Seção Quatro: Direito à Informação Prévia

Este é o dever dos Governadores e daimyos locais de informarem os Magistrados de Esmeralda

locais de ações militares ou policiais de larga escala dentro da jurisdição do Magistrado de Esmeralda ao
menos um dia antes da ação ocorrer.

Seção Cinco: Direito a Comando de Tropas

Magistrados de Esmeralda têm o direito de reunir tropas para operações necessárias, contanto que
forneçam tal informação ao daimyo ou Governador local de suas intenções. Eles podem comandar tropas de
líderes locais se pudeerem mostrar necessidade e compensação financeira razoável pelos serviços da tropa.

Seção Seis: Direito de Alistamento Imperial

Magistrados de Esmeralda podem, a qualquer instante, pedir ao Campeão de Esmeralda o comando
das Legiões Imperiais. A designação dessas Legiões se submete completamente ao critério do Campeão
de Esmeralda. Legiões de Esmeralda têm direitos de ação e armamento em qualquer e todo lugar do
Império Esmeralda.

Seção Sete: Direito de Investigação Prévia

Havendo conflito de jurisdição entre um Magistrado de Esmeralda e um magistrado local, a jurisdição
do Magistrado de Esmeralda possui precedência. Se o Magistrado de Esmeralda apresentar ao
magistrado local uma Ordem de Investigação Prévia assinada e datada, este magistrado deve imediatamente
cessar qualquer nova investigação no assunto em questão. Uma Ordem de Investigação Prévia só é válida
se preenche as seguintes condições: datada no dia que foi completada; assinada pelo Magistrado de
Esmeralda; contém uma descrição completa do crime em questão; e explica, completa e racionalmente a
descrição o motivo das duas investigações não poderem prosseguir em paralelo.

Seção Oito: Direito a Autorização de Viagem

Além de seu poder de assinar documentos Imperiais de viagem (definidos na Parte Dois, Seção
Dois), Magistrados de Esmeralda também têm o direito de fornecer documentos de viagem válidos de
escopo mais limitado. Esses documentos não podem ser confiscados ou contrariados por magistrados locais
por mais de dois dias.

Estimados magistrados — foi meu prazer compilar para
vocês um dossiê sobre a cidade à qual vocês (sem dúvidas)
trazem as bênçãos da ordem pública. Trabalhei para prover
um planisfério completo e compreensivo de Ryoko Owari,
que deve fornecer-lhes o conhecimento de que precisam
para completar as missões destinadas a vocês pelo Campeão
de Esmeralda (descrito no capítulo final deste livro).
A informação deste guia vem de quatro fontes, cada uma
delas vê Ryoko Owari de uma perspectiva única. Para que
vocês possam julgar e avaliar as descrições dadas (pois,
infelizmente, elas nem sempre concordam), tomei a liberda-
de de compor uma curta descrição de cada uma.
Escrito há cento e quatro anos por Yogo Morosuke, este
livro nunca foi vastamente copiado ou colecionado. Um
shugenja poderoso, a visão pouco ortodoxa de Morosuke
sobre a história de seu clã foram toleradas em vida e quie-
tamente enterradas após sua morte. Só recentemente uma
cópia deste livro foi encontrada fora das bibliotecas do Es-
corpião (tenho uma dívida de gratidão a Iuchi Karasu por
me permitir usufruir e copiar sua edição).
Morosuke demonstra uma incomum disponibilidade a
pensar o pior de seu povo (mesmo figuras históricas e an-
cestrais) e transcrever até mesmo as histórias mais escanda-
losas ao papel. Embora muitos de seus relatos sejam desa-
creditados como balelas por seu próprio clã, muitos em
minha própria família Asako, além de veneráveis historiado-
res Ikoma, consideram seus relatos convincentes e (em vá-
rios casos pelo menos) provavelmente verídicos.
Esta é a fonte mais recente disponível para este guia. In-
felizmente, só se tornou disponível após a morte de sua
autora.
Como devem saber, ―Memórias de uma Comedora de
Ópio‖ está atualmente sendo lido com muito interesse por
Rokugan, tendo sido publicado anonimamente. A versão
popular não cita nomes; mas tivemos a felicidade de adquirir
uma edição intacta, que usa nomes reais de indivíduos e
eventos.

Como certamente sabem, vosso predecessor em Ryoko

Owari foi o magistrado Ashidaka Naritoki (P25). Antes de
Naritoki, a magistrada era uma mulher chamada Matsu Shi-
geko, que resignou de seu posto graças à auto-incapacidade
de policiar efetivamente a Cidade das Histórias.
Antes de se aposentar, ela preparou um dossiê para seu
sucessor (Naritoki) incluindo informações de vários indiví-
duos e locais da cidade. Dada à inesperada dispensa honorá-
vel de Naritoki, ele foi incapaz de prover o mesmo serviço a
vocês; assim, seu dossiê foi incluído. Tenham em mente que
os comentários de Shigeko têm três anos de idade; suas
observações podem não ser mais atuais.
Shigeko-san era prioritariamente uma guerreira — uma
samurai-ko cujo código de comportamento era particular-
mente estrito. Naritoki só tinha respeito por ela, mas (ocasi-
onalmente) expressava a opinião de que ela tinha sido inca-
paz de adaptar Ryoko Owari por não ter ―flexibilidade‖. A
respeito de seus escritos, tenham em mente que ela via tudo
em termos muito intensos — ou bons e virtuosos ou malig-
nos e corruptos. Há pouco espaço para ambigüidade na visão
que Shigeko tinha da cidade.
Shiba Shonagon

9
 Embora Shonagon pinte um retrato vívido da vida em
Ryoko Owari, ressalto a qualquer leitor sobre concluir pre-
cipitadamente. A infeliz jovem dama, em juízo próprio,
bebia copiosamente e usava bastante do ópio que eventual-
mente lhe ceifou a vida. Suas opiniões de certos indivíduos
flutuam bastante em seu diário, e tal inconsistência lança
sombras de dúvidas e seus relatos factuais. Mesmo assim,
seu relato tem valor — mesmo para apenas dar uma noção
do Mundo Flutuante no qual viveu e morreu.
Os trechos de seu diário estão dispostos nos tópicos des-
te dossiê — eles não são apresentados em ordem cronológi-
ca. Para ler as seções na ordem temporal certa, os seguintes
itens devem ser lidos nesta ordem:
P31, C2, P15, P39, C6, C6, P15, C11, L22, P25, P33,
P23, P24, P1, P21, P23, P46, P16, P29, P2, P37, P10, P26,
P8, P45, P45, C11, P14, P18, P22, P25, C14, P22, C11, P31,
P22, P2, C6. GUIA DE VIAGEM DE KOMACHI: Toda cidade, como to-
Alguns itens (como C6) contêm múltiplos trechos do di- da pessoa, tem uma qualidade única, um conjunto de ações,
ário, que podem estar separados por muito tempo. Isto, é expectativas e crenças que a diferencia. Ryoko Owari não é
claro, é necessário para ler os itens de certos tópicos em diferente; mas onde algumas cidades são rígidas e inamisto-
ordem também. sas, ou formais e indiferentes, Ryoko Owari é receptiva e
Certamente não preciso lembrar-lhes de que revelar animada! Visite uma de nossas ótimas pousadas, prove o
qualquer informação do diário de Shonagon poderia ter melhor sakê destilado em Rokugan, e descubra porque tan-
efeitos dramáticos e desagradáveis — especialmente já que tos visitantes decidiram ficar aqui, a Cidade do Fim da Jor-
os conteúdos são suspeitos. nada.

A Linguagem Coloquial de
Ryoko Owari
O guia de Shoshi Komachi a Ryoko Owari foi escrito há
setenta e cinco anos e ainda é considerado o melhor recurso
para informações de viagens, históricas e arquitetônicas do DOSSIÊ DE SHIGEKO: Ryoko
Clã Escorpião. Os conteúdos deste livro são bem conhecidos Owari tem seu próprio dialeto e
e aceitos. forças de expressão, peculiares à
cidade e a nenhuma outra. Estran-
geiros podem facilmente ser identi-
Como Usar os Códigos de ficados por sua fala; esta é uma
condição que só o tempo na cidade
Referência pode curar. Porém, algumas frases de uso comum devem ser
explicadas ao próximo magistrado.
Uma nota final em tempo; após cada item no livro, posi- ―Chapéu de cesto‖/kagoboshi – Como devem saber, um
cionei um código de referência. Os códigos para costumes e chapéu de cesta cobre
informação geral começam com C. Locais começam com L, completamente a
enquanto os códigos para pessoas começam com P e códigos cabeça, ocultando o
para ameaças conhecidas à ordem social começam com A. rosto lá dentro. Eles
Cada anotação é seguida de um número, permitindo-lhes são um item comum
rapidamente cruzar referências quando um item se refere a para visitantes nobres
algo em outro item. Por exemplo, a loja ―Espadas Polidas‖ do Quadrante Licen-
(L20) se refere ao seu proprietário, o ronin chamado Portal ciado, e são adquiri-
(P47). Assim, se você leu o item ―Espadas Polidas‖, você dos facilmente em
deve saber que também há informação sobre seu proprietá- toda a cidade. A
rio, e será capaz de encontrar esta informação rapidamente. expressão ―chapéu de
Espero que meus humildes serviços sejam úteis. cesto‖ também pode
— Asako Anjo se referir a qualquer
ação ou plano desti-
nado a ocultar vergo-
nha ou identidade.

10
 ―Água de Caranguejo‖/kani mizu – Shochu ou outros li-
cores fortes. Esta expressão é mais comum entre as docas e
no Quadrante Pesqueiro.
―Cidade dos Muros Verdes‖ – Ryoko Owari (L1).
―A Cidade que o Esterco Construiu‖ – Ryoko Owari
(C13).
―Cidade Sem Noite‖ – O Quadrante Licenciado, assim
chamado pela revelia de lá não terminar ao cair da noite.
―Coureiro‖/kawa jugyoin – Eta. Os eta preferem ser
chamados de coureiros.
―Estrangeiro‖/gaikoku – Significado variável, dependen-
do de quem o usa. O uso mais comum implica que o item,
pessoa ou história estrangeira é intrigante, interessante,
diferente e valiosamente único — mesmo que não venha, de
fato, de além das fronteiras de Rokugan. Porém, o clã Es-
corpião usa ―estrangeiro‖ para expressão desdém pela novi-
dade. Um Escorpião considerar um objeto estrangeiro impli-
ca que ele é uma novidade sem valor.
A fonte desta palavra (e seus dois significados) prova-
velmente é a geisha Magda (P47) e sua Casa das Histórias
Estrangeiras (L22).
―Fedorentos‖/kageshiru – Etas que coletam dejetos hu-
manos e os jogam fora.
―Instrumento de Dragão‖ ou simplesmente ―instrumen-
to‖/dogo – um cachimbo de ópio.
―Ir à ponte‖ ou ―tentar achar a ponte‖ – Refere-se a beber
muito. Presumidamente uma referência à Ponto dos Aman-
tes Bêbados (L16).
―Irmã caçula‖ – Alguém que foi culpado por um crime
cometido por outro; um bode expiatório.
―Mundo Flutuante‖/ukyo – O Quadrante Licenciado.
Embora esta expressão seja usada em toda Rokugan, se
originou em Ryoko Owari.
―Nadando por Honra‖ – Se alguém foi assassinado e seu
corpo foi jogado na baía ou no rio, diz-se que esta pessoa
está ―nadando por honra‖.
―O Portal de Sete Dobras‖ – O Portal Pio (L8).
―Ouvir o dragão cantar‖ – Fumar ópio. Esta expressão
foi popularizada pela poetisa conhecida como ―Esbelta‖, ela
mesma uma viciada sabida.
―Pequenas Terras Sombrias‖ – O Quadrante dos Courei-
ros. Os etas usam esta expressão para se referirem apenas à
seção mortuária do Quadrante Coureiro.
―Plumas Vermelhas‖ – A Guarda Trovão (C10).
―Polindo sua espada‖ – Esta expressão é um eufemismo
para visitar o Quadrante Licenciado na Ilha Gota de Lágri-
ma. Em muitos distritos licenciados, pede-se que os clientes
deixem suas armas nas portas de cada estabelecimento,
recuperando-as ao partirem. Porém, a Ilha Gota de Lágrima
é única por só ter uma doca, e é impossível chegar à doca
sem passar pelo estabelecimento chamado ―Espadas Poli-
das‖. Espera-se que visitantes nobres deixem suas armas ali
— supostamente para que elas sejam polidas, mas na verda-
de é para que elas não ponham em risco os trabalhadores da
ilha e os clientes bêbados.
―Presente em mãos‖/wairo – Uma pechincha.
11
―Sopro de Dragão‖ – Ópio em forma fumável.
―Vácuo Líquido‖ – Ópio purificado suspenso em álcool.
A mais potente forma da droga.
Costumes e Feriados Locais
“MEMÓRIAS DE UMA COME-
DORA DE ÓPIO”: 19º Ano do Rei-
nado de Hantei XXXVIII, 19º Dia,
Mês do Cavalo
Tive um chá hoje com Bayushi
Saisho (P6), que foi gentil o bas-
tante para me oferecer meu primei-
ro convite a Ryoko Owari. Ela foi uma anfitriã muito aten-
ciosa; e apesar de minha posição social, me tratava como
igual. Ela disse que Tio Kinto (P31) foi muito gentil e paci-
ente com sua filha (P8) durante sua convalescência.
Houve um momento incômodo, quando percebi que só
havia um copo para Lady Saisho e nenhum para mim. Espe-
ro não ter perdido a compostura, pois por um momento tive
certeza de que este era algum tipo de insulto elaborado, e
que estava sendo usada para causar vergonha à minha famí-
lia. Porém, Lady Saisho é que foi a envergonhada.
―Oh!‖ ela disse. ―Lamento muito; você não deve saber
de nosso costumo de seu próprio copo.‖
Claro que não sabia.
―Bom, é tradição que anfitriões permitam que visitantes
tragam seus próprios copos a refeições e visitas. De fato, em
certa visita a Otosan Uchi, um de nossos cavalheiros locais
— não citarei nomes — trouxe para cá seu próprio copo no
qual tomou chá com uma muito distinta oficial da Garça.
Agora, a Garça foi tão polida e sincera que ocultou o quanto
insultou pela falta de confiança no anfitrião. Mas você sabe
que alguns clãs — que não têm apreciação à tradição, e
presumem que sabem de tudo que se deve saber sobre mil
anos de cultura rokugani. A honrada Fênix, é claro, sempre
reconhece o que é apropriado em um lugar pode ser ofensivo
em outro.‖
―Certamente,‖ Eu disse, embora não estava inteiramente
certa em concordar — acho que conversas com Escorpiões e
Garças me deixam assim. ―Mas como este costume surgiu?‖
―Estou surpresa pelo seu tio não ter lhe contado — ele é
um ótimo historiador, não? Em qualquer evento, pois na
época Ryoko Owari era famosa por sua cerâmica — antes
do Unicórnio começar a trazer porcarias das terras más —
parecia que todo nobre servia como patrão de um ceramista.
Bem, o Governador da Cidade deu um banquete, e convidou
a todos a trazerem seus próprios copos feitos pelos seus
próprios oleiros, para que os estilos pudessem ser compara-
dos. Desde aquela época, as pessoas carregam seus próprios
copos por estilo e boa sorte.‖
Ao fim de nosso chá, ela me de um amável copo de sakê
feito de porcelana para me saudar à cidade. É muito bonito,
e sempre o carregarei como ‗meu‘ copo.
 (Mais tarde, no mesmo dia)
Falei com Tio Kinto sobre a tradição do copo, e ele me
disse que ela surgiu de algo bem diferente; de acordo com
ele, samurais costumavam escapar para o Quadrante Pesca-
dor para beber e festejar, e lá havia mulheres inescrupulosas
que punham drogas no sakê e o serviam aos samurais, rou-
bando suas posses quando caíam de sono. De acordo com
ele, o costume de carregar seus próprios copos não tinha
nada haver com ceramistas, mas era para se proteger de
envenenamento!
Não estou certa se devo acreditar nele ou não; também o
perguntei sobre a filha de Bayushi, e ele disse que nunca
houve nada de errado com ela. Creio que não o tenha enten-
dido, pois ninguém duvida que a garota esteja morta. Talvez
ele nunca a tenha visto, e Saisho simplesmente disse o que
tinha que dizer para me deixar mais confortável. Ou talvez
ele tenha se confundido. Ou talvez eu esteja confusa, e Sai-
sho mentiu para mim para por algum razão que muito sim-
ples para perceber.
Temo nunca entender esta cidade.
clãs Escorpião e Unicórnio se preparando para sacar sem
observarem quaisquer formalidades legais.
Concluímos que o Unicórnio estava acusando o Escorpi-
ão de tentar roubar seu javali morto, e o Escorpião estava
tentando defender sua honra. Lhes disse que se quisessem
resolver uma questão de honra, eles deveriam ter a permis-
são da Governadora, ou enfrentar as conseqüências de luta-
rem um duelo ilegal.
Conhecendo a típica falta de paciência da Governadora
para duelos sem sentido, e a perda de face envolvida se ela
recusasse a permissão ao duelo, ambos concordaram que
houve um ―mal entendido‖. Porém, temo que este tipo de
encontrou, ou pior, sempre acompanharão a estação de caça
ao javali.

GUIA DE VIAGEM DE KOMACHI:

Toda primavera, a floresta ao redor
de Ryoko Owari ecoa com os gritos
jubilosos de caçadores procurando o
primeiro javali.
Todo ano, a competição entre
nobres para pegar o primeiro desses
enormes animais é intensa. Não apenas pelos nobres afoitos
por provarem sua perícia e coragem contra uma feroz e por
vezes mortal criatura; mas também porque o samurai que
matar o primeiro javali recebe direitos de caça adicional.
Uma família normalmente é limitada a dois ursos, uma
dúzia de alces, duas dúzias de cordeiros e vinte raposas por
ano. Porém, a família que entregar o primeiro javali ao Go-
vernador recebe o direito de caçar mais dois ursos (embora
poucos matem os primeiros dois), três alces, oito cordeiros e
quatorze raposas. Mais importante, ninguém pode caçar
alces até um javali ter sido morto e entregue ao governador.
O Governador tradicionalmente usa a pele do javali para
fazer uma excelente sela para o caçador do javali, enquanto
seu crânio é encerado e posto em exibição no Saguão dos
Troféus. A carne do animal normalmente é dada como pa-
gamento ao Coureiro que faz a sela.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Ninguém pode caçar alces na pri-
mavera até alguém matar um javali. Conseqüentemente, a
primavera encontra muitos nobres cavalgando na floresta,
tentando testar sua força contra um perigoso animal que
ninguém vai comer.
Normalmente, isto é problema de um Magistrado de Es-
meralda; os Guardas Trovão (C10) são adequados para poli-
ciar a floresta da Governadora contra ladrões. Porém, este
ano, fui informada de que um duelo ilegal estava para ocor-
rer sobre um javali. Ao chegar na cena, encontrei nobres dos

12

HISTÓRIA DE MOROSUKE:
Ryoko Owari só foi capturada em
guerra duas vezes, e só em uma isso
durou mais que duas semanas. Foi
durante o reinado de Hantei XVII.
Tendo recentemente conquistado
um número de ilhas distantes, o
Imperador estava inclinado a apreciar o poderio militar.
Assim, o clã do Caranguejo achou que podiam se mover
contra o Escorpião com relativa impunidade, especialmente
porque o daimyo, Bayushi Michisuna, adoeceu após a morte
de seus três filhos e nunca se recuperou totalmente. Quando
o exército do Caranguejo marchou para fora da Floresta
Escondida e pelas Planícies do Trovão, a família Shosuro
estava mal suprida e esperava pouca ação de Michisuna. Em
todo caso, o clã Leão estava pressionando um ataque no
Estreito Beiden ao mesmo tempo, embora eles continuem a
negar cumplicidade com o Caranguejo.
O exército do Caranguejo, liderado por Hida Atsuhige,
atacou a cidade e desafiou os Guardas Trovão (C10) de
Shosuro Sanekata. Sanekata lutou por sete dias, mas se ren-
deu após Atsuhige destruir a Ponte do Gume do Instante, e
então construiu balsas e desceu o rio para a Baía da Honra
Afogada.
Sanekata e todas as suas tropas se retiraram para Shiro
no Shosuro — um ato que causou uivos de protestos das
escolas Soshi e Yogo, que creram (com certa razão) que
estavam agora ameaçadas pelas forças do Caranguejo em
Ryoko Owari.
―Não temam,‖ disse-lhes Sanekata. ―Atsushige não é es-
trategista bom o suficiente para dominar Ryoko Owari, que
dirá Yogo Shiro.‖ Embora tal declaração pareça bastante
incorreta, ele daria apenas um pequeno sorriso ao pedirem
uma explicação.
Parecia que Sanekata falava a verdade quando disse que
Atsushige não era um bom estrategista; ele rapidamente
estabeleceu lei marcial em Ryoko Owari e tomou muito do
tesouro da cidade. Porém, ele não tinha idéia de como levá-
lo a território Caranguejo. Movê-los para fora dos muros da
cidade convidaria um ataque do Escorpião ao comboio.
Designar guardas suficientes para protegê-lo deixaria a ci-
dade vulnerável. Ao invés disso, Atsushige gastou muito
dinheiro construindo as Torres dos Olhos Ocidental e Orien-
tal (L28) para proteger a cidade
de um ataque pelo sul.
De fora, parecia que
Atsushige tinha tido
sucesso completo;
registros de
dentro
13
da cidade, porém, contam uma história diferente. Com a
remoção de Sanekata, o crime se tornou mais freqüente em
Ryoko Owari — ou pelo menos, as prisões. Punições por
bebedeiras, atos ilícitos e desgraça pública se tornaram ocor-
rências diárias. Treinados e criados nas austeras terras do
Caranguejo, eles estavam despreparados para os luxos dis-
poníveis em Ryoko Owari. Com a arrogância de conquista-
dores eles beberam o melhor sakê da família Shosuro — e
adoeceram por longos períodos. Freqüentavam afoitamente
muitas casas de geishas — e acordavam no dia seguinte sem
moedas, armas e (em algumas ocasiões memoráveis) mem-
bros.
Com muitos homens doentes ou ―indispostos‖, Atsushi-
ge não estava em posição de tomar território adicional.
Mesmo as tropas saudáveis recuavam ao pensar em trocar os
confortos de Ryoko Owari pelas incertezas de um campo de
batalha. A moral estava alta entre os conquistadores —
enquanto não tentassem estender seus ganhos.
A seguir, Atsushige tentou contratar mercenários. Po-
rém, já que os clãs Leão e Escorpião também estavam con-
tratando, isso provou ser tão caro que logo gastou o tesouro
capturado de Ryoko Owari. Seu exército mercenário fez um
ataque a Yogo Shiro, mas Atsushige perdeu seu impulso; os
shugenjas estavam se preparando para o ataque a meses, e
repeliram suas forças desmoralizadas facilmente.
Ao retornar para Ryoko Owari, Atsushige foi saudado
por um motim entre seus próprios homens; aparentemente
rumores se espalharam de que Atsushige pretendia abando-
nar Ryoko Owari numa tentativa desesperada de tomar Yo-
go Shiro. Seus cansados e abatidos mercenários foram ne-
cessários para aplacar seus próprios soldados rebeldes. Atsu-
shige requisitou mais dinheiro de seu clã para contratar mais
mercenários, mas foi recusado. O daimyo Caranguejo exigia
saber como Atsushige havia tomado um grande centro co-
mercial e não conseguia tirar dinheiro dele. O daimyo não se
agradou das histórias de furtos, falta de administradores
(Shosuro Sanekata levou todos quando se retirou) e tropas
insubordinadas. Aumentar brutalmente a disciplina só des-
moralizou as já irritadas forças do Caranguejo e, um ano
após a conquista de Ryoko Owari, Atsushige ficou sem
dinheiro e pediu a Sanekata para governar a cidade.
Chocantemente, Sanekata recusou. ―Agora você apren-
deu quão difícil é governar esta cidade,‖ ele disse. ―Estou
perfeitamente feliz de dar sua tristeza e dor ao clã Carangue-
jo. Sinto-me mais jovem do que já estive em anos, agora que
o peso de Ryoko Owari foi tirado de minhas costas.‖
A seguir, Atsushige ofereceu simplesmente deixar a ci-
dade vaga e permitir o retorno de Sanekata. O daimyo do clã
Escorpião o encorajou a aceitar, mas Sanekata aconselhou
paciência. ―Afinal, eu não disse que a própria sabedoria
estratégica de Atsushige o faria perder a cidade? Dê a ele
outra semana e ele nos implorará para tomarmos a cidade de
volta.‖
Como previsto, as ofertas de Atsushige se tornaram
cada vez mais desesperadas. Ao fim, ele saiu em desgra-
ça, deixando para trás muitos armamentos, armaduras e
equipamento de apoio com os quais seus homens chegaram. ―Temo que simplesmente não lembre o nome do merca-
Sanekata retornou a uma cidade defendida por duas novas dor que as faz,‖ ela disse, piscando os olhos.
torres, e desde então foi retratado como um homem espeta- Então seu grande marido saiu de sopetão de sua casa
cularmente astuto ou fabulosamente sortudo. Quando per- procurando por uma vara de aveia canhota e contrária. Ago-
guntado se os infortúnios que recaíram ao clã Caranguejo ra, qualquer pessoa sensata sabe que uma vara de aveia é
foram arquitetados por ele, ele dizia apenas ―Sou melhor simplesmente uma vara do tamanho de um antebraço e da
administrador de cidades do que general.‖ grossura de um dedo. Ela pode ser usada em qualquer mão,
Guia de Viagem de Komachi: O festival do Dia da Li- girando a aveia num círculo da esquerda para a direita. Mas
bertação é realizado no primeiro dia de todo Mês do Touro, Okami sabia que sua esposa era uma mulher astuta, e por
e celebra o retorno de Ryoko Owari ao controle do Escorpi- não querer parecer estúpido para ela, ele saiu para completar
ão após um ano de ocupação do Caranguejo. uma tarefa que o fazia parecer estúpido a qualquer um que
Em honra ao triunfante retorno de Shosuro Sanekata, es- perguntasse. Pois, é claro, ninguém jamais ouviu de uma
te é um dia de festejo e celebração abertos. Cada quadrante vara de aveia canhota e contrária — e poucos estavam ansi-
da cidade (exceto pelo Quadrante Coureiro, é claro) escolhe osos em argumentar isso com um homem de aspecto tão
um grupo de homens para se vestir de versões de madeira ou imenso e belicoso.
papel das armaduras e mempo do clã Caranguejo. Come-
çando na Ponte do Gume do Instante (L24), esses homens
marcham pela Estrada do Repouso do Goblin, e então se-
guem pela estrada até o Portal dos Dentes de Oni (L14). Ao
longo do caminho, eles são convidados pelos espectadores a
trocar sua armadura por comidas, bebidas, cachimbos de
tabaco, quinquilharias baratas e (em alguns casos) os beijos
de belas e pouco modestas mulheres. Assim que chegam ao
Portal dos Dentes de Oni, eles estão nus exceto pelas tangas,
para representar a falta de disciplina dos soldados do Caran-
guejo. Eles recebem pedras pesadas e devem marchar todo o
caminho até a Torre do Olho Oriental e empilhá-las lá. Nes-
te ponto, muitos da parada estão muito bêbados, logo nem
todos conseguem, mas todos se divertem.
Uma comida tradicional para este festival é carne de ca-
ranguejo fervida em sakê, servida em sua própria concha.

GUIA DE VIAGEM DE KOMA-

CHI: O oitavo dia de todo Mês da
Serpente é o Dia da Vara de Aveia,
celebrando o dia em que Okami
finalmente teve o melhor de sua
esposa Riko (L16)(L14).
Okami, o grande e poderoso
guerreiro, só estava casado com sua
astuta esposa Riko por um curto período antes de perceber
que ele estava longe de igualá-la em questões de astúcia. Ela
decidiu testá-lo enviando numa busca sem sentido.
―Oh, marido,‖ ela disse a ele. ―Sua tola esposa quebrou a
última vara de aveia canhota e contrária. Eu enviaria os
servos, mas eles são pobretões que nunca poderiam achar o
tipo certo. Eu iria pessoalmente — mas embora o Quadrante
Mercante tenha as varas de aveia canhotas, e varas de aveia
contrárias, eles não têm varas que sejam ambas. Para essas,
preciso que vá ao Quadrante Pescador.‖
Okami certamente não iria querer sua esposa se aventu-
rando numa área cheia de arruaceiros como o Quadrante
Pescador, então perguntou a ela onde naquela área ele pode-
ria encontrar uma vara de aveia canhota e contrária.

