Seção Judiciária do Rio de Janeiro 12ª Vara Federal do Rio de Janeiro
CONCLUSÃO
Nesta data, faço estes autos conclusos a(o) MM. Sr(a).
Dr(a). Juiz(a) da(o) 12ª Vara Federal do Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 2016.
Regina Cely Martins Correia Fonseca
Diretor(a) de secretaria
Processo nº 0161392-52.2015.4.02.5101 (2015.51.01.161392-1)
DESPACHO/DECISÃO
Trata-se de pedido de liminar em mandado de segurança impetrado por
TELCO DO BRASIL CALL CENTER LTDA., com pedido de liminar, em face do DELEGADO DA DELEGACIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL NO RIO DE JANEIRO I, objetivando não incluir o ISS, o PIS e a COFINS na base de cálculo da Contribuição Previdenciária sobre a receita Bruta (CPRB), bem como de declarar o direito à compensação dos valores indevidamente recolhidos nos últimos 5 anos.
É o relatório. Decido.
A concessão da medida liminar em mandado de segurança está vinculada
à presença dos pressupostos “fumus boni juris” e “periculum in mora” (art. 7º, inc. III, Lei nº 12.016/2009).
O Plenário do Supremo Tribunal Federal concluiu em 08/10/2014 o
julgamento do recurso extraordinário em que foi reconhecida a inconstitucionalidade da inclusão do ICMS na base de cálculo de outros tributos, a exemplo da COFINS, devendo ser aplicável ao presente caso (Contribuição Previdenciária sobre a receita Bruta), apesar de ainda não julgada a Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC nº 18 e o RE 574706), com repercussão geral reconhecida.
“TRIBUTO – BASE DE INCIDÊNCIA – CUMULAÇÃO –
IMPROPRIEDADE. Não bastasse a ordem natural das coisas, o arcabouço jurídico constitucional inviabiliza a tomada de valor alusivo a
Assinado eletronicamente. Certificação digital pertencente a JOAO AUGUSTO CARNEIRO ARAUJO.
Documento No: 74064538-26-0-73-4-578523 - consulta à autenticidade do documento através do site http://www.jfrj.jus.br/autenticidade . Poder Judiciário JFRJ JUSTIÇA FEDERAL Fls 74 Seção Judiciária do Rio de Janeiro 12ª Vara Federal do Rio de Janeiro
certo tributo como base de incidência de outros, COFINS – BASE DE
INCIDÊNCIA – FATURAMENTO – ICMS. O que relativo a título de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e a Prestação de Serviços não compõe a base de incidência da COFINS, porque estranho ao conceito de faturamento” (RE 240785, Relator Min. Marco Aurélio, tribunal Pleno, julgado em 08/10/2014, DJE 16/12/2014).
Ainda, o Superior Tribunal de Justiça em recente decisão:
“PROCESSO CIVIL E TRIBUTÁRIO. CRÉDITO PRESUMIDO DE
ICMS. BASE DE CÁLCULO DO IRPJ E DA CSLL. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. 1. Recurso especial em que se discute a inclusão do crédito presumido de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) na Bse de cálculo de: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), Imposto de Renda sobre Pessoa Jurídica – (IRPJ), Contribuição para Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para Financiamento de Seguridade Social (COFINS). 2. “O crédito presumido de ICMS configura ‘benefício fiscal’ que ao ser lançado na escrita contábil da empresa promove, indiretamente, a majoração de seu lucro e impacta, consequentemente, na base de cálculo do IRPJ e da CSLL”. Nesse sentido: AgRg nos Edcl no REsp 1,458,772/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, Segunda Turma DJe 13/10/2014, AgRg no REsp 1,461,032/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIM, Segunda Turma, DJe 27/11/2014 AgRg nos EDcl no REsp 1.465.870/SC, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, Segunda Turma, DJe 31/3/2015. 3. "Nos termos da jurisprudência pacífica do STJ, os valores provenientes do crédito do ICMS não ostentam natureza de receita ou faturamento, mas mera recuperação de custos na forma de incentivo fiscal concedido pelo governo para desoneração das operações, NÃO integrando, portanto, a base de cálculo da contribuição ao PIS e da COFINS". Nesse sentido: AgRg no REsp 1422739/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Segunda Turma, DJe 18/02/2014; AgRg no REsp 1.463.364/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, Segunda Turma, julgado em 24/3/2015, DJe 30/3/2015. Agravo regimental improvido.” (AgRg no REsp 1402204/SC 2013/0298332-3, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, julg. 26/05/2015, Segunda Turma, DJ 02/06/2015).
Assinado eletronicamente. Certificação digital pertencente a JOAO AUGUSTO CARNEIRO ARAUJO.
