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Universidade Federal de Sergipe

Departamento de Letras Vernáculas


Teoria da Literatura II. 2021.2 turma 01
(Prof. Dr. Carlos Eduardo Japiassú de Queiroz)

ANÁLISE DO ROMANCE
Esaú e Jacó

Autor da análise: Cleno dos Santos Vieira1

1. Apresentação do Romance

Machado de Assis (Joaquim Maria Machado de Assis), jornalista, contista,


cronista, romancista, poeta e teatrólogo, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 21 de Junho de
1839, e faleceu também no Rio de Janeiro, em 29 de setembro de 1908. Dentre suas
ilustres obras destaco as principais: Livros 1 – Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881);
2 – Dom Casmurro (1889); 3 – A mão e a Luva (1874); 4 – Helena (1876); 5 – Quincas
Borba (1891); 6 – Iaiá Garcia (1878); 7 – Ressureição (1872); 8 – Esaú e Jacó (1904); 9
– Memorial de Aires (1908); 10 – Casa Velha (1885). Dos contos cito aqueles tidos como
consagrados: As Academias de Sião; A Igreja Do Diabo; A Cartomante; Cantiga De
Esponsais; A Desejada das Gentes; Noite de Almirante; Missa do Galo; Uns Braços; O
Enfermeiro; Conto de Escola; Um Apólogo2. De todo modo, está aqui uma síntese da
brilhante biografia de um dos maiores escritores da literatura brasileira, fundador e
acadêmico imortal da ABL3.

Esaú e Jacó é o penúltimo romance publicado por Machado de Assis, escrito em


uma época de transição na política brasileira, o país deixa de ser uma monarquia para se
transformar em uma república, especificamente na cidade do Rio de Janeiro, então capital
do Império e posteriormente da República. O romance narra a disputa desde do ventre dos
dois irmãos gêmeos Pedro e Paulo, semelhante a história bíblica dos filhos de Isaac e
Rebeca, Esaú e Jacó, no livro do Gênesis a partir do capítulo 25. Os indícios da rivalidade
começam ainda na barriga da mãe, é como se vê no seguinte trecho: “Natividade, que não

1
Licenciando em Letras Vernáculas - UFS
2
https://www.academia.org.br/academicos/machado-de-assis/biografia
3
Academia Brasileira de Letras
tivera a gestação sossegada, (...) sentira movimentos extraordinários, repetidos, e dores, e
insônias...” (ASSIS, 2016, p. 20), e aumenta conforme crescem. Devido ao importante
período, um torna-se monarquista e o outro republicano, ambos nunca se entenderão. Há
também uma participação dos personagens que viviam ao entorno dos irmãos, como é o
caso do conselheiro Aires.

Esaú e Jacó é o romance da ambiguidade ao apresentar foco narrativo em terceira


pessoa, mas com o enredo filtrado pelo olhar do Conselheiro Aires, observador dos fatos
narrados. Este traz ao leitor não apenas os acontecimentos que envolvem os protagonistas,
mas também opiniões sutis e sarcásticas sobre a República, a vida econômica e social do
fim do fim do século XIX no Rio de janeiro. O uso de intertextualidade está presente na
obra desde o título, com menção aos irmão bíblicos Esaú e Jacó, como também no
desenrolar do enredo, com menções a Divina Comédia de Dante, é importante dizer que
esta é presente em toda sua obra, denominada machadiana. A obra é um importante
exemplo do realismo machadiano no século XIX.

Análise do Romance

Uma das formas de se pensar na análise de narrativas, segundo Salvatore


D’Onofrio 4, é por meio da divisão em dois planos: O plano do discurso e o plano da
história. Para esta análise será adotada essa divisão. Para GANCHO5 (2004), analisar é
separar as partes, compará-las e tirar conclusões lógicas, coerentes com o contexto.

1.1 Plano do Discurso

O plano do discurso se refere as estratégias usadas para contar a história, é o plano


da enunciação e nele, o que se leva em consideração é a forma como a história é contada.

