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UNIVERSIDADE DE ÉVORA

ESCOLA DE ARTES
DEPARTAMENTO DE MÚSICA

Música Tradicional Portuguesa

Os Cordofones Madeirenses

Professor Doutor Pedro Moreira

Alexandre Gouveia Nº 40530

Licenciatura em Música

Trabalho para a disciplina de Etnomusicologia II

Évora, 2018/2019
Índice
Introdução ..................................................................................................................... 3

Cordofones Madeirenses .............................................................................................. 4

Braguinha ou Machete ...................................................................................................... 4

O Rajão ............................................................................................................................. 5

Viola de Arame ................................................................................................................. 7

Conclusão ..................................................................................................................... 9

Bibliografia ................................................................................................................. 10
Introdução

O presente trabalho encontra-se inserido na disciplina de Etnomusicologia II,


sendo a sua temática fundamental os Cordofones Madeirenses.
É objetivo deste trabalho abordar esta família de instrumentos explicando a sua
origem e as suas características. Para que melhor se compreenda esta explanação, o
trabalho encontra-se dividido em três partes, cada uma deles referente a um cordofone,
sendo eles: o Braguinha ou Machete, o Rajão e a Viola de Arame.
No primeiro, é explicitada a sua origem, diferentes versões, construção e afinação.
No que toca ao Rajão, são explicados os mesmos aspetos que no anterior, fazendo
referência ainda à ordem em que se encontram as suas cordas. A última divisão, referente
à Viola de Arame, são abordados os aspetos referenciados anteriormente e ainda os estilos
musicais em que este cordofone se utiliza.
O trabalho não se conclui sem que antes se teçam algumas e derradeiras
considerações que melhor o complementam.
Cordofones Madeirenses
Braguinha ou Machete

O Braguinha é a versão madeirense do cavaquinho. O mesmo foi trazido pelos


povoadores continentais para a Região da Madeira.
Admirado em outros tempos pelas damas e donzelas das cortes madeirenses, o
Braguinha, também conhecido por Braga, Machete de Braga, Machete, Machetinho e
Cavaquinho, é uma peça fulcral do folclore da ilha da Madeira e Porto Santo. Deste modo,
existem duas versões deste instrumento, sendo elas, o Braguinha Rural, de fraca
construção e destinado ao acompanhamento e o Braguinha Urbano, tocando-se de
rasgado e que apresentava um papel de instrumento solista.

Imagem 1 -Machete Rústico (Fonte: Imagem 2 -Machete acompanhado por uma viola
http://machetista.blogspot.com/2012/08/o-machete- (Fonte: http://machetista.blogspot.com/2012/08/o-
ou-braguinha.html) machete-ou-braguinha.html)

Posteriormente, em finais do séx. XIX, é levado por imigrantes Portugueses para


o Hawai. Os havaianos, impressionados com a leveza e rapidez dos dedos do povo
madeirenses na execução do instrumento, decidiram chamá-la de Ukelele, que traduzindo
significa pulga saltitante.
Segundo Carlos Santos, Etnógrafo Madeirense, o instrumento foi considerado
uma invenção insular, devido ao traje utilizado pelos Madeirenses. Era usado por gente
que vestia bragas (antigo trajo do camponês ilhéu), constituído por bolsos grandes, no
qual poderiam ser transportados estes instrumentos. Assim sendo, era apresentado como
um instrumento de carácter popular, característico do “vilão”.
Quanto á sua constituição, o Braguinha apresenta uma cabeça de cravelhas de
madeira, com três cordas de aço e uma de bordão. É afinado da acorda aguda para a mais
grave (da 1ª para a 4ª corda, ou seja de baixo para cima) : 1ª corda- Ré, 2ª corda- Si, 3ª
corda- Sol, 4ª corda- Ré (bordão).
Aproximadamente, possui um comprimento total de cerca de 51cm e dispõe de 17
trastos.

O Rajão
Atualmente, o Rajão é um instrumento existente apenas no arquipélago da
Madeira. Por volta do ano de 1985, este surge com a designação de Machete de Rajão,
onde posteriormente fica apenas com o termo Rajão. De entre todos os instrumentos
utilizados no folclore madeirense, é provavelmente o mais regional na sua origem e
aquele que apresenta características mais antigas e por isso associadas à história da região.
É também único em território português, sendo apenas praticado nesta região insular.
É composto por cordas beliscadas, sendo muito semelhante á viola dedilhada.
Possui um total de cinco cordas de tripa embora no início do séc. XX já fosse comum
coexistirem duas cordas metálicas e três de tripa.
Os cordofones madeirenses são tocados utilizando as técnicas da viola. Nesta
linha de ideias, o rajão apresenta o “ponteado”, que consiste no toque simples da melodia.
Outra das técnicas era o “rasgado”, que era geralmente utilizado para o acompanhamento
em acordes, consistindo na passagem da mão direita em movimentos ascendentes e

Imagem 4 – Rajão (Fonte:


Imagem 3 – Costumes folclóricos da região (Fonte: http://machetista.blogspot.com/2011/04/o-
http://machetista.blogspot.com/2011/04/o-rajao.html) rajao.html)
descendentes das cordas. Era ainda utilizado como acompanhador de canto e dança no
folclore da região.
Segundo Santos (1938), o Rajão é “um instrumento acompanhador por excelência
e desempenha ótimo lugar nas orquestras regionais” e por sua vez é o “companheiro de
folguedos indispensável do campónio, pela facilidade com que acompanha qualquer
ritmo.” (Machetista, 2011).
As cordas do rajão, de cima para baixo ou do agudo para o grave, apresentam a
seguinte ordem:
• 1ª corda- Lá
• 2ª corda- Mi
• 3ª corda- Dó
• 4ª corda- Sol
• 5ª corda- Ré

Apresenta uma afinação “reentrante”, de caraterísticas opostas ás violas de mão.


