Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PUC - SP
Maria Consuelo da Costa Oliveira e Silva
São Paulo
2009
MARIA CONSUELO DA COSTA OLIVEIRA E SILVA
São Paulo
2009
Banca Examinadora
----------------------------------------------------
----------------------------------------------------
----------------------------------------------------
Dedico esta dissertação aos meus pais, Armando e Dulce.
Por me amarem e apoiarem em todos os momentos da minha vida.
Por suas presenças inspiradoras, nas quais me espelho todos os dias.
“Como o não sabes ainda
agradecer é mistério”
Fernando Pessoa.
Researches over psychosomatic theme point to various authors. Each one with
their own definition of the theme. By consequence there is no consistent
definition of it. It is from this point that the author will use Georg Groddeck as a
central theme of this dissertation. Groddeck calls the attention on the subject to
be easily announced as the “father of psychosomatic” besides the originality
and uniqueness of his theories. The main objective of this paper is to make a
deeper reading of Groddecks work, categorizing it, emphasizing his intellectual
production, giving it biographic context and enhancing his procedures to
understand the historical context of his time. This work aim to subtract the
concepts of psychosomatics found on Groddecks work before his contacts with
Freud and psycanalisis passing by his biography and writings that approach the
first world war. Sources are mainly primary ones.
I. INTRODUÇÃO..............................................................................09
1. OBJETIVO ..................................................... ........................................................... 21
II. PANORAMA HISTÒRICO ANTERIOR A OBRA DE
GRODDECK...................................................................................22
1. ROMANTISMO...............................................................................................................22
2. JOHANN WOLFGANG VON GOETHE.................................................... .......................... 33
3. C.G.CARUS .............................................................................. ................................... 35
III. MÉTODO........................................................................................44
1. INSTRUMENTOS............................................................................................................ 45
2. LOCAL DE COLETAS DE DADOS.................................................................................... 46
3. PROCEDIMENTO........................................................................ ................................... 46
IV. CRONOGRAMA DAS PUBLICAÇÕES DE GRODDECK......49
V. O LEGADO DE GEORG GRODDECK - GENUINIDADE E
ORIGINALIDADE.........................................................................51
1. GEORG GRODDECK – DO NASCIMENTO ATÉ SUA ADOLESCÊNCIA. ............................51
2. COMO SE DEU SUA FORMAÇÃO PROFISSIONAL.............................................................. 62
3. PRIMEIRA ETAPA DA FORMAÇÃO DE GRODDECK EM MEDICINA......... .......................... 65
4. SEGUNDA ETAPA DA FORMAÇÃO DE GRODDECK EM MEDICINA – SCHWENINGER.........70
5. TESE DE DOUTORADO.................................................................................................. 77
6. MORTE DA MÃE DE GRODDECK E O SEU CASAMENTO COM ELSE............................... ... 78
7. ALGUNS ESCRITOS TEÓRICOS............................................................ ........................... 82
8. MÉTODO DE TRATAMENTO MINISTRADO POR GRODDECK............................................ 87
9. TEXTOS MÉDICOS E ESCRITOS LITERÁRIOS............................................ ....................... 89
10. “SENHORA G”............................................................................................................ 98
11. CICLO DE CONFERÊNCIAS – RUMO AO DEUS NATUREZA......................................... 102
12. O “ISSO”..................................................................................... ............................. 107
13. CÍRCULOS DE DISCUSSÃO POPULAR E COOPERATIVA DE CONSUMO.........................114
14. NASAMECU............................................................................... ............................... 117
15. ATIVIDADE MÉDICA DE GRODDECK NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL....... .............. 133
VI. CONCLUSÃO...............................................................................144
VII. BIBLIOGRAFIA...........................................................................146
9
I. INTRODUÇÃO
Todo conjunto do estudo médico não vale mais nada.È preciso que
seja mudado radicalmente, Na Universidade não se formam e
médicos, mas eruditos; não se formam artífices, mas cientistas. Os
estudantes foram maçados com fórmulas e hipóteses que
precisavam esquecer para poderem ajudar os seus doentes [...]
