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ESCOLA DE ARTES

Departamento de Música

Licenciatura em Música – vertente Piano Clássico


Professora Doutora Ana Telles

Rodin Shchedrin

Alexandre Gouveia
Nº40530
Rodion Shchedrin – Biografia

Rodion Konstantinovich Shchedrin, nascido em Moscovo a 16 de Dezembro de


1932, “é considerado, tanto no seu país como fora dele, como um dos mais importantes
compositores da geração a que sucedeu Dmitri Shostakovich.”1 (Valle, 2008: 3)
Iniciou a sua carreira musical na Escola Coral de Moscovo, onde estudou entre
1945 e 1950. Shchedrin (1988:18) acerca de si dizia, “tinha uma boa voz, então fui para
uma escola coral (apenas para rapazes), cantando todos os dias Bach, Lasso, Josquin de
Pres, Prokofiev e Shostakovich.”2
Em 1950, foi admitido no Conservatório de Moscovo, na vertente do piano e
composição, com os Professores Yakov Flier e Yuri Shaporin, respetivamente.
Baek (2017: 4), menciona que Yakov Flier ficou profundamente desapontado
com Shchedrin, quando ao longo dos anos, o seu trabalho enquanto compositor
interferiu de forma crescente com a sua carreira enquanto pianista concertista.
O autor acima referido (Baek, 2017: 1) explica ainda que o estilo de composição
de Shchedrin desenvolveu-se durante o período do Realismo Socialista, época em que
aos compositores era recomendada a utilização de características da música folk, com o
propósito de demonstrar um forte relacionamento com as pessoas. Shchedrin
desenvolveu um interesse pela música folclórica Russa, em especial pela Chastushka,
caraterizada pelo humor, sátira e ironia.
Após a morte de Stalin em 1953, as restrições impostas à cultura soviética
extinguiram-se, originando uma maior liberdade criativa aos compositores soviéticos.
Desta forma, Shchedrin começou a introduzir diferentes estilos musicais nas suas
composições, tais como a música pop e o jazz (Perlman, 1988: 8).
Na sua obra, Valle (2008: 4) conta que Shchedrin casou em 1958 com bailarina
principal do Teatro Bolshoi, Maya Plisetskaya, que viria a tornar-se uma grande fonte
de inspiração para as suas composições. O mesmo autor explica ainda que grande parte
do trabalho de Shchedrin é composto por música para ballet, como forma de
homenagem a Maya.

1
Tradução livre de “is considered both in his native country and abroad as one of the most important
composers of the generation after Dmitri Shostakovich” (Valle, 2008: 3)
2
Tradução livre de “I had a good voice so I went to a choral school, (for boys only), singing every day
Bach, or Lasso, or Josquin de Pres, Prokofiev, Shostakovich.” (Shchedrin, 1988: 18)
Anos mais tarde, em 1965, foi nomeado professor no Conservatório de
Moscovo, onde lecionou até 1969. Durante essa época, estreia o ballet de Carmen,
baseado na ópera de Bizet. (Valle, 2008: 4)
Segundo Baek (2003: 5), a música de Shchedrin está dividida em três períodos:
um período inicial, influenciado por Prokofiev, Shostakovich e Stravinsky, com
tendência na utilização de ritmos bastante marcados e uma simplicidade das formas; o
segundo período – de 1960 a 1979 – onde passou a incorporar estilos musicais
diferentes, como o pop ou o jazz e também aspetos da fase do Neoclassicismo; o último
período, a partir de 1980, em que as suas composições adquirem um carácter de
profundidade espiritual. Neste período as suas obras instrumentais invocam memórias
da infância e música sacra.
Em entrevista com o maestro Lorin Maazel, Shchedrin faz uma declaração
acerca da música nos dias correntes, que espelha os seus ideais face à composição.

