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João Paulo Nardachione

O INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE


JURÍDICA À LUZ DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

São José do Rio Preto/SP


2023
João Paulo Nardachione

O incidente de desconsideração da personalidade jurídica à luz do novo Código


de Processo Civil

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Faculdade Digital
Descomplica, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do grau de
bacharel tecnólogo em Pós-Graduação
em Direito Civil e Processual Civil.

São José do Rio Preto/SP


2023
AGRADECIMENTOS

Dedico esse trabalho de conclusão de curso aos meus pais, Ângela e Edson,
ao meu irmão, Heitor, e à companheira que Deus colocou em minha vida,
Patrícia. Amo vocês.
RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso propõe uma análise aprofundada


do incidente de desconsideração da personalidade jurídica, destacando as
mudanças e inovações introduzidas pelo Novo Código de Processo Civil
(NCPC). O objetivo é compreender a efetividade desse instituto no contexto
jurídico brasileiro, suas implicações práticas e o equilíbrio entre a proteção dos
direitos dos credores e a preservação da segurança jurídica. O estudo baseia-
se em uma revisão bibliográfica, análise de jurisprudência e pesquisa empírica,
visando oferecer uma contribuição significativa ao entendimento desse
importante instrumento processual.
Palavras-chave: Desconsideração da personalidade jurídica, novo Código de
Processo Civil, proteção dos credores.
INTRODUÇÃO

A desconsideração da personalidade jurídica é um instituto jurídico que permite


a responsabilização dos sócios ou administradores de uma empresa por
dívidas da entidade. Com as inovações trazidas pelo Novo CPC, em especial
no que se refere ao Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica, é
crucial compreender as implicações práticas dessas mudanças. A justificativa
para este estudo reside na necessidade de aprofundar o entendimento sobre a
aplicação desse incidente, considerando seus reflexos na segurança jurídica e
nos direitos dos envolvidos.
METODOLOGIA

A pesquisa utilizará uma abordagem qualitativa, incluindo revisão bibliográfica,


análise de decisões judiciais e, se possível, entrevistas com profissionais do
direito. A revisão bibliográfica abrangerá fontes legislativas, doutrinárias e
jurisprudenciais relacionadas à desconsideração da personalidade jurídica,
com ênfase nas mudanças trazidas pelo novo Código de Processo Civil. A
análise de decisões judiciais buscará identificar padrões na aplicação do
incidente, enquanto as entrevistas fornecerão insights práticos de profissionais
que lidam diretamente com esse tema.
1. INTRODUÇÃO

1.1. Conceitos Iniciais

Antes de analisar o histórico, modalidades, aplicação e eventuais


problemáticas envolvendo o tema da desconsideração da personalidade
jurídica, se faz necessário alguns apontamentos e conceituações iniciais sobre
o instituto.
Considerando o tempo de existência dos primeiros codex, o conceito de
desconsideração da personalidade jurídica é relativamente novo. Mais recente
ainda é a sua previsão no ordenamento jurídico brasileiro, porém com uma
importante aplicação.
O presente trabalho trará um estudo mais aprofundado sobre o tema,
utilizando-se de citações doutrinárias, artigos, jurisprudências e legislação,
entre outros materiais que possam ter relação com o tema abordado,
enfatizando o instituto após a vigência do novo Código de Processo Civil.
Vale ressaltar que a importância do tema não se limita à esfera
acadêmica, mas abrange os reflexos observados em julgamentos de processos
e até outros institutos previstos na legislação, como o caso da relação de
trabalho, holding e relações de consumo ou civil.
Em resumo, tem-se que o instituto prevê que o patrimônio dos sócios de
uma empresa pode ser atingido, com o objetivo de responder por obrigações
da pessoa jurídica.
Para adentrar-se estritamente ao tema, faz-se necessário conceituar o
que é uma pessoa jurídica e o que é a personalidade jurídica intrínseca a ela.
É cediço que as pessoas jurídicas são aquelas formadas por um
conjunto de pessoas ou bens, com personalidade jurídica própria, ainda que
por força de uma ficção da lei (TARTUCE, 2014) 1. Para os professores Rodolfo
Pamplona Filho e Pablo Stolze Gagliano, o conceito é um pouco mais restrito,
ao dispor que trata-se de um “grupo humano, criado na forma da lei, e dotado