Neste plano se enquadram as seguintes estratégias narrativas: O narrador, os tipos


de diálogos e os expedientes narrativos.

2.1.1. Narrador

4
D’ONOFRIO S. Forma e Sentido do Texto Literário. Editora Ática.
5
GANCHO. C. V. Como analisar narrativas. Editora Ática.
O narrador é um personagem criado pelo autor para contar a história, podendo
participar do seu enredo (narrador personagem) ou existir apenas a nível narrativo
(narrador pressuposto)

No romance Esaú e Jacó, o tipo de narrador presente é onisciente, em 3ª/1ª pessoa.


Apresentando características de testemunha, ou seja, narra o que viu, o que ouviu ou que
leu em algum lugar, neste caso, Aires participa em momentos diversos da narrativa, seno
estes importantes. Em determinado momento chega a participar dos acontecimentos que
compõem a história, tornando-se, neste momento, narrador personagem secundário.

Um dos principais aspectos da obra consiste no papel do narrador. O romance é


construído a partir dos escritos deixados pelo Conselheiro Aires e apresentados na
Advertência do Autor que abre o livro, são os seguintes trechos do romance
exemplos dos tipos de narrador citado acima: (Narrador personagem / narrador
personagem secundário)
[...]Quando o conselheiro Aires faleceu, acharam-se-lhe na
secretária sete cadernos manuscritos, rijamente encapados em
papelão. Cada um dos primeiros seis tinha o seu número de
ordem por algarismos romanos, I, II, III, IV, V, VI, escritos a tinta
encarnada. O sétimo trazia este título: Último.

A razão desta designação especial não se compreendeu então


nem depois. Sim, era o último dos sete cadernos, com a
particularidade de ser o mais grosso, mas não fazia parte do
Memorial, diário de lembranças que o conselheiro escrevia desde
muitos anos e era a matéria do seis. Não trazia a mesma ordem
de datas, com indicação da hora e do minuto, como usava neles.
Era uma narrativa; e, posto figure aqui o próprio Aires, com o seu
nome e título de conselho, e, por alusão, algumas aventuras, nem
assim deixava de ser a narrativa estranha à matéria dos seis
cadernos. Último por quê? [...]

Tal foi a razão de se publicar somente a narrativa. Quanto ao


título, foram lembrados vários, em que o assunto se pudesse
resumir. Ab ovo, por exemplo, apesar do latim; venceu, porém, a
ideia de lhe dar estes dois nomes que o próprio Aires citou uma
vez:
ESAÚ E JACÓ
[...] (ASSIS. Esaú e Jacó, 2016, p. 13)

[...] Mas o que é que há? – perguntou Aires.


- A república está proclamada.
-Já há governo? [...]
Vossa Excelência crê que, se ficar ‘Império”, venham quebrar-
me as vidraças?
- Isso não sei.
- Realmente, não há motivo; é o nome da casa, nome de trinta
anos, ninguém a conhece de outro modo.
-Mas pode pôr “Confeitaria da República”...
-Lembrou-me isso, em caminho, mas também me lembrou que,
se daqui a um ou dois meses, houver nova reviravolta, fico no
ponto em que estou hoje, e perco outra vez o dinheiro.
-Tem razão... Sente-se.
-Estou bem.
-Sente-se e fume um charuto. [...] (ASSIS, Esaú e Jacó, 2016, p.
126)

