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XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10

Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.

GERENCIAMENTO DE PROCESSO EM UM
GALPÃO DE RECICLAGEM NO MUNICÍPIO DE
BOCAIUVA-MG

Ana Maria de Souza Reis Silva (FACIT )


anamariasrs@yahoo.com.br
Gisele Figueiredo Braz (FACIT )
giselebraz@gmail.com

A logística empresarial tem o seu conceito relacionado às atividades de


armazenagem, processamento e manutenção dentro de um processo
produtivo de uma organização. Para chegar a esse conceito a logística sofreu
modificações no decorrer dos anos, na qual em 1920 no âmbito das guerras
militares era considerada uma atividade de distribuição, tornando-se no
século XX um sistema integrado onde as atividades estão presentes em todas
as etapas do gerenciamento de um processo. Com o constante crescimento
da área empresarial surge à preocupação com a qualidade do produto que
tem como objetivo orientar cada setor da organização a procura de executar
suas tarefas de forma correta e no tempo devido. Observa-se que por
consequência houve um aumento do consumo e da geração de resíduos
sólidos no mundo, surgindo assim o termo Logística Reversa, na qual se
refere a uma logística voltada para a reciclagem, descarte e gerenciamento
de materiais. O projeto teve por objetivo avaliar o conhecimento sobre
gestão de processo em um Galpão de Reciclagem no município de Bocaiuva-
MG com o intuito de propor melhorias no aproveitamento dos materiais e
local. Utilizando uma metodologia descritiva na qual tem como meios de
investigação a pesquisa de campo e bibliográfica, ao final pretende-se
conseguir que os associados possuam o conhecimento sobre a parte literária
e a importância de suas atividades práticas para a sociedade, e que os
mesmos possam realizar suas tarefas com qualidade e de forma que
consigam ter um maior aproveitamento dos materiais recolhidos e do local
onde trabalham.

Palavras-chaves: logística empresarial, gerenciamento do processo e galpão


de reciclagem.
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1 Introdução

A área de atuação da logística iniciou-se nas épocas das operações militares (DRUCKER,
1969) e tinha como finalidade montar uma estratégia de combate. Mas no século XX, o
conceito sofreu modificações fazendo com que a logística fosse considerada uma ferramenta
de integração de todos os setores internos e externos da organização com capacidade de
satisfazer o processo ou serviço adequadamente até o cliente final.

E ao longo dos últimos vinte anos vêm sendo considerada uma das atividades que mais
evoluiu dentro de uma empresa, tornando-se um setor estratégico para os negócios
(BALLOU, 2012), passando assim a ser considerada como uma área de integração do
gerenciamento do processo com função principal de minimizar os custos e maximizar a
lucratividade da organização.

Tendo em vista a ampliação do conceito logístico e o crescente aumento industrial surge uma
preocupação com as questões ambientais que induz à discussão e à criação do conceito
Logística Reversa, cujo foco é relacionar o retorno de bens a serem processados e em
reciclagem de materiais.

Assim, o objetivo deste é avaliar o conhecimento sobre a gestão de processo e propor


melhorias no aproveitamento dos materiais e de um galpão de reciclagem na cidade de
Bocaiúva - MG. Este estudo justifica-se devido ao fato de se observar um crescimento no
setor de reciclagem de resíduo sólidos no Brasil através da formação de Galpões de
Reciclagem e por notar que o conhecimento e aplicação da logística nas associações trarão
benefícios em seu ramo de atuação.

2 Logística
A palavra logística vem do grego “Logistikos” e possui o significado de cálculo e raciocínio
matemático; essa definição foi utilizada como parâmetro em operações militares norte-
americanas, aplicadas ao transporte, distribuição e suprimento das tropas (DRUCKER, 1969).
Baseando-se nesse conceito, o Barão Antoine-Henri Jomini, em 1836, escreveu “Sumário da
Arte da Guerra” que está dividida em cinco atividades: estratégia, grande tática, logística,
engenharia e tática menor e relacionou a logística ao deslocamento das tropas, ao transporte,
aos preparativos administrativos, ao suporte e à saúde dos soldados.