1
TARTUCE, Flávio. Direito civil, 1: Lei de introdução e parte geral. 10. ed. rev., atual. e ampl.
Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014.
de personalidade jurídica própria, para a realização de fins comuns” (FILHO,
2003, p. 191)2.
Já com relação à personalidade jurídica, tem-se que o instituto surgiu no
direito positivado com a finalidade principal de fomentar a atividade econômica,
por meio de um mecanismo prático e que, ao mesmo tempo que traz
segurança para os seus constituintes, proporciona maior geração de
empregados e arrecadação tributária ao Estado.
Essa segurança proporcionada àqueles que exercem a atividade por
meio de uma pessoa jurídica também trouxe situações que desvirtuam este
benefício, uma vez que abre possibilidades para fraudes e abusos, que
somente foram resolvidos com o surgimento da Teoria da Desconsideração da
Personalidade Jurídica.
Neste trabalho de conclusão de curso será analisado o instituto da
desconsideração da personalidade jurídica sob a luz do código de processo
civil de 2015, retrocedendo a um contexto histórico de sua aplicação, além da
interpretação doutrinária sobre o texto legal, com suas modalidades e formas
de aplicação.

1.2. Histórico e Evolução do Instituto no Ordenamento Jurídico


Brasileiro

A doutrina possui uma vasta discussão sobre a verdadeira origem do


instituto da desconsideração da personalidade jurídica.
Embora o tema seja aplicado, ainda que de forma arcaica, desde o
Império Romano com a relativização e subjetividade patrimonial das
corporações, acredita-se, em sua maioria, que seu surgimento se deu nos
Estados Unidos, no início do século XIX, no julgamento do caso Bank of United
States v. Deveaux.
Neste caso, o instituto foi aplicado com fundamento no art. 3º da
Constituição Federal Norte Americana, com finalidade de resguardar a
jurisdição das Cortes Federais em detrimento das chamadas corporations3.
2
PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. v. I.
3
KOURY, Suzy Elizabeth Cavalcante. A desconsideração da personalidade jurídica (disregard
doctrine) e os grupos de empresas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 64
E foi só em meados de 1969 que a doutrina brasileira incorporou a
teoria, através dos ensinamentos do professor Rubens Requião, com a obra
Desregard Doctrine. Nela, sustentou-se que, mesmo sem previsão legal
expressa até o momento, seria cabível a aplicação da desconsideração, pois
tratava-se de único meio cabível para obstar fraudes e abusos através da
constituição de pessoas jurídicas.
A desconsideração da personalidade jurídica é um instituto jurídico que
tem suas raízes no direito anglo-saxão e que foi incorporado ao ordenamento
jurídico brasileiro para lidar com situações em que a autonomia patrimonial da
pessoa jurídica é utilizada de forma abusiva. Seu principal propósito é evitar
que a personalidade jurídica seja usada como escudo para práticas ilícitas ou
fraudulentas.
No contexto brasileiro, a desconsideração da personalidade jurídica
começou a ganhar destaque com a influência do direito comparado e das
teorias que propunham a superação da autonomia patrimonial da pessoa
jurídica em situações específicas. Contudo, antes da regulamentação mais
específica no Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/1990), a
aplicação do instituto estava dispersa na jurisprudência, principalmente em
casos de abuso ou desvio de finalidade.
O tema também é abordado pelo art. 50 do Código Civil, que traz os
casos práticos onde o instituto pode ser aplicado, como ocorre no abuso de
personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela
confusão patrimonial.
Com o advento do Novo Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015),
a desconsideração da personalidade jurídica passou a ser tratada de forma
mais sistemática, especialmente no art. 133 e seguintes. Essa legislação
buscou estabelecer critérios mais claros para a aplicação do instituto, visando
conferir maior segurança jurídica às relações empresariais e processuais.
Todo esse aspecto e nuances acerca do tema serão tratados em tópicos
específicos no presente trabalho de conclusão de curso.
2. AUTONOMIA PATRIMONIAL

Uma das benesses de constituir uma pessoa jurídica com a


responsabilidade limitada está relacionada à separação patrimonial entre os
bens desta e de seus sócios.
O professor Norberto da Costa Caruso Mac-Donald destaca que esta
limitação trata-se de “uma extraordinária garantia de igualdade dos cidadãos
nas oportunidades de acesso à riqueza”4.
Em resumo, esta separação patrimonial prevê a limitação da
responsabilidade do sócio somente ao quanto corresponde às suas cotas,
ainda que a integralizar. Ou seja, seu patrimônio pessoal não compõe a
garantia do negócio tal qual o patrimônio da pessoa jurídica em si.
Rubens Requião ensina que a separação patrimonial dos bens da
empresa e dos sócios é um axioma jurídico.

