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Universidade de Évora

Escola de Artes
Departamento de Música

Lesões ao Piano: Problemas Posturais dos Estudantes do


Ensino Superior

Teoria e Métodos da Musicologia Histórica

Professora Doutora Vanda de Sá

Alexandre Gouveia
Nº. 40530
Resumo

O presente trabalho – Lesões ao piano: Problemas Posturais dos Estudantes do


Ensino Superior – aborda as lesões adquiridas através de maus hábitos posturais
durante a prática prolongada do piano.
A educação fornecida, pelo professor ao aluno, deve ter um papel fundamental
não só ao nível musical, mas também no que respeita às posturas a adotar, no entanto,
muitas vezes, este último não se verifica. Apesar de existirem ferramentas para prevenir
tais problemas, a difusão e aplicação das mesmas, é escassa.
A problemática em questão, não é devidamente abordada durante as aulas e,
como tal, é fundamental que exista uma maior consciência e conhecimento, por parte
dos docentes de cada instrumento, de modo a que estas ferramentas sejam difundidas e
aplicadas e, com isto, seja possível reduzir o número de discentes/performers afetados
por problemas músculo-esqueléticos.
Este trabalho tem como objetivo primordial alertar os discentes e docentes para
os problemas causados pelos hábitos incorretos, ao nível da postura, e por sua vez
fornecer ferramentas que permitam controlar e/ou eliminar aqueles que já se façam
sentir.
A metodologia utilizada irá recair sobre a pesquisa e análise da literatura
existente,(sobretudo académica sob a forma de dissertações e artigos) bem como a
recolha de dados obtida no questionário, privilegiando a considerada mais relevante
sobre a presente temática.

Palavras Chave: Músicos; Piano; Postura; Lesões;

2
Abstract

The present work – Piano injuries: Posture Problems of Higher Education


Students – addresses the injuries acquired through bad postural habits during prolonged
practice.
The education provided by the teacher to the student play a fundamental role not
only at a musical level, but also with regard to postures to be adopted, however, the
latter is often not the case. Although there are tools to prevent such problems, their
diffusion and application is scarce.
The problem in question is not properly addressed during the lessons and, as
such, it is essential that there is greater awareness and knowledge on the part of the
teachers of each instrument so that these tolls are disseminated and applied and, thus,
reduce the number of students/performers affected by musculoskeletal problems.
The main objective of this work is to alert students and teachers to
the problems caused by incorrect posture habits, and in turn to provide tools that allow
to control and/or eliminate those that are already felt.
The methodology used will focus on the research and
analysis of existing literature (especially academic literature in the form of dissertations
and articles) as well as the data collection obtained in the questionnaire, privileging the
most relevant on this topic.

Key words: Musicians; Piano; Posture; Injuries;

3
Índice

Resumo..............................................................................................................................2

Abstract.............................................................................................................................3

Introdução..........................................................................................................................4

Lesões por Esforços Repetitivos – LER............................................................................6

Contextualização...............................................................................................................6

Sintomas............................................................................................................................6

LER nos Músicos..............................................................................................................7

LER nos Pianistas.............................................................................................................8

Técnicas de Prevenção das LER.....................................................................................10

Alexander Technique......................................................................................................10

Método Pilates................................................................................................................11

Ioga.................................................................................................................................12

Dispokinesis....................................................................................................................13

Aquecimento....................................................................................................................13

Alongamentos..................................................................................................................14

Papel dos Docentes na Prevenção das LER....................................................................15

Metodologia.....................................................................................................................16

Questionário...................................................................................................................16

Caso prático....................................................................................................................17

Workshops.......................................................................................................................17

Cronograma....................................................................................................................18

Conclusão........................................................................................................................19

Referências Bibliográficas..............................................................................................20

