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PROCESSO

DO TRABALHO – FELIPE BERNARDES

AULA1 ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO

1. INTRODUÇÃO

O professor Felipe Bernardes, que é juiz do trabalho do TRT da 1ª Região, dá as boas

vindas aos alunos e afirma que todo o conteúdo relevante previsto nos editais da disciplina de

direito processual do trabalho, para as provas de Analista e Técnico de Tribunais e MPU, será

abordado nesse curso.

O professor deixa seus contatos para esclarecer dúvidas: no Instagram

(@proffelipebernardes) e e-mail (felipebernardes@cursoenfase.com.br).

2. DA JUSTIÇA DO TRABALHO: ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIA

2.1. ÓRGÃOS DA JUSTIÇA DO TRABALHO

O art. 111 da CF estabelece os órgãos da Justiça do Trabalho.

CF, Art. 111. São órgãos da Justiça do Trabalho:


I - o Tribunal Superior do Trabalho;
II - os Tribunais Regionais do Trabalho;
III - Juizes do Trabalho

Existem no Brasil 24 TRTs, ou seja, quase todos os Estados da federação têm sede de

TRT. Em algumas situações, temos um TRT englobando dois Estados, tal qual ocorre com o TRT

da 14ª Região, que engloba os Estados de Rondônia e Acre. No Rio de Janeiro, temos o TRT da

1ª Região, em Minas Gerais existe o TRT da 3ª Região.

No Estado de São Paulo, excepcionalmente, existem dois TRTs: o TRT da 2ª Região, com

sede na Capital, e o TRT da 15ª Região, com sede em Campinas.

Os juízes do trabalho também são órgãos da justiça do trabalho. Aqui o examinador

pode fazer uma “pegadinha” na prova e afirmar que as Varas do Trabalho são órgãos da

justiça do trabalho, o que está errado!

Como diz a Constituição Federal, o órgão da Justiça do Trabalho é o juiz do trabalho,

enquanto pessoa física, e não o juízo ou a unidade jurisdicional.

O que são as varas do trabalho?

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As Varas do Trabalho ou as secretarias da Vara do Trabalho nada mais são do que uma

unidade organizacional no âmbito do tribunal. Vale dizer, o TRT se divide em algumas

unidades que vão congregar servidores e magistrados, mas a Vara do Trabalho, por si só, não

é um órgão do TRT.

CF, Art. 112. A lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas comarcas não
abrangidas por sua jurisdição, atribuí-la aos juízes de direito, com recurso para o
respectivo Tribunal Regional do Trabalho. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004)

O art. 112 da CF traz a hipótese da cidade ou comarca que não seja abrangida pela

jurisdição de alguma Vara do Trabalho em território nacional. Essa situação, atualmente, no

ano de 2018, não acontece mais no Brasil, pois todo o território nacional é abrangido pela

jurisdição de alguma Vara do Trabalho.

ATENÇÃO! Isso não significa afirmar que todas as cidades do Brasil têm Vara do

Trabalho. É possível um município do interior abranger a jurisdição de outras cidades.

Por exemplo, a jurisdição do município de Angra dos Reis/RJ, por força de lei, abrange a

jurisdição das cidades Rio Claro/RJ e Paraty/RJ.

De acordo com a Constituição Federal, nada impediria que a lei transferisse a

competência trabalhista pra juízes de direito investidos nessa jurisdição, mas, atualmente, não

é o que acontece no Brasil.

Cuidado para não confundir: a cidade sede da Vara do Trabalho pode exercer sua

jurisdição não só ali, mas em outras cidades contíguas em municípios vizinhos.

CF, Art. 113. A lei disporá sobre a constituição, investidura, jurisdição,


competência, garantias e condições de exercício dos órgãos da Justiça do
Trabalho. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 24, de 1999)

O referido art. 113 da CF afirma que a lei irá regulamentar atribuições, competências,

garantias da magistratura, as quais se aplicam de forma indistinta para os juízes do trabalho,

condições de exercício, como será a remoção na carreira da magistratura do trabalho, entre

outras questões.

CLT, Art. 650. A jurisdição de cada Junta de Conciliação e Julgamento abrange


todo o território da Comarca em que tem sede, só podendo ser estendida ou
restringida por lei federal

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O art. 650 da CLT merece muito cuidado e atenção na prova objetiva. Lembrar que

desde a EC 24/99 não existe mais as Juntas de Conciliação e Julgamento, pois foi extinta a

representação classista na Justiça do Trabalho, ou seja, aquela situação em que se tinha um

juiz togado, que prestava concurso público, e dois juízes classistas, sendo um deles

representante dos empregados e o outro representante dos empregadores.