14
 Não era da natureza de Okami voltar em sua palavra, ou
admitir que tinha falhado em fazer algo que disse que faria;
logo todo dia ele saía em busca da vara de aveia, jamais
desistindo, mesmo que estivesse cansado dos olhares intri-
gados de várias pessoas do Quadrante Pescador.
Desde o episódio da Ponte dos Amantes Bêbados (L16),
Riko não havia visto seu amigo do clã Garça, logo um dia
ela decidiu convidá-lo para beber chá e conversar, como
faziam antes dela se casar. Ela o fez mesmo que Okami
tivesse dito a ela para ficar longe dele. ―Não se preocupe
com Okami,‖ ela disse ao seu amigo. ―Ele estará fora numa
busca tola.‖
Porém, ela estava errada nisso; foi neste mesmo dia que
Okami completou sua busca. Certo marinheiro astuto tinha
ouvido de um nobre procurando por uma vara de aveia ca-
nhota e reversa, e assim pegou sua faca de pesca e cortou
várias varas de pescar em varas de mexer. Na manhã do dia
seguinte, ele ficou próximo ao Portal da Condescendência
(L9) gritando ―Varas de aveia! Melhores da região! Canho-
tas e contrárias, varas de aveia bem aqui!‖ Rapidamente,
Okami emergiu e, ouvindo seu chamado, perguntou-lhe
sobre uma vara de aveia que fosse canhota e contrária.
―Não tenho certeza,‖ disse o astuto pescador. ―Este é um
item raro e caro, e posso ter vendido a minha última… Não,
espere, tenho uma bem aqui!‖ E com isso, ele fez uma vara
na qual escavou as palavras ―canhota‖ e ―contrária‖. Okami
ficou muito feliz em ter encontrado o item finalmente, e
apesar de ter considerado o preço de três kokus bem caro,
ele o pagou pois estava grato por finalmente cumprir sua
promessa.
Imagine o seu pesar, então, quando retornou para casa e
viu seu rival do clã Garça entrar em sua casa. Okami imedia-
tamente investiu para dentro de casa e com muitos gritos e
objetos quebrados ejetou o Garça ofensor, que saiu em gran-
de pressa.
Agora, porém, Okami tinha outro problema. Todos os
seus vizinhos haviam visto o Garça fugir de sua casa, e
todos tinham o ouvido gritar. Não demoraria muito para
concluírem que o Garça tinha sido amante de Riko — mes-
mo que isso não fosse verdade e que Riko, Okami e o Garça
o negassem. O rápido vôo do Garça da cidade levantava
ainda mais suas suspeitas.
Quanto a Riko, era como se seus olhos fossem abertos. A
rapidez com a qual o ex-pretendente fugiu a fez perceber
quão covarde ele era e, aliás, sempre foi. Quando entendeu
isso, ela também viu quão honrado seu marido era, passando
dia após dia buscando algo tão trivial quanto uma vara de
aveia.
Ela foi até seu marido e se jogou aos seus pés, confes-
sando seu ardil com muitas lágrimas mas lhe garantindo que
nunca havia sido infiel com o Garça. Algumas explicações
foram necessárias para que Okami finalmente entendesse a
situação, mas quando o fez, sua mente estava muito pertur-
bada.
―Você trouxe o homem à minha casa após eu expressa-
mente o proibir,‖ ele disse por fim. ―Mesmo que não fosse
15
seu amante, você deve ser punida. Qual é a punição aceita
em Ryoko Owari?‖
Com isso, Riko empalideceu, mas por agora o respeitar,
ela lhe disse a verdade. ―Você deve publicamente me bater
com uma vara,‖ ela sussurrou.
Ele pensou momento, e então disse. ―Assim seja.‖
Logo, ela se viu de pé perante os vizinhos e amigos, es-
perando por seu marido vir bater nela com uma vara. Ela
estava tremendo — e deveria estar, pois os braços de seu
marido eram da grossura de suas duas pernas. Quando ele
chegou, ele estava carregando um imenso tronco de árvore,
grosso como sua cintura. A multidão toda se calou.
―Minha esposa errou comigo e desobedeceu minhas re-
gras,‖ disse Okami, balançando o tronco de árvore. ―Agora
devo dar a ela a punição que merece por suas mentiras.
Esposa, vire-se de costas, pois não quero que veja isso.‖
Pálida e aterrorizada, ela se virou e se encolheu. Ela não
o viu tirar de sua manga sua vara de aveia especialmente
esculpida, e foi com esta vareta que ele a golpeou uma vez,
nas costas.
―Esta é a sua punição,‖ ele disse aos vizinhos. ―Pois em-
bora ela tenha me desobedecido, ela não me traiu com aque-
le homem, e qualquer um que chamá-la de vergonhosa pode
responder a mim.‖ Com isso, eles foram para casa. Nove
meses depois, eles tiveram o primeiro filho.
Desde aquela época, as mulheres de Ryoko Owari têm
celebrado o evento carregando varas de aveia com elas neste
dia e usando-as para bater umas nas outras nas costas. Como
pode se imaginar, isso pode causar grande confusão, mas
também é interessante ver mulheres de todos os caminhos da
vida e posições carregando varas de aveia como se fossem
espadas, esperando pela chance para golpear suas amigas.
Naturalmente, só é considerado adequado golpear as de sua
própria posição (ou inferior), e só com afeto. Além disso,
embora as mulheres de Ryoko Owari suportem golpes fero-
zes de suas amigas, elas se tornariam veementemente furio-
sas se um homem ousar partilhar do mesmo comportamento.
GUIA DE VIAGEM DE KOMA-
CHI: Taxas são coletadas durante o
Mês do Macaco, e durante a lua
cheia deste mês, os nobres locais
geralmente se sentem muito ricos e
conseqüentemente felizes. Assim,
eles usam esta época para pegar
uma porção de seus lucros e gastá-los em presentes genero-
sos a seus colegas nobres.
O primeiro Dia da Generosidade é passado escolhendo o
Rei (ou Rainha) da Generosidade. Isto é decidido pelo sa-
cerdote chefe do Templo de Daikoku. Todos que desejarem
podem pôr um pedaço de papel com seu nome numa cesta.
Um pedaço de papel é escolhido pelo sacerdote, e esta pes-
soa se torna o Regente da Generosidade pelo dia seguinte.
O dia seguinte é um festival de entrega de presentes, su-
pervisionado pelo Rei ou Rainha. Espera-se que todo nobre
além da idade do gempukku participe, dando presentes para
um ou mais nobres. Para cada presente dado, outro é confia-
do ao Regente da Generosidade. O Regente não guarda
todos esses ―presentes secundários‖, mas os mantém sobre
seus cuidados; pois há um elemento de competição na entre-
ga de presentes, com o Regente decidindo quem foi o me-
lhor presenteador.
Alguns Regentes julgam o melhor presenteador como a
pessoa que deu muitos presentes. Outros dizem que o me-
lhor é a pessoa que dá mais presentes a indivíduos que só
receberam um presente (em outras palavras, o melhor pre-
senteador é o que dá presentes a aqueles que não são impor-
tantes ou geralmente impopulares). Outros ainda tentam
descobrir quem recebeu mais presentes, e julgam qual des-
ses presentes foi o melhor. O melhor presenteador recebe o
que ele escolher dos melhores itens que o Regente tem sob
confiança, e o Regente pode guardar ou se livrar dos outros
como ele ou ela achar melhor.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Os Dias da Generosidade são uma
irritação tremenda a um magistrado dedicado. Além dos
problemas normais associados com grandes grupos de samu-
rais celebrantes (muitos deles catastroficamente bêbados) há
o problema de grandes quantidades de objetos valiosos (sen-
timental e financeiramente) sendo carregados por aí, troca-
dos e simplesmente empilhados na frente do Rei da Genero-
sidade no Jardim Escorpião. As possibilidades de furto e
perda são inúmeras, e é óbvio que há vários insultos e desa-
fios oriundos de desentendimentos (normalmente bêbados) e
roubos genuínos.
Fui a esses festivais por dois anos consecutivos até ago-
ra, e no segundo tive o infortúnio de ser escolhida Rainha da
Generosidade. Tentei declinar a honra, mas me disseram que
fui ―escolhida por Daikoku‖ e possivelmente não poderia
recusar. Passei o dia inteiro num ―trono‖ ridículo num Jar-
dim Escorpião, assistindo um número obsceno de quinqui-
lharias ser depositado na minha frente, tentando encontrar
um meio de manter a ordem pública enquanto ainda aponta-
va um ―melhor presenteador‖ que satisfaria as facções polí-
ticas da cidade. Eventualmente, escolhi Shosuro Jocho (P2)
por dar uma luxuosa carruagem a sua mãe Hyobu (C9, P1),
e isso foi aceito com adequada graça por todos os envolvi-
dos. Ele imediatamente escolheu várias armas belas da pilha
de presentes, além de um elaboradamente esculpido cachim-
bo. Peguei o resto dos presentes e os distribuí entre meus
assistentes — embora deva confessar que guardei para mim
um belamente esculpido conjunto de shogi.
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 19º Ano
do Reinado de Hantei XXXVIII, Mês do Macaco, Primeiro
Dia da Generosidade.
Este foi meu primeiro Dia da Generosidade — um festi-
val muito sonoro e feliz, nada como os solenes e sérios feri-
ados de minha terra.
O festejo é feito para demonstrar nossa gratidão por um
bom ano de impostos, e certamente estou grata — sobre a
orientação de meu Estimado Amigo, os negócios de prata
estão sendo bem lucrativos, muito mais do que ousava espe-
rar.
Deveríamos pôr nomes numa cesta para que pudessem
16
escolher um regente para o festival — não quis pôr o nome
do Tio Kinto (P31) — ele parece tímido demais para gostar.
Pus meu nome, e embora me sentisse um pouco culpada,
estava empolgada demais e esperançosa quando sortearam
pela cesta. Não fui a Regente, porém — a honra foi para Ide
Michikane (P15).
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 19º Ano
do Reinado de Hantei XXXVIII, Mês do Macaco, Segundo
Dia da Generosidade.
Dei a Tio Kinto um anel de prata de nosso melhor arte-
são, e ele me deu uma de suas espetaculares estatuetas. A
cada presente que se dá, também espera-se que dê um pre-
sente para o Rei da Generosidade — eu dei leques com
poemas escritos neles.
Por um momento pensei que só receberia um presente de
Kinto, isso me deixou triste, mas então um jovem homem
chamado Iuchi Michisuna (P22) me deu um amável guarda-
chuva pintado. Imagino se ele planejava me presentear com
ele ou só viu que ninguém mais me daria algo?
Rei Michikane escolheu sua prima Otaku Naishi (P20)
como a melhor presenteadora porque ela deu pequenos pre-
sentes para quase todos ao que parecia (menos para mim).
Notei que ela não escolheu um de meus leques como troféu,
mas provavelmente não deveria esperar por isso.
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 20º Ano
do Reinado de Hantei XXXVIII, Mês do Macaco, Segundo
Dia da Generosidade.
Kinto continua tentando me ver, mas não posso pensar
em sua pobre, tímida e preocupada face hoje. Não quero
nem mesmo sair, não tenho nada para dar a ninguém mais…
Nada real, nem esperança ou amizade ou amor. Não tenho
certeza se realmente amo Michisuna. Se o amasse, gritaria
assim com ele? Toda a raiva e dor que senti quando o vi
com Aquela Vadia (Magda, P47) — parecia muito mais com
ódio do que com amor.
(Mais tarde no mesmo dia)
Consegui sair ao meio dia. Jocho (P2) simplesmente o-
lhou para mim e então se desviou. Osako (P10) viu isso e
sorriu, e então teve a audácia de me dar uma estatueta de
cavalo loja da Vadia (L22). Esperei até que fosse embora,
então o joguei numa privada pública. Que algum coureiro
fique com o presente dela.
Kinto me encontrou, é claro, perguntou se estava doente,
se ofereceu para ler alguns manuscritos sobre mim. Eu disse
que estava bem, e o agradeci por implicar que eu parecia
estar à porta da morte. Me arrependi no momento em que o
disse — era como se ele ficasse cada vez menor. Então, não
pude acreditar — ele me deu um real instrumento de dragão
(C1). Descobri que ele não fazia idéia de sua função — ele
pensou que fosse para tabaco! ―Vi que muitos de seus ami-
gos os carregam… Espero que goste.‖
Quase chorei. Então Otado (P7) se aproximou e me deu
uma caixa de manuscritos, perguntando se alguém havia me
dado algo. Mostrei a ele o instrumento e ele deu um alto e
cruel riso. Então fingiu decepção e disse que esperava que
fosse o único a me dar um presente, para que fosse anuncia-
17
do como o melhor presenteador. Não ri — quase me virei e
fui embora, deixando-o dizer tolices por alguns segundos.
Então ele começou a gritar para mim, me chamando por
nomes terríveis e tentando me seguir, mas entrei na efusiva
multidão.
Estou em casa agora, escrevendo meu dia e imaginando
por que me importo. Por que alguém se preocuparia com
meus dias? Por que quero que alguém se lembre deste dia?
Há alguma coisa que dá importância a minhas opiniões?
Esta sensação está vindo de novo, como uma febre negra
e fria da alma. Mesmo o ópio líquido não está ajudando
como costumava, mas ainda ajuda um pouco.
Pobre Tio Kinto. Um dia ele saberá o bastante para se
envergonhar de mim.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: O costu-
me de Ryoko Owari de pedir pe-
chinchas ou ―presentes em mãos‖
(C1) é distintamente persistente
entre os Guardas Trovão (C10) e
bombeiros (C12). Mesmo meus
próprios assistentes estavam se
comportando desta maneira vergonhosa até certas medidas
drásticas serem tomadas. Isso deve demonstrar a natureza
depreciada desta cidade — onde a honra de oficiais é com-
prada e vendida, como pratos numa barraca de macarrão.
O processo é uma obscena zombaria da etiqueta nobre a
respeito da entrega de presentes. Ao invés de oferecer um
presente sincero, o indivíduo procurando por um presente
em mãos faz um comentário sugestivo sobre um objeto em
particular ou (ainda mais odioso) uma soma de dinheiro.
―Ah, que belo kimono! Certamente eu teria a inveja de todos
os meus amigos magistrados se o tivesse,‖ ou ―Oh, se tives-
se mais dez kokus eu seria o homem mais feliz vivo.‖
Neste ponto, a outra pessoa pode simplesmente oferecer
o objeto ou soma na expectativa de futuros favores. Em tais
casos, a série padrão de ofertas e recusas se segue. Muito
mais freqüentemente, porém, o dono do objeto geralmente
faz algum modesto ou proprietário comentário em resposta.
―Sim, um ótimo kimono, não é? Eu o estimo muito,‖ ou
―Ah, dez kokus é uma grande soma de dinheiro. Pode-se ter
muito por tamanha soma.‖
A seguir, o pechincheiro dá alguma idéia sutil do que es-
tá sendo oferecido em troca do ―presente‖. ―Se eu usasse tal
amável veste, certamente usaria os cálidos sentimentos de
seu criador, louvando-o a todos que encontrasse. Igualmente
grande seria minha ira para aqueles que criassem problemas
para alguém que me deu tão precioso presente.‖ ―Tanto
dinheiro seria uma distração. Se tivesse tal repentina rique-
za, me distrairia de cobrar tarifas e taxas com completa
dedicação e imparcialidade. Talvez seja por eu ser tão po-
bre.‖
O dono do objeto agora tem a chance de disputar como
um dono de loja avarento — tentando oferecer algo de me-
nor valor, ou dar mais valor ao presente em mãos. ―Só posso
sonhar em você valorizar tanto um de meus trajes. Muito
mais provável seria se notasse a pequenez de minhas perí-
cias, mesmo dizendo aos coletores de impostos que minhas
vestes são muito menos dignas do preço que têm e deveriam
ser taxadas apenas como trapos.‖ ―Para um homem pobre,
qualquer soma de dinheiro parece estonteante — mesmo
sete kokus, ou cinco.‖ Por sua vez, se o dono da loja (ou seja
lá quem for) não deseja a pechincha, ele(a) pode simples-
mente continuar a inferir o alto valor do objeto ou soma.
Agora o oficial corrupto tem uma refutação final — ele
pode indicar que o preço reduzido ou serviço aumentado é
equiparável, ou pode continuar a pressionar pela pechincha
total e inicial. ―Ah, certamente os coletores de impostos
reconhecerão o valor pleno de suas mercadorias, mesmo se
eu os insultasse — o que não posso fazer, em sã consciên-
cia.‖ ―Sete kokus seriam deslumbrantes, admito — um para
cada Fortuna, ou clãs. Cinco, porém — o número de anéis
elementais — serviriam para me lembrar da sabedoria de
Shinsei e me encorajariam a realizar meu dever em sua
plenitude.‖
Agora é o momento em que a pechincha ser oferecida ou
recusada. ―Sua amizade e elogios são tão estimados para
mim que me sinto compelido a lhe oferecer o kimono que
tão claramente admira.‖ ―Realmente, seria um deslumbre
receber sete kokus, mas ainda mais temeroso seria perdê-
los.‖
OFICIAL CORRUPTO MERCADOR CORRUPTO
Expressão de inveja Reforço de valor
Sugere oferecer favores Contra oferta
Resposta à contra oferta Dar ou recusar
Fique alerta em tais trocas. Embora possam parecer inó-
cuas superficialmente, elas são uma bela máscara cobrindo
uma face de extensa e odiosa corrupção.
Uma nota final: como se pode imaginar, não é difícil a-
daptar esta troca aos propósitos de ameaças ou extorsão.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Ryoko Owari tem um extenso sis-
tema de patronagem samurai para mercadores camponeses e
artesãos. Reconheço que muitas famílias nobres consideram
guiar o comércio de Rokugan como tarefa necessária. Al-
guns até gostariam de reclamar honra por tal atividade,
mesmo que o façam por tremendo ganho pessoal. Embora eu
possa dizer que o contato com classes mercantes polua o
espírito guerreiro de um samurai, reconhece-se que as inte-
rações entre as classes samurai e mercante são inevitáveis, e
aceito isto.
Creio, porém, que a atenção dispersada às questões mer-
cantes por famílias samurais de Ryoko Owari é um fator
principal na crise moral da cidade.
A forma natural de patronagem seguida em quase qual-
quer outro lugar é que um samurai ofereça proteção aos
camponeses que trabalham e vivem em sua terra, em troca
das devidas taxas. Este elegante sistema se tornou corrompi-
do num ambiente urbano onde há uma grande população
transiente e um grande número de mercadores em íntima
proximidade uns com os outros — cada um potencialmente
sob a proteção de uma família ou samurai diferentes.
18
 Seria absurdo para um vilarejo Caranguejo decidir que
quer a proteção da Fênix; porém, numa cidade, se torna
possível que um mercador ou artesão deixe a proteção de um
samurai pelo patrocínio de outro (é possível, porém, não ter
patrão algum, exceto pelas altamente incomuns circunstân-
cias como a morte ou ausência de herdeiro do patrão).
Nas cidades, então, e especialmente em Ryoko Owari, é
comum que os mercadores solicitem ativamente a patrona-
gem de um samurai ou família. Famílias e samurais, em
troca, podem agora escolher a quem apoiarão — pois o
apoio dos vassalos envolve certo risco por parte dos samu-
rais (explicado a diante), e os samurais de Ryoko Owari
estão mais interessados em receber o maior lucro pelo inves-
timento de seu tempo, dinheiro e esforço.
Espera-se que o mercador vassalo dê certa porcentagem
de seus lucros — normalmente cerca de 10% — ao seu
patrão (em certos casos — notavelmente comerciantes de
ópio — esta porcentagem pode chegar a 65% ou 70%).
Em troca desta dádiva financeira, espera-se que o patrão
proteja o vassalo física, legal e financeiramente. Se azar
recai a um vassalo (por exemplo, o navio de carga do mer-
cador afunda) espera-se que o patrão forneça ao mercador
dinheiro suficiente para um recomeço (após um segundo
recomeço, porém, o mercador por normalmente esperar
pagar uma quantia significativamente maior ao seu mestre).
Espera-se que o patrão proteja o vassalo de extorsão, e (se os
negócios requisitarem) proteção para as caravanas. Final-
mente, espera-se que o samurai proteja a pessoa do merca-
dor e sua família, assim como samurais regionais protegem
suas vilas de bandidos.
Até agora, isso soa bastante familiar à proteção oferecida
a um vilarejo por seu senhor. A diferença, porém, está na
proximidade e competição.
Já que o samurai da cidade está muito próximo aos seus
mercadores e artesãos que um samurai regional, é natural
que nobres urbanos tenham um interesse aguçado nas opera-
ções que recebem sua proteção. Logo, o samurai está dando
sugestões aos seus vassalos — e então fazendo perguntas —
e antes que toda a sua atenção estará absorvida pelo comér-
cio, ao invés de se preocupar com honra, dever e os estudos
dignos de sua classe. O resultado disto é a expectativa por
parte dos vassalos que, se vendem ou produzem uma como-
didade usada pela classe samurai, o patrão elogiará os bens
do mercador aos amigos e família. Assim vemos o nobre
samurai de Rokugan reduzido ao nível de xelins num mer-
cado.
Isto aconteceu em Ryoko Owari. Alguns samurais se
contentam em deixar tais questões aos de posição adequada,
mas a grande maioria dos samurais de Ryoko Owari exerce
um controle direto nos negócios de seus vassalos. Ao invés
de caçar, rezar ou praticar armas, o samurai de Ryoko Owari
passa o dia pechinchando, juntando dinheiro e fazendo em-
préstimos. A corrupção do espírito engendrada é lenta, mas
seus resultados são claramente visíveis a um estrangeiro.
É lamentável que nossos samurais estejam desenvolven-
do uma atitude comercial, mas a competição por artesãos
19
premiados soma outro nível de tensão e desonra. Um ourives
(por exemplo) cujas obras são valorizadas pode decidir
trocar de patrão — deixando o emprego de um samurai por
outro que pode (por exemplo) requerer uma taxa menor. Se
o novo patrono tiver maior influência política (ou perícia
marcial) há pouco que o antigo patrão possa fazer a respeito.
O resultado é uma grotesca inversão da ordem social. Ao
invés de comandar os heimins, os samurais são reduzidos a
aplacá-los e buscar seu favor, e não o contrário. Esta inver-
são é uma ameaça óbvia à ordem social — ainda que o sis-
tema de patronagem de Ryoko Owari contenha perigos além
do óbvio.
Um de tais perigos são os mercadores ―ronins‖ — os
mascates que não têm patrão nobre. Supostamente eles são
protegidos pela Governadora, a quem pagam algumas taxas;
ainda assim certamente recebem menos atenção da Guarda
Trovão (C10) do que os defendidos diretamente pela família
Shosuro. Criminosos percebem tais mercadores como presas
fáceis, o que é correto. Mercadores ronins têm vindo a mim
com queixas e pedidos de proteção, mas se eu proteger um,
logo todos eles esperarão a intervenção de um Magistrado
de Esmeralda, deixando-me sem tempo para meus reais
deveres. Eu os recuso.
Ao invés disso, eles recorrem aos bombeiros locais
(C12), pedindo-lhes proteção das ameaças além dos incên-
dios casuais. Eles oferecem pechinchas, e em troca os bom-
beiros agem como guarda-costas e força paga. Isto mitiga o
problema de crimes contra mercadores, mas leva, de novo, à
percepção de que os magistrados (tanto os do Governador
quanto os do Imperador) não podem lidar com o crime.
Um perigo final — possivelmente a maior ameaça — a-
inda é o palco potencial. Em meu tempo de magistrada, dois
samurais tentaram ter a permissão da Governadora para
duelar, pois um havia matado o vassalo mercador do outro.
Descobriu-se que o mercador havia sido vassalo do samurai
que o matou; e seu novo mestre disse que a morte tinha sido
um ataque covarde e indireto a ele por um samurai temeroso
de enfrentá-lo diretamente.
Hyobu (C9, P1) recusou a permitir o duelo, e os dois
samurais perderam face; mas temo que se um fosse de seu
próprio clã, ela teria permitido o duelo. Um precedente de
um samurai duelando por mercadores não é algo que estou
ansiosa por ser estabelecido em qualquer cidade.
O Panorama Político
DOSSIÊ DE SHIGEKO: A situação política em Ryoko
Owari é uma massa embaraçada de obrigações, alianças
confusas, vinganças sigilosas e jurisdições conflitantes.
Minha partida mudará o equilíbrio de poder drasticamente,
assim como sua chegada. Você quase certamente precisará
se aliar com uma das organizações poderosas de Ryoko
Owari; sem tal aliança, as outras sentirão que podem se
mover contra você com impunidade. Porém, qualquer aliado
que escolher o apoiará apenas esperando ganho. Escolha
cuidadosamente; não há heróis aqui.

DOSSIÊ DE SHIGEKO: Shosuro
Hyobu (P1) é a atual Governadora
de Ryoko Owari, e tem sido desde a
morte de seu marido Akitada há oito
anos. Tecnicamente, seu filho Jocho
(P2) deve assumir o trono após seu
gempukku, mas ele mostra pouca
inclinação a fazê-lo; ele fica mais
feliz como líder dos Guardas Trovão (C10).
Por isso devemos provavelmente ser gratos. Embora es-
teja longe de uma mulher perfeita, Hyobu aprecia a impor-
tância da ordem social, e é adepta a manter a situação de
Ryoko Owari. Esta é sua maior força e maior fraqueza.
Seu reinado abasteceu Ryoko Owari com as bênçãos da
prosperidade e certo grau de paz e segurança. Porém, sua
intransigência também protege elementos corruptos que se
amontoaram ao seu redor. Por considerar as coisas ―boas o
suficiente‖ ela não é propensa a tomar ações que gerem bons
efeitos a longo prazo, mas que resultem em incômodos ne-
cessários no futuro imediato. O maior desses casos é o co-
mércio de ópio. Seu marido o tolerava, assim como ela. Ele
indubitavelmente trouxe riqueza à cidade — mas apenas
pelos mais corruptos e desonrados indivíduos. Ela não é
propensa a perseguir honra ilusória; ao invés disso, ela se
contenta em travar um jogo menos maçante, como a riqueza.
A menos que seja forçada, ela raramente faz uma escolha
difícil. Hyobu sempre prefere conversar a lutar. Ela é uma
negociadora nata, e boa nisso; se ela quer que um problema
se resolva sem sangrias, ela sacrificará muito e cumprirá
suas promessas. Ela é relutante em permitir duelos que ela
considere ―inúteis‖ — os baseados em impulso ao invés de
uma imensurável questão de honra. Porém, sua ―boa nature-
za‖ é auto-servil — ela não tem compunções quanto a extra-
ir favores dos que ela ajudou a sair de momentos difíceis.
Além disso, ela não aceita muitas exigências; se ela decidir
que está sendo deliberadamente interrompida ou desobede-
cida, ela não hesitará em usar a força.
Em outras palavras, sua ―natureza complacente‖ é uma
função da força, não fraqueza. Ela prefere pensar que toda
ofensa contra ela não é intencional, pois sabe que apenas o
pior tipo de tolo ficaria em seu caminho de propósito.
GUIA DE VIAGEM DE KOMA-
CHI: Os Guardas Trovão da Gover-
nadora são facilmente reconhecíveis
por suas armaduras, naginatas e
belos elmos emplumados. Seriam
necessários os rabos de cem cavalos
e cinqüenta galões de tinta para
replicar todas as plumas escarlates dos elmos dos Guardas
Trovão.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: A Guarda Trovão é o exército
pessoal de Shosuro Hyobu (C9, P1) e serve para manter sua
cidade pacífica e ordeira.
Seu líder é o filho dela, Shosuro Jocho (P2), um forte e
perigoso guerreiro. Embora dificilmente iguale sua mãe nas
políticas, ele tem um cruel (mas eficaz) senso de táticas e
organização de unidades pequenas. Isso, combinado com
uma astúcia nata e os números e treinamento de seus ho-
mens, torna a Guarda Trovão a força mais fisicamente pode-
rosa em Ryoko Owari.
O mais baixo nível dos guardas são soldados de infanta-
ria conhecidos como ―kaisatsukan‖. Eles vestem armaduras
leves com elmos emplumados e são armados com naginatas.
Há cerca de trezentos kaisatsukan em Ryoko Owari, predo-
minantemente filhos de nobres menores. Em dias comuns,
cinqüenta estarão nas Torres dos Olhos Oriental e Ocidental
(L28), outros vinte estarão guardando os muros pelo resto da
cidade e cinco estarão estacionados em cada portal. Além
disso, vinte e cinco estão geralmente patrulhando o Qua-
drante Pescador (normalmente pelas docas, checando navios
por contrabando e protegendo os coletores de tarifas), um
número semelhante está no Quadrante Mercante e uma dúzia
no Quadrante dos Templos. Esses guardas são designados a
áreas específicas e não vagam por elas. Porém, a Ilha Gota
de Lágrima é uma designação tão popular que seu pessoal é
mudado semanalmente, e é composto de soldados de todos
os distritos (liderado por um chefe estacionado lá permanen-
temente).
20
 Os deveres dos Guardas Trovão são defender a cidade de
invasões, punir crimes contra a Governadora (mas não in-
vestigar os crimes cometidos; este é um trabalho para os
magistrados de Hyobu (P10) ou os Magistrados de Esmeral-
da), checar cargas, barcos e comboios contra contrabando,
checar os documentos de viajantes e geralmente garantir a
paz pública.
Uma das iniciativas de Jocho desde que assumiu o con-
trole dos Guardas ano passado tem sido oferecer incentivos
para os kaisatsukan receberem treinamento de elite para
duas unidades especializadas, o Esquadrão Samurai e o
Esquadrão Relâmpago.
O Esquadrão Relâmpago é uma unidade de resposta rá-
pida e montada, atualmente consistindo de cinqüenta mem-
bros. Além do treinamento em cavalaria, o Esquadrão Re-
lâmpago aprende os significados de uma série de grandes
bandeiras que podem ser erguidas num mastro no Portal do
Dragão (L10). Essas bandeiras representam locais diferentes
e taticamente significativos da cidade. Quando a bandeira é
hasteada, um grande sino é soado e espera-se que o Esqua-
drão Relâmpago vá ao local em máxima velocidade, para lá
seguir novas ordens. Cada ponte, portal e doca tem sua pró-
pria bandeira, além de outros pontos importantes pela cida-
de. Jocho se orgulha de poder posicionar o Esquadrão Re-
lâmpago inteiro em qualquer ponto da cidade (exceto pelo
Quadrante Licenciado) em meia hora. Isso pode ser um
exagero, mas se for, seus testes e treinos freqüentes estão
constantemente tornando-o uma realidade mais próxima. É
crime contra a Governadora impedir um membro do Esqua-
drão Relâmpago a galope.
Além do pagamento extra, os membros do Esquadrão
Relâmpago recebem um aumento para suportar dois cavalos
e dois escudeiros, para que possam sempre ter um cavalo
pronto para a ação.
Deve-se notar que a admissão no Esquadrão Relâmpago
parece ser baseada apenas em habilidade e lealdade com
Jocho — membros ricos do clã Escorpião já foram recusa-
dos e Unicórnios pobres aceitos, apesar do atrito político que
isso causou. A menos que Jocho esteja usando um elaborado
cesto (C1), seu único interesse nesta questão é construir a
melhor força de combate que puder.
O mesmo não pode ser dito do Esquadrão Samurai. Eles
não são treinados em cavalaria; ao invés disso, estudam
arquearia e a arte da foice e corrente (kusari-gama), uma
arma destinada especificamente para desarmar espadachins.
O propósito do Esquadrão Samurai é lidar com samurais
rebeldes, insolentes ou bêbados. Conseqüentemente, eles são
designados quase exclusivamente aos Quadrantes Nobre e
Licenciado.
Aceitação ao Esquadrão Samurai é mais uma questão de
influência política e aplicação judiciária de presentes em
mãos (C1) do que uma questão de habilidade. Membros do
Esquadrão Samurai são geralmente tratados como tendo um
emprego melhor (patrulhando as áreas mais luxuosas da
cidade) mas também uma mais perigosa (já que espera-se
que combatam samurais descontentes). O Esquadrão Samu-
21
rai está cheio de bushis cuja primeira lealdade é para com
Jocho e Hyobu, mesmo à exclusão da autoridade Imperial.
Quando alguém irrita Hyobu ou Jocho, e deve se tornar um
exemplo, é o Esquadrão Samurai que faz o trabalho. Há de
setenta a oitenta homens neste esquadrão.
Vinte e cinco oficiais (conhecidos como ―koshiki‖) ficam
encarregados de organizar, treinar e disciplinar a Guarda
Trovão. Há normalmente um oficial a serviço na localização
central em cada Quadrante, e outro no Portal da Condescen-
dência.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Este é o
mais complicado nível da política, já
que não apenas penetra muitos ou-
tros níveis da cidade, mas também
se estende a além dos seus limites;
as corrente mutantes de favor e
insulto podem virar a qualquer mo-
mento.
Geralmente, o Escorpião é o clã dominante, e os Shosuro
a família dominante. Há rumores de que os Escorpiões estão
intensamente envolvidos no comércio ilegal de ópio, e de
que há certo atrito sobre a distribuição igualitária dos lucros
da distribuição da droga.
Suas empresas legítimas também são impressionantes.
Ninguém desafiou Shosuro Hyobu (P1, C9) como patrona
predominante da cidade, mas Bayushi Korechika (P5) reuniu
grande influência mercante em pouco tempo. Deve haver
problemas entre as duas casas— se não agora, em breve. O
Escorpião, porém, apresenta um fronte unido contra desafios
de outros clãs — particularmente o Unicórnio.
Os Unicórnios têm substancial presença em Ryoko Owa-
ri, pois é um importante centro comercial entre seu próprio
domínio e as terras dos clãs Escorpião e Caranguejo. Ela
também é uma articulação primária entre o comércio do
Unicórnio com o clã Mantis e quaisquer mercados maríti-
mos.
O líder formal do clã Unicórnio em Ryoko Owari é Shin-
jo Yoshifusa (P11), mas por muitos anos o líder real tem
sido Ide Baranato (P14), que realocou muitos membros de
sua família na cidade. Ele fez alguns gestos de amizade para
com o clã Escorpião, mas as tensões permanecem, inflama-
das por atritos comerciais e acusações de tarifas injustamen-
te elevadas contra caravanas do Unicórnio.
Os outros clãs têm influência limitada em Ryoko Owari,
mas podem ganhar vantagem temporária agindo como ―a-
gentes de desempate‖ entre Escorpião e Unicórnio. Eles se
dizem imparciais, e reforçam isso mudando alianças fre-
qüentemente em questões diferentes — desde a regulação
comercial a trajes da moda — mas é mais justo dizer que são
menos imparciais do que auto-interessados.
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 19º Ano
do Reinado de Hantei XXXVIII, 24º Dia, Mês do Galo.
Há grande alvoroço na cidade hoje; Ide Baranato e Sho-
suro Hyobu anunciaram uma união de suas famílias! Michi-
suna (P22) me disse — ele estava muito empolgado, sua Li minhas anotações de quando a união foi anunciada —
face corada com o prazer e dificilmente evitava rir como um parecia ter sido há décadas; eu era uma criança de coração,
tolo. ao invés de uma mulher velha… Mas mesmo eu podia en-
Ele me explicou que tem havido um mal estar entre os tender a política. A morte de Michikane envergonhou sua
Shosuro e Ide há um longo tempo — os Ide acham que os família, provando que são os cruéis e desonrados tolos que o
Escorpiões não os aceitam, enquanto os Shosuro tratam os Escorpião suspeitava.
Unicórnios como estrangeiros abusados. Este matrimônio Se aquele dia foi a segunda primavera, este é o segundo
fará disso uma mentira; ninguém dá sua amada filha a um inverno.
―estrangeiro‖. “MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 20º Ano
Michisuna até mencionou que queria que eu escrevesse do Reinado de Hantei XXXVIII, 1º Dia, Mês da Ovelha
uma canção para comemorar a ocasião. Disse-lhe que ficaria Um casamento foi anunciado entre Ide Asamitsu (P16) e
muito honrada. Disse o que quis — espero que ele não esti- Shosuro Kimi! Agora sim eu já vi de tudo.
vesse apenas sendo polido. Imagino como Asamitsu se sente calçando os sapatos de
Todos estão tão felizes; é como uma segunda primavera seu irmão falecido. E o que Kimi está sentindo sobre esta
sobre toda a cidade. Michisuna me convidou para acompa- súbita mudança de noivos? Quando os vi, ambos pareciam
nhá-lo esta noite para celebrar. paralisados e confusos.
(mais tarde) Todos estão se casando e se apaixonando, mas ninguém
A noite foi deliciosa! Michisuna e eu navegamos até a está fazendo os dois. Bem, ao menos seus pais ficarão feli-
Ilha Gota de Lágrima num pequeno e elegante esquife. Lá zes. É isso o que realmente importa, certo?
conheci a futura noiva — filha de Kyobu, Kimi (P3), uma
mulher de grande amabilidade e graça. Ela ficou muito quie-
ta e calada quando a congratulei — espero não ter inadverti-
damente provocado uma ofensa. História de Morosuke: A prosperidade de Ryoko Owari
O futuro noivo, Michikane (P15) era um contraste à sua durante o reinado de seu nono go-
noiva, jovial e um tanto exaltado. No momento em que nos vernador, Shosuro, Shosuro Kinsue,
juntamos à festa, ele já estava corado — de bebida ou emo- se deve diretamente às políticas
ção, não posso dizer. Uma coisa que tinha em comum com avassaladoras de Shosuro Kurodo, o
Kimi era a benção de Benten — eles certamente terão filhos sexto governador. Tristemente,
lindos. parece ser costume do mundo que
Esta foi a primeira vez que fui à Ilha Gota de Lágrima, e
esses sutis e visionários indivíduos que realmen-
temi de início, mas minhas apreensões eram tolas e
te fazem as coisas acontecerem, coopera-
infundadas. O Quadrante Licenciado não é lugar
rem para os que capitalizam seu tra-
sombrio e furtivo que me disseram — ele
balho por berrantes demonstrações
era belo, glamoroso e feliz. Se tal felici-
públicas.
dade é desonrosa, então qual é o sentido
Kurodo herdou um pequeno forte
da vida?
numa área de solo infértil e floresta perigosa.
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE
Porém, ele nunca foi de reclamar da mão do
ÓPIO”: 20º Ano do Reinado de
destino, pois seu primeiro ato foi tentar
Hantei XXXVIII, 11º Dia, Mês
atrair mais pessoas para viverem na
da Serpente
cidade — assim expandindo sua
Hoje, quando eu estava
base fiscal.
caminhando com Jocho
Ele fez isso declarando cinco
(P2), vi Otaku Genshi
anos de ―anistia de taxas‖ para
olhando para ele quando
os destiladores de sakê e
pensou que não podía-
ceramistas. Seu propósito
mos vê-la, e então ela
era duplo; ele sabia que
cuspiu no chão de-
os destiladores ficari-
pois de passarmos!
am tentados pelo
Sei que ela está
lucro isento, e
triste pelo seu
que uma vez
primo — todos nós
estabelecidos
estamos — mas
eles ficari-
essa foi a primeira
am. Ele
vez que percebi as
sabia que a
repercussões polí-
presença
ticas da morte de
de sakê
Michikane (P15).