4
Introdução

“O corpo humano é um milagre da engenharia, mas assim como as máquinas,


também necessita de cuidados regulares.”. (Rosset L., 2007, p.167)
As lesões provenientes de maus hábitos relacionados com práticas físicas
incorretas, estão cada vez mais ligadas à profissão de músico. Surgem essencialmente
nas articulações, nos músculos e nos tendões, devido a aspetos recorrentes do cotidiano,
como posturas incorretas durante o estudo prolongado, repetições excessivas de
determinados movimentos e também pela supressão de alongamentos no início e final
do tempo de estudo, sendo estes, essenciais. Segundo Mark (2003) “a eliminação das
lesões nos músicos virá da educação. Quando os músicos e os professores souberem
como mover em segurança e incorporarem esse conhecimento na sua performance e no
ensino, as lesões deixarão de constituir um problema.” (p.1) É segundo esta ideologia
que irei desenvolver o meu projeto.
O projeto em questão é destinado aos discentes do Ensino Superior da
Universidade de Évora, da classe do piano. Tem como objetivo primordial alertar os
alunos sobre os riscos inerentes à prática do instrumento em questão – o piano – e
apresentar soluções que resultem numa melhor postura, sem danos gravosos para a
saúde física do instrumentista.
Assim, dividindo-se em quatro pontos, a explanação inicia-se com uma
contextualização ao que é o conceito de “lesão”, onde são explicados dois aspetos que o
relator considera importantes: uma sucinta contextualização acerca do que são as lesões
por esforços repetitivos (LER) e alguns dos sintomas que as refletem.
O segundo ponto do trabalho, seu foco principal, aborda o caso particular das
lesões por esforços repetitivos nos músicos de forma geral e, nos pianistas, em
particular. Neste ponto são ainda abordadas algumas técnicas de prevenção para estas
lesões.
O papel do professor na prevenção de uma postura corporal adequada, toma
realce no ponto seguinte.
No último item deste trabalho, é apresentada uma proposta, que se inicia com
um inquérito por questionário, que tem como público alvo os alunos da classe de piano
da universidade de Évora. Com os dados recolhidos, o relator pretende, com o auxílio
de um profissional especializado na área (fisioterapeuta/osteopata), assistir a sessões de
estudo e aulas dos respondentes, podendo com esta observação, fornecer-lhes uma

5
bateria de exercícios que permitam prevenir as lesões mencionadas por estes no
questionário.

Lesões por Esforços Repetitivos – LER

Contextualização

Lesões por Esforços Repetitivos (LER), é a definição atribuída àquelas que são
causadas pelo desempenho de uma determinada atividade que é continuamente
repetitiva. Estas lesões surgem como inflamações nos músculos e tendões, originadas
pelo uso constante de posturas inadequadas e esforços musculares acrescidos. Yeng
(1995), caracteriza as lesões por esforços repetitivos como algo que afeta as estruturas
ósseas, musculares, tendíneas, nervosas e do tecido conjuntivo que lhe dá sustentação.
(p.9)
Seguindo a mesma linha de pensamento, Lima (2001) considera “as Lesões por
Esforços Repetitivos, como um conjunto de doenças que agridem os nervos, músculos e
tendões juntos ou separadamente.” (p.45) Para o mesmo autor uma lesão deste tipo
“apresenta característica degenerativa e cumulativa e é sempre precedida de dor ou
incômodo.” (p.45)
Estas lesões, bastante comuns nos instrumentistas, podem ser igualmente
causadas pelas atividades diárias, praticadas muitas vezes sem cuidado e prudência nos
movimentos. Tal pode ser confirmado, através da obra dos autores citados nesta
explanação.

Sintomas

Os principais sintomas originados pelas lesões acima descritas, são, segundo


Lima (2001) a “sensação de peso, dormência, dor em movimento específico, perda de
sensibilidade, formigamento, dor generalizada ao repouso, perda de força e inchaço”.
(p.45)
Os sintomas acima descritos tendem a permanecer e são notados quando
ocorrem pequenos esforços, mudanças de temperatura ambiente e ainda mudanças de
tensão.