Quem alguma vez, ao estudar, teria aprendido a ver e a ouvir? Quem
ensinou o estudante a diagnosticar o ser humano e não a doença? E
10
1
[…] En breve le mandaré la carta más interesante que he recibido jamás de un médico alemán; su
contenido guarda una estrecha relación con sus patoneurosis y su idea de Lamarck. Aún tengo que
contestarla.
12
2
Anotações retiradas da aula proferida no curso de Especialização em Psicologia Analítica, PUC-PR,
2006, ministrada pelo professor e psicólogo Armando de Oliveira e Silva.
13
3
.[El último romántico] Asi se podría denominar a George Groddeck pues al romanticismo hemos de
remitirnos para comprender su obra.El ultimo romántico. (1998) Texto pesquisado em
www.indepsi.cl/ferenczi/vinculaciones/groddeck
4
. […] La descripción que hacía Groddeck del ello reflejaba, en grado extremo, el viejo concepto
romántico de inconsciente irracional.
5
. [...] A diferencia de Freud, sin embargo, quien estaba fuertemente influido por las ciencias naturales y
su determinismo, reduccionismo, y mecanicismo, Groddeck estaba impregnado por el Romantismo.
“Definición, fundación y significado de enfermedad: Situando a Georg Groddeck en la história de la
Medicina”(2008). Texto pesquisado em: www.indepsi.cl/ferenczi/vinculaciones/groddeck. }
14
Agora a atenção se desloca para outro autor, Carl Gustav Carus (médico
e paisagista), não citado por Groddeck, autor de um livro sobre Goethe (1843)
e cartas a respeito de Fausto (1835). James Hillman, nas notas introdutórias à
edição da Spring Publication da primeira parte do livro Psyche, refere-se a
Carus da seguinte forma:
6
. Bei Betrachtung von Schillers Schädel, escrito em 1833. Para o texto de o poema ver: página 102,
deste trabalho.
7
. Groddeck è uno dei primi a tematizzare il significato e l’influenza di processi inconsci sull’insorgenza
e lo sviluppo di malattie fisiche. Il pensiero stesso non è nuovo, già Carl Gustav Carus a metà del XIX
secolo aveva accennato al fatto che “l’idea della malattia può nascere solo dall’inconscio della nostra
persona”.
15
Tendo essa posição como seu guia, Carus escreve seu livro e em um dos
tópicos, “A Patologia e o Inconsciente”, pode-se ler:
8
. Carus continued to find his spiritus rector in Goethe until the old man’s death in 1832. Goethe refers to
Carus in his letters and remarks. He was particularly enthusiastic over Carus’ Lectures on Psychology
(1831), seeing in him an heir to his approach to nature and life. Psyche is the matured result of these
earlier lectures.
9
. The key to an understanding of the nature of the conscious life of the soul lies in the sphere of the
unconscious. All the difficulties, even the apparent impossibility, of a real understanding of the secrets of
the psyche become obvious in this light.
10
. But those systems and organs in the human body, so little influenced by consciousness and entirely
governed by the unconscious, are more frequently subject to a variety of illnesses than are those highly
influenced by consciousness. The greatest number of illnesses appear in the circulatory and digestive
systems, the glands and the excretory organs. […] We consider illness to be really a generalized affliction
affecting the body as a whole. No part of a healthy body invaded by a pathological organism can remain
normal. The body is a complete entity and can exist only as such. […]of far greater importance is the
marvelous and mysterious stirring of unconscious life, that ‘healing power of nature’, that ‘physician in
man which slowly undermines illness, inducing a ‘crysis’ that frequently restores health with astonishing
rapidity by means of strange reversals of organic activity. […]Thus we can see that unconscious organic
existence, though ignorant of illness, underlies everything that combines illness and strives constantly to
restore health. This used to be called ‘ nature’s healing power’.