Sóbrio e equilibrado (isso por ser quem era, representante da elite), o conselheiro
Aires, coloca sempre a razão acima das paixões. Ao mesmo tempo é, narrador e
personagem, em uma perspectiva inusitada, desdobra-se em várias vozes. Primeiro como
personagem, ator dos fatos enunciados. Como Aires está morto, no momento em que a
narrativa se desenrola, assim como Brás Cubas, vê os fatos do outro lado da vida,
filtrando-os com a ironia e o descompromisso. Note-se que inicialmente, a obra traz uma
advertência, em que faz um apanhado de como se deu a construção do título da obra,
Aires, narrador em terceira pessoa é figura importante desta narrativa. Em seguida, vemos
sua participação, mais especificamente nos capítulos LXII e LXIII, dando conselhos ao
dono da antiga confeitaria do Império (Custódio), que viu-se desesperado com a queda do
regime em momento que mandara confeccionar outra tabuleta para seu comércio. Há
ainda o caso do irmão das almas 6 que, aos receber uma quantia maior que a natural de
esmola, resolve não entregar o dinheiro para sua congregação. Uma passagem que vemos
inicialmente no início do romance (capítulo III, A esmola da felicidade), mas só é
retomada 115 capítulos adiante (Coisas passadas, coisas futuras), quando o irmão das
almas é visto pelo Conselheiro numa carruagem. Explica então que ele deixou a cidade,
talvez o país, e voltou rico quando “alvoreceu a famosa quadra do ‘encilhamento’.
Essa condição permite-lhe a liberdade de questionar a narrativa, dialogar com o
leitor, caracterizando-se como narrador intruso. Aires é a figura mais complexa da obra.
Por seu olhar os personagens são construídos, com destaque para a
inexplicável/enigmática Flora, cujo olhar permite ao leitor compreender que não há
distinção entre os gêmeos. Aires, portanto, traz ao leitor as vozes da obra, filtradas por
sua voz, que por sua vez representa a voz do próprio Machado de Assis. Deixando clara
assim, a categoria de narrador presente na obra. Mostrando que além de ter domínio sobre
tudo que acontece na história e sobre sensações dos personagens, ele também faz
observações/reflexões no meio da narração (como fica claro na primeira citação, temos a

6
Membro de irmandade religiosa que se dedicava a pedir esmolas para uma congregação religiosa a que
pertencia. Parte do dinheiro arrecadado era empregado em missas pelas almas dos que morriam
anonimamente. Mais tarde reaparece como Nóbrega, desta vez milionário.
narração e a frase “Com efeito, as duas senhoras buscavam disfarçadamente o número da casa
da cabocla, até que deram com ele.”, guiando o leitor na reflexão e compreensão à cerca do
processo de desenvolvimento da narrativa).
2.1.2. Tipo de Diálogo

A obra possui muitos diálogos, afinal, seu autor não se atem exclusivamente aos
personagens principais, sua linguagem é predominantemente narrativa-descritiva.

Existem quatro tipos de diálogos: direto, indireto, indireto-livre e monólogo. No


romance encontramos o diálogo indireto, é o registro indireto da fala do personagem
através do narrador, isto é, o narrador é o intermediário entre o instante da fala do
personagem e o leitor (diálogo com o leitor), aqui a linguagem é do narrador,
habitualmente em terceira pessoa. O seguinte trecho é um exemplo desse tipo de discurso:

Santos conservara alguns gestos e modos de dizer dos


primeiros anos, tais que o leitor não chamará propriamente
familiares; também não é preciso chamar-lhes nada. Perpétua,
afeita a eles, acabou sorrindo e dando-lhe parabéns. Já então
Natividade os deixara para se ir despir. Santos, meio arrependido
da expansão, fez-se sério e conversou da missa e da igreja.
Concordou que esta era decrépita e metida a um canto, mas
alegou razões espirituais. Que a oração era sempre oração, onde
quer que a alma falasse a Deus. Que a missa, a rigor, não
precisava estritamente de altar; o rito e o padre bastavam ao
sacrifício. Talvez essas razões não fossem propriamente dele,
mas ouvidas a alguém, decoradas sem esforço e repetidas com
convicção. A cunhada opinou de cabeça que sim. Depois
falaram do parente morto e concordaram piamente que
era um asno – não disseram este nome, mas a totalidade das
apreciações vinha a dar nele, acrescentado de honesto e
honestíssimo.
-Era uma pérola – concluiu Santos.
[...] (ASSIS, Esaú e Jacó, 2016, p. 29).

