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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

Metodologia das Ciências Sociais

Trabalho de Recuperação 2018/2

Mariana Plácida de Faria Costa – RA: 759955

As diferenças e semelhanças na abordagem do conhecimento sociológico em


Durkheim, Marx e Weber

1 Émile Durkheim

Émile Durkheim nasceu em 1858 em Épinal, na França. Após um conflito a região


em que morava tornou-se fronteira da França e da Alemanha, o que o fez ter grande
contato com a cultura alemã. O ambiente de conflitos e a região fronteiriça em que
morava o fizeram ter uma perspectiva diferente do âmbito social, tornando-o mais
sensível a certas questões sociais e sendo um fator incisivamente influente à sua
perspectiva de mundo.

Durkheim é considerado o pai da sociologia moderna devido a todo o seu esforço


não só como teorizador de uma nova ciência da sociedade, mas também como
importante figura na consolidação da sociologia enquanto ciência. Dessa forma foi um
dos principais intelectuais da área e responsável por ocupar uma das primeiras cadeiras
acadêmicas das ciências sociais no mundo, na universidade de Bourdeaux, na França.

1.1 A visão de Durkheim sobre a sociedade

Durkheim acreditava no poder que a sociedade tinha enquanto organismo e na


capacidade que este organismo vivo tinha de influenciar a ação individual. Para ele, o
estudo sociológico deveria partir da sociedade para o indivíduo, e não o contrário. É essa
a base da teoria funcionalista, da qual Durkheim é um dos fundadores. De acordo com a
lógica funcionalista, as partes da vida social humana se interligam e formam este
organismo vivo no qual cada parte tem uma função específica e, portanto, se alguma
parte deixar de exercer sua função devidamente, o organismo falha. Assim, instituições
e grupos sociais, tais como Estado e família são partes importantes do funcionamento
geral da sociedade como também são a moral e a religião.

1.2 O método sociológico

Se o autor demonstrava um esforço considerável na consolidação da Sociologia


enquanto ciência então uma de suas principais preocupações era justamente o
desenvolvimento de uma metodologia que fosse capaz de abordar todas as
peculiaridades de uma ciência social tão complexa. Para isso Durkheim elaborou um
conceito metodológico na obra As Regras do Método Sociológico que gira em torno de
pontos centrais que estabelecessem uma lógica científica concreta para a Sociologia.
São eles: a) oposição ao conhecimento filosófico, b) objetividade, c) fatos sociais e d)
coerção social.

1.2.1 Oposição ao conhecimento filosófico

Em sua obra Durkheim previa que os estudos sobre a sociedade deveriam ser
obtidos de forma empírica, contradizendo a filosofia que trabalhava a sociedade por uma
perspectiva dedutiva já que trabalha os conceitos da sociedade por meio de
questionamentos do que se conhece da natureza humana, assim se opunha aos meios
filosóficos de estudo da sociedade, acreditando que para consolidar a Sociologia como
ciência era necessário se afastar da filosofia.

1.2.2 Objetividade

Aqui o autor entende que como a sociedade é exterior ao indivíduo e é um próprio


organismo vivo, ela deve ser vista de forma objetiva e sem intervenção do cientista, pois
é preciso analisar os fatos como motivos aquém da subjetividade interior do indivíduo.

1.2.3 Os fatos sociais

Dentro desta mesma visão exteriorizada sobre a sociedade, explicam-se também


os fatos sociais. Estes seriam os verdadeiros agentes da vida social para os seres
humanos, como por exemplo normas sociais, ou instrumentos culturais que influenciem
a forma de pensar e agir de um indivíduo. Para ele os fatos sociais devem ser enxergados
como coisas, ou seja, como eventos isolados e independentes de forma que o estudo
sociológico deve levar em consideração a influência da sociedade na ação do indivíduo,
fazendo uma espécie de caminho contrário ao da psicologia por exemplo, que enxerga a
subjetividade motivacional da ação individual dos membros da sociedade.