Era uma situação muito antiga na Justiça do Trabalho, que veio de um período bastante

inicial da instituição. E recebia o nome de Junta de Conciliação e Julgamento porque era

formada por três magistrados, composta por um juiz togado e dois classistas.

Assim, desde a EC 24/99, com a extinção das Juntas de Conciliação e Julgamento, passa

a existir a figura do juiz singular, que é o juiz do trabalho que vai assumir o cargo mediante

aprovação em concurso público de provas e títulos e que vai presidir a Vara do Trabalho.

Portanto, podemos considerar o art. 650 da CLT revogado de forma tácita.

Por que foi revogado?

Porque temos uma lei superveniente, a Lei 10.770/2003, sobre a qual o CNJ já se

posicionou, cujo art. 28 dispõe:

TRTs têm autonomia administrativa para fixar a jurisdição das suas Varas do
Trabalho, podendo agregar à sede da Vara do Trabalho o número de municípios
que julgar convenientes para melhor atender ao jurisdicionado.

Esse dispositivo menciona que os TRTs podem deslocar a sede de uma Vara do Trabalho

para outro município, bem como alterar e estabelecer a jurisdição dos referidos órgãos

julgadores, com a finalidade de obter maior celeridade na prestação jurisdicional.

Isto é, a Lei 10.770/2003 estabelece que não necessariamente por lei federal, como

exigia o art. 650 da CLT que foi tacitamente revogado, mas por ato administrativo do TRT

(resolução, um ato colegiado do Pleno ou Órgão Especial), os TRTs podem modificar a

jurisdição. Exemplo: imaginando que a lei só previsse a jurisdição de Angra dos Reis

exclusivamente para a cidade de Angra dos Reis/RJ, mas, posteriormente à Lei 10.770/2003,

surge um ato administrativo do TRT da 1ª Região (RJ) estabelecendo que a Vara do Trabalho de

Angra dos Reis tem jurisdição não somente sobre a cidade de Angra dos Reis, mas também

sobre a cidade de Paraty e Rio Claro. É totalmente válido esse ato administrativo, tanto para

alterar a jurisdição das Varas do Trabalho quanto par alterar a sede da Vara do Trabalho,

conforme entende o CNJ.

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Portanto, cuidado com a assertiva na prova que trouxer a redação literal do art. 650 da

CLT, porque o texto da lei formalmente está em vigor, mas pode ser considerado tacitamente

revogado. É para marcar um asterisco nessa afirmação e comparar com as demais, para

verificar se não tem alguma outra que seja mais certa.

2.1.1. TST: ESTRUTURA, FUNCIONAMENTO E COMPETÊNCIA

Vamos analisar a organização do TST, que é o órgão de cúpula da justiça do trabalho.

· Quantidade de Ministros: 27

· Idade dos Ministros quando da nomeação: mais de 35 anos e menos de 65 anos.

· Quinto constitucional: 1/5 dentre advogados com mais de dez anos de efetiva

atividade profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de

efetivo exercício, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas

classes. Recebidas as indicações, o tribunal formará lista tríplice, enviando-a ao Poder

Executivo, que, nos vinte dias subsequentes, escolherá um de seus integrantes para

nomeação.

Um quinto dos Ministros do TST é escolhido, alternativamente, entre advogados e

membros do MPT com mais de dez anos de efetivo exercício profissional.

Sempre que estivermos diante de uma situação em que a CF estabeleça o quinto

constitucional e o cálculo der como resultado um número não inteiro (número decimal) – no

caso em comento, um quinto de 27 Ministros corresponde a 5,2 – deve-se arredondar para o

número inteiro acima – no caso, seis Ministros do TST, sendo três oriundos do MPT e três

oriundos da Advocacia.

A OAB forma lista sêxtupla e encaminha para o TST. O TST, a partir dessa lista sêxtupla,

forma uma lista tríplice e a envia para o Presidente da República escolher um dos três nomes

e fazer a nomeação.

· Nomeação dos Ministros: pelo Presidente da República após aprovação pela

maioria absoluta do Senado Federal.

A nomeação desses Ministros pelo Presidente da República ocorre após a aprovação do

nome escolhido pelo Presidente pela maioria absoluta do Senado Federal.