Fica claro que as vozes dos personagens estão transcritas de forma indireta, bem
como a presença de alguns indicadores desse tipo de diálogo: o uso de travessões e as
falas em terceira pessoa.

2.1.3. Expedientes Narrativos

Existem três expedientes narrativos: a narração, a descrição e a dissertação.


A narração corresponde ao relato de acontecimentos que compõem a história. Seu
caráter dinâmico e progressivo encaminha o enredo a algum lugar. O romance em questão
(Esaú e Jacó) é predominantemente narrativo, como pode-se observar no seguinte
fragmento:
Natividade ia pensando na cabocla do Castelo, na predição da
grandeza e na notícia da briga. Tornava a lembrar-se que, de fato,
a gestação não fora sossegada; mas só lhe ficava a sorte da glória
e da grandeza. A briga lá ia, se houve; o futuro, sim, esse é que
era o principal ou tudo. Não deu pela praia de Santa Luzia. No
largo da Lapa interrogou a irmã sobre o que pensava da advinha.
Perpétua respondeu que bem, que acreditava, e ambas
concordaram que ela parecia falar dos próprios filhos, tal era o
entusiasmo. Perpétua ainda a repreendeu pelos cinquenta mil-réis
dados em paga; bastavam vinte. [...] (ASSIS, Esaú e Jacó, 2016,
p. 24)

É possível perceber a presença de ação no trecho acima. Acontecimentos estão


sendo narrados e a história está indo adiante. Há dinamismo.
Outro expediente presente em grande parte no romance de Machado de Assis é a
descrição, que, ao contrário da narração, corresponde a enumeração de características
atribuídas a um ser/objeto/ambiente (animado ou inanimado), aqui não há um caráter
dinâmico e/ou progressivo. Tomemos como exemplo o seguinte:

[...] Bárbara entrou, enquanto o pai pegou da viola e passou ao


patamar de pedra, à porta da esquerda. Era uma criaturinha leve
e breve, saia bordada, chinelinha no pé. Não lhe podia negar um
corpo airoso. Os cabelos, apanhados no alto da cabeça por um
pedaço de fita enxovalhada, faziam-lhe um solidéu natural, cuja
borla era suprida por um raminho de arruda. Já vai nisto um
pouco de sacerdotisa. O mistério estava nos olhos. Estes eram
opacos, não sempre nem tanto que não fossem também lúcidos e
agudos, e neste último estado eram igualmente compridos; [...]
(ASSIS, Esaú e Jacó, 2016, p. 18)

No exemplo acima é possível perceber a ausência de movimento (exceto a entrada


de Bárbara). Estamos diante de uma enumeração de características, no caso a descrição
física do personagem em determinado momento do enredo.

Vale ressaltar que a narração e a descrição nem sempre aparecem de forma


separada, como nos trechos citados. Em alguns casos, que são os casos mais comuns do
romance, há uma mistura desses dois expedientes, como visto acima. Narrativas que dão
progressão aos acontecimentos e possuem, também, traços descritivos.

A dissertação, que é a expressão de ideias e pensamentos, também é identificada


na obra. Usada para proporcionar algum tipo de reflexão ao leitor. Aparece em diversos
momentos da narração, e em frequência considerável. São passagens na voz do
narrador, em meio ao conjunto de acontecimentos. Segue exemplo desse tipo de
expediente:
[...] –Olhe, dou-lhe uma ideia, que pode ser aproveitada, e, se não
a achar boa, tenho outra à mão, e será a última. Mas eu creio que
que qualquer delas serve. Deixe a tabuleta pintada como está, e à
direita, na ponta, por baixo do título, mande escrever estas
palavras que explicam o título: “Fundada em 1860.” Não foi em
1860 que abriu a casa? [...] (ASSIS, Esaú e Jacó, 2016, p. 127)

2.2 Plano da História

O plano da história ou do enunciado se refere a história em si e seu conjunto de


acontecimentos. É a esse plano que pertencem os elementos constituintes da história, a
saber: personagens, enredo, tempo e espaço.