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A filosofia de logística passa a ser implementada dentro das organizações buscando o


relacionamento fornecedor-empresa-cliente.

2.1 Logística Empresarial


“A logística empresarial trata de todas as atividades de movimentação e armazenagem, que
facilitam o fluxo de produtos desde o ponto de aquisição da matéria-prima até o ponto de
consumo final” (BALLOU 2012, p.24).

Essa tem como objetivo intercalar a produção com o cliente final dando a esse o nível de
serviço desejado, além disso, procura atingir metas da cadeia de suprimentos como
desenvolver mix de atividade com a finalidade de ter o máximo do retorno do investimento
realizado em um curto prazo.

De acordo com Ballou (2012), pode-se afirmar que a logística atualmente passa a ter além do
valor de lugar, valores de tempo, de qualidade e de informação. Os fatores estão relacionados
ao prazo de entrega preestabelecido, a qualidade desejada e a possibilidade de rastreamento
do produto, fazem com que o produto esteja no lugar certo na hora correta e com plena
satisfação do cliente.

2.2 Logística Reversa e Logística Verde

No período pós-guerra, houve uma preocupação com questões ambientais que, junto com o
crescente desenvolvimento industrial, gerou a necessidade de se promover ações voltadas para
a sustentabilidade. O comportamento da sociedade era voltado para um alto consumo de
produtos e isso acelerou a produção, o que proporcionou um aumento de resíduos. E para
tentar equilibrar a situação, deu-se origem à logística reversa juntamente com a logística
verde.

A logística reversa passou por evolução até chegar ao conceito atualmente definida:

Logística reversa é a área da logística empresarial que planeja, opera e


controla o fluxo e as informações correspondentes, do retorno dos bens de
pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ciclo produtivo, por
meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas
naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa,
entre outros (LEITE, 2009, p.16,17).

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A logística Verde é utilizada na estrutura da organização a partir da prática dos 3Rs: reduzir,
reutilizar e reciclar. O primeiro refere-se a diminuir a quantidade de resíduos produzidos, o
segundo é de utilizar um produto várias vezes e o terceiro R é voltado para transformar um
resíduo considerado lixo e em útil novamente (DONATO, 2008 apud TORRE, 2009).

Diante disso, as duas logísticas diferem-se, segundo Resende (2004, p. 28): "Logística
Reversa estuda meios para inserir produtos descartados novamente no ciclo de negócios,
agregando-lhes valor de diversas naturezas. Enquanto a Logística Verde planeja e diminui
impactos ambientais da logística comum”.

2.4 Manutenção de Estoque

O objetivo da manutenção do estoque é a melhoria do atendimento aos clientes e a eficiência


operacional. O atendimento ao cliente consiste em disponibilizar material ou produto acabado
de acordo com a demanda pedida. E a eficiência operacional relaciona-se ao menor custo de
preparação de itens, aumento na capacidade produtiva, a compra de itens em quantidade
maior e valor menor, proteção contra alterações de preços e contingências (CHING, 2009).

Para o gerenciamento do estoque como é conhecido, a manutenção de estoque, é fundamental


para o composto logístico e administração. Tendo como função o planejamento e o controle
desde a matéria-prima ao produto acabado (ARNOLD, 2009; BALLOU, 2012). O
planejamento tem por objetivo determinações dos valores do estoque, datas de entrada e saída
e ponto e pedidos dos materiais (CHING, 2009).

2.3 Gestão da Qualidade

De acordo NBR ISO 9000, o Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) tem como objetivo
controlar e administrar uma organização quanto à qualidade (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE NORMAS TÉCNICAS, 2005). Segundo Arnold (2009), qualidade significa buscar a
satisfação do usuário em relação ao produto ou serviço.