1.2.4 A coerção social

Sendo a sociedade algo exteriorizado e capaz de exercer influência sobre o


indivíduo, a mesma é capaz também de coagir e pressionar o indivíduo para que se sinta
parte de algo. Estar dentro das normas morais, éticas e religiosas são importantes para
um indivíduo que vive em sociedade, dessa forma o ser humano é o fruto gerado pelas
normais sociais tanto quanto é seu formador.

2 Karl Marx

Karl Marx nasceu em 1818 em Trier, região que posteriormente veio a pertencer à
unificada Alemanha. Marx, apesar de ser filósofo de formação, foi um importantíssimo
revolucionário social por formular diversas teorias sobre a sociedade baseadas num
período de mudanças extremas no âmbito social, especialmente no que tange a política
e a economia. O autor, que teve ao longo de toda a sua produção acadêmica a
participação e o suporte de um fiel Friedrich Engels, foi sempre considerado um grande
intelectual que, ao morar em diversos países da Europa, conviveu com diversas
realidades e se relacionou com muitas lideranças de movimentos políticos e seus
respectivos acadêmicos (como por exemplo, Proudhon na França). Esse relacionamento
e contato com outras culturas proporcionaram a Marx e Engels uma visão privilegiada
dos abusos cometidos contra a classe trabalhadora, trazendo aos autores um certo
desejo de revolução.

2.1 A visão de Marx sobre a sociedade

Ainda que nem Marx ou Engels fossem membros da classe trabalhadora, sua
preocupação com a lógica de exploração advinda da Revolução Industrial para com esta
classe era pungente. Enquanto se envolviam em movimentos políticos, os autores tinham
uma vontade ávida de entender e explicar a vivacidade do capitalismo e as
consequências que seu avanço trazia para a sociedade.
É dentro dessa concepção de consequências do capitalismo que os autores
classificam a história social como uma ininterrupta luta de classes. Para eles, a sociedade
capitalista é dividida em duas classes: burguesia e proletariado sendo a primeira a
detentora dos meios de produção e compradora da força de trabalho da segunda.

2.2 A metodologia sociológica de Marx

O método marxista é sobretudo um método sociológico por produzir uma releitura


do materialismo dialético de Hegel através de uma ótica social. Enquanto Hegel
acreditava que as ideias se repetiam num ciclo de tese, antítese e síntese, Marx entendia
que só é possível compreender a história ao perceber que ela se repete por meio dos
resultados que o ser humano e a sua condição social de classes impuseram.

O marxismo, portanto, tem como ponto central a produção material humana e o


que ela é capaz de proporcionar. Para os autores o conhecimento sociológico é
fundamentado na economia e em como ela pode ser responsável pelo desenvolvimento
da vida social.

As mudanças nos meios de produção trouxeram à obra marxista a ideia de que a


luta de classes é constante e é ela quem move a história. Para se estudar a sociedade,
portanto é preciso compreender o materialismo humano já ele é o responsável por causar
tantas transformações na sociedade. Assim todas as estruturas formadoras da sociedade
como Estado, direito e políticas estão interligadas às relações de produção, uma vez que
as mesmas são verdadeiramente capazes de mover a história.

2.3 As diferenças nas abordagens sociológicas de Marx e Durkheim

Talvez uma semelhança tangente à obra destes dois autores seja que ambos
viveram em períodos conflituosos da história e presenciaram mudanças drásticas na
estrutura social, no entanto, as diferenças em seus métodos de análise são gigantescas.

Enquanto Durkheim demonstrava uma preocupação latente com a consolidação


da Sociologia e via seu trabalho acadêmico como uma contribuição importante para a
construção da disciplina, Marx era um filósofo que estudava a sociedade e acreditava na
junção da teoria com a prática. Para ele, oferecer saídas aos problemas encontrados
pelos seus próprios estudos sociais era fundamental para desenvolver um método útil de
estudo da sociedade.