2.2.1 Personagens
Os(as) personagens, segundo Gancho (2004) são seres fictícios responsáveis pelo
desenvolvimento do enredo (que participam da ação). É pertencente à história e só é
levado em consideração se participa de forma ativa dos acontecimentos, seja por meio da
fala ou por meio da ação.

Ainda segundo a autora, os personagens podem ser classificados quanto ao papel


desempenhado (protagonista (personagem principal), antagonista (personagem que se
opõe ao principal, seja por meio de suas ações ou por suas características) e deuteragonista
(personagem secundário)) e quanto a caracterização (personagem plano(facilmente
identificáveis devido a seus traços comuns) e personagem esférico/redondo(possui
características mais complexas e uma certa profundidade – psicológica, física, social,
ideológica e/ou moral)).

O romance Esaú e Jacó possui muitos personagens, a maioria expressiva são


humanos (vivos ou mortos). A totalidade destes participam do enredo de forma
passageira, mas devido a seus papeis, desempenhando alguma ação, podem ser
classificados como tais.

Eles agem como antagonistas/protagonistas e outros como personagens


secundários.

O personagem principal, Esaú e Jacó, são os dois irmãos Pedro e Paulo e o próprio
narrador o Conselheiro Aires, pelo menos em partes. Embora sejam protagonistas, a obra
não se fecha somente nestes, seu enredo faz uma grande passagem em outros. O narrador,
em diversos momentos, saí e volta da história principal, o próprio título da obra, rende
diversos comentários/críticas quanto a essa definição, sendo ela mais uma das
ambiguidades da obra machadiana.

Para abordar os personagens do enredo de forma mais clara, seguem os que atuam
no enredo de forma significativa e suas classificações:

PEDRO E PAULO – PROTAGONISTAS


São personagens principais do romance, apresentados para o público antes mesmo
de seu nascimento, por serem gêmeos, sua mãe quisera antes de dar à luz, descobrir qual
seria o futuro de seus filhos. Por meio do enredo é possível perceber várias mudanças no
comportamento e nos sentimentos dos personagens em relação a suas experiências, é por
demais conflituosa. Essa evolução pode caracterizá-lo como um personagem esférico.
Apesar de não ser um humano, a ele é atribuída certa complexidade.

No início da obra, o narrador nos apresenta uma advertência do supostamente viria


a ser o tema do enredo, a disputa dos gêmeos desde o ventre, Pedro é monarquista e cursa
medicina no Rio de Janeiro. É um homem muito dissimulado e conservador, que acaba se
apaixonando por Flora. Briga o tempo todo com seu irmão, principalmente por
divergências políticas. Paulo, também personagem principal do romance, como dito antes
é irmão gêmeo de Pedro. Apresenta-se como impulsivo, e diferente do irmão é
republicano. Cursa direito em São Paulo, também se apaixona por Flora, e vê seu irmão
como seu maior inimigo, sempre brigando com ele por tudo.

PERPÉTUA – ESAÚ E JACÓ – DEUTERAGONISTA


A viúva, irmã de Natividade, é citada antes dos protagonistas, mesmo sendo
personagem secundária, pois o romance começa com a procura do futuro dos meninos
Pedro e Paulo, junto com Natividade ao morro do Castelo, de início pode-se considerar
que seja uma personagem principal, no entanto, sua participação se dá secundariamente.

É uma personagem plana, não sendo muito explorada no resto da narrativa.

PEDRO E PAULO – ESAÚ E JACÓ – ANTAGONISTA


Considerando o enredo da obra, que procura tratar das questões políticas que o
país passava, pode-se considerar como antagonistas os personagens principais, Pedro e
Paulo, ambos brigam desde o ventre, assim como os dois irmãos da passagem biblíca, que
representavam duas nações, aqui os gêmeos representam as duas formas de governo que
no momento estavam se digladiando. Sendo assim, cabe defini-los como personagens
redondos, por possuírem características mais complexas e desenvolvidas.

