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Interfaces Críticas da Comunicação: Uma introdução

ao estudo da obra de Armand Mattelart


Rodrigo Saturnino∗

Índice dos povos latinos americanos pela agressão


norte-americana), levando-o a elaborar uma
Introdução 1 crítica sistemática à escola dos communica-
1 Linhas de pensamento 2 tion research.
2 Guerra, progresso e cultura 3 Durante os anos 80, Mattelart assumiu
3 Esperança democrática 6 uma mudança epistemológica, passando a
Referências Bibliográficas 7 optar por um método histórico de pesquisa
teórica. Nesta fase, o sociólogo voltou-se
Introdução para temas relacionados com as estratégias,
as técnicas, os sistemas, as redes, a guerra,
estudo político e econômico da co-
O municação – aproximando-se ao fenô-
meno das multinacionais – e o determinismo
a máquina e e economia. Sua intenção era
construir elementos teórico-metodológicos
que contribuiriam para o aperfeiçoamento do
tecnológico constituíam núcleos fundamen- conhecimento científico sobre a história da
tais dos estudos realizados pelo sociólogo comunicação social. Esta tarefa visava tam-
Armand Mattelart. bém o resgate da memória estruturada deste
Seu percurso acadêmico desenvolveu-se campo da humanidade.
com mais vigor a partir da década de 60 Mattelart reivindicava a importância da
no Chile. A realidade que ali encon- reflexão epistemológica frente aos neoposi-
trou, confronta-o com problemas sociais ao tivismos e a sedução tecnológica. Ao pro-
mesmo tempo que o incentivou a refletir so- por novas formas de pesquisa no campo
bre as estratégias de comunicação como fer- da comunicação, procurou estabelecer a sua
ramentas de divulgação e mobilização so- perspectiva situando as rupturas e as con-
cial. Em 1973, Mattelart foi extraditado tinuidades de um tempo no qual os paradig-
para a França pela ditadura de Pinochet. mas entraram em crise e no qual as relações
Neste período seu pensamento foi forte- da classe intelectual sofreram profundas mu-
mente influenciado pelas demandas revolu- danças com a intensa produção cultural de
cionárias da época (Guerra Fria e a opressão volumes.

Mestre em Comunicação e Cultura e Doutorando O pensamento revolucionário, incentivado
em Sociologia pelo Instituto de Ciências Sociais da pelas experiências na América Latina, neste
Universidade de Lisboa.
2 Rodrigo Saturnino

segundo período, transformou-se em textos regida pela informação anteriormente ao


mais abrangentes e rigorosos como, por e- “marco” defendido por estes autores.
xemplo, nos livros publicados nos anos 90: Neste período, a articulação do seu pensa-
A Comunicação-mundo: História das idéias mento contemplou os fatos históricos para,
e das estratégias (1991), A Invenção da Co- desta forma, evidenciar que o estabeleci-
municação, História das Teorias da Comu- mento ideológico da “sociedade da infor-
nicação (1994), A Mundialização da Comu- mação”, advinha da sua edificação e natura-
nicação (1996). lização, cuja orientação pertencia aos inte-
A mudança no pensamento de Mattelart resses hegemônicos norte-americanos. Mat-
relacionava-se também com o posiciona- telart destacou, por exemplo, que a origem
mento teórico influenciado pelas teorias de deste discurso fundava-se em sintonia com a
Gramsci e de Althusser e, obviamente, pelo estruturação geopolítica, de dimensões ideo-
idealismo marxista que vigorou nas décadas lógicas, que adquiriu status no final do
de 60 e 70. Paradigmaticamente, na sua se- século XX quando o planeta experimentou
gunda fase, nosso autor deu cabo às suas re- a era dos fins. Segundo Mattelart, tratava-
flexões a partir de Walter Benjamim, Michel se de um projeto de globalização forte sufi-
de Certeau, David Morley, Stuart Hall, Um- ciente para destituir antigas utopias, finalizar
berco Eco, entre outros. Esta alteração as ideologias e fazer sucumbir as classes para
tornou-se mais evidente quando Mattelart dar lugar à era da informação mercantilizada.
amplia seu interesse para as culturas po- A conseqüência imediata emergiu através da
pulares. Para ele, elas se tornaram o novo interconexão social generalizada das econo-
alvo do projeto hegemônico da comuni- mias e da aceleração do processo de “incor-
cação. É uma mudança que sai do determi- poração das sociedades particulares em gru-
nismo econômico político e volta-se para os pos cada vez maiores” (Mattelart 2000,11).
estudos culturais.
O pensamento de Mattelart já na década
1 Linhas de pensamento
de 90 era uma contraposição ao otimismo
exagerado de autores contemporâneos que Podemos dividir o percurso de Mattelart a
procuravam estabelecer teorias acerca do partir de cinco principais linhas metodoló-
nascimento da “sociedade da informação”, gicas (Cf. Maldonado, 1999). A primeira
como Nicholas Negroponte, Pierre Lévy, relaciona-se com o período revolucionário
Alvin Tofller, Manuel Castells. Estes teóri- onde se destacava a análise da imprensa li-
cos defendiam que o paradigma das re- beral no Chile mediante aplicações básicas
des de comunicação, inevitavelmente, con- da semiologia-estruturalista francesa. Nesta
duziria todos os indivíduos a um processo fase, Mattelart apropriou-se da produção de
de progresso contínuo para, finalmente, textos esquemáticos como ponto de partida
formar a “aldeia global” profetizada por da reflexão sobre a influência das mensagens
McLuhan. Para contrapor este otimismo ideológicas. A obra Para ler o Pato Donald:
“maravilhado”, Mattelart recuou na história O veneno ideológico de Donald (1978), es-
e sinalizou a existência de uma sociedade crita em co-autoria com Ariel Dorfman, sin-
tetizou, de forma mecanicista, esta fase:

