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ANÁLISE DO ROMANCE
Esaú e Jacó
1. Apresentação do Romance
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Licenciando em Letras Vernáculas - UFS
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https://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia
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Academia Brasileira de Letras
tivera a gestação sossegada, (...) sentira movimentos extraordinários, repetidos, e dores, e
insônias...” (ASSIS, 2016, p. 20), e aumenta conforme crescem. Devido ao importante
período, um torna-se monarquista e o outro republicano, ambos nunca se entenderão. Há
também uma participação dos personagens que viviam ao entorno dos irmãos, como é o
caso do conselheiro Aires.
Análise do Romance
2.1.1. Narrador
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D’ONOFRIO S. Forma e Sentido do Texto Literário. Editora Ática.
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GANCHO. C. V. Como analisar narrativas. Editora Ática.
O narrador é um personagem criado pelo autor para contar a história, podendo
participar do seu enredo (narrador personagem) ou existir apenas a nível narrativo
(narrador pressuposto)
Sóbrio e equilibrado (isso por ser quem era, representante da elite), o conselheiro
Aires, coloca sempre a razão acima das paixões. Ao mesmo tempo é, narrador e
personagem, em uma perspectiva inusitada, desdobra-se em várias vozes. Primeiro como
personagem, ator dos fatos enunciados. Como Aires está morto, no momento em que a
narrativa se desenrola, assim como Brás Cubas, vê os fatos do outro lado da vida,
filtrando-os com a ironia e o descompromisso. Note-se que inicialmente, a obra traz uma
advertência, em que faz um apanhado de como se deu a construção do título da obra,
Aires, narrador em terceira pessoa é figura importante desta narrativa. Em seguida, vemos
sua participação, mais especificamente nos capítulos LXII e LXIII, dando conselhos ao
dono da antiga confeitaria do Império (Custódio), que viu-se desesperado com a queda do
regime em momento que mandara confeccionar outra tabuleta para seu comércio. Há
ainda o caso do irmão das almas 6 que, aos receber uma quantia maior que a natural de
esmola, resolve não entregar o dinheiro para sua congregação. Uma passagem que vemos
inicialmente no início do romance (capítulo III, A esmola da felicidade), mas só é
retomada 115 capítulos adiante (Coisas passadas, coisas futuras), quando o irmão das
almas é visto pelo Conselheiro numa carruagem. Explica então que ele deixou a cidade,
talvez o país, e voltou rico quando “alvoreceu a famosa quadra do ‘encilhamento’.
Essa condição permite-lhe a liberdade de questionar a narrativa, dialogar com o
leitor, caracterizando-se como narrador intruso. Aires é a figura mais complexa da obra.
Por seu olhar os personagens são construídos, com destaque para a
inexplicável/enigmática Flora, cujo olhar permite ao leitor compreender que não há
distinção entre os gêmeos. Aires, portanto, traz ao leitor as vozes da obra, filtradas por
sua voz, que por sua vez representa a voz do próprio Machado de Assis. Deixando clara
assim, a categoria de narrador presente na obra. Mostrando que além de ter domínio sobre
tudo que acontece na história e sobre sensações dos personagens, ele também faz
observações/reflexões no meio da narração (como fica claro na primeira citação, temos a
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Membro de irmandade religiosa que se dedicava a pedir esmolas para uma congregação religiosa a que
pertencia. Parte do dinheiro arrecadado era empregado em missas pelas almas dos que morriam
anonimamente. Mais tarde reaparece como Nóbrega, desta vez milionário.
narração e a frase “Com efeito, as duas senhoras buscavam disfarçadamente o número da casa
da cabocla, até que deram com ele.”, guiando o leitor na reflexão e compreensão à cerca do
processo de desenvolvimento da narrativa).
2.1.2. Tipo de Diálogo
A obra possui muitos diálogos, afinal, seu autor não se atem exclusivamente aos
personagens principais, sua linguagem é predominantemente narrativa-descritiva.
Fica claro que as vozes dos personagens estão transcritas de forma indireta, bem
como a presença de alguns indicadores desse tipo de diálogo: o uso de travessões e as
falas em terceira pessoa.