CUSTÓDIO – DONO DA CONFEITARIA - DEUTERAGONISTA


O presente personagem participa da narrativa nos capítulos LXII “Pare no D”,
LXIII “Tabuleta Nova”, LXIV “Paz!”. É o dono da tradicional “Confeitaria do Império”,
que em meio a mudança de governo (forma), Monarquia versus República, procura ajuda
do Conselheiro Aires visando uma adequação do nome de sua loja. Pode-se inferir com
isso, a grande dúvida que a sociedade passava, mudar para um nome que acolhesse
somente a República poderia trazer complicações ao Custódio, assim como deixar o
mesmo nomes na tabuleta. É um personagem plano.

CABOCLA BÁRBARA – ADVINHA- DEUTERAGONISTA


Cabocla Bárbara é uma personagem apresentada no início do romance.
Advinha/vidente consultada por Natividade, sugere que os gêmeos brigavam desde o
ventre materno, mas prevê “Coisa grandes” para o futuras, o capítulo I “Coisas Futuras!”
é o que vemos essa passagem. É uma personagem plana, por apresentar poucas
características e pouco ou nenhum desenvolvimento na narrativa.

Muitos outros personagens aparecem no romance, mas suas presenças são


limitadas e suas características não são muito exploradas. Alguns desempenham papeis
secundários e outros são deuteragonistas de Pedro e Paulo, nas diversas disputas dos
irmãos, seja aconselhando-os ou divergindo com eles. Todos são simples e devido a
participações limitadas serão apenas mencionados na seguinte tabela 7

Deuteragonistas – Personagens Personagens principais:


secundários
Gouveia: oficial de secretaria, Aires: Narrador e personagem do
apaixona-se por Flora romance, também é visto por uma
terceira pessoa. É grande confidente
de Flora, que lhe pede ajuda quando
está indecisa entre os dois irmãos.

Plácido: Mestre espírita consultado Natividade: Mãe de Pedro e Paulo,


por Santos. vive aflita com briga dos filhos, não
aceitando a situação de que são
rivais. Quando está prestes a morrer,
pede que seus filhos parem de brigar

7
A presente tabela descreve algumas características dos personagens e classifica-os quanto a sua função.
e sejam amigos, mas os gêmeos
cumprem essa promessa por apenas
um ano.
Rita: Irmã de Aires, enviuvara e Flora: Moça pela qual ambos os
mandara enterrar os cabelos junto gêmeos se apaixonam. É muito
com o falecido. indecisa, pois parece gostar dos dois
irmãos, e nunca consegue escolher
entre os dois. Um dia viaja para
Andaraí, seguindo o conselho de
Aires, e lá acaba por adoecer e
morrer.

2.2.2 Enredo

O enredo corresponde ao conjunto de acontecimentos que compõem a história e


inclui estruturalmente: a exposição (apresentação), a complicação (desenvolvimento), o
clímax e o desfecho (conclusão).

A estrutura do enredo pode ser simples (de fácil compreensão) ou complexa e,


quanto a sua temática pode ser considerada conservadora ou anti-conservadora. Quando
levada em consideração a ordem dos acontecimentos, podem ser encontrados enredos
lineares (cronológicos) ou não-lineares (quando a cronologia é quebrada de alguma
forma)

Esaú e Jacó é um romance de compreensão mediana, ou seja, sua estrutura não


simples, no entanto com um boa interpretação e compreensão de texto isso pode torna-se
mais leve. Sua linguagem pode ser acessível a diversos tipos de leitores, ressalvado a
importante indicação acima, por possuir uma estrutura dividida em capítulos curtos,
permite a leitura episódica, facilitando assim todo o processo.