Não gosto do termo “música contemporânea”. É uma espécie de indulgencia. Como se


dissesse, “Bem, desculpa, mas vais ouvir uma bagunça. Isto é a música contemporânea
e ainda não foste educado o suficiente para apreciá-la. Há música de hoje, que pode ter
sido escrita ontem ou hoje. Há uma data em todas as composições. É apenas um
indicador, um ponto de orientação. Não é uma reabilitação à priori ou uma desculpa
para artificialidade, inexpressividade, falta de espiritualidade ou simplesmente uma
composição aborrecida. A música hoje escrita deve, como antes, mover os ouvintes,
agarrá-los, levá-los para longe e permanecer nos seus corações e almas. Nenhuma
explicação dos mentores e falsos profetas mudará a essência da questão. Há música e
“não música”. Há inspiração e há escrita forçada. Existe uma musicalidade inata e um
efeito estudado e meticuloso. Há a intuição e há o desejo de estar em sintonia com a
moda musical e o desejo de agradar os criadores de tendências. Emoções humanas – e
ouvidos humanos – são basicamente o mesmo que eram há cem ou duzentos anos atrás.
Isso é algo para nos arrependermos? (Shchedrin, 2014) 3
3
Tradução livre de “I don't like the term "contemporary music." It is a kind of indulgence. As if to say, "Well,
sorry, but you're going to be listening to a mess. This is contemporary music and you aren't educated enough to
appreciate it yet." 
There is music of today, which may have been written yesterday or today. There is a date on every
composition. It is just a marker, an orientation point. It is not an a priori rehabilitation of, or an excuse for,
artificiality, inexpressiveness, lack of spirituality or simply dreary composing. Music written today must, as
before, move the listeners, grab them, take them away, and settle into their hearts and souls. No explanations by
mentors and false prophets will change the essence of the matter. There is music and there is "not-music."
There is inspiration and there is forced writing. There is innate musicality and there is painstaking, studied
effect. There is intuition and there is the desire to be in step with musical fashion and the desire to please its
trendsetters. 
Human emotions-and human ears-are basically the same as they were one or two hundred years ago. Is that
something to regret?” (Schedrin, 2014)
A música de Shchedrin tem sido tocada e gravada por diversos músicos. Entre
eles, estão Leonard Bernstein, Mistislav Rostropovich, Lorin Maazel, Seiji Ozawa,
Vladimir Ashkenazy, Yehudi Menuhin, Yuri Bashment, Maxim Vengerov e ainda o
pianista de jazz Chick Corea. (Valle, 2008: 7)

Composições de Shchedrin

A performance da música proporciona uma sensação mais clara da música como uma
arte no tempo. Aumenta o valor de todos os pequenos contrastes e nuances. Abre mais a
cortina que esconde os segredos de subjugar a atenção do público à vontade do
compositor. O compositor aproxima-se da “respiração do salão” e afasta-se do exercício
intelecto e do cálculo abstrato.4 (Shchedrin, 2014)

As primeiras composições de Shchedrin – entre 1950 a 1954 – centravam-se


muito na música coral. Porém, em 1954, decide compor o seu primeiro concerto para
piano, que estreou a 7 de Novembro desse mesmo ano. A coletânea de músicas para
piano de Shchedrin é vasta, incluindo músicas para piano solo, música para dois ou mais
pianos, concertos para piano e música de câmara para piano.
Variações sobre um tema de Glinka (1957) e Toccatina para Piano (1958)
foram os seus próximos trabalhos, seguidos das Seis Peças para Piano Solo, escrito
entre 1952 e 1961. Um ano mais tarde, escreve a sua primeira Sonata para Piano em
Dó maior, sendo que a segunda foi escrita cerca de 30 (trinta) anos mais tarde.
Segundo Seo (2003: 32), Shchedrin inspirou-se em Prelúdios e Fugas de
Shostakovich para escrever o primeiro volume de 24 Prelúdios e Fugas em 1964. O
compositor compõe o segundo volume desta coleção em 1970.
As peças mais recentes para piano até hoje, deste compositor, incluem: Diário,
sete peças para piano (2002); Perguntas, onze peças para piano (2003); Sonatina
Concertante (2005); A la Pizzicato (2005); Homenagem a Chopin, para piano a quatro

4
Tradução livre de “Performing music gives one a clearer sense of music as an art in time. It increases the
value of each and every small contrast and nuance, every tiny shift in tempo. It opens wider the curtain that
conceals the secrets of subjugating the audience's attention to the composer's will. The composer moves closer
to the "breathing of the hall" and away from intellectual exercise and abstract calculation”
mãos (2005). O último trabalho publicado para piano solo, em 2007, é intitulado de
Duetos Românticos, sete peças para piano a quatro mãos.

Referências Bibliográficas

Baek, S. (2017). Study and Performance guidelines to Rodion Shchedrin’s 24 Preludes


and Fugues. Dissertação apresentada à Universidade de Kansas para a obtenção
do Grau de Doutor em Artes Musicais. Kansas.

Cookson, M. (2014). Interviews with Rodion Shchedrin. Acedido em 2020, Abril, 25.
https://www.shchedrin.de/rodion-shchedrin/interview

Perlman, S. (1988). Tonal Organization in the Twenty-four Preludes and Fugues of


Dmitry Shostakovich, Rodion Shchedrin, and Niels Viggo Bentzon. Peabody
Institute of the Johns Hopkins University.

Seo, Y. (2003). Three Cycles of 24 Preludes and Fugues by Russian Composers: D.


Shostakovich, R. Shchedrin and S. Slonimsky. Dissertação apresentada à
Universidade do Texas, para a obtenção do Grau de Doutor em Artes Musicais.

Valle, A. V. D. (2008). A Stylistic Analysis of Six Pieces for Solo Piano by Rodion
Shchedrin and a Stylistic Analysis of Trespreludiosa Modo de Toccata, Dos
Danzas Cubanas, and Estudio de Contrastes by Harold Gramatges. Dissertação
apresentada à Universidade de Southern Mississippi para a obtenção do grau de
Doutor em Artes Musicais. Mississipi.

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