22
barato atrairia madeireiros e mercadores, especialmente já
que a principal cidade extrativista (Cidade da Floresta Som-
bria) estava do outro lado do país. Ele encorajou ceramistas
na esperança de tornar a cidade conhecida por uma comuni-
dade artística também — e também porque esperava que os
oleiros viessem junto e barateassem as construções.
Para conseguir pagar sua isenção, Kurodo tinha que cor-
rer riscos e cortar alguns serviços. Um serviço que ele eli-
minou foi o departamento incendiário municipal. Os cida-
dãos reclamaram, mas sakê barato e prosperidade foram
paliativos para sua infelicidade. Eventualmente, grupos de
combate ao fogo distritais foram formados, e pelo menos um
deles (os Bombeiros da Estrada dos Templos) tem estado
ativo desde o reinado de Kurodo.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Em algum ponto da história de
Ryoko Owari, o Governador parou de pagar bombeiros. Os
arredores da cidade responderam contratando ou formando
seus próprios grupos para apagar incêndios (dado o predo-
mínio de prédios de madeira, o fogo é uma grande ameaça à
ordem social).
Esses grupos de bombeiros (ou ―kajinin‖) se tornaram
mais do que simples combatentes de incêndios, porém. Em
alguns casos, os kajinin se tornaram verdadeiras forças poli-
ciais, cumprindo as leis (bastante apócrifas) de suas próprias
vizinhanças. Em alguns casos isto é uma dádiva, quando
previnem que problemas menores atribulem a Guarda Tro-
vão ou o Magistrado de Esmeralda. Em outras áreas, é muito
difícil diferenciar esses ―vigias locais‖ e um sindicato crimi-
23
nal.
Atualmente, cada organização oficial de combate ao fo-
go recebe uma soma de dinheiro de Shosuro Hyobu por seus
serviços. Eles são leais a ela em troca deste dinheiro (que em
alguns casos é pouco mais que uma esmola paga em troca da
paz e calmaria), e também por medo da Guarda Trovão.
O combate ao fogo em Ryoko Owari é assim organiza-
do:
O Quadrante Nobre é protegido pela Guarda Trovão, que
cuida do reservatório central para tal propósito.
A parte sul do Quadrante Mercante é protegida pelos
Bombeiros do Pequeno Portal. A parte central é patrulhada
pelos Bombeiros do Jardim de Daikoku, enquanto o terço
setentrional é protegido pelos Bombeiros Braço Forte. Os
bombeiros do Pequeno Portal são geralmente um grupo
honrado, que geralmente repassa qualquer capturado ―inde-
sejado‖ para a Guarda Trovão. As outras duas organizações
são um pouco mais informais — mais propensas a justiça
mafiosa a qualquer ameaça percebida. As gangues Braço
Forte e Jardim de Daikoku também são particularmente
inclinadas a presentes em mãos (C1), e o Braço Forte exage-
rou em real extorsão em algumas ocasiões.
O Quadrante dos Templos é protegido pelos Bombeiros
da Estrada dos Templos no norte, e pelos monges de Daiko-
ku ao sul. Os monges nunca foram acusados de extorsão ou
atividade escusas. Quanto aos Bombeiros da Estrada dos
Templos, eles não estão totalmente desprovidos de reprova-
ção, mas são geralmente muito religiosos — em alguns
casos, eles pediram preces como presentes em mãos! Deve-
se ressaltar que os Bombeiros da Estrada dos Templos são
conhecidos por terem assassinado brutalmente dois indiví-
duos suspeitos de furtar um templo — mas não há evidên-
cias que apóiem isto, e pode muito bem ser um rumor que
espalharam para prevenir futuros furtos.
O Quadrante Licenciado tem um sistema único de bom-
beiros profissionais que não têm outra ocupação, e dos quais
nenhuma outra atividade é tolerada. Embora os bombeiros
em outras áreas sejam tratadas como figuras de autoridade, e
exerçam poder sobre os mercadores e negócios que prote-
gem, no Mundo Flutuante, as salas de chá e casas de geishas
deixam claro que os bombeiros são seus empregados e espe-
ram que comportem-se como tal. Assim, a Ilha Gota de
Lágrima tem uma excelente proteção contra incêndio, e
confia na Guarda Trovão para cumprimento da lei.
O Quadrante Coureiro é protegido por uma grande e in-
formal organização que parece ter poucos líderes ou mem-
bros permanentes, mas muitos voluntários e membros espo-
rádicos. Não há queixas ou abusos deles.
Como era de se esperar, o Quadrante Pescador tem os
mais brutos, numerosos e suspeitos kajinin. Esses dois gru-
pos são os Bombeiros do Gume do Instante e os Comedores
de Fogo. Os Bombeiros do Gume do Instante governam a
área da fronteira setentrional da cidade até a linha definida
pelo terceiro píer. O domínio dos Comedores de Fogo vai do
sul do terceiro píer até o Portal Destroçado (L27) e a Ponte
dos Amantes Bêbados (L16). As duas gangues, embora
superficialmente respeitem a autoridade (e genuinamente
respeitem o poder militar) são violentas e corruptas. Durante
minha estadia, ambas se provaram associadas à prostituição,
venda de ópio (em forma bebível e fumável), contrabando,
extorsão e venda ilegal de álcool.
Em sua sabedoria, Shosuro Hyobu (C9, P1) ignorou meu
pedido de que suas licenças oficiais fossem revogadas. Seu
raciocínio foi que eles podem ser substituídos por uma gan-
gue ou gangues igualmente problemáticas ou mais, e que
tamanha desordem no submundo criminoso causaria mais
dano do que cura.
Em minha experiência com quadrilhas mais fortes, eles
respeitarão o ofício do magistrado — ao nível de os conside-
rarem uma ameaça genuína. Muitas das gangues são com-
prometidas com os Guardas Trovão, e acreditam que sua
destruição esteja além do poder de um Magistrado de Esme-
ralda, ou simplesmente que sejam um problema grande
demais. Se quiser ter a cooperação deles, deve-se ter seu
respeito pessoal.
Esta é uma linha estreita. Não fiquei na cidade muito
tempo antes de matar um membro insolente dos Comedores
de Fogo. Depois disso, fui tratada com solene respeito, mas
eles ainda ficavam calados em meus interrogatórios. Matan-
do um, fui percebida como um inimigo.
Matar um Comedor de Fogo me rendeu apreciação tem-
porária dos Bombeiros Gume do Instante, mas quando des-
cobriram que eu era honrada e não pretendia eleger favoritos
no cumprimento da lei, eles também me perceberam como
inimiga.
Agindo aconselhada por um antigo aliado, quando os
bombeiros Braço Forte testaram minha paciência, usei técni-
cas de jujutsu no ofensor. Embora fosse mais arriscado que
usar a espada, também os impressionou por poder enfrentá-
los em seus próprios termos e vencer (esteja avisado; você
deve vencer, e eles usarão truques sujos contra um samurai).
Depois disso, não tenho o amor deles, mas consegui seu
respeito sem medo ou ódio.
HISTÓRIA DE MOROSUKE: Tal-
vez o mais radical e importante
plano de Kurodo ao construir a
cidade foi o tratamento aos etas
locais.
Há duas histórias sobre onde
Kurodo teve sua grande idéia. Uma
lenda diz que lhe ocorreu no Templo de Daikoku (L12).
Outra, mais humilde é que Kurodo teve sua grande idéia
após afundar num pequeno barco de prazer. Na ocasião, o
Rio do Ouro era usado como esgoto primário da cidade, e
podia ser mais precisamente descrito como Rio de Refugo.
Emergindo imundo, o Governador viu um par de etas co-
lhendo excremento do rio. Quando os perguntou o que esta-
vam fazendo, eles respeitosamente o disseram que estavam
juntando solo noturno para fazer seu jardim mais fértil.
No momento, o Governador percebeu que o suprimento
cada vez maior de dejetos da cidade não teria que ser uma
perturbação e risco públicos. Ao invés disso, ele poderia ser
usado para reparar o solo infértil ao redor da cidade.
Em uma semana, ele criou as seguintes leis;
1) Jogar excremento no rio, ou em qualquer corpo de á-
gua local estava proibido.
2) Dinheiro coletado por etas para removerem dejetos
dos limites da cidade nunca seriam taxados a menos o eta
acumule mais de determinada quantia por dia pela remoção.
3) Pelos próximos cinco anos, nenhuma taxa seria cobra-
da de um eta pela venda de excremento para fazendeiros
fora dos limites da cidade, a menos que o eta acumule mais
de uma determinada quantia por peso.
Essas leis tiveram vários efeitos.
Os etas ficaram eufóricos e rapidamente capitalizaram
uma situação em que podiam ser pagos por coletarem algo,
serem pagos para o venderem, e não pagariam taxas nessas
transações.
Os fazendeiros ficaram felizes em ter uma fonte contí-
nua de fertilizante de qualidade. As leis fiscais foram estru-
turadas para manter os preços baixos.
Os cidadãos ao longo do rio ficaram felizes em pensar
que sua vizinhança ficaria menos mal-cheirosa.
Inicialmente, os cidadãos não gostaram de terem de pa-
gar pela coleta de seus dejetos, assim como pagarem pela
própria proteção contra incêndios (C12). Porém, as somas
conseguidas pelos etas pelos seus serviços foram novamente
razoáveis pela estrutura fiscal, e logo a cidade estava nota-
velmente mais limpa.
24
 A colheita daquele ano foi substancialmente melhor, o
que significou preços menores para comida de todos na
cidade (assim como preços de arroz menores para os desti-
ladores de sakê). Com o tempo, a comunidade agrária ao
redor de Ryoko Owari cresceu e se tornou mais próspera do
que se podia imaginar.
Um efeito posterior, porém, foi um imprevisto. Os etas
de Ryoko Owari rapidamente se tornaram os mais ricos de
sua classe em Rokugan. Esta situação vantajosa atraiu etas
de outras áreas, até o que distrito eta de Ryoko Owari tam-
bém se tornasse o maior de seu tipo no país.
Esta era uma situação desconfortável para os nobres e
heimins da cidade, que não se importavam em ter tantos
―indesejáveis‖ (não importa quão úteis) por perto. No come-
ço de seu reinado, o duodécimo Governador (Shosuro Atsu-
suke) pensou que tinha uma solução elegante; ele simples-
mente começou a taxar a coleta de dejeto intensamente,
esperando tornar Ryoko Owari menos atrativa para os etas.
Os etas reclamaram o máximo que sua timidez natural
permitiu, assim como os fazendeiros (que tinham que pagar
preços altos para cobrir as taxas de coleta), mas ao invés de
recuar, Atsusuke dobrou as taxas — e enviou tropas à área
eta com ordens de mostrar quem era o chefe.
Antes de julgar Atsusuke, deve-se lembrar que ele era
um Governador novo, inexperiente, e que, além disso, havia
um novo Imperador (Hantei XVII) planejando visitar a cida-
de. Atsusuke indubitavelmente queria causar uma boa pri-
meira impressão. Infelizmente, ele falhou.
O resultado das taxas e invasão militar foi chamado de
―A Rebelião do Lixo‖. O sexto governador prometeu que a
coleta de dejetos nunca seria taxada, e os etas construíram
não apenas um negócio, mas uma comunidade em volta do
juramento. Quando Atsusuke quebrou a promessa, eles fica-
ram desolados — e retaliaram da única maneira que podiam.
Eles pararam de coletar refugo.
Os fazendeiros ficaram ultrajados. As pessoas da cidade
se enfureceram. Atsutsuke ficou furioso e ordenou outra
invasão punitiva às moradias etas.
A resposta eta foi uma placa rabiscada na Ponte Dragão.
Ela dizia ―etas mortos não podem limpar sua cidade‖.
Isso ocorreu no auge do verão, e o imperador devia che-
gar logo. Atsusuke considerou rescindir a lei contra poluição
do rio, até que ouvisse que o imperador estava chegando. Os
preços dos alimentos subiram, aumentado os preços de tudo
na cidade — uma cidade que já estava brava, e cada vez
mais fedorenta.
O Governador ofereceu uma recompensa a qualquer eta
que se voltasse contra os líderes da rebelião. Ninguém aten-
deu, embora alguns historiadores acreditem que alguns etas
tentaram. A seguir, ele tentou contratar fedorentos (C1) não-
etas com fundos públicos — mas isso, também, falhou.
Poucos heimins estavam dispostos a fazer este trabalho, e
nenhum eta se arriscaria à fúria de seus amigos fazendo o
trabalho deles.
25
Atsusuke estava cada vez mais desesperado, e era cada
vez mais aconselhado por seus consultores a uma solução —
deixar os etas trabalharem sem impostos.
A história oficial diz que Governador Atsusuke prendeu
os cinco líderes da ―rebelião eta‖ e os executou, e depois foi
recompensado pelos outros etas com sua lealdade restabele-
cendo seu status isento de taxas. A verdade é um pouco
menos simples. É verdade que cinco etas foram executados,
mas na verdade eles eram etas que tentaram trair os líderes
da rebelião — presos por seus iguais até, convenientemente,
o Governador precisar matar alguns etas para salvar face.
Além disso, crença pessoal minha de que Atsusuke fez
mais concessões aos etas do que o simples retorno ao seu
estado anterior. Por uma coisa: desde aquele tempo, eles têm
sido chamados coletivamente de ―Coureiro‖ em todas as leis
e documentos oficiais. Além disso, nenhuma tentativa adi-
cional foi feita para removê-los de Ryoko Owari, embora
eles tenham seu território fora dos muros da cidade.
É de minha opinião que os Coureiros estão aqui para fi-
car. Afinal, esta é ―A Cidade que o Esterco Construiu‖.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Os etas de Ryoko Owari, conhe-
cido como ―Coureiros‖, realmente não merecem considera-
ção neste planisfério político, mas os incluo porque são
muitos e podem (se provocados) terem influência na ordem
social.
Os Coureiros tendem a se reservarem. Eles coletam o li-
xo da cidade em troca de uma taxa simbólica, e vendem o
que garimpam para os fazendeiros locais. Sua moradia é fora
dos muros da cidade e assim pouco preocupam a Guarda
Trovão (que tem jurisdição lá, mas raramente escolhe exer-
cê-la) nem de interesse do Magistrado de Esmeralda.
Noções da Situação
do Ópio
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDO-
RA DE ÓPIO”: 20º Ano do Reinado
de Hantei XXXVIII, 10º Dia, Mês do
Cavalo
Nunca sou tão pura como quando o ópio me violenta
Nunca tão viva como quando ele me mata
Nunca tão completa como quando ele me esvazia
Nunca tão rica como quando ele rouba de mim
Ele é a única cura para doença chamada vida.
Ainda não posso crer que Michikane (P15) está morto.
Só de pensar nisso me furta a vontade; nada parece valer a
pena. Todos os servos, mercadores e mascates prosseguem
em seus labores, assim como quando ele estava vivo, quan-
do para mim é como se o mundo inteiro fosse transformado
num instante.
A única coisa que me dá ao menos um momento de alí-
vio é o cachimbo, mas mesmo ele está perdendo o poder de
me consolar. Eles me avisaram que isso aconteceria, mas a
expectativa e prontidão não confortam; muito pelo contrário.
Sinto como se estivesse numa estrada rumo a precipício,
mas não posso mudar o curso ou parar para descansar.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: O ópio foi introduzido em Roku-
gan pelo clã Unicórnio após seu retorno das Terras Arden-
tes. Inicialmente, ele era usado para propósitos medicinais
como aliviar a dor e suprimir tosses severas. Não demorou
muito para isso mudar.
A forma fumável do ópio (―sopro de dragão‖), e a forma
refinada suspensa em álcool (―vácuo líquido‖) rapidamente
foram adaptadas ao uso recreativo dos vãos, fracos e deson-
rados. Conseqüentemente, eles foram proibidos, mas o uso
do sopro de dragão prevalece pela sociedade, enquanto o
vácuo líquido está se tornando mais comum — especialmen-
te em Ryoko Owari.
A utilidade medicinal do ópio dificulta a execução das
leis anti-abuso; é legal cultivar, armazenar e transportar ópio
não processado em pequenas quantidades. Já que a substân-
cia não é ilegal (ao menos, não até se tornar uma forma
abusável), é necessário pegar o usuário no ato, ou obter uma
confissão de abuso deliberado.
Mudas de ópio suficientes são cultivadas em Ryoko O-
wari em um ano para suprir a legítima necessidade de Roku-
gan pelo menos por uma década; mas ano após ano as co-
lheitas são vendidas e mais é exigido.
É minha opinião que Ryoko Owari é o centro primário
do cultivo, processamento e distribuição do ópio em Roku-
gan. Tenho sido incapaz, ao limite de minha sanidade, de
impedir ou desacelerar o cultivo desta indústria efetivamen-
te, que dirá reduzi-la, pois ela é protegida por todos os lados
por todas as facções. Todas as famílias nobres conflitantes
de Ryoko Owari concordam que o comércio de ópio é ne-
cessário. A Governadora o apóia. A Guarda Trovão o igno-
ra. Os fazendeiros o plantam, os etas o fertilizam, os merca-
dores o movimentam e todos o fumam.
O Campeão de Esmeralda que me designou, nos anos re-
centes, aumentou os impostos de Ryoko Owari como medi-
da punitiva para deter o comércio de ópio. Creio que tenha
tido o efeito oposto; já que o ópio é uma comodidade na
cidade que é bastante isenta, ele se tornou o fundamento de
uma segunda economia ilegal.
Os que defendem a droga dizem que ela é inofensiva;
que não é fatal, não encoraja barbárie (como sakê), só dá
prazer e não tira nada. ―Viciados em ópio não brigam, estu-
pram, nem roubam,‖ eles dizem. ―Eles só desejam se deitar,
não ferirem ninguém, e ouvir os dragões cantar. Que mal há
nisso?‖
Para isso, respondo que o mal é a honra dos indivíduos, e
por extensão a honra do país. Ópio pode não matar o corpo,
mas mata a alma, deixando abominações vazias onde já
houve homens.
26
27
Seção Dois

A Cidade

28

HISTÓRIA DE MOROSUKE: Ryoko Owari foi fundada
por Shosuro Kaneie durante o reinado de Hantei IX. Na
época, os limites entre terras do Caranguejo e Escorpião
eram bem diferentes, e um forte era necessária para proteger
os interesses madeireiros dos Shosuro na Floresta Escondi-
da.
Dizem que Kaneie tinha um incomum grau de amizade
com o Campeão de Esmeralda da época; certamente o Cam-
peão estendeu vários extremamente generosos (alguns diri-
am ―suspeitos‖) para a construção da cidade, incluindo a
proteção de forças Imperiais estacionadas nas Planícies do
Trovão.
As moradias ao redor do forte prosperaram quando uma
trégua foi (temporariamente) acertada entre os clãs Escorpi-
ão e Caranguejo. Devido em grande parte à ânsia do Caran-
guejo em construir navios. Não apenas aquele ano viu um
aumento naval pelo clã Fênix (que na época era pouco mais
militar do que é hoje), mas também houve relatos de mons-
tros aquáticos atacando a costa.
Naturalmente, o Caranguejo tinha suas próprias fontes de
madeira, mas sua demanda exigia um suprimento local. O
arraial ao redor do forte e Kaneie estava bem posicionado
para derrubar árvores e enviá-las pelo rio, e certos incentivos
fiscais do Campeão de Esmeralda tornaram economicamente
viável (há histórias de que o Escorpião vendeu ao Carangue-
jo madeira inferior, causando atrasos na construção naval e
eventualmente paralisando os planos do Caranguejo de con-
quistar a costa da Fênix. Porém, nenhuma evidência existe
que apóie esta alegação — e um Caranguejo derrotado nada
dirá).
Uma pequena cidade logo se desenvolveu na baía ao nor-
te do forte. Kaneie chamou a cidade de ―Fim da Jornada‖ na
esperança de atrair moradores — um ato significativamente
bem sucedido, embora pessoalmente eu dê muito do crédito
às agressivas e radicais políticas do sexto Governador (G12,
G13).
29
Os Muros da Cidade
HISTÓRIA DE MOROSUKE: Mui-
to pouco resta dos muros originais
de Ryoko Owari, que foram corta-
dos da pedra sabão local e rendeu-
nos o nome de ―Cidade dos Muros
Verdes‖ — um nome hoje raramente
usado. A fraqueza dos muros foi
demonstrada durante um cerco do clã Leão durante o Reina-
do de Hantei XX. Na ocasião, as terras agora reclamadas
pelo Unicórnio estavam sendo disputadas pelos clãs Leão,
Escorpião e Caranguejo, com os Leões levando a vantagem.
Eles invadiram Ryoko Owari e facilmente romperam os
fracos muros de pedra. Porém, eles ficaram na cidade apenas
uma semana antes que ataques em posses mais vitais os
forçassem a reunir suas forças. Antes de irem, porém, eles
causaram grande destruição na cidade. A única parte do
antigo muro que deixaram intacta foi as seções que apóiam o
Portal do Dragão, pois o general Leão declarou que seria um
crime contra as almas destruir algo de tamanha beleza.
Quando os muros foram reconstruídos, o Clã Escorpião
trouxe granito das Montanhas Espinha do Mundo, e esses
muros nunca caíram.
GUIA DE VIAGEM DE KOMACHI: Os muros de Ryoko
Owari têm dois metros e meio de largura e quatro metros e
meio de altura, feitos do melhor granito preto encontrado em
Rokugan. Construtores chamam este granito (das Montanhas
Espinha do Mundo) de ―estrelado‖ pois tem pedaços de
cristal nele que captam luz, fazendo estrelas cintilantes na
pedra preta.
Os muros ao redor do Quadrante Nobre são ainda mais
altos (seis metros) e três metros mais espessos!
A Baía da
Honra Afogada
GUIA DE VIAGEM DE KOMA-
CHI: A história da Baía da Honra
Afogada é nobre e trágica, datada do
reinado do terceiro Governador.
Dois nobres do Clã Escorpião se
desentenderam, e a questão só seria
encerrada com sangue. Eles resolve-
ram se encontrar na Ponte do Gume do Instante ao pôr do
sol, para um duelo até a morte.
Neste dia, uma grande tempestade caiu na Planície do
Trovão, mas os dois samurais estavam inabalados. Mesmo
que todos os incentivassem a adiar o duelo, ambos insistiam
que sua honra não podia esperar.

Eles ficaram no centro da ponte e prepararam-se para sa-
car, quando houve um ruído de trovão e uma grande onda
levou um dos samurais por sobre os limiares da ponte. O
segundo imediatamente mergulhou atrás dele. Seus corpos
foram encontrados no dia seguinte, segurados firmemente
um no outro. Até hoje, ninguém sabe se morreram lutando
na água, ou nadaram juntos até a terra e terminaram o duelo.
O Quadrante Nobre
GUIA DE VIAGEM DE KOMACHI: O Quadrante Nobre de
Ryoko Owari é um poema de pedra. Sua beleza tem vários
níveis; além da superfície amável, que pode ser vista por
qualquer mercador ou mendigo passante, o Quadrante Nobre
também serve como metáfora para o relacionamento entre
seus habitantes e o resto da cidade. Assim como os filhos
dos Kamis estão mais próximos aos céus, assim é o Qua-
drante Nobre, erguido na Colina Nobre. Assim como há
importantes barreiras para manter os níveis sociais puros,
assim há uma espessa e bela muralha ao redor do Quadrante
Nobre. Assim como os nobres vigiam os heimins, como pais
vigiam um filho, assim o Quadrante Nobre vislumbra Ryoko
Owari.
GUIA DE VIAGEM DE KOMA-
CHI: O topo do Palácio do Governa-
dor de Ryoko Owari é o mais alto da
cidade (porém, o Palácio não é o
edifício mais alto; esta honra perten-
ce ao Templo de Daikoku, construí-
do nas planícies abaixo da Colina
Nobre). Construído do cedro da
Floresta Escondida, o palácio foi construído completamente
com os materiais vendidos em Ryoko Owari.
HISTÓRIA DE MOROSUKE: A primeira Residência do
Governador foi ocupada por Hida Atsushige quando o clã
Caranguejo tomou a cidade (C4). Em sua partida, ele a in-
cendiou no que seus contemporâneos chamaram de uma
―fúria tola‖, mas que eu pessoalmente caracterizo como um
―escape de frustração‖.
A segunda Residência sempre foi descrita com os termos
cuidadosos que apenas estruturas realmente feias merecem.
Não surpreende; após o retorno de Sanekata, ele tinha pouco
dinheiro para uma magnífica residência, e conseqüentemen-
te construiu uma modesta estrutura de madeira e tijolos.
Posteriores (e mais prósperos) Governadores relutaram em
destruir uma casa construída por tão nobre homem, então
tentaram redimir a estrutura aumentando-a. Infelizmente,
seus acréscimos só tinham o efeito de tornar a casa central
mais jocosa comparativamente. Só com a invasão dos Leões
que o terçol foi justificadamente destruído.
Há rumores de que o segundo Palácio foi destruído por
tropas regressas do Escorpião, e não invasoras do Leão, para
que o Governador pudesse construir uma casa ―adequada‖.
Considero esta história implausível; talvez durante um bom
ano um incêndio conveniente possa ter ocorrido, mas não
durante tempos de guerra.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Demora doze minutos para caval-
gar do Palácio ao Saguão Civil, e nove minutos à Residência
do Magistrado.
GUIA DE VIAGEM DE KOMA-
CHI: A residência Ide é uma exótica
estrutura em Ryoko Owari, tendo
sido projetada em estilo estrangeiro.
Ela consiste de um edifício central
redondo com um domo no topo, flanqueado por longos
anexos nos lados direito e esquerdo. A família habita no
30
edifício redondo central, enquanto a ala esquerda é um gran-
de templo familiar e a direita são vários estábulos.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: A Residência Ide fica a dezesseis
minutos do Saguão Civil e cinco minutos da Residência do
Magistrado.
GUIA DE VIAGEM DE KOMA-
CHI: Este amável jardim foi constru-
ído pelo décimo segundo Governa-
dor de Ryoko Owari, um homem
chamado Shosuro Atsusuke, para
comemorar uma visita imperial. É o maior jardim da cidade,
e incomparável na região pela arte de sua construção. Desde
o retorno de nossos vizinhos Unicórnios, parte do jardim foi
separado para exibição de exóticas flores e animais estran-
geiros.
O jardim foi construído em frente à casa de banhos do
Quadrante Nobre. Feita de pedra sabão altamente polida, a
casa de banhos é uma das mais antigas construções de Ryo-
ko Owari, datando do reinado do segundo Governador.
Visitantes por vezes se assustam pelo costume único des-
ta casa de banhos. Em honra à tradição Escorpião de usarem
máscaras, todos usam um véu de gaze enquanto na casa de
banhos. Alguns visitantes consideram desconcertante cobrir
seu semblante ao se banhar, mas é um costume venerável, a
fina gaze não interfere na limpeza, e muitos nativos se sen-
tem ―nus‖ com suas faces expostas.
HISTÓRIA DE MOROSUKE: Há uma história de que a es-
posa do segundo Governador tinha grande beleza, mas que
quando ele a descobriu nos braços de um amante ele matou
o homem e cortou o nariz dela para destruir sua beleza.
Enquanto ela parecia normal com sua máscara, ela nunca
podia aparecer despida novamente sem ouvir engasgos hor-
rorizados. Suas amigas se entristeceram por ela não poder
mais ir aos seus banhos, mas ela estava envergonhada de-
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mais por sua deformidade. Assim, elas começaram a prática
de máscaras para que ela pudesse se juntar a elas.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: O Jardim Escorpião fica pode ser
alcançado da Residência do Magistrado em dez minutos, e
pelo mesmo tempo do Saguão Civil.
GUIA DE VIAGEM DE KOMACHI:
Esta estóica porém graciosa residên-
cia serve de lar ao Magistrado de
Esmeralda local. A vista da frente é
imponente e severa, mas ela oculta
um jardim intero reservado para o
Magistrado e seus hóspedes. As
salas de negócios são compreensivelmente planas e funcio-
nais, mas os interiores menores e maiores são tidos como
extremamente confortáveis e encantadores.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Deverás considerar a Residência
do Magistrado adequada às vossas necessidades, ao menos.
É uma casa grande — opulenta, pelos meus padrões, embora
outros clãs possam ter opiniões diferentes. O Palácio pode
ser alcançado em nove minutos. O Saguão Civil pode ser
alcançado em onze minutos. O Portal da Condescendência,
em treze minutos, o Portal Pio em quatorze minutos, e o
Portal do Dragão em onze minutos.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Esta é a
sede do governo civil. Há três salas
de corte — uma grande e duas me-
nores. Compartilharás o uso delas
com os magistrados do Governador
(P10), mas deverá haver poucas
causas para discordâncias. Eu pesso-
almente tomei a terceira e menor sala para meu uso, e foi
aceitável por todas as partes.

Este prédio abriga a prisão, que me parece sólida e bem
protegida; há também uma sala de interrogatório nas premis-
sas. Estou certa de que suas instalações são mais do que
adequadas.
O Portal da Condescendência fica a um minuto, enquan-
to cavalgar ao Portal Pio demora dez minutos. O Saguão
Civil fica a onze minutos da Residência do Magistrado.
GUIA DE VIAGEM DE KOMA-
CHI: O portal entre o Quadrante
Nobre e o Quadrante dos Templos é
vasto e belo. Bem em seu pico está
o barco das Sete Fortunas, todo
entalhado em pedra sabão verde
local. As portas, presentes do clã
Garça pelo 500º aniversário da cidade, têm frente de bronze.
Os lados do Quadrante dos Templos contêm oito painéis
descrendo os eventos das vidas de Hantei Jimmu Tennu e os
Sete Kamis. Os lados que dão para o Quadrante Nobre tam-
bém têm oito painéis, descrevendo os eventos das vidas de
Shinsei e dos Sete Trovões. A repetição de sete Trovões,
Fortunas e Kamis é a razão dele às vezes ser chamado Portal
das Sete Dobras.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Do Portal Pio, demora-se dez mi-
nutos até o Saguão Civil, treze minutos à Residência do
Magistrado, dez minutos ao Templo de Daikoku, quatro
minutos ao Templo de Amaterasu, doze minutos ao Portal
da Condescendência e cinco minutos ao Portal dos Dentes
de Oni.
GUIA DE VIAGEM DE KOMACHI:
Este bastante simples portal é o mais
estreito dos portais do Quadrante
Nobre, já que há pouca necessidade
de tráfego entre o Quadrante Nobre e
Mercador. Suas austeras portas de
carvalho se abrem a um passo da
estrada de paralelepípedos.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: O Portal da Condescendência é
normalmente uma das mais congestionadas áreas de Ryoko
Owari, especialmente durante o cair da noite. Um dia agita-
do pode acrescentar até cinco minutos a qualquer viagem
pela cidade, mesmo que você esteja gritando e brandindo
uma espada.
Demora cinco minutos (normalmente) entre o Portal da
Condescendência e o Pequeno Portal, e apenas um minuto
até a Ponte dos Amantes Bêbados. E dez minutos ao píer
sul. Demora 12 minutos para chegar ao Portal Pio, um minu-
to ou menos para chegar ao Saguão Civil e treze minutos
para chegar à Residência do Magistrado.
HISTÓRIA DE MOROSUKE: Embora tal evento recente
não seja necessariamente ―história‖, um crime tão hediondo
foi cometido neste local que creio que se tornará parte da
história de Ryoko Owari nos anos futuros. Foi no Portal da
Condescendência, que há seis anos, no Mês do Cão, no
sétimo ano do Reinado de Hantei XXXIV, Bayushi Genshi
foi assassinada.
Ninguém me parece disposto a especular sobre o que ela
estava fazendo tão tarde — suspeito que retornasse do Qua-
drante Licenciado. Em todo caso, não havia sinal de luta —
mesmo sua expressão facial, dizem, estava estranhamente
tranqüila. Ela foi encontrada caída de costas, braços aos
lados, espada embainhada. Seu único ferimento era um
enorme buraco entre as costelas inferiores e o quadril, e
(dizem) certos órgãos foram retirados. Shugenjas conside-
ram um estranho e diabólico caso de magia negra na área,
mas fomos incapazes de discernir quem o cometeu. Seu
irmão e seu pai juraram vingança, e vários magistrados
foram removidos por incompetência — mas sua morte con-
tinua sem solução.
GUIA DE VIAGEM DE KOMA-
CHI: Esta magnífica estrutura foi
construída pelo arquiteto Kenchiku-
ka (L11, L16) durante o reinado de
Hantei XV. Os portais são feitos de
pedra, e são incrustados com dra-
gões gêmeos. Há uma alavanca
dentro da torre que pode ser facilmente movida por uma
criança; quando a alavanca está para a direita, as portas mal
podem ser abertas por cinco homens fortes. Quando está
para a esquerda, porém, uma série de ocultos rolamentos
altera o equilíbrio das portas — e elas podem ser empurra-
das por uma só pessoa. Ninguém sabe ao certo como Ken-
chikuka engendrou isso; o portal inteiro teria que ser des-
montado para examinar os funcionamentos da alavanca, e o
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arquiteto só permitiu que os operários trabalhassem no me-
canismo por um só dia, para que ninguém visse todas as
partes. Shugenjas examinaram-no e declararam que não é
obra de espíritos despertos; eles derramaram água na obra e
então interrogaram os espíritos da água, com pouco efeito, já
que o interior é escuro demais para se ver os dispositivos.
Ele continua um mistério até hoje.
A torre próxima ao portal é decorada com a figura de um
dragão enrolado ao redor dela, e serve como quartel general
da Guarda Trovão (C10).
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Do Portal do Dragão demora-se
onze minutos à Residência, três minutos ao Saguão Civil,
quatro minutos ao Portal da Condescendência e onze minu-
tos ao Portal Pio.
GUIA DE VIAGEM DE KOMA-
CHI: A vista da Ponte do Dragão,
entre os pilares que seguram o teto,
é uma das mais belas de Ryoko
Owari. Ao norte, pode-se ver a
Ponte dos Amantes Bêbados (L16) e
a Baía da Honra Afogada (L2). Ao
sul, pode-se ver a Ilha Gota de Lágrima. E é claro, a ponte
por si é digna de admiração. Esculpida na forma de um
dragão de duas cabeças, é difícil andar pela ponte, pela boca
do dragão sem um calafrio de medo.
HISTÓRIA DE MOROSUKE: A Ponte do Dragão foi pla-
nejada pelo nono Governador, que esperava encorajar os
mercadores a construir no lado oeste do rio. Foi o que ocor-
reu de início, mas a área logo se tornou as tocas dos mais
depravados (e altamente procurados) vícios. Esta seção de
prazer foi destruída durante a ocupação Leão, e o Governa-
dor seguinte tirou vantagem da destruição para legislar mui-
tas dessas atividades na Ilha Gota de Lágrima, onde podiam
estar mais prontamente isoladas do resto da sociedade.
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Ironicamente, não foram os mercadores que habitaram as
ruínas do antigo Mundo Flutuante; foram os etas. Embora
inicialmente descontentes com sua proximidade ao Quadran-
te Nobre, logo se tornou aparente que havia certas vanta-
gens. Usar a Ponte do Dragão permitia que os Coureiros
limpassem o Quadrante Nobre muito mais rapidamente.
Poucos nobres desejavam ir ao Quadrante Coureiro, logo
eles usavam a ponte apenas para admirar a vista, e os Cou-
reiros logo se acostumaram a esperar discretamente até que
os nobres fossem embora para completar sua jornada pela
ponte.
A ponte é fechada aos Coureiros durante os festivais, es-
tação dos Brotos de Cerejeira e estação da Lua Outonal,
quando o número de nobres admirando a vista é mais alto.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Disseram-me que pode-se cami-
nhar da Ponte do Dragão ao Portal Destruído em treze minu-
tos, o que pode ser dez minutos de cavalgada.
O Quadrante dos Templos
GUIA DE VIAGEM DE KOMA-
CHI: O mais alto edifício de Ryoko
Owari é também o mais belo. Pere-
grinos de toda a Rokugan vêm ao
Templo de Daikoku pedir pela bên-
ção do Abade (P37), ou para orar à
Fortuna da Riqueza. Alguns merca-
dores que passem pela Estrada Descanso do Goblin da Mon-
tanha perderão a oportunidade de visitar o templo — apenas
para se maravilhar com as estranhas antigüidade dos mon-
ges, ou admirar as estátuas no pátio. Com seis metros de
altura feitos de granito rosa carregado das montanhas do
Dragão, é a maior estátua de Daikoku no mundo!

