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O circuito motor se origina de quatro áreas corticais: motora primária, motora suplementar,
pré-motora e cortical somestésica (elas serão detalhadas na aula de Córtex Cerebral). Neurônios
dessas quatro áreas se projetam sobre o putâmen e daí partem fibras eferentes que vão ao pálido
interno e à parte reticular da substância negra. Essas duas regiões se conectam com os seguintes
núcleos talâmicos: ventral anterior, ventral lateral (na realidade sua porção oral) e
centromediano. O primeiro envia fibras para a área cortical pré-motora, os dois primeiros para
a motora suplementar e os dois últimos para a motora primária. A substância negra e o globo
pálido enviam projeções primárias ao tálamo, mas também se projetam ao tronco encefálico,
especificamente ao colículo superior e à formação reticular. Desse modo, os circuitos dos NB
afetam tanto as eferências do córtex motor como centros motores do tronco encefálico.
No circuito motor a ação dos NB sobre suas conexões-alvo é geralmente inibitória e existem
duas vias motoras: a via direta e a via indireta, dois circuitos paralelos que têm ações opostas
sobre as conexões-alvo (Obs: os demais circuitos ou alças mencionadas anteriormente também
possuem vias direta e indireta).
As duas vias controlam o fluxo de impulsos nervosos do tálamo ao córtex cerebral, sendo que
a via direta facilita esse fluxo, enquanto a via indireta o inibe. Assim, ambas equilibram a
inibição dos NB sobre suas conexões-alvos.
A via direta provoca a desinibição do tálamo e, por consequência, o aumento da ativação do
córtex motor. A desinibição talâmica é devida à ação inibitória das fibras estriado-palidais sobre
os neurônios do pálido-interno (e da substância negra reticular) que, então, deixam de inibir o
tálamo (as fibras pálido-talâmicas são mais importantes porque têm uma alta taxa de atividade
espontânea e inibem tonicamente os neurônios talâmicos). Desinibido, o tálamo excita o córtex
motor, cuja atividade aumenta.
A via indireta desinibe o subtálamo e, por consequência, inibe o tálamo e diminui a atividade
do córtex motor. As fibras estriado-pálidas inibem o pálido lateral que tem ação inibitória sobre
o subtálamo (as fibras pálido-subtalâmicas têm alta atividade espontânea e inibem tonicamente
o subtálamo). Assim, a inibição do pálido externo faz cessar sua ação inibitória sobre o
subtálamo. Desinibido, o subtálamo passa a excitar o pálido interno que tem ação inibitória
sobre o tálamo. Assim, inibido, o tálamo deixa de ativar o córtex motor e este terá menor
atividade.
Seguem-se dois esquemas das vias direta e indireta: o primeiro é simplificado, contendo
apenas os circuitos mais importantes; o segundo, completo, mostra todas as vias de conexão.
Com o uso de métodos de imagem (ventriculografia, tomografia computadorizada e ressonância
magnética) pode-se usar a estereotaxia (técnica que permite localizar um ponto no espaço a
partir de três coordenadas) e localizar com precisão determinados alvos no encéfalo (como
núcleos, por exemplo). Assim, tornou-se possível realizar cirurgias nas quais uma agulha é
colocada em pontos precisos das vias direta e indireta.
Estes procedimentos são muito úteis no tratamento de pacientes com diferentes distúrbios do
movimento (na doença de Parkinson, por exemplo), mediante a termocoagulação (destruição
do núcleo por aquecimento, através de aparelho de radiofreqüência) de um núcleo hiperativo
ou a sua imobilização elétrica, feita através da implantação de um marca-passo no referido
núcleo. O método esterotáxico também permite o estudo da fisiologia dos NB em seres
humanos vivos.
Uma das contribuições destas técnicas é a revelação de que a via indireta exerce papel mais
importante no controle motor do que a via direta, pois a estimulação estereotáxica dos circuitos
da via indireta é mais efetiva do que a dos circuitos da via direta. Tal observação é confirmada
pelo fato de que as drogas agonistas dos receptores da via direta não têm eficácia farmacológica
significativa. No entanto, não se conhece ainda a razão dessa supremacia da via indireta.
6. ALTERAÇÕES DOS NB
As mais conhecidas funções dos NB estão associadas aos sistemas motores somático (circuito
motor) e visual (circuito oculomotor). No entanto, ainda não está bem esclarecido o papel dos
circuitos pré-frontal dorsolateral, órbito-frontal lateral e límbico nos distúrbios cognitivos e
associativos.
Lesões dos NB podem provocar alterações significativas que podem ser aparentemente opostas
em diferentes pacientes. Assim, podem ocorrer alterações hipocinéticas ou hipocinesias, com
redução dos movimentos, ou alterações hipercinéticas ou hipercinesias, com aumento dos
movimentos.
6.1. Hipocinesias
As mais importantes e características da Doença de Parkinson, são a acinesia, dificuldade de se
iniciar o movimento, e a bradicinesia, redução da velocidade e da amplitude do movimento.
A acinesia parece ser devida a perda da habilidade de planejar os movimentos ou orientá-los
numa posição desejada. Vários estudos revelam que os NB são ativados durante a fase de
planejamento do movimento ou quando o indivíduo está fazendo um movimento “guiado
internamente”, isto é, movimento para uma posição na qual não há qualquer estímulo. Portanto,
há perda da função dos NB de gerar e planejar movimentos programados.