16
11
[…] changes in the theorical positions cause changes in the writing methods, indicating homogenization
and dissociation trends. (HRISTEVA, 2008, p. 21).
17
obra está situado entre dois grandes eventos históricos significativos para a
Alemanha e para o mundo.
Como responder à segunda pergunta: quais são os tempos na obra de
Groddeck? A obra de Groddeck pode ser organizada em três tempos distintos
e simultaneamente interligados: período pré-psicanalítico, período
psicanalítico12 e período pós-psicanalítico. A passagem do primeiro período
para o segundo período se dá através da série das Conferências Psicanalíticas
13
ministradas por Groddeck no seu Sanatório em Baden-Baden. O trânsito do
12
Este período começa com uma carta de Groddeck a Freud (27 de maio de 1917), na qual esboça sua
concepção de psicanálise e se desculpa por haver escrito de forma desfavorável sobre, também, a
psicanálise, afirmando que foi movido mais pela inveja do que pelo conhecimento. O interesse de Freud
por Groddeck se expressa em seu convite para que este fizesse parte da “horda selvagem”, que é como ele
denominava seus seguidores. Este otimismo inicial vai diminuindo progressivamente na medida em que
percebe que nunca tivera próximo de si um espírito tão indômito e cioso de sua liberdade e que
dificilmente se adaptaria passivamente ao círculo psicanalítico. Este negativismo de Freud, uma vez
instalado, nunca desapareceu, levando-o a ver Groddeck como outro membro pouco digno de confiança,
como já o fizera com Stekel. Apesar dessa visão, Freud reconhece haver emprestado o termo “Isso” para a
formulação do “Id”. Os melhores documentos para uma análise detalhada deste período são as cartas
trocadas entre Freud e Groddeck (Groddeck, 1994, p. 3–71), além de uma leitura acurada dos textos
produzidos por Groddeck, principalmente até 1925. Um pouco da simpatia, ainda no início da relação,
está presente nos comentários e na tomada de posição que Freud ( ver por exemplo as cartas de Freud a
Pfister em 04-02-1921 e Pfister a Freud em 14-03-1921. ) ( tem que assumir diante de um livro escrito
por Groddeck e publicado, em 1921, pela Internationaler Psychoanalytischer Verlag: trata-se do Der
Seelensucher: Ein psychoanalytischer Roman. Este livro, fez com que alguns analistas ( Ernst Jones,
Hans Sachs, Pfister ) julgassem a obra como sendo de mal gosto, pornográfica e se perguntassem como
uma editora séria e responsável pelas publicações científicas do movimento poderia publicar tal tipo de
livro. Essa polêmica, tanto a nível institucional (principalmente pelas reações na Suíça) quanto no círculo
mais próximo de Freud (presente nas circulares do “Comitê Secreto” em 1921), faz com que este e
Ferenczi saiam em defesa das idéias de Groddeck e diante das criticas de Pfister, Freud o defende
energicamente e o compara a Rabelais ( Autor do romance Gargantua ), comparação que também é
ratificada por Ferenczi. Um outro livro importante deste período e também publicado pela Verlag, em
1923, foi o Das Buch vom Es (“O Livro do Isso”) que pode ser considerado um bom livro de divulgação
da psicanálise, ou pelo menos como ela é pensada por Groddeck. Além desses dois livros, é importante
salientar alguns artigos produzidos por Groddeck neste período, principalmente Psychische Bedingtheit
und psychoanalytische Behandlung organischer leidem(“Condicionamento Psíquico e Tratamento de
Moléstias Orgânicas pela Psicanálise”, em Groddeck, 1992, p. 9–28), que foi o primeiro contato de Freud
com a obra teórica de Groddeck e que, por sua sugestão, moveu Ferenczi a fazer uma crítica favorável,
sem deixar de manifestar em alguns momentos suas reservas e ceticismo. Mas, uma análise detalhada e
aprofundada deste período ficará para outro momento e está fora do âmbito deste trabalho.