HISTÓRIA DE MOROSUKE: Shosuro Kurodo (C12, C13)
é tido como autor da idéia de tornar Ryoko Owari uma rica
cidade após uma conversa com um monge no Templo de
Daikoku.
A história diz que Kurodo estava rezando por orientação.
Ele rezou tanto que suava por sua testa e gotejava pelo nariz.
Ele rezava como um homem em tormento, implorando que
as Fortunas lhe mostrassem como fazer sua cidade próspera.
Enquanto orava, um monge entrou no templo carregando
um grande saco, que jogou no chão com um alto ruído. Os
olhos de Kurodo se abriram, e ele viu quando o monge alivi-
ado se sentava chão e enxugava o rosto.
―O que está fazendo?‖ Exigiu Kurodo. ―Não pode ver
que estou tentando rezar aqui?‖
―Mesmo? Para quê?‖ Perguntou o monge.
―Quero saber como tornar minha cidade próspera, mas
está claro que nunca receberei uma resposta com você me
distraindo.
A isso, o monge estourou em riso.
―Na verdade, você é um mestre do paradoxo,‖ disse o
monge. ―Como pode a resposta que busca ser uma distração
a buscar a resposta?‖
―Que tolice você está dizendo?‖
―O tipo de tolice que salvará sua cidade,‖ disse o monge.
―Pode me dizer qual?‖
―Não — mas posso impedi-lo de calar sua própria boca.
Então você mesmo dirá.‖
Kurodo estava ficando cada vez mais confuso.
―Todo dia, carreguei este fardo,‖ disse o monge, apon-
tando para o saco. ―É pesado. É grande. Endurece meus
músculos e dói minhas costas. Todo dia estou rezando para
me livrar dele, esperando me ver livre deste fardo., não
querendo nada além de não vê-lo mais. Você sabe o que é,
este fardo que carrego?‖
Kurodo mexeu a cabeça. O monge abriu o saco, e moe-
das caíram dele — cobre, prata e até ouro.
―É tesouro,‖ disse o monge. ―Desejo me livrar das coisas
que os outros querem. Um homem sábio vê valor onde ou-
tros vêm desperdício.‖
Naquele momento, Kurodo entendeu o que deveria fazer.
Dossiê de Shigeko: Do Templo de Daikoku demora-se
cerca de cinco minutos até o Portal dos Dentes de Oni, dez
minutos ao Portal Pio, cinco minutos ao Templo da Deusa
Sol, e dez minutos ao Portal da Fortuna Crescente.
GUIA DE VIAGEM DE KOMA-
CHI: Esta graciosa estrutura data do
mandato do quinto Governador, e é
notável pela pedra branca usada em
sua construção. Dizem que quando a
primeira sacerdotisa do templo che-
gou a Ryoko Owari, ela vagou pela
mata e disse aos seus servos para cavarem em determinada
colina. Lá, eles acharam um veio de pedra sabão branca, que
usaram para construir o templo. Eles ficaram sem a rara
pedra branca no dia em que o templo foi completado, e nada
mais se encontrou na área desde então.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: O Templo de Daikoku fica a cinco
minutos de distância, dois minutos do Portal dos Dentes de
Oni e quatro minutos do Portal Pio.
GUIA DE VIAGEM DE KOMACHI:
O portal original daqui foi destruído
e alargado à medida que o tráfego da
área crescia. O primeiro portal foi
construído pela família Suna (L2)
mas foi substituído por uma estrutu-
ra em honra aos amantes Riko e
Okami (C5, L16) após terem libertado a cidade de Oni no
Hukuro, a espantadora Coruja Com Dentes. Relatava-se que
o demônio tinha seis metros, com cabeça e asas de coruja, e
pernas na forma de braços humanos. Se examinarem os
dentes espalhados pela estrada, verão que são do cumpri-
mento de um fêmur — dando crédito aos relatos do grande
tamanho de Hukuro.
Oni no Hukuro voava da grande floresta um dia e come-
çou a atormentar o povo de Ryoko Owari — carregando
jovens damas, jogando grandes pedras nos templos e aterro-
rizando os camponeses nos campos. O magistrado não podia
detê-lo; os sacerdotes não podiam detê-lo; os Guardas Tro-
vão (C10) não podiam detê-lo. Vendo isso, Okami decidiu
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que ele é que mataria o demônio, e vestiu sua armadura,
recebendo grande apoio de todos da cidade.
Ele saiu do Quadrante Pescador e entrou na floresta, e lá
ele encontrou o grande Demônio Coruja empoleirado numa
árvore.
―Desça e lute!‖ Disse Okami. Agora, o Demônio Coruja
tinha medo de Okami, pois sabia que seu coração era puro.
Assim, ele decidiu enganá-lo.
―Aceito seu desafio,‖ disse o oni, ―E para mostrar o res-
peito que tenho por você, deixarei que escolha as armas.‖
Okami considerou isso muito justo, e imediatamente dis-
se ―Katana‖.
―Muito bem. Katana será. Se importaria de escolher uma
hora?‖
―O mais cedo possível!‖
―Nenhum momento como o presente. Um local?‖
―Bem aqui.‖ Ao que o Demônio Coruja se retraiu e piou,
dizendo finalmente. ―Não estou certo de estar confortável
com isso. Afinal, esta árvore é meu lar. Se tiver a sorte de
matá-lo, odiaria ter o sangue de tão corajoso bushi poluindo
minha residência.‖
―Muito bem; escolha seu lugar.‖
―Talvez a Grande Caverna Lunar?‖ (L30)
―Certamente.‖
Os dois viajaram para a caverna, e com uma graciosa re-
verência, o Oni indicou para Okami o preceder. Ansioso
para começar a batalha, Okami entrou, e então o Demônio
Coruja rolou uma grande pedra sobre a entrada, prendendo-o
lá dentro.
―Não foi muito difícil,‖ disse o Demônio Coruja. ―O
deixarei sair quando concordar em me dar o seu nome.‖
―Nunca!‖
―Muito bem; desfrute de sua agonizante e desonrada
morte.‖ Com isso, o Demônio Coruja partiu, piando com
uma risada.
Okami sem dúvida teria morrido de fome se um mujina
não tivesse ouvido-o rezar às Fortunas por liberdade de sua
prisão.
―Como você foi aprisionado?‖ Perguntou o mujina.
Quando Okami contou o que houve, o mujina riu e riu.
―Realmente, um maravilhoso truque,‖ disse o mujina.
―Ah, não foi nada comparado ao truque que minha espo-
sa pregou em mim,‖ disse Okami, e contou ao mujina a
história da vara de aveia (C5).
―Não sei quem é mais astuto,‖ disse o mujina. ―O De-
mônio Coruja ou sua esposa.‖
―Não posso pensar num meio de descobrir,‖ disse Oka-
mi.
A pergunta de quem era mais esperto perturbou o mujina
até que eventualmente ele foi levado a ir a Ryoko Owari
com suas pernas velozes encontrar Riko.
―Sei onde seu marido está, pois ele foi preso,‖ disse-lhe
o mujina. ―Direi onde se puder enganar o Demônio Coruja.‖
Ao ouvir isso, Riko imediatamente vestiu a armadura de
treino de seu marido e entrou na floresta.
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―Oni no Hukuro!‖ Ela gritou, ―Eu sou Riko, irmão de
Okami, e vim matá-lo!‖
Vendo outro samurai, o Demônio Coruja desceu e per-
guntou ―O que o faz pensar que conseguirá onde seu irmão
falhou?‖
―Eu conseguirei,‖ disse Riko ―Por que sou ainda mais
forte que meu irmão.‖
―É mesmo?‖
―De fato. Escolha qualquer pedra na margem do rio, e a
quebrarei em pedaços antes do próximo nascer do sol.‖
―Se você falhar?‖
Riko respirou fundo. ―Você terá o meu nome.‖
―E se você conseguir?‖
―Então farei um teste de força com você.‖
―Muito bem,‖ disse o oni, e escolheu uma rocha do ta-
manho de um cavalo, da grossura de uma roda de moinho.
Riko, porém, não a golpeou uma só vez; ao invés disso,
ela começou a ajuntar uma grande quantidade de madeira, e
começou a construir uma imensa fogueira ao redor da rocha.
Então ela pegou uma pá e começou a cavar um canal ao
redor da pedra até a margem do rio. Ela só parava de cavar
para colocar lenha no fogo, e só parava de alimentar o fogo
quando ele estava quente demais para ficar perto.
Pouco antes do nascer do sol, o Demônio Coruja retor-
nou. ―O que está fazendo?‖ Ele perguntou. ―Eu disse que
deveria quebrar a pedra, não colocá-la no fogo. Seu nome é
meu!‖
―Eu a quebrarei — mas com astúcia, não força,‖ disse
Riko, e com isso, ela completou seu canal entre o rio e a
pedra. Quando a água fria do rio tocou a pedra incandescen-
te, os elementos contrários racharam a pedra em pedaços.
―Agora tenho um teste de força para você — remova a
pedra na frente da Grande Caverna Lunar.‖
O Demônio Coruja se encheu de medo, mas tinha que
cumprir o comando dela. Okami estava sentado na caverna,
refinando seu ódio do Demônio Coruja, e quando ele levan-
tou a pedra ele saltou e o matou com um só golpe.
Okami arrancou os dentes da cabeça do Demônio Coruja
e os colocou no chão fora do portal, para que todos que
passassem por ali os pisassem com os pés sujos. Riko pegou
os pedaços da pedra escura que ela quebrou, e que foram
colocados no portal. Por isso ele agora é chamado de Portal
dos Dentes de Demônio.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Daqui demora-se cerca de trinta
minutos até a Torre do Olho Oriental num cavalo forte,
quatro ou cinco minutos ao Portal Pio, e doze minutos ao
Jardim de Daikoku.
O Quadrante Mercador
HISTÓRIA DE MOROSUKE: Este
despretensioso portal é estreito —
nem mesmo um cavalo passar — e
espesso, com pesadas portas de ma-
deira reforçadas com ferro. Ele leva a uma pequena doca.
A água ao redor da doca não é funda o bastante para um
barco ou navio de carga, mas a doca só é usada para peque-
nos barcos de prazeres. É deste píer que os nobres navegam
para a Gota Ilha de Lágrima para visitar o Quadrante Licen-
ciado. Foi para dar acesso a esta doca privada que o Pequeno
Portal foi construído.
Há considerável debate sobre a construção do Pequeno
Portal no reinado do duodécimo Governador. Samurais
conservadores reclamaram dizendo que pôr um portal no rio
que dava para o Quadrante Nobre convidaria invasão. Po-
rém, já que os muros terminavam não muito longe, do outro
lado da Ponte dos Amantes Bêbados (L16), esses argumen-
tos foram dispensados por aqueles afoitos para visitarem o
Quadrante Licenciado, mas substancialmente menos desejo-
sos em viajarem aos portos nos Quadrantes Mercador ou
Pesqueiro para ganhar acesso.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: O Portal Pequeno é um espinho
perpétuo no calçado de qualquer magistrado. É por aqui que
os nobres vão quando estão luxuriosos, bravos ou desejam
―polir suas espadas‖. É aonde eles vão para beber, se exauri-
rem e ouvir os dragões cantar (C1). Você será chamado para
lidar com os samurais problemáticos e os que têm problemas
com heimins. Normalmente bandidos são espertos demais
para atacarem samurais, mas eles sabem que samurais que
retornem para a Ilha Gota de Lágrima não estão em suas
melhores formas. Nobres são sensíveis a serem vistos bêba-
dos por seus inferiores, porém, logo há resistência à quanti-
dade de vigias a postos. A Guarda Trovão não se aproximará
do lugar a menos que haja um grande problema.
Demora cinco minutos da Ponte dos Amantes Bêbados e
pouco menos do que isso do Portal da Condescendência.
GUIA DE VIAGEM DE KOMACHI:
Esta ponte foi construída pelo nono
Governador de Ryoko Owari, e foi
um dos primeiros projetos do famo-
so arquiteto Kenchikuka (L10, L11).
Na época era chamada de Ponte
Magnífica pelo seu comprimento e
esplêndidas decorações. Com o tempo o nome mudou; foi
assim.
Há muito tempo, vivia uma mulher chamada Riko, que
era famosa pela cidade por sua astúcia. Porém, seu pai esta-
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va triste, pois ele tinha nove filhas, e nenhum filho. Ao
mesmo tempo, nas terras distantes do Leão, havia um jovem
guerreiro chamado Okami que estava ganhando reputação
como destemido e mortífero lutador. Porém, seu pai estava
infeliz, porque sua família era pobre.
Aconteceu que o pai de Riko descobriu que a família de
Okami só produzia filhos homens pelas últimas seis gera-
ções. Esperando casar sua filha com Okami, e ter um neto
antes de sua morte, ele propôs casamento e ofereceu uma
grande soma como dote.
A idéia do casamento agradou muito o pai de Okami,
pois ele precisava de dinheiro. Assim, ele pediu ao seu filho
que escrevesse uma carta para Riko. Quando Okami a com-
pletou, seu pai empalideceu. Embora um grande guerreiro,
seu filho não era poeta não possuía certas graças de astúcia e
mente. Assim, o pai de Okami transcreveu a carta, fazendo
várias mudanças, e a entregou ao pai de Riko.
Agora, o pai de Riko também se incomodou, pois sua as-
tuta filha tinha um aguçado e por vezes desagradável manei-
ra de falar — com homes especialmente. Assim, ele abriu a
carta de Okami, e considerando-a bem rude e provinciana,
trancreveu-a, acrescentando certas frases e passagens que
pensou que sua filha acharia agradáveis.
Quando Riko leu a carta, ela imediatamente escreveu
uma resposta, que seu pai leu, mudou e re-copiou antes de
passar ao pai de Okami, que também leu, mudou e a re-
copiou antes de dá-la ao seu filho. Desta maneira, Riko e
Okami corresponderam-se por metade de um ano, sem ler
mais do que uma palavra em dez um do outro.
Agora, ao mesmo tempo havia certo cavalheiro da Garça
que tinha interesse em Riko — um interesse que cresceu
quando seu pai anunciou seu vasto dote. Ele a encorajou a
rejeitar ou dissuadir seu distante pretendente do clã Leão, e
embora ela tentasse, nenhuma de suas duras palavras podia
passar pelos dois pais, ambos desejosos por um casamento
de vantagem mútua.
No devido tempo, decidiu-se que Riko e Okami deveri-
am se encontrar. O pai de Riko sugeriu o pôr do sol (pois
sabia que sua filha não tinha grande beleza e esperava que as
sombras colocariam atrativo em seu semblante) e o pai de
Okami sugeriu a Ponte Magnífica (pois sabia que seu filho
não era um grande pensador e esperava que a Ponte Magní-
fica fosse óbvia o bastante para que seu filho a encontrasse).
Quando a hora do encontro se aproximou, os dois pais
ficaram nervosos. O pai de Okami sabia que, embora ele
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fosse destemido em batalha, por vezes ficava quieto e tímido
perto de mulheres, especialmente as belas. Já que o pai de
Riko tinha dito a ele que Riko era amável ao ocaso, ele te-
mia que seu filho ficasse tímido e não dissesse nada. Quanto
ao pai de Riko, ele tinha muito medo de que sua filha disses-
se algo sarcástico e ofendesse seu pretendente provinciano.
Além disso, Okami e Riko estavam nervosos. Okami es-
tava nervoso por ele, também ter ouvido que Riko era bela
além do imaginável, enquanto Riko não sabia se queria se
casar com alguém, que dirá um estranho Leão ao invés de
seu amigo da Garça. Conseqüentemente, Okami e Riko
beberam muito licor antes do encontro para conseguir cora-
gem.
Nenhum deles imaginava que seus pais também lhes en-
chesse de sakê a caminho da ponte. O pai de Okemi espera-
va que o sakê lhe afrouxasse a língua, enquanto o pai de
Riko esperava que segurasse a ela. Quando chegaram à
ponte, ambos estavam bêbados.
As coisas ainda poderiam ter sido diferentes se o amigo
Garça de Riko não estivesse esperando na cena. Quando o
bêbado Okami se chegou à ponte, o Garça se chegou a ele e
perguntou aonde estava indo.
―À Ponte Magnífica,‖ disse Okami. ―Devo encontrar mi-
nha noiva lá pela primeira vez.‖
O Garça brevemente considerou enviá-lo à ponte errada,
mas decidiu fazê-lo parecer tão tolo que Riko se recusaria a
casar-se com ele.
―Nossa,‖ disse o Garça. ―E vai com essa aparência?
Nunca conseguirá. Já ouviu da última moda?‖
―Moda?‖
―Sim, você simplesmente carrega uma flor atrás de cada
orelha ao cortejar. É um sucesso.‖
―Flor?‖
―Se você realmente quer impressioná-la, carregue um
terceiro botão entre os dentes. Ao vê-la, não fale nada, mas
abrace-a firmemente e passe-lhe a flor com um beijo.‖ O
Garça providencialmente tinha três grandes e vermelhos
botões, que deu ao samurai Leão, então o dispensou, confi-
ando que ele pareceria um grande tolo.
O Leão de fato parecia tolo com uma flor em cada orelha
e outra agarrada na boca. Mesmo seu pequeno intelecto
podia imaginar, e ao pé da ponte ele não resistiu em se do-
brar para olhar seu reflexo. Quando o fez, as duas flores
escorregaram de suas orelhas e caíram na água. Bravo, o
Leão abriu a boca para xingar, e a terceira flor caiu também.
Vendo sua fineza boiar rio a baixo, o desconsolado Leão
puxou uma pequena garrafa de sakê e a encerrou.
Agora totalmente inebriado, os dois prometidos subiram
na ponte e viram-se. Okami estava altamente zonzo, mas
ainda se lembrava de algo sobre ―não fale uma palavra, mas
abrace-a firmemente‖ e assim o fez. Riko ficou surpresa
demais para falar antes que seus lábios encontrassem os
dele.
Vendo seus filhos abraçados, o dois pais (que, natural-
mente, espreitavam próximos à ponte para assistir o evento)
ficaram muito felizes, proclamaram um encontro abençoado
pelo amor à primeira vista, e providenciaram as núpcias
antes que Riko e Okami sequer dissessem suas primeiras
palavras um ao outro.
Desde então, a ponte tem sido chamada de Ponte dos
Amantes Bêbados.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Por ser ampla e bela, a Ponte dos
Amantes Bêbados é um lugar popular todas as horas do dia.
Durante a manhã está ocupada pelos Coureiros que vão aos
Quadrantes Mercador e dos Templos para cumprir seus
ofícios. Ao meio dia, está cheia de pescadores e mercadores,
indo e vindo para fazer trocas e mover suas mercadorias. À
tarde, a multidão é complicada pelos servos de nobres indo
ao Quadrante Pescador em busca de barganhas, e à noite
eles se juntam a pelo menos vários jovens casais apaixona-
dos. Pode-se nunca ter certeza de quando se conseguirá
cruzar a ponte — exceto que normalmente é mais do que
pensa.
Demora cinco minutos até o Pequeno Portal, um pouco
mais ao Portal da Condescendência, cinco minutos ao píer
sudeste, seis ao píer sudoeste, cinco minutos ao Portal Des-
troça do e nove minutos ao Portal do Camponês.
GUIA DE VIAGEM DE KOMACHI:
Este belo jardim foi construído e
pago por mercadores locais para
mostrar sua gratidão à Fortuna que
abençoou Ryoko Owari com tama-
nha prosperidade.
Este jardim fica na junção de du-
as grandes rotas comerciais — a Estrada do Descanso do
Goblin da Montanha e a Estrada Outrora Escondida — e
quaisquer mercadores viajantes pararão aqui para trocar
notícias no Jardim Papoula. Os monges do Templo local de
Daikoku (L12) podem ser vistos aqui cuidando do Jardim da
Contemplação.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Esta é a base dos Bombeiros do
Jardim de Daikoku (C12). Eles insolentemente vagam pelo
jardim, fumando, bebendo e jogando abertamente, até que
surja uma oportunidade de se presentearem. Eles têm um
íntimo e mutuamente vantajoso relacionamento com a
Guarda Trovão local, logo não espere que eles o ajudem se
for investigar os bombeiros.
Demora quatro minutos para chegar ao Portal da Fortuna
Crescente do Jardim de Daikoku, seis minutos para chegar
ao Portal Unicórnio, sete ao píer nordeste, seis ao píer oci-
dental central e quinze ao Portal da Condescendência.
GUIA DE VIAGEM DE KOMACHI:
Este vasto portal abre Ryoko Owari
para o comércio de bens da metade
oriental do Clã Escorpião. Embora
menos magnífico que o Portal dos
Dentes de Oni, ele ainda fornece
uma impressionante saudação aos
mercadores visitantes, e é repleto de imagens de Daikoku, a
amigável Fortuna da Riqueza.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: O Portal fica a quatro minutos do
Jardim de Daikoku, e cinco ou seis do Portal Unicórnio.
GUIA DE VIAGEM DE KOMACHI:
Quando o Unicórnio retornou, por-
tando seus maravilhosos tesouros de
longe, eles consideraram Ryoko
Owari um lugar adequado para seus
empreendimentos mercantes. Eles
rapidamente estabeleceram este
como um de seus locais prediletos para patronagem comer-
cial, construindo uma impressionante residência (L4) e ofe-
recendo-se para demonstrar sua amizade construindo um
novo portal para a cidade, e conectando as províncias do
Escorpião às suas por uma nova estrada.
Infelizmente, nenhuma passagem pôde ser encontrada
pelas montanhas até suas terras — mas o portal que constru-
íram é uma maravilha, flanqueado por pilares de pedra púr-
pura cravejada de ouro. O Unicórnio diz que esses pilares
foram carregados por mil anos até Ryoko Owari! Pendurada
no topo do portal está uma grande lança de seis metros,
capturada de um dos vários monstros que o Clã Unicórnio
encontrou em terras distantes. As portas são feitas de exótica
madeira branca, esculpida com cenas das aventuras estran-
geiras do clã Unicórnio.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: O Portal do Unicórnio fica a seis
minutos da Ponte do Gume do Instante, a mesma distância
do Jardim de Daikoku e cinco minutos do Portal da Fortuna
Crescente. Não é, eu creio, coincidência que muitos dos
Guardas Trovão posicionados neste portal sejam do clã
38
Unicórnio. Suspeito que eles possam fazer vista grossa a
bens valiosos nas caravanas do Unicórnio quando é hora de
inspeções com propósitos fiscais, mas não provei nada. Ao
menos eles são honrados o bastante para serem menos co-
nectados com os bombeiros Braço Forte. Se precisar chamar
os Guardas Trovão para ajudar contra esses bombeiros,
esses são os que deves chamar.
O Quadrante Licenciado
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Considero
difícil descrever o estabelecimento
chamado ―Espadas Polidas‖ de
maneira completa e imparcial…
Parte de mim o vê como um lugar
de desgraça, onde samurais rendem
sua honra para indulgir a fraqueza
da carne. Ainda assim, também sei que o homem que o
dirige (P46) o faz de acordo com seu próprio senso de honra
— e ele segue um código tão estrito quando o de qualquer
samurai de clã. Se não fosse por ―Espadas Polidas‖, todo
estabelecimento na Cidade Sem Noite precisaria ter sua
própria revista de armas, com chances maiores de roubo e
perdas. Além disso, samurais que andem pelas ruas bêbados
ou sob influência de ópio poderiam estar armados — um
pensamento perigoso de fato.
Suponho que eu deva dizer que ―Espadas Polidas‖ é ne-
cessário à paz do Distrito Licenciado. É lamentável que tal
distrito seja desejado, mas se deve existir, é melhor que ele
exista com certo grau de ordem social.
De Espadas Polidas demora-se menos de um minuto de
cavalgada para chegar ao Jardim Insular, quatro minutos à
Casa das Histórias Estrangeiras e sete minutos à Casa da
Estrela da Manhã. Com vento favorável, cerca de quinze
minutos para navegar do Píer Pequeno. Demora o dobro
para navegar contra a corrente.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Este jar-
dim não contém os vistosos arranjos
que se encontrariam no Jardim Es-
corpião ou no Jardim de Daikoku.
Ao invés disso, é um carnaval de
extravagância e plantas estrangeiras
vulgares. Ninguém parece muito
certo de quem pagou para o Jardim Insular ser construído,
39
mas ele demonstra uma definitiva influência Unicórnio em
seus conteúdos.
Muitos estabelecimentos na Ilha Gota de Lágrima pare-
cem feudos independentes de senhores vizinhos; cada loja
de sakê ou casa de geishas cuida de sua própria segurança.
Como era de se esperar, eles pouco se importam com os
destinos dos vizinhos (uma exceção a esta regra de indife-
rença é a questão de combate ao fogo (C12), que é manuse-
ada coletivamente).
Se os edifícios individuais são províncias, então o Jardim
Insular é uma terra de ninguém. Um par de jardineiros é
apoiado de maneira aparentemente de sarjeta, pedindo con-
tribuições de mercadores e visitantes para manter o jardim
apresentável. Aparentemente eles são suficientemente abas-
tecidos para manterem o jardim um pouco sob controle
(embora isso possa ser difícil determinar).
Em todo caso, mesmo que as plantas sejam cuidadas, os
visitantes não são. Há normalmente poucos membros da
Guarda Trovão à disposição, mas eles só se envolverão nas
mais gritantes ou violentas transgressões. Ópio é fumado
abertamente, sakê é bebido ao exagero, acordos são feitos e
trapaças arranjadas. É um lugar ocupado, onde sempre há
algo ocorrendo. Tentei designar um enviado para vigiar os
eventos, mas tanto de natureza dúbia ocorre no Parque Insu-
lar, e seu formato é tão confuso e labiríntico que eu eventu-
almente abandonei o esforço.
Demora-se apenas dois minutos da Casa das Histórias
Estrangeiras, cinco da Estrela da Manhã e um minuto ou
quase de ―Espadas Polidas‖.
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDO-
RA DE ÓPIO”: 19º Ano do Reinado
de Hantei XXXVIII, 1º Dia, Mês do
Cão
Quem diria que o mundo é tão
grande para conter tantas maravilhas?
Shosuro Kimi (P3) me levou à Casa
das Histórias Estrangeiras pela minha primeira vez hoje, e
fiquei chocada. Nunca estive numa casa de geishas antes,
que dirá uma dirigida por uma gaijin!
A mulher que dirige a Casa se chama ―Magda‖ (P47) e
acho difícil imaginar que mesmo nas Terras Sombrias al-
guém poderia ter aparência mais ultrajante. Seu cabelo é da
cor do ouro, e parece naturalmente se enrolar como o corpo
de uma cobra ou o rabo de um porco. Seu nariz é quase
absurdamente saltado de sua face, e seu queixo é longo e
pontiagudo. Os ossos abaixo de seus olhos são tão proemi-
nentes que sua face inteira parece um triângulo. Seus olhos
são o mais interessante, porém; da cor de um céu claro, eles
são imensos e redondos como moedas. Ela estava vestida de
um traje estrangeiro de seda escarlate — calças onduladas
como hakama, estranhamente amarradas em seus pés, que
estavam nus exceto por anéis de ouro em seus dedos. Ela
não usava manto, apenas um tipo de veste ou camisa que
deixava seu estômago exposto ao olhar de qualquer passan-
te.
Kimi e eu bebemos uma estranha fermentação feita de
fruta estrangeira — era doce e azeda, não muito forte, mas
logo me fez engasgar e tontear como sakê. Então Magda
começou a falar, e todos ficaram em silêncio.
Ela disparou um incrível conto de sua terra natal, muito
além das Areias Ardentes, onde é inverno por metade do ano
e os topos das montanhas têm gelo que nunca derreteram
desde o início dos tempos. Ela diz que em sua terra natal há
lobos gigantes do tamanho de casas, com presas de javali, da
altura de um homem, e que sua família caçava essas criatu-
ras. Então ela contou sobre suas viagens pelas Areias Arden-
tes; ela disse que sua caravana foi atacada por homens que
montavam pássaros gigantes, maiores que um cavalo. Ela
teve temeu serem abatidos, mas seu guia Unicórnio fez um
trato com um grupo de mujinas, que distraiu e confundiu os
montadores de aves até que a caravana estivesse segura. Em
troca, seu guia teria que contar histórias dos mujinas todas
as noites por uma semana.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Esta casa pertence a uma mulher
chamada Magda, vassala do clã Unicórnio. Sua casa é em
alguns aspectos o padrão de uma casa de geishas — um
lugar onde canções são ouvidas, contos são narrados e mu-
lheres… Entretêm. A diferença é que na casa de Magda, as
histórias, canções, mulheres e bebidas são todas de terras
distantes. Ela também tem lucro paralelo vendendo obras de
arte de países estrangeiros.
Quando o Unicórnio chegou a Ryoko Owari, eles tenta-
ram estabelecer uma casa de geishas, mas tiveram pouco
sucesso em repelir os patrões das casas do Escorpião (que
eram aparentemente mais polidos e refinados — ou pelo
menos mais experientes na área). Demorou até que perce-
bessem que sua natureza estrangeira pudesse ser uma vanta-
gem significativa (ao menos para nobres exaustos), ao invés
de uma vergonha a ser escondida, nisso eles tiveram suces-
so.
Magda, a dona da Casa das Histórias Estrangeiras, é o
centro de manobras políticas que encorajo sinceramente a
qualquer Magistrado de Esmeralda evitar. O clã Escorpião
gostaria de se livrar dela, já que sua casa compete com a
Estrela da Manhã, cuja patroa é sua vassala. O Unicórnio é
igualmente disposto em fazê-la ficar. Ela pode ficar o quanto
quiser enquanto seus documentos forem renovados pelo
Magistrado de Esmeralda. Renovei seus documentos duas
vezes, devido à pressão do clã Unicórnio e de certos podero-
sos clientes a quem ela serve. Cri que livrarmos dela causa-
ria mais problemas do que resolveria. Embora ela dirija uma
casa de vício, é segura e estável.
GUIA DE VIAGEM DE KOMA-
CHI: Muitos visitantes a Ryoko
Owari fazem questão de visitarem a
Casa da Estrela da Manhã — uma
casa de chá cujos entretenimentos
são célebres em toda Rokugan.
A Estrela da Manhã fica na Ilha
Gota de Lágrima, que abriga o Quadrante Licenciado de
Ryoko Owari. Chegar até ela envolve uma amável travessia
pelas águas pacíficas do Rio do ouro — uma jornada quase
tão serena quanto o destino.
A Casa em si é modesta e humilde, pois oferece os entre-
tenimentos refinados próprios. Aqui não se encontra de-
monstração vulgar ou excesso extravagante; não, as artes
praticadas aqui são completamente próprias de Rokugan, tão
tradicionais em seus costumes quanto os serviços de um
templo.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: A Casa da Estrela da Manhã pode
ser vista com o oposto simétrico da Casa das Histórias Es-
trangeiras. Enquanto uma é sonora e brilhante, a outra é
calma e sutil. Enquanto uma é estrangeira e exótica, a outra
é estritamente tradicional. Porém, aos olhos da honra, ambas
são iguais e deliciosas.
As duas casas são onde os de casta samurais (mais ho-
mens, mas mulheres também) se reúnem para beber, fumar
ópio e se dedicar a comportamentos desgraçosos. Em outras
palavras, é onde eles se esquecem de suas famílias, seu clã e
deveres. Embora Komachi e o clã Escorpião possam lhe
fazer acreditar que tais casas são estabelecimentos venerá-
veis de Rokugan, digo que nada é mais contrário ao nosso
espírito nacional.
A Estrela da Manhã é dirigida por Jóia (P49), mas se
centra em sua filha, Preciosa (P48), que é sua atração cen-
tral. Dizem que Preciosa é a dama de Jocho (P2), mas tam-
bém dizem que ela é a senhora de Korechika (P5), Baranato
(P14), Sanifusa (P12), e Sukemara (P27). Alguns até me
fariam acreditar que tudo é verdade, mas considero dúbio no
mínimo. Se certo, porém, ambas mulheres desfrutam de
significativa proteção de seus patronos nobres.
Demora-se quatro minutos da Estrela da Manhã à Casa
das Histórias Estrangeiras, cinco ou mais ao Jardim Insular e
sete a ―Espadas Polidas‖.
40
O Quadrante Pescador
HISTÓRIA DE MOROSUKE: Esta
plana e espartana estrutura é famosa
por ser o lugar de um duelo fatal
entre a shugenja e ferreira de espa-
das Togashi Nyoko e Hida Raiden
durante o reinado de Hantei XVI.
Raidem zombou de Nyoko por
tentar ser uma ferreira de espadas, uma shugenja e uma
samurai-ko ao mesmo tempo. Nyoko se ofereceu para mos-
trá-lo que todos os três eram o mesmo duelando contra ele
até a morte. Ryoko Owari foi escolhida como um local neu-
tro para o duelo.
Raiden estava confiante que ele, que estudara apenas a
espada, facilmente derrotaria uma mulher que dividira sua
atenção entre a espada e o templo.
Eles se encontraram ao nascer do sol no centro da ponte,
no instante que o duelo começou, Raiden se viu com um
profundo corte em sua barriga. Ele nem a viu sacar.
―Impossível,‖ Ele engasgou. ―Ninguém vivo é tão rápi-
do!‖
Nyoko meneou a cabeça.
―Estou viva e morta; morta para o passado e para o futu-
ro, porque vivo no gume do instante.‖ Quando ela viu com-
preensão nos olhos dele, ela sacou sua wakizashi e cortou
fora sua cabeça.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: A Ponte do Gume do Instante é
outro lugar persistente de problemas. Os bombeiros Braço
Forte e os bombeiros do Gume do Instante (C12) são rivais
de longa data, e a ponte é o lugar onde seus domínios se
cruzam. Isso faz dela o mais provável lugar para brigas entre
as duas gangues.
Embora combater disputas criminais pareça ser respon-
sabilidade da Guarda Trovão, a incômoda verdade é que a
Guarda nessas áreas é tão corrupta e conectada aos bombei-
ros da área que tais conflitos lhe são normalmente ignorados
— isto é, quando membros da Guarda não estão ativamente
lutando de um lado ou de outro.
Demora sete minutos para alcançar a Ponte do Gume do
Instante do Jardim de Daikoku, seis minutos do Portal Uni-
córnio ou o píer noroeste, sete minutos do píer nordeste e
oito minutos do Portal do Pescador.
41
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Este portal
é plano, estóico e sem adornos. É
primariamente usado pelos pescado-
res que desejam vender suas merca-
dorias aos fazendeiros da região
próxima, e por fazendeiros movi-
mentando suas mercadorias até a
cidade.
São oito minutos da Ponte do Gume do Instante, cinco
do píer noroeste, e dez do Portal do Camponês.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Este portal
fica junto ao mesmo estilo do Portal
do Pescador (L25) e serve a um pro-
pósito similar. Ele também é um
portal freqüentemente usado por
clandestinos que não têm acesso a um
barco. Já que não podem navegar
para a floresta, eles têm que caminhar.
Os guardas daqui são conhecidos por fazerem vista grosa
aos clandestinos em troca de poucos zenis ou (em casos
raros) uma porção de carne.
Ele fica a cinco minutos do Portal Destroçado, dez minu-
tos do Portal do Pescador, seis minutos da Doca do Pescador
e nove minutos da Ponte dos Amantes Bêbados.
O Quadrante Coureiro
DOSSIÊ DE SHIGEKO: É estra-
nho, mas este é um dos mais auste-
ros e proibitivos dos portais dos
muros da cidade. Certamente que
os etas do Quadrante Coureiro são
repugnantes, mas creio que o ta-
manho deste portal seja despropor-
cional; afinal, eles certamente não representam ameaça.