“Tornou-se, pois, axiomático, no estilo de um aforisma jurídico, a


afirmativa, maquinal e constantemente repetida, de que a “pessoa
natural do sócio é radicalmente estranha a pessoa jurídica da
sociedade5”

Vale dizer que a limitação da responsabilidade patrimonial dos sócios foi


um dos pilares das sociedades comerciais, principalmente quando se trata
daquelas por ações e de responsabilidade limitada, porém o instituto da
desconsideração pondera que esta dissociação absoluta pode favorecer
fraudes e abusos de direito.
É claro que, conforme será amplamente apresentado nas teorias sobre a
desconsideração da personalidade jurídica, o entendimento predominante é no
sentido de que a separação patrimonial é regra e, por conseguinte, a
desconsideração da personalidade jurídica é aplicada em casos excepcionais.

4
MAC-DONALD, Norberto da Costa Caruso. Pessoa jurídica: questões clássicas e atuais
(abuso – sociedade unipessoal – contratualismo). In: Revista da Faculdade de Direito da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre vol. 22, (set. 2002), p. 315
5
REQUIÃO, Rubens. Abuso de direito e fraude através da personalidade jurídica (disregard
doctrine). Revista dos Tribunais, São Paulo, vol. 58, nº 410, p. 12-24, dez/69, p. 15.
O próprio Código Civil, em seu art. 1.052 destaca que cada sócio
responde até o valor de sua cota, exceto de que todos os sócios respondem,
solidariamente, pelo capital social a integralizar:

Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é


restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente
pela integralização do capital social6.

O mesmo se aplica para as sociedades anônimas, nos termos previstos


no art. 1º da Leis das S/A:

Art. 1º A companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em


ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao
preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas7.

Ou seja, é possível mensurar que as normas possuíam, via de regra, a


tendência pela prevalência do princípio da autonomia patrimonial. Entretanto,
os dispositivos legais apresentam relativização dessa separação, como é o
caso do art. 795 do Código de Processo Civil, que prevê:

Art. 795. Os bens particulares dos sócios não respondem pelas


dívidas da sociedade, senão nos casos previstos em lei8.(g.n.)

A disposição do caput do referido artigo é um dos exemplos presentes


no ordenamento jurídico de que existe sim a dissociação entre o patrimônio da
empresa e dos sócios, como regra, porém com a ressalva de que a benesse
será relativizada quando houver expressa disposição legal.

2.1. Autonomia Patrimonial Enquanto Distribuição dos Riscos

6
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 11 jan. 2002. p. 1.
7
BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as sociedades por ações.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 dez. 1976. Suplemento, p. 1.
8
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 17 mar. 2015.
Quando se trata da autonomia patrimonial das empresas, também deve-
se destacar o benefício da distribuição dos riscos como uma forma de dividir a
responsabilidade sobre os riscos. Isso torna mais atrativo aos empresários
quando se busca a motivação para investir em uma sociedade, ainda que o
risco do negócio exista, diante da alta carga tributária presente no Brasil.
Esta divisão de riscos está presente na chamada socialização dos
custos, que faz uso de outro direito das empresas previsto em lei: a falência.
Quando os débitos da empresa são maiores que seus créditos, tem-se a
possibilidade de iniciar um procedimento chamado de falência e recuperação
judicial.
Este processo funciona como mais uma das formas de proteger o
patrimônio dos sócios, pois ainda que a dívida da empresa seja maior que seu
patrimônio, não haverá qualquer afetação dos bens dos sócios.
Além disso, falência organiza o procedimento, sendo que, de um lado se
apresentam os bens da empresa e, do outro, os débitos a serem pagos aos
credores, na ordem prevista no art. 83 da Lei de Falência e Recuperação
Judicial (Lei nº 11.101/2005).

Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte


ordem:
I - os créditos derivados da legislação trabalhista, limitados a 150
(cento e cinquenta) salários-mínimos por credor, e aqueles
decorrentes de acidentes de trabalho;
II - os créditos gravados com direito real de garantia até o limite do
valor do bem gravado;
III - os créditos tributários, independentemente da sua natureza e do
tempo de constituição, exceto os créditos extraconcursais e as multas
tributárias;
IV - (revogado);
a) (revogada)
b) (revogada)
c) (revogada)
d) (revogada)
V - (revogado);
a) (revogada)
b) (revogada)
c) (revogada)
VI - os créditos quirografários, a saber:
a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;
b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos
bens vinculados ao seu pagamento; e
c) os saldos dos créditos derivados da legislação trabalhista que
excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo;
VII - as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das
leis penais ou administrativas, incluídas as multas tributárias;
VIII - os créditos subordinados, a saber:
a) os previstos em lei ou em contrato; e
b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo
empregatício cuja contratação não tenha observado as condições
estritamente comutativas e as práticas de mercado;
IX - os juros vencidos após a decretação da falência, conforme
previsto no art. 124 desta Lei9.

Todavia, os credores podem acabar não recebendo a totalidade dos


valores devidos, o que gera essa socialização. Ou seja, através da divisão dos
riscos, os credores devem suportar o prejuízo para equilibrar os riscos entre os
investidores e aqueles que negociam com a empresa em processo de falência.
Assim, tem-se que a autonomia patrimonial acaba por estimular a
atividade empresarial, tendo em vista que os riscos acabam por ser divididos
não só entre os titulares da sociedade, mas também outras empresas que,
voluntariamente, negociam com ela, quando o assunto é o insucesso da
atividade.
Os defensores desse raciocínio entendem que trata-se de uma divisão
justa em prol do estímulo ao empreendedorismo.
Para o professor Fábio Ulhoa Coelho:

O princípio da autonomia patrimonial das pessoas jurídicas,


observado em relação as sociedades empresárias, socializa as
perdas decorrentes de insucesso da empresa entre seus sócios e
credores, propiciando o cálculo empresarial relativo ao retorno dos
investimentos10.

9
BRASIL. Lei nº 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a
extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 09 fev. 2005.
10
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, vol. 2, 13ª edição. Saraiva: São Paulo,
1999. p. 40-41.
É importante mencionar que esta teoria de divisão social dos riscos é
atribuída ao professor norte-americano Richard Posner, que se tornou notório
por seus apontamentos jurídicos do ponto de vista econômico.
Mesmo que, a princípio, a teoria gere sentimentos negativos, por conta
de atribuir riscos a credores, deve-se analisa-la do ponto de vista
macroeconômico, posto que afasta a possibilidade de desastre financeiro
pessoal dos sócios e garante melhores atrativos aos investidores e sócios da
empresa.

2.2. Autonomia Patrimonial Enquanto Privilégio

Outra forma de análise relativo ao assunto da autonomia patrimonial tem


a ver com uma espécie de privilégio concedido pelo Estado, seja ele advindo
de uma lei ou concessão em caráter especial.
Historicamente, no caso da Companhias das Índias Orientais, haviam
atos emitidos pelo Estado para beneficiar os investidores, limitando seus riscos
ao valor do capital integralizado, sem que responda por seu patrimônio
pessoal, em caso de prejuízos financeiros.
Por lógica, este modelo de benesse foi se adequando conforme
evolução da sociedade, porém, sem perder a característica de privilégio
concedido espontaneamente pelo Estado. Entretanto, por esta razão, o próprio
Estado, através do Poder Judiciário, pode suspende-lo ou retira-lo em caso de
mau uso.
Na visão do professor Rubens Requião11, após o surgimento do instituto
da desconsideração da personalidade jurídica, esta passou a ser “um direito
relativo”.

2.3. Exceções à Regra

11
REQUIÃO, op. cit, p.15.
É importante destacar que os benefícios garantidos pela autonomia
patrimonial não se estendem a todas as modalidades de pessoas jurídicas
elencadas no Código Civil.
Isto acontece pela própria natureza de determinada modalidade, como
acontece na modalidade de Empreendedor Individual, a popular EI, uma vez
que trata-se de caso onde a responsabilidade do empresário é ilimitada, ou
seja, a pessoa física do empresário responde com todos os seus bens com
relação às dívidas contraídas pela empresa, salvo se a lei prever algum detalhe
diferente.
No caso das sociedades simples, chamas SS, a previsão de
responsabilidade ilimitada dos sócios está prevista no art. 1.023 do Código
Civil, nos seguintes termos:

Art. 1.023. Se os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas,


respondem os sócios pelo saldo, na proporção em que participem das
perdas sociais, salvo cláusula de responsabilidade solidária12.