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as personagens de Walter Disney represen- ciólogo realizou uma pesquisa exaustiva a-


tavam a cultura imperialista dominante. cerca das origens das idéias, das estraté-
A segunda linha diz respeito aos estu- gias e dos modelos conceituais relacionados
dos político-ideológicos que este autor cons- ao mundo da comunicação nos últimos dois
truiu. Nesta etapa, Mattelart reformulou e séculos. Neste aspecto, Armand Mattelart
criticou o pensamento marxista acerca da afirmou a relação entre o desenvolvimento
comunicação na tentativa de elaborar uma das tecnologias a partir dos finais do século
teoria crítica revolucionária da comunicação XVIII e o surgimento de meios e instrumen-
social nos anos 70. O pensamento pro- tos que ampliariam a comunicação humana.
duzido neste período, posteriormente, influ- Para este autor o pensamento acerca da co-
enciou diversos setores da esquerda latino- municação entre os homens só foi possível
americana (Cf. Maldonado, 1999). a partir das transformações históricas que a
A terceira linha metodológica de Matte- institucionalização do capitalismo ocasionou
lart refere-se à economia política dos sis- no mundo.
temas e meios de comunicação. O au-
tor produziu conhecimentos acerca da confi-
2 Guerra, progresso e cultura
guração do capitalismo na comunicação so-
cial. Neste período, Mattelart procurou es- A perspectiva história da comunicação
tabelecer a história deste campo de estudos perpassa toda a produção mattelarniana.
através da análise documental de arquivos de Uma das suas principais teorias, a idéia
empresas transnacionais, do Pentágono e do da “comunicação-mundo”, fundamentou-
Governo dos Estados Unidos. Esta fase esta se através da apropriação do conceito de
representada na obra Comunicação-mundo: “economia-mundo”, formado no século XVI
História das Idéias e das Estratégias (1991) na Europa Ocidental, e foi descrita a partir
em que Mattelart organizou, rigorosamente, de três pilares: guerra, progresso e cultura
o processo histórico da formação da comuni- (Mattelart, 1991).
cação. Numa breve contextualização o autor in-
Como quarta linha de pensamento vocou o Iluminismo e o Liberalismo como
destaca-se seu período epistemológico. as fontes maternas das redes técnicas, “ (. . . )
Mattelart estabeleceu elementos teórico- dois projetos de construção de um espaço
metodológicos a fim de fortalecer uma mundial totalmente fluido, ora opostos, ora
nova forma de pensar acerca da comu- convergentes” (Mattelart 2000, 15). Além
nicação, desta vez analisada a partir de dos aspectos teóricos, Mattelart resguardou-
uma perspectiva crítica transformadora. O se em apresentar diversos fatos para cons-
autor demonstrou, por exemplo, na obra A truir uma cronologia institucional da co-
Invenção da Comunicação (1996), como o municação, passando, por exemplo, pelo
pensamento “esclarecido” do século XVIII primeiro sistema de telecomunicações da
colaborou com o desenvolvimento, no século França, pela história do Telégrafo, dos Cor-
posterior, das utopias da comunicação e da reios e do Telefone.
transparência mundial. A formação desta rede interconectada
Na sua última linha metodológica, o so- ligava-se, historicamente, aos séculos XVII

