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POSSÍVEIS TÓPICOS PARA A PROVA

1º) Há derrogação da Lei n° 8.072/90 (Lei de Crimes Hediondos) pela Lei n°


9.455/97 (Lei de Tortura), já que esta é posterior àquela?

Lei de Tortura (crime equiparado hediondo):

Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de


entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: (Vide
Súmula Vinculante)

I - anistia, graça e indulto;

II - fiança. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007)

O Artigo 1°, § 6º, da Lei n° 9.455/97 – Lei de Tortura - cita “O crime de


tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia”. Vimos assim que
não fala em vedação ao indulto.

Sendo assim, há derrogação da Lei n° 8.072/90 (Lei de Crimes


Hediondos) pela Lei n° 9.455/97 (Lei de Tortura), já que esta é posterior
àquela?

Quadro abaixo com o conteúdo da apostila PENAL V 1ª PROVA –


TECIANO ARAÚJO por LUZIA VIANA:

1ª corrente: a lei de tortura revogou tacitamente a vedação a concessão do


indulto previsto na lei 8.072/90, pelo princípio da isonomia.

2ª corrente (PREVALECE NO STF): a Lei n° 9.455/97 não revogou a Lei n°


8.072/90 em virtude do princípio da especialidade, o qual roga que lei especial
não revoga outra lei especial.

Obs: No caderno consta: “Parte da doutrina entende que a proibição


da concessão indulto é implícita na proibição da graça”. Vejo tal
fundamento mais coerente para advogar a vedação a concessão de indulto ao
condenado por crime de tortura.

EXTRA

II. A lei de tortura (lei n ͦ 9.455/97) veda: anistia e graça, não vedou o indulto.

Pergunta- se: a lei de tortura revogou tacitamente o Art. 2°ͦ, I da lei dos crimes
hediondos?

a) LFG, Alberto Silva Franco: A não proibição do indulto acarretou uma revogação
tácita. A lei de tortura revogou tacitamente o indulto.

Fundamento: i) princípio da isonomia: se a tortura é um crime equiparado a hediondo,


se se permite indulto para tortura, deve se permitir indulto para todos os crimes
hediondos e equiparados.

b) STF: A lei de tortura não revogou tacitamente o Art. 2°ͦ, I da LCH.

Fundamento: i) princípio da especialidade: a possibilidade de indulto é só para a


tortura, uma vez que a lei de tortura é especial em relação a lei dos crimes hediondos.

III. A lei de drogas (lei 11.343/07) veda: anistia, graça e indulto, ou seja, a lei de
drogas foi fiel a LCH.

FONTE: https://www.passeidireto.com/arquivo/17158289/crimes-hediondos-
prof-felipe-melo-abelleira

Crítica:

Ao observar os estudos acima, verifiquei que a discussão sobre a


revogação da LCH (Lei de Crimes Hediondos) pela Lei de Tortura é no tocante
a esta ter possivelmente retirado a vedação da concessão de indulto aos
condenados pelo crime de tortura e tal possibilidade ser estendida aos demais
crimes hediondos, já que a própria LCH cita que a tortura é equiparada aos
crimes hediondos.
Assim, quem defende tal visão, o faz baseado no princípio da isonomia,
pois alegam que o benefício do indulto não estaria sendo vedado pela lei de
tortura e tal possibilidade se estenderia aos demais crimes hediondos e
equiparados, ou seja, o princípio é invocado para advogar que a vedação de
concessão de tal benefício se estenderia aos condenados por todos os crimes
hediondos e equiparados.
Por outro lado, os que advogam o inverso, fazem-no invocando o
princípio da especialidade (a lei de tortura seria especial em relação a lei de
crimes hediondos), alegando que a ausência de vedação ao benefício do
indulto na lei de tortura só se aplica ao crime próprio crime objeto da dita lei – a
Lei n° 9.455/97 trata especialmente do crime de tortura e a não vedação da
concessão do indulto estaria sendo dirigida especificamente ao delito de
tortura.
Por fim, o STF entende que o condenado por crime de tortura também
não pode ser beneficiado com o indulto, mas o fundamento seria o de que a
expressão graça deve ser entendida em sentido amplo, abrangendo o indulto.

2º) Comente sucintamente sobre as modalidades do crime de tortura?


A lei que trata do crime de tortura afirma de modo geral que comete tal
crime aquele que constranger alguém mediante emprego de violência ou grave
ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental com dolo específico voltado
a determinadas finalidades, bem como afirma que ainda comete tal crime
aquele que submete alguém sob sua guarda, poder ou autoridade, mediante
emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental
com dolo voltado a um propósito específico.