6
LER nos Músicos

“O desempenho artístico de um instrumento musical exige elevadas capacidades


de concentração, processamento multissensorial, mecanismos de propriocepção
apurados, memória visual, auditiva e cinestésica” (Fragelli et al., 2008, p.303).
Estas lesões, denominadas LER, são na grande maioria das vezes as que mais
afetam os músicos, ao estarem associadas a um conjunto de movimentos repetitivos.
As Tendinites (inflamação nos tendões), a Tenossinovite Estenosante
(impossibilidade de estender os dedos), o Síndrome de Quervain (dores na parte
superior do polegar) e o Síndrome do Túnel do Carpo (sensação de formigueiro na mão)
são algumas das diferentes lesões mais comuns aos instrumentistas, que pertencem às
LER.
Segundo Brito (1992), “os músicos são relutantes em procurar auxílio medico
não apenas por razoes económicas, mas sobretudo pelo receio de comprometerem as
suas carreiras em função do tratamento e das possíveis consequências que tornarão o
problema publico.” (p.305) Sobre o mesmo assunto, Fonseca (2007) refere que “muitos
instrumentistas continuam com a sua atividade mesmo quando já adquiriram problemas
musculares.” (p.174)
São poucos os músicos que conseguem sentir e analisar o seu próprio corpo. A
auto-observação é crucial, tal como saber distinguir de onde partem os desconfortos e
dores durante o estudo do instrumento.
Como nos diz Mark (2003) “retreinar o movimento obriga-me a examinar-me a
mim próprio e à minha relação com o instrumento, e eu tenho de estar preparado para
questionar e alterar as minhas atitudes e crenças.” (p.148)
Ainda sobre a mesma temática, os autores Fragelli, Carvalho e Pinho (2007)
referem que,

“a intensa atividade exercida pelo músico pode levar este profissional a


desenvolver lesões como as afecções músculo-esqueléticas, as compressões
nervosas e as disfunções motoras ou distonias. São vários os fatores apontados
na literatura como desencadeadores do aumento do esforço físico e mental destes

7
profissionais, dentre estes destaca-se o tipo de instrumento (peso, tamanho e
qualidade); a duração da execução; a dificuldade técnico-musical da obra; as
condições psicológicas do executante; a resistência muscular; a reabilitação
prévia inadequada; as variações anatómicas; a necessidade de repetição não
somente uma, mas várias vezes para adquirir aprendizagem motora; as posturas
antifisiológicas; o excesso de força na movimentação ...” (p.6)

LER nos Pianistas

Grande parte das lesões sofridas pelos pianistas, são causadas por movimentos
de tensão derivados da má gestão corporal durante a execução ao piano. “Uma vez que
as pessoas que passam várias horas ao computador sofrem de lesões por esforço
repetitivo, não é surpreendente que estas lesões sejam comuns aos pianistas, pois estes
executam maior variedade e repetição de movimento dos dedos, mãos e braços.” (Sakai
et al, 2006, p.830)
“A atitude do músico em relação ao estudo do piano cria hábitos que podem
contribuir para o início de problemas físicos, como: falta de aquecimento, tempo de
estudo prolongado, pouco ou nenhum intervalo, dedilhados complexos praticados em
excesso e falta de atividades compensatórias.” (Frank A; Muhlen C., 2007, p.188)
Complementando o pensamento de Frank e Muhlen relatado anteriormente, para
Santiago (2005), para lidar com as suas desordens e dores físicas, “os músicos
admitiram fazer uso de xilocaína, esteroides, anti-inflamatórios, relaxantes e até mesmo
se submeterem a tratamentos cirúrgicos; porém, o tratamento considerado mais eficiente
foi o descanso absoluto.” (p.2)
Ao adotar uma postura correta, os pianista poderão usufruir de um maior
rendimento quer no estudo, quer na performance. Após os pianistas, e os músicos em
geral, compreenderem os perigos das más posturas na prática dos seus instrumentos,
irão conseguir prevenir e recuperar de lesões.
A força excessiva executada no piano, é um outro fator que causa dor e
desconforto aos pianistas. Devido à constante prática de excertos musicais, de uma
determinada obra – mais exigente – durante o estudo, há um aumento da tensão e força
excessiva. “Quanto mais força se usa, mais tensão se transmite às estruturas envolvidas.
Estudos comprovam que a quantidade de tensão causada ao corpo não é diretamente
proporcional à força envolvida. Duplicando a força usada, não se duplica a tensão, mas

