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Esta coleção visa à publicação de obras originais, com base em uma visão
crítica e atualizada, das principais questões historiográficas e arqueológicas.
A coleção publica obras organizadas e livros de autoria individual, de au-
tores nacionais ou estrangeiros, em diferentes estágios de suas carreiras, de
modo a integrar o que há de mais inovador com as mais reconhecidas contri-
buições. Sempre marcados pela excelência acadêmica, volumes introdutóri-
os e obras específicas e aprofundadas constituem o cerne da coleção.
Imagem da capa
?
CONSELHO EDITORIAL
Eduardo Peñuela Cañizal
Norval Baitello Junior
Maria Odila Leite da Silva Dias
Celia Maria Marinho de Azevedo
Gustavo Bernardo Krause
Maria de Lourdes Sekeff (in memoriam)
Pedro Roberto Jacobi
Lucrécia D’Aléssio Ferrara
7 Prefácio
Ciro Flamarion Cardoso
111
5. De Ur a Atenas: difusão de tradições musicais e
organológicas
Fábio Vergara Cerqueira
1. À guisa de introdução
Hori diz que uma tal situação poderia provocar, por ordem
de Ramsés, a destruição de Amenemope, se o Faraó tomasse
conhecimento dessa circunstância.
Na sequência, Hori expõe um novo desafio a Amenemope:
Flamarion Cardoso.
32 um outro mundo antigo
4
Neferura, filha, Robins, 45.
5
Hatsepsut recusou casar, mas teve filha com um Senenmut, um gênio da arquite-
tura egípcia que lhe ergueu um fabuloso templo – Deir el Bahari – e quatro beliscos
em Karnak.
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 37
6
Minha majestade começou o trabalho no ano 15, segundo mês do inverno, dia 1°,
terminando no ano 16, quarto mês do verão, último dia, totalizando sete meses de
trabalho na pedreira.Os ignorantes e os sábios sabiam disso.
38 um outro mundo antigo
4. Palavras de encerramento
Bibliografia
Júlio Gralha
Universidade Federal Fluminense
Introdução
Guerras Sírias
2
Para um estudo melhor deste episódio é possivel consultar Daumas, 1952: 257-260.
3
O deus Hórus representa o governante do Egito.
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 63
Conclusão
4
Dietze, 2000 e Hölbl, 2001.
64 um outro mundo antigo
Bibliografia
Josué Berlesi
Universidade Federal do Pará
Emanuel Pfoh
Universidade de Buenos Aires
Hebreus ou Israelitas?
1
O método histórico-crítico constitui-se de vários métodos de análise de um deter-
minado texto. Os passos essenciais do referido método residem na tradução e críti-
ca textual, crítica literária, história traditiva, história redacional, história da forma,
história temática, análise de detalhes, conteúdo teológico e escopo. Para maiores
informações, v. Mueller, 1984: 237-318.
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 73
Airton José resumindo o livro de Davies adverte: “a pesquisa bíblica é vista como
2
3 Em alguns lugares dos Estados Unidos a situação ainda não mudou. Veja-se a
obra de Randall Price, que foi professor de Arqueologia na Universidade do Texas,
Austin, 1996.
4
Veja-se, por exemplo, Noth, 1966.
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 75
5
Veja-se o caso do documentário “The Exodus Decoded” divulgado no History
Channel (04/2006).
6
Traduzido por Airton José da Silva do texto original de Eric Cline: “Raiders of the
faux ark”. A tradução encontra-se em: http://www.airtonjo.com/blog/2007/09/cline-
-denuncia-as-constantes-fraudes-na.html (acesso em 03/01/2010). O texto original
pode ser visto em: http://www.boston.com/news/globe/ideas/articles/2007/09/30/
raiders_of_the_faux_ark/ (acesso em 03/01/2010).
76 um outro mundo antigo
7
Um exemplo do consenso dos anos 1980 pode ser encontrado em Soggin, 1984 e
J.M. Miller e J.H. Hayes, 1986.
8
Autor que originalmente propôs estas tres aproximações aos inícios da história de Israel.
78 um outro mundo antigo
Veja-se por exemplo, Albright, 1935: 10-18; 1939: 11-23; 1940 e 1949.
