativa diz respeito
exatamente a sua ideia da linguagem como uma expressão de sentido, da adoção
dos jogos de linguagem para a leitura do dolo. Isso pois, nos termos de Vives Antón,
“a determinação da ação que se realiza não depende da concreta intenção, que o
sujeito queira levar a cabo, mas do código social conforme o qual se interpreta o que
ele faz”99.

para determinar si una acción ha sido intencional habrá que atender no a inyerificables procesos
mentales que residen en el fondo del alma, a deseos y propósitos, sino al dato de si en la acción
realizada se pone o no de manifiesto un compromiso de actuar por parte del autor”. MARTÍNEZ-BUJÁN
PÉREZ, Carlos. La “concepción significativa de la acción” de T. S. Vives y sus correspondencias
sistemáticas con las concepciones teleológico-funcionales del delito. Anuario da Facultade de Dereito
da Universidade da Coruña, n. 5, p. 1075-1104, 2001, p. 1.093.
96 BUSATO, Paulo César; MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ, Carlos; DÍAZ PITA, María del Mar. Modernas

tendências sobre o dolo em direito penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 116-117.
97 Ibidem, p. 105.
98 VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Fundamentos del sistema penal: acción significativa y

derechos constitucionales. Valencia: Tirant lo Blanch, 2011, p. 238.


99
VIVES ANTÓN, Tomás Salvador. Fundamentos del sistema penal: acción significativa y derechos
constitucionales. Valencia: Tirant lo Blanch, 2011, p. 216.
33

Portanto, o dolo não é fato, mas sim atribuição100. Neste sentido, a intenção
subjetiva não define ou faz parte da ação, mas corresponde a uma atribuição101 que
se faz em face do compromisso do agente em realizar a ação. Entretanto, tampouco
se trata de uma atribuição que pretende corresponder com a subjetividade do sujeito,
com aquilo que estava em sua mente no momento da prática delituosa, mas sim com
base no que apreensível.
Ressalta-se, entretanto, que o dolo não pode ser visto simplesmente como
mera imputação, de modo que Hassemer indica que a análise do dolo deve ocorrer
por meio de critérios externos e objetivos, desde que preenchidos os requisitos de
observabilidade, plenitude e relevância dispositiva, com atenção aos fatores que
circundam o atuar do agente e sua decisão102 em favor da realização do ato punível.
Logo, a leitura do dolo se dará em torno de critérios objetivos e racionais, visto
que a escolha por uma perspectiva unicamente ontológica se mostrou insuficiente e
que uma análise puramente normativa considera o dolo como mera atribuição. De
modo que, nos termos de Hassemer, “o autor de um delito doloso lesiona não somente
o bem jurídico senão também a norma que obriga a observar esse bem jurídico”103.
Acerca do disposto, Martínez-Buján Pérez discorre:

“é preciso examinar, antes de tudo, dois parâmetros: em primeiro lugar, fixar


citação longa, que exceda as regras (códigos externos), sociais e jurídicas, que definam ação como uma
três linhas, não usa aspas. ação típica e, em seguida, pôr em relação tais regras com a bagagem de
Ver item 8.3.1.2, p. 83 do Manual conhecimentos ou a competência do autor (ou seja, as técnicas que este
dominava), de tal modo que, desde o ponto de vista externo, seja possível
afirmar que é o que o autor sabia.”104

Portanto, o que se nota é que o dolo baseado em uma concepção significado


desprende-se de pretender apreender o conteúdo subjetivo presente na psique do

100 Ibidem, p. 485.


101 Acerca da atribuição e dolo, Busato: “o dolo, definitivamente, não 'é' um fato, mas uma atribuição,
ou seja, a exata atribuição de uma decisão contrária ao bem jurídico” (BUSATO, Paulo César;
MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ, Carlos; DÍAZ PITA, María del Mar. Modernas tendências sobre o dolo
em direito penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 113).
102 Neste sentido explica Paulo Busato: “Hassemer entende que o dolo é uma 'decisão a favor do

injusto', mas entende também que o dolo é uma instância interna não observável, com o que, sua
atribuição se reduz à investigação de elementos externos que possam servir de indicadores e justificar
sua atribuição.” (BUSATO, Paulo César; MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ, Carlos; DÍAZ PITA, María del
Mar. Modernas tendências sobre o dolo em direito penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p.
112).
103 HASSEMER, Winfried. Persona, mundo y responsabilidad: bases para una teoría de la