Ao implementar o programa de gestão de qualidade, e para que os resultados pretendidos


sejam vistos, é necessário aplicar os esforços tanto nas áreas técnicas do processo quanto na
área humana. Para isso existem técnicas como a gestão de pessoas e gerenciamento de
processo que sustentam, respectivamente, os esforços realizados pela qualidade (DAVIS,
2001).

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2.4 Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos

Entende-se que são resíduos nos estados sólido e semissólidos, os “... que resultam de
atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de
varrição” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2005, p.1).

O objetivo desse gerenciamento é de redução da produção de lixo, o máximo


reaproveitamento, reciclagem de materiais e a disposição dos resíduos de forma mais sanitária
e ambientalmente trazendo, assim, benefícios tanto social como ambiental.

O sistema de gerenciamento integrado de resíduos sólidos se divide em fases que envolvem


desde a geração até a disposição final.

A primeira fase é a geração de resíduos que são provenientes das atividades diárias da
sociedade (IBAM, 2001). A segunda fase consiste nas atividades de coleta, armazenagem e
transporte. A fase seguinte é o tratamento que consiste em processar o resíduo para que haja
redução do volume, mobilidade, e/ou toxicidade. A última fase do gerenciamento é a
disposição final, a fim de destinar e armazenar os resíduos para deterioração.

2.5 Os galpões de Reciclagem

Os galpões de Reciclagem é um modelo de tratamento do gerenciamento do resíduo sólido e


têm como característica básica o recebimento dos resíduos da coleta seletiva. Nessas unidades
os colaborados são organizados em associações ou cooperativas e realizam as seguintes
atividades relacionadas com os resíduos: coleta, separação, armazenagem, prensagem, estoque
e destino final (SILVA, 2007).

3 Materiais e Métodos

O projeto foi realizado em um Galpão de Reciclagem localizado no município de Bocaiúva,


norte de Minas Gerais. O gerenciamento desse galpão é feito pela ASCABOC- Associação de
Catadores de Materiais Recicláveis de Bocaiúva, criada 03 de junho de 2004, com o apoio da
Prefeitura local e por Marisa de Souza Alves. Seu objetivo é melhorar a qualidade de vida dos
catadores da região, mas foi além, beneficiando a cidade na diminuição de resíduos sólidos no
lixão.

As atividades relacionadas ao projeto tiveram como suporte a revisão de literatura, por meio
de livros, palestras, artigos, revistas e trabalhos acadêmicos; e a pesquisa de campo, de

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natureza aplicada, que tem como método procurar a solução para um determinado problema
através de aplicação prática. Para esse fim aplicou-se uma abordagem tanto qualitativa quanto
quantitativa.

O universo (população) da pesquisa de campo é representado por todos seis catadores, que
realizam todas as atividade do setor, porém, apenas dois possuem o cunho gerencial.

Os dados da pesquisa foram obtidos a partir de uma entrevista semiestruturada realizada com
os associados, juntamente com visitas ao local para identificar e descrever o processo, as
tarefas que são realizadas e como são feitos os registros.

A fim de identificar quais os materiais estocados, as condições do galpão e a característica do


universo amostral, foi aplicado questionário, além de uma planilha de cadastro para
determinar a quantidade de material que atualmente é armazenado e entregue aos
fornecedores e compradores e criado um inventário para identificar a quantidade de estoque
no Galpão durante todo o mês. Todas as planilhas foram geradas na ferramenta Excel 2010.
As informações foram coletadas no período de 10 de setembro a 10 de novembro/2013.

A etapa de conscientização foi realizada através de palestras cujo enfoque foram a reciclagem
e a segurança do trabalho.

4 Gerenciamento de Processo em Empresa Prestadora de Serviço


Por meio da entrevista realizada, obtiveram-se respostas relacionadas ao desenvolvimento das
atividades e os meios para sua realização, concluindo que o galpão de reciclagem tem como
finalidade o recolhimento de materiais recicláveis a fim de serem encaminhados para a
reutilização.