Outra diferença principal entre os dois autores é também o elemento principal da


sua análise. Enquanto Marx entendia a sociedade sob uma perspectiva materialista
histórica, Durkheim tinha como método analítico o estudo dos fatos sociais como coisas
e enxergava a sociedade como organismo vivo e independente.

3 Max Weber

Max Weber nasceu em 1864 em Erfurt, na Alemanha. Fez sua carreira acadêmica
desde jovem ganhando bastante destaque nas áreas de economia, direito e sociologia.

Ainda que a sociologia já fosse consolidada ciência quando Weber começou a se


aprofundar nela, ele foi um importante ator durante o processo de trazer esta recente
ciência para a Alemanha.

Weber foi contemporâneo a Durkheim, tendo ambos visto a Primeira Guerra


Mundial e outros conflitos tortuosos em seu tempo, mas Weber foi especialmente
marcado pelas mudanças drásticas na estrutura de seu país que estava em processo de
unificação e que, portanto, estava em constante embate político.

A passagem de Weber pela história – que foi deveras breve, deve-se acrescentar
– foi marcada de uma obscuridade e descontentamento com o mundo muito fortes. Weber
chegou a ser afastado da posição de professor nas Universidades de Freiburg e
Heidelberg devido a um colapso nervoso e tanto esse quanto outros episódios refletiram
sobre a visão que o autor deu às suas obras e sobre a sua própria perspectiva da
sociedade.

3.1 A visão de Weber sobre a sociedade

Max Weber tem uma visão muito mais individualista da sociedade. O autor acredita
que é o ser humano quem constrói a história e, portanto, ele quem constrói a sociedade
por si só. Weber acredita que as ações individuais têm impacto sobre o que virá a ser da
história social e não o contrário.
Weber acredita que as ligações entre as ações individuais é que formam o conjunto
social. Essas ligações se dariam devido ao fato de que as ações individuais são
motivadas por fins comuns, resultando em atitudes similares e provando que seus
significados são partilhados por vários indivíduos de um mesmo conjunto cultural, ou
sociedade.

Todas as esferas culturais capazes de criar o conjunto chamado por nós de


sociedade, tais como o Estado, a política, a religião e o mercado, são estruturas orgânicas
e independentes entre si, que não se interligam. Elas são capazes de criar a sociedade
única e exclusivamente pelo fato de que múltiplos indivíduos movem suas ações sociais
em direção a estas estruturas. Dessa forma uma religião específica por exemplo, só pode
existir se algum indivíduo for capaz de direcionar suas ações individuais em direção a
ela, dando à sua ação um sentido e tornando aquela religião parte da sociedade.

3.1.2 A modernidade para Weber

Através desse processo de explicação de como as instituições são independentes


entre si, Weber teoriza o surgimento das instituições modernas, como o Estado moderno
que se formava em seu país. As consequências da modernidade para a teoria weberiana,
no entanto, são enormes. De acordo com suas ideias, Weber acreditava que o processo
de desvinculação do indivíduo com a religião gerava um processo de valorização da
racionalização que fazia com que o indivíduo se sentisse à deriva e deixasse de se
entender enquanto parte da sociedade e do todo. Ele nomeou esse processo de
“desencantamento do mundo”.

3.2 A metodologia sociológica de Weber

Weber faz uso de uma denominada metodologia compreensiva para estudar a


sociedade. Esta metodologia compreensiva diz respeito a noção de que é necessário de
fato entender o sentido dos indivíduos em um nível micro primeiramente para depois
apenas entender o nível macro. Para o autor, no entanto, o indivíduo não é apenas o ser
humano, mas também organizações, coletividades e singularidades históricas.

A compreensão deste individualismo metodológico é explicada por meio das ações


sociais. Ações sociais são todas aquelas que formam uma relação entre mais de um
indivíduo (humano ou não) que estabeleça algum tipo de conexão. Para o autor entender
essas conexões e o sentido das ações sociais individuais são o verdadeiro propósito de
um sociólogo.

Como a sociedade é extensa e complexa, Weber entendia que era necessário


estabelecer tipos ideais para métodos comparativos. Weber também tipifica as ações
sociais em: ação social racional com relação a fim, ação social com relação a valores,
ação social afetiva e ação social tradicional.