9
Amarna na Palestina, como muitos já tinham feito (e.g., Barton, 1929: 144-148), mas
em termos de uma revolta camponesa, não de uma conquista militar.
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 79
11 Veja-se, no entanto, Thompson, 1978: 2-43; 1992: 1-13 e 127-70; Lemche,
1996: 9-34; Finkelstein, 1991: 47-59; 150-178 e 11-27; Weippert, 1991: 341-390;
Whitelam, 1994: 57-87.
80 um outro mundo antigo
Bibliografia
atividades artesanais.
2 Inanna, em sumério, Ištar, em acádico, era a deusa do amor e da guerra (Pozzer, 2007).
96 um outro mundo antigo
Figura 4: Ferramentas.
Fonte: Foto da autora, BM, 2011.
3
5 še de prata equivale a cerca de 0,25 gr. de prata.
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 103
cial. Mas não está claro o que eles faziam no restante do tempo,
se estavam sob a tutela do poder central ou trabalhavam em seus
próprios negócios. Há evidências de que, às vezes, os artesãos
negociavam em grupos, mas não podemos garantir a existência
de sociedades profissionais (MATTHEWS, 2000: 466).
No período paleobabilônico, os contratos requeriam a
confecção de selos-cilindros feitos especialmente para a ocasião
e os gravadores de selos poderiam atuar como testemunhas
da transação, evidenciando, assim, sua respeitabilidade social
(POZZER, 2000: 163-174).
Na Mesopotâmia, os reis, desde Ur-Nammu (2112-2095
a.C.) até Assurbanipal (668-627 a.C.), foram, muitas vezes, re-
tratados como artesãos, carregando objetos ou ferramentas, em
rituais de fundação de templos e palácios. Alguns documentos
epigráficos também testemunham esta simbologia, como esta
inscrição real de Assurbanipal:
Conclusão
(Pozzer, 2000).
108 um outro mundo antigo
Bibliografia
esse parágrafo.
114 um outro mundo antigo
2
(1) U 3011 (Proceedings of the American Philosophy Society, 115, 1971, p. 1334),
de Ur, “babilônico recente” (séc. IV-III) = Filadélfia, University Museum, Babylonian
Collection (Iraq, 46, 1984, p. 81-5), de Nippur, “babilônico antigo” ou “médio” (séc.
XVIII – XV), fragmento do léxico Nabnitu 32. (2) CBS 10996 (Studies in Honor of
B. Landesberger = Assyriology Studies, 16, 1965, p. 264-8 ), de Nippur, ca. 1500,
fragmentos de uma lista numérica. (3) U 7/80 (Iraq, 30, 1968, p. 229-33 + Orientalia,
47, 1978, p. 99-104), de Ur, “babilônico antigo” (séc. XVIII). (4) VAT 10101 col. VIII
45-52 (= KAR nº 158: Proceedings of the American Philosophy Society, 115, 1971,
p. 137-9), de Assur, “médio-assírio” (séc. XIII-XII), recapitulação de um catálogo de
diversos cantos. (5) BM 65217 + 66616 (Iraq, 46, 1984, p. 72-8), de Sippar (?), “assírio
recente” (séc. VIII), indicações musicais seguidas de hinos. (6) RS 15.30 + 15.49 +
17.387 (Ugarítica, V, p. 463, nº h. 6; Revue d’Assyriologie et archéologie orientale, 68,
1974, p. 69-82, de Ugarit, séc. XV, hino hurrita com notação musical.
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 115
3
Conforme Kátia Pozzer (2007: 147, fig.2), “uma caixa de madeira, recoberta de
betume, onde foram incrustados fragmentos de lápis-lázuli, conchas e calcário ver-
melho, com duas faces: a Face da Guerra e a Face da Paz. Acredita-se que este ob-
jeto, medindo 47cm de comprimento e 20cm de altura, serviria como uma caixa de
ressonância para um instrumento musical. A Face da Paz representa a realização de
um banquete com as diversas etapas de sua preparação”.