O Galpão possui estrutura organizacional dividida em seis principais setores: setor de coleta,
triagem, estocagem, prensagem, pesagem e expedição.

Devido a ter maquinários pesados dispostos no chão de fábrica e as áreas de triagem e


estocagem tanto de matéria-prima e do material prensado serem fixas, o que se movimenta
dentro do processo produtivo do Galpão são os materiais recicláveis que são divididos em três
classes principais: papel, plástico e metais; sendo a Garrafa Pet o mais rentável.

Quadro 1 – Materiais recicláveis

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Fonte: Aa Autora (2013)

A associação recebe aproximadamente três carregamentos mensais de materiais doados por


empresas ou órgãos públicos que, com a coleta porta a porta, produzem um total recolhido de
quase 19 toneladas/mês de material reciclado, proporcionando a comercialização de um
carregamento a cada 30 dias de 15 toneladas/mês.

Para identificar o processo, foi realizada a entrevista com os associados de cunho gerencial, a
fim de delimitar claramente os fornecedores (Supplier), as entradas (Input), o processo
(process), a saída (Output) e os clientes (Customer) sobre todo o processo realizado no
Galpão (QUADRO 2).

Quadro 2 – SIPOC

Fonte: Autora

A associação funciona no horário de 8 às 17 horas. A coleta do material, feita porta a porta, é


realizada pelos seis associados no período da manhã, entre as 7 e 11 horas.

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Os associados, de posse do carrinho de coleta disponibilizado pela associação, são divididos


em grupos de dois e fazem rondas nas ruas da cidade de Bocaiúva-MG entre os bairros
Centro, Maria Rosa, Zumbi, Bonfim e Pernambuco; as rotas são alternadas durante a semana
para que todos os bairros sejam atendidos.

Quando o material é recolhido porta a porta, a triagem já começa a ser realizada na coleta, já
que os associados levam ao Galpão somente os materiais que “aos seus olhos” podem ser
reciclados. De acordo com os associados, essa forma de classificar foi passada na criação da
Associação (Galpão), por meio de uma palestra, cujo tema foi “A Reciclagem no Mundo”.

Outro meio de coleta utilizado são as doações feitas, devido à parceria com empresas e órgãos
públicos da própria cidade, que encaminham os materiais recicláveis à associação em
caminhões próprios. Esses são responsáveis pela separação do material entre recicláveis ou
não recicláveis no próprio âmbito industrial antes de encaminharem a doação para o galpão.

Na área frontal, os materiais, previamente selecionados para doação, são colocados em área
livre, sendo considerados estoques de matéria-prima e após direcionados à estocagem, dando
sequência ao processo.

A etapa de estocagem é realizada a fim de armazenar os materiais por tipo até atingirem uma
quantidade significativa para dar sequência no processo de prensagem; as ferramentas
utilizadas, para agrupar os materiais e auxiliar a atividade, são big bags, saco de ráfia, que
comportam até 40 kg de material, cordas e outras.

A etapa de prensagem se dá para reduzir espaço na estocagem do material e tem como


benefício a valorização do preço, já que o produto enfardado aumenta em até 40% o valor
real.

Ressalta-se que o único material que não passa pela etapa de prensagem é o papel branco, que
é picado, utilizando uma Picadeira de Papel, e estocado em big bags até a comercialização.

No final do mês, os materiais estocados serão encaminhados para a comercialização e, ao


transportar o material para o caminhão, serão pesados para identificar a quantidade de
material que está sendo comercializada. Após serem pesados, são registrados em uma ficha
contendo informações da quantidade e tipo de material.

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Para finalizar o processo é realizada a etapa de comercialização com empresas ou


organizações que irão realizar o processo de reciclagem do material. Essas disponibilizam o
caminhão para o transporte do material e os associados ficam responsáveis pelo carregamento
e verificação da quantidade a ser transportada. A comercialização dos materiais é realizada
por nove empresas que se enquadram no segmento de reciclagem.