3.3.1 As diferenças nas abordagens sociológicas de Weber e Durkheim

Weber e Durkheim apresentam grandes diferenças em relação a suas abordagens


sociológicas.

Enquanto Durkheim entendia que a sociologia deveria ser uma ciência dotada de
absoluta objetividade, Weber acreditava que isso era impossível de ser alcançado, uma
vez que a própria escolha do objeto de estudo é uma ação social dotada de sentidos
subjetivos.

Além da subjetividade, Weber também não compartilhava da visão durkheimiana


de que a sociedade é exterior ao indivíduo e que seria um organismo vivo. Este autor
acreditava que as instituições são organizadas de forma independente e o que as
relacionava com os indivíduos são ações sociais individuais. Apenas essas ações
individuais seriam capazes de estabelecer as conexões necessárias para manter o
organizacionismo da sociedade vivo, por essa razão entender o significado destas ações
seria vital no estudo da sociologia. Dessa forma, enquanto Durkheim entende que a força
da sociedade gera uma coerção sobre os indivíduos, Weber entende que o cerne das
atitudes individuais é que mantém a sociedade coesa.

3.3.2 As diferenças nas abordagens sociológicas de Weber e Marx

Assim como Marx, Weber também entende a importância do mercado enquanto


estrutura atenuante da história social, mas ele não acredita na ideia de que a história se
move através de uma luta de classes. Apesar de Weber entender a sociedade classista,
o mesmo não dá a importância que Marx deu à esta narrativa.
Se para Marx o importante no desenvolvimento da história era a compreensão das
relações de produção entre os indivíduos e as estruturas, Weber acreditava muito mais
no poder da subjetividade da ação humana enquanto criada do desenvolvimento da
história social. Por essa razão seus métodos sociológicos são contrapostos, já que Marx
entendia que a atividade material e comercial dava lugar às ideias enquanto para Weber
o significado subjetivo de uma ação individual é que dá lugar ao que é material. Dessa
forma a lógica marxista sobre a luta de classes e a importância que a mesma tem para a
formação da história pouco importam para Weber.

4 Referências bibliográficas

FRAZÃO, Dilva - Biografia de Èmile Durkheim. Disponível em:


https://www.ebiografia.com/emile_durkheim/

DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. 13.ed. São Paulo: Nacional, 1987


(Texto originalmente publicado em 1895).

DURKHEIM, E. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Martins Fontes, 1996
(Texto originalmente publicado em 1912).

A Sociologia em Emile Durkheim. Disponível em: http://www.culturabrasil.org/durkheim.htm

FRAZÃO, Dilva - Biografia de Karl Marx. Disponível em:


https://www.ebiografia.com/karl_marx/

MARX, Karl. & ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. Zahar Editora. Rio de Janeiro.
1965.

LUKÁCS, Georg. História e consciência de classe: Estudos de dialética marxista. Porto,


Publicações Escorpião,1974.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. São Paulo: Boitempo Editorial, 2007.
WEBER, M. A “objetividade” do conhecimento nas ciências sociais. Coleção Ensaios
Comentados. São Paulo: Ática, 2006.
WEBER, Max. A Ética Protestante e o “Espírito” do Capitalismo. São Paulo: Cia das
Letras, 2004
QUINTANEIRO, Tania; BARBOSA, Maria Ligia de Oliveira; OLIVEIRA, Márcia Gardênia
de. Um toque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber. 2. ed., rev. e ampl Belo Horizonte,
MG: Ed. UFMG, 2002.

WEBER, Max. A “objetividade” do conhecimento nas Ciências Sociais. In: FERNANDES,


Florestan. (Coord.); COHN, Gabriel (Org.). Max Weber. Sociologia. Tradução: Amélia
Cohn e Gabriel Cohn. 6 ed. São Paulo: Ática, 1997. (Coleção Grandes Cientistas Sociais;
13).

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