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GERENCIAMENTO DE PROCESSO EM UM
GALPÃO DE RECICLAGEM NO MUNICÍPIO DE
BOCAIUVA-MG
1 Introdução
A área de atuação da logística iniciou-se nas épocas das operações militares (DRUCKER,
1969) e tinha como finalidade montar uma estratégia de combate. Mas no século XX, o
conceito sofreu modificações fazendo com que a logística fosse considerada uma ferramenta
de integração de todos os setores internos e externos da organização com capacidade de
satisfazer o processo ou serviço adequadamente até o cliente final.
E ao longo dos últimos vinte anos vêm sendo considerada uma das atividades que mais
evoluiu dentro de uma empresa, tornando-se um setor estratégico para os negócios
(BALLOU, 2012), passando assim a ser considerada como uma área de integração do
gerenciamento do processo com função principal de minimizar os custos e maximizar a
lucratividade da organização.
Tendo em vista a ampliação do conceito logístico e o crescente aumento industrial surge uma
preocupação com as questões ambientais que induz à discussão e à criação do conceito
Logística Reversa, cujo foco é relacionar o retorno de bens a serem processados e em
reciclagem de materiais.
2 Logística
A palavra logística vem do grego “Logistikos” e possui o significado de cálculo e raciocínio
matemático; essa definição foi utilizada como parâmetro em operações militares norte-
americanas, aplicadas ao transporte, distribuição e suprimento das tropas (DRUCKER, 1969).
Baseando-se nesse conceito, o Barão Antoine-Henri Jomini, em 1836, escreveu “Sumário da
Arte da Guerra” que está dividida em cinco atividades: estratégia, grande tática, logística,
engenharia e tática menor e relacionou a logística ao deslocamento das tropas, ao transporte,
aos preparativos administrativos, ao suporte e à saúde dos soldados.
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Essa tem como objetivo intercalar a produção com o cliente final dando a esse o nível de
serviço desejado, além disso, procura atingir metas da cadeia de suprimentos como
desenvolver mix de atividade com a finalidade de ter o máximo do retorno do investimento
realizado em um curto prazo.
De acordo com Ballou (2012), pode-se afirmar que a logística atualmente passa a ter além do
valor de lugar, valores de tempo, de qualidade e de informação. Os fatores estão relacionados
ao prazo de entrega preestabelecido, a qualidade desejada e a possibilidade de rastreamento
do produto, fazem com que o produto esteja no lugar certo na hora correta e com plena
satisfação do cliente.
No período pós-guerra, houve uma preocupação com questões ambientais que, junto com o
crescente desenvolvimento industrial, gerou a necessidade de se promover ações voltadas para
a sustentabilidade. O comportamento da sociedade era voltado para um alto consumo de
produtos e isso acelerou a produção, o que proporcionou um aumento de resíduos. E para
tentar equilibrar a situação, deu-se origem à logística reversa juntamente com a logística
verde.
A logística reversa passou por evolução até chegar ao conceito atualmente definida:
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A logística Verde é utilizada na estrutura da organização a partir da prática dos 3Rs: reduzir,
reutilizar e reciclar. O primeiro refere-se a diminuir a quantidade de resíduos produzidos, o
segundo é de utilizar um produto várias vezes e o terceiro R é voltado para transformar um
resíduo considerado lixo e em útil novamente (DONATO, 2008 apud TORRE, 2009).
Diante disso, as duas logísticas diferem-se, segundo Resende (2004, p. 28): "Logística
Reversa estuda meios para inserir produtos descartados novamente no ciclo de negócios,
agregando-lhes valor de diversas naturezas. Enquanto a Logística Verde planeja e diminui
impactos ambientais da logística comum”.
De acordo NBR ISO 9000, o Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) tem como objetivo
controlar e administrar uma organização quanto à qualidade (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE NORMAS TÉCNICAS, 2005). Segundo Arnold (2009), qualidade significa buscar a
satisfação do usuário em relação ao produto ou serviço.
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Entende-se que são resíduos nos estados sólido e semissólidos, os “... que resultam de
atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de
varrição” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2005, p.1).
A primeira fase é a geração de resíduos que são provenientes das atividades diárias da
sociedade (IBAM, 2001). A segunda fase consiste nas atividades de coleta, armazenagem e
transporte. A fase seguinte é o tratamento que consiste em processar o resíduo para que haja
redução do volume, mobilidade, e/ou toxicidade. A última fase do gerenciamento é a
disposição final, a fim de destinar e armazenar os resíduos para deterioração.
3 Materiais e Métodos
As atividades relacionadas ao projeto tiveram como suporte a revisão de literatura, por meio
de livros, palestras, artigos, revistas e trabalhos acadêmicos; e a pesquisa de campo, de
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natureza aplicada, que tem como método procurar a solução para um determinado problema
através de aplicação prática. Para esse fim aplicou-se uma abordagem tanto qualitativa quanto
quantitativa.