116 um outro mundo antigo
4
Responsáveis por iniciar a decifração do Linear B, entre 1951 e 1953, abandonaram
o paradigma estabelecido por Arthur Evans, desde a descoberta de Knossos, de que
o Linear B seria uma escrita usada para registrar a língua cretense (minoana). Ventris
e Chadwick comprovaram que a língua nos sinais do Linear B se tratava já de uma
forma de língua grega, depreendendo-se daí que o mundo micênico poderia ser con-
siderado, do ponto de vista linguístico, como grego.
5
Proveniência: Amycles, ao sul de Esparta. Micênico Tardio. Datada de 1300-1200 a.C.
Fonte: Duchesne-Guillemin, 1967: 235. Amykles é um povoamento micênico, do final da
Era do Bronze, localizado ao Sul de Esparta, na planície do rio Eurotas, cujo sítio situa-se
na mesma área em que se encontra a moderna Amykles.
124 um outro mundo antigo
6
Lira de Ur, Museu da Universidade da Pensilvânia, Filadélfia, séc. XXVI a.C.
126 um outro mundo antigo
7 Sítio de Tell Ischiali, no Iraque, junto ao rio Diyala, afluente do Tigre, onde se
situava a antiga cidade Nerebtum ou Kiti, sob domínio do reinado de Eshnunna.
8 Fragmento de placa de terracota com cítara babilônica. Proveniência: Tell Ischiali,
Isin-Larsa. Babilônico Antigo. Fonte: Duchesne-Guillemin, 1967: 240.
9 Museu Arqueológico de Candia, em Creta.
128 um outro mundo antigo
10 Apesar de a harpa ser um instrumento conhecido desde o início história suméria,
o harpista da terracota de Ischiali está bem caracterizado como um musicista do
início do segundo milênio, em razão de sua touca justa e do vestido com franjas.
São muito comuns as placas de terracota deste período que retratam instrumentos de
corda, percussão ou sopro. A produção de placas era uma forma simples e barata para
se obter imagens em relevo. As placas de terracota, feitas a partir de moldes, eram um
modo simples e barato para se produzir imagens em relevo, razão pela qual podiam
ser feitas inúmeras cópias. A popularizão desta versão babilônica das harpas de Ur,
em padrão mais simplificado, pode ser testemunhada por terracotas contemporâneas
ao exemplar de Ischiali conservado na Universidade de Chicago, como a terracota
de Paris, Louvre AO 12454, proveniente de Eshnunna, de menor tamanho, medindo
8,4cm x 8,9cm (fonte: © Marie-Lan Nguyen / Wikimedia Commons).
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 129
11
Oxford, Ashmolean Museum, U3011; Filadélfia, Museu da Universidade da Pen-
silvânia, C.B.S. 10996.
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 131
Considerações Finais
Filho de Anu (ou de Nintu, no panteão sumério) e marido de Damkina, tido como
12
pai de Marduk, era considerado o deus da sabedoria, da escrita, das artes e artesana-
tos, bem como das águas, da construção, da magia, do plantio, e até mesmo do traba-
lho humano. Conhecido como “Senhor da Sabedoria” ou “Senhor dos Encantamen-
tos”, o que Ea falasse, tornava-se realidade. Essa relação da música com a sabedoria
(Musas), com a escrita (Hermes) e com a magia, permanece na cultura grega, como
testemunham a tradição mitológica e intelectual. Na Grande Tríade, Ea é o terceiro
deus, junto a Anu e Enlil.
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 133
Bibliografia
1
Airton Jose da Silva, História de Israel. Disponível em HTTP://airtonjo.com, nos
informa que, além de Flávio Josefo, o encontro do sumo sacerdote de Jerusalém com
Alexandre é narrado também na "Recensão C do Pseudo-Calístenes" (um conjunto
de lendas sobre Alexandre, atribuídas a Calístenes, sobrinho de Aristóteles, que se
cristalizaram por volta do século III a.C.), no Anexo Tardio ao Meguillat Taanit (=
Rolo dos Jejuns) e no Talmud da Babilônia (Yoma 69a).