Portanto, 21 Ministros do TST serão da magistratura de carreira, ou seja, juízes de

carreira dos TRTs, os chamados desembargadores do trabalho, que são os juízes em segunda

instância.

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Os TRTs indicam os magistrados para promoção por merecimento e antiguidade ao TST,

sendo, portanto, escolhidos dentre magistrados de carreira.

Também existe o quinto constitucional no TRT, ou seja, um desembargador do trabalho

pode ser oriundo da advocacia ou do MPT.

Detalhe: se o desembargador do trabalho for alçado a esse cargo através do quinto

constitucional, portanto não era juiz de carreira, esse desembargador não pode mais ser

alçado ao cargo de Ministro do TST. Isso porque, no TST, ou o Ministro é oriundo da carreira da

magistratura ou é oriundo dos advogados e membros do MPT em exercício, atuantes.

· Órgãos que funcionam junto ao TST, com autonomia administrativa:

1. Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do

Trabalho, cabendo-lhe, dentre outras funções, regulamentar os cursos oficiais para o ingresso

e promoção na carreira;

2. Conselho Superior da Justiça do Trabalho, cabendo-lhe exercer, na forma da lei,

a supervisão administrativa, orçamentária, financeira e patrimonial da Justiça do Trabalho de

primeiro e segundo graus, como órgão central do sistema, cujas decisões terão efeito

vinculante.

A ENAMAT e o CSJT são órgãos que funcionam junto ao TST, mas não fazem parte

do TST, não integram a estrutura do TST. Esses órgãos têm autonomia administrativa, ou

seja, tem uma gestão própria, que pode ser feita, inclusive, por um Ministro do TST.

O CSJT, por ser um órgão de supervisão administrativa, orçamentária, financeira e

patrimonial, pode expedir diretrizes, recomendações, definir recomendações para cada TRT.

Todos os 24 TRTs estão sob a supervisão administrativa, orçamentária, financeira e patrimonial

do CSJT. O CSJT não tem função jurisdicional, não julga processo judicial, não julga recurso.

· Órgãos internos do TST - o TST, por si só, é um órgão e, como órgão, ele pode se

subdividir em outros órgãos internos, a saber:

1. Tribunal Pleno: é o órgão mais amplo, formado pelos 27 Ministros que compõem o

TST. O Tribunal Pleno tem sua competência estabelecida no Regimento Interno do TST, mas

não é necessário conhecê-la para as provas.

2. Órgão Especial: é um órgão menor, composto por 15 Ministros, com competências

também previstas no Regimento Interno do TST. É um órgão de caráter administrativo,

geralmente.

3. SDI-1 (= SBDI-1): Seção de Dissídios Individuais 1

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4. SDI-2 (= SBDI-2): Seção de Dissídios Individuais 2

5. SDC: Seção de Dissídios Coletivos

6. Turmas

As Seções de Dissídios Individuais e de Dissídios Coletivos são órgãos jurisdicionais,

também com competências definidas no Regimento Interno do TST, e são colegiados mais

amplos do que as Turmas. Sua principal função é uniformizar a jurisprudência do TST.

As súmulas do TST são editadas pelo Tribunal Pleno. As OJs (orientações

jurisprudenciais) são oriundas das Seções de Dissídios Individuais e de Dissídios Coletivos são

enunciados que esses órgãos editam a partir do julgamento de diversos casos concretos,

formando uma jurisprudência estável, consolidada, que sinalizam para o judiciário trabalhista

qual o posicionamento do TST sobre determinado tema.

As Turmas do TST são colegiados menores, compostas por três Ministros, tendo por

principal função o julgamento dos Recursos de Revista, bem como os demais processos de

competência originária que cheguem ao TST.

· Competência do TST:

1. Reclamação

2. Recursos

3. Ações de competência originária.

A competência do TST é estabelecida em lei e abrange, principalmente, o julgamento

de recursos, sendo o principal deles o recurso de revista, entre outros, como, por exemplo, os

embargos de divergência.

A competência jurisdicional do TST essencialmente repousa no julgamento de recursos

e, também, em algumas ações de competência originária, como ação rescisória de

competência do TST, mandado de segurança de competência do TST.

O TST também tem competência determinada pela CF para o julgamento de

Reclamação, que se trata de uma ação especial que tem por objetivo preservar a competência

do tribunal, garantir a autoridade da decisão do tribunal. A Reclamação também é uma ação

de competência originária do TST.

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