Já no caso da sociedade em nome coletivo, tem-se um exemplo


cristalino da aplicação da responsabilidade dos sócios sobre as dívidas
contraídas pela pessoa jurídica, visto os termos do art. 1.039, também do
Código Civil.

Art. 1.039. Somente pessoas físicas podem tomar parte na sociedade


em nome coletivo, respondendo todos os sócios, solidária e
ilimitadamente, pelas obrigações sociais13.

Em outras palavras, a responsabilidade limitada dos sócios é algo


pertinente aos tipos de pessoas jurídicas que a lei concede tal benefício, ou
seja, a incidência deve estar prevista legalmente no tipo societário adotado.

12
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 11 jan. 2002. p. 1.
13
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 11 jan. 2002. p. 1.
3. A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NO
ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Não obstante o instituto da desconsideração da personalidade jurídica ser


recente no ordenamento jurídico nacional, é visível que encontra respaldo nos
diversos códigos e leis diversas.
Logo na segunda década do século XX, percebe-se a manifestação
embrionária do que seria a aplicação do referido instituto que mitiga a o
distanciamento do patrimônio pertencente ao sócio e aquele pertencente à
sociedade. O Decreto nº 3.708/1919 prevê, em seu art. 10, dispõe que a
responsabilidade limitada dos sócios, porém, faz menção à hipótese de
superação da separação patrimonial destes.

Art. 10. Os socios gerentes ou que derem o nome á firma não


respondem pessoalmente pelas obrigações contrahidas em nome da
sociedade, mas respondem para com esta e para com terceiros
solidaria e illimitadamente pelo excesso de mandato e pelos actos
praticados com violação do contracto ou da lei.14

Todavia, as mais diversas legislações fazem tal previsão de


responsabilização dos sócios. Por óbvio, estão imbuídas de seus aspectos
particulares de aplicação.
Vale mencionar que os subitens a seguir não contemplam o Código Civil e
Código de Defesa do Consumidor, que serão devidamente abordados em
tópico posterior, posto que trazem em seu bojo aspectos ligados à doutrina,
apresentando, inclusive, nomenclatura própria, como Teoria Maior e Teoria
Menor.

3.1 – Lei Antitruste

Brevemente, a Lei nº 8.884/94, denominada Lei Antitruste, revogada


pela Lei nº 12.529/2011, tinha como escopo transformar o Conselho
14
BRASIL. Decreto nº 3.708, de 10 de janeiro de 1919. Regula a constituição de sociedades
por quotas, de responsabilidade limitada. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, RJ, 15 jan.
1919, p. 820.
Administrativo de Defesa Econômica (CADE) em Autarquia e dispõe obre a
prevenção e a repressão às infrações contra a ordem econômica
Ela previa, em seu art. 18 uma aplicação análoga ao que atualmente
está previsto no Código de Defesa do Consumidor.
A lei assim dispunha:

Art. 18. A personalidade jurídica do responsável por infração da


ordem econômica poderá ser desconsiderada quando houver da
parte deste abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato
ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A
desconsideração também será efetivada quando houver falência,
estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica
provocados por má administração.

É possível observar que o artigo descrito acima foi melhorado com a sua
transcrição no Código de Defesa do Consumidor, uma vez que esta ainda
dispõe de cinco parágrafos, dos quais serão extraídas análises pertinentes em
momento oportuno.

3.2 – Código Tributário Nacional

Na esfera tributária, a desconsideração da personalidade jurídica está


disposta na Seção III do Código Tributário Nacional, estabelecendo, no inciso
VII do art. 134 a responsabilidade dos sócios pelas obrigações principais da
empresa nos atos que intervierem ou pelas omissões, em caso de liquidação
da sociedade.

Art. 134. Nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento


da obrigação principal pelo contribuinte, respondem solidariamente
com este nos atos em que intervierem ou pelas omissões de que
forem responsáveis:
...
VII - os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas.15

15
BRASIL. Decreto nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário
Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 out. 1966.
Por óbvio, o dispositivo legal acima transcrito apresenta certa
particularidade que coloca em dúvida se trata-se de caso de responsabilidade
solidária ou subsidiária, visto que é expresso em destacar apenas em casos de
omissões ou atos de intervenções dos sócios e não em qualquer hipótese.
A bem da verdade, a intepretação do artigo causa divergência
doutrinária e jurisprudencial nos casos de execução fiscal.