Em todo caso, além deste portal está o Quadrante Cou-
reiro, onde etas dormem quando não estão limpando a cida-
de e revirando seu lixo. Demora-se menos de cinco minutos
deste portal à Ponte dos Amantes Bêbados, e quase cinco ao
Portal do Camponês.
As Cercanias
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Quando o
clã Caranguejo ocupou Ryoko Owa-
ri (C4), eles construíram essas duas
torres, o que explica porque são de
um feito muito mais prático que
muitas outras na cidade. Embora os
habitantes as critiquem como ―arqui-
tetura sem graça do Caranguejo‖, elas são estóicas fortalezas
que comportam muitos membros da Guarda Trovão. As
torres vislumbram o rio e estão bem posicionadas para afun-
dar qualquer força naval invasora. A Torre do Olho Oriental
também tem uma clara planície entre ela e a Estrada do
Descanso do Goblin da Montanha. Jocho (P2) e seu Esqua-
drão Relâmpago (C10) ainda treinam aqui, ensaiando contra
uma posição invasão do sul pela estrada.
Se as torres têm uma fraqueza, é sua separação; não um
bom meio de cruzar o rio de uma para a outra. Aparente-
mente, o clã Caranguejo pretendia construir uma ponte entre
os topos das torres, mas ficou sem dinheiro antes poder fazê-
lo.
A Torre do Olho Oriental está a cerca de trinta minutos
do Portal dos Dentes de Oni. A do Olho Ocidental está a
vinte minutos da Ponte do Dragão.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Cerca de
vinte milhas ao sudoeste ficam as
florestas que Shosuro Hyobu (P1)
tomou para si para preservar e do-
minar. Essas florestas são bem co-
nhecidas da nobreza local, que vi-
vem caçando lá. É possível que elas
também sejam bem conhecidas por quadrilhas locais, e cer-
tamente são bem conhecidas por muitos apostadores campo-
neses que vão lá para suprir sua dieta com jogo roubado.
Periodicamente, Hyobu enviará um destacamento dos Guar-
das Trovão (C10) para vasculhar a floresta e prender quais-
quer camponeses encontrados lá. Essas expedições normal-
mente não têm sucesso; às vezes a Guarda Trovão tem que
prender camponeses inocentes das fazendas para parecerem
eficientes. Deve-se notar que uma oficina ilegal de sakê foi
encontrada lá na última expedição, porém.
Em todo caso, a floresta é de pouco interesse ao Magis-
trado de Esmeralda, exceto possivelmente durante o começo
da primavera (C3).
Em cinqüenta quilômetros da cidade, a floresta de Hyobu
se torna uma Floresta Escondida, que é consideravelmente
menos familiar e muito mais perigosa.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Visitei a
Grande Caverna Lunar só uma vez
para ter certeza de que não era um
esconderijo de bandidos. Embora
seu interior seja bem espaçoso, sua
entrada é pequena; qualquer grupo
grande teria que sair da caverna um
de cada vez, o que é lento. Em caso de batalha, seria perigo-
so também.
A caverna por si é uma maravilha, cheia de pilares e pro-
jeções em formas estranhas — como se talhada por um
brincalhão espírito da água ou do ar. Um riacho de água
escura corre por ela, e há até uma cachoeira subterrânea.
Mesmo assim, não gosto do lugar; é frio e há uma sensação
de podridão nele.
Ela fica a vinte e quatro quilômetros fora da cidade, ao
nordeste.
42
43
 Seção Três

As Pessoas de
Ryoko Owari
44
 Samurais
N° Ident. Nome Clã Página Nº. Ident. Nome Clã
Página
P1 Shosuro Hyobu Escorpião 47 P19 Otaku Genshi Unicórnio 60
P2 Shosuro Jocho Escorpião 48 P20 Otaku Naishi Unicórnio 60
P3 Shosuro Kimi Escorpião 49 P21 Iuchi Sadako Unicórnio 60
P4 Shosuro Gobei Escorpião 50 P22 Iuchi Michisuna Unicórnio 61
P5 Bayushi Korechika Escorpião 50 P23 Kaiu Shinya Caranguejo 63
P6 Bayushi Saisho Escorpião 51 P24 Yasuki Nobuko Caranguejo 63
P7 Bayushi Otado Escorpião 52 P25 Ashidaka Naritoki Garça 64
P8 Bayusho Omoto Escorpião 52 P26 Ashidaka Michitaka Garça 65
P9 Soshi Seiryoku Escorpião 53 P27 Doji Sukemara Garça 66
P10 Yogo Osako Escorpião 53 P28 Kitsuki Jotomon Dragão 66
P11 Shinjo Yoshifusa Unicórnio 54 P29 Ikoma Yoriko Leão 67
P12 Shinjo Sanefusa Unicórnio 55 P30 Kitsu Senshi Leão 68
P13 Shinjo Yoshiko Unicórnio 55 P31 Asako Kinto Fênix 68
P14 Ide Baranato Unicórnio 55 P32 Amplo Ronin 69
P15 Ide Michikane Unicórnio 56 P33 Palavra Verdadeira Ronin 70
P16 Ide Asamitsu Unicórnio 58 P34 Camarão Mantis 70
P17 Ide Nakatada Unicórnio 59 P35 Mandíbula Ronin 71
P18 Ide Shikibu Unicórnio 59 P36 Pomba Ronin 71

Grifo indica um indivíduo falecido.

Não-Samurais
N° Ident. Nome Quadrante Página Nº. Ident. Nome Quadrante
Página
P37 Abade Okawa Templos 71 P46 Portal Licenciado 76
P38 Jirohei Templos 72 P47 Magda Licenciado 77
P39 Meiyo Templos 72 P48 Preciosa Licenciado 78
P40 Afiado Mercador 73 P49 Jóia Licenciado 78
P41 Sutil Mercador 74 P50 Carne Magra Pescador 79
P42 Vigilante Mercador 74 P51 Atalho Pescador 79
P43 Cavalo Mercador 75 P52 Amarela Pescador 80
P44 Construtor Mercador 75 P53 Sobrancelhas Coureiro 80
P45 Sussurro Mercador 76 P54 Áspero Coureiro 81
P55 Piedoso Coureiro 81

45
O Clã Escorpião
HISTÓRIA DE MOROSUKE: Ryoko Owari foi construída
pelos Shosuro, e continua uma cidade Shosuro até hoje — e
será, creio, para sempre. O que isso significa? É uma cidade
de segredos, é claro — mas não segredos do mundo (pois
este é o domínio dos Bayushi) nem os segredos do mundo
além (que foram dados à minha família) nem os segredos
dos espíritos (que pertencem à família Soshi). Não, uma
cidade Shosuro não é lugar para segredos políticos ou mági-
cos — é um lugar para os segredos do coração.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: A atual
Governadora (C9) de Ryoko Owari é
Shosuro Hoby. Já falei de sua posi-
ção política (que é basicamente
inacessível a qualquer outro na cida-
de). Agora falo de Hyobu como
pessoa.
Considero-me admirá-la relutantemente. Admiro a ma-
neira que se tornou poderosa em seus próprios termos —
não meramente como viúva de seu marido ou mãe de seu
filho, mas por ela mesma. Como Governadora ela não é
tolerada ou bem humorada, ela é respeitada e temida. Ela
usou o poder que recebeu com grande perícia para tornar a
cidade mais próxima de seus gostos e proteger seus interes-
ses. Não há mais dúvidas de que ela é uma Governadora
muito talentosa.
Porém, eu hesitaria em chamá-la de ―boa‖ Governadora.
A razão disso, e daí minha relutância em admirá-la por toda
a força e perícia, são pelos fins a que ela aplica suas tremen-
das habilidades serem tão índigos de sua atenção. Ela podia
tornar esta cidade não apenas próspera, mas honrada. Ela
podia deixar seu povo não apenas satisfeito, mas seguro. Se
seus objetivos forem modestos; ela deseja ser ―óbvia‖ ela
mantém o comércio de ópio negável, escondido, mas não
gasta esforços para erradicá-lo. Ela mantém a paz numa
cidade ignorando os excessos menores dos bombeiros —
quando ela podia ter alguma duradoura e honrada paz substi-
tuindo-os por um sistema melhor.
Um Governador incompetente destruiria a cidade; um
Governador mediano a manteria como está. A estratégia de
Hyobu é de que ela é uma Governadora soberba — mas se
contenta em atingir apenas o que um Governador mediano
teria.
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 20º Ano
do Reinado de Hantei XXXVIII, 1º Dia, Mês do Rato
Durante a celebração de Ano Novo hoje, ouvi um rumor
muito escandaloso. Otaku Genshi (P19) me disse que muitos
dizem que o amante da Governadora é ninguém mais que
seu próprio cunhado — Shosuro Gobei (P4)! Fiquei choca-
da, e insisti que não poderia ser verdade, mas Genshi só
apertou os olhos para mim e me disse para observá-los
quando estão juntos.
É verdade que Gobei e a Governadora parece muito mais
confortáveis um com o outro — ele é menos formal com ela
do que com qualquer outro além do filho dela (P2). Mesmo
46
assim não parece haver qualquer tipo de olhares apaixona-
dos que se esperaria ver em amantes secretos. Ainda assim,
se estivessem… Comprometidos… Por tantos anos, eles
teriam que esconder isso bem. E se alguém pudesse escon-
der tal coisa, seria o Escorpião…
Mas e se Genshi estivesse me fazendo de boba? Talvez
eu esteja para ser sua ―irmã caçula‖ (C1) nisso e espalhe um
rumor sem fundamento para o bem dela. Está claro que ela
odeia o clã Escorpião inteiro, mas não posso dizer o porquê.
Talvez seja melhor guardar minha opinião neste assunto.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Filho de
Hyobu (P1, C9), Jocho é o herdeiro
direto do posto de Governador. De
fato, ele deveria fazê-lo após a mor-
te de seu pai — mas escolheu deixar
sua mãe continuar no poder enquan-
to ele serviria como líder da Guarda
Trovão (C10).
Jocho se destaca, acima de tudo, como um homem raso.
Seus desejos são simples; ele deseja comandar uma unidade
de elite, desfrutar seus prazeres e viver uma vida confortá-
vel. Ele parece ser um homem que prefere parecer honrado a
ser honrado.
Ele possui grande zelo pelas artes marciais, e por isso
deve ser congratulado, mas creio que seu corpo forte masca-
re o que é, na verdade, um espírito fraco.
47
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 19º Ano
do Reinado de Hantei XXXVIII, 11º Dia, Mês do Porco
Esta noite tive uma perturbadora conversa com Shosuro
Jocho. Estávamos na Casa da Estrela da Manhã (L23) e ele
estava à mesa ao lado, fumando e aparentemente ouvindo
Preciosa (P48) cantar. Porém, quando Michisuna (P22) e
Michikane (P15) deixaram minha mesa brevemente, ele se
virou para mim e sorriu. Vou admitir, senti um tremor de
nervosismo; ele é um homem muito belo, e sua máscara —
mais um diadema — não faz nada para esconder isso.
―Por que você não fuma?‖ Ele me perguntou.
―Não gosto,‖ Eu disse — corando, tenho certeza.
―Quer dizer que nunca experimentou.‖
―Como sabe disso?‖
―Porque todos que experimentam gostam.‖
Não tinha resposta a isso, então tentei mudar de assunto.
―Você é admirador de Preciosa? Ela canta tão lindamen-
te.‖
―Pensei que todo Fênix fosse shugenja,‖ ele disse. ―Você
é? Você negocia com ‗poderes invisíveis‘, espíritos e ances-
trais?‖
―Não, eu… Não.‖
―Me desculpe, feri seus sentimentos, não?‖
Olhando agora, é possível que ele soubesse que abando-
nei a escola? Dizem que Escorpiões são mestres dos segre-
dos, mas ele parecia pedir desculpas genuinamente.
―Não é importante,‖ eu disse.
―É muito importante para mim se feri seus sentimentos
sem saber,‘ ele disse seriamente. ―O que ouviu sobre o Es-
corpião? Que juntamos nosso veneno, esperando pela hora
de um golpe mortal? Mas este é só um lado. Porque nossas
armas — as armas do coração — são tão perigosas, que
devemos ter o cuidado de mantê-las embainhadas até serem
usadas.‖
―Não estou certa se entendo…‖
―A Garça opera com promessa de felicidade; operamos
pela ameaça da dor. Embora devamos ser mais gentis que a
Garça até a hora da crueldade vir; caso contrário, nossa
punição nada significa.‖
Seus olhos se fixaram aos meus — profundos e intensos,
e por um segundo pensei que vi uma tristeza sem fundo.
Senti, por um momento, que isso significava para ele —
toda gentileza vista com suspeita, todo olhar acidental lido
como deliberado. Sem chance de confiança ou perdão. Não
podia imaginar destino pior.
Então Michikane e Michisuna retornaram. A face de Jo-
cho se tornou neutra como uma máscara ele retornou ao seu
cano. Michisuna apertou as sobrancelhas, mas não disse
nada até mais tarde. Então ele me disse para ter cuidado com
Jocho.
―O Escorpião valoriza pureza apenas até onde ele pode
sujá-la,‖ ele disse.
Assenti, mas em meu coração eu ponderava. É loucura
pensar que o poluído pode invejar o puro?
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 20º Ano
do Reinado de Hantei XXXVIII, 22º Dia, Mês do Coelho
 Estou tão absorta em pensamentos conflitantes que não
posso crer que o vácuo tranqüilo descrito por Shinsei sequer
exista. Olho para mim no espelho e imagino o que em minha
face não mudou, pois certamente não sou a mesma mulher
que acordou nesta manhã, pôs seu manto, e saiu determinada
a ganhar o amor de um homem.
O consegui? Certamente não da maneira que esperava,
nem mesmo o homem que esperava. Quem me invejaria?
Armei minha rede para um músico e peguei o filho de uma
Governadora?
Todos na celebração de aniversário de Michisuna con-
cordaram que o poema que li para ele era belo, pulsante e
elegante. Todos sorriram, menos Jocho e Michisuna. Michi-
suna franziu-se, e Jocho parecia um pouco triste, um pouco
sábio. Isso me mostrou que apenas eles entenderam. Só eles
sabiam o que eu realmente estava oferecendo naquele poe-
ma, e para quem eu queria que ele fosse dado.
Naturalmente, todos cercaram Michisuna, e ele era cava-
lheiro demais para arruinar minhas esperanças na frente de
todos. Era um tormento, mas um tormento belo. O medo de
sua rejeição se entranhava em meu coração com a esperança
que ele soubesse, que ele me diria que sentia o mesmo, que
ele podia me amar. Sabia que não podia ser assim, mas até
que ouvisse as palavras, eu tinha esperança.
Ele encontrou um meio. Ele foi embora e mandou seu
primo, o sério Asamitsu (P16), me dispensar. Michisuna
quebrou meu coração rapidamente. Só podia olhar para ele
enquanto ele falava; naquele momento vi claramente as suas
olheiras, o começo de uma barriga que sua veste não podia
esconder, as veias grossas em suas mãos. Naquele momento,
ele ainda era belo para mim, e ele não olharia para mim.
Fugi enquanto chorava.
Foi assim que Jocho me encontrou. Tinha tanta vergo-
nha, tanto medo. Nunca em minha vida fui mais fraca, e
aprendi que a natureza do Escorpião é atormentar o fraco,
pegar um coração ferido e aleijá-lo, para que possa ser pos-
suído.
Jocho não disse nada, mas se ajoelhou e me segurou. So-
lucei e solucei, e sua paciência não tinha fim, sua gentileza
era sem limite. Finalmente me recuperei o bastante de minha
compostura para falar, e o agradeci, pedi seu perdão por
fazer uma cena. Quando o disse, pude ver seus olhos aver-
melhados de lágrimas.
―Mesmo em seu sofrimento, você se desculpa,‖ ele disse
com um sorriso. Ri um pouco, mas não por muito tempo. As
lágrimas voltaram, e perguntei a Jocho. ―Por que? Por que
ele não me ama?‖
―Porque ele é um músico, um poeta. Ele lida com histó-
rias, que nada mais são além de mentiras. Bonitas, mas ain-
da assim falsas. Poderia ele apreciar algo tão genuíno? Algo
perfeito e puro como o seu amor?‖
Comecei a chorar de novo.
―Sou um soldado e um Escorpião,‖ ele disse suavemente.
―Conheço mentiras… Conheço-as de perto. Elas não me
iludem, elas não podem tomar meu coração. Conheço a
verdade quando a vejo, e só posso amar a verdade.‖
Quando disse essas palavras, ele gentilmente acariciava
meu cabelo.
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 20º Ano
do Reinado de Hantei XXXVIII, 5º Dia, Mês do Macaco
Jocho me deixou, é claro. Era só questão de tempo. Eu
deveria ser grata por ele não tê-lo feito em público.
Não posso crer que esperei me casar com um futuro Go-
vernador. Agora meu maior desejo é uma cova para morrer
nela.
Como era de se esperar, houve palavras amargas entre
nós dois. Ele se faz de vítima; justamente, admito aqui, mas
não lhe daria a satisfação quando estávamos face a face.
―Acaso fui alguma coisa para você, além de um substitu-
to para aquele músico impotente?‖ Ele exigiu.
―Em meu coração? Claro que não. Mas não sejamos ran-
corosos; afinal, você se ensinou a comprar vácuo líquido
(C1), a fingir afeição, a tolerar abraços de um homem que
não amo… Tantas perícias valorosas! Acima de tudo, me
ensinou a como ver todos como tolos, generosamente mos-
trando-me o bufão que você é!
―Acho que se enganou, querida: o que você aprendeu é
como mostrar a todos sua própria idiotice. Honestamente,
você acha que Michisuna ousaria tocar a senhora de um
Magistrado de Esmeralda? Que ela desejaria a carícia de
alguém tão patética e impotente? Só porque você estava
atraída por seus encantos afeminados não significa que todos
são tão fracos.‖
―Certamente fui muito estúpida; pode-se ver pelo meu
amante.‖
―Sou a melhor coisa que acontecerá a você!‖
―Neste caso estou destinada de fato a uma vida trágica.
Diga-me, o que realmente lhe desagrada? Que e o ame e não
a você? Ou por não haver partes sãs em mim que lhe interes-
sem? Não, espere, já sei; você está bravo por nunca ter con-
seguido corromper meu coração. Enquanto eu puder amar,
você sabe que falhou em me destruir completamente com
sua falsa afeição e gentileza ridícula.‖
―Faz bem ao meu coração saber que você finalmente me
descobriu,‖ ele desdenhou. ―Admito que estava curioso para
ver quão difícil era atrair uma Fênix virgem até minha cama
e minha vida. Não foi tão difícil, me parece.‖
―Certamente mais fácil que ver o que é óbvio para mes-
mo uma tola como eu. Você tem outra amante e nem sequer
sabe disso.‖
―Do que está falando?‖
Eu ri.
Ele está certo, porém. Sou uma tola. Tola em pensar que
Michisuna me amaria, mais ainda por pensar que Jocho o
fez. Sou uma amiga estranha para um — se for. E para Jo-
cho? Fui mais do que um experimento em mentiras?
48

DOSSIÊ DE SHIGEKO: A irmã de
Jocho é uma garota que aparenta
total sinceridade em cada palavra
que diz. Ela sempre foi polida,
respeitosa, prestativa e direta comi-
go. Todas as vezes e em todos os
lugares ela se comporta adequada-
mente e irrepreensivelmente.
Kimi parece não ter real poder ou influência política, a-
lém do que ela ganha ficando na sombra de seu irmão e mãe
(P1). Ela parece não ter objetivos além dos apropriados a
uma jovem dama — agradar seus ancestrais, obedecer sua
mãe e casar-se bem. Embora persiga esses objetivos aberta-
mente e de maneira honrada, não há sinais de que ela tenha
quaisquer outras intenções, nem que esteja planejando ou
manipulando da maneira que tantos outros cortesãos fazem.
Ou ela é tudo o que aparenta ser, ou é a melhor mentiro-
sa de uma cidade conhecida por eles.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Shosuro
Gobei era o irmão do marido de
Hyobu (P1) — tio de Jocho (P2) e
Kimi (P3). Ele é o patrão de várias
destilarias de sakê na cidade, e suas
bebidas são exportadas por toda
Rokugan até as terras da Fênix.
49
Ele é um homem rico mas não é, creio eu, ambicioso.
Ele não exibe sua riqueza, mas também não é avaro. Ele faz
bastante dinheiro, mas não parece ter finalidade para ele. Ele
é quase como um espadachim que treina, não para vencer
batalhas, mas para aperfeiçoar seus golpes e a si mesmo.
Ainda assim, não posso ver como tal coisa pode ser feita
através de compras e vendas.
Como Kimi, ele parece não ter interesses secretos, o que
pode significar que seus interesses são muito profundamente
secretos.
Há rumores persistentes de que ele seja amante de Hyo-
bu. Não posso dizer nada; certamente é seu amigo, e como
tal não é alguém a ser considerado levianamente.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Bayushi
Korechika é o Escorpião de quem
menos gosto na cidade, e ainda
assim, me sinto estranhamente con-
fortável perto dele. Ele parece o
típico Escorpião; vão, escorregadio,
desonesto e egoísta. Sinto que sei
exatamente o que esperar.
Korechika chegou ao poder como líder local da família
Bayushi durante o primeiro ano de meu ofício. Ele imedia-
tamente assumiu o estábulo e a agonizante rede de mercado-
res Bayushi e começou a reunir mais mercadores, e taxar
outros até que implorassem por permissão para encontrarem
novos patrões. Ele está constantemente mudando de posição
entre os mercadores de Ryoko Owari, e se tornou uma força
significativa num curto período de tempo.
Ele parece ter pouco interesse para assuntos pessoais,
exceto pelo seu hobby de colecionar pássaros raros. Nem
mesmo pense que ele tem uma dama.
Suspeito que sua real preocupação seja o ópio. Ele já tem
posses rurais significativas que cultivam a papoula; e creio
que suas posses na cidade e conexões comerciais estejam
sendo usadas para processar as papoulas à forma fumável ou
líquida, e então distribuí-las por Rokugan.
Fui capaz de flagrar um de seus artesãos com ópio líqui-
do, mas antes que o interrogasse, Korechika apareceu com
Yogo Osako (P10) e uma escrita assinada pela Governadora
(C9, P1). Eles diziam que o artesão estava planejando distri-
buir o ópio localmente, e que assim esta era questão da ma-
gistrada da Governadora (Osako) ao invés do Magistrado de
Esmeralda. Contive minha vontade para não xingá-la em
alta voz enquanto o levavam para ―interrogatório‖. Sei que
ele morreu no mesmo dia, e meu interrogador (P55) me
garante que o prisioneiro nunca foi levado à sala de tortura.
Está claro para mim que Korechika matou o artesão, não
por ser um criminoso, mas por ser um inepto e pôr em risco
sua operação secreta.
Creio que Korechika aprendeu deste erro. Agora suspeito
que muito de seu trabalho sujo seja providenciado por um
mercador chamado Afiado (P40). Prendi três operários de
Afiado, mas a proteção de Korechika frustrou minhas tenta-
tivas de interrogar o homem em pessoa.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Saisho é
a esposa de Korechika, e parece ser
uma das mais singularmente tristes
mulheres de Ryoko Owari. Não
tenho certeza do motivo; pode ser
que ela seja uma mulher honrada, e
se lamenta por ser casada com um
criminoso? Quando tentei (sutilmente, é claro) ganhar sua
confiança, fui gentilmente repelida. Talvez ela só seja triste
por que marido a negligencia por seu trabalho.
Soube que ela teve uma filha que amava muito, e que ela
morreu de súbita doença. Acaso será que mesmo o amor de
uma mãe poderia deixá-la triste por tanto tempo?
Por outro lado, quando considero seu filho Otado, ima-
gino se talvez ela não esteja penando um amante distante.
Seria irônico de fato para seu marido astucioso não saber do
envolvimento de sua esposa mesmo quando toma um filho
ilegítimo como seu. Mas isto é especulação — possivelmen-
te minhas observações são coloridas por meus sentimentos
por Korechika.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Impliquei
que Otado possa ser um filho ilegí-
timo (P6). Isso pode não ser verda-
de, já que ele lembra um pouco
Korechika na aparência. Em com-
portamento, eles são bem diferentes
— embora não tanto quanto eu
possa ter esperado.
50
 Onde Korechika é polido, Otado é cruel e sem graça.
Onde Korechika esconde veneno numa máscara de amizade,
você sempre sabe no que Otado está pensando — e raramen-
te é algo bom. A sutileza de Korechika é muito valorizada
pelas indiscrições escandalosas de Otado. Embora só tenha
dezesseis anos, Otado já foi repreendido por Hyobu (P1, C9)
por uma briga em público numa toca de vício.
Em suma, ele tem a crueldade do Escorpião e os apetites
básicos de um Caranguejo, combinadas com a rudeza do
Unicórnio.
“MEMÓRIAS DE UMA
COMEDORA DE ÓPIO”: 20º Ano do
Reinado de Hantei XXXVIII, 22º
Dia, Mês do Dragão
Jocho (P2) me contou a verdade
sobre Bayushi Omoto hoje. Ela era
uma bela garota — mesmo quando
criança, podia-se ver que grande beleza ela teria algum dia.
Ela era tão bela que não gostava de usar sua máscara, e
negou a tradição Escorpião saindo por aí com sua face nua.
Um dos servos da família Bayushi se apaixonou por ela
quando tinha apenas treze anos, então ele envenenou a dama
de companhia com ópio e carregou a criança enquanto todos
dormiam.
51
Quando seus pais acordaram, descobriram que ela sumi-
ra, e imediatamente saíram para encontrá-la. Pelo seu raptor
ser um heimin, ele foi rapidamente descoberto em seu es-
conderijo — mas então o dano já estava feito.
O heimin tentou abusar de Omoto assim que ela acordou,
mas ela lutou com ele. Então ele jurou que a deixaria sem
comer até que fosse fraca demais para resistir. Aterrorizada
pela ameaça, Omoto cravou as próprias unhas em seu belo
rosto até que ele virasse uma massa de sangue e ferimento;
depois disso, nenhum homem iria querê-la.
Isso a salvou do vil abraço do heimin, mas quando ela foi
resgatada, ela ficou profundamente entristecida pela perda
de sua beleza. Ela sentiu que Kami Bayushi a estava punin-
do por não usar sua máscara, e eventualmente se matou.
Isso certamente explica porque Saisho (P6) me disse que
Omoto havia morrido de doença! (C2) Perguntei a Jocho
porque Tio Kinto (P31) havia me dito que não havia nada
errado com Omoto, e ele me disse que Kinto era o único
gentil o bastante para se desviar dela quando estava defor-
mada. Kinto até mesmo se ofereceu para casar-se com ela,
mesmo que fosse velho o suficiente para ser seu avô. Ela
estava profundamente amargurada quando se matou. Jocho
me fez jurar que nunca levaria o assunto para Kinto de novo
— ele disse que machucaria ainda mais o velho homem.
Claro que prometi e disse a ele que não o faria mesmo que
não prometesse.
Ele me beijou e me disse que invejava profundamente a
gentileza natural do clã Fênix.

DOSSIÊ DE SHIGEKO: Nunca tive
um encontro agradável com Soshi
Seiryoku — ela dificilmente se in-
comoda em ocultar seu ódio com
polidez. Uma shugenja (mas uma
raramente vai a um templo publica-
mente), ela tem uma reputação,
mesmo em seu próprio clã, como uma mulher que é suicídio
atrapalhar.
Ela é uma proeminente patroa mercantil. Quando per-
guntados sobre ela, a boca de seus mercadores dispara sobre
quão gentil e benevolente ela é, enquanto seus olhos correm
com terror — como se temessem que ela saia de uma som-
bra ou esteja escutando-os. Os mercadores ressaltam que
eles nunca, nunca considerariam ter outro patrão. Demorou
algumas investigações para descobrir o quanto ela cobra de
seus mercadores. Claramente eles estão aterrorizados por ela
— amedrontados demais para buscar uma patroa menos
temível.
Sinto em meus ossos que ela é maligna, mas não posso
apoiar qualquer acusação. Pedi ao clã Fênix para enviar
alguns de seus Inquisidores, mas nenhum deu sorte.
Se meu sucessor for um shugenja, encorajo-o a observar
esta mulher de perto, bem de perto.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Yogo Osa-
ko é a primeira e mais confiável dos
magistrados de Hyobu (C9, P1). Isso
significa, é claro, que ela aplica as leis da cidade e do país
de maneira muito seletiva e arbitrária.
Embora eu trabalhe com ela ocasionalmente e a veja
quase todo dia, considero difícil descrever quaisquer impres-
sões que tenha tido sobre ela. Ela parece uma honrada samu-
rai-ko, e não posso dizer que nunca a vi bêbada ou soube de
vergonhas ao seu dever. Trabalhamos juntas em alguns
casos não-políticos, e ela era uma competente e dedicada
investigadora; ainda assim não me sinto mais próxima a ela.
Ela nunca me deu a impressão de que eu era algo além de
uma ferramenta para ela quando útil, e um incômodo quando
estávamos em apuros. Suponho que eu sinta o mesmo sobre
ela; é difícil pensar nela tendo um coração humano.
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 20º Ano
do Reinado de Hantei XXXVIII, 13º Dia, Mês do Dragão
Algo estranho mas interessante aconteceu esta noite na
Casa das Histórias Estrangeiras. Estava bêbada, é claro, mas
não tão bêbada para ter imaginado isso. Além do mais, bebi-
da nubla minha mente, e precisei de toda minha força mental
para erguer o peso de um conceito tão improvável quanto
Yogo Osako estar apaixonada.
Saí de minha mesa e estava prosseguindo à sala necessá-
ria quando Yogo Osako emergiu das sombras e agarrou meu
braço. De início pensei que ela estava me apoiando (eu
cambaleava um pouco) e a agradeci, mas então sua face
mostrava que seu interesse certamente não era me ajudar.
―Posso ajudá-la, magistrada?‖ Eu disse finalmente.
―Você pode se ajudar, Fênix. Está em águas profundas;
melhor nadar para a costa antes que se afogue.‖
52
 ―Tenho certeza de que não faço idéia do que você está
falando. É uma questão criminal?‖
―Se for, você será a vítima.‖
O Clã Unicórnio
―Hã?‖ Devo confessar que desde que vim para Ryoko
Owari, me tornei muito mais aberta a confessar confusão em DOSSIÊ DE SHIGEKO: Yoshifusa
conversas. Nada parece soar extremamente astuto e as pes- é o líder dos Unicórnios de Ryoko
soas são sutis como quando simplesmente não se entende. Owari apenas nominalmente. Ele é
Então elas são forçadas a dizer que estavam tentando escon- um homem velho; a única hora que
der com toda a sua astúcia (embora nunca tenha pensado em o vejo fora da embaixada Shinjo é
Osako como particularmente astuta). quando ele presta serviços no Tem-
Em todo caso, ao invés de falar, ela agarrou meu instru- plo da Deusa Sol (L13). Apesar
mento (C1) e o colocou debaixo da minha face. disso, ele não se aposentou de sua posição como líder da
―Isto,‖ ela disse. ―Eu poderia arruiná-la com isso. Humi- família, nem como patrão mercador.
lhar sua família, violar o seu nome, prendê-la por um
mês…‖
―E? Você poderia fazer o mesmo com quase todos aqui.
Por que eu?‖
Então seus olhos piscaram para Jocho (P3).
Não pude evitar em rir. Ter sido vítima de amor sem es-
peranças por tanto tempo, é fácil ver isso no rosto de outra.
―Jocho? Você quer que eu fique longe de Jocho?‖
Mesmo nas sombras, pude vê-la corar.
―Um Escorpião e uma Fênix… Isso não é bom. Ele só
brincará com você e deixará uma carcaça morta e sem cora-
ção.‖
―Então está me ameaçando me prender porque está preo-
cupada com meu coração partido? Que estranho… Talvez
seja porque você o quer para si?‖
Sua mão estava apertando meu braço, mas estava bêbada
demais para notar. Certamente vai doer amanhã.
―Por que não diz a ele?‖ Perguntei. Admito, estava pro-
vocando-a — gostei de saber que esta perigosa e poderosa
mulher era uma grande tola como eu era. Talvez eu devesse
ter mostrado a gentileza Fênix de que Jocho fala, mas tudo o
que tinha a oferecer era veneno. ―Você está com medo, não
está? Você não sabe o que ele vê em mim, e teme que ele o
diga. Você tem medo que ria. Não tem? E mesmo que esti-
vesse brava o suficiente, você não viria e diria porque é tão
óbvio. Tão claro. Tão rude e rudimentar. Não é típico de um
Escorpião afinal, não é, amar alguém e dizer a ele?‖
Ela não disse nada. Sua respiração era rarefeita e que-
bradiça, e pude ver seu véu tremer.
―Então por que não me prende?‖ Perguntei. ―Seria uma A história diz que ele saiu numa caravana mercante
maneira perfeita de mostrar seu amor, ao estilo Escorpião, quando jovem e ganhou grande glória protegendo os interes-
certo? Afeição por agressão? ‗Eu te amo, então vou destruir ses comerciais do Unicórnio de atacantes estrangeiros. Ten-
seu amor? Então talvez você me ame ao invés dela?‘ É as- do feito sua fortuna dessa maneira ele se aposentou em Ryo-
sim que a corte funciona em seu clã?‖ ko Owari, onde passou o restante de sua vida.
―Fique quieta,‘ ela sussurrou. Outrora um influente patrão mercador, sua influência e-
―Mas por quê? Só estou tentando definir o amor Escor- rodiu com a idade. Bayushi Korechika (P5) conseguiu tomar
pião. Como você sabe, estou envolvida com ele… Intima- o controle de um dos mais prósperos estábulos de Yoshifusa
mente.‖ (P43), junto com vários locais menos importantes. Com esta
―Fênix e seu ‗entendimento‘,‖ ela sibilou. ―Você não é idade avançada, há pouco que o Unicórnio possa fazer a
tão astuta quanto pensa.‖ Então ela me soltou e foi embora. respeito.
Tive que rir. Aparentemente, eu sou ‗astuta‘ agora.