8
multiplica-se esta por cinco.” (Mark T., 2003, p.4)
Durante a prática instrumental, é indispensável uma postura correta, por forma a
evitar hábitos posturais difíceis de corrigir. Para que tal se verifique, “o tempo de estudo
deve ser regulado consoante a condição física do pianista.” (Hofmann J., 1976, p.19)
O tempo de estudo excessivamente prolongado, a falta de
aquecimento/alongamentos e os poucos intervalos são alguns dos fatores de risco mais
comuns, entre os pianistas/músicos.
Para Fry (1986), “a prevenção do uso muscular excessivo está no controle do
uso. Um estudante ou um músico profissional deveria limitar o seu estudo a períodos de
20-30 minutos. Um descanso de 5 minutos promoverá a recuperação dos músculos e
juntas do corpo e possibilitará uma melhor atuação destes na próxima seção de estudo.”
(p.183)Segundo o mesmo autor, “há aceitação da condição por parte dos músicos, o que
faz com acreditem que é normal sentir dor.” (p.183)
Em suma, citando Telles, “ Mais do que trabalhar repertório/técnica,
trabalhamos sobre nós próprios. Trabalhamos o nosso corpo. Temos a responsabilidade
de o fazer de maneira saudável e responsável, visando o equilíbrio físico e mental
conducente a uma pratica saudável e feliz.” (p.18)

9
Técnicas de Prevenção das LER

“A necessidade de recorrerem a medicinas alternativas deve-se ao facto da


generalidade das pessoas que trabalham no meio artístico, terem grandes dificuldades
em encontrar os cuidados de saúde mais adequados às exigências especificas de se tocar
um instrumento musical, bem como as subtilezas das suas próprias
lesões.”(Brandfonbrener A., 2006, p.747)
Cada vez mais, os músicos procuram terapias e medicinas alternativas, muitas
vezes devido à falta de uma resposta eficaz dos seus problemas na medicina
convencional. (Roset L., Rosinés C., Saló O., 2000, p.173)
Desta forma, segue a baixo a descrição de algumas práticas preventivas deste
tipo de lesões a que os músicos mais recorrem.

Alexander Technique

A técnica de Alexander assume uma determinada importância na correção de


uma postura inadequada e a sua prática fornece, a quem a pratica, uma maior
consciência dos movimentos. Janssen & Cb, (2004) referem isso mesmo quando
escrevem que “através da prática da técnica Alexander, as pessoas tornam-se mais
conscientes dos seus próprios movimentos, podendo aliviar situações de stress e
ansiedade das suas atividades da rotina diária.” (p.814)
Esta é uma das técnicas utilizadas na prevenção de lesões, uma vez que pode
causar melhorias nos desequilíbrios musculares, aliviando as dores. É pretendido que os
indivíduos que a praticam, adquiram um leque de novas informações sabendo assim
prevenir desarranjos posturais durante a execução do instrumento. Deste modo, tornam-

Figura 1 – Método Alexander. (Fonte: https://theburtonroadclinic.co.uk/alexander-technique/)


10
se conscientes de si mesmos e percebem que qualquer modificação da prática só será
possível através de uma modificação no uso do seu próprio corpo.
Método Feldenkrais

O método de Feldenkrais consiste numa coletânea de exercícios para a


reorganização corporal. Este apoia-se na ideia de que simples movimentos reeducam a
postura e aumentam a consciência corporal.
“Este método é ensinado por profissionais qualificados que ajudam os alunos na
realização de movimentos com mais fluência e, como resultado, pode ajudar na dor,
desequilíbrios musculares, dificuldades de desempenho, distúrbios do movimento, e