Assim, tais finalidades ou propósitos buscados pelo agente com a


prática de tais condutas é que enquadrará tal delito em sua modalidade
doutrinária.

Dessa forma, pratica:

a) tortura-prova ou a tortura persecutória aquele que busca obter


informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira
pessoa;
b) tortura-crime ou tortura para a prática de crime aquele que visa
provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) tortura discriminatória ou tortura-racismo aquele que o faz em
razão de discriminação religiosa ou racial;
d) tortura-castigo o agente que o faz com o propósito de aplicar
castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.

Por fim, é relevante frisar que a finalidade específica trazida pelo dolo
não necessita ocorrer para que o crime esteja consumado.
Nas três primeiras modalidades o resultado é alcançado com o
sofrimento físico ou mental causado, onde o crime encontra-se consumado.
Frise-se que tais modalidades são de crimes comuns, não necessitando
caráter específico do agente ou da vítima.
Na quarta modalidade (tortura-castigo), o resultado é alcançado com
intenso sofrimento físico ou mental. Não havendo constatação de tal
intensidade, haverá a subsunção da conduta ao tipo do crime de maus tratos.

A doutrina ainda classifica de tortura de preso ou pessoa submetida a


medida de segurança a conduta daquele que submete pessoa presa ou
submetida a medida de segurança, a sofrimento físico ou mental, por
intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de
medida legal.

Observe-se que tal conduta é a única tortura que não exige dolo
específico do agente.

Fala-se, doutrinariamente, na modalidade de omissão perante a


tortura, para apontar o delito cometido por aquele que se omite perante as
condutas das torturas quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las.

Por fim, cita-se a modalidade de tortura qualificada quando da prática


da tortura resulta lesão corporal grave ou gravíssima ou com o resultado morte.
Dúvidas:

Art. 1º Constitui crime de tortura:

I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:

a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;

b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;

c) em razão de discriminação racial ou religiosa;

II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a
intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.

Pena - reclusão, de dois a oito anos.

§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento
físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal.

§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na
pena de detenção de um a quatro anos.

§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos;
se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.

Tal qualificadora trazida pelo § 3° refere-se aos tipos trazidos pelos


incisos I e II ou às condutas comissivas, assim aplicando-se também ao tipo
penal descrito no § 1°?

3º) Discorra sobre a possível inconstitucionalidade da pena de detenção de 1 a


4 anos prevista para aquele que se omite em face da conduta da do crime de
tortura quando tinha o dever de evitá-la ou apurá-la?

A discussão doutrinaria em torno do tema é em virtude da CF/88, ao


tratar dos crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia (onde cita o
crime de tortura) advogar que por tais delitos “responderão os mandantes, os
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem”.

Verifica-se que a Lei de Tortura atribui pena mais amena àqueles que se
omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-
las.
A questão é que, em tese, nos crimes de omissão imprópria (comissivo
por omissão) o agente ao se omitir responde como tivesse agido para dá causa
ao resultado, pois ocupa uma posição de garante. Assim, na tortura, o agente
que se omite deveria ter sua conduta omissiva equiparada a conduta comissiva
do agente executor.

Veja:
Crime Omissivo Impróprio é aquele em que uma omissão inicial do
agente dá causa a um resultado posterior, o qual o agente tinha o dever
jurídico de evitá-lo. É o que acontece quando a mãe de uma criança deixa
de alimentá-la, provocando a sua morte. Neste caso, a mãe responderá
pelo crime de homicídio, já que tinha o dever jurídico de alimentar seu
filho.
Fonte: http://www.direitonet.com.br/dicionario/exibir/855/Crime-
omissivo-improprio

Mas a Lei de Tortura trouxe pena inferior para aqueles que se omitem,
ainda tendo uma posição de garante – dever de evitar o ilícito penal.

No tocante a tal discussão, temos diversas correntes doutrinárias que


versam sobre a contradição quanto a pena de detenção de 1 a 4 anos na
tortura por omissão imprópria e a pena de reclusão 2 a 8 anos na tortura por
ação.

Há um equívoco do legislador. Esse dispositivo é constitucional?

A corrente doutrinária que prevalece na doutrina e jurisprudência


advoga que situação é prevista em lei e deve ser respeitada. É uma exceção
pluralista à teoria monista – os agentes respondem por penas diferentes
mesmo tendo praticado o mesmo crime.
Uma segunda corrente defende que o §2º do art. 1º é inconstitucional
por que a CF/88 manda equiparar as penas do torturador e do omitente
impróprio.
A terceira corrente defende que essa omissão do art. 1º, §2º é uma
omissão culposa, pois se a omissão for dolosa a pena deve ser de 2 a 8 anos
(é uma corrente atécnica, pois o crime culposo deve estar previsto em lei).

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