O universo (população) da pesquisa de campo é representado por todos seis catadores, que
realizam todas as atividade do setor, porém, apenas dois possuem o cunho gerencial.
Os dados da pesquisa foram obtidos a partir de uma entrevista semiestruturada realizada com
os associados, juntamente com visitas ao local para identificar e descrever o processo, as
tarefas que são realizadas e como são feitos os registros.
A etapa de conscientização foi realizada através de palestras cujo enfoque foram a reciclagem
e a segurança do trabalho.
O Galpão possui estrutura organizacional dividida em seis principais setores: setor de coleta,
triagem, estocagem, prensagem, pesagem e expedição.
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Para identificar o processo, foi realizada a entrevista com os associados de cunho gerencial, a
fim de delimitar claramente os fornecedores (Supplier), as entradas (Input), o processo
(process), a saída (Output) e os clientes (Customer) sobre todo o processo realizado no
Galpão (QUADRO 2).
Quadro 2 – SIPOC
Fonte: Autora
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Quando o material é recolhido porta a porta, a triagem já começa a ser realizada na coleta, já
que os associados levam ao Galpão somente os materiais que “aos seus olhos” podem ser
reciclados. De acordo com os associados, essa forma de classificar foi passada na criação da
Associação (Galpão), por meio de uma palestra, cujo tema foi “A Reciclagem no Mundo”.
Outro meio de coleta utilizado são as doações feitas, devido à parceria com empresas e órgãos
públicos da própria cidade, que encaminham os materiais recicláveis à associação em
caminhões próprios. Esses são responsáveis pela separação do material entre recicláveis ou
não recicláveis no próprio âmbito industrial antes de encaminharem a doação para o galpão.
Na área frontal, os materiais, previamente selecionados para doação, são colocados em área
livre, sendo considerados estoques de matéria-prima e após direcionados à estocagem, dando
sequência ao processo.
A etapa de estocagem é realizada a fim de armazenar os materiais por tipo até atingirem uma
quantidade significativa para dar sequência no processo de prensagem; as ferramentas
utilizadas, para agrupar os materiais e auxiliar a atividade, são big bags, saco de ráfia, que
comportam até 40 kg de material, cordas e outras.
Ressalta-se que o único material que não passa pela etapa de prensagem é o papel branco, que
é picado, utilizando uma Picadeira de Papel, e estocado em big bags até a comercialização.
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Para identificar o perfil dos associados e seus conhecimentos sobre a reciclagem, foi criado
um formulário com um universo amostral de seis catadores, os dados obtidos passam a ser
descritos a seguir.
Quanto ao gênero dos associados, notou-se que 67% são do gênero masculino e 33% do
feminino. Essa diferenciação não altera na capacidade produtiva do galpão, pois todos
realizam as mesmas atividades.
Observou-se que mais de 50% dos associados possuem idade entre 25 a 40 anos; quanto ao
seu nível de escolaridade se restringiu ao fundamental incompleto.
Os catadores tiram o sustento apenas do serviço realizado na Associação. Para IPT (2003),
alguns fatores que delimitam os catadores terem um emprego formal são as novas exigências
do mercado, fazendo que os catadores sejam constituídos por uma massa de desempregados
por possuírem uma idade avançada e baixa escolaridade.
Identificou-se que todos os catadores que hoje fazem parte do grupo de trabalhadores da
associação já trabalharam com a reciclagem, seja em lixões ou nas ruas das cidades com o
objetivo de se sustentarem. Segundo Rezende; Macêdo (2007), os catadores catam e separam
o material reciclado do lixo numa quantidade significativa para a venda, essa é realizada entre
os catadores e os atravessadores – os sucateiros, que comercializam com as empresas de
reciclagem.
Por meio da avaliação do formulário, apenas 50% dos catadores estão na associação desde
que foi fundada, e apenas metade deles possui o conhecimento sobre Reciclagem.
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Na entrevista, constatou-se que 100% dos associados não possuíam o conhecimento do termo
e funcionalidade da logística. Para que entendessem que esse conceito aplicado à associação
traria benefícios, foi realizada uma palestra com os resultados descritos a seguir.
Conforme o IPT (2003), e observado neste trabalho, o objetivo central de uma cooperativa de
catadores de material reciclável é gerar oportunidades de trabalho e de renda. Mas para que
isso ocorra, é necessário desenvolver as fases de mapear e analisar o processo a fim de
melhorar ou implantar novas ideias aos processos já existentes, procurando controlar e
observar ganhos em eficiência e eficácia.
O objetivo principal dos catadores é possuir uma renda mensal para sobreviver, mas os
catadores não possuíam a capacidade para o trabalho do mercado atual, assim, sugeriu-se ao
poder público municipal remunerá-los, ou suas organizações, pelo serviço de coleta seletiva.