Figura 2 – Método Feldenkrais. (Fonte: http://centrobudistadoporto.org/atividades/metodo-feldenkrais-660x330/

muitas outras doenças, tais como lesões.” (Jain S., Janssen K., DeCelle S., 2004, p.815)

Método Pilates

O método Pilates permite estender o alinhamento postural e a consciência


corporal, de maneira a que o uso do tronco e membros superior seja mais eficiente,
aumentando a resistência dos ombros e o alinhamento da coluna vertebral. Estes fatores,
reduzem inclusive o risco de lesões por esforços repetitivos, melhorando o controlo da
respiração e equilíbrio muscular.
“Este método aborda exercícios para restaurar a estabilidade do tronco e da
pélvis, aumentar a flexibilidade, o equilíbrio muscular, a força, a resistência e padrões

11
respiratórios eficientes. Todos estes fatores benéficos para os músicos permitem uma
maior expansão na execução de repertório musical com menos fadiga” (Kava et al.,
2010, p.17)

Ioga

As práticas de Ioga consistem numa panóplia de exercícios com foco na postura


para o condicionamento do corpo. Além de prevenir o surgimento de lesões, aperfeiçoa
o estado físico, relaxa os músculos e reduz o stress.
Estes exercícios são bastante benéficos para músicos, uma vez que, a nível
técnico, reduzem a tensão muscular, melhoram a atividade neuromuscular, flexibilidade,
resistência e coordenação; a nível psicológico, aumenta a concentração, consciência
Figura 3 – Piltates. (Fonte: https://www.barcin.com/sportmen/evde-pilates-yapmanin-incelikleri/)

12
corporal e prazer ao fazer música” (Hogg, 2001, p.104). Segundo Khalsa & Cope
(2006) “todos estes fatores favorecem um melhor desempenho musical.” (p.325)

Dispokinesis

Este próximo método ensina os músicos a refletir e ganhar consciência acerca da


sua expressividade musical, tornando-os conscientes dos seus movimentos. Ajuda-os a
criar ferramentas para uma postura mais acertada durante a prática instrumental, de
modo a usufruírem da liberdade dos movimentos através do desenvolvimento da
flexibilidade e estabilidade postural.
É benéfico para a prevenção de lesões relacionadas com o desempenho do
instrumento, do stress e da ansiedade em palco. Tal como a técnica de Alexander, esta é
também considerada uma terapia de autoconsciência.
Segundo Klashorst (2002), o músico atinge o seu objetivo quando é capaz de
transformar a sua imaginação musical, sem qualquer impedimento, em som e
movimento, tornando-se a uma boa experiência musical tanto para o artista como para o

Figura 5 – Dispokinesis. (Fonte: https://www.cornelia-suhner.ch/arbeitsweise/dispokinesis/index.html)

público. (p.202)

13
Aquecimento

Para tocar de forma saudável, é necessário um aquecimento, antes da execução


do instrumento. Por outras palavras, dar início aos movimentos do corpo.
“Quando uma determinada área do corpo está propriamente aquecida, a
probabilidade de surgir uma lesão é menor.” (Horvarth J., 2010, p. 95)
Segundo o mesmo autor, após o aquecimento, há um relaxamento dos tecidos

Figura 6 – Aquecimento. (Fonte: https://corredoresanonimos.pt/actualidade/especialistas/aquecimento-


muscular-o-que-necessita-de-saber)

conjuntivos, tornando-se mais maleáveis. Ainda sobre este assunto, refere que o
aquecimento contribui para que as articulações se movam de forma mais eficaz e
perspicaz. (p.95)

Alongamentos

Como já referido anteriormente, para prevenção de lesões é fundamental que


exista uma postura saudável. Posto isto, a realização de exercícios de alongamento,
promove uma compensação muscular necessária às longas horas de estudo. Estes devem
ser efetuados antes e depois do estudo.
“A regularidade e o relaxamento, são fundamentais para um alongamento eficaz,
que deve ser incorporado na rotina profissional, antes e depois da prática instrumental.”
(Machado, el al., 2012, p.12); Gonçalves, 2005, p.9).
Aos músicos, regra geral, não é prestada no ensino, uma formação neste aspeto
nem tão pouco os primeiros possuem informação suficiente acerca desta, de modo a
conseguirem prevenir-se. É por isso, cada vez mais necessária, que aconteça uma
criação de estratégias que visem expandir esta temática, “ nos centro educativos,

