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Dedico esse trabalho de conclusão de curso aos meus pais, Ângela e Edson,
ao meu irmão, Heitor, e à companheira que Deus colocou em minha vida,
Patrícia. Amo vocês.
RESUMO
1
TARTUCE, Flávio. Direito civil, 1: Lei de introdução e parte geral. 10. ed. rev., atual. e ampl.
Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014.
de personalidade jurídica própria, para a realização de fins comuns” (FILHO,
2003, p. 191)2.
Já com relação à personalidade jurídica, tem-se que o instituto surgiu no
direito positivado com a finalidade principal de fomentar a atividade econômica,
por meio de um mecanismo prático e que, ao mesmo tempo que traz
segurança para os seus constituintes, proporciona maior geração de
empregados e arrecadação tributária ao Estado.
Essa segurança proporcionada àqueles que exercem a atividade por
meio de uma pessoa jurídica também trouxe situações que desvirtuam este
benefício, uma vez que abre possibilidades para fraudes e abusos, que
somente foram resolvidos com o surgimento da Teoria da Desconsideração da
Personalidade Jurídica.
Neste trabalho de conclusão de curso será analisado o instituto da
desconsideração da personalidade jurídica sob a luz do código de processo
civil de 2015, retrocedendo a um contexto histórico de sua aplicação, além da
interpretação doutrinária sobre o texto legal, com suas modalidades e formas
de aplicação.
4
MAC-DONALD, Norberto da Costa Caruso. Pessoa jurídica: questões clássicas e atuais
(abuso – sociedade unipessoal – contratualismo). In: Revista da Faculdade de Direito da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre vol. 22, (set. 2002), p. 315
5
REQUIÃO, Rubens. Abuso de direito e fraude através da personalidade jurídica (disregard
doctrine). Revista dos Tribunais, São Paulo, vol. 58, nº 410, p. 12-24, dez/69, p. 15.
O próprio Código Civil, em seu art. 1.052 destaca que cada sócio
responde até o valor de sua cota, exceto de que todos os sócios respondem,
solidariamente, pelo capital social a integralizar:
6
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 11 jan. 2002. p. 1.
7
BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as sociedades por ações.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 dez. 1976. Suplemento, p. 1.
8
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 17 mar. 2015.
Quando se trata da autonomia patrimonial das empresas, também deve-
se destacar o benefício da distribuição dos riscos como uma forma de dividir a
responsabilidade sobre os riscos. Isso torna mais atrativo aos empresários
quando se busca a motivação para investir em uma sociedade, ainda que o
risco do negócio exista, diante da alta carga tributária presente no Brasil.
Esta divisão de riscos está presente na chamada socialização dos
custos, que faz uso de outro direito das empresas previsto em lei: a falência.
Quando os débitos da empresa são maiores que seus créditos, tem-se a
possibilidade de iniciar um procedimento chamado de falência e recuperação
judicial.
Este processo funciona como mais uma das formas de proteger o
patrimônio dos sócios, pois ainda que a dívida da empresa seja maior que seu
patrimônio, não haverá qualquer afetação dos bens dos sócios.
Além disso, falência organiza o procedimento, sendo que, de um lado se
apresentam os bens da empresa e, do outro, os débitos a serem pagos aos
credores, na ordem prevista no art. 83 da Lei de Falência e Recuperação
Judicial (Lei nº 11.101/2005).
9
BRASIL. Lei nº 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a
extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 09 fev. 2005.
10
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, vol. 2, 13ª edição. Saraiva: São Paulo,
1999. p. 40-41.
É importante mencionar que esta teoria de divisão social dos riscos é
atribuída ao professor norte-americano Richard Posner, que se tornou notório
por seus apontamentos jurídicos do ponto de vista econômico.
Mesmo que, a princípio, a teoria gere sentimentos negativos, por conta
de atribuir riscos a credores, deve-se analisa-la do ponto de vista
macroeconômico, posto que afasta a possibilidade de desastre financeiro
pessoal dos sócios e garante melhores atrativos aos investidores e sócios da
empresa.
11
REQUIÃO, op. cit, p.15.