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Por meio da entrevista e visitas ao local, realizou-se um estudo de tempos e movimentos com
o objetivo de identificar qual é a etapa do processo que prejudica a produtividade do Galpão
(TAB. 1).
Fonte: Autora
Ao analisar os resultados, percebeu-se que os setores que demandam um maior tempo dos
associados são os de coleta e expedição que respectivamente possuem uma média de tempo
de 216 min/dia e de 150 min/dia referentes a um dia de carregamento, embora não tenham
sido considerados como setores críticos do processo, pois o tempo gasto para realização da
atividade de coleta já é predeterminado na associação e a comercialização ocorre apenas uma
vez no mês.
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Desse modo, a partir do momento em que se utilizam canais de comunicação disponíveis para
sensibilizar a população sobre coleta seletiva, o ganho é visível. Assim, para melhor
exemplificação foi realizado no projeto uma coleta de dados que demostrou a quantidade de
materiais recolhida no mês de agosto, setembro e outubro. Notou-se que houve um ganho em
estoque de materiais recicláveis coletados quando foi proposto aos associados que quando
realizarem a coleta diária, conversem com as pessoas dos bairros para que deixem os
materiais recicláveis separados dos demais. Percebeu-se um ganho de aproximadamente 3
(três) toneladas/mês de material coletado. Como proposta, para melhor divulgação do assunto,
confeccionar folhetos explicativos sobre reciclagem, distribuí-los e anexá-los em pontos de
coleta.
Mês
Fonte: Autora
O Setor de triagem é considerado a atividade que demanda maior atenção, pois o seu tempo
médio de realização é de aproximadamente 85 min/dia, quando se consegue tirar apenas 2
toneladas de material por vez. Ao comparar os resultados dos dois primeiros dias de coleta,
percebeu-se que não teve uma variação agressiva de tempo, mesmo que no 1º dia houvesse
um descarregamento de material doado pelas empresas ou órgãos públicos e no 2º dia não
houve doação. Segundo Rezende; Macêdo (2007), a etapa de triagem, quando realizada de
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modo manual gasta aproximadamente 60 min triando 2,5 ton/dia, mas quando possui uma
parte mecânica e outra manual, com o mesmo tempo, consegue-se triar aproximadamente 13
ton/hora.
Assim, a solução encontrada no momento foi que, no ato da coleta porta a porta, os próprios
catadores já separem em big bags os materiais e ao estocarem no galpão, esses já possuam
áreas distintas. Outro ponto que beneficiou a melhora na etapa de triagem foi a capacitação
dos associados, essa aplicação foi realizada através de duas palestras: “A Importância da
Reciclagem” e “Como Reciclar com Qualidade”, na primeira, o enfoque dado foi como
realizar as atividades de um processo produtivo de um Galpão de Reciclagem com qualidade
e de forma que essas sejam desenvolvidas corretamente a fim de trazer lucratividade tanto de
produção quanto financeira. Na segunda palestra, foi abordada a importância das atividades
realizadas pelos associados no mundo, além de dar ênfase aos materiais a serem reciclados e
como realizá-la.
Após a capacitação dos colaboradores ou associados, observou-se que houve uma facilitação
na etapa de triagem, além de se conseguir ter um controle sobre o estoque de material e
agilidade na movimentação. Para comprovação, o método de cronoanálise foi aplicado
novamente, no mês de Setembro, no mesmo período de 10 dias; ao comparar os resultados
comprovou-se um ganho de 23% que se refere há 20 min/dia livres.
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F
onte: Autora
5 Considerações Finais
Constatou-se também que 50% dos catadores da Associação de Bocaiúva-MG não possuíam
conhecimento sobre o tema de suas atividades. Para informá-los, foram realizadas palestras,
conversas informais com o intuito de levar o conhecimento sobre gestão de processo para
eles, pois, sem essa capacitação, tinham dificuldades em passar para os geradores e convencê-
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los a separarem os materiais. Nota-se que 100% do universo amostral estudado hoje sabe a
importância de suas atividades.
O tempo ganho após realização das melhorias na etapa de triagem foi transferido para área
administrativa com o incentivo aos catadores de terem uma manutenção de estoque além de
qualidade de trabalho. Essas melhorias foram conseguidas através de propostas de
padronização das atividades e com o uso de planilhas para controlar a quantidade real de
material no estoque e vendido.
Além de identificar que 100% dos associados não conheciam o tema Logística e, após a
realização do projeto, foi concluído que todos assimilaram o conceito e os benefícios que a
Logística aplicada nas etapas de reciclagem do material traria.
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Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
TORRE, Guilherme Vitório. Logística Verde Aplicada à Logística Reversa: Uma Estratégia Sócio-Ambiental
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Reversa-uma-estrategia-socio-ambiental-de-sucesso >. Acesso em: 30 ago. 2012.
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