53
 DOSSIÊ DE SHIGEKO: Sanefusa é
filho de Yoshifusa (P11). Junto de
seu pai, Sanefusa dirige vários vassa-
los mercadores. Parece que pai e
filho nem sempre dirigem em com-
pleta harmonia, porém. Há histórias
persistentes de um contrariando as
decisões do outro. Esta pode ser uma razão pela qual Kore-
chika (P5) foi capaz de pegar vários dos seus vassalos.
Seu mais importante e próspero investimento é a Casa
das Histórias Estrangeiras (L22). Significativamente, este é
o empreendimento com o qual Yoshifusa menos se importa
(sua idade e enfermidade o impedem de pegar um barco para
a Ilha Gota de Lágrima). Sanefusa assim tem carta branca
para dirigir sua vassala Magda (P47) consistentemente, se
não bem. Há rumores de que Magda seja dama de Sanefusa,
mas são (obviamente) difíceis de verificar.
Quanto a Sanefusa, ele me parece um homem cuja mente
e espírito vão de um lado para outro. Ele não pode agir deci-
sivamente porque está perpetuamente dividido entre duas
visões e não pode uni-las. Por exemplo, apesar de sua idade,
ele não se casou. É comumente crido que ele está esperando
até seu pai morrer, para que assuma a liderança dos Unicór-
nios de Ryoko Owari e seja capaz de arrumar uma noiva
melhor. Porém, embora tenha esperado, seu pai continua a
viver e Ide Baranato ascendeu em influência até ser o chefe
local do clã em tudo menos no nome.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Yoshiko
é a filha de Yoshifusa (P11) e irmã
de Sanefusa (P12). Embora tenha
idade suficiente para ter um filho
no gempukku, ela nunca se casou.
Sua própria mãe morreu não muito
depois de Yoshiko se tornar adulta,
e Yoshifusa pediu a ela para vir e ajudar a cuidar da casa até
que encontrasse outra esposa. Isso foi há muitos anos, e
nenhum deles se casou. Yoshifusa se recusa a encontrar um
marido, e à medida que envelhece, suas chances de se casar
bem continuam a diminuir.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Embora
Yoshifusa (P11) seja o líder oficial
do Clã Unicórnio em Ryoko Owari,
é Ide Baranato que toma as deci-
sões significativas. O clã agradece
por isso, pois Baranato é um ho-
mem de honra.
Ele também é um talentoso curandeiro. Tive oportunida-
de de saber disso após uma altercação com meu ronin cha-
mado Amplo (P32). Baranto e eu tivemos uma interessante
conversa enquanto ele estava pondo meu braço de volta ao
seu lugar. Ele me disse que Amplo era muito talentoso com
o Arremesso de Mão Dupla, mas além disso suas perícias de
jiujutsu eram limitadas. Disse a ele que manteria isso em
mente.
54
 Então ele me disse que não deveria ter medo em dizer a
ele que meu braço doía — pois se dissesse onde doía, ele
seria mais capaz de fazer a dor parar.
―Seria a vergonha de admitir a dor pior que a própria
dor?‖ Ele perguntou. Olhei para ele para ver se estava brin-
cando, e estava, um pouco. Mas também vi que minha dor o
afetava também.
Baranto é um homem compassivo, mas há mais nele do
que gentileza; vi algo gritando no fundo do seu olhar. Algo
que já vi nos olhos de Akodo Toturi, nos olhos do Campeão
de Esmeralda, nos olhos de Kakita Toshimoko. Eles homens
que já viram a morte, o sofrimento nu e compreenderam tais
coisas — mas não foram abalados por eles. Isso lhes dá
forças, e creio que Baranato tenha a mesma força.
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 20º Ano
do Reinado de Hantei XXXVIII, 12º Dia, Mês da Serpente
Hoje foi o funeral de Michikane (P15). Foi a maior reu-
nião de nobres que já em Ryoko Owari desde os Dias da
Generosidade (C6).
Os olhos de Ide Baranato estavam avermelhados como
salmão cru por chorar sobre seu filho. Sua esposa (P18)
estava ainda pior. Ela não conseguiu se conter durante as
preces do shugenja. Lágrimas desciam-lhe a face e todo seu
corpo tremia, mesmo quando ela tentava ficar firme.
Baranato não deixou Palavra Verdadeira (P33) entrar no
funeral! Aconteceu que chegaram ao mesmo tempo, e vi
Palavra Verdadeira parar quando Baranato ergueu seu braço.
―Você não é bem-vindo aqui,‖ disse Baranato.
―Só vi prestar meus respeitos a um amigo falecido,‖ dis-
se Palavra Verdadeira.
―Você não era amigo de meu filho,‖ disse Baranato. ―E
se fosse ele ainda estaria vivo.‖
Os olhos de Baranato se arregalaram e sua boca se tor-
ceu.
―Eu? Você me culpa pela morte de seu filho?‖ Mesmo
que eu não tenha completado meu treinamento. Ainda podia
55
sentir poderes invisíveis, e podia sentir Palavra Verdadeira
os atraindo. Então os olhos de Baranato reluziram acusação,
e pude sentir um forte ímpeto de poder dele também.
―Não me tente,‖ disse Baranato. ―Derramar seu sangue
aliviaria minha dor, mas não o misturaria com o do meu
filho.‖
As pessoas estavam se virando para olhar. Talvez fosse o
gelo nas palavras de Baranato. Talvez o poder dos dois ho-
mens estavam reunindo fosse tão grande que até mesmo um
leigo poderia senti-lo.
Palavra Verdadeira se virou e saiu, o olhar de Baranato
às suas costas.
Pobre homem, se ele culpa Palavra Verdadeira pela mor-
te de Michikane, ele é mesmo cego. Culpa igual recairia
sobre muitos dos que foram ao funeral.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: O herdei-
ro e filho mais velho de Baranato é
encantador, belo, bom caçador e um
simpático e sincero cortesão. Ele é
bem recebido e admirado, e parece
não ter inimigos na cidade. Seus
pais o estimam e ele parece em
todas as coisas destinado à grandeza.
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 19º Ano
do Reinado de Hantei XXXVIII, 23º Dia, Mês do Cavalo
Hoje visitei a família Ide. Sua casa é muito estranha e es-
trangeira — o centro é um domo redondo, com mais habitu-
ais alas laterais quadradas ao seu lado. Em volta da cúpula
estão altos pilares — não apenas os dois que formam a por-
ta. Contei uma dúzia, todos idênticos, abrindo um tipo de
área aberta — não bem um quintal, pois tinha piso, mas não
uma antecâmara pois uma parede estava aberta ao ar, e não
havia tapetes ou estofamentos.
A primeira pessoa a me saudar foi Ide Michikane, que
enviou meu convite. Ele estava esperando por mim nos
pilares — que diferente de minha recepção por Saisho (P6,
C2), que esperava enquanto tive minha presença anunciada
por um servo.
O interior da casa era fantasticamente adornado — pare-
cia que toda superfície tinha alguma maravilha ou decoração
estrangeira nela, mas tive pouca chance de examiná-las pois
Michikane estava tentando conversar — perguntando de
onde eu era, como eram as terras da Fênix e como estava me
adaptando a Ryoko Owari. Ele mostrava grande Ânimo e
interesse em minhas respostas, dizendo que as Florestas
Isawa soavam maravilhosas e que um dia ele as visitaria.
Imediatamente me senti confortável com ele.
Conheci seu irmão Asamitsu (P16) também, e seus pais
Baranato (P14) e Shikibu (P18), é claro. A família deles
parece ser íntima e afetiva — muito diferente da norma
estrita de Rokugan. Não sei se era particular da família Ide
de Ryoko Owari, ou se era um traço do Clã Unicórnio como
um todo. Embora muito estranho, considerei agradável tam-
bém.
 “MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 19º Ano Quando saíram de vista, imediatamente fomos para a
do Reinado de Hantei XXVIII, 21º Dia, Mês do Macaco Ponte do Dragão, de onde teríamos uma bela vista do miran-
Hoje, fui convidada a uma reunião na residência de Iuchi te ao rio.
Michisuna (P24). Ele foi um anfitrião magnífico, e logo Houve muita discussão quando observamos os corredo-
todos estavam em alegre humor. Muitos estavam desfrutan- res emergirem do Pequeno Portal (L15). Concordamos que
do o sakê, mesmo que eu achasse que fosse cedo para tais Michikane era o melhor cavaleiro, mas circular a cidade
coisas, e suspeitava que alguns estavam fumando ópio. duas vezes antes de Otado fazê-lo uma vez parecia impossí-
Bayushi Otado (P7) estava bebendo mas não fumando, e vel.
ficou muito agressivo. Ele começou a se gabar de um ótimo Foi Michikane que vimos primeiro — mas não no Pe-
cavalo que havia ganhado de seu pai (P5). Os Unicórnios queno Portal! Passamos pelo Portal do Camponês, pelo
presentes se irritaram com isso — aparentemente o pai de Quadrante Coureiro e, para alegria de sua família, passou
Otado tirou o melhor do clã Unicórnio em alguns acordos com seu cavalo pelo rio!
comerciais, e falar sobre o cavalo era a maneira de Otado Houve muita discussão sobre quanto tempo Michikane
insultá-los. teria poupado, fazendo seu cavalo nadar ao invés de pegar
Ide Michikane se levantou e disse que o melhor cozi- uma das pontes — que, é claro, percebemos agora, estaria
nheiro de Rokugan não podia fazer um simples sashimi se muito congestionada.
tudo o que tivesse fosse carne de porco. Quando Otado per- Nossas conjecturas todas foram em vão quando vimos
guntou o que ele queria dizer com isso, Michikane disse que Otado se aproximar — também pelo Quadrante Curtidor.
um cavalo era tão bom quanto seu cavaleiro. Depois, soube que Palavra Verdadeira disse a ele do atalho
―Apostarei com você um koku que posso vencer uma de Michikane pela Ponte do Gume do Instante. Otado pare-
corrida ao redor da cidade inteira. De fato, apostarei que cia muito mal, mas também determinado. Seu cavalo hesitou
posso circular a cidade duas vezes no tempo que demora e recuou ao chegar no rio, mas Otado o golpeou com seu
para você cavalgar seu cavalo ao redor dela uma vez.‖ chicote e entrou assim que Michikane emergiu do Quadrante
Otado aceitou o desafio — com a condição de que subi- Curtidor uma segunda vez.
riam as apostas. ―Um koku? Esta é uma aposta para merca-
dores. Aposto meu corcel contra o seu.‖
Esta foi uma grande aposta de fato, mas Michikane sim-
plesmente tragou de seu cano e disse ―Como quiser.‖
Houve grande comoção e muita discussão sobre como a
corrida seria monitorada, e foi combinado o seguinte:
Ikoma Yoriko (P29) observaria o Portal dos Dentes de
Oni (L14), onde a corrida começaria.
Kitsuki Jotomon (P28) se voluntariou para olhar o Por-
tal Unicórnio (L19) e garantir que os dois competidores
estariam fora dos muros neste ponto. Os competidores pode-
riam entrar no Portal Unicórnio e cruzar a Ponte do Gume
do Instante.
Palavra Verdadeira (P33) foi posicionado no Portal do
Pescador (L25) para olhar os dois competidores emergirem
(assim prevenindo um atalho pela Ponte dos Amantes Bêba-
dos). Foi decidido que o Portal do Camponês (L26) seria o
ponto permissível de retorno à cidade, para que os competi-
dores não tivessem que ir pelo Quadrante Coureiro.
Os dois homens pareciam magníficos ao alinharem seus
cavalos. O corcel de Otado era enorme, preto como uma
noite de inverno, com apenas uma estrela branca em sua
cabeça e fitas brancas nos cascos para destacar na escuridão.
O corcel de Michikane era menor mas ainda assim grande
— da cor do mel, caindo a um cor de fogo na crina e no
rabo. Quando eles largaram, parecia um nascer do sol perse- O cavalo de Michikane investiu na água sem hesitação, e
guindo a noite. estava claramente mais calmo na água. Diante de nossos
A corrida começou exatamente ao meio dia, e Otado to- olhos, Michikane passou Otado, aos altos gritos dos Unicór-
mou uma dianteira inicial, chicoteando seu corcel sem mise- nios. Então os gritos engasgaram; assim que Michikane
ricórdia. Ele não parecia completamente confortável, porém, chegou na margem, Otado caiu de seu cavalo.
já que havia consumido muita água de caranguejo (C1). Ouvindo nossos gritos, Michikane olhou. Ele imediata-
mente virou seu corcel e entrou na água de novo, buscando o
jovem samurai. Michikane puxou seu oponente para a mar-

56
gem. Parecia que ele ia desmontar para ajudá-lo, mas Otado
o empurrou e foi em direção ao seu cavalo. Michikane retra-
iu-se, virou seu próprio corcel, e começou a galopar para o
sul. Otado seguia.
Todos nós montamos e fomos a nossa melhor velocidade
para o Portal Dentes de Oni, mas mesmo que nossos corcéis
estivessem frescos, ainda assim fomos incapazes de vencer
Michikane. Chegamos lá assim que Otado passava pelo
portal. Podíamos ver que ele havia perdido por quase um
minuto.
Os dois homens estavam ofegando, mas Michikane, sor-
rindo, fez uma grande reverência a Otado.
―Realmente, acredito que seu corcel seja melhor; nunca
teria vencido sem truques.‖
Otado estava em silêncio, então fechou seus olhos, os
abriu e disse, ―Meu clã sempre disse que ‗truque‘ é apenas
uma palavra que as pessoas usam para quando invejam a
idéia de outra. Este ótimo cavalo agora é seu.‖
―Não posso levá-lo,‖ disse Michikane. ―Tendo visto
quão bem vocês cavalgam, não os separaria.‖
Otado ofereceu mais duas vezes. Michikane finalmente
disse que levaria o corcel apenas e Otado não ficasse morti-
ficado, mas que ele genuinamente pensava que o cavalo
deveria pertencer a Otado. Otado piscou, e por fim, ficou
com o cavalo. Os dois cavalgaram junto, Otado coçava a
cabeça.
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 20º Ano
do Reinado de Hantei XXXVIII, 9º Dia, Mês da Serpente
Ide Michikane está morto e toda a cidade lamenta. Ouvi ―Estou feliz por Asamitsu ter pedido que você viesse,‖
isso de Ashidaka Michitaka (P26), e inicialmente esperei disse Kimi. ―Da última vez que fui caçar com eles também
que fosse apenas um boato, mas então Kitsu Senshi (P30) fui deixada para trás, mas sem companhia alguma.‖
disse a mesma coisa. ―Alegra meu coração ouvir isso.‖
Ele foi encontrado numa sala superior da Estrela da Ma- Cavalgamos pelo bosque no silêncio companheiro por
nhã, cachimbo ao seu lado. Havia um copo de sakê vazio em um tempo antes que Kimi perguntasse ―O que você acha de
sua mão, garrafas… Michitaka disse que ele estava bebendo Asamitsu?‖
vácuo líquido (C1) também. ―Ele parece ser um bom homem,‖ eu disse.
(mais tarde no mesmo dia) Por trás de sua máscara de borboleta, suas pálpebras pis-
Estava chorando, e tentando escrever um poema memo- caram.
rial para ele. Não posso escrever nada. Molho minha pedra ―Você acha que seu pai poderia considerá-la esposa de-
de nanquim com lágrimas, mas tudo que vejo é um borrão le?‖ Ela perguntou, com um sorriso travesso.
negro. Tudo em que penso é que esta morte insignificante ―Tenho certeza que não sei,‖ eu disse. ―Nossa, que per-
facilmente poderia ter sido a minha. gunta direta! Pensei que vocês Escorpiões devessem ser
sutis.‖
―Há muitas, muitas pessoas no clã Escorpião, e nem to-
“MEMÓRIAS DE UMA das se parecem. Além disso, logo serei do clã Unicórnio, e
COMEDORA DE ÓPIO”: 20º Ano do eles não são sutis. Só estou praticando.‖
Reinado de Hantei XXXVIII, 19º Rimos. ―Este é seu plano então?‖ Perguntei. ―Está ten-
Ano, Mês do Tigre tando arrumar uma cunhada de que goste?‖ Ela apenas sor-
Hoje, fui à caça que mencionei riu um pouco.
com Asamitsu, seu irmão Michika- ―Asamitsu tem muitas boas qualidades,‖ disse por fim.
ne e Shosuro Kimi (P3). Kimi e eu ―Ele dá toda aparência de ser um honrado, sério e prestativo
certamente não éramos páreos para os irmãos quanto a ca- filho…‖
valgar, logo em dado momento nos vimos cavalgando sozi- ―Sim,‖ ela disse. ―Ele é todas essas coisas. E não se es-
nhas e enquanto os dois homens perseguiam uma raposa. queça de pensativo, como sua mãe (P18). Gentil e compas-
sivo também — o que ele puxou do pai (P14).‖

57
 ―Se não a conhecesse bem, diria que está para se casar
com o irmão errado!‖
Quando eu disse isso, ela riu repetidas vezes.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Tenho
muito pouco para relatar sobre o
sobrinho de Baranato (P14), exceto
que ele aparece em toda celebração
da família Ide ou do clã Unicórnio,
e falha universalmente em fazer ou
dizer qualquer outra coisa com-
prometedora. Já o vi nos templos
ocasionalmente, e dizem que ele é um competente shugenja.
Um Garça a meu serviço disse certa vez que toda família
tem um membro que evita a atenção; Nakatada serve a esta
função aos Unicórnios de Ryoko Owari.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: A esposa
de Ide Baranato (P14) não possui
os encantos da Garça ou a sutileza
do Escorpião, mas sinto grande
afeição por ela — uma afeição que
é, creio, compartilhada por muitos
de Ryoko Owari. Ela é uma matri-
arca efusiva ao clã Unicórnio — muitos deles a chamam de
―mãe‖ para mostrar respeito e amor.
Um exemplo pode esclarecer; quando cheguei pela pri-
meira vez, Shosuro Hyobu (C9, P1) me deu de presente uma
fina sela, e Kitsu Senshi (P30) me deu um novo arco de
cavalo. Esses presentes eram apropriados, educadamente
oferecidos à nova magistrada. Shikibu me visitou pessoal-
mente, e seu presente foi uma árvore do jardim da residência
do magistrado. Era uma estranha e estrangeira árvore — ela
me disse que precisa de pouca água mas muito sol, e que os
brotos podem ser secos e fervidos para o chá (está plantada
no canto noroeste do jardim do magistrado). Ela me trouxe
seus próprios servos para plantá-la, e enquanto os observá-
vamos trabalhar, ela me disse várias coisas sobre a cidade —
quem vendia o melhor peixe, quais famílias heimin eram
servos dependentes, que mercadores davam bom valor.
Ela saiu com o mesmo largo sorriso de quando chegou, e
fiquei muito feliz. Senti que enquanto os outros me viram
vir e deram presentes ao meu ofício, apenas ela se preocu-
pou com a mulher que ocupa o ofício.
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 20º Ano
do Reinado de Hantei XXXVIII, 17º Dia, Mês da Serpente
Aquela ratazana nariguda da Nobuko (P24) hoje me pre-
gou um boato — foi uma fraca tentativa de ganhar minha
confiança. Se eu não estivesse tão triste, quase poderia en-
contrar pena em meu coração para Nobuko. Certamente ela
tem alguns amigos, mas só pode culpar aos seus próprios
hábitos odiosos.
Em todo caso, ela me disse que viu Ide Shikibu na lápide
de seu filho (P15), solução e chorando sobre uma tigela no
chão. Quando Shikibu foi embora, Nobuko foi ver e disse
que parecia haver sangue misturado com água e algumas
outras coisas.
Perguntei a Tio Kinto (P31) se tinha ouvido algo a res-
peito — vou admitir, a história soou como magia negra para
mim — e ele ficou preocupado o bastante para visitar o
58
memorial. Quando ele viu o que era, assentiu e me disse que tei que mal eles haviam feito, e ela me disse para ler a histó-
ouvira de algo similar. ria do clã Escorpião. Então perguntei porque ela vivia numa
Parece que nas terras do norte, quando um filho morre cidade governada pelos Escorpiões, se ela os odeia tanto.
antes de seus pais, estes fazem uma sopa que contém o seu Ela sorriu e disse que eu deveria perguntar por que pescado-
sangue, e os asperge na cova para alimentar o fantasma do res vivem próximos à água.
filho e acalmá-lo. Supõe-se para se desculpar ao filho por
não morrer primeiro.
Quando pensei da jubilosa Shikibu furando sua pele para
fazer sopa para o fantasma de Michikane, comecei a chorar DOSSIÊ DE SHIGEKO: Naishi é
e não pude parar até pegar meu instrumento (C1). Desde que irmã mais nova de Genshi (P19) e
seu filho morreu, não a tenho visto em público. em vários aspectos age como se
fosse a mais velha. Ela é respeito-
sa, pensativa, honesta e possui um
temperamento calmo que sua impe-
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Otaku tuosa irmã em muito necessita. Foi
Genshi é uma perigosa e impetuosa ela que me explicou a raiz da ira de Genshi; assim como
mulher. Em meus primeiros anos muitas histórias de ira, ela vem da vergonha.
de magistrada, ela e alguns dos
seus servos começaram um briga
com alguns dos vassalos de Kore-
chika. Disse a ela que teve sorte
por eu ter chegado antes do Esquadrão Samurai (C10). Por
ela não ter sacado sua espada aos heimins de Korechika e
ninguém ter morrido, convenci Osako (P10) de não acusá-la
formalmente — assim que Genshi fez uma apologia simbó-
lica a Korechika.

Há alguns anos, seu primo Otaku Isas foi desafiado por

No ano seguinte, ela saiu aos golpes com o filho de Ko-
rechika, Otado (P7) no Quadrante Licenciado; creio que se
estivessem em outro lugar, haveria espadas cruzadas. Osako
a prendeu por um mês.
Embora Genshi tenha sido presa, perguntei a ela a razão
de causar tanto problema aos Bayushi. Ela disse que era
apenas natural de uma mulher honrada odiar o mal. Pergun-
Bayushi Tomaru num duelo. Quando o dia escolhido che-
gou, Isas pediu por um adiamento, dizendo que estava doen-
te. Então, no dia do adiamento, ele sumiu completamente.
Muitos acreditam que ele fugiu do país ao invés de enfrentar
Tomaru.
Genshi acredita que Tomaru de algum modo envenenou
Isas antes de cada duelo, mas creio que seja mais provável
que ela esteja simplesmente negando a covardia de seu pri-
mo.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Iuchi Sa-
dako é uma estranha jovem mulher.
Admito que ela é sagaz, honrada e
atenta — mas temo que a composi-

59
ção de seu espírito tenha imaginação demais no todo. Se ela
ainda residir em Ryoko Owari quando chegar, logo a conhe-
cerá, junto com seus contos estrangeiros de cultos secretos e
misteriosas criaturas trajadas na forma humana. Esteja avi-
sado; ela é persistente, apesar de uma completa falta de
evidência concreta para seus contos estrangeiros.
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 20º Ano
do Reinado de Hantei XXXVIII, 2º Dia, Mês do Touro
Quando acordei esta manhã, minha cabeça doía tanto que
achei que ia morrer. Então esperei que eu morresse. Então
tive medo de não morrer. Aparentemente, subestimei a água
de caranguejo (C1) durante o festival do Dia da Libertação
(C4).
Lembro que Nakatada (P17) disse que a melhor cura pa-
ra tal sofrimento era evaporar as toxinas, então visitei a casa
de banhos (L5).
Estava tão debilitada que nem mesmo realizei que a mu-
lher sentada na piscina comigo era Iuchi Sadako — não
ajudava nós duas estarmos usando as ridículas máscaras de
gaze. Um costume idiota, mas um que não deve ser trans-
gredido ou mesmo questionado em vão (como se curvar,
adultério e todos os costumes veneráveis). Antes que eu
percebesse o que era o que ela me enredou numa longa e
chata discussão de sua teoria sobre como as forças do Ca-
ranguejo foram realmente expulsas de Ryoko Owari. De
acordo com ela havia uma grande conspiração (é claro) de
mercadores de sakê, geishas (ou pessoas se fingindo de
geishas — embora quem se incomodaria em fingir que tal
coisa esteja bem além de minha imaginação) e pessoas me-
nores similares que simplesmente corromperam os soldados
do Caranguejo até que estivessem fracos demais para prote-
ger a cidade. Naturalmente havia uma mente por trás de tudo
isso — ela disse sem sombra de sarcasmo em sua voz, que
não tinha certeza se foram os ninjas ou o culto secreto ao
Lorde Lua.
Em minha mais meiga voz, disse a ela que desejava que
meus poemas tivessem metade da criatividade de suas ―teo-
rias‖. Ela tomou isso por elogio, o que mostra que ela não
pode ser tão perceptiva quanto crê ser.
Dossiê de Shigeko: Iuchi Mi-
chisuna é conhecido pela cidade
como um talentoso músico, e bas-
tante admirado por seus feitos como
poeta. Diferente de tais artistas, ele
não desenvolveu uma atitude arro-
gante; ao invés disso, ele tem um
espírito equilibrado e considera seus dons adequados aos do
resto do mundo. Ele tem uma tendência a beber, e suspeito
de indulgência ao ópio, mas não tenho provas. Em todo
caso, ele não é um arruaceiro, e suas indulgências são dis-
cretas.
“Memórias de uma Comedora de Ópio”: 20º Ano do
Reinado de Hantei XXXVIII, 28º Dia, Mês da Serpente
Acabo de retornar da casa de banhos (L5) mas ainda me
sinto suja. Fui tola em pensar que a água quente poderia
limpar a poluição que vem de dentro, que se espalha em meu
corpo a cada batida de meu coração enganoso.
Não amo Jocho (P2). Nunca amei e não quero amar.
Meu coração pertence apenas a Michisuna, e são os seus
braços que quero que me envolvam.
Meu pai me disse quebrar um voto é um pecado duplo. É
um pecado contra as pessoas a quem a promessa foi feita,
porque você as trai e desaponta. Mas me disseram que eu
poderia estar pecando contra mim mesma, sendo o tipo de
pessoa que quebraria um voto.
Ele me disse que embora uma mentira possa facilitar as
coisas no momento, eu só estaria repassando o problema;
não apenas porque a mentira seria descoberta, mas porque
cada mentira enfraquece meu espírito e me torna menos
capaz de ver a verdade.
Meu pai é tão sábio, e fui tola me não ouvi-lo. Minhas
mentiras me cegaram à verdade de meu próprio coração. Por
quebrar minha promessa aos meus pais, por me entregar,
percebo o amor de quem realmente quero — e não mais
mereço.
Se eu engravidar, imagino se Jocho se casaria comigo.
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 20º Ano
do Reinado de Hantei XXXVIII, 19º Dia, Mês do Cavalo
Lembro-me de quando tive febre. Fiquei tão fraca que as
mantas em meu corpo eram pesadas demais. Fiquei tão caída
e abafada e mal podia respirar. Quando a febre cessou e eu
pude deixar meu leito, me sentia como uma pena — como se
tivesse realmente renascido e pudesse voar.
Hoje me sinto da mesma maneira. Vi Michisuna — e ele
sorriu para mim! Jocho (P2) não estava comigo, logo, achei
60
que pudesse falar com ele… Ele me disse que sentia falta de
conversar comigo, me disse que se sentia terrivelmente
solitário desde que Michikane (P15) morreu, mesmo com
todos em volta oferecendo consolo. ―A única coisa que me
fazia sentir um pouco melhor foi seu poema funeral,‖ ele
disse. Corei tão furiosamente que tive que esconder minha
face atrás de meu leque.
―Era algo mínimo comparado ao que sentia por ele,‖ eu
disse. ―Foi meu poema mais difícil de escrever.‖
―Foi a única coisa que me fazia sentir como se alguém
conhecesse a mesma sensação que eu. Ainda podia me en-
tristecer, mas não me sinto mais em luto.‖
Ele olhou para longe, disse as próximas palavras sem o-
lhar para mim. ―Sei que tem havido um… Um golfo entre
nós desde meu aniversário,‖ ele disse. ―Sinto um grande
arrependimento. Não quero que sejamos estranhos mais.‖
Isso quer dizer que ele acha que cometeu um engano?
Ele não fez uma declaração de amor — mas Michisuna é um
homem honrado e jamais tentaria seduzir-me de Jocho. Se
eu deixar Jocho, Michisuna me amará? Mas e se ele não
amar?
Talvez Jocho perceba que Osako (P10) o ame — talvez
ele só fique bravo por tê-lo deixado. Osako já me odeia; se
Jocho me odiar também, eu seria expulsa de Ryoko Owari.
Não me importaria se Michisuna me amasse —mas e se ele
não amar? Se eu dispensar Jocho, quem se casará comigo?
Que tola eu fui em mentir para Jocho — nenhum homem se
casaria com uma garota usada, ninguém quer um lenço usa-
do como esposa…
61
Se Michisuna me ama, certamente ele me mostrará isso
de algum jeito. Eu sabia que ele não gosta do interesse de
Jocho por mim! Soube desde o início. Se ele me ama, e
continua me vendo com Jocho ele terá que mostrar seus
sentimentos. Ele é um artista — ele não será capaz de se
conter.
Por outro lado, se ele não me ama, ao menos não dei mi-
nha virgindade em vão.
Fico com um homem que não amo para testar o homem
que amo — e para manter minha vergonha em segredo.
Talvez fosse melhor que Jocho se casasse comigo; temo que
estou me tornando uma Escorpião com meus engodos e
manipulações.
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 20º Ano
do Reinado de Hantei XXXVIII, 2º Dia, Mês do Macaco
Um enganador é pior do que a que se engana? Uma men-
tira é pior do que a contamos para nós mesmos, e então
cresce a uma esperança desesperada de torná-las verdade?
Está tudo acabado. Coloquei segredos em minhas costas
até que tropeçasse e caísse, e agora todos sabem. Meu cora-
ção foi derramado na rua para todos se maravilharem e pisa-
rem.
Fui à Casa das Histórias Estrangeiras — que ela queime
e leve sua dona vagabunda com ela! Fui com Jocho e Michi-
suna estava lá, e continuei olhando para ele, tentando ver se
tinha ciúmes, se se importava comigo. Por meses estive
tentando medir seus sentimentos, e não tinha certeza se via
amor genuíno, ou apenas uma reflexão de meu amor e espe-
rança tolos. Esta noite, minhas esperanças foram destroçadas
para sempre.
Magda (P47), aquela mulher vil e burlesca, estava tremu-
lando seu cabelo artificial e mostrando seus seios grotesca-
mente desproporcionais numa fantasia que mal era um véu
de uma mulher decente. Foi uma exibição nauseante — mas
Michisune não se ofendia. Não, Michisune se levantou e
cantou com ela — e a canção era a que tínhamos escrito,
minhas palavras e sua melodia, para o casamento de Michi-
kane (P15) e Kimi (P3).
Sempre achei secretamente que a canção de casamento
era sobre um casamento entre eu e Michisuna como era
entre Michikane e Kimi — minhas palavras presas à sua
música, a maneira que eu esperava que nossos corpos se
prendessem. E então ele vai e a põe na boca daquela puta
estrangeira, aquela caricatura de feminilidade que não podia
ler um poema rokugani nem para salvar sua miserável vida!
Em contos, ouve-se de um soldado em batalha que se en-
furece; uma nuvem negra nubla seus olhos e ele não se im-
porta com nada além da morte seus inimigos, sem considerar
a própria vida. Ouvir minhas palavras naquela boca estran-
geira, aquela nuvem negra veio sobre mim, só que minha
arma era minha língua, não uma espada.
Antes que soubesse o que estava acontecendo, estava de
pé, gritando ao máximo de minha voz para eles. Não me
lembro exatamente das palavras que disse, mas me lembro
de ver faces viradas para mim, olhos arregalados e bocas
abertas.
 Disse a ele que era um tolo por dar seu amor a alguém
que não era nem mesmo uma palavra, que era uma vadia e
uma estrangeira. Disse que ela esperava se tornar um pouco
mais parecida conosco e tentar roubar sua semente e seu
amor para convencer-se. Disse que um cão seria melhor
objeto de seu amor do que uma mulher estrangeira. Pelo
menos cães conhecem lealdade.
Então o acusei de traição — dizendo que era um crime
contra a nação misturar nosso sangue com o dos estrangei-
ros. Disse que ele devia ser louco por seguir tais luxúrias
imundas enquanto houvesse mulheres em Rokugan, mulhe-
res com sangue puro, que dariam sua honra, seu amor e até
mesmo suas vidas sendo sua esposa. Disse muitas coisas
também — que o odiava, que me lamentava por ter falado
com ele ou dado-lhe um pensamento sequer, e então caí em
lágrimas e fugi na noite.
O Clã Caranguejo
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Kaiu
Shinya não é uma borboleta social
— mas o que se esperaria de um
membro de seu clã? Ele é um talen-
toso armeiro e pouco se importa
com as políticas da cidade; esses
dois fatos o mantém nas boas graças
dos nobres, mesmo que ele seja de natureza taciturna.
Nesta cidade de mercadores, planejadoras e políticos,
Shinya é um dos poucos que conhecem a batalha; ele perdeu
sua perna esquerda, logo abaixo do joelho, nas Terras Som-
brias. Ele agora cria pernas artificiais e raramente é visto
sem uma ornada bengala. Ele honra seu ferimento em bata-
lha, e por isso o respeito.
De algum modo, não posso. Kaiu Shinya nunca foi nada
além de respeitoso e prestativo para comigo, mas não gosto
dele. Há algo em seu olhar que faz meus dentes doerem e
meus dedos coçarem pela espada. Temo não ter encontrado
a menor indicação de que ele seja um criminoso; mas temo
em meu coração que ele é mal.
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 19º Ano
do Reinado de Hantei XXXVIII, 26º Dia, Mês do Cão
Mês passado, um casamento foi anunciado entre Kimi
(P3) e Michikane (P15). Hoje um casamento muito menos
importante foi anunciado, mas ainda é um doce.
Encontrei Kaiu Shinya apenas uma vez antes, e ele cau-
sou uma impressão singular. Em grande parte ele é comum;
um homem grande com um nariz vermelho e um bigode
cujo estilo saiu de moda há dois anos. Mais notável era sua
perna direita, que foi aparentemente decepada abaixo do
joelho enquanto estava nas Terras Sombrias (ninguém sabe
como, mas há muita especulação). Ele aparentemente se
diverte construindo elaborados substitutos. Não contente
com uma simples prótese, a perna que usava quando nos
encontramos pela primeira vez tinha um arranjo de molas
para amortecer o peso enquanto caminhávamos. Além disso,
era elaboradamente decorada com motivos de teias de ara-
nha, e a cada passo, uma aranha mecânica subia e descia as
teias de sua perna. Parecia assustadoramente astuto, mas não
quis olhar muito de perto.
Em todo caso, hoje ele anunciou que providenciou um
casamento com uma jovem mulher do clã Pardal, que é
esperada na cidade em uma semana. Ele recebeu muitas
congratulações; hoje sua perna era uma elaborada gaiola
com um pássaro vivo cantando lá dentro.
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 20º Ano
do Reinado de Hantei XXXVIII, 13º Dia, Mês do Touro
Kaiu Shinya causou muitos comentários ao se casar com
sua pretendida após uma corte de nem mesmo três meses.
Considerando o ano que Kimi e Michikane estão demoran-
do, ele parece apressado. Apesar de sua explicação — ―Sin-
to que todo dia que atraso meu casamento é um dia em que
me arrependo por continuar solteiro‖, tenha me soado terri-
velmente doce e sincera.
Devo dizer que não sei muito sobre ela; ela se chama
Sakyo, e parece tímida como um camundongo. Além de,
infelizmente, parda. Só a vi uma vez, quando chegou, e nada
que fizesse me dava a impressão de que seria do tipo que
despertaria tal paixão no peito armadurado de um Carangue-
jo. Mas quem pode compreender o mistério do amor?
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 19º Ano do
Reinado de Hantei XXXVIII, 8º Dia, Mês do Porco
62
 Não sou mais a mais jovem sa-
murai de Ryoko Owari, dado o
comportamento da recém-chegada,
dificilmente pensariam nela como
nobre. Seu nome é Yasuki Nobuko,
e ela tem a face angulosa e o corpo
magro de um rato ou um vendedor
de macarrão ambulante. Suas ações fazem pouco para dis-
pensar a impressão.