imputación en derecho penal. Trad. Francisco Muñoz Conde; Maria del Mar Díaz Pita. Valencia:
Tirant lo Blanch, 1999, 119-155.
104 BUSATO, Paulo César; MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ, Carlos; DÍAZ PITA, María del Mar. Modernas

tendências sobre o dolo em direito penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 41-47
34

agente no momento do cometimento do crime, presunção esta presumível como


verdadeira em momento posterior pelo julgador a ponto de possivelmente se imputar
uma sanção penal ao sujeito baseado fundamentalmente em tal critério. Logo, o que
passa a ser analisado diz respeito à ação (ou omissão), porém com atenção ímpar ao
contexto no qual está inserida, as regras que se aplicam àquela conduta, o uso da
linguagem que a envolve com base em elementos externos e objetivos. Com base em
tais pressupostos que se atribui o dolo ao sujeito.
Por fim, apesar de as implicações da teoria significativa à luz da linguagem
chegarem a abranger incontáveis conceitos da teoria do delito, com densas mudanças
que poderiam ser explicitadas no presente trabalho, o que se pretende é uma análise
apenas do dolo. O foco se volta, portanto, às implicações de tal interpretação sobre a
responsabilidade penal dos entes coletivos conforme será exposto adiante.

3.3 A ATRIBUIÇÃO DO DOLO À PESSOA JURÍDICA SEGUNDO UMA


CONCEPÇÃO SIGNIFICATIVA Ajustar, não tem recuo no início da titulação da seção

É crescente o reconhecimento doutrinário no sentido de que atualmente há uma


“insuficiência do direito penal tradicional como mecanismo de controle de condutas
ilícitas vinculadas às empresas”105. Conforme descrito anteriormente, as resistências
à responsabilidade criminal de pessoas jurídicas106 são realizadas pela doutrina em
níveis estruturais e conceituais. Entretanto, conforme já descrito anteriormente, a
pessoa jurídica vista sob a ótica de conceitos significativos é capaz de ação107 e de
expressar vontade108.
O ponto nevrálgico acerca da imputação de um ato criminoso em face da
pessoa jurídica e objeto central deste artigo, diz respeito aos pressupostos que fazem
com que se reconheça sua atitude dolosa. Partindo-se do pressuposto de que a

105 SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade penal da pessoa jurídica: de acordo com a Lei
9.605/98. São Paulo: RT, 1998, p. 96.
106 Interessante ressaltar trecho de Rothenburg: “Como o Direito se tem ocupado da pessoa jurídica

enquanto sujeito ativo de crimes? Desconhecendo-a? Ignorando-a? Negando-a? Admitindo-a com


reservas – reservas presas muito mais a preconceitos teóricos do que a empecilhos jurídicos de peso.
A revelação de que a sujeição criminal ativa da pessoa jurídica nunca foi, na verdade, completamente
estranha ao Direito; a desmistificação do falso tabu societas delinquere non potest, além de
constituírem um testemunho mais aproximado da realidade, só têm a contribuir para uma próxima e
franca admissão do princípio.” (ROTHENBURG, Walter Claudius. A pessoa jurídica criminosa:
estudo sobre a sujeição criminal ativa da pessoa jurídica. Curitiba: Juruá, 1997, p. 35)
107 Vide tópico 1.4
108 Conforme tópicos 3.1 e 1.3.
35

questão do dolo sob um viés significativo, teoria acolhida pelo presente trabalho, já foi
debatida em tópico anterior, dá-se o próximo (e último) passo para o tema da
responsabilidade de entes morais em contexto brasileiro.
Se trata a partir de então como seria a aplicabilidade do dolo em face de crimes
cometidos por uma pessoa jurídica.
Acerca da atribuição do dolo a uma pessoa jurídica, conforme Busato, o dolo
se atribui a “uma conduta, conforme expresse o sentido de compromisso para com a
produção de um resultado. (...) A realização de um crime cujas circunstâncias são
capazes de revelar consciência e vontade podem ser reconhecidas como dolosas.
Nesse sentido, a realização de um crime por uma pessoa jurídica pode perfeitamente
ser expressão de sua própria vontade109”. Este mesmo autor entende que a vontade
da pessoa jurídica pode vir a diferir das vontades individuais das pessoas físicas que
a “compõem”110, de forma que a vontade da pessoa jurídica é autônoma e
corresponde a uma “justaposição” de vontades individuais111.
Essa ideia112 parte do pressuposto de que o sujeito de direito que descumpre
a norma pode ser objeto de atribuição de sentido113. Com base em Ludwig