A temática, entretanto, não é simples, possui características do realismo-


naturalismo que trouxera outra formação dos romances. Estamos diante de um romance
carregado de sentidos e reflexões acerca da natureza humana e animal, além de uma visão
especifica sobre a formação do caráter.
Quanto a linearidade do enredo, o romance pode ser considerado não-linear. A
apresentação, desenvolvimento, clímax e desfecho ocorrem na ordem inversa. Vale
ressaltar, porém, que a obra possui uma região introdutória. O narrador apresenta as
condições ambientais nas quais os protagonistas irão nascer, é o momento da ida ao morro
do Castelo, em busca da cabocla.

Temos então, uma parte introdutória ou de apresentação, na qual tomamos


conhecimento do ambiente (não se limitando ao ambiente físico) e de personagens
passageiros, mas que contribuem com o andamento da narrativa e preparam para a
chegada do protagonista. Seguimos com a apresentação do protagonista em si e seu
contato com o meio.

Seguimos com a complicação, o momento em que o personagem principal


encontra humanos pela primeira vez, temos aí o inicio do problema (inicio do processo
de domesticação do lobo).

O clímax inicia no momento em que Pedro e Paulo se apaixonam por Flora. O


desfecho com a morte desta e de Natividade, ambos continuam sendo rivais.

2.2.3. Tempo

O tempo fictício é aquele que se passa dentro do romance (GANCHO,2004). Nele


estão inclusos a época em que se passa a história (que constitui o plano de fundo para o
enredo) e a duração da história.

Há, também, o tempo do enunciado, que pode ser cronológico (que se refere a
ordem natural na qual acontecem os fatos do enredo) ou psicológico (quando ocorre no
interior dos personagens, a nível psicológico, subjetivo); e o tempo da enunciação, que
pode ser linear (quando a narração segue a ordem cronológica dos fatos) ou invertido
(quando os acontecimentos não seguem a cronologia dos fatos, podendo haver a
antecipação de algum fato (prolepse), ou uma inversão total da cronologia, iniciando a
narração com o meio ou fim da fábula).

O tempo do enunciado em Esaú e Jacó é psicológico não-linear. Acompanhamos


os personagens desde o seu nascimento até a fase adulta, porém de forma inversa, primeiro
vemos sua mãe procurando a advinha quando os dois tinham 1 ano, capítulos depois,
temos a narração do nascimento dos irmãos. Sabe-se que nasceram a 7 de abril de 1870,
viveram no momento do golpe republicano em 1889 e seguiram adiante, sendo impossível
quantificar os anos dos acontecimentos. Mas ainda assim, o tempo é comum a todos os
personagens.

A história se passa na época da mudança de governo (ou como mencionado pelo


autor, golpe), e no início do romance, o enredo se passa no ano de 1871. Vale ressaltar
que o enredo inicia alguns um ano antes, pois os personagens já se encontram com um
pouco mais de um ano quando aparece esta demarcação temporal.

O tempo da enunciação na obra também é não-linear, há inversão dos


acontecimentos, e a presença de recursos de retrospecção (flashbacks).

2.2.4 Espaço e ambiente

Segundo Gancho (2004) espaço é o local físico onde se passam as ações de uma
narrativa, algumas narrativas podem conter uma maior variedade de espaços. A principal
função do espaço é situar as ações dos personagens e estabelecer com eles uma interação,
quer os influenciando, quer sendo por eles modificado.

Entende-se por ambiente, o espaço carregado de características socioeconômicas,


morais e psicológicas onde se passa o enredo.

Existem algumas classificações usadas para a análise do espaço em narrativas


literárias: 1ª – Dimensional (quando pode ser mensurado de alguma forma, por exemplo:
um país, uma cidade, um continente, etc.) ou não-dimensional (quando o espaço atinge
dimensões não mensuráveis ou desconhecidas); 2ª – Horizontal (quando se passa em
ambiente humano, pertencente ao mundo físico/real) ou vertical (quando o enredo se
passa em um ambiente sobrenatural/divino, por exemplo, céu, inferno, etc.); 3ª – Espaço
aberto (externo) ou fechado (interno) e 4ª- Tópico (habitual, familiar, seguro), atópico
(impróprio, inabitual, não-familiar), utópico (espaço que não existe, mas é considerado
perfeito) e distópico (espaço totalmente caótico e desorganizado).