Recebi um pequeno elogio de um velho senhor nas cores

do clã Garça. Ele me disse que tida lido vários de meus
poemas e foi profundamente tocado pelos seus sentimentos.
Fiquei tão corada que nem mesmo lembro seu nome. Depois
descobri que ele era Ashidaka Naritoki — Magistrado de
Esmeralda de Ryoko Owari!
Será que ele mostrou meus versos ao Campeão de Esme-
ralda? Que eles podem ser lidos pelo próprio Imperador!
Mas estou certamente sendo uma menina tola se crio muitas
Ela é ousada, ela encara, insinua e é pacientemente in- esperanças… Mas não se deve esperar pelo melhor?
sincera em seus elogios, ela é grossa e provinciana demais, e “MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 20º Ano
o pior de tudo é que parece se importar com comércio acima do Reinado de Hantei XXXVIII, 1º Dia, Mês do Cavalo
de tudo. Já houve uma mulher tão burra e cansativa na histó- Hoje vi algo perturbador e singular. Estava no mercado a
ria? Claro que não. Não há dúvida em minha mente que ela caminho de visitar meu Amigo Querido, quando ouvi grande
é algum tipo de farsa. comoção. Um heimin correu numa esquina e me empurrou
rudemente para fora do caminho, mas antes mesmo que eu
pudesse gritar, um cavalo cruzou a esquina a pleno galope.
O Clã Garça Montando o cavalo estava Ashidaka Naritoki, o Magis-
trado de Esmeralda local. Ele tinha um longo chicote na
Mao, e quando se aproximou, golpeou o heimin e o derrubou
“MEMÓRIAS DE UMA COME- no chão. O heimin tentou se levantar, mas o cavalo de Nari-
DORA DE ÓPIO”: 19º Ano do Rei- toki empinou, e fez como se fosse pisoteá-lo, e ele caiu de
nado de Hantei XXXVIII, 17º Dia, novo. Naritoki saltou ao chão e agarrou o criminoso pelo
Mês do Cão braço.
Houve grande celebração hoje Não vi o que fez a seguir, por causa dos dois acompa-
pelo aniversário do filho da Gover- nhantes de Naritoki. Palavra Verdadeira (P33) e Amplo
nadora, Shosuro Jocho (P2). Todo (P32) que surgiram, bufando. Eles também desmontaram, e
nobre na cidade foi, vestido em seus melhores trajes. Foi logo as mãos do criminoso estavam amarradas às suas cos-
uma visão magnífica. tas.

63
 Supus então que eles o levariam para o Saguão Civil
(L7), mas não. Ao invés disso, Naritoki disse algo a Amplo,
e o criminoso empalideceu. Amplo pegou uma corda de sua
sela enquanto Naritoki levou as mãos à boca e gritou ―Jun-
tem-se! Venham, todos vocês! Vejam — o temível ninja!‖
(A3).
Ao dizer isso, seu prisioneiro deu um grande gemido —
e deveria, pois Amplo amarrou uma corda às suas amarras e
passou a outra ponta pela calha de um telhado. Enquanto
Naritoki nos chamava a olhar, Amplo puxou a corda e er-
gueu o homem no ar — pelos pulsos, que estavam em suas
costas.
―Este é o homem que furtou a casa de Yasuki Nobuko
(P24)!‖ Gritou o magistrado. ―Agora podem ver a face dos
ninjas que temem!‖ Com isso, ele pegou seu chicote e deu
uma chibatada feroz no homem.
―Onde estão seus truques de desaparecimento agora? Su-
as fugas miraculosas? Seus poderes sobrenaturais?‖ A cada
pergunta, Naritoki espancava o prisioneiro, que gritava dolo-
rosamente. A face de Naritoki avermelhava a cada vez que
gritava e golpeava.
―Poderíamos pensar que ele não nada além de um ho-
mem! Um homem que se julgou astuto! Um homem que
violou o lar de seus superiores, os roubou, bem ciente do
Imperador e sua lei! Um homem certo de que poderia esca-
par! Bem, bom povo, permitam-me garantir — ele não esca-
pará desta vez!‖ Ele pontuou cada frase com um golpe, e em Nele temos uma perfeita marionete ou um bufão, e esta
sua sentença entrou em frenesi, espancando o homem até noite o vimos em mais uma interessante farsa. Bêbado, co-
que ficasse encharcado de sangue como uma poça de chuva. mo disse, e mugindo de amor por uma geisha chamada Oko.
Ele só parou quando ficou sem fôlego, e então assentiu para Como hinin, ela ainda é sábia para submeter-se aos abraços
Amplo. de Michitaka quando está sóbrio. Bêbado, ele é simplesmen-
O grande ronin puxou a corda, colocando o prisioneiro te um espetáculo monstruoso demais para qualquer uma
cada vez mais alto — e então o soltou. Não pude olhar, mas exceto as mais desajuizadas prostitutas.
ainda ouço o ruído de sua cabeça atingindo a rua de parale- Assim, encontramos Michitaka bêbado ajoelhado ao
lepípedos. chão diante de sua porta, proclamando sua imortal paixão
entre soluções. O que ele não viu era que Oko estava, de
fato, fora de sua câmara com o resto de nós.
Sua próxima ação foi tão corajosa e tórrida que todos nós
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDO- não paramos de rir lá dentro. Enquanto Michitaka gemia e
RA DE ÓPIO”: 20º Ano do Reinado soluçava diante da porta, ela saiu pelos fundos, e logo voltou
de Hantei XXXVIII, 16º Dia, Mês com uma jovem geisha chamada Licor (Tomitsu). Agora,
do Dragão Licor não é talentosa nas artes da conversação e música, e
Na Casa da Estrela da Manhã ainda tem uma longa face que poderia ser mais bela numa
(L23) esta noite, vi o mais patético e égua do que numa mulher.
repugnante espetáculo — embora um Oko trocou de vestes com Licor — e devo acrescentar
monstruosamente divertido. Foi Ashidaka Michitaka, primo que Licor era uma cabeça mais alta que a outra mulher, logo
de nosso venerável Magistrado de Esmeralda (C26), que o fino e colorido manto de Oki parecia pequeno e ridículo
estava bêbado como uma esponja num barril de sakê. nela — e Oko estava implorando a Licor para mentir com
Michitaka possui semelhança superficial ao seu primo, Michitaka e fingir ser ela (isto é, fingir ser Oko). Licor não
mas apenas da mesma maneira que um goblin lembra um queria, e disse que seria descoberta, mas Oko implorou, e
homem normal. Onde Naritoki é atarracado, Michitaka é tão jurou que Michitaka estava bêbado para saber a diferença.
gordo que sua barriga rola por baixo dos mantos. Não é só Então ela empurrou várias moedas na mão de Licor até que
sua gordura que o torna ridículo, porém; ele se veste tão ela tentasse.
escandalosamente que faz um Unicórnio daltônico rir. Aci- Não posso nem imaginar o que houve quando Licor en-
ma de tudo isso, ele se julga um homem de cultura e refino, trou no quarto de Oko com Michitaka.
quando de fato não tem uma fração da elegância e inteligên-
cia de seu primo.

64
 “MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 20º Ano
do Reinado de Hantei XXXVIII, 17º Dia, Mês do Dragão
Hoje minha Amiga Querida mencionou que Michikata
foi à prataria hoje e comprou um caro pente de nosso melhor
artesão. Ela disse que ele nunca parava de sorrir e disse que
era para uma bela dama que finalmente aceitou seu amor
para com ela.
Pobre Licor!
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Doji Su-
kemara é um respeitável patrão
mercador do clã Garça. Embora
tenha muitos vassalos, ele não pare-
ce ser o patrão atarefado que muitos
na cidade são. Ele parece guardar
tempo para as coisas finas — ele é
um grande artista de ikebana, e me disse que ainda tenta
praticar com sua katana por uma hora por dia.
Ele é maturo em anos. Sua esposa é tão graciosa que
quando alguém a visita, ela sempre tem à mão o que quer
que esse alguém deseje, mas é simultaneamente tão modesta
que é como fosse invisível ela o servir.
65
O Clã Dragão
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Ninguém
tem certeza absoluta do que dizer de
Kitsuki Jotomon. Ela mostra pouco
interesse nos romances que ocupam
os jovem nobres, nem aptidão para
planos mercantis que fascinam os
mais velhos. Ela só tem uma paixão,
que é a esgrima.
Não se engane; embora pareça tímida e crédula, ela é
uma mulher perigosa se tiver uma arma ao alcance. Lhe
darei um exemplo: Estive certa vez presente numa demons-
tração de sua perícia. Gostaria de dizer que a vi, mas foi
rápida demais para ser vista. Ela estava diante de uma vela
acesa, posta numa vara de bambu. Então ela cortou a vela ao
meio, junto com meio metro de bambu. Ela fez tudo com
tamanha rapidez que pareceu apenas uma piscada; mas ela
cortou o pavio da vela ao meio muito bem — e os dois lados
continuaram acesos.
Há um exemplo popular de sua perícia, mas há mais em
Jotomon do que perícia. Ouvi uma história sobre ela dos
Bombeiros Braço Forte. Eles diziam que certa vez encontra-
ram Bombeiros do Gume do Instante na sua área da cidade,
e, já que estavam em maior número, decidiram dar-lhes uma
surra para ―mantê-los humildes‖. Ocorreu que Jotomon
chegou ao tumulto enquanto o líder dos Braços Fortes estava ser enganosa, desleal ou qualquer outra coisa além oferecer
chutando um oponente caído. completa cooperação aos de maior posição.
Ele disse que Jotomon a agarrou e o imobilizou, e então Talvez seja sua própria honra que me preocupe. Talvez
disse a ele, ―O que está fazendo? Não percebe que poderia seja uma medida de quão perniciosa e corrupta esta cidade
ser executado por isso? E se você o matar? Não pode ver de tornou; mas sei que os de pouca honra consideram devo-
que está indefeso?‖ Ele me disse que ficou impressionado tos do bushidô pulhas ingênuos — facilmente orientados por
que mesmo embora ele lutasse com ela, ela estava preocu- nosso forte dever ao que é certo e errado.
pada com seu futuro e bem estar.
Talvez esta atitude explique alguns de seus comporta-
mentos estranhos — especificamente, ela abriu um dojô
localizado no Quadrante Mercante, não muito longe do píer
sudeste. Ela tem alguns estudantes nobres — os filhos (P15,
P16) de Ide Baranato (P14) estudam com ela, junto com
Iuchi Sadako (P21) e um membro do clã Mantis chamado
Camarão (P34). Ela também aceita alunos camponeses, o
que ocasionalmente causa muita balbúrdia (como pode ima-
ginar).
Quando Governadora Hyobu (C9, P1) descobriu que Jo-
tomon estava ensinando bushidô aos plebeus, seu primeiro
pensamento foi cumprir a lei que proíbe tal instrução. Joto-
mon, porém, pediu por uma oportunidade de explicar sua
causa. Hyobu concordou, e arranjou uma junta consistindo
de mim, a Governadora, Jocho (P2) e Yogo Osako (P10). A
junta poderia aconselhar livremente, mas no fim a decisão
era apenas de Hyobu.
Osako e Jocho estavam esperando pouco de Jotomon,
exceto por alguma tentativa transparente de manobra políti-
ca. Jotomon certamente era transparente; ela disse que se
qualquer aluno dela fosse acusado de um crime, Jotomon
compartilharia de qualquer punição.
―Acredito,‖ ela disse, ―que o código de bushidô fortalece
almas e melhora os que o estudam. Expulsarei qualquer um
que eu julgue meio indigno de meu conhecimento, e aceita-
rei as conseqüências de quaisquer falhas de julgamento.‖ Até agora, esta jovem mulher conseguiu evitar ser enre-
Então ela disse que aceitaria de bom grado a lei se pu- dada pelas maquinações dos homens malignos. Temo por
déssemos responder duas perguntas. ―Primeiro, se vocês ela, porém. Como magistrada sei mais do que muitos que o
acreditam que o caminho do guerreiro melhora a alma, não botão puro atrai os mais venenosos insetos.
faz sentido dar suas melhorias àqueles cujas almas são as “MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 20º Ano
mais fracas? Ou apenas as almas samurais precisam de me- do Reinado de Hantei XXXVIII, 21º Dia, Mês do Tigre
lhorias? Em segundo lugar — se vocês acreditam que samu- Que embaraçoso! Acordei hoje em minha asa, sem idéia
rais são realmente superiores aos heimins e hinins, por que de como cheguei aqui!
temem? Certamente tais inferiores nunca poderiam se tornar Noite passada, fui a uma celebração do aniversário de
guerreiros superiores.‖ Michikane, onde temo ter exagerado no sakê e no ópio. Sei
Não tínhamos respostas. Hyobu aceitou os argumentos que isso não é bom para mim, mas me sentia entediada…
de Jotomon e negou sua lei. Porém, Osako, eu e a Guarda Não, solitária em reuniões onde todos bebem menos eu.
Trovão vigiamos de perto seus alunos plebeus. Nunca houve Então eu bebi. E a leveza de minha mente até o segundo
problema algum. gole pareceu razoável. Após o segundo, o ópio é mais atrati-
vo.
Lembro-me da progressão da noite passada — mas de-
O Clã Leão pois disso vem um branco. Porém, meu servo me disse que
uma carta foi deixada comigo pela mulher que trouxe aqui.
A carta dizia simplesmente ―Você deve estar muito triste
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Ikoma Yo- para desejar se perder assim. Quisera puder ajudar com seu
riko é uma samurai-ko do Leão no lamento.‖ Foi assinada com o carimbo de Ikoma Yoriko.
mais real sentido da expressão. Ela Estou cheia de vergonha. Yoriko é tão superior a mim
fez votos estritos e os segue com quanto as nuvens acima do oceano. Não apenas é de alta
completo rigor. Nunca soube dela patente, e bela, mas também bastante célebre por sua honra

66
irrepreensível. Seus votos de samurai-ko incluem uma jura
de celibato. Ouvi que muitos homens a testaram — os rumo-
res dizem que Bayushi Korechika (P5) e Shinjo Sanefusa
(P12) fizeram avanços, mas foram repelidos.
De agora em diante, a tomarei por meu padrão. Ela é só
alguns anos mais velha que eu. Como eu, ela vive por si,
longe das terras ancestrais, numa cidade com poucas pessoas
de seu clã. Se ela pode viver uma vida de excepcional virtu-
de, então posso certamente evitar a embriaguez e o ópio, e
levar uma vida de virtude normal ao menos.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Kitsu
Senshi é um pilar de virtude num
antro de vício. Shugenja, ela se
dedicou aos espíritos por já quase
trinta anos. Ela tem sido uma apoi-
adora inexorável da justiça do
Imperador desde a minha chegada,
e fico feliz por isso.
O Clã Fênix
DOSSIÊ DE SHIGEKO: O vi a-
penas poucas vezes; ele me parece
um pouco recluso, preferindo a
companhia de seu lar e sua biblio-
teca do que a de seus iguais. Po-
rém, o consultei uma vez numa
67
questão de botânica. Ele é conhecido como especialista no
assunto e um estranho broto havia sido encontrado numa
pegada deixada por bandidos.
Ele é um homem pequeno de tremenda idade, e dá a im-
pressão de distância comum a muitos que são íntimos do
mundo além. Preciso lembrá-lo de meu nome várias vezes, e
ao menos uma vez lembrá-lo da razão de visitá-lo. Ele, po-
rém, me informou que o broto era de uma trepadeira que
crescia ao longo dos bancos do Rio do Ouro em grandes
altitudes. Esta pista eventualmente me levou ao esconderijo
dos bandidos e ao extermínio dos criminosos em particular.
É de meu entendimento que ele também é um tipo de
historiador.
―MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 19º Ano
do Reinado de Hantei XXXVIII, 9º Dia, Mês do Cavalo
Já faz vários anos desde que visitei Ryoko Owari — mas
ainda assim, seus muros sobre os morros e as grandes pedras
talhadas do Portal do Dente de Oni (L14) ainda maravilham
meus olhos, tal qual quando era uma menina.
Tio Kinto, porém, parece ter encolhido. Não me lembra-
va dele ser tão pequeno, tão grisalho, tão frágil! Ele parece
uma pipa de papel de arroz a ser levada pelo vento mais
leve.
Ele ficou muito feliz em me ver, como sempre, e me im-
plorou para passar a noite na cidade como sua visitante;
embora estivesse com vontade de ver minha casa, não pude
recusá-lo.
Após um ótimo jantar, ele me levou de volta ao jardim.
Pelo menos ele não encolhera! De fato, ele recuperou uma
parcela de terra, deixando sua modesta casa diante de um
grande jardim como sempre — mas ele não tinha nada mais
para me mostrar. Enquanto escavava seu jardim, ele encon-
trou pedras da antiga fundação. Ele me disse que usou um
Ronins e Clãs Menores
manuscrito para falar com os espíritos das pedras, e eles o
responderam numa língua estrangeira! Convencido de que
era um lugar antigo, ele tem cavado industrialmente na área
e desenterrou várias estátuas estranhas. Ele as mostrou para
mim — seu feitio é muito incomum. Elas parecem muito
detalhadas, mas estranhamente estilizadas — como se esti-
vessem tentando mostrar a coisa que obviamente são. Ele
diz que são estátuas dos Nagas — homens e mulheres que
são grandes serpentes abaixo da cintura.
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 20º Ano
do Reinado de Hantei XXXVIII, 2º Dia, Mês da Ovelha
Adoeci de morte pelos reclames de Tio Kinto. Tentei ser
uma parenta responsável, mas não posso mais aturar isto.
Mês passado ele apareceu e criticou minha escolha de com-
panhias — não estridentemente, é claro, mas à sua maneira
tênue, hesitante e cautelosa. Ele não podia chegar e conde-
nar minha vida, mas tentou (por sua maneira humilde) dei-
xar claro o que ele achava que Jocho (P2) era má influência
e eu devia passar minha vida em atividades mais ―ilumina-
doras‖. Toda vez que o recebo, foi o mesmo. Chegou a ser
tão desagradável que deixei instruções para que os servos o
dissessem que estava fora ou indisposta. Ele finalmente
percebeu que não quero vê-lo, então é claro que ele está
escrevendo cartas.
É agonizante; sei que ele me ama, e só está fazendo o
que pensa ser o melhor para mim — mas está preso ao pas-
sado, e quer o que é melhor para a garotinha que fui. Se ele
apenas soubesse como as coisas mudaram para a mulher que
sou…
Pobre Tio Kinto. Suponho que não possa culpá-lo por DOSSIÊ DE SHIGEKO: O ronin
viver no passado. Afinal, o que o presente tem a oferecê-lo? chamado Amplo faz jus ao nome —
Um corpo frágil, uma mente distraída e uma vergonhosa e ele é uma grotesca pilha de músculo
decadente sobrinha. e gordura. Ele trabalha para um
jogador chamado Carne Magra
(P50) oferecendo o que ele chama
de ―serviços de ameaça‖. Conseqüentemente, ele fugiu al-
gumas vezes, de mim, Osako (P10) e da Guarda Trovão
(C10) após quebrar os braços de alguém por uma cobrança
rotineira de dívida.
Amplo normalmente é aberto à razão, assim que o res-
peitar. Ele é um homem bastante estúpido, e conseqüente-
mente tem pouco controle sobre suas emoções. Ele não é
furioso; custa um pouco de provocação para perturbá-lo,
mas assim que está com raiva é extremamente difícil de
acalmar. Além de ser muito forte, ele é proficiente com
ataque de jiujutsu conhecido como Arremesso de Duas
Mãos.
(Vide P25 e P14)

68
 “MEMÓRIAS DE UMA DOSSIÊ DE SHIGEKO: Este ma-
COMEDORA DE ÓPIO”: 19º Ano do rinheiro tem aliança ao clã Mantis,
Reinado de Hantei XXXVIII, 23º mas parece pouco atentar para o
Dia, Mês do Cão dever de seu senhor quando veleja.
Hoje tive um perturbador encon- Em certa ocasião, encontrei sedas
tro com um homem chamado Pala- das ilhas em seu barco que não
vra Verdadeira, que é um dos assis- tinham marca de tarifas; tive que
tentes de Naritoki (P25). Estava eu na loja de prata visitando confiscar o lote.
minha Amiga Querida quando ele entrou e começou a elogi- Tenho vigiado-o; porém, devo dizer que seu comporta-
ar uma de nossas caixas lacadas decoradas. Ele manifestou mento ou melhorou ou que ele ficou muito mais engenhoso
sua admiração em termos certos, mas pareceu indisposto a desde que começou a estudar com Kitsuki Jotomon (P28).
concordar com minha Amiga Querida ou pagar nosso preço.
Então ele implicou que uma loja com tantos bens precio-
sos estaria sempre em perigo de roubo. Disse que tinha total
confiança na vigilância dos magistrados. Soltando a caixa,
ele olhou bem nos meus olhos e me disse que um magistra-
do feliz, com boas coisas para se orgulhar, é mais vigilante.
Fiquei impressionada por tão aberta demonstração de cor-
rupção e simplesmente banquei a caipira até que ele saísse
em desgosto.

69
 DOSSIÊ DE SHIGEKO: O apelido
deste ronin vem de uma desfigura-
ção que ele sofreu de um tetsubo.
Ele é um homem preguiçoso, moro-
so e contraproducente, muito pro-
penso a reclames e especulações vis
de futuros desagradáveis.
Sua auto-piedade é tão irritante quanto suas desculpas —
e ele tem muitas, pois tem muito pelo que se desculpar. O
prendi por vender sakê sem licença (ele depois admitiu tê-lo
roubado) e dei-lhe um espancamento público por se envol-
ver numa briga no Quadrante Licenciado.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: A ronin
chamada ―Pomba‖ é um enigma
para mim. Ela trabalha como yo-
jimbo (guarda-costas) por dinheiro,
e aparentemente é bem competente
em seu ofício. Em duas ocasiões
separadas ela matou hemins — um
membro dos Bombeiros Braço Forte e três Comedores de
Fogo (C12). Ela disse que o Braço Forte estava ameaçando
um mercador que ela havia sido contratada para proteger
(ele desde então foi recolocado rio abaixo ao Jardim Sob
Sombra da cidade). Na segunda ocasião, ela disse que os
Comedores de Fogo fizeram avanços perigosos.
Ninguém sabe muito sobre o seu passado; ela mesma só
dirá que foi contratada pelo Caranguejo para trabalhar nas
Terras Sombrias — e que suas experiências lá deixaram seu
cabelo branco.

Sacerdotes e Monges
“MEMÓRIAS DE UMA
COMEDORA DE ÓPIO”: 20º Ano do
Reinado de Hantei XXXVIII, 28º
Dia, Mês do Coelho
Nunca mais irei ao Templo de
Daikoku, mesmo que fique mais
velha que as montanhas! Nunca fui
tão insultada e duvido que serei novamente. Que tipo de
alma deturpada retribui gratidão com malícia?

70
 DOSSIÊ DE SHIGEKO: Pouco vi o pequeno Abade dos
Monges de Daikoku enquanto estive em Ryoko Owari, mas
ouvi rumores de comportamento extremamente incomum. A
única vez que o encontrei foi durante um festival, no qual
ele me disse que eu podia esperar fazer pouca melhora na
ordem social de Ryoko Owari.
―Pode um corvo ensinar um peixe a voar?‖ Ele me per-
guntou. ―Certamente que não — um peixe não teria uso para
tal conhecimento. Mas um peixe pode ensinar a outro.‖
Perguntei a ele o significado deste enigma, e ele apenas
riu. ―Agora o corvo quer aprender a nadar?‖

Esta manhã, quando fui agradecer por minha boa fortu-

na, e deixei o templo, vi o abade em pessoa. Ele estava sor-
rindo, mas me curvei a ele e dei meu nome, seu sorriso su-
miu.
―Vim para mostrar minha gratidão,‖ eu disse a ele, ―Pois
tenho sido muito abençoada por Daikoku com riqueza.‖
―Você está errada,‖ ele disse, sua voz tão seca quanto DOSSIÊ DE SHIGEKO: O monge
seus olhos. ―Você tem recebido a maldição de Daikoku.‖ Jirohei, que tem autoridade sobre as
Naturalmente, fiquei surpresa. finanças do templo e é responsável
―Maldição? Mas… Mas tenho tido sorte! Tenho feito pelo pagamento de taxas imperiais e
muito dinheiro desde que vim para cá!‖ locais, é em toda maneira mais
―Esta é a maldição; riqueza imerecida só atrai infortúnio respeitoso e prestativo que seu aba-
à alma fraca.‖ de. Ele nunca se atrasou em seus impostos e sempre é exa-
―Mas como isso pode ser um maldição?‖ tamente preciso em suas dívidas. Em todo caso em que se
Ao invés de me responder, ele procurou em seu bolso e relacione com os Monges de Daikoku, recomendo intensa-
sacou um pesado punhado de moedas de cobre. Com toda a mente que receba a ajuda deste indivíduo.
sua força, ele o jogou em mim. Eu gritei, e ele pegou outro
punhado. Comecei a correr, quando ele jogou outro tanto em
minhas costas.
―Riqueza só é recompensa para aqueles que sabem como “MEMÓRIAS DE UMA
gastá-la tão sabiamente quanto a recebem! Aprenda esta COMEDORA DE ÓPIO”: 19º Ano do
lição, ou a maldição de Daikoku lhe colocará numa tumba!‖ Reinado de Hantei XXXVIII, 16º
Estou cheia de hematomas. Jocho (P2) vai dar queixa aos Dia, Mês da Ovelha
magistrados (P10). Hoje fui ao Templo da Deusa
Sol e tive a sorte de ver a sumo-

71
sacerdotisa Meiyo a serviço. Ela é muito velha, e não cum-
pre tarefas regularmente.
Ela é uma mulher minúscula que se move com tanta gra-
ça e delicadeza que não parece andar, mas flutuar. Embora
eu tenha visto a cerimônia que ela realizou centenas de ve-
zes na vida, era como se sua simplicidade a reinventasse
para mim. Embora ela não estivesse falando, parecia que a
luz do sol estava entrando em minha alma.
Mercadores
DOSSIÊ DE SHIGEKO: A cidade de Ryoko Owari está
cheia de mercadores, e dar um total registro deles seriam
cansativo e sem sentido. Descrevi aqui alguns dos mais
importantes para este dossiê; informações de qualquer outro
mercador pode ser obtida de Yogo Osako (P10) ou outro
magistrado local. Esteja avisado, porém; quando um merca-
dor escolhe um Escorpião como patrão, a decisão é normal-
mente feita com a crença de que o patrão protegerá o merca-
dor do magistrado bem como dos bandidos.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Exilei não
menos que três empregados de Afia-
do por contrabando de ópio — o
último se entregou voluntariamente,
expressando sentimentos sobre que-
rer ―limpar sua casa‖, mas suspeito
que ele simplesmente estivesse men-
tindo para salvar a própria pele. Ele é um vassalo de Bayushi
Korechika (P5), que é um sonoro e beligerante defensor de
seus interesses mercantis.
Afiado possui várias barcaças e se especializa em movê-
las rio acima e abaixo entre os domínios do Escorpião e
terras do Caranguejo. Para complicar, ele também tem licen-
ça legítima para transportar ópio cru rio abaixo para propósi-
tos medicinais. Pressionei Yogo Osako (P10) para renovar
sua licença, mas contra meus desejos ela não o fez.
72
 DOSSIÊ DE SHIGEKO: Primo
mais velho, mais sábio e mais prós-
pero de Afiado (P40) — possivel-
mente por sua patroa ser a própria
Shosuro Hyobu (P1, C9). O encora-
jei a tentar exercer controle sobre
seu parente, mas sem sucesso. Só
posso esperar que Afiado aprenda pelo seu exemplo.
Sutil também é um exportador, mas diferente de seu ir-
mão, ele transporta seus bens por terra, levando-os pelo
Estreito de Beiden para o leste, e então ao coração de Roku-
gan. Ele move grande quantidade de bens, mas seus interes-
ses primários são sakê, sedas, madeira e cerâmicas finas.
73
DOSSIÊ DE SHIGEKO: A patroa
de Vigilante é a própria temível So-
shi Seiryoku (P9). Ninguém que
trabalhe para ela foi flagrado em
atividade ilegal (embora já tenha
havido um número suspeito de ―mor-
tes acidentais‖ a cada vez que a sus-
peita atinge suas empresas). Ela é um
nervoso rato em forma de mulher cujo medo de sua senhora
supera até mesmo a ameaça de tortura.
Minhas suspeitas de sua patroa me fazem sentir que há
algo de escuso em seus negócios, mas tenho sido incapaz de
provar algo.
 DOSSIÊ DE SHIGEKO: Cavalo já DOSSIÊ DE SHIGEKO: Construtor
foi vassala da família Shinjo (P11, é o mais próspero de Doji Sukemara
P12), mas recentemente mudou sua (P27). Ele supervisiona um grupo de
aliança para Bayushi Korechika carpinteiros, e se tornou bem respei-
(P5), que a fez a ela uma notavel- tado como construtor confiável. Isto,
mente generosa oferta. Ouvi que é claro, o tornou alvo da malícia do
Cavalo será isenta de todos os deve- Escorpião. Sukemara, felicito-me
res formais a Korechika por um ano, em troca de sua lealda- em dizer, demonstrou um notável talento em usar os planos
de. do Escorpião contra eles mesmos e sair invicto no fim.
Cavalo dirige um extenso estábulo que produziu alguns Mesmo assim, Construtor está provavelmente em risco,
dos melhores corcéis de Ryoko Owari. Há rumores de que apesar de sua riqueza.
Korechika esteja pressionando-a para concentrar-se menos
em produzir montarias incríveis; ao invés disso, ela deveria
produzir números maiores de corcéis de menor (mas ainda
boa) qualidade.
Isso me deixa profundamente suspeita. Por Afiado (P40),
Korechika já tem uma rede bem desenvolvida de transporte
fluvial. Se Afiado puder ter um suprimento de bons cavalos
também, ele poderia começar a competir com os negócios de
transportes terrestres de seu primo.
Não me importo nem um pouco com tais manobras mer-
cantis se não suspeitasse que Afiado seja o contrabandista de
ópio dos Bayushi. Esta suspeita me incomoda ainda mais
por ele poder forjar trilhas ao coração de Rokugan.

74
 que toda a ordem social de Rokugan é baseada em violência
— e acho muito difícil discutir contra ele.

O Quadrante Licenciado
“MEMÓRIAS DE UMA
COMEDORA DE ÓPIO”: 20º Ano do
Reinado de Hantei XXXVIII, 28º
Dia, Mês do Touro
Tem sido um dia frio e feio. A
neve tem coberto o chão junto com
manchas de lama e urina de cavalo.
Michikane (P15) queria ir ao Quadrante Licenciado, e não
seria dissuadido. Entediada, concordei em ir também, e
implorei que convidasse Michisuna (P22). Logo, um grande
grupo havia se reunido, e estávamos esperando impaciente-
mente enquanto servos tiravam o gelo de nossos barcos para
a curta viagem até a ilha.