Deste modo, diferencia-se dos outros instrumentos de cinco cordas pelo fato da terceira
corda (Dó) ser a mais grave, enquanto nos outros a quinta é a mais grave. A corda que dá
o tom de afinação ao instrumento é a quarta corda (Sol).
Por fim, o Rajão apresenta um comprimento entre os 65 e 73cm, com 17 ou 18
trastos.

Imagem 5 – Afinação do Rajão (Fonte: http://machetista.blogspot.com/2011/04/o-rajao.html)


Viola de Arame

A viola de arame é um cordofone que tem origem nas violas Portuguesas (Viola
Beiroa, Viola Campaniça, Viola Braguesa, Viola amarantina, Viola Toeira). Assemelha-
se bastante ás Violas da Terra (12 cordas) e Viola da Terceira (15 cordas) por serem
conhecida por violas de arame. No entanto, diferenciam-se das outras por apresentarem
uma escala sobreposta ao tampo e não rasa.
Este instrumento, cujo nome advém do fato das suas cordas serem feitas de arame,
assume uma grande importância na região da Madeira, ao ser utilizado no
acompanhamento do Charamba ou Xaramba. Charamba, era caraterizado como um
género de improviso, tanto no canto como no acompanhamento pela Viola de Arame, no
qual cada músico demonstrava as suas capacidades. Existem três estilos de Charamba:
• “Charamba Clássico” – Sendo o mais antigo dos três, possui um ritmo bastante
livre;
• “Charamba dos Velhos” – apresenta um andamento lento;
• “Charamba pelo Meio”- apresenta um andamento mais vivo.

Posteriormente, este género musical serviu de base a muitas das chamadas cantigas
de trabalho, como a apanha do trigo e da erva.

Imagem 6 - “Teoria” – Grande tocador de Viola de Arame- Porto da Cruz. (Fonte:


http://machetista.blogspot.com/2012/11/a-viola-darame.html)
Esta viola é inicialmente constituída por cabeças com cravelhas perpendiculares,
sendo que mais tarde ganha um mecanismo de carrilhão metálico. Possui cravelhas para
10 cordas, mas no entanto só são utilizadas 9. O encordoamento do mesmo é feito a partir
de cinco ordens de cordas, no qual se subdividem em quatro ordens de cordas duplas e
uma outra simples.
Quanto ás suas dimensões, apresenta uma grande oscilação de tamanhos, sendo o
mais usual o de 86 cm.
É curioso saber que através da emigração dos colonos madeirenses, outro
instrumento do Brasil, a viola caipira, adotou características da viola de arame.

É um instrumento usado fundamentalmente pelos grupos de folclore em conjunto

Imagem 7 - Tocador de Viola de Arame- Charamba (Porto Santo). (Fonte:


http://machetista.blogspot.com/2012/11/a-viola-darame.html)
Conclusão

São três os instrumentos da família dos cordofones Madeirenses abordados nesta


exposição.
O primeiro é considerado uma peça fulcral do folclore madeirense e também uma
versão insular do conhecido Cavaquinho. Embora seja sobejamente conhecido como
Braguinha, este cordofone tem diferentes nomenclaturas, como Braga, Machete de
Braga, Machete ou Machetinho. Este foi levado pelo povo Madeirense para o Hawai e
foi a partir dele que surgiu o Ukelele. O seu nome tem origem nas Bragas, antigo traje
utilizado pelos camponeses da Ilha da Madeira e a sua constituição apresenta uma cabeça
de cravelhas de madeira, com três cordas de aço e uma de bordão. O Braguinha, é afinado
da corda aguda para a mais grave.
De seguida é exposto o Rajão, criado em 1985 e, atualmente, praticado apenas
nesta região insular. É o cordofone mais antigo e considerado o mais ligado à história da
região pelas suas características. É tocado com a técnica de cordas beliscadas, utilizada
também para o exercício da viola dedilhada. Possui cinco cordas de tripa e a corda que
dá o tom de afinação do instrumento é a quarta corda, referente à nota Sol. Este cordofone
é tocado com recurso a duas técnicas diferentes, para dois estilos diferente: o estilo
Rasgado, utilizado para o acompanhamento em acordes e o Ponteado, para o toque
simples da melodia. Era ainda utilizado como acompanhamento de canto e dança no
folclore da região.
Por último, a Viola de Arame, com origem nas violas portuguesas, como a viola
Beiroa, Campaniça, Braguesa ou Amarantina, assemelha-se às violas de 12 e 15 cordas,
com a diferença de que a escala é sobreposta ao tampo. Era, nos primórdios, constituída
por cravelhas perpendiculares mas com o passar dos anos ganhou um mecanismo de
carrilhão metálico. O seu nome deriva da constituição das suas cordas, que como o nome
indica são de arame. É um cordofone de elevada importância na região por acompanhar
o Charamba ou Xaramba, que diz respeito a um género de improviso. Dentro deste
existem três estilos: Charamba Clássico; Caramba dos Velhos e Charamba pelo Meio.
Através da emigração dos colonos madeirenses, outro instrumento do Brasil, a viola
caipira, adotou características da viola de arame.
Bibliografia

Machetista (2011). Cordofones Madeirenses. Acedido em Abril, 24, 2019, disponível em


http://machetista.blogspot.com/2011/04/o-rajao.html
Santos, Carlos (1937) Tocares e cantares da ilha: estudo do folclore da Madeira. Funchal
Santos, Inês (2008). Câmara clara- instrumentos musicais da madeira. RTP. Disponível em
http://ensina.rtp.pt/artigo/os-cordofones-da-madeira/

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