13
Em 16 de agosto de 1916, Groddeck pronuncia a “primeira conferência psicanalítica para doentes”, no
sanatório em Baden-Baden. Essas conferências, em número de 115, se estenderam até 2 de abril de 1919,
com algumas breves interrupções com um período máximo de três meses [10/07/1918–16/10/1918]. A
primeira compilação completa dessas conferências foi feita por Roger Lewinter e publicadas em três
volumes em francês (1978,1979,1981). Essas conferências eram destinadas aos pacientes internos do
Sanatório e faziam parte do processo de tratamento sugerido por Groddeck. É importante ressaltar que os
pacientes atendidos por Groddeck padeciam, na maioria dos casos, de doenças orgânicas e que ele não era
psiquiatra, mas sim clínico geral. Essas conferências, que começam no período anterior ao primeiro
contato epistolar (27/05/1917) de Groddeck com Freud, se prolongam por mais dois anos após o início
desse contato. Representam de fato, após um período de gestação, o ato de nascimento da psicossomática
tal como foi pensada por Groddeck e que se constitui após a descoberta da psicanálise tal como escrita
por Freud e não como Groddeck pensava. Muitas das idéias trabalhadas posteriormente por Groddeck
podem ser percebidas “in status nascendi” nessas conferências, como, por exemplo, as idéias discutidas
no Livro do Isso, publicado em 1923, e que estão presentes nas conferências do período de 29 de maio de
18
1918 (conferência 90) até 10 de julho de 1918 (conferência 96); lembrando sempre que o livro foi escrito
em forma de cartas para uma amiga, mas aqui cabe a suposição de que na sua essência elas são na
realidade as conferências reescritas, revistas e posteriormente transformadas em “cartas”. Essas
conferências eram realizadas todas as quartas-feiras, das 17 às 18 horas. As palestras tinham uma duração
média: nem muito curtas, para que os pacientes tivessem tempo de absorvê-las, a fim de deixá-las agir,
nem muito longas, para evitar que resistissem a elas devido à fadiga. No final, era possível fazer
perguntas. O tema das conferências eram o mais vasto possível e procuravam apreender o ser humano em
todas as suas manifestações de vida, desde as suas criações culturais mais complexas (Bíblia, obras
literárias, obras de arte, etc.) até as manifestações mais simples (gestos, palavras, maneiras de ser e de
agir etc.). A respeito da atmosfera e da dramaticidade das conferências, Georg Hirzel, editor das obras de
Groddeck até 1917, escreve um artigo, com o pseudônimo de “Sátiro”, na revista Satanarium (no. XXI,
26 de junho de 1918), revista poli-copiada e dirigida aos pacientes do sanatório e publicado em Groddeck,
1996, p. 224-225).
14
No início do relacionamento entre Freud e Groddeck (1917), Sandor Ferenczi assumiu uma posição
distante e crítica às idéias do médico de Baden-Baden e mesmo assim aceitou escrever uma resenha
favorável ao primeiro texto que Freud leu de Groddeck. No final de 1921, Ferenczi resolveu tratar-se no
sanatório de Groddeck em Mariennhöle, sem que isso significasse que tivesse se tornado adepto das
idéias proferidas neste local. Mas a partir deste instante iniciou-se uma longa amizade entre esses dois
homens, com uma intensa e significativa troca de correspondência, que começa com um pedido de
compreensão que está presente numa carta escrita por Ferenczi no Natal de 1921. Este pedido de vínculo
envolverá vários aspectos da vida amorosa de Ferenczi, sua insatisfação com Freud e com a sua análise, o
pedido e a necessidade dele por análises mútuas, e como este pedido revela alto grau de honestidade
emocional, Groddeck se converte no companheiro analítico mútuo o que Freud não chegou a ser. E esta
relação de amizade e confiança profunda, com visitas constantes, principalmente de Ferenczi a Baden-
Baden, durará até a morte deste em 22 de maio de 1933. A compreensão e as implicações desta relação
podem ser buscadas na leitura das correspondências trocadas entre os dois entre 1921 e 1933.