144 um outro mundo antigo
2
Chamamos a atenção para os cuidados que devemos ter ao utilizarmos o conceito
“classes” para o mundo antigo. Este termo é muito utilizado por diversos autores, toda-
via, se não for observada a devida atenção, pode nos colocar em uma armadilha concei-
tual de teor anacrônico. Lembremo-nos que o conceito de “classes sociais” foi cunhado
pelo marxismo no século XIX para interpretar o mundo que se formatava àquela época.
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 145
5
Sobre as Guerras Sírias Ver: C. Préaux, 1987/1988: 139-155; E Will, 1982: 146-
150 e 234-261; F.-M. Abel, 1952: 44-87. Sobre a 4ª e a 5ª guerras sírias temos boas
informações em Políbio, Histórias, V, 63-87; XVI, 18-19.
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 147
6
Estes títulos dos reis helenísticos – Soter, Filadelfo, Theos, Evergetes, Epífanes
etc. – lhes foram, em geral, atribuídos por cidades às quais eles prestaram algum ser-
viço ou libertaram de algum inimigo. Ptolomeu I, por exemplo, é chamado de Soter,
"Salvador", porque salvou os ródios de um cerco imposto por Demétrio. Evergetes
148 um outro mundo antigo
Apiano, Syriaka, 38-39. apud Sauliner, 1985: 372-373. Apiano é natural de Ale-
14
15
Para o reinado de Antíoco IV e seu confronto com os judeus, ver: Bright, 1978:
570-576; Abel, 1952: 109-132; Hengel; 1981: 277-290; Saulnier e Perrot, 1985: 105-
121 e Will, 1982: 326-341.
16.
Lembremo-nos de que o ginásio grego não é mera praça de esportes. É uma ins-
tituição cultural das mais importantes, usada no processo de helenização de várias
cidades orientais. Além dos esportes gregos, o ginásio implica a presença de divinda-
des protetoras, como Héracles e Hermes e ensina a maneira grega de se viver e de se
154 um outro mundo antigo
ver o mundo. Falar o grego corretamente, vestir-se à moda grega, conhecer e discutir
a cultura grega são algumas das atividades praticadas no ginásio.
17
Temos consciência da abrangência do significado do termo revolução, e que existe
uma sedutora inclinação em utilizá-lo com o sentido moderno do termo. No caso dos
Macabeus, trata-se de uma mudança no sentido a retomar os antigos valores judaicos de
solidariedade existentes no clã (mishpâhâh) e na família (beth-'abh) já mencionados ante-
riormente. Para saber mais sobre a história do conceito de revolução, ver Alain Rey, 1989.
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 155
legenda
CAIXA ALTA: reis que emitiram moedas; m.: casada com; ( ): data da
morte; [ ]: nome
Os levitas eram as pessoas que pertenciam à tribo de Levi. A tribo de Levi foi sepa-
18
Quanto ao título de "primeiro amigo do rei", Claire Préaux observa que se co-
19
Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas XIII, 392. Josefo não especifica que conces-
22
sões são essas. Apenas diz: "Ele [Aretas] entrou com soldados na Judéia, venceu o rei
Alexandre, perto de Adida, e voltou depois de ter conversado com ele".
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 163
Considerações Finais
Fontes
Referências
Introdução
Gregos e egípcios
1
Tradução de Jorge Fallorca. Doravante, as traduções desse tratado pertencem ao
referido tradutor.
176 um outro mundo antigo
2
Tradução de Mário da Gama Kury, autor das traduções de Heródoto neste capítulo.
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3
Excetuando os excertos do tratado Ísis e Osíris, os demais foram traduzidos pela autora.
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 185
2003: 103-144.
186 um outro mundo antigo
5
Tradução de José Ribeiro Ferreira.
6
Tradução de Carlos Alberto Nunes.
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 187
Conclusões
7
Para aprofundar-se na questão, ver: Said, 2006 e Orlandi, 2007.
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 193
Bibliografia
Fontes
Referências
Orientalismo
Divisão distrital do Egito, que remonta ao período faraônico. Durante a maior parte
2
da história egípcia o país estava dividido em vinte nomos no Baixo Egito e vinte e
dois no Alto Egito.
204 um outro mundo antigo
Considerações Finais
Bibliografia
Fontes
Referências
vai-vidika.