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e XVIII quando se constituía o problema em se tornaria exequível e uma nova organiza-


torno das vias de comunicação e da vincu- ção social se ergueria à sua sombra. (Matte-
lação dos territórios à formação de um es- lart 2000, 37 -38).
paço nacional. A liberalização dos fluxos du- A tese saint-simoniana seria a resposta
rante o Iluminismo através da instalação de para a dupla crise do séc. XIX: a primeira,
pontes e estradas – ideologicamente baseada com origem nos resquícios da empreitada
na domesticação da “natureza selvagem” que revolucionária e falida do Iluminismo ao ten-
separava os homens e impedia sua mútua tar criar uma nova ordem social; e a se-
compreensão –, marcou o início da invenção gunda, a crise da “Europa desorganizada”,
das redes de comunicação, “fruto da espe- incapacitada de reconstruir a paz interna-
rança no futuro” (Mattelart 2000,16; 1996, cional. O pressuposto do saint-simonismo,
10). levado a cabo por Michel Chevalier, se res-
A construção das vias, segundo este au- tringia à utilização desta rede como ponto
tor, favoreceu o surgimento da primeira rede de partida para coação de toda complexi-
técnica. O objetivo era garantir a circulação dade do organismo social. A comunicação
de pessoas e de mercadorias com vistas à di- em rede era o ponto-chave para dar início, se
namização do mercado. Para além disso, o não à manutenção deste projeto, ao encurta-
investimento no sistema de transporte revi- mento das distâncias e a aproximação entre
goraria o desenvolvimento do setor industrial as classes mundiais.
e o domínio em escalas alargadas. Estamos O empirismo desta hipótese deu-se com
diante daquilo que Mattelart considerou ser a criação das primeiras Exposições Univer-
o esboço da sociedade do fluxo, legitimada sais. Estes encontros colaboraram na for-
pelo pensamento racional e as metáforas es- mação do imaginário comunicacional onde
tabelecidas entre o organismo, a máquina e a o saber, o conhecimento mundial e o livre
sinergia com a lógica acumulativa do capital. mercado se confraternizavam no mesmo es-
A teoria de Saint-Simon sobre a “Associ- paço e no mesmo tempo, condensando os
ação Universal sob o ponto de vista da in- pressupostos da modernidade e do progresso
dústria” foi invocada por Mattelart como um supranacional (Mattelart 1996, 32).
dos paradigmas precursores das primeiras Avançando na perspectiva histórica a-
noções das redes técnicas. A hipótese saint- presentada no livro Comunicação-mundo:
simoniana, baseada no positivismo, pre- Histórias das Idéias e das Estratégias, e
sumia que o planeta deveria ser explorado também na sua História da Sociedade da In-
apenas por homens associados a uma causa formação, o autor recupera o princípio da
comum a fim de gerar uma robusta sociedade Guerra Total como problemática para desen-
industrial. No modelo pleiteado por Saint- volvimento das tecnologias da comunicação
Simon, o Estado-providência não deveria e- e da formação das redes.
xercer nenhum tipo de tutela. Só assim seria Para o autor, os confrontos mundiais for-
possível a reestruturação total do gerencia- taleceram a posição dos media no mundo
mento das coisas e dos indivíduos. A idéia da enquanto instrumentos ideológicos para do-
rede tornou-se a figura simbólica deste pro- minação hegemônica. Nesta altura, a pro-
cesso. Através dela, o projeto do economista paganda adquiriu “seus primeiros galões