109 BUSATO, Paulo César. Razões Criminológicas, político-criminais e dogmáticas para a adoção da
responsabilidade penal de pessoas jurídicas na reforma do Código Penal brasileiro. In: _____;
GUARAGNI, Fábio André. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica: fundamentos criminológicos,
superação de obstáculos dogmáticos e requisitos legais do interesse e benefício do ente coletivo para
a responsabilização criminal. Curitiba: Juruá, 2012, p. 17-92.
110 Indica-se, a fim de ilustrar a existência de uma vontade da pessoa jurídica independente e até

mesmo diversa de seus representantes, a leitura de exemplo redigido por Paulo César Busato Ângela
dos Prazeres. (Em BUSATO, Paulo César; PRAZERES, Ângela. Heterorresponsabilidade e
autorresponsabilidade penal de pessoas jurídicas. Especial referência ao fato de conexão” In: GRECO,
Luís; BUSATO, Paulo César. Responsabilidade penal de pessoas jurídicas: anais do III seminário
Brasil-Alemanha. Ed. São Paulo: Tirant lo Blanch, 2020, p. 27-28).
111 Busato, Paulo César. Vontade penal da pessoa jurídica: um problema prático de imputação de

responsabilidade criminal. Revista da Escola da Magistratura do Estado de Rondônia. Porto Velho:


EMERON, ano 2001, n. 8, 2001, p. 305.
112 Para Carbonell Mateu: “ninguém duvida da capacidade de uma pessoa jurídica para descumprir

obrigações e adquirir, com isso, responsabilidades patrimoniais ou inclusive de qualquer outra índole
[...] se a ação é significado, as pessoas jurídicas têm capacidade de ação; podem ser sujeitos de
delitos.” (CARBONELL MATEU, Juan Carlos. Aproximación a la dogmática de la responsabilidade
penal das personas jurídicas, in: CARBONELL MATEU, J.C. GONZÁLEZ CUSSAC, J.L.
BERENGUER, E. Orts. Constitución, Derechos Fundamentales y Sistema Penal. Semblanzas y
estúdios con el motivo del setenta aniversario del Professor Tomás Salvador Vives Antón. Tomo
I, Valencia: Tirant lo Blanch, 2009, p. 317-318). Nossa
113 Sobre expressão de sentido: “se tem sentido tudo o que, de acordo com a nessa linguagem social

e comunicativa comum, possa ser fonte de significado, ou seja, se uma ação ou omissão, em sentido
jurídico, é a expressão comunicativa de um fazer ou não fazer, traduzida em um verbo típico que
expressa intenções, segundo a linguagem comum, parece ser possível afirmar que uma pessoa jurídica
efetivamente atue. Afinal, há evidente sentido comum nas expressões: a empresa anunciou
contratações, a companhia contaminou o rio; pretendendo evitar uma denúncia criminal, a empresa Z
recolheu os impostos que se lhe apontava como devidos. Todas são, induvidosamente, expressões de
sentido denotativas de fins da pessoa jurídica especificamente e não necessariamente das pessoas
36