2.2.1 Personagens
Os(as) personagens, segundo Gancho (2004) são seres fictícios responsáveis pelo
desenvolvimento do enredo (que participam da ação). É pertencente à história e só é
levado em consideração se participa de forma ativa dos acontecimentos, seja por meio da
fala ou por meio da ação.
O personagem principal, Esaú e Jacó, são os dois irmãos Pedro e Paulo e o próprio
narrador o Conselheiro Aires, pelo menos em partes. Embora sejam protagonistas, a obra
não se fecha somente nestes, seu enredo faz uma grande passagem em outros. O narrador,
em diversos momentos, saí e volta da história principal, o próprio título da obra, rende
diversos comentários/críticas quanto a essa definição, sendo ela mais uma das
ambiguidades da obra machadiana.
Para abordar os personagens do enredo de forma mais clara, seguem os que atuam
no enredo de forma significativa e suas classificações:
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A presente tabela descreve algumas características dos personagens e classifica-os quanto a sua função.
e sejam amigos, mas os gêmeos
cumprem essa promessa por apenas
um ano.
Rita: Irmã de Aires, enviuvara e Flora: Moça pela qual ambos os
mandara enterrar os cabelos junto gêmeos se apaixonam. É muito
com o falecido. indecisa, pois parece gostar dos dois
irmãos, e nunca consegue escolher
entre os dois. Um dia viaja para
Andaraí, seguindo o conselho de
Aires, e lá acaba por adoecer e
morrer.
2.2.2 Enredo
2.2.3. Tempo
Há, também, o tempo do enunciado, que pode ser cronológico (que se refere a
ordem natural na qual acontecem os fatos do enredo) ou psicológico (quando ocorre no
interior dos personagens, a nível psicológico, subjetivo); e o tempo da enunciação, que
pode ser linear (quando a narração segue a ordem cronológica dos fatos) ou invertido
(quando os acontecimentos não seguem a cronologia dos fatos, podendo haver a
antecipação de algum fato (prolepse), ou uma inversão total da cronologia, iniciando a
narração com o meio ou fim da fábula).
Segundo Gancho (2004) espaço é o local físico onde se passam as ações de uma
narrativa, algumas narrativas podem conter uma maior variedade de espaços. A principal
função do espaço é situar as ações dos personagens e estabelecer com eles uma interação,
quer os influenciando, quer sendo por eles modificado.
Tendo em vista esse percurso pelo espaço no decorrer da obra, podemos classifica-
los da seguinte forma: 1ª – dimensional, pois atinge proporções mensuráveis (Não sai da
região sudeste); 2ª – horizontal, por pertencer ao mundo humano; 3ª – Predominantemente
aberto (ruas, morros), embora haja alguns espaços fechados (igrejas, casas, palácios); 4ª
– Tópico em sua predominância, pois mesmo que possam parecer estranho de início, em
seguida há apresentação do ambiente comum dos personagens, uma capital em pleno
desenvolvimento.
3. Considerações Finais
O romance Esaú e Jacó, apesar de ser assim intitulado, não se concentra apenas
nos personagens principais, os irmãos Pedro e Paulo, traz reflexões de fatos históricos que
mudaram o Brasil.
O narrador sempre retorna a sua visão a respeito da questão política em voga,
trazendo os personagens do triângulo amoro (Paulo, Pedro e Flora), como representantes
da conjuntura política que o Brasil passava, uma batalha de “diferentes formas de
governo”, partindo da ideia que a morte de Flora, representa o caos que o país poderia
entrar, aplicando essa visão na construção dos seus personagens.
O romance, além de trazer essa questão histórica, também chama atenção pela
linguagem adotada pelo autor, Assis se refere ao leitor no feminino leitora, pois na época
o público que acessava os folhetins era predominantemente feminino, elas esperavam
mais um romance machadiano, mas ele as apresenta uma grande descrição da realidade
em que viviam, dando hoje, passados mais de 100 anos de sua obra uma grande
contribuição para entendimento do funcionamento da sociedade brasileira da época.
Apesar de ser uma linguagem rebuscada e metafórica (típica de Machado) revela os
aspectos sociais da época de forma rica em detalhes.