3.3 – Lei Ambiental

Da mesma forma que será apresentado no item 4.1.2 (Teoria Menor), a


desconsideração da personalidade jurídica também ocorrerá quando a figura
da empresa for um obstáculo à reparação de um dano.
No caso em tela, a interpretação deve tender para a reparação
ambiental, conforme disposto no art. 4 da Lei nº 9.605/98:

Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua


personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados
à qualidade do meio ambiente.16

O presente dispositivo legal tem o claro intuito de proteger direitos


difusos, com ênfase no direito ao meio ambiente, relativizando a separação
patrimonial existente entre a sociedade e os sócios, com base no entendimento
do julgador, uma vez que os termos da lei são genéricos.
Tendo em vista a amplitude da interpretação do texto da lei, há evidente
insegurança jurídica, bem como prejudica a elaboração de uma definição
doutrinária mais assertiva dos casos de aplicação deste tipo de
desconsideração, principalmente levando em consideração os países de
aplicação do civil law, que dependem, de certa forma, de definições e
aplicações garantidas pelo direito positivado.

16
BRASIL. Decreto nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e
administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13 fevereiro. 1998.
3.2 – Legislação Trabalhista

Antes da vigência do Novo Código de Processo Civil, a legislação


trabalhista era omissa com relação ao instituto da desconsideração da
personalidade jurídica, sendo que utilizava-se o art. 28 do Código de Defesa do
Consumidor por analogia.
Após a reforma trabalhista havida em novembro de 2017, incluiu-se um
novo texto, mais especificamente no art. 855-A, que prevê a seguinte
disposição:

Art. 855-A. Aplica-se ao processo do trabalho o incidente de


desconsideração da personalidade jurídica previsto nos arts. 133 a
137 da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 - Código de Processo
Civil17.

Ou seja, a desconsideração é tratada como um incidente, que se


processa em autos apartados, suspendendo o andamento do processo
principal.
Referido procedimento tem o intuito de garantir maior segurança jurídica
aos sócios da empresa, posto que, ao formar autos apartados, institui-se a
possibilidade de ampla defesa a eles.
Por óbvio que referida previsão não anula o entendimento já firmado de
que poderá ser configurada a responsabilidade dos sócios em eventuais
condenações na Justiça do Trabalho.

17
BRASIL. Decreto nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do
Trabalho. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 out. 1966.
4. MODALIDADES DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA

Antes de constar efetivamente dos artigos legais, o instituto da


desconsideração da personalidade jurídica já era tema da doutrina brasileira,
bem como da jurisprudência, que passaram a estuda-la com mais afinco, tendo
em vista a sua plena possibilidade de aplicação, a fim de mitigar a prática de
fraudes e abusos através da pessoa jurídica.
Era preciso determinar com mais precisão os casos de sua aplicação,
para garantir maior segurança jurídica.
Assim, para facilitar o estudo, determinou-se meios mais didáticos de
separar as modalidades da teoria da desconsideração da personalidade
jurídica em clássica, inversa, lateral e expansiva.

4.1. Desconsideração da Personalidade Jurídica Clássica

A primeira modalidade é chamada de clássica, que envolve a


determinação disposta no Código Civil e Código de Defesa do Consumidor.
Para este caso, a doutrina faz a divisão entre Teoria Maior e Teoria
Menor, respectivamente.

4.1.1. Teoria Maior

A Teoria Maior tem uma aplicação mais ampla e é considerada como


regra geral de desconsideração da personalidade jurídica. Conforme
mencionado anteriormente, está prevista no art. 50 do Código Civil:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado


pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a
requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber
intervir no processo, desconsiderá-la para que os efeitos de certas e
determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens
particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica
beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso18.

Segundo o dispositivo legal, o credor deve, além de comprovar a


incapacidade financeira do devedor, demonstrar o desvio de finalidade da
sociedade ou confusão patrimonial entre os bens da pessoa jurídica e de seus
sócios.
O parágrafo primeiro do artigo colacionado acima expõe um conceito de
desvio de finalidade, considerando sua ocorrência quando os sócios utilizam da
pessoa jurídica para lesar credores e para praticar qualquer ato ilícito.
O parágrafo segundo do mesmo dispositivo cita o que seria a confusão
patrimonial como sendo a mistura dos bens da empresa e dos sócios,
caracterizados por: pagamentos, repetidamente, das obrigações dos sócios ou
administradores, de forma particular, pela pessoa jurídica, ou vice-versa; a
transferência de valores ou passivos sem que haja a devida contraprestação,
salvo em caso de valores irrelevantes; e também quaisquer outros atos
considerados como descumprimento de autonomia patrimonial.