Wittgenstein114, o significado que aqui se refere não vem a ser determinado pelo objeto
ou pela pessoa que o exprime, mas simplesmente pelo seu uso na linguagem. Visto
sob tal viés portanto, independe que o agente ativo seja pessoa física ou jurídica.
No mesmo sentido, Paulo Busato defende que, “se faz sentido linguístico
comum afirmar um fazer de pessoas jurídicas, é porque estas ações são algo que se
encontra no fundo do desenvolvimento da própria linguagem com sentido e é o que
se lhe permite reconhecer enquanto tal”115. Em verdade o que ocorre é exatamente a
total possibilidade de apreensão das condutas da pessoa jurídica pela linguagem
comum e especializada.
O que se percebe até o momento, portanto, diz respeito ao fato de: que a
pessoa jurídica é capaz de ação (ponto 1.3), que expressa uma vontade autônoma de
seus representantes (ponto 1.2), que são identificáveis e praticáveis condutas dolosas
por pessoas jurídicas (ponto 3.2). Logo, se infere que a teoria proposta por Vives S.
Antón esgota todos os possíveis óbices relativos à uma responsabilização penal
dolosa da pessoa jurídica. Por fim, e a fim de dizimar possíveis restantes objeções
em face de sua existência em contexto brasileiro, parte-se para uma exemplificação.
Remete-se à tipificação contida no artigo 337-A do Código Penal116. Seus
incisos I e II citam omissões relativas a “folha de pagamento da empresa” e à
contabilidade de empresa. As menções a pessoa jurídicas não se esgotam nos incisos
do artigo. Em parágrafo §3º117 se desvela o agente das omissões, ao qual se descreve

físicas que a compõem” (BUSATO, Paulo César; PRAZERES, Ângela. Heterorresponsabilidade e


autorresponsabilidade penal de pessoas jurídicas. Especial referência ao fato de conexão” In: GRECO,
Luís; BUSATO, Paulo César. Responsabilidade penal de pessoas jurídicas: anais do III seminário
Brasil-Alemanha. Ed. São Paulo: Tirant lo Blanch, 2020, p. 23).
114 WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. Trad. José Carlos Bruni. São Paulo: Abril

Cultural, 1979, p. 43.


115 BUSATO, Paulo César; PRAZERES, Ângela. Heterorresponsabilidade e autorresponsabilidade

penal de pessoas jurídicas. Especial referência ao fato de conexão” In: GRECO, Luís; BUSATO, Paulo
César. Responsabilidade penal de pessoas jurídicas: anais do III seminário Brasil-Alemanha. Ed.
São Paulo: Tirant lo Blanch, 2020, p. 23.
116 “Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer acessório, mediante as

seguintes condutas:
I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações previsto pela legislação
previdenciária segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a
este equiparado que lhe prestem serviços;
II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa as quantias
descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços;
III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas e
demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias” (BRASIL. Decreto-Lei no 2.848, de 7
de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, 31 dez. 1940).
117 “§ 3o Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de pagamento mensal não ultrapassa R$

1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir a pena de um terço até a metade ou
37

como “se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de pagamento mensal não
ultrapassa R$ 1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir a pena
de um terço até a metade ou aplicar apenas a de multa.”. Se o empregador não é
pessoa jurídica, reduz-se a pena. Se pessoa jurídica, não incide a redução de pena.
Independentemente da dosimetria da pena, admite o legislador que a pessoa jurídica
pode praticar o ilícito.
Detalhe oculto, porém, fundamental: todas as omissões descritas são dolosas.
Sob uma análise significativa, o tipo referido acima identificaria a autoria como
proveniente do responsável tributário, sendo que este poderia corresponder a uma
pessoa jurídica (conforme §3º). O compromisso caracterizador do dolo seria
identificado a partir do momento em que não se fez ou percebe-se que não irá se fazer
o recolhimento do valor devido, preenchendo a conduta típica do artigo 337.
Neste sentido, considerando ser possível a imputação à pessoa jurídica, não
seria razoável pretender responsabilizar o contador empregado da empresa, seus
sócios ou o colegiado que debateu acerca da supressão ou redução da contribuição
social previdenciária. Essa afirmação se reforça em um contexto de votações
secretas, por meio das quais um dos votantes desconhece a opinião do outro, de
modo que o produto do debate vem a expressar uma “opinião” exclusiva da pessoa
jurídica, que pode não vir a corresponder com a vontade de cada um daqueles que
compõem o colegiado ou que daqueles que são empregados que cumprem ordens.
O que se nota, portanto, é uma expressão de vontade e atuação plenamente
imputáveis à própria pessoa jurídica.
Resgata-se aqui os pontos iniciais deste artigo, os quais se referiam a autores
que negam a admissão responsabilidade penal da pessoa jurídica no ordenamento
jurídico. Ultrapassado tal resgate, dispensa-se comentários além dos já extensos
proferidos nas páginas anteriores.
Portanto, infere-se que com uma análise realizada com base na ação
significativa e na filosofia da linguagem, é possível a atribuição do dolo à pessoa
jurídica, considerando que, para tal modelo teórico a pessoa jurídica pratica ação e a
ela pode-se imputar o dolo de forma autônoma.

aplicar apenas a de multa.” (BRASIL. Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal.
Diário Oficial da União, 31 dez. 1940).
38

CONCLUSÃO A CONCLUSÃO deve receber numeração e não tem recuo na titulação.