“MEMÓRIAS DE UMA
COMEDORA DE ÓPIO”: 20º Ano do
Reinado de Hantei XXXVIII, 28º
Dia, Mês do Dragão
Estou ultrajada! Hoje minha A-
miga Querida me informou que o
mercador Sussurro — um puxa-saco
repulsivo que trabalha para a cara de rato da Nobuko (P24)
— estava vendendo jóias que usam padrões e motivos de
meus artesãos! Não apenas está vendendo idéias deles, mas
também usa cobre barato e prata adulterada, e está pondo-as
nas caravanas — esperando que as pessoas as confundam
por coisas reais!
Minhas piores suspeitas deles se confirmaram. Não pos-
so exatamente ir para Yogo Osako (P10) — sei o tipo de
recepção que terei. Naritoki dificilmente se importará sobre
um reclame estritamente mercantil. Pedi conselhos a Jocho
(P2). Ele sorriu e disse para não me preocupar.
―Memórias de uma Comedora de Ópio‖: 20º Ano do
Reinado de Hantei XXXVIII, 29º Dia, Mês do Dragão
Hoje um grupo dos Guardas Trovão de Jocho (C10) foi à
loja de Sussurro e ―acidentalmente‖ derrubou uma das cai- Como mencionei antes, há um grande homem chamado
xas contendo as jóias de feitios roubados. Aparentemente o Portal que guarda a entrada para o Mundo Flutuante; um
mercador começou a reclamar em voz alta, e teve alguns samurai não pode chegar ao Distrito Licenciado pelas docas
dentes arrancados por seu problema. sem passar por sua loja, a ―Espadas Polidas‖ (L20). Simi-
Não sei… Embora eu esteja feliz pelo problema ter se larmente, não se pode deixar sua loja sem que deixe suas
resolvido, desejaria que Jocho fosse mais sutil em consertar armas com ele — além de uma soma de dinheiro para poli-
as coisas. Mas suponho que a ameaça de violência só fun- las. Sei que este é um simples ardil para permitir que samu-
cione quando há genuína violência atrás dela. Ele me diz rais deixem as espadas de seus avós sem perderem face —

75
mas ouvi que ele (ou um assistente) realmente pule as espa- mesmo assim. Ele manterá sua palavra e será um aliado
das, e faz um ótimo trabalho nisso. inestimável aos que ele julgar dignos.
Hoje percebi algo que acho já ter visto antes, mas nunca
pensei a respeito. Há uma estranha atitude entre Portal e os
visitantes à ilha. Portal é um ronin, mas não age como um —
ele não é desconfiado (como alguns) ou ardiloso (como
outros) e não tem o hábito de vergonha que muitos ronins
parecem instintivamente possuir. Ele se porta bem; sem o
orgulho arrogante de um jovem duelista, mas como um
velho general. Meus amigos nobres todos respondem a isso
como filhotes em volta de um grande cão de caça; eles são
respeitosos, quase humildes. Ele sempre olha a todos nos
olhos, e às vezes eles têm medo de olhar nos dele.
Ele se comporta como o Governador da Ilha Gota de Lá-
grima, e Espadas Polidas é sua sede.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Conheci Portal há muito tempo.
Tinha acabado de fazer meus votos; ele era um sargento da
infantaria do clã Leão, e atendia pelo nome de Akodo Yo-
godayu. Yogodayu e eu nos tornamos amigos próximos, e
servimos juntos no Estreito Beiden.
O homem que conheci era bravio e um pouco arrogante
— tinha grande orgulho dos feitos de seus ancestrais e ansi-
ava igualar-se a eles em valor.
Foi seu amor à sua própria história familiar que levou à
sua queda. No Castelo Ikoma ele encontrou documentos que
contradiziam o que sempre ouviu de seu avô, Akodo Ippai.
Ele nunca se cansava de contar as histórias de como Ippai
defendera o Estreito Beiden com apenas vinte samurais
contra mil Escorpiões até que o reforço pudesse chegar.
O que o documento mostrava era que Ippai não estava
sequer presente lá; ele deixou seus homens para enfrentar DOSSIÊ DE SHIGEKO: Magda é
uma falsa investida de forças maiores enquanto se retirava a uma mulher estrangeira com cabelo
uma posição superior. Os vinte homens — incluindo o pró- encaracolado estranhamente amare-
prio filho de Ippai — foram deixados para morrer para que lo e olhos da cor do céu. Ela possui
ele pudesse recuar e proteger o grosso de suas forças. Ippai e dirige a Casa das Histórias Es-
então mentira sobre a batalha — não apenas para ocultar trangeiras (L22) como vassala de
seus números (o que levou a uma posterior vitória) mas para Shinjo Sanefusa (P13) e seu pai
proteger sua reputação familiar também. (P11).
Yogodayu ficou tão devastado que pediu ao seu daimyo Como estrangeira, sua posição em Rokugan é tênue; ela
permissão para contar ao mundo a verdade sobre seu ances- pode permanecer em Ryoko Owari enquanto seus documen-
tral, então cometer seppuku para limpar a macha de sua tos forem renovados pelo Magistrado de Esmeralda todo
honra familiar. O daimyo recusou, dizendo que a história de ano. Isso lhe dá considerável poder sobre sua cabeça. Judici-
valor era mais importante que uma mentira do passado dis- almente aplicada, esta pressão pode lhe dar bastante infor-
tante. Yogodayu ficou chocado por seu senhor permitir que mação (há um velho ditador Escorpião que diz: ―Corações
sua família acreditasse numa farsa e continuar a honrar um são depósitos de segredos; lábios são suas trancas e línguas
covarde (ao menos, Yogodayu acreditava que Ippai era um são suas chaves‖. A senhora de uma casa de geishas sabe de
covarde). O daimyo lhe disse que se Yogodayu se sentia muitas coisas que mesmo um magistrado pode não saber).
envergonhado por sua família, ele podia ser aliviado do Magda sabe de sua posição, mas também é sábia o bas-
fardo. Yogodayu escolheu deixar sua família, e abandonou o tante para saber que removê-la causará muitos problemas
nome Yogodayu desde então. para um só magistrado resolver. Ela pode ser forçada — mas
Ele chegou a Ryoko Owari e tem vivido aqui desde en- não muito.
tão.
Pediria a meu sucessor que não dissesse a Portal que sei
de seu passado; ele sofreu tremendamente e não merece
punições além das que já causou a si mesmo. Ele tem um
tremendo senso de honra; talvez deslocado, mas é intenso

76
 real dor, enquanto outros olhavam com lábios desejosos e
partidos.
Depois da canção, Preciosa veio até minha mesa e se a-
presentou. Elogiei seu canto, e ela desviou o olhar modes-
tamente.
―Deve ser muito adulador ver tantos olhares admirado-
res,‖ eu disse. ―Eles a chamam de Rainha da Cidade Sem
Noite.‖
Ela sorriu, mas enquanto olhava nos meus olhos, pensei
ter visto tristeza. ―Talvez,‖ ela respondeu. ―mas não sou nem
mesmo cidadã do mundo da luz do sol.‖

DOSSIÊ DE SHIGEKO: O que

Preciosa (P48) é hoje — árbitra da
moda e governante do antro — Jóia
foi há dez anos. Não mais sob o
olhar direto dos admiradores, Jóia
se contenta em ficar atrás de Precio-
sa e guiá-la.

DOSSIÊ DE SHIGEKO: Preciosa é

a mais proeminente geisha da Casa
da Estrela da Manhã (L23) e como
tal é a não-oficial rainha da Ilha
Gota de Lágrima e do Quadrante
Licenciado. Embora Hyobu (P1, C9)
possa reinar no mundo político de
Ryoko Owari e Jocho (P2, C10) controle o militar, em ques-
tões de boatos, moda e (mais importante) favor social, a
influência de Preciosa é suprema.
Isso gera a questão de que tipo de mulher ela é; a respos-
ta é que não posso dizer. Ela é sempre tradicional, compla-
cente, amigável, respeitosa — e impenetrável. Há um ar de
perigo em toda conversa com Preciosa, pois é absolutamente
impossível saber se ela quer dizer o que diz, ou se simples-
mente está dizendo o que você quer ouvir (ela nunca diz
algo que alguém não queira ouvir; é um de seus vários talen- Jóia é a dona da Casa da Estrela da Manha (L23) e vas-
tos). sala de Shosuro Hyobu (P1, C9). Mesmo que seja uma hi-
As únicas palavras que podem se aplicar a ela com certe- nin, ela não deve ser considerada levianamente — e diferen-
za são ―bela‖ e ―influente‖. Qualquer outra impressão será te de Preciosa, Jóia tem uma agenda discernível.
uma falsidade deliberada. É impossível saber o que há atrás Esta agenda é sua prória riqueza e engrandecimento. Já
de sua face. que as fortunas de Jóia são mínimas às de Hyobu, ela segue
“MEMÓRIAS DE UMA COMEDORA DE ÓPIO”: 19º Ano sua agenda com total apoio da Governadora.
do Reinado de Hantei XXXVIII, 15º Dia, Mês do Cão Ela é uma mulher engenhosa, avara e manipuladora. Ela
Fui à Estrela da Manhã esta noite quando Preciosa estava tem acesso a grande soma de dinheiro, um grau maior de
cantando. Me vi olhando aos homens na audiência — todos influência social e opera bastante acima da lei.
tinham uma expressão extasiada. Alguns pareciam estar com Seu objetivo imediato é a destruição da Casa das Histó-
rias Estrangeiras.

77
O Quadrante Pescador
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Às vezes
imagino o que poderia ter aconteci-
do se eu tivesse matado Carne Ma-
gra, o trapaceiro quando tive a chan-
ce.
Ele é um salafrário, e totalmente
sem honra, mas tem um peculiar e
inegável charme. Ele dirige um jogo
de dados flutuante no Quadrante Pescador — que nunca fica
no mesmo lugar duas vezes, ele fica uma semana e se muda.
embora violência ocasional seja inevitável em tais encon-
tros, Carne Magra tem um talento para tornar o jogo mais
importante que o dinheiro. Ouvi várias vezes que ele não
aceitará apostas se perder deixar o apostador destituído.
Quando perguntado a respeito, ele diz que é tolice matar
uma vaca por couro se ela ainda está dando leite — mas
suspeito que seus motivos são tão misercordiosos quantos
mercenários.
Em suma — ele é um criminoso, mas um que sabe o seu
lugar. Ele dirige um jogo que é bastante inofensivo, e que se
fosse removido, é improvável que outro agenciador tão
perdoável tomasse o seu lugar.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Quando
deixo Ryoko Owari, me vejo pen-
sando surpreendentemente em Ata-
lho. Ele tem treze anos quando me
vou — meu sucessor o verá crescer
à maturidade.
Atalho me viu primeiramente du-
rante minha luta com os Comedores de Fogo. Ele não se
aproximou de mim, mas me falou depois (à sua maneira
infantil e empolgada) de sua admiração por minha esgrima
(ele tinha apenas onze anos de idade).
Expliquei a ele que minha esgrima era o mais superficial
nível do bushidô, e ele pareceu fascinado. Vendo uma opor-
tunidade de ao menos ensinar uma criança sobre honra,
disse-lhe que minha real força vinha do conhecimento de
que eu estava fazendo um ato nobre.
Imagine minha surpresa quando, uma semana depois, ele
veio e me contou sobre um extorsionário ameaçando afundar
barcos no porto sudoeste.
Daquele momento em diante, Atalho se tornou meus o-
lhos e ouvidos nos píers sudoeste. À medida que crescia, ele
se tornou bem conhecido no Quadrante Pescador, onde ago-
ra trabalha como mensageiro e entregador.
Se esperei moldá-lo num samurai heimin em miniatura,
falhei; Atalho é por demais uma criatura das ruas, engenho-
so e escorregadio demais e interessado em si. Ainda que
tenha lhe dado uma sensação de que a justiça existe e que
existe coisas maiores que o interesse em si.
Talvez eu seja uma mulher gentil; mas posso ver nele um
futuro melhor em Ryoko Owari. Talvez ele possa ser o pri-
78
meiro de uma nova raça — ainda astuta e egoísta, mas sem o
gume brutal que deixa sua marca em tantos nesta cidade.
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Amarela
— ou ―Capitã Amarela‖, como pre-
fere ser chamada — é a capitã de um
navio fluvial que singra as águas
entre a Cidade do Sapo Rico e o
Palácio do Clã Escorpião. Sua nave
se chama Sapo Boi, e ela faz de
Ryoko Owari seu porto padrão porque seu patrocinador é
Shosuro Gobei (P4). Gobei parece se preocupar mais em
garantir um contínuo suprimento de bens rio acima e abaixo
do que estritamente cumprir seu direito de taxação sobre ela.
Suspeito fortemente de que ela tem um negócio secundá-
rio — contrabando. Pode ser coincidência que ela normal-
mente planeje uma viagem quando há intensa procura por
criminosos na cidade. Nunca encontrei fugitivos ou passa-
geiros sem documentos escondidos em seu barco — mas
quando ela toma uma de suas pontuais viagens, o criminoso
procurado sabe que tem um meio de nunca aparecer.
79
O Quadrante Coureiro
DOSSIÊ DE SHIGEKO: Quisera
eu ter o crédito de empregar este
infinitamente útil eta, mas temo que
a honra seja de meu predecessor,
Isawa Choyo.
Sobrancelhas é um herbalista e
cirurgião para os Coureiros, e tam-
bém tem algum status na liga de bombeiros (que também de
fato serve como força policial). Quando ela escreveu seu
dossiê para mim, Choyo destacou a proficiência de Sobran-
celhas numa perícia que ela chama de ―leitura morta‖. Isto é
nada menos que a habilidade de ganhar informação obser-
vando um corpo morto.
Embora isto possa soar como magia negra, lhe garanto
que é completamente mundano. É simplesmente uma ques-
tão de olhos atentos e conhecimento de certas coisas —
muito parecido a um caçador talentoso que sabe como en-
contrar rastros de onde um gamo passou. Parece que entre os
etas, os legistas também são os curandeiros da comunidade
(é estranho pensar que um indivíduo trabalhe com os mortos
e vivos — mas eles são etas, afinal). Enquanto preparam os
mortos para funerais, esses curandeiros aprenderam a ver
sinais que indicam a causa da morte. Sobrancelhas é tão
talentoso nisso que pode olhar um homem morto por uma
espadada e dizer se morreu rapidamente (de choque) ou
lentamente (sangrando até a morte).
 Ler os mortos se provou inestimável em muitas ocasiões.
De fato, Sobrancelhas não está limitado a ser os mortos; ao
olhar para um ferimento, ele pode dizer que tipo de arma o
causou, há quanto tempo e de que direção o ataque veio.
Embora trabalhar com um eta possa parecer desagradá-
vel, lhe garanto que Sobrancelhas sabe seu lugar e é sempre
respeitoso.

DOSSIÊ DE SHIGEKO: Como So-

brancelhas (P53), Piedoso é um eta
cujos serviços têm grande valor a
um Magistrado de Esmeralda. Uso
Piedoso como meu torturador.
Ele não parece um inquisidor; é
mais velho que eu, e também não
DOSSIÊ DE SHIGEKO: O Courei-
tem as pernas abaixo dos joelhos. Ele recebeu o nome Pie-
ro conhecido como Áspero é o líder
doso por causa deste ferimento, mas também (ele me disse)
de sua comunidade — se é que pode
porque os Coureiros acreditam que um eta que aceite dinhei-
dizer que eles têm um líder (ou uma
ro para atormentar os outros nesta vida está sentenciado a
comunidade, aliás). Ele é um velho
ser um eta na próxima vida também. Suponho que os etas
experiente, como Sobrancelhas
precisem de alguém para menosprezar.
(P53) (que parece ser um tipo de
Embora raramente eu opte a ver Piedoso em trabalho,
aprendiz ou protegido) que é bem ciente de sua posição em
soube que ele tem um estilo incomum. Ele parece desenvol-
vida.
ver um estranho tipo de empatia com sua vítima que os faz
se renderem cedo ou tarde. Já o ouvi dizer ―Este sofrimento
é escolha sua; não sou um homem cruel, mas você deve
suportá-lo por sua própria vontade. Você sabe como me
fazer parar — mas não posso parar de feri-lo até que me
permita.‖
Um prisioneiro disse que a gentileza de Piedoso é mais
cruel de suas armas.

80
81
Seção Quatro
Ameaças à
Ordem Pública

82

A perda de um magistrado é uma tragédia — duplamente
quando a perda é de maneira tão súbita e inesperada. Devo-
lhe uma dívida de gratidão por sua rápida aceitação à desig-
nação de Naritoki.
Naritoki respondeu pessoalmente a mim todo mês; não
pensei que a situação em Ryoko Owari fosse suficientemen-
te severa para merecer múltiplos magistrados. A morte de
Naritoki me provou como errada, por isso o seu grupo foi
designado a esta cidade problemática. Como de costume
nessas situações, apenas um de vocês terá que relatar a mim
a cada mês, liberando os outros para manterem a ordem na
cidade.
Assassino de Naritoki
De longe a mais séria ameaça é o
escandaloso assassinato de um Ma-
gistrado de Esmeralda. Um ataque a
um magistrado é um ataque ao Impe-
rador, e assim um ataque a Rokugan.
Qualquer cidade em que os magis-
trados não sejam temidos ou respei-
tados é um câncer na garganta de
nossa nação.
Ashidaka Naritoki (P25) morreu, junto com um de seus
subordinados, um homem chamado Palavra Verdadeira
(P33), entre as horas do Touro e Lebre, no terceiro dia do
mês da Serpente. Ele foi encontrado nas proximidades do
Pequeno Portal (L15). Não houve testemunhas.
Naritoki foi encontrado dentro dos restos queimados de
uma carruagem. Seu corpo foi examinado por um eta cha-
mado Sobrancelhas (P53) que disse que o corpo foi queima-
do e esfaqueado pelas paredes da carruagem. A carruagem
em si foi totalmente queimada, e os arreios cortados. Além
disso, a porta da carruagem foi aparentemente bloqueada por
uma trave de madeira.
Palavra Verdadeira foi encontrado a oito passos à frente
do vagão, com vários manuscritos espalhados pelo corpo.
Novamente, o eta Sobrancelhas examinou o corpo e disse
que ele havia sido abatido e esfaqueado por armas curtas e
83
cortantes — possivelmente kamas, yaris ou tantos. Palavra
Verdadeira foi encontrado segurando sua katana, mas não
conseguiu sacá-la. A posição de seu corpo indica que ele
morreu de joelhos. O eta disse que havia um forte e acre
cheiro ao redor da face do corpo, e que a face, cabelo e ki-
mono de Palavra Verdadeira estavam úmidos. Crê-se que
alguém tenha espirrado vinagre forte nos olhos de Palavra
Verdadeira para impedi-lo de ler seus manuscritos, e então o
matou enquanto estava cego.
Ao mesmo tempo em que Palavra Verdadeira estava
sendo atacado, parece provável que alguém tenha bloqueado
a porta da carruagem de Naritoki e incendiado a carruagem.
A velocidade com a qual o veículo queimou numa noite
úmida e chuvosa levanta a suspeita de que ele teria sido
sabotado mais cedo — untado com substância inflamável
para ajudar o assassinato. Embora estivesse preso na carrua-
gem em chamas, os assassinos de Naritoki o golpearam
pelas paredes. De toda maneira, eles pretendiam mantê-lo
preso até que as chamas e a fumaça o matassem.
Fugaz/Kaeru
O apelido ―Fugaz‖ foi dado a
um bandido que tem infestado Ryo-
ko Owari e suas proximidades há
dois anos. Ele surge da habilidade
de evitar perseguição — ma habili-
dade que rapidamente se tornou
lendária, ao pesar tanto dos magis-
trados do Imperador e dos Guardas Trovão (C10) de Shosu-
ro Hyobu (P1). Uma lista de crimes atribuídos a ele inclui:
Dois anos atrás, no mês do Tigre, Fugaz pegou uma ca-
ravana de seda de surpresa e capturou a carga inteira. Rela-
tos variam, mas parece que ele e seis de seus seguidores
estavam montados. Esses bandidos montados renderam os
guardas da caravana. Quando muitos dos guardas saíram em
perseguição, outra dúzia de bandidos, a pé, atacou o corpo
principal da caravana e o capturou.
No mesmo ano, no mês da Serpente, Fugaz e sua gan-
gue interceptaram um carregamento de ouro na Estrada
Outrora Escondida. Dessa vez, eles atacaram uma pousada
no meio da noite, capturando todos lá dentro e os traçando
no porão. Quando o carregamento chegou, Fugaz e seus
bandidos estavam disfarçados como o dono da pousada e
seus hóspedes. Após drogar muitos dos guardas, os defenso-
res restantes foram facilmente superados.
Ainda, no mês do Macaco, Fugaz e sua gangue ataca-
ram um vilarejo Escorpião enquanto o coletor de impostos
estava presente. Os bandidos levaram todo o pagamento.
Relatos confiáveis descrevem ao menos vinte bandidos —
todos montados, e vários de armadura.
No ano seguinte, novamente no mês do Tigre, os ban-
didos assaltaram uma caravana mercante numa noite de total
escuridão. Possivelmente os bandidos tinham algum tipo de
magia negra para ajudá-los a ver à noite, mas outra teoria é
de que eles simplesmente deixaram seus olhos escondidos
por alguns dias (ou semanas?) antes do assalto, dando-lhes
olhos sensíveis. Em todo caso, eles estavam lá e se foram
antes da caravana sequer montar uma defesa coerente.
O líder da caravana, que antes era um oficial da cavalaria
do Escorpião, disse que o ataque lembrava uma ―clássica
invasão leve do Unicórnio‖.
No mês do Dragão, Fugaz emboscou um grupo de shu-
genjas do Escorpião que estavam viajando de Yogo Shiro
para Shiro no Soshi. Uma feroz batalha encerrou com dois
dos sacerdotes mortos, juntos de seis bandidos. Após os
shugenjas se renderem, Fugaz os deixou totalmente nus, e
foi nesta condição que eles retornaram a Yogo Shiro. Os três
shugenjas líderes foram ordenados a cometerem seppuku e
três de seus quatro acólitos os seguiram.
No mês do Cavalo do mesmo ano, Fugaz e seus bandi-
dos atacaram um grupo a caminho de Kyuden Bayushi para
celebrar o aniversário de Shosuro Hyobu (P1). Pela primeira
vez, o bandido subestimou seus oponentes. Não apenas os
bandidos foram repelidos com grandes baixas, mas um dos
capangas de Fugaz foi capturado vivo. De início o bandido
temia por demais seu mestre para falar, mas sob tortura ele
revelou a localização dos esconderijos de Fugaz na Floresta
Escondida. Porém, antes que pudesse ser persuadido a reve-
lar mais informação, ele escapou da prisão (L7) — muito
possivelmente com ajuda externa.
Como adendo, isso não foi muito depois da fuga em que
Naritoki executou um dos guardas da prisão por envolvi-
mento numa similar fuga da prisão (A3).
No Mês do Macaco, um coletor de impostos que retor-
nava de vários vilarejos locais foi emboscado. Embora esti-
vesse intensamente protegido, os bandidos atacaram primei-
ro com um voleio de flechas, garantindo que seus números
compensassem a perícia superior dos guardas do coletor.
Quatro guardas morreram na luta posterior, e levaram ape-
nas dois bandidos com eles.
As depredações de Fugaz se tornaram bem conhecidas
naquele ano, com muitos mercadores escolhendo mover seus
bens por barcos ao invés de caravanas. Fugaz se adaptou. No
mês do Tigre, uma barca foi assaltada por flechas incendiá-
rias e pedras de uma catapulta improvisada enquanto passa-
va por uma escarpa ao sul de Ryoko Owari. Enquanto os
marinheiros eram massacrados e postos a pique. Seu barco
foi encontrado no dia seguinte, dez milhas rio a baixo. Inte-
ressantemente, os bandidos se deram ao trabalho de destruí-
lo; ao invés de abandoná-lo ao léu, eles escolherem impedir
que seus donos o reclamassem.
Finalmente, no mês passado, Fugaz e sua gangue —
agora com quase trinta e cinco homens — atacou ferozmen-
te uma caravana de armas e armaduras destinada às Torres
dos Olhos Ocidental e Oriental (L28). Inicialmente os sol-
dados pareceram repelir os atacantes, mas Fugaz continuou
a assolá-los. Fazendo rápidos ataques sempre que se movi-
84
am, ele os forçou a enfrentá-lo em terreno desvantajoso. No
fim, nove guardas foram mortos, junto de uma dúzia dos
homens de Fugaz, mas o comboio foi capturado. Ele incluía
dez trajes de armadura pesada, vinte de armadura leve, cin-
qüenta arcos longos, três aljavas de flechas, sessenta lanças
e vinte espadas.
Fugaz agora tem uma fortuna em armas para vender, mas
minha suspeita é de que ele guardará o máximo de arma-
mento que puder. Seu bando foi de um pequeno incômodo a
uma grande ameaça em poucos anos; a este nível, ele terá
um exército particular em quatro anos.
Naritoki suspeitava fortemente que Fugaz era um samu-
rai desagraciado. Suas perícias em estratégia montada suge-
riam um ex-Unicórnio, embora suas perícias de liderança e
habilidade de recrutar seguidores fiéis pudessem indicar um
Leão. Ambos os clãs negam a possibilidade, é claro.
A coisa mais notável sobre as ações de Fugaz e estraté-
gia são seus planos. Bandidos buscam ouro, e Fugaz tam-
bém. Porém, muitos bandidos se contentam com um assalto
por ano e vivem dos lucros até ficarem sem dinheiro. Fugaz
é muito mais ativo, o que sugere um propósito além de so-
brevivência ou ganância.
Grande parte do comércio em torno de Ryoko Owari o-
corre favorecendo o clã Escorpião, mas há significativo
comércio dos outros clãs também. Fugaz, porém, ataca ape-
nas caravanas e coletores de impostos do clã Escorpião.
Talvez ele tenha uma rixa contra Escorpiões. Talvez ele
tenha alguma fonte de inteligência que só espiona Escorpi-
ões. Talvez ele atinja Escorpiões porque são os mais nume-
rosos. Talvez vocês descubram ao capturá-lo — mas consi-
dero mais provável que vocês não o capturem até descobrir.
Os “Ninjas” de Ryoko
Periodicamente, Matsu Shige-
ko pode vir a relatar que um crime
em Ryoko Owari teve como cul-
pado ―ninjas‖. Embora nós dois
refutemos a idéia, agora se tornou
claro que há uma quadrilha ope-
rando em Ryoko Owari que diz
serem ―ninjas‖ místicos para intimidar camponeses.
Embora dificilmente sejam os oponentes sobrenaturais
que as histórias de ninjas descrevem, esta quadrilha é ampla,
violenta e capaz. Naritoki fez deles sua prioridade nos últi-
mos anos, e conseguiu quebrar parte de seu poder antes de
sua morte. Uma teoria plausível que é seus assassinos fos-
sem ―ninjas‖ fraudulentos. Uma linha temporal das ativida-
des ―ninjas‖ em Ryoko Owari segue:
No primeiro ano de Matsu Shigeko como magistrada
(cinco anos atrás), uma loja de kimonos foi incinerada no
Mês do Dragão. O dono disse que ―os ninjas‖ fizeram isso,
mas nenhum outro progresso foi feito.
Neste mesmo ano, no Mês do Clã, a esposa de um
mercador disse que um ―ninja vestido de preto‖ a abordou, a
85
ameaçou com um shuriken, e roubou um valioso colar dela
enquanto estava no Quadrante Licenciado.
No ano seguinte, no Mês do Tigre, um samurai disse
que foi atacado por um bando de dez ninjas. Após investiga-
ção, Shigeko descobriu que o samurai havia sido de fato
vencido pelo ronin chamado Amplo (P32). Amplo foi preso,
e quando interrogado negou qualquer conexão com os nin-
jas, dizendo que o samurai tinha dívidas de jogo. Quando
confrontado com o testemunho de Amplo, o samurai recuou,
admitindo que ele se envergonhava de admitir derrota nas
mãos de um ronin.
No Mês do Macaco, um mercador fez uma queixa cu-
riosa a Shigeko. Ele disse que havia sido extorquido por
―ninjas ocultos‖, que ameaçaram queimar sua loja inteira no
Quadrante Mercante se não os pagasse. Ele disse que tinha
visto ―ninjas reais‖ e sabia que esses bandidos eram falsos.
Porém, Shigeko foi incapaz de encontrar qualquer ―ninja‖ na
área e também foi incapaz de impedir o assassinato do mer-
cador.
No ano seguinte, outro mercador foi morto no Qua-
drante Pescador. Aconteceu durante o Mês do Dragão; ele
aparentemente foi torturado e morto em sua própria casa, e
sua loja incendiada.
No Mês do Cavalo houve um conflito nas docas entre
os Bombeiros do Gume do Instante (C12) e um grupo de
―ninjas‖. Dois bombeiros foram feridos e nenhum ninja
capturado.
No mês seguinte, Naritoki foi recebido como magistra-
do. Ele tornou a perseguição aos ―ninjas‖ como sua primeira
tarefa.
Dois meses após sua chegada, no Mês do Macaco, Na-
ritoki capturou um ―ninja‖ desmascarado — na verdade um
operário das docas com registro de embriaguez pública — e
o executou.
Depois disso, os ―ninjas‖ sumiram por quase sete meses.
O próximo crime associado aos ―ninjas‖ foi o assassinato de
um mercador no Quadrante Licenciado durante o Mês do
Dragão.
No primeiro mês do ano seguinte, houve outra briga
entre bombeiros e ―ninjas‖ — dessa vez no Quadrante Mer-
cador, com os Bombeiros do Jardim de Daikoku. Isso parece
marcar um aumento na atividade ―ninja‖. Naritoki cria que a
quadrilha tinha uma nova liderança.
No Mês do Dragão, os ―ninjas‖ surpreenderam e mata-
ram o líder dos Bombeiros do Pequeno Portal. No mesmo
mês, Naritoki prendeu e executou dois ―ninjas‖ — campo-
neses criminosos do Quadrante Mercador.
Foi no Mês do Cão que os ―ninjas‖ se moveram pela
primeira vez contra uma família nobre, roubando documen-
tos oficiais de comércio de uma casa no Quadrante Nobre.
Dois meses depois, no Mês do Touro, Naritoki prendeu
um ―ninja‖ pelo crime — um ronin trapaceiro de Niwa Shita
no Kage Toshi. O ―ninja‖ escapou da prisão em um dia.
Naritoki demorou cinco meses, mas no Mês do Cavalo,
ele encontrou o ―ninja‖ trapaceiro, a quem matou por resistir
à prisão.

No mês seguinte, Naritoki encerrou uma intensa inves-
tigação da prisão com a execução de uma guarda prisional
(L7). (Você se lembrará que isto não é muito depois de um
dos homens do bandido Fugaz também escapar da prisão).
Neste mesmo ano, no Mês do Cão, artigos valiosos fo-
ram roubados da coleção Otaku. Os ―ninjas‖ foram suspei-
tos.
No mês seguinte (Porco), a própria mansão do magis-
trado foi assaltada — possivelmente pelos ―ninjas‖.
Neste ano, no Mês do Touro, Naritoki compôs uma in-
vasão à Ilha Gota de Lágrima com trinta subordinados. Ele
matou quatro supostos ―ninjas‖ e capturou outros três (todos
eles morreram durante o interrogatório).
No Mês do Coelho, uma invasão menor numa casa par-
ticular no Quadrante Pescador resultou na morte de mais três
―ninjas‖. Isto foi a dois meses do assassinato de Naritoki.
Ler esta lista pode criar a impressão de que os ninjas de
Ryoko Owari estão em todo lugar, talentosos em todos ardis
e capaz de cometer crimes quase
impunemente. Este certamente não
é o caso. Não apenas Naritoki foi
capaz de causar golpes decisivos con-
tra esta organização, mas também é
muito provável que alguns (possivelmente
vários) dos crimes atribuídos aos ―ninjas‖, ou
no qual sua participação tivessem sido de fato
cometidos por outras pessoas. A ameaçadora
reputação dos ninjas é certamente um manto
tentador a qualquer criminoso. Nem todos eles associ-
ados a uma única organização central.
O Vento/Kazê
Pelos últimos dois a-
nos, houve vários relatos de
nobres de roubos em suas
casas. Os relatos são sempre
muito similares; a casa toda vai
dormir à noite. Os guardas ou pare-
cem ver ou ouvir algo incomum;
ninguém é acordado ou alarmado. Na manhã, porém, um só
item de valor desaparece.
Essas perdas comparativamente pequenas podem parecer
insignificantes comparadas às ameaças de Fugaz (A2) e os
―ninjas‖ (A3), mas o problema com este astuto ladrão (ape-
lidado de ―O Vento‖ pela sua habilidade de ir e vir sem ser
observado) é que além de roubar objetos de valor, ele tam-
bém está roubando a sensação de segurança que os nobres
têm dentro de suas casas. Ele não cometeu violência; mas há
uma sensação persistente de que ele poderia fazê-lo a qual-
quer momento, com impunidade.
Em suma, o Vento contribui à geral ausência de lei de
Ryoko Owari — uma sensação de que os Magistrados de
Esmeralda são impotentes para detê-lo. Isto, mais do que
qualquer furto, é o maior crime.
Dito isso, é notável mencionar vários dos aspectos inco-
muns dos crimes de Vento.
Em todo local, ele só rouba um objeto.
Esses objetos são invariavelmente pequenos mas precio-
sos — jóias, ouro ou prata. O maior objeto já levado foi um
colar com um pingente do tamanho de um dedo.
Em vários casos, o Vento levou objetos de menor valor
que foram deixados quando itens mais valiosos estavam
próximos, mas fora de vista.
A teoria de Naritoki era que o Vento (possivelmente as-
sim como Fugaz) fosse um nobre. A ingenuidade necessária
para tais crimes certamente sugere um intelecto maior que
os possuídos por camponeses. Além disso, levar um só obje-
to sugere um motivo além do lucro — talvez um senso errô-
neo de aventura.
Até que esses mistérios sejam resolvidos e os malfeitores
punidos, esperarei relatórios de progressos a cada um desses
meses.
— Doji Satsume
Daimyo do Clã Garça e Campeão de Esmeralda
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