Observou-se que não há registros históricos da quantidade de material estocado e


consequentemente não há controle de estoque.

4.1 Gestão de Pessoas

Para identificar o perfil dos associados e seus conhecimentos sobre a reciclagem, foi criado
um formulário com um universo amostral de seis catadores, os dados obtidos passam a ser
descritos a seguir.

Quanto ao gênero dos associados, notou-se que 67% são do gênero masculino e 33% do
feminino. Essa diferenciação não altera na capacidade produtiva do galpão, pois todos
realizam as mesmas atividades.

Observou-se que mais de 50% dos associados possuem idade entre 25 a 40 anos; quanto ao
seu nível de escolaridade se restringiu ao fundamental incompleto.

Os catadores tiram o sustento apenas do serviço realizado na Associação. Para IPT (2003),
alguns fatores que delimitam os catadores terem um emprego formal são as novas exigências
do mercado, fazendo que os catadores sejam constituídos por uma massa de desempregados
por possuírem uma idade avançada e baixa escolaridade.

Identificou-se que todos os catadores que hoje fazem parte do grupo de trabalhadores da
associação já trabalharam com a reciclagem, seja em lixões ou nas ruas das cidades com o
objetivo de se sustentarem. Segundo Rezende; Macêdo (2007), os catadores catam e separam
o material reciclado do lixo numa quantidade significativa para a venda, essa é realizada entre
os catadores e os atravessadores – os sucateiros, que comercializam com as empresas de
reciclagem.

Por meio da avaliação do formulário, apenas 50% dos catadores estão na associação desde
que foi fundada, e apenas metade deles possui o conhecimento sobre Reciclagem.

4.2 Aspecto Logístico Para uma Gestão Efetiva

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Na entrevista, constatou-se que 100% dos associados não possuíam o conhecimento do termo
e funcionalidade da logística. Para que entendessem que esse conceito aplicado à associação
traria benefícios, foi realizada uma palestra com os resultados descritos a seguir.

Na etapa de coleta e comercialização, a Logística se preocupa desde a definição de quais os


tipos de materiais recicláveis a serem selecionados para a reciclagem, até a logística de coleta
possível (meios de transporte utilizados, rotas de coleta), a capacidade da associação para a
coleta de determinados materiais, definição da frequência, fluxo da etapa de recolhimento e
definição, forma de comercialização do material reciclável.

Já nas etapas de triagem e estocagem, puderam-se observar aspectos logísticos nas


disponibilidades de locais de armazenamento das matérias-primas e enfardados, definição de
locais para disposição de coletores para recolhimento de materiais, maquinários e setores,
além de levantamento e solicitação de materiais e equipamentos necessários para operar a
coleta seletiva, como big bags, sacos plásticos, picadeira de papéis e balança para pesagem do
material.
4.3 Mapear, Analisar o Processo

Conforme o IPT (2003), e observado neste trabalho, o objetivo central de uma cooperativa de
catadores de material reciclável é gerar oportunidades de trabalho e de renda. Mas para que
isso ocorra, é necessário desenvolver as fases de mapear e analisar o processo a fim de
melhorar ou implantar novas ideias aos processos já existentes, procurando controlar e
observar ganhos em eficiência e eficácia.

4.3.1 Propostas de Melhorias na Gestão de Pessoas

O objetivo principal dos catadores é possuir uma renda mensal para sobreviver, mas os
catadores não possuíam a capacidade para o trabalho do mercado atual, assim, sugeriu-se ao
poder público municipal remunerá-los, ou suas organizações, pelo serviço de coleta seletiva.

Também se propôs padronizar as atividades desenvolvidas dentro da associação, com o fim de


formalizar a melhor maneira de executar uma atividade. Campos (1998) afirma que a
padronização é a base da estrutura da qualidade.