Ver exemplo, p. 46 do Manual

A fim de embasar o objetivo central do presente trabalho, qual seja demonstrar


a possibilidade de um dolo da pessoa jurídica, foi necessário expor, em primeiro
momento, um panorama geral acerca da responsabilidade penal da pessoa jurídica
desde sua origem.
Em segundo momento, surge a questão do dolo e qual o seu conceito segundo
as concepções clássicas do causal-naturalismo, do finalismo e do funcionalismo
sistêmico e teleológico.
Tais exposições acabam por facilitar a apreensão do tema final e fundamental
deste trabalho, qual seja o dolo da pessoa jurídica conforme uma concepção
significativa fundada na teoria de Tomás S. Vives Antón.
Sendo assim, se expôs e se defendeu não apenas a existência e a possibilidade
de uma responsabilização penal da pessoa jurídica no ordenamento brasileiro, mas
também e principalmente que, conforme uma leitura a partir da ação significativa, é
possui atribuir dolo à pessoa jurídica.
39

REFERÊNCIAS
Espaçamento simples no texto de
referência
BARATTA, Alessandro. Integración-Prevención: Una “Nueva” Fundamentación
de la Pena Dentro de la Teoría Sistémica. Neopanopticum, 27 nov. 2005

BRASIL. Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário


Oficial da União, 31 dez. 1940.

_____. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da


União, 5 out. 1988.
quando há mais de uma referência do mesmo autor. Ver item 9.3.1,b, p.121, do Manual

_____. Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e


administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá
outras providências. Diário Oficial da União, 12 fev. 1998.

BUSATO, Paulo César. A responsabilidade criminal de pessoas jurídicas na história


do direito positivo brasileiro. Revista de Informação Legislativa: RIL, v. 55, n. 218,
abr./jun. 2018.

________. Direito Penal: Parte Geral. Atlas Editora, 2015.

________. Direito penal e ação significativa: uma análise da função negativa do


conceito de ação em direito penal a partir da filosofia da linguagem. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2005.

________. Razões Criminológicas, político-criminais e dogmáticas para a adoção da


responsabilidade penal de pessoas jurídicas na reforma do Código Penal brasileiro.
In: _____; GUARAGNI, Fábio André. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica:
fundamentos criminológicos, superação de obstáculos dogmáticos e requisitos
legais do interesse e benefício do ente coletivo para a responsabilização
criminal. Curitiba: Juruá, 2012.
40

________.. Responsabilidade penal de pessoas Jurídicas e a ordem das revoluções.


Revista de Estudos Criminais, nº 70, jul/set 2018.

________.. Vontade Penal da Pessoa Jurídica – um problema prático de imputação


de responsabilidade criminal. Novos Estudos Jurídicos. Ano VI, nº 12, abril/2001.

________.. Vontade penal da pessoa jurídica: um problema prático de imputação de


responsabilidade criminal. Revista da Escola da Magistratura do Estado de
Rondônia. Porto Velho: EMERON, ano 2001, n. 8, 2001.

________; MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ, Carlos; DÍAZ PITA, María del Mar. Modernas
tendências sobre o dolo em direito penal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.

________.; PRAZERES, Ângela. Heterorresponsabilidade e autorresponsabilidade


penal de pessoas jurídicas. Especial referência ao fato de conexão” In: GRECO, Luís;
BUSATO, Paulo César. Responsabilidade penal de pessoas jurídicas: anais do III
seminário Brasil-Alemanha. Ed. São Paulo: Tirant lo Blanch.