14
orquestras e em outras instituições, com o único propósito de ajudar os seus
instrumentistas, como acontece em outras áreas profissionais onde a prevenção de
trabalho é algo indispensável.” (Lledó, et al., 2002, p.1)

Papel dos Docentes na Prevenção das LER

Por norma, quando um aluno sente algum tipo de desconforto durante a prática
do seu instrumento, a primeira pessoa a quem recorre - no sentido de perceber o que se
Figura 7 – Alongamentos. (Fonte: https://conceitos.com/stretching-alongamento/)
passa – é ao seu professor. Segundo os autores Bragge, Bialocerkowski, & McMeeken.
(2006) “estes são, em princípio, os profissionais em quem os músicos mais confiam
para pedir conselhos técnicos e indicações específicas de estudo.” (p.71)
Seguindo o mesmo pensamento Alford & Szanto (1996) referem que “o ensino
de um instrumento, requer cuidados redobrados, tanto na prevenção de desconforto
físico, como também no ensino do instrumento (...) de modo a que os alunos aprendam
desde cedo como melhor usar o seu corpo e prevenir desconfortos e episódios de dor no
estudo do seu instrumento.” (p.1)
Da mesma forma que os docentes devem possuir conhecimentos básicos
referentes a esta problemática, é também necessário um envolvimento dos
estabelecimentos de ensino, de forma a existir uma colaboração entre músicos e
profissionais de saúde para uma maior difusão de conhecimento acerca deste tema e
assim prevenir futuras lesões. Esta prevenção será mais eficiente, se forem fornecidas ao
longo do percurso académico/musical as ferramentas e saberes, certos.
A reforçar esta ideia, é possível ler em Green, Chamagne & Tubiana (2000)
quando explicam que “todas as escolas de música deveriam fornecer consultas
periódicas aos seus alunos, que envolvesse o trabalho colaborativo de professores,
médicos, psicológicos e fisioterapeutas, acompanhando-os ao longo do seu
desenvolvimento.” (p.531)
Um número considerável de autores, defende que a inclusão da prevenção de
lesões/promoção da saúde nos músicos, deve ser incluída nos planos de estudo das
escolas de música, como já existe na Alemanha, Estados Unidos da América e Reino

15
Unido. (Spahn C., Hildebrant H., Seidenglaz K., 2001, p.24; Hadok, 2008, p.82; Chesky
et al., 2006, p.142)
Em suma, cada professor deve estar consciente dos fatores de risco associados à
prática do instrumento, de forma a conseguir agir de forma rigorosa no desenvolvimento
de cada aluno.

16
Metodologia

Questionário

Este projeto, que tem como público alvo os alunos do Ensino Superior da
Universidade de Évora, procura promover ferramentas aos discentes e docentes, no que
respeita à prevenção de posturas desadequadas na prática do instrumento musical.
Para a realização deste estudo, considera-se essencial numa primeira fase, a
elaboração de um questionário aos discentes, de modo a apurar quais os desconfortos
músculo-esqueléticos sentidos pelos mesmos aquando da performance musical. Para tal,
serão colocadas as seguintes questões:

1. Sexo: Masculino ___ / Feminino ___


2. Idade: ___
3. Qual a duração do seu estudo semanal? : ___
4. Sente dor ou desconforto aquando da prática do piano? Sim ___ /
Não ___

5. Se sim, em que parte(s) do corpo? Mãos ___ / Braços ___ /


Costas ___ / Pescoço ___ / Outro ___
6. Durante o estudo prolongado é habitual realizar pausas? Sim
___ / Não ___
7. Se sim, de quantos minutos? 10m ___ / 20m ___ / 30m ___ /
Outro ___

8. Com que regularidade realiza exercícios de alongamento? Nunca


___ / Algumas vezes ___ / Sempre ___
9. Por norma, o docente que leciona a disciplina de piano,
aconselha-o(a) acerca da postura e intervalos a realizar durante o
estudo? Sim ___ / Não ___
10. Durante as aulas, o docente em questão, faz observações de
correcção da sua postura? Sim ___ / Não ___

Os questionários em questão, irão conter uma pequena introdução, onde será


descrita a essência do trabalho e os seus objetivos.