A bradicinesia é devida à ruptura do equilíbrio entre as vias direta e indireta para o tálamo,
resultando num aumento da ativação dos músculos antagonistas e não necessariamente na
diminuição da atividade da musculatura agonista.
Os dois tipos citados de hipocinesias parecem ser devidos às lesões do neostriado
(especificamente do putâmen) que resultam na perda da inibição exercida por ele sobre a pálido
interno (via direta) que continuaria ativo tonicamente e inibiria o tálamo. Assim, haveria
diminuição do fluxo de impulsos do tálamo para o córtex cerebral e, por consequência,
acarretaria menor atividade dos neurônios do trato córtico-espinhal e de outras vias
descendentes. Além disso, a maioria das conexões da via indireta permaneceria intacta e o
núcleo subtalâmico excitaria a pálido interno (sobretudo quando o córtex dispara mais impulsos
do que o normal) resultando numa inibição ainda maior do tálamo. Ou seja, a perda da
desinibição do tálamo pela via direta e o aumento da sua inibição pela via indireta tornam o
paciente menos apto a executar os movimentos adequados.
A doença de Parkinson é o melhor exemplo de patologia hipocinética, sendo caracterizada por
acinesia, bradicinesia, tremor de repouso, rigidez (hipertonia muscular), perda de reflexo
postural e distúrbio dos movimentos oculares. O paciente apresenta uma gama sinais típicos,
entre os quais destacam-se: tremor de repouso (manifesta-se quando o indivíduo está “parado”
e é bastante evidente nas mãos, onde os dedos se movem como se enrolassem continuamente
um cigarro ou contassem dinheiro); postura fletida (hipertonia de todos os músculos flexores);
escassez de movimentos; dificuldade de iniciar os movimentos; andar “arrastado” (os pés
parecem presos ao chão e os passos curtos e bruscos lembram “passos apressados”, alternados
com passos quase normais); olhar “vazio”; máscara parkinsoniana (a face fica rígida como uma
máscara, devido à hipertonia dos músculos faciais). Essa doença é causada pela perda de
neurônios dopaminérgicos da substância negra que se projetam para o neostriado. A dopamina
tem efeito excitatório na via direta, mas é inibitória na via indireta. A perda desses neurônios
causa profunda alteração química no estriado, com aumento da atividade das suas projeções
para o pálido-externo e diminuição das projeções para o pálido-interno. O resultado é
semelhante ao já descrito para lesão do neostriado.
6.2. Hipercinesias
Elas se expressam sob a forma de discinesias, das quais as formas mais comuns são a coréia, o
balismo (também agrupados sob a denominação balismo-coréia) e a distonia.
A coréia é caracterizada por fluxo contínuo de movimentos imprevisíveis. Por vezes os
pacientes com movimentos coreiformes têm a aparência de estar dançando. Na verdade, coréia
em grega significa dança. A causa mais comum desta hipercinesia no nosso meio é Coréia de
Sydenham. Trata-se de doença auto-imune onde o sistema imunológico ao tentar livrar-se de
infecção por certo tipo de bactéria estreptococos ataca os núcleos da base. Uma outra causa
comum é Doença de Huntington, afecção degenerativa autossômica dominante e devida à
mutação do braço curto do cromossomo 4. Além de coréia, os portadores desta enfermidade
apresentam demência (perda das funções intelectuais), alterações do comportamento (depressão
ou seu oposto, mania) e outros movimentos anormais. Nesta doença há perda seletiva de células
espinhosas médias do neostriado que se projetam ao pálido externo e de neurônios colinérgicos
do complexo estriado, portanto neurônios associados à via indireta.
O balismo consiste em coréia mais intensa de modo que os movimentos são de grande
amplitude. Sua causa mais conhecida é lesão vascular do núcleo subtalâmico contralateral.
Como os movimentos geralmente acometem apenas uma metade do corpo, dá-se o nome
hemibalismo. O nome balismo-coréia justifica-se, pois, como foi dito, o balismo pode ser
considerado uma coréia mais intensa. Além disso, na evolução do balismo é frequente as
alterações se abrandarem e a doença assumir as características da coréia.
A distonia caracteriza-se pelos movimentos distônicos que produzem posturas anormais e/ou
torção da parte corporal afetada. Sua localização mais comum é no pescoço - distonia cervical
ou torcicolo espasmódico. Este último nome se explica pela frequente presença de torção no
pescoço. Outras áreas corporais também podem ser afetadas, tais como as pálpebras
(blefaroespasmo – dificuldade de manter os olhos abertos), região da boca (distonia
oromandibular), entre outras. Quando em porções distais das extremidades é comum se usar o
termo atetose (do grego, verme) para designar os movimentos distônicos. Neste caso a
hipercinesia consiste em movimentos vermiformes, isto é, um constante contorcer das porções
corporais afetadas.
As bases anatômicas das distonias são menos conhecidas. Presume-se, no entanto, que possam
ser explicadas por distúrbios na via indireta da alça motora, resultando na perda de neurônios
excitatórios subtalâmicos. Há um desequilíbrio entre a excitação dos neurônios pálido-
subtalâmicos (pela via direta) e sua inibição (pela via indireta) que tem como resultado uma
diminuição da inibição das células talâmicas e o consequente aumento na atividade do córtex
motor.