15
Nas suas “Memórias” Groddeck se refere a Keyserling como sendo [...] o mais brilhante interlocutor
que jamais encontrei, um completo homem do mundo no melhor sentido da palavra e um homem que
sabia dar e receber. Encontram-se com bastante freqüência os que sabem dar, pelo menos se se tiver o
dom de se deixar presentear; os que sabem receber já são mais raros, pois cada um se desacostuma o
mais rápido e radicalmente possível do ingênuo receber da criança, para logo pisar com prazer na lama
do pagar e quitar, igual a todos os outros; como se algum dia algo pudesse ser pago.[ ... ] Então, homens
que sabem dar e receber quase não existem. Considero uma graça especial do destino ter conhecido
Keyserling.[...] Conheço muito bem a sua paixão pela sabedoria, o que se pode chamar de filosofia, e foi
assim que ele a chamou. E sendo ele o único entre milhares que suspeita do que seja sabedoria,
considero justo que tenha dado à instituição de Darmstadt o nome de “Escola de Sabedoria”. [...] Estive
várias vezes em Darmstadt e existe o fato de que Keyserling é capaz de harmonizar de forma perfeita os
pensamentos de homens de tão diferentes correntes de espírito e índoles, como Scheler, Jung, Frobenius,
de tal forma que o ouvinte, mediante um claro conhecimento de cada personalidade individual e através
de um interesse atento pela lei individual sob a qual vive o orador, pode facilmente absorver e assimilar
o humano em geral; este fato dá a Keyserling o direito de afirmar que, em Darmstadt, se está realizando
algo de diferente que não é oferecido em nenhum outro lugar e que só pode ser realizado por ele.
(GRODDECK 1970, 1994, p. 322–323). Em 1925, Groddeck escreve o trabalho: Der Sinn der Krankheit
(“O Sentido da Doença”, em Groddeck, 1992, p. 97-101) que será publicado no periódico editado por
Keyserling,chamado Der Leuchter. Trata-se do primeiro texto publicado logo após a edição do Livro do
Isso. A primeira participação de Groddeck na “Escola de Sabedoria” foi em setembro de 1925 e apresenta
a conferência Schicksal und Zwang (“Destino e Coação” em Groddeck, 1994, p. 231–245). O tema geral
deste ciclo versava sobre “Lei e Liberdade”. Groddeck permanecerá em contato Keyserling até a sua
morte. Quando Groddeck morre, Keyserling escreve algumas linhas elogiosas:
Em 10 de junho de 1934 morre em Zurique, com a idade de sessenta e sete anos, o médico de Baden-
Baden Georg Groddeck, o único autêntico e qualificado continuador da escola de Schweninger. Com ele
desapareceu um dos homens mais extraordinários que eu jamais havia encontrado. Era a única pessoa
minha conhecida que sempre me fazia pensar em Lao-Tsé: seu não fazer era criativo, a um nível
inclusive mágico. Ele se atribuía o princípio de que o médico não sabe nada, nada pode fazer e pouco
19
tem o que fazer: deverá somente, com sua presença, despertar as forças curativas inatas no paciente.
Naturalmente, esta técnica de não saber, de não fazer por si só não lhe daria condições de manter ativa
sua clínica em Baden-Baden. Portanto, ele curava fazendo uso de uma combinação de psicanálise e
massagens. [...] Foi assim que Groddeck me curou, em menos de uma semana, de uma flebite recorrente.