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como técnicas de gestão da opinião de A ênfase na guerra dada por Mattelart está
massa, mas igualmente como meio de relacionada com o condicionamento que ela
pressão sobre os responsáveis de governos criou para o aprimoramento tecnológico das
estrangeiros”, como no caso da Primeira redes técnicas de comunicação e informação.
Guerra Mundial, “na qual a guerra política, Tais sistemas tecnológicos (como a criação
a guerra econômica e a guerra ideológica se de satélites, computadores e a cibernética)
tornaram (. . . ) decisivas” (Mattelart 1991, passaram a ter um papel estruturador tanto
63). da organização social como da nova ordem
Durante a Guerra Fria a concepção propa- mundial: um ponto de partida para a glo-
gandística da comunicação alcançou seu pro- balização e o restabelecimento do conceito
longamento ao determinar os modelos de im- de rede.
plantação dos sistemas de satélite. Os Esta- Seguidamente ao período das hostilidades,
dos Unidos e a antiga União Soviética con- a comunicação mundial, acreditava Mat-
centraram os projetos políticos na aplicação telart, configurou-se em um projeto que,
de recursos financeiros para financiar a in- hipoteticamente, ostentava fazer da so-
dústria de armas nucleares e de novas tec- ciedade um agrupamento conectado por in-
nologias de comunicação. teresses e por aparatos tecnológicos a fim de
A incerteza de bombardeios soviéticos, na “facilitar” a vida social e o trânsito de mer-
década de 60, sobre os Estados Unidos, in- cadorias e ideologias. Por outro lado ela
centivou o Departamento de Guerra norte- gerou a dinâmica do próprio idealismo da
americano a subsidiar o desenvolvimento guerra que mata, exclui, segrega e exerce o
de um sistema de transmissão de dados poder.
em tempo real entre os computadores, co-
Eterna promessa, a rede de comu-
nhecido como Arpanet. O objetivo do sis-
nicações é símbolo de um mundo
tema era multiplicar a presença dos mi-
melhor, porque mais solidário. Da
litares em diversos pontos através de inú-
estrada de ferro até as “estradas da
meros computadores conectados por uma
informação”, esta crença foi se rea-
única rede e permitir a circulação e o en-
vivando no decorrer das gerações
vio de informações instantâneas entre eles.
tecnológicas. As redes, porém,
Além da conexão em rede, os militares
sempre estiveram no centro da luta
acreditavam que o sistema era capaz de
pelo domínio do mundo. (Matte-
garantir o envio de mensagens “blindadas”
lart 2000,1)
(tunneling) através de um novo protocolo
de leitura a partir da tecnologia de comu- Da guerra para uma sociedade em redes
tação de pacotes. Posteriormente ao seu de informação. É assim, a grosso modo, o
sucesso, o Arpanet foi utilizado por institu- progresso ocasionado pelo advento da comu-
ições governamentais, fornecedores de mate- nicação tecnológica, marco estabelecedor de
rial bélico e por universidades. Evoluiu para uma complexa rede de informação mundial.
o sistema da Internet na década de 1980, e A idéia do “progresso para todos” recebeu
em meados dos anos 90 foi estendida para o reforço através do entusiasmo de Harry Tru-
uso civil. man. O ex-presidente dos EUA, encabeçou

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uma incisiva campanha contra o “subdesen- de simples atualização das velhas


volvimento” e os “desequilíbrios sociais” concepções etnocêntricas das teo-
que ameaçavam aumentar a proliferação do rias difusionistas do século XIX.
comunismo mundial. Um dos pontos rele- O “primitivo” agora é “subdesen-
vantes do seu plano de governo era a for- volvido”, e sua única opção é imi-
mação de uma sólida opinião pública que tar os modelos dos mais adianta-
acreditasse no valor desta empreitada. dos. (2000, 96).
Uma das estratégias de persuasão era
“fazer evoluir” as populações em estado de
3 Esperança democrática
“subdesenvolvimento”, ou seja, fazê-las pas-
sar de uma cultura e de uma sociedade di- Para nosso autor a comunicação é o ponto
tas tradicionais para uma cultura e uma so- de partida para o desencadeamento do pro-
ciedade ditas modernas (Mattelart 2000, 95). cesso político-econômico estabelecido du-
A qualificação do nível de modernização em rante a formação das tecnologias e das redes.
que se encontravam estes grupos era cal- A história da comunicação internacional está
culada por estatísticas pontuadas através de tecida por laços que se formaram entre o
índices específicos: “taxas de alfabetização, fazer a guerra, a promoção do progresso e
industrialização, urbanização e exposição às a transformação da cultura: um programa de
mídias” (Mattelart 2000, 96). Os países com unificação do planeta que trata “a mudança
baixos índices comprovados deveriam seguir social como um produto derivado da econo-
as recomendações da Unesco. Para abolir o mia generalizada e da market mentality, e
subdesenvolvimento, os investimentos públi- confia ao monetarismo a incumbência de es-
cos deveriam concentrar parte de seus em- truturar a sociedade digital” (Mattelart 2000,
preendimentos na criação de canais de co- 185; 1996, 153).
municação com os indivíduos. Em números A proposta de Mattelart é formar uma re-
exatos para cada 100 habitantes: “dez e- cepção crítica e organizada contra este tipo
xemplares de jornal, cinco aparelhos de rá- de discurso. A alternativa viria à tona através
dio, dois televisores, dois assentos de ci- da construção de um poder popular revolu-
nema” (Mattelart 2000, 96). cionário e participante no processo político.
Os veículos de comunicação moderna, O receptor é o ponto principal para desen-
antes utilizados em campos de batalha, mu- cadear este processo. Sua sugestão é re-
daram de local mas não de função para visar as concepções epistemológicas sobre a
quem os detêm. Ressurgiram no período relação emissor/receptor. Nesta fase, seus
pós-guerra como agentes inovadores do pro- apontamentos chamavam a atenção para o
gresso. Juntos, eles espalharam ideologias, processo de cooptação que a cultura popu-
modelos de consumo e esperança para as lar sofreu em relação, por exemplo, à pro-
economias “subdesenvolvidas”. gramação dos conteúdos mediáticos. O au-
tor deixou evidente como as artimanhas da
Esta crença cega num progresso indústria cultural conseguiram embutir a cul-
exponencial e na capacidade mo- tura popular no jogo de consumo. Os em-
dernizadora das mídias não passa presários da comunicação, como exímios