232 um outro mundo antigo
segundo “na”, mais alongado. Essa a diferença na prática entre vogais longas e breves,
não reconhecida formalmente nas nossas gramáticas mas em exercício em todas as
palavras da língua portuguesa. Diga “livro”, “livrinho”, etc.
7
O “e” e o “o” devem ser sempre pronunciados fechados (em sânscrito esses fone-
mas não existem na forma aberta); daí alguns autores terem utilizado o sinal do ac-
ento circunflexo para representar esse fechamento. Assim, deva se diz dêva, e não
déva. Assim como vêda e não véda, no singular como no plural...e isso em se tratando
de se querer tentar a reprodução sonora das palavras tal como elas devem soar em
sânscrito. Se a opção ou tendência for ensaiar ou ensejar um aportuguesamento das
palavras que apresentam esses sons, então aí será o que o falante brasileiro quiser:
há falantes de inglês que dizem youga, os franceses dizem yogá, alguns espanhóis
dizem djoga. Uma coisa é dizer a palavra em sânscrito dêva, vêda, yôga, dôha. Outra
coisa é amoldar esses sons às tendências mais frequentes na fonação do brasileiro:
vai ser “ôga”, “óga”, com “i” ou y, com acento grafado ou não, quando as pessoas
interessadas finalmente entrarem em acordo. Uma coisa a atitude não-linguística de
quem diz que o certo é assim e assado é errado... mas certo em relação a quê?
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 235
A letra “c” translitera uma palatal surda comum no inglês, onde o fonema é grafado
9
11
A pronúncia da letra ç, que representa um som vocálico, a mesma do nosso “r”
caipira presente em porta verde aberta ou no r do inglês. Trata-se de um fonema ret-
roflexo, como todas as letras que, em transliteração, apresentam um pingo sotoposto
(“õ”,“ñ”, “ó”, “ñh”, “óh” e “ù”), que devem ser pronunciadas com a ponta da língua
fletida para trás e levada para o mais perto possível do palato, o cacúmeno, perto do
cérebro, donde também serem chamadas de cacuminais e cerebrais.
12
Mais um exemplo de palavra sânscrita apropriada pelos Orientalistas em geral e
pelos sanscritistas, sanscritólogos e indólogos em particular com um significado que
não apresentava na fonte. Nas caçadas da nobreza indiana ou na proteção dos pastos
e das plantações, um churrasquinho no melhor ponto também era uma “carne sân-
scrita”. Cf o início do Ato II da peça Abhijñàna÷akuntalà, de Kàlidàsa, do século V
d.C. A vestimenta de ouros e pratas e joias e perfumes e cremes de marajás e maranis
também era uma “roupa sânscrita”. Um poema em prácrito com palavras belas e ad-
equadas, perfeito acabamento métrico e desenvolvimento elegante do tema/assunto
também poderia ser um “poema sânscrito”...
13
Diz-se tradicionalmente – e os poemas do ègveda o anotam – que eles ouviam os
poemas ditados pelos deva ou os viam/liam num plano transcendente a seu alcance.
Anda por aí uma das mais antigas e documentadas metáforas/alegorias para a inspi-
ração poética e artística.
238 um outro mundo antigo
14
Seu nome completo: Kçùõa Dvaipàyana Vyàsa – mas Vyàsa era um indicativo
talvez de profissão. Kçùõa era nome muito em voga por conta de ser o nome de uma
das divindades da Trindade (ver adiante); Dvaipàyana indicava que ele era natural
de Dvãpa, uma ilha do Ganges. Kçùõa pode ser também uma referência à cor escura
de sua pele. O rapsodo escurinho lá da ilha. Consta também outra forma completa
de seu nome: Kçùõa Dvaipàyana Vedavyàsa podendo ser Kçùõa, o compilador dos
Veda, natural de Dvãpa... ou algo assim.
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 239
mulher, vem para mim, teu orgulho de lado, minha só, docemente e dedicada a mim!/
Longe de teu pai e de tua mãe, com um aguilhão, trago-te para mim, para que estejas
em meu poder e venhas satisfazer meu desejo. / E todos os pensamentos dela, ó Mitra e
Varuõa [os deva dos acordos sociais e comportamentais], sejam expulsos! Privando-a de
sua vontade, ponham-na em meu poder!” Tradução de Mário Ferreira.