[...] Sem dúvida, em Georg Groddeck, eu não amava e respeitava tanto o médico como o sábio
paradoxal. Ele não pertencia a nenhuma escola: sobre cada coisa tinha suas opiniões estritamente
pessoais e freqüentemente heréticas. E todas elas eram entendidas no sentido justo, não muito ajustadas
ao literal, opiniões profundas. Não conheço nenhum filósofo da natureza que como ele tenha ressaltado a
condição da infância; até quase se poderia dizer que seu ideal era o ovo, posto que nenhum organismo já
formado saberia do que o “Isso” é capaz. [...] Porém, como acontece freqüentemente com as pessoas
de vida rica, a presença pessoal de Groddeck contava muito, muito mais do que aquilo que ele
expressava em suas palavras e em suas teorias. Disso puderam se interar, até agora, os participantes dos
seminários da “Escola da Sabedoria15” em Darmstadt: onde apesar de que muitas vezes ele tomava a
palavra, era sobretudo sua simplicidade, sua presença viva o que fazia de Groddeck um participante
único daquelas reuniões pensar por si mesmo. [...] Porém, no íntimo, foi um dos homens mais cálidos,
mais carinhosos, mais preocupados pelo bem-estar alheio que jamais havia encontrado. Epílogo a “El
Libro del Ello, de Georg Groddeck de Hermann Keyserling (texto pesquisado em:
www.indepsi.cl/ferenczi/vinculaciones/groddeck.) “El 10 de junio de 1934 muere en Zurich, a la edad de
sesenta y siente años, el médico de Baden-Baden Georg Groddeck, el único auténtico y calificado
continuador de la escuela de Schweninger. Con él ha desaparecido uno de los hombres más
extraordinarios que yo haya encontrado nunca. Y la única persona de mi conocimiento que siempre me
había hecho pensar en Lao-Tse: su no-hacer era creativo, a un grado incluso mágico. El se adscribía al
principio de que el médico no sabe nada, nada puede hacer, y poco tiene que hacer: deberá solamente, con
su presencia, despertar las fuerzas sanativas innatas en el paciente. Naturalmente, esta técnica del no-
saber y del no-hacer no le habría permitido, por si sola, mantener activa su clínica de Baden-Baden. Por lo
tanto él sanaba haciendo uso de una combinación de psicoanálisis y masajes; […] Fue así como Groddeck
me curó, en menos de una semana, de una flebitis recurrente. […] Sin embargo, en Georg Groddeck, yo
no amaba y respetaba tanto al médico como el sabio paradójico. Él no pertenecia a ninguna escuela: sobre
cada cosa tenía sus opiniones estrictamente personales, y a menudo las más heréticas. Y todas ellas eran,
entendidas en el sentido justo, no muy ajustada a lo literal, opiniones profundas. No conozco a ningún
filósofo de la naturaleza que como él haya resaltado la condición de la infancia; hasta casi se podría decir
que su ideal era el huevo, puesto que ningún organismo ya formado sabría de lo que el Ello es capaz. […]
Pero, como sucede frecuentemente con las personas de vida enriquecidas, la presencia personal de
Groddeck contaba mucho, mucho más de aquello que él expresaba en sus palabras y en sus teorías. De
ello han podido enterarse, hasta ahora, los participantes a los seminarios de la “Escuela” de la sabiduria”
en Darmstadt, donde a pesar de que muchas veces él tomaba la palabra, era sobre todo su simplicidad, su
presencia viva lo que hacia de Groddeck un participante insustituible de aquellas reuniones: ya fuese
provocando, ya exasperando, ya fascinando, él obligaba a cada uno a pensar por si mismo. Su apariencia
era ruda: su alma, demasiado vulnerable, con una gran necesidad de protección. Pero, en lo íntimo, fue
uno de los hombres más cálidos, más cariñosos, más preocupados por el bien ajeno, y más grande que yo
haya encontrado nunca”.
20
1. OBJETIVO
1
Fontes Primárias: Nesta dissertação denominaremos fontes primárias as traduções confiáveis, dos
escritos originais escritos por Groddeck em Alemão, para outras línguas.
21
22
1. Romantismo
1
. Para Ellenberger, o inconsciente é uma descoberta e não uma invenção e tem uma longa história e uma
diversidade de definições e caracterizações.