________.; REINALDET, Tracy Joseph. Crítica ao uso dogmático do compliance


como eixo de discussão de uma culpabilidade de pessoas jurídicas. In: GUARAGNI,
Fábio André; BUSATO, Paulo César. Compliance e Direito Penal. São Paulo: Atlas,
2015.

CARBONELL MATEU, Juan Carlos. Responsabilidad penal de las personas jurídicas:


reflexiones em torno a su dogmática y al sistema de la reforma de 2010. Cuaderno
de Política Criminal, núm. 101, 2010.

__________. Aproximación a la dogmática de la responsabilidad penal de las


personas jurídicas. In: CARBONELL MATEU, J.C. GONZÁLEZ CUSSAC, J.L.;
BERENGUER, Orts. Constitución, Derechos Fundamentales y Sistema Penal.
Semblanzas y estúdios com el motivo del setenta aniversario del Profesor
Tomás Salvador Vives Antón. Tomo I. Valencia: Tirant lo Blanch, 2009.
41

DOTTI, René Ariel (Coord.). Responsabilidade penal da pessoa jurídica: em defesa


do princípio da imputação penal subjetiva. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2011, p. 163-202.

FLETCHER, George Patrick. Conceptos básicos de derecho penal. Valencia: Tirant


Lo Blanch, 1997.

_________. The Grammar of Criminal Law: American, comparative, and


international, v. I. New York: Oxford University Press, 2007.

FRANCO, Affonso Arinos de Mello. Responsabilidade Criminal das pessoas


jurídicas. Rio de Janeiro: Graphica Ypiranga, 1930.

GALVÃO, Fernando. Responsabilidade penal da pessoa jurídica. 2. ed. Belo


Horizonte: Del Rey, 2003.

GRECO, Luís; BUSATO, Paulo César. Responsabilidade penal de pessoas


jurídicas: anais do III seminário Brasil-Alemanha. Ed. São Paulo: Tirant lo Blanch,
2020.

GUARAGNI, Fábio André. “Interesse ou benefício” como critérios de


responsabilização da pessoa jurídica decorrentes de crimes – a exegese italiana como
contributo à interpretação do art. 3o da lei 9.605/1998. In: BUSATO, Paulo César;
GUARAGNI, Fábio André. Responsabilidade penal da pessoa jurídica:
fundamentos criminológicos, superação de obstáculos dogmáticos e requisitos
legais do interesse e benefício do ente coletivo para a responsabilização
criminal. Curitiba: Juruá, 2013.

_________; LOUREIRO, Maria Fernanda. Responsabilidade penal da pessoa jurídica:


rumo à autorresponsabilidade penal, in: CHOURK, Fauzi Hassan; LOUREIRO, Maria
Fernanda (coord.)]. Aspectos contemporâneos da responsabilidade penal da
pessoa jurídica. Tomo II. São Paulo: FECOMÉRCIO, 2015.
42

HASSEMER, Winfried. Persona, mundo y responsabilidad: bases para una teoría


de la imputación en derecho penal. Trad. Francisco Muñoz Conde; Maria del Mar
Díaz Pita. Valencia: Tirant lo Blanch, 1999.

HEINE, Gunter. La responsabilidad penal de las empresas: evolución internacional y


consecuencias nacionales, in: HURTADO POZO, José. Responsabilidad penal de
las personas jurídicas, 1997. pp. 19-45.

JAKOBS, Gunther. Derecho Penal. Parte General. Fundamentos y teoria de la


imputación. Trad. Joaquin Cuello Contreras. Jose Luis Serrano Gonzalez de Murillo.
Madrid: Marcial Pons Ediciones Juridicas,1995.

LISZT, Franz Von. Tratado de Derecho Penal. 4 ed. Trad. De Luiz Jiménez de Asúa,
Madrid: Editorial Reus, 1999.

LÔBO, Paulo. Direito Civil: parte geral. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

LUHMANN, Niklas. Sociologia do Direito II. Trad. Gustavo Bayer. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1985.

MARTÍNEZ-BUJÁN PÉREZ, Carlos. La “concepción significativa de la acción” de T.


S. Vives y sus correspondencias sistemáticas con las concepciones teleológico-
funcionales del delito. Anuario da Facultade de Dereito da Universidade da
Coruña, n. 5, 2001, p. 1075-1104.