É importante destacar que os benefícios garantidos pela autonomia
patrimonial não se estendem a todas as modalidades de pessoas jurídicas
elencadas no Código Civil.
Isto acontece pela própria natureza de determinada modalidade, como
acontece na modalidade de Empreendedor Individual, a popular EI, uma vez
que trata-se de caso onde a responsabilidade do empresário é ilimitada, ou
seja, a pessoa física do empresário responde com todos os seus bens com
relação às dívidas contraídas pela empresa, salvo se a lei prever algum detalhe
diferente.
No caso das sociedades simples, chamas SS, a previsão de
responsabilidade ilimitada dos sócios está prevista no art. 1.023 do Código
Civil, nos seguintes termos:
12
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 11 jan. 2002. p. 1.
13
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 11 jan. 2002. p. 1.
3. A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NO
ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
É possível observar que o artigo descrito acima foi melhorado com a sua
transcrição no Código de Defesa do Consumidor, uma vez que esta ainda
dispõe de cinco parágrafos, dos quais serão extraídas análises pertinentes em
momento oportuno.
15
BRASIL. Decreto nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário
Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 out. 1966.
Por óbvio, o dispositivo legal acima transcrito apresenta certa
particularidade que coloca em dúvida se trata-se de caso de responsabilidade
solidária ou subsidiária, visto que é expresso em destacar apenas em casos de
omissões ou atos de intervenções dos sócios e não em qualquer hipótese.
A bem da verdade, a intepretação do artigo causa divergência
doutrinária e jurisprudencial nos casos de execução fiscal.
16
BRASIL. Decreto nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e
administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13 fevereiro. 1998.
3.2 – Legislação Trabalhista
17
BRASIL. Decreto nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do
Trabalho. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 out. 1966.
4. MODALIDADES DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA
18
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 11 jan. 2002. p. 1.
§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre
que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao
ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores19.
19
BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e
dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 set. 1990.
dos cônjuges assim o faz para burlar a divisão de bens a depender do regime
de comunhão.
Em seu curso de direito comercial, o professor Fábio Ulhoa Coelho
ilustra a seguinte situação:
20
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 2. 8ª edição. São Paulo:
Saraiva, 2005, p. 45.
21
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 17 mar. 2015.
empresa devedora, sendo que aquela foi criada com o intuito de fraudar os
credores desta.
Em outras palavras, se caracteriza pela existência de uma empresa dita
“de fachada”, criada tão-somente para criar óbices à cobrança de um crédito de
uma outra pessoa jurídica. Nestes casos são aplicados os trâmites da
desconsideração lateral.
É possível destacar que a desconsideração lateral da personalidade
jurídica possui como uma de suas características a existência de fraude à
execução, uma vez que há confusão patrimonial, tendo em vista que a
empresa devedora transferiu seus bens para a empresa “laranja”.
A jurisprudência vem formando cada vez mais julgados no sentido de
aplicação desta modalidade de desconsideração nos casos em que ocorram
gestões fraudulentas ou pertencendo a empresa a grupo econômico de outras
pessoas jurídicas administradas pela mesma pessoa e com estrutura
meramente formal.
22
FARIAS, Cristiano Chaves de. Direito Civil: teoria geral / Cristiano Chaves, Nelson
Rosenvald. 9. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p.455.
5 – A DESCONSIDERAÇÃO APLICADA IN CONCRETO
23
COMPARATO, Fábio Konder. O poder de controle na sociedade anônima, p. 362
Esse pensamento doutrinário foi transportando para a letra da lei, mais
especificamente do art. 50 do Código Civil, que trata o instituto da forma mais
próxima da qual foi concebido. Isso porque tanto o Código de Defesa do
Consumidor quanto a Lei Antitruste acabam por facilitar a discussão em favor
da parte hipossuficiente. Por exemplo, na legislação consumerista, basta que a
empresa não tenha capacidade financeira para arcar com a dívida perante o
consumidor que haverá a sua desconsideração.
Deve-se esclarecer que a aplicação do que foi dito acima também valerá
para o instituto da desconsideração da personalidade jurídica inversa.
6 – DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NO CPC
Item 3
https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/229/edicao-1/desconsideracao-da-
personalidade-juridica