17
Após a realização do mesmo, pretendo apurar, em torno das três temáticas
abordadas nesta explanação, quais os desconfortos sentidos pelos alunos, o que fazem
para os prevenir e o papel que os docentes assumem nesta questão.

18
Caso prático

Nesta segunda fase do projeto, a realizar no espaço de um ano letivo, é


pretendido assistir, com o auxílio de um profissional especializado na área da
fisioterapia/osteopatia, as aulas de instrumento dos alunos inquiridos.
Com os dados obtidos, no primeiro semestre letivo, das respostas dos inquéritos
por questionário, o relator tem como objetivo trabalhar os problemas posturais,
mencionados por cada aluno, bem como disponibilizar ferramentas que possibilitem a
prevenção dos mesmos.
No segundo semestre, através de uma reavaliação aos alunos avaliados no
primeiro semestre, pretende-se perceber se os mesmos executam os exercícios
fornecidos no primeiro semestre e se apresentam melhorias no que respeita à postura.

Workshops

De forma a clarificar a temática investigada e dar conhecimento daquilo que os


alunos sentem serão promovidos, aos docentes, workshops com o intuito de adquirir
diversos mecanismos, que possam minimizar as lesões nos discentes.
Simultaneamente ao assunto acima descrito, irão ser desenvolvidas aulas
práticas, fornecidas pelos respetivos especialistas, acerca das técnicas não
convencionais, tais como: Ioga; Pilates; Alexander Technique; Dispokinesis e
Feldenkrais.

19
Cronograma

Ano/Mês 2019 2020

Tarefas Set. Out. Nov. Dez. Fev. Mar. Abr. Mai. Set. Out. Nov. Dez.

Elaboração do
questionário

Levantamento
dos dados
obtidos

Workshop aos
docentes

Workshop de
Técnicas não
convencionais

Assistência nas
aulas

Elaboração de
exercícios para
a prevenção
das lesões

Reavaliação
aos alunos

20
Conclusão

Denominam-se LER( Lesões por Esforços Repetitivos), as lesões causadas pelo


desempenho da atividade contínua e repetitiva. Sem tempo para repousar e recuperar, as
articulações, os músculos e os tendões vão sofrendo várias alterações, começando a
funcionar de forma irregular e dolorosa.
A prevenção destas lesões pode conseguir-se através da realização de atividades
ou práticas preventivas, como a execução de exercícios de aquecimento e de
alongamento, antes e após a prática instrumental. São também praticados pelos
discentes, os vários métodos existentes, como os mencionados nesta explanação –
Alexander, Feldenkrais e Pilates. Além de proporcionarem uma execução instrumental
mais eficaz, reduzem a probabilidade do surgimento das lesões.
O propósito deste projeto foi, pois, abordar esta temática muito especifica,
estudando e evidenciando o que da literatura melhor e mais didático se pode extrair, por
forma a que o instrumentista/discente possa ser ensinado como deve evitar, sem erros ou
ganho de vícios prejudiciais, estas posturas menos corretas durante a prática do
instrumento.
No que concerne ao papel dos docentes na prevenção das LER, pode dizer-se
que, de uma forma geral, esta temática é pouco discutida durante as aulas individuais.
De maneira a que os alunos impeçam o agravamento destas lesões, é necessária uma
maior abordagem, dos cuidados a ter durante o estudo do instrumento, fornecida pela
parte do professor. É fundamental, que esta prática seja realizada durante todo o
percurso académico dos discentes.

21
22
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