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catequizadores, passaram a adicionar ma- Referências Bibliográficas


tizes populares nas programações apelando
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para a afetividade das comunidades. Desta
cas da Comunicação: O Pensamento
forma facilitaram a aproximação entre a cul-
de Armand”, Intexto, Porto Alegre:
tura popular e os seus produtos.
UFRGS, v. 2, n. 6, p. 1-23,
A lógica do quotidiano proposta por
Julho/Dezembro.
Michel de Certeau tornou-se um dos pon-
tos de partidas em que nosso autor se apoiou MATTELART, A. (2009). “A construção
para redefinir o papel das culturas popu- social do direito à Comunicação como
lares diante do sistema econômico capita- parte integrante dos direitos humanos”,
lista e do totalitarismo das redes de co- Revista Brasileira de Ciências da Co-
municação. Apesar de a hegemonia exis- municação. Vl. 32, n. 1, p. 33-50,
tir, para Mattelart nem tudo era mercado jan./jun. São Paulo: Intercom.
ou lucro. Existiam, nas culturas populares,
mecanismos próprios de subversão e ex- _____. (2007). “Mundialização, cultura
clusão desse sistema considerados como in- e diversidade”, Revista FAMECOS:
strumentos destoantes do princípio capita- Mídia, cultura e tecnologia, Brasil, v.
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disciplina”, por relações sociais solidárias e revistas.univerciencia.org/
por uma ética que sobrevive à miséria e à ex- index.php/famecos/article/
ploração. view/1126/843. [ consultado a 25 de
Apesar de demonstrar um aparente e Fevereiro de 2010].
repetitivo tom apocalíptico e escatológico
na sua história da comunicação interna- _____. (2006). “Armand Mattelart:
cional, Mattelart deixou escapar sua espe- do Pato Donald ao McDonalds”,
rança democrática na força popular. Para o Revista FAMECOS: mídia, cul-
sociólogo, a resistência comunitária seria o tura e tecnologia, Brasil, v. 1,
caminho a seguir na tarefa de desmascarar n. 17. Págs. 66-73, disponível
a ilusória redenção global proposta através em http://www.revistas.
da ideologia das redes e do consumo. Esta univerciencia.org/index.php/
condição só viria à tona mediante a busca famecos/article/view/299/230
de uma interdependência que libertasse as [consultado a 25 de Fevereiro de 2010].
“diversas comunidades humanas da obsessão _____. (2002a). “Cultura e Universalismo
das identidades únicas” e derrubasse “as cer- na era da mercantilização”. Palestra.
cas mentais da intolerância atiçada tanto pe- Fórum Social Mundial, Porto Alegre,
los nacionalismos exclusivistas como pelo disponivel em http://www.uff.br/
mundialismo dos triângulos de ouro do livre mestcii/mattelart1.htm [ consul-
comércio” (Mattelart 2000, 186; 1996, 153). tado a 10 de Fevereiro de 2010].

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