Poetica
Material Teórico
Elementos Essenciais da Poesia
Revisão Textual:
Profa. Ms. Silvia Augusta Albert
Elementos Essenciais da Poesia
• Reflexões Iniciais
Para você apreender de modo adequado o conteúdo da disciplina e construir novos conhecimentos,
é necessário que você realize o seguinte percurso:
a) Leitura da contextualização;
b) Leitura do material teórico (essa leitura deve ser feita várias vezes destacando-se os principais
conceitos ou as definições contidas no texto. Procure compreendê-las por meio dos exemplos);
c) Realização da atividade de sistematização (AS);
d) Realização da atividade de aprofundamento (AP);
e) Consulta ao material complementar fornecido ou visita aos sites sugeridos;
f) Leitura da bibliografia da unidade, especialmente a que se encontra na biblioteca virtual da
universidade; e
g) Contato com o professor tutor para esclarecer dúvidas ou mesmo expor suas ideias a respeito
do assunto.
Lembre-se, a disciplina é a distância, mas isso não significa que você está sozinho nesse processo: o
diálogo é a forma mais produtiva de ensino e de aprendizagem. É preciso compreender, ainda, que
o estudo deve ir além dos conteúdos disponibilizados nos textos da unidade e a forma de fazer isso
é consultar a bibliografia indicada.
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Unidade: Elementos Essenciais da Poesia
Contextualização
Os questionamentos acerca da poesia são frequentes, seja no âmbito literário, seja na vida
comum. Grandes são os reflexos da sociedade na poesia em geral. Podemos perceber a evolução
rítmica da sociedade, as melodias dos clamores, manifestos, exaltações, alegrias, tudo isso por
meio da poesia em harmonia com a vida.
Mais que apresentar itens teóricos e relê-los, temos aqui a, talvez ousada, intenção de
promover uma reflexão acerca desse processo e da relação entre as coisas da vida e as coisas
da poesia. Essa proposta procura compreender a arte como uma forma de conhecimento que
procura utilizar todos os recursos da linguagem de modo criativo, expressivo, para dar conta
daquilo que, normalmente, o discurso do cotidiano não consegue.
Vamos ver?
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Reflexões Iniciais
É interessante, no texto acima, o olhar que Bandeira direciona a uma situação tão cotidiana,
presente em páginas e páginas de nossos jornais e/ou programas televisivos. O poeta vale-se da
extração de elementos incomuns à poesia naquele momento (início do século XX) e agrega a
eles efeitos literários.
Também há nesse texto uma série de elementos oriundos da prosa. O uso de elementos
narrativos, tais como: personagem, verbos no pretérito perfeito, marcadores temporais; e de
elementos descritivos: a construção do cenário está também vinculada à prosa.
Pense
Ora, diante desses fatos, podemos indagar: onde está a poesia nesse texto? Ou melhor, por que
um texto com esse pode ser considerado poesia? E, provavelmente, a pergunta mais complexa:
o que é poesia?
Na visão estruturalista, podemos dizer que a poesia está no destaque a uma das funções da
comunicação, de acordo com Jacobson (apud GOLDSTEIN, 2006): a função poética – a ênfase
na própria mensagem.
Pelos caminhos discursivos e textuais, podemos dizer que a poesia está presente nesse texto
na(s) beleza(s) da articulação dos termos, da linguagem empregada, da intenção do autor, no
diálogo com o outrem e na relação desse texto com seu meio de produção.
Todas essas possibilidades de interpretação são válidas. Entretanto neste momento
veremos como aspectos ligados à forma do poema tais como ritmo, métrica e sonoridade
podem produzir sentido.
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Unidade: Elementos Essenciais da Poesia
Para muitos, o ritmo é uma alternação estável de sílabas tônicas e não tônicas em cada verso
de uma composição poética. Está relacionado, não apenas à musicalidade da poesia, mas
também ao contexto ou, nos termos de Goldstein (2006), ao “compasso da vida”.