4.1.2 – Teoria Menor

Conforme já mencionado anteriormente, a teoria menor faz relação com


a aplicação disposta no Código de Defesa do Consumidor, mais
especificamente do §5º do art. 28.

Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da


sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de
direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação
dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será
efetivada quando houver falência, estado de insolvência,
encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má
administração.
(...)

18
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Diário Oficial da União,
Brasília, DF, 11 jan. 2002. p. 1.
§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre
que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao
ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores19.

Assim, para que seja desconsiderada a personalidade jurídica nas


relações de consumo, basta que se prove a incapacidade da empresa para
pagamento de seus débitos.
A norma assim se aplica pelo simples fato de que o consumidor merece
uma atenção à mais por conta de estar inserido no lado mais vulnerável da
relação.
Vale mencionar que a desconsideração da personalidade jurídica
baseado na Teoria Menor, é caracterizada pela responsabilidade objetiva da
pessoa jurídica em relação ao seu consumidor. Portanto, o patrimônio dos
sócios poderá ser atingido caso os bens da empresa não sejam suficientes
para o cumprimento de suas obrigações perante os consumidores,
independente de dolo ou culta.

4.2 – Desconsideração Inversa da Personalidade Jurídica

Já o caso de desconsideração inversa da personalidade jurídica é


justamente o contrário.
Nela, os bens da pessoa jurídica são atingidos por conta de obrigações
que competem à pessoa física do sócio. Ou seja, o patrimônio da empresa é
atingido quando o a pessoa física se torna óbice ao recebimento de valores
devidos.
É através deste instituto que se admite desconsiderar a autonomia
patrimonial da empresa para responsabiliza-la por obrigações assumidas por
seus sócios nos mais diversos casos, e. g., nos casos de direito de família,
quando o(a) alimentante transfere todos os seus bens pessoais para a pessoa
jurídica com a finalidade de fraudar as prestações alimentares, ou quando um

19
BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e
dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 set. 1990.
dos cônjuges assim o faz para burlar a divisão de bens a depender do regime
de comunhão.
Em seu curso de direito comercial, o professor Fábio Ulhoa Coelho
ilustra a seguinte situação:

Se um dos cônjuges ou companheiros, ao adquirir bens de maior


valor, registra-os em nome de pessoa jurídica sob seu controle, eles
não integram, sob o ponto de vista formal, a massa a partilhar. Ao se
desconsiderar a autonomia patrimonial, será possível responsabilizar
a pessoa jurídica pelo devido ao ex-cônjuge ou ex-companheiro do
sócio, associado ou instituidor20.

Importante mencionar que o Código de Processo Civil, em seu §2º do


art. 133, faz previsão desta possibilidade já aceita previamente pela doutrina.

Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica


será instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando
lhe couber intervir no processo.
(...)
§ 2º Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de
desconsideração inversa da personalidade jurídica21.

Inclusive, referido texto legal já constava do anteprojeto do Novo Código


de Processo Civil, mas em seu parágrafo único do art. 63, dispondo que “o
procedimento desta Seção é aplicável também nos casos em que a
desconsideração é requerida em virtude de abuso de direito por parte do
sócio".

4.3 – Desconsideração Lateral da Personalidade Jurídica

No caso da desconsideração lateral, tem-se que a responsabilidade é


passada para uma pessoa jurídica pertencente ao grupo econômico da

20
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial, volume 2. 8ª edição. São Paulo:
Saraiva, 2005, p. 45.
21
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Diário Oficial da
União, Brasília, DF, 17 mar. 2015.
empresa devedora, sendo que aquela foi criada com o intuito de fraudar os
credores desta.
Em outras palavras, se caracteriza pela existência de uma empresa dita
“de fachada”, criada tão-somente para criar óbices à cobrança de um crédito de
uma outra pessoa jurídica. Nestes casos são aplicados os trâmites da
desconsideração lateral.
É possível destacar que a desconsideração lateral da personalidade
jurídica possui como uma de suas características a existência de fraude à
execução, uma vez que há confusão patrimonial, tendo em vista que a
empresa devedora transferiu seus bens para a empresa “laranja”.
A jurisprudência vem formando cada vez mais julgados no sentido de
aplicação desta modalidade de desconsideração nos casos em que ocorram
gestões fraudulentas ou pertencendo a empresa a grupo econômico de outras
pessoas jurídicas administradas pela mesma pessoa e com estrutura
meramente formal.

