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A PENA
3.1
1
Afirma Bitencourt (1993) que “de modo algum podemos admitir neste período da história sequer
um germe da prisão como lugar de cumprimento de pena, já que praticamente o catálogo de
sanções esgotava-se com a morte, penas corporais e infamantes” (p. 16).
36
2
Cf. Bitencourt, 1993, p. 21.
37
direitos humanos. Beccaria, em Dos Delitos e Das Penas, é símbolo da luta pela
humanização do sistema penitenciário. Heleno Cláudio Fragoso (1993) assevera
que Beccaria
3
Cf. Bitencourt, 1993, p. 53.
4
Cf. Fragoso, 1993, p. 59.
38
Em 1964, o Golpe Militar produz uma ditadura que se estenderia até 1985.
Em 1969, foi editado um Código Penal, restabelecendo a pena de morte, de prisão
perpétua e de reclusão de trinta anos para crimes políticos, e endurecendo a
legislação penal. No entanto, o Código jamais entrou em vigor, e após grande
período de vacatio legis, foi revogado em 1978. No entanto, a ditadura produzia
leis por um Congresso submisso ao Executivo, de modo que o direito penal era
considerado “um instrumento meramente pragmático de interesses do poder que
recorria à pena de prisão como uma ameaça de rotina” (Dotti, 1998, p. 85).
3.2
não pode haver dúvidas sobre o nexo íntimo entre a ciência penal e as leis
fundamentais do Estado, quando se pensa que o delito tende a dissolver a ordem
social, e faz nascer constante conflito entre os direitos do indivíduo e os da
sociedade, conflito que deve ser resolvido também com respeito às leis do
Estatuto Fundamental, para tutelar o indivíduo contra os arbítrios da autoridade
social (p. 57).
42
7
“A ordem jurídica, especialmente a ordem jurídica cuja personificação é o Estado, é, portanto,
não um sistema de normas coordenadas entre si, que se acham, por assim dizer, lado a lado, no
mesmo nível, mas uma hierarquia de diferentes níveis de normas. A unidade dessas normas é
constituída pelo fato de que a criação de uma norma – a inferior – é determinada por outra – a
superior – cuja criação é determinada por outra norma ainda mais superior, e de que esse regressus
é finalizado por uma norma fundamental, a mais superior, que, sendo o fundamento supremo de
validade da ordem jurídica inteira, constitui a sua unidade” (Kelsen, 1998, p. 181).
8
Cf. Dotti, 1998, p. 71.
43
3.3
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0613188/CA
SISTEMAS PENITENCIÁRIOS
O sistema foi aceito e aplicado em muitas prisões da Inglaterra, ficando por isso,
conhecido como sistema progressivo inglês. Adotava-se o critério de dividir o
tempo de cumprimento da pena em três períodos: o primeiro era chamado o
período de prova, com isolamento celular completo do tipo pensilvânico; o
segundo período iniciava-se com a permissão dada ao preso para trabalhar na
comunidade carcerária, observando, porém, a regra auburniana do rigoroso
silêncio e mantendo-se em isolamento noturno, passando, depois de algum tempo,
para as chamadas public work-house, com vantagens maiores; finalmente, o
terceiro período, no qual, pela correção demonstrada, o prisioneiro obtinha o
ticket of leave, ou seja, o benefício da liberdade condicional (Pimentel, 1989, pp.
267-268).
O art. 33 do Código Penal brasileiro, e a Lei de Execução Penal – Lei
7.210/84 – adotam o sistema progressivo, instituindo três regimes de cumprimento
de pena – fechado, semi-aberto e aberto. Na dicção do art. 112 da LEP, a
progressão de regime se dá após o cumprimento de 1/6 da pena pelo condenado,
desde que ele mantenha bom comportamento carcerário.
10
“Ponto vulnerável nesse sistema era a desumana regra do silêncio. Segundo os estudiosos, foi
essa regra que deu origem ao costume dos presos de se comunicarem com sinais feitos com as
mãos, formando uma espécie de alfabeto peculiar, prática que até hoje se observa nas prisões de
segurança máxima, onde a disciplina é rígida. Usavam, também – como até hoje fazem –
processos engenhosos de comunicação, fazendo sinais com batidas nas paredes ou nos canos
d’água ou, ainda, esvaziando as bacias dos sanitários para falarem no que chamavam boca do boi”
(Pimentel, 1989, p. 266-267).
45
3.4
3.4.1
GENERALIDADES
Ao juiz incumbe, ao aplicar a pena, seguir o caminho trilhado pela lei, com
vistas à justa e necessária reprovação e prevenção do delito11. Rendendo-se ao
11
O caput do art. 59 do Código Penal se filia à teoria mista, ao afirmar:
“Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do
agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da
vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;
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comando do art. 59 do Código Penal, deve escolher a pena que será aplicada
dentre as cominadas, fixando para essa pena a sua quantidade, seguida, se for o
caso, pelo regime inicial de cumprimento da pena de prisão e, se cabível,
promovendo a substituição da prisão por outra espécie de pena.
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível”
(grifo nosso).
47
3.4.2
12
“XLVI – a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;”.
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Luiz Vicente Cernicchiaro e Paulo José da Costa Júnior (1991) asseveram que
3.4.3
Segundo esse sistema, o juiz deve fixar, numa primeira etapa, a pena-base,
dentro dos limites mínimo e máximo cominados no preceito secundário do tipo
penal, para tanto sopesando as “circunstâncias judiciais”13 previstas no caput do
art. 59 do CPP. Levando em conta a culpabilidade do fato, os antecedentes do réu,
sua conduta social e sua personalidade, os motivos do crime, suas circunstâncias e
conseqüências, bem como o comportamento da vítima, o juiz fixará a pena-base
dentro dos limites mínimo e máximo previstos no preceito secundário do tipo
penal.
13
Circunstâncias, no direito penal, são fatos ou dados que circundam o delito, não interferindo,
porém, em sua existência. As circunstâncias previstas no caput do art. 59 são tradicionalmente
denominadas de “circunstâncias judiciais”. Segundo Bitencourt, elas “constituem (...) uma diretriz,
traçam um roteiro, fixam critérios de orientação, indicam o caminho a ser seguido na adequação da
pena ao fato e ao delinqüente. Os elementos constantes do art. 59 são denominados circunstâncias
judiciais, porque a lei não os define e deixa a cargo do julgador a função de identificá-los no bojo
dos autos e mensurá-los concretamente. Não são efetivas ‘circunstâncias do crime’, mas critérios
limitadores da discricionariedade judicial, que indicam o procedimento a ser adotado na tarefa
individualizadora da pena-base” (Bitencourt, 2003, p. 553).
14
“Circunstâncias agravantes
Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o
crime:
I - a reincidência;
II - ter o agente cometido o crime:
a) por motivo fútil ou torpe;
b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime;
c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificultou ou tornou
impossível a defesa do ofendido;
d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que
podia resultar perigo comum;
e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade;
g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão;
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida;
i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade;
j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública, ou de desgraça
particular do ofendido;
l) em estado de embriaguez preordenada.
Agravantes no caso de concurso de pessoas
Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que:
I - promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes;
II - coage ou induz outrem à execução material do crime;
III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-punível em
virtude de condição ou qualidade pessoal;
IV - executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa.”
50
para torná-lo único e suscetível de uma pena singular suficiente para a reprovação
e prevenção do delito.
15
“Circunstâncias atenuantes
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:
I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da
sentença;
II - o desconhecimento da lei;
III - ter o agente:
a) cometido o crime por motivo de relevante valor social ou moral;
b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou
minorar-lhe as conseqüências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano;
c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem de autoridade
superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima;
d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime;
e) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não o provocou.
Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou
posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei.”
16
As agravantes e atenuantes não permitem, segundo jurisprudência consolidada pelo STJ (súmula
231) a diminuição ou aumento da pena-base para aquém ou além dos limites cominados pelo
preceito secundário do tipo.
17
“Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A
de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime
fechado.
§ 1º - Considera-se:
a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média;
b) regime semi-aberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento
similar;
c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado.
51
3.4.4
19
Exemplo de cominação cumulativa é o furto previsto no Código Penal: “Art. 155 - Subtrair, para
si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa”. Exemplo de
cominação alternativa é a ameaça prevista no Código Penal: “Art. 147 - Ameaçar alguém, por
palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa”. E exemplo de cominação isolada é o anúncio de
meio abortivo, previsto na Lei de Contravenções Penais: “Art. 20. Anunciar processo, substância
ou objeto destinado a provocar aborto: Pena – multa”.
20
“Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na
sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos
e sessenta) dias-multa.
§ 1º - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo do maior
salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes esse salário.
§ 2º - O valor da multa será atualizado, quando da execução, pelos índices de correção monetária.
53
3.4.5
21
“Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade,
quando:
I - aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com
violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;
II - o réu não for reincidente em crime doloso;
III - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como
os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.
§ 1o (VETADO)
§ 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma
pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída
por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos.
§ 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de
condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha
operado em virtude da prática do mesmo crime.
§ 4o A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o
descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena privativa de liberdade a
executar será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo
de trinta dias de detenção ou reclusão.
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3. o réu não for reincidente em crime doloso, podendo este requisito ser afastado
pelo juiz se a reincidência não se operar pela prática do mesmo crime, e a
substituição for socialmente recomendável;
pena privativa de liberdade quando esta for superior a um ano. Se igual ou menor
do que um ano, a pena de prisão será substituída por apenas uma restritiva de
direitos ou pela multa.
§ 5o Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da execução
penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado
cumprir a pena substitutiva anterior.”
22
“A metodologia brasileira é absolutamente correta (...), pois possibilita ao juiz eleger, com
margem de liberdade, a pena mais adequada, assim como a substituição de uma pena de sérios
efeitos negativos por outra menos dessocializadora” (Bitencourt, 2003, p. 450).