MEZGER, Edmund. Derecho Penal. Parte General. Buenos Aires: Editorial


Bibliografica Argentina., 1958.

MIR PUIG, Santiago. Derecho penal. 10 ed. Barcelona: Reppertor, 2015.

MUÑOZ CONDE, Francisco. Introducción al Derecho penal. Barcelona: Bosch, 1975.


43

_________; GARCÍA ARÁN, Mercedes. Derecho penal: parte general. 3. ed.


Valencia: Tirant lo Blanch, 1998.

PASSAMAR BOLDOVA, Miguel Ángel. La introducción de la responsabilidad penal de


las personas jurídicas en la legislación Española. Estudios Penales y Criminológicos,
v. XXXIII. Santiago de Compostela, 2013.

PÉREZ CEPEDA, Ana Isabel. Modelos Tradicionales de imputación de


responsabilidad penal a las personas jurídicas, in: CUESTA ARZAMENDI, José Luis
de la. Responsabilidad penal de las personas jurídicas, Cizur Menor: Thomson-
Aranzadi, 2013.

PRADO, Luiz Regis, Teorias da Imputação Objetiva do Resultado, uma


aproximação crítica a seus fundamentos, Revista dos Tribunais, 2002.

________. Direito penal do ambiente. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2009.

ROTHENBURG, Walter Claudius. A pessoa jurídica criminosa: estudo sobre a


sujeição criminal ativa da pessoa jurídica. Curitiba: Juruá, 1997.

________.. Pessoa jurídica criminosa. Curitiba: Juruá, 1997.

ROXIN, Claus. Derecho Penal. Parte General. Fundamentos. La estrutura de la


teoria del delito. 2ed. Tradução de Diego-Manuel Luzón, Miguel Díaz y García
Conlledo e Javier de Vicente Remesal. Madrid: 1997.

________. Estudos de direito penal. Trad. Luís Greco. 2. ed. rev. Rio de Janeiro;
São Paulo; Recife: Renovar, 2008.

________. Funcionalismo e Imputação Objetiva no Direito Penal. Trad. Luís


Greco. Rio de Janeiro: Renovar, 2002.
44

________. Zur Abgrenzung von bedingtem Vorsatz und bewußter mirFahrlässigkeit.


Juristische Schulung (JuS), München, 1964. Apud CABRAL, Rodrigo Leite Ferreira.
DOLO Y LENGUAJE: Hacia uma nueva gramática del dolo desde la Filosofía del
Lenguaje. Tese (doutorado em Direito) Universidad Pablo de Olavide. Sevilla, p. 390.
2016.

SANTOS, Juarez Cirino. Direito penal: parte geral. 2. ed. rev. e amp. Curitiba: ICPC;
Lumen Juris, 2007.

SHECAIRA, Sérgio Salomão. Responsabilidade Penal da Pessoa jurídica – De


acordo com a Lei 9.605/98. São Paulo: RT, 1998.

SILVA, Antonio José da Costa. Código Penal dos Estados Unidos do Brasil
comentado. Ed. Fac-similar. Brasília: Senado Federal, 2004.

TIEDEMANN, Klaus. Responsabilidad penal de personas jurídicas y empresas en


derecho comparado. Revista Brasileira de Ciências Criminais. São Paulo: RT, ano
3, n. 11, jul-set/1995.

TOMÁS Y VALIENTE, Francisco. El Derecho penal de la monarquía absoluta.


Siglos XVI – XVII – XVIII. Madrid: Editorial Tecnos, 1969.

VIVES ANTÓN, Tomás. Salvador. Fundamentos del Sistema Penal: acción


significativa y derechos constitucionales. 2 ed. Valencia: Tirant lo Blanch, 2011.

WELZEL, Hans. Derecho penal – parte general. Buenos Aires, Roque Depalma
Editor, 1956.

WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. Trad. José Carlos Bruni. São


Paulo: Abril Cultural, 1979.

ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Parecer a Nilo Batista sobre a responsabilidade penal


das pessoas jurídicas. In: PRADO, Luiz Régis; DOTTI, René Ariel (Coord.).
45

Responsabilidade penal da pessoa jurídica: em defesa do princípio da


imputação penal subjetiva. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

Você também pode gostar