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➢ DIREITOS DE 5° DIMENSÃO
Conforme já dissemos, o direito à paz foi classificado por Karel Vasak como de 3.ª dimensão.
Bonavides, contudo, entende que o direito à paz deva ser tratado em dimensão autônoma,
chegando a afirmar que a paz é axioma da democracia participativa, ou, ainda, supremo direito da
humanidade.
Nos termos do art. 5.º, § 1.º, as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm
aplicação imediata.
Na lição de José Afonso da Silva, ter aplicação imediata significa que as normas
constitucionais são “dotadas de todos os meios e elementos necessários à sua pronta incidência aos
fatos, situações, condutas ou comportamentos que elas regulam. A regra é que as normas
definidoras de direitos e garantias individuais (direitos de 1.ª dimensão, acrescente-se) sejam de
aplicabilidade imediata. Mas aquelas definidoras de direitos sociais, culturais e econômicos
(direitos de 2.ª dimensão, acrescente-se) nem sempre o são, porque não raro dependem de
providências ulteriores que lhes completem a eficácia e possibilitem sua aplicação”.
Assim, “por regra, as normas que consubstanciam os direitos fundamentais democráticos e
individuais são de aplicabilidade imediata, enquanto as que definem os direitos sociais tendem a
sê-lo também na Constituição vigente, mas algumas, especialmente as que mencionam uma lei
integradora, são de eficácia limitada e aplicabilidade indireta”.
Como exemplo de norma definidora de direito e garantia fundamental que depende de lei,
podemos citar o direito de greve dos servidores públicos, previsto no art. 37, VII, ou o da
aposentadoria especial, garantido nos termos do art. 40, § 4.º.
Diante de omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional, a CF/88 trouxe duas
importantes novidades, quais sejam, a ação direta de inconstitucionalidade por omissão —
ADO e o mandado de injunção — MI.
Em relação a esses dois remédios para combater a “síndrome de inefetividade” das normas
constitucionais de eficácia limitada, o STF tende a consolidar o entendimento de que, em se
tratando de “Poder” omisso na elaboração de medida para tornar efetiva a norma constitucional, a
ADO restringir-se-ia a um mero apelo, constituindo-o em mora, enquanto o MI, por seu turno,
seria o importante instrumento de concretização dos direitos fundamentais, como vem sendo
percebido na jurisprudência do STF, bem como consagrado na lei que regulamentou o mandado
de injunção (Lei n.13.300/2016), dando-se, assim, exato sentido ao art. 5.º, § 1.º, que fala em
aplicação imediata.
A aplicação dos direitos fundamentais nas relações entre o particular e o Poder Público não
se discute. Por exemplo, certamente, em um concurso público deverá ser obedecido o princípio da
isonomia. Agora, por outro lado, será que nas relações privadas deve o princípio da isonomia ser
obedecido? Algumas situações são fáceis de ser resolvidas. Sem dúvida, por exemplo, se um
empresário demitir um funcionário em razão de sua “cor”, o Judiciário poderá (ou até “deverá”)
reintegrar o funcionário, já que o ato motivador da demissão, além do triste e inaceitável crime
praticado, fere, frontalmente, o princípio da dignidade da pessoa humana, fundamento da
República Federativa do Brasil e princípio-matriz de todos os direitos fundamentais (art. 1.º, III,
da CF/88).
■ eficácia indireta ou mediata: os direitos fundamentais são aplicados de maneira reflexa, tanto
em uma dimensão proibitiva e voltada para o legislador, que não poderá editar lei que viole
direitos fundamentais, como, ainda, positiva, voltada para que o legislador implemente os direitos
fundamentais, ponderando quais devam aplicar-se às relações privadas;
■ eficácia direta ou imediata: alguns direitos fundamentais podem ser aplicados às relações
privadas sem que haja a necessidade de “intermediação legislativa” para a sua concretização.
• DEVERES FUNDAMENTAIS
Além dos direitos fundamentais, desenvolvem-se estudos sobre os deveres fundamentais,
chegando alguns a sustentar uma nova “Era dos Deveres Fundamentais” (no Brasil, dentre
outros, Carlos Rátis).
Dimoulis e Martins tratam do assunto, e procuraremos esquematizar o pensamento dos autores,
identificando os seguintes deveres fundamentais:
■ dever de efetivação dos direitos fundamentais: sobretudo os direitos sociais e garantias das
instituições públicas e privadas. Estamos diante da necessidade de atuação positiva do Estado,
passando-se a falar em um Estado que tem o dever de realizar os direitos, aquela ideia de Estado
prestacionista;
■ deveres específicos do Estado diante dos indivíduos: como exemplo, os autores citam o dever
de indenizar o condenado por erro judiciário, o que se dará por atuação e dever das autoridades
estatais;
■ deveres de criminalização do Estado: a Constituição determina que o Poder Legislativo edite
atos normativos para implementar os comandos, como no caso do art. 5.º, XLIII, devendo haver a
normatização do crime de tortura;
■ deveres dos cidadãos e da sociedade: como exemplos, os autores citam o dever do serviço
militar obrigatório (art. 143 da CF) e a educação enquanto dever do Estado e da família (art. 205);
■ dever de exercício do direito de forma solidária e levando em consideração os interesses da
sociedade: como exemplo, os autores citam o direito de propriedade que deve ser exercido
conforme a sua função social (art. 5.º, XXIII, da CF);
■ deveres implícitos: segundo Dimoulis, “existem tantos deveres implícitos quantos direitos
explicitamente declarados”, consistindo referidos deveres em ação ou omissão. E conclui no
sentido de que “o direito de uma pessoa pressupõe o dever de todas as demais (quando se aceita a
tese do efeito horizontal direto) e, sobretudo, das autoridades do Estado”