4.3.2 Propostas de Melhorias no Processo

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Por meio da entrevista e visitas ao local, realizou-se um estudo de tempos e movimentos com
o objetivo de identificar qual é a etapa do processo que prejudica a produtividade do Galpão
(TAB. 1).

Tabela 1 – Cronoanálise das atividades referentes ao mês de agosto

Fonte: Autora

Ao analisar os resultados, percebeu-se que os setores que demandam um maior tempo dos
associados são os de coleta e expedição que respectivamente possuem uma média de tempo
de 216 min/dia e de 150 min/dia referentes a um dia de carregamento, embora não tenham
sido considerados como setores críticos do processo, pois o tempo gasto para realização da
atividade de coleta já é predeterminado na associação e a comercialização ocorre apenas uma
vez no mês.

Observou-se que o modo de realização da coleta da associação é um dos meios mais


utilizados no ramo da reciclagem, todavia para aperfeiçoar a etapa foram propostos outros
meios. Consoante Martins (2005), existem três técnicas que podem acompanhar a etapa de
coleta porta a porta: os próprios geradores separam os materiais recicláveis dos não
recicláveis, quando se possui postos de entregas, voluntários; e quando há contêineres
distribuídos, a população deposita ali os materiais recicláveis.

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Desse modo, a partir do momento em que se utilizam canais de comunicação disponíveis para
sensibilizar a população sobre coleta seletiva, o ganho é visível. Assim, para melhor
exemplificação foi realizado no projeto uma coleta de dados que demostrou a quantidade de
materiais recolhida no mês de agosto, setembro e outubro. Notou-se que houve um ganho em
estoque de materiais recicláveis coletados quando foi proposto aos associados que quando
realizarem a coleta diária, conversem com as pessoas dos bairros para que deixem os
materiais recicláveis separados dos demais. Percebeu-se um ganho de aproximadamente 3
(três) toneladas/mês de material coletado. Como proposta, para melhor divulgação do assunto,
confeccionar folhetos explicativos sobre reciclagem, distribuí-los e anexá-los em pontos de
coleta.

Gráfico 1 – Quantidade de Material (ton.) Recolhida por

Mês
Fonte: Autora

O Setor de triagem é considerado a atividade que demanda maior atenção, pois o seu tempo
médio de realização é de aproximadamente 85 min/dia, quando se consegue tirar apenas 2
toneladas de material por vez. Ao comparar os resultados dos dois primeiros dias de coleta,
percebeu-se que não teve uma variação agressiva de tempo, mesmo que no 1º dia houvesse
um descarregamento de material doado pelas empresas ou órgãos públicos e no 2º dia não
houve doação. Segundo Rezende; Macêdo (2007), a etapa de triagem, quando realizada de

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modo manual gasta aproximadamente 60 min triando 2,5 ton/dia, mas quando possui uma
parte mecânica e outra manual, com o mesmo tempo, consegue-se triar aproximadamente 13
ton/hora.
Assim, a solução encontrada no momento foi que, no ato da coleta porta a porta, os próprios
catadores já separem em big bags os materiais e ao estocarem no galpão, esses já possuam
áreas distintas. Outro ponto que beneficiou a melhora na etapa de triagem foi a capacitação
dos associados, essa aplicação foi realizada através de duas palestras: “A Importância da
Reciclagem” e “Como Reciclar com Qualidade”, na primeira, o enfoque dado foi como
realizar as atividades de um processo produtivo de um Galpão de Reciclagem com qualidade
e de forma que essas sejam desenvolvidas corretamente a fim de trazer lucratividade tanto de
produção quanto financeira. Na segunda palestra, foi abordada a importância das atividades
realizadas pelos associados no mundo, além de dar ênfase aos materiais a serem reciclados e
como realizá-la.
Após a capacitação dos colaboradores ou associados, observou-se que houve uma facilitação
na etapa de triagem, além de se conseguir ter um controle sobre o estoque de material e
agilidade na movimentação. Para comprovação, o método de cronoanálise foi aplicado
novamente, no mês de Setembro, no mesmo período de 10 dias; ao comparar os resultados
comprovou-se um ganho de 23% que se refere há 20 min/dia livres.