Nesse sentido, se observarmos um poema do século XVI ou
m Tavares XVII e tivermos em vista as características histórico/sociais que
De acordo co
é uma circundam esse texto, veremos um compasso mais estável, regular,
(1 9 8 9 ), v e rs o
ti d o dominado pelas reflexões em recortes, pelos horizontes. Porém, se
li n h a , d e se n
n ã o, q u e
co m p le to o u saltarmos para o século XX, em que o Homem em si é fragmentado,
n id a d e
co n st it u i a u veremos um ritmo mais frenético, repleto de instabilidades, regido
poema.
rí tm ic a d e u m pelos anseios humanos.
O ritmo de um poema ega,
a mitologia gr
também é construído Curiosidade: n m
d a s a rt e s e ra
pela metrificação e pela a s p ro te to ra s u sa
s m u sa s. P o r su a v e z, a m
correspondência sonora a ea
a poesia lírica
que protegia te rp e.
provocada pela rima. amada de Eu
música era ch çã o
ente, a concep
No verso livre, a sonoridade rítmica segue um Havia, inicialm sia.
u lt â n e a d e música e poe
sim sã o
padrão singular, não sendo regido por regras externas o u v e u m a ci
M a is ta rd e , h tal
derivadas da alternação uniforme de sílabas tônicas de fundamen
entre as duas se
ou de metrificação e rima, a essa modalidade dá-se o , p o is a m b a s
im p o rt â n ci a s te m p os.
ravés do
nome de arritmia. fortaleceram at
Há, também, o ritmo desencadeado pela repetição
dos termos, como no exemplo a seguir:
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Café com pão
8
Explore
Para se aprofundar neste tema, leia o capítulo 2, Ritmo do poema, e o capítulo 3, Ritmos, do livro
Versos, sons e ritmos, de Norma Goldstein. O livro está disponível na Biblioteca Eletrônica da
Universidade no endereço eletrônico http://sites.cruzeirodosulvirtual.com.br/biblioteca/. Veja tam-
bém as referências bibliográficas desta disciplina.
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Unidade: Elementos Essenciais da Poesia
d) Diérese: o oposto da sinérese, ocorre quando se separa em sílabas distintas dois sons
vocálicos dentro de uma mesma palavra. É o que vemos no exemplo a seguir:
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Deus/ fa /la/, quan/ do a/ tur/ ba es/ tá/ qui/e/ta
e) Hiato: é o contrário da elisão. Nesse caso, separam-se dois sons interverbais. A sinérese e
a diérese são intraverbais; a elisão e o hiato são interverbais. Vejamos:
E/ va/ ga
Ao/ lu/ ar
Se a/pa/ga
No / ar.
Trocando Ideias
Não confunda o conceito de hiato do ponto de vista das sílabas gramaticais, que é quando duas
vogais ficam em sílabas diferentes, embora estejam em sequência na palavra, como em “sa-í-da” e
na própria palavra “hi-a-to”, por exemplo. Quando falamos em sílabas poéticas o hiato é o contrário
da elisão: é necessário que num verso, uma palavra que termina em vogal não seja agrupada na
mesma sílaba poética que a primeira vogal da palavra seguinte.
Veja o exemplo a seguir, do poema Motivo, de Cecília Meireles:
Eu /can/to /por/que o ins/tan/te e/xis/te - Elisão
e a/ mi/nha /vi/da es/tá/ com/ple/ta. - Elisão
Não/ sou/ a/le/gre/ nem /sou/ tris/te: - Hiato
Sou/ po/e/ta.
Lua
Morta
Tua
Porta
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• Dissílabos são compostos por duas silabas poéticas. No poema A valsa, de Casimiro
de Abreu, o ritmo sugerido pelo título é recriado pela dinâmica das silabas poéticas em
cada verso. Na linguagem musical, a valsa é marcada pelo compasso 6/8, em que se
tem uma marcação forte e outra moderada. Vejamos um trecho do poema:
Tu, ontem,
Na dança
Que cansa,
Voavas
Co’as faces
Em rosas
Formosas
De vivo,
Lascivo
Carmim;
Na valsa
Tão falsa,
Corrias,
Fugias,
Ardente,
Contente,
Tranquila,
Serena,
Sem pena
De mim!