4.4 – Desconsideração Expansiva da Personalidade Jurídica

Trata-se de uma teoria recente e pouco aplicada no ordenamento


jurídico. Criada pelo professor Rafael Mônaco, esta modalidade tem como
finalidade alcançar até mesmo sócios ocultos de uma sociedade evidentemente
criada com intuito fraudulento. E.g., tem-se aquelas empresas que interrompem
suas atividades e os sócios decidem por promover uma nova abertura de
pessoa jurídica com a mesma atividade da anterior, para desviar a atenção dos
credores.
O professor Cristiano Chaves Farias22 entende que esta teoria é aplicada
para atingir os sócios ocultos em detrimento de uma pessoa jurídica nova, visto
que eles estão ocultados na empresa controladora.

22
FARIAS, Cristiano Chaves de. Direito Civil: teoria geral / Cristiano Chaves, Nelson
Rosenvald. 9. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p.455.
5 – A DESCONSIDERAÇÃO APLICADA IN CONCRETO

A desconsideração da personalidade jurídica, como já apontado


anteriormente, deve respeitar seu caráter de excepcionalidade, que impede o
uso indiscriminado do instituto.
Isso ocorre porque a legislação brasileira adota o sistema romano-
germânico, ou seja, o juiz deve proferir uma decisão – incluindo a decisão de
desconsideração da personalidade jurídica – com base em previsões legais, o
que lhe impede de criar soluções subjetivas. Assim, contribui para o respeito à
instituição da pessoa jurídica, bem como para a segurança jurídica.
Para isso, o magistrado embasa sua decisão na apresentação de provas
ligadas aos sujeitos que praticaram a fraude ou abuso de direito, bem como ao
objetivo, ou seja, o patrimônio em que confundiu.
O professor Fábio Konder Comparato ressalta a dificuldade da
comprovação dos elementos subjetivos e, por isso, entende que o instituto da
desconsideração da personalidade jurídica deve ser aplicado sempre que
ocorrer a confusão.

A confusão patrimonial entre controlador e sociedade controlada é,


portanto, o critério fundamental para a desconsideração da
personalidade jurídica externa corporis. E compreende-se, facilmente,
que assim seja, pois, em matéria empresarial, a pessoa jurídica nada
mais é do que uma técnica de separação patrimonial. Se o
controlador, que é o maior interessado na manutenção desse
princípio, descumpre-o na prática, não se vê bem porque os juízes
haveriam de respeitá-lo, transformando-o, destarte, numa regra
puramente unilateral. (...) O que se pretende em suma, tanto na
companhia isolada como no grupo econômico, é simplesmente
adequar o direito à realidade econômica, considerando a
personalidade jurídica em sua verdadeira dimensão, isto é, como
técnica, meramente relativa, de separação de patrimônios, e não
como entidade metafísica de valor absoluto.23

23
COMPARATO, Fábio Konder. O poder de controle na sociedade anônima, p. 362
Esse pensamento doutrinário foi transportando para a letra da lei, mais
especificamente do art. 50 do Código Civil, que trata o instituto da forma mais
próxima da qual foi concebido. Isso porque tanto o Código de Defesa do
Consumidor quanto a Lei Antitruste acabam por facilitar a discussão em favor
da parte hipossuficiente. Por exemplo, na legislação consumerista, basta que a
empresa não tenha capacidade financeira para arcar com a dívida perante o
consumidor que haverá a sua desconsideração.
Deve-se esclarecer que a aplicação do que foi dito acima também valerá
para o instituto da desconsideração da personalidade jurídica inversa.
6 – DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NO CPC

O instituto da desconsideração da personalidade jurídica tem seu


processamento regulamentado pelos art. 133 e seguintes do Código de
Processo Civil, que trouxe uma série de inovações.
Em primeiro lugar, o incidente de desconsideração é cabível ao longo de
todo o processo, inclusive em sede de petição inicial, conforme previsto no art.
134 e seu §2º, do mesmo codex.

Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em


todas as fases do processo de conhecimento, no
cumprimento de sentença e na execução fundada em
título executivo extrajudicial.
...
§ 2º Dispensa-se a instauração do incidente se a
desconsideração da personalidade jurídica for requerida
na petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou
a pessoa jurídica.

Item 3
https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/229/edicao-1/desconsideracao-da-
personalidade-juridica

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