O espaço e o ambiente no romance Esaú e Jacó são leve e raramente alterados no


decorrer da história. Antes de classifica-los, seguem as alterações espaço/ambiente que
ocorrem na obra:
O enredo inicia na subida do morro do Castelo no Rio de Janeiro, RJ. Mais
especificamente as florestas congeladas. Este seria o espaço, já o ambiente (a ladeira do
morro) é descrito como íngreme, desigual e malcalçado.

[...] Natividade e Perpétua conheciam outras partes, além de


Botafogo, mas o morro do Castelo, por mais que ouvissem falar
dele e da cabocla que lá reinava em 1871, era-lhes tão estranho e
remoto como o clube. O íngreme, o desigual, o malcalçado da
ladeira mortificavam os pés ás duas pobres donas [...]. A casa era
como as outras, trepada no morro. Subia-se por uma escadinha,
estreita, sombria, adequada à aventura. [...]
(ASSIS, Esaú e Jacó, 2016, p. 17)

Seguindo no romance, não temos alteração de espaço e ambiente.


Geograficamente, estamos na maior parte do enredo na então capital do Império, Rio de
Janeiro. O clima pode ser improvável de ser descrito pelas mínimas informações.

Tendo em vista esse percurso pelo espaço no decorrer da obra, podemos classifica-
los da seguinte forma: 1ª – dimensional, pois atinge proporções mensuráveis (Não sai da
região sudeste); 2ª – horizontal, por pertencer ao mundo humano; 3ª – Predominantemente
aberto (ruas, morros), embora haja alguns espaços fechados (igrejas, casas, palácios); 4ª
– Tópico em sua predominância, pois mesmo que possam parecer estranho de início, em
seguida há apresentação do ambiente comum dos personagens, uma capital em pleno
desenvolvimento.

3. Considerações Finais

O romance Esaú e Jacó, apesar de ser assim intitulado, não se concentra apenas
nos personagens principais, os irmãos Pedro e Paulo, traz reflexões de fatos históricos que
mudaram o Brasil.
O narrador sempre retorna a sua visão a respeito da questão política em voga,
trazendo os personagens do triângulo amoro (Paulo, Pedro e Flora), como representantes
da conjuntura política que o Brasil passava, uma batalha de “diferentes formas de
governo”, partindo da ideia que a morte de Flora, representa o caos que o país poderia
entrar, aplicando essa visão na construção dos seus personagens.
O romance, além de trazer essa questão histórica, também chama atenção pela
linguagem adotada pelo autor, Assis se refere ao leitor no feminino leitora, pois na época
o público que acessava os folhetins era predominantemente feminino, elas esperavam
mais um romance machadiano, mas ele as apresenta uma grande descrição da realidade
em que viviam, dando hoje, passados mais de 100 anos de sua obra uma grande
contribuição para entendimento do funcionamento da sociedade brasileira da época.
Apesar de ser uma linguagem rebuscada e metafórica (típica de Machado) revela os
aspectos sociais da época de forma rica em detalhes.

A intertextualidade adotada na produção do romance, é certamente, muito


importante para aproveitamento da presente obra na sala de aula, preparando os
educandos para os diversos vestibulares existente e além disso para um melhor
entendimento da situação política, social e econômica de nosso país.
4. Bibliografia
D’ONOFRIO S. Forma e Sentido do Texto Literário. Editora Ática.
GANCHO. C. V. Como analisar narrativas. Editora Ática.
ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó; Todos os romances e contos consagrados: volume 3 /
Machado de Assis. – 1. Ed. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.

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