20
“Então, quem sabe verdadeiramente de onde (tudo) surgiu?” RV 10.129.
242 um outro mundo antigo
Os nomes das varõa em português seguem aqui as formas dadas pelo Dicionário
21
Houaiss, que embaralha todas elas e nelas inclui o termo pária, que é persa e nunca
teve nada a ver com o sistema hindu que aqui se refere.
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 243
Notar a incidência da raiz è nesses conceitos do período arcaico: çùi o poeta; çta
22
a ordem; çc o poema/saber; çtu a estação do ano; çju que caminha na boa direção
= honesto; çõa a) fugitivo, culpado, réu b) algo desejado: dívida, ritual, procriação,
água, hospitalidade; çùñi lança, espada.
244 um outro mundo antigo
E não seria difícil entrever nessa ausência de compilação uma necessidade, uma
23
Pois bem. Esses anexos das Sa§hità, vezes sem conta refe-
ridos como anexos dos Veda, são, por esse elo frágil, referidos
genericamente como literatura védica. Mas védica em que sen-
tido se revogam quase por completo o panteão louvado em mais
de um milhar de poemas do ègveda, substituindo o licor Soma
e o fogo Agni e o raio Indra e os ventos Vàyu e o sol Sårya, tão
tangíveis aos sentidos físicos nas planuras ou vielas das aldeias
do Indo, por três abstrações que funcionam dialeticamente,
uma dependendo da outra ou resultando dela? Um Brahman é o
princípio criador - talvez uma evolução do sentido e do valor da
palavra ou do sentido do coletivo. Um øiva é o princípio transfor-
mador, às vezes referido como destruidor. E para completar essa
Trimårti (três imagens, três figuras; Trindade”), apenas três25 – o
mais será projeção de habilidades na forma de esposas e filhos
etc. – um Viùõu, princípio conservador. No rodar da roda, a
conservação é a criação do mesmo; a transformação/destruição
é uma criação do novo; assim, transformação e conservação
25
Afirmam os Bràhmaõa que os deva arcaicos chegavam a 3. 333.
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 249
26
Da raiz BHAJ “dividir, compartilhar”. De que deriva também a conhecida palavra
bhagavat “o compartilhador”, e por isso venerável.
27
Nãti deriva de Nä “olhar, ver, vigiar”, de que derivam também as palavras netra
“olho” e netç “condutor, governante” e, no mundo moderno, “motorista”. Também aí
é o olhar do dono que engorda o gado.
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 251
Vale lembrar, ainda, quanto ao ègvedasa§hità, que ele é constituído de 10 partes chama-
28
das maõóala “eixos” temáticos. As de número 2 a 9 são formadas por poemas compostos
no período arcaico; as de número 1 e 10, as “capas” reúnem produção já pertencente à
plancie gangética; provam-no as referências a acidentes geográficos e clima dessa região.
252 um outro mundo antigo
2004a: 105-113.
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 253
texto próprios – fosse capaz de dizer que se trata de uma teoria semântica que explora
questões ligadas ao sentido (e não só ao significado) que as palavras possuem para
quem as usa, os falantes de sânscrito, e elaborando já uma teoria de campos semânti-
cos. Ver: Fonseca, 2003: 163-170.
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 257
Considerações Finais
Bibliografia
Mário Ferreira
Universidade de São Paulo
1
A datação e a constituição dos primórdios da civilização indiana são temas ex-
tremamente controversos, carentes ainda de melhores evidências historiográficas e
arqueológicas. Para a discussão dessas questões; ver: Aldrovandi, 2006: 204-228.
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 263
6
Um exemplo de cerimônia de transmissão (sampradāna) das posses do moribundo
ao filho mais velho consta na Kauṣītaky-upaniṣad [II. XV].
7
Na atualidade, mesmo as famílias menos favorecidas procuram folhear esse doce
com ouro, por ser a iguaria o doce preferido do deus Gaṇeśa, o senhor das trilhas e
aquele que remove os obstáculos,
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 277
10
Os maṇḍala são desenhados ainda hoje na entrada das casas pelas mulheres.
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 279
deado de muros e com quatro pórticos (um para ser utilizado por cada casta), deco-
rado com pinturas e esculturas sagradas (AUBOYER, 1960: 274-275). No meio de
um grande pátio, havia um altar e um pequeno templo dedicado à deusa das lenhas
crematórias; nele havia também pilares sacrificiais e numerosos bancos de pedra. O
local possuía um grande número de ervas, arbustos e árvores. Aqui e ali se avistavam
algumas urnas funerárias, cuja cerâmica vermelha se destacava entre as plantas e
sobre as quais se empoleiravam diferentes pássaros. A água corrente cruzava-o em
280 um outro mundo antigo
todas as direções [cf. GSA I.15]. Havia guardas que residiam no local e circulavam
armados com bastões, para se defender dos demônios. Nesse local de desolação, não
cessava de ressoar o ruído do choro e das lamentações: “Tal qual o tumulto do mar de
grandes águas e vagas a inundar, tais gritos tristes jamais se calam”. Havia também
monumentos funerários de pedra e tijolo, em forma de cúpulas.
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 281
12
As fontes parecem diferir sobre a definição da relação sapiṇḍa. De modo geral,
estipula-se que essa relação abrange até o sexto grau de parentesco; cf. Āpastamba
[II.15.2]; Gautama [XIV.13].
286 um outro mundo antigo
13
Ver a tradução de Griffith, 1870-1874 e Shastri, 1970.
14
As traduções consultadas foram: os Livros I ao V, Van Buitenen, 1973-8 e os livros
XI e XII; Fitzgerald, 2004; Ganguli, 1883-1896 e Satri, v. I-XVIII, Madras, 1931-1933.
15
O deus pode surgir com aparência feroz e amedrontadora, com coloração verde-
-escuro e olhos penetrantes, os cabelos presos num coque e coroado, seus trajes púr-
pura ou vermelho-sangue, carregando consigo um laço, com o qual aprisiona a alma
dos mortos. Seu veículo, por vezes, pode ser um búfalo, e Yama pode aparecer com
várias armas, símbolos de seus poderes. Por outro lado, é descrito como uma criatura
294 um outro mundo antigo
bela, com vestes amarelas, os olhos vermelhos e os cabelos presos e decorados com
uma flor vermelha, radiante qual o sol. Essa aparente discrepância é considerada
decorrente das diferentes formas que o deus assumia, de acordo com as característi-
cas do indivíduo que ele iria buscar – se virtuoso ou malfeitor (Fonseca, 2001: 1-8).
katia pozzer • maria a. silva • vagner porto (orgs.) 295
Bibliografia
André Bueno
Universidade Estadual do Paraná
A palavra "Mulher"
grama para representações de palavras que associam pictogramas e por fim, logogra-
mas, para representações que conjugam as formas anteriores.
304 um outro mundo antigo
As primeiras referências
A misoginia se acentua
Bibliografia
lienuzh uan.xmlestyle=xwomen/xsl/dynaxml.xslechunk.
id=tpageedoc.view=toccedoc.lang=bilingual, 2009.
LEE SWAN, N. Pan Chao: Foremost Woman Scholar of China.
Michingan, Michigan Classics in Chinese Studies, 2001.
MANN, S. Under Confucian Eyes: Writings on Gender in
Chinese History. California, California University Press, 2001.
WEILMAN, H. Fang Chungshu. Rio de Janeiro, Ediouro, 1998.
XIRAN, X. Boas mulheres da China. São Paulo, Companhia
das Letras, 2003.
Sobre os autores
334 um outro mundo antigo
COLEÇÃO HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA EM MOVIMENTO
Direção: Pedro Paulo A. Funari
Conselho editorial: Andrés Zarankin, Airton Pollini, José Geraldo Costa
Grillo, Gilson Rambelli, Lúcio Menezes Ferreira, Renata Senna Garraffoni
Títulos publicados:
Arestas do Poder
Adilton Luís Martins
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