2
. [...] La descripción que hacía Groddeck del ello reflejaba, en grado extremo, el viejo concepto romántico de
inconsciente irracional. [...] Verdadero epígono de Novalis, Carus e Von Hartmann, Groddeck afirmó que el ello
podía conformar procesos fisiológicos y producir enfermedades.
3
. Relação esta que outros autores, conforme vimos na introdução, fazem questão de enfatizar.
23
Karl Friedrich Schlegel [...] usa o termo para significar literatura imaginativa
com uma forma moderna diferente, a ser contrastada com os escritos de
autores antigos, especialmente Homero e os poetas líricos e os dramáticos
gregos. A palavra deriva do francês Roman, que se refere a uma história,
usualmente uma história militar de criaturas medonhas, cavaleiros heróicos
e amor cavalheiresco. Quando a palavra entra na Alemanha, próximo ao
final do século XVIII, ela carrega o significado de romanhaft, semelhante a
uma novela, especialmente o tipo de história ou atitude típica do gênero.
[...] ele deseja empregar o termo mais especificamente para descrever uma
forma de literatura poética desenvolvida no período moderno que
expressava os interesses subjetivos do artista, permitindo elementos
conflitivos a permanecerem insolúveis, rejeitando a conter uma obra livre e
de imaginação irônica, que descrevia as reações e retratando as
sensibilidades dos indivíduos comuns, usualmente o próprio poeta, e que
focalizado nos modos e tempo característicos de um período definido da
história. A literatura antiga, em contraste, se conformava ao objetivo e aos
princípios formais da beleza, unificando seus elementos em uma síntese
harmoniosa, descrevendo as atividades dos heróis e deuses,
transcendendo historicamente tempos fixados e lugares e então,
24
4
. Karl Friedrich Schlegel [...] used the term to signify imaginative literature of a distinctively modern form, to be
contrasted with the writings of ancient authors, especially Homer and the Greeks lyric poets and dramatists. The
word derives from the French roman, which referred to a story, usually a military tale of awful creatures, heroic
knights, and chivalric love. When the world entered the German language, toward the end of the seventeenth
century, it carried the meaning of romanhaft, novel-like, specifically the kind of story or attitude typical of the
genre. […] he wished to employ the term more specifically to describe a form of poetic literature developed in
the modern period that expressed the subjective interests of the artist, that allowed conflicting elements to remain
unresolved, that refused to restrain a freely playing and ironic imagination, that described the reactions and
portrayed the sensibilities of individuals of common clay, usually the poet himself, and that focused on manners
and times characteristic of a definite period in history. Ancient literature, by contrast, conformed to objective and
formal principles of beauty, unified its various elements into a harmonious synthesis, described the activities of
heroes and gods, transcended historically fixed times and places, and thus, indirectly, represented universal
features of humanity.
5
. [...] A res cogitans, tal como Descartes a pensara, exerce um papel fundamental. A razão seria o ponto
arquimédico que permitiria dominar o mundo. E se o homem quisesse atingir a sua plenitude, quer dizer, ser
25
soberanamente livre,deveria considerar a razão como a essência do seu ser, derivando dela as normas de seu
comportamento. O homem atingiria, portanto, o máximo de sua humanidade, se racionalista. Só pode ser
considerado como verdadeiro, bom e belo, aquilo que resiste à critica racional. [...] A razão é, portanto, o valor
supremo e todos os aspectos da cultura lhe devem estar subordinados. [...] O direito, a moral, a arte, assim como
a ciência a filosofia, devem ser explicados a partir de um principio único, a razão. (GERD BORNHEIM, in
J.GUINSBURG, 1997, p.79).
6
. El romanticismo tuvo su origen en Alemania, donde alcanzó su más alto desarrollo entre 1800 y 1830,
comenzando después a declinar, aunque se extendió por Francia, Inglaterra y otros países. Su impacto fue tal que
sus efectos persistieron en la vida cultural europea durante todo el siglo XIX. [...] Ha sido considerado muchas
veces como una reacción cultural frente a la Ilustración. Mientras que esta última proclamaba los valores de la
razón