Tabela 2 – Cronoanálise das atividades referentes ao mês de


setembro

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F
onte: Autora

Com a redução do tempo na etapa de triagem ocorre uma realocação na atividade


administrativa da associação, criada a partir da aplicação de duas planilhas, de controle
simples e fácil de entender, que objetiva controlar os materiais que entram e saem da
associação e que permanecem no estoque, além de auxiliá-los na etapa de comercialização e
separação do capital gerado para os associados.

5 Considerações Finais

A partir do desenvolvimento do projeto, constou-se que os processos críticos da associação


são a etapa de coleta e triagem. Assim, foi proposto incentivar a ampliação e o
aperfeiçoamento das práticas de coleta seletiva e triagem da reciclagem o que fez aumentar
aproximadamente 3 (três) toneladas de material recolhido no final do mês, além de reduzir o
tempo gasto na atividade de triagem de aproximadamente 65 minutos para 40 minutos,
aumentando R$ 60,00 reais na renda de cada colaborador e a associação teve um ganho de R$
360,00 reais/mês.

Constatou-se também que 50% dos catadores da Associação de Bocaiúva-MG não possuíam
conhecimento sobre o tema de suas atividades. Para informá-los, foram realizadas palestras,
conversas informais com o intuito de levar o conhecimento sobre gestão de processo para
eles, pois, sem essa capacitação, tinham dificuldades em passar para os geradores e convencê-

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los a separarem os materiais. Nota-se que 100% do universo amostral estudado hoje sabe a
importância de suas atividades.

O tempo ganho após realização das melhorias na etapa de triagem foi transferido para área
administrativa com o incentivo aos catadores de terem uma manutenção de estoque além de
qualidade de trabalho. Essas melhorias foram conseguidas através de propostas de
padronização das atividades e com o uso de planilhas para controlar a quantidade real de
material no estoque e vendido.

Além de identificar que 100% dos associados não conheciam o tema Logística e, após a
realização do projeto, foi concluído que todos assimilaram o conceito e os benefícios que a
Logística aplicada nas etapas de reciclagem do material traria.

REFERÊNCIAS
ARNOLD, J. R. Tony. Administração de materiais: uma introdução. São Paulo: Atlas, 2009.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 9000: Sistemas de gestão da qualidade,
fundamentos e vocabulário. Rio de Janeiro: ABNT, 2005.
BALLOU, Ronald H. Logística Empresarial: transporte, administração de materiais e distribuição física. São
Paulo: Atlas, 2012.
CAMPOS, Vicente Falconi. Gerenciamento da Rotina do Trabalho do Dia-a-Dia. 7. ed. Belo Horizonte:
Editora de Desenvolvimento Gerencial, 1998.
CHING, Hong Yuh. Gestão de Estoques na Cadeia de Logística Integrada. 3.ed. Rio de Janeira: Atlas, 2009.
DAVIS, M.M.; et al. Fundamentos da Administração da Produção. Porto Alegre: Bookman, 2001.
DRUCKER, Peter. Logística Empresarial/Cadeia De Suprimentos: Uma Disciplina Vital. Rio de Janeiro:
Saraiva, 1969.
INSTITUTO DE PESQUISA TECNOLÓGICA.Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis: Guia
para Implantação. São Paulo:SEBRAE, 2003.
LEITE, Paulo Roberto. Logística Reversa: Meio Ambiente e Competitividade. São Paulo: Pearson, 2009.
MARTINS, C. H. B.. Trabalhadores na Reciclagem do Lixo: dinâmicas econômicas, sócio-ambientais e
políticas na perspectiva de empoderamento. 2005. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.

REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL. Profissão: catador de material


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