• Trissílabos são versos de três silabas poéticas. No poema Trem de ferro, de Manuel
Bandeira, podemos observar que a dinâmica imposta por esse tipo de verso colabora
com o efeito de movimento do trem. É o que podemos observar a seguir:
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pato
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
Que vontade
De cantar!
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Unidade: Elementos Essenciais da Poesia
• Tetrassílabos são os versos compostos por quatro silabas poéticas. Vejamos isso nos
versos de Vinícius de Moraes:
• Pentassílabos (ou redondilha menor) são os versos compostos por cinco silabas poéticas.
Era comum a utilização dessa métrica na Idade Média pelos trovadores nas cantigas de
amor e de amigo. Porém, há entusiastas dos pentassílabos na contemporaneidade. Um
bom exemplo é Cecília Meireles. Vejamos um trecho do poema Tempo celeste:
Dorme o pensamento.
Riram-se? Choraram?
Ninguém mais recorda.
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• Heptassílabos (redondilha maior) são os versos de sete sílabas poéticas. É uma das
métricas mais populares. Está presente em boa parte da Música Popular Brasileira, pois
o efeito de canção é bastante significativo nesse tipo de verso. Um bom exemplo do uso
desse tipo de verso está no poema Canção do exílio, de Gonçalves Dias. Repare como
a métrica dos versos torna esse poema rico musicalmente:
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Unidade: Elementos Essenciais da Poesia
• Decassílabos (medida nova) são os versos de dez sílabas poéticas. Teve seu auge no
século XVI em diversos textos épicos. Um exemplo bastante popular em nossa cultura
é a obra Os Lusíadas, de Camões. Vejamos uma estrofe do Canto V:
• Hendecassílabos são os versos de onze sílabas poéticas. Vejamos como isso funciona
num trecho de Juca Pirama de Gonçalves Dias:
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• Dodecassílabos (ou alexandrinos) são os versos de doze sílabas poéticas. É bastante
comum seu uso na poesia parnasiana. É o que vemos nos versos do poema Amor, de
Cruz e Souza:
c) Versos livres: são aqueles que não obedecem a nenhum esquema. Por causa dessa liberdade,
há diferentes tensões enunciativas. Há também um diálogo com a prosa bastante estreito. É o
que vemos no trecho a seguir tirado do poema Recife, de Manuel Bandeira:
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Unidade: Elementos Essenciais da Poesia
Isto posto, vejamos como esses versos podem ser organizados num texto poético.
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6 – Sextilha: estrofe de seis versos.
Quem perde o tempo no mundo
Só com conversa fiada
Bota falta em todo mundo,
Não nota virtude em nada
Se acaso engolisse a língua
Morreria envenenada.
(Gonçalo Ferreira da Silva)
7 – Sétima: estrofe de sete versos.
Roi Queimado morreu con amor
en seus cantares, par Sancta Maria,
por ũa dona que gran ben queria:
e, por se meter por mais trobador,
porque lhe ela non quis ben fazer,
feze-s’el en seus cantares morrer,
mais resurgiu depois ao tercer dia!
(Pero Garcia Burgalês)
8 – Oitava: estrofe de oito versos.
Entrava neste tempo o eterno lume
No animal Nemeio truculento;
E o Mundo, que co tempo se consume,
Na sexta idade andava, enfermo e lento.
Nela vê, como tinha por costume,
Cursos do Sol catorze vezes cento,
Com mais noventa e sete, em que corria,
Quando no mar a armada se estendia.
(Camões)
9 – Nona: estrofe de nove versos.
Vai Otacílio Batista,
Repentista,
Neste momento tão forte,
Num estilo diferente,
No repente,
Correndo em busca da sorte...
Em noite de lua cheia
Sou a sereia
Dos oceanos do norte!]
(Otacílio Batista)
10 – Décima: estrofe de dez versos.
A medida para o malho
Pela taxa da Cafeira,
Que tem do malho a craveira,
São dois palmos de caralho:
Não quer nisto dar um talho,
E eu zombo do seu empenho,
Pois tendo um palmo de lenho,
Com que outras putas desalmo,
Inda que tenho um só palmo,
Não quero mais do que tenho.
(Gregório de Matos)
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Unidade: Elementos Essenciais da Poesia
Todas as estrofes que tenham mais de dez versos recebem a denominação de Irregulares.
Para encerrarmos essa unidade, falaremos agora de outro recurso estético bastante importante
na poesia: a rima. Vamos lá?
1) Quanto à posição:
Tu és beijo materno! A
Tu és um riso infantil, B
Sol entre as nuvens de inverno, A
rosa entre as flores de abril B
(João de Deus)
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c) rimas opostas ou interpoladas ou intercaladas -- ABBA ABBA: quando o 1º verso rima com
o 4º, e o 2º com o 3º. Exemplo:
d) rimas encadeadas: quando rima o final de um verso com o interior do verso seguinte, conforme
o esquema abaixo:
------------------------ A
------------- A ----------------- C
------------------------------ B
------------- B ----------------- C
Exemplo:
“Quando alta noite n’amplidão flutua
Pálida a lua com fatal palor,
Não sabes, virgem, que eu te suspiro
E que deliro a suspirar de amor.”
(Castro Alves)
Exemplo:
Donzela bela, que me inspira lira
Um canto santo de fervente amor
Ao bardo cardo de tremenda senda
Estanca, arranca - lhe a terrível dor
(Castro Alves)
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Unidade: Elementos Essenciais da Poesia
(Cruz e Souza)
(Autor deconhecido)
Existe (verbo)
Teimoso (adjetivo)
Aviste (verbo)
Amoroso (adjetivo)
Espero (verbo)
Vida (substantivo)
Sincero (adjetivo)
Querida (adjetivo)
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c) Rara: formada por palavras de pouca rima, difíceis de se encontrar. Exemplo:
Cisne (adjetivo)
Bosque (substantivo)
Tisne (verbo ou substantivo)
Quiosque (substantivo)
Amá-la
Tranquilo
De gala
Por certo fi-lo
Estrela (Homógrafa)
Vejo (Homofônica)
Vê-la (Homógrafa)
Beijo (Homofônica)
A expectativa que temos, com essa unidade, é permitir que você possa ter noções básicas
acerca da poesia no seu sentido formal. Nas unidades que se seguem, privilegiaremos outros
temas vinculados ao problema da poesia.
Esperamos, contudo, que você entenda que as questões de versificação, que são em
um primeiro momento formais, sempre devem ser analisadas à luz do sentido que elas
produzem nos textos, nunca apontadas como fenômenos isolados e, desse modo, associadas
aos elementos conteudísticos.
É preciso compreender, portanto, que a questão da poesia não se resume aos aspectos
formais, mas que eles são uma das formas de acesso ao significado dos textos.
Não deixe de estudar as obras presentes nas referências bibliográficas e no material
complementar.
Até mais!
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Unidade: Elementos Essenciais da Poesia
Material Complementar
Vamos refletir sobre a função humanizadora da arte, em torno das ideias de beleza,
forma e conteúdo?
Para isso, sugerimos que você assista ao vídeo em que Adélia Prado, uma das maiores poetisas
da contemporaneidade, fala sobre a beleza da arte e seu aspecto humanizador. Ele está no link
do Youtube:
Explore
http://www.youtube.com/watch?v=yHYpiZZaP9Y
Uma das ideias interessantes discutidas por ela é a diferença entre beleza e boniteza e a
beleza vista não como aquilo que se mostra por meio da obra de arte, mas a forma como se
mostra a beleza na arte. Desse modo, você poderá perceber que a forma deve ser estudada
sempre em função do conteúdo.
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Referências
MOISÉS, M. A criação literária: poesia. 16. ed. São Paulo: Colares, 2003.
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Unidade: Elementos Essenciais da Poesia
Anotações
24
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