Documento No: 74064538-26-0-73-4-578523 - consulta à autenticidade do documento através do site http://www.jfrj.jus.br/autenticidade . Poder Judiciário JFRJ JUSTIÇA FEDERAL Fls 75 Seção Judiciária do Rio de Janeiro 12ª Vara Federal do Rio de Janeiro
Relativamente à inclusão do ISSQN na base de cálculo de outros tributos,
o raciocínio é o mesmo, qual seja, o arcabouço jurídico constitucional inviabiliza a tomada de valor alusivo a certo tributo como base de incidência de outros, não sendo possível compor a base de incidência da Contribuição Previdenciária sobre a receita Bruta (CPRB).
Veja-se precedente do E. TRF2, embora relativo às contribuições ao
PIS/COFINS, são aplicáveis à Contribuição Previdenciária sobre a receita Bruta (CPRB):
TRIBUTÁRIO. APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
INCLUSÃO DO ISS NA BASE DE CÁLCULO DA CONTRIBUIÇÃO AO PIS E DA COFINS. IMPOSSIBILIDADE. ARTIGO 195, INCISO I, ALÍNEA B, CF. CONCEITO CONSTITUCIONAL DE FATURAMENTO. RECEITA DE TERCEIRO. 1. - O mandado de segurança é via adequada para o reconhecimento do direito à compensação de tributos pagos indevidamente, mesmo nos casos dos indébitos anteriores à impetração, pois a concessão da segurança importa em simples reconhecimento de um direito subjetivo previsto em lei, e não em provimento de condenação a pagamento. Aplicação do Enunciado nº 213 da Súmula do STJ. 2. - O conceito de faturamento, nos termos da redação originária da Constituição Federal, corresponde às receitas advindas da venda de mercadorias pela empresa. 3 - Apenas as entradas que acrescem ao patrimônio do contribuinte, como elemento novo e positivo, estão sujeitas à exigibilidade do PIS/COFINS. 4 - Sendo o ISS receita pertencente a terceiro, vez que o prestador de serviços, antes mesmo de prestar o serviço, já sabe que terá de recolhê-lo aos cofres da Fazenda Municipal, não pode ser incluído na base de cálculo dessas contribuições. 5 - Do contrário, contribuintes em situação idêntica poderiam sofrer discriminação apenas porque sujeitos a alíquotas de ISS maiores/menores, a depender de cada município o que é vedado pelo artigo 150, inciso II, da CF. 6 - Nessa linha, o acórdão proferido pelo STF, por maioria de votos, no julgamento do RE 240.785/MG (Informativo STF nº 762), acerca da não inclusão do ICMS na base de cálculo da Contribuição para o PIS e da COFINS, cujas conclusões são aplicáveis ao presente caso.
Assinado eletronicamente. Certificação digital pertencente a JOAO AUGUSTO CARNEIRO ARAUJO.
Documento No: 74064538-26-0-73-4-578523 - consulta à autenticidade do documento através do site http://www.jfrj.jus.br/autenticidade . Poder Judiciário JFRJ JUSTIÇA FEDERAL Fls 76 Seção Judiciária do Rio de Janeiro 12ª Vara Federal do Rio de Janeiro
7 - Direito à compensação dos valores indevidamente recolhidos pela
parte nos cinco anos anteriores ao ajuizamento da ação, observado os artigos 74 da Lei nº 9.430/96 e 170-A do CTN. 8 - Recurso de apelação parcialmente provido. (TRF2, 201050010059510, Rel. Des. Federal LETICIA MELLO, 4ª Turma, 13/05/2015)
No mesmo sentido, é vedada a inclusão das contribuições ao PIS e à
COFINS na base de cálculo da Contribuição Previdenciária sobre a receita Bruta (CPRB).
Presentes, portanto, o fundamento relevante da impetração do presente
mandamus, bem como o periculum in mora, a autorizar a concessão do provimento liminar, evitando que o contribuinte se sujeite ao solve et repete (pague e depois reclame).
Ante o exposto, DEFIRO o pedido de liminar para suspender a
exigibilidade das parcelas vincendas de responsabilidade da impetrante da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB) incidentes sobre o ISS, o PIS e a COFINS.
Notifique-se a autoridade impetrada, por mandado, para ciência desta
decisão e para prestar as informações, no prazo legal (art. 7º, I, Lei nº 12.016/2009).
Abra-se vista à União – Fazenda Nacional.
Decorridos os prazos legais, remetam-se os autos ao Ministério Público
Federal (art. 12).
Após, venham os autos conclusos para sentença, observando-se a
prioridade de julgamento (art. 20).
Intimem-se.
Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 2016.
João Augusto Carneiro Araújo
Juiz Federal Substituto
Assinado eletronicamente. Certificação digital pertencente a JOAO AUGUSTO CARNEIRO ARAUJO.
Documento No: 74064538-26-0-73-4-578523 - consulta à autenticidade do documento através do site http://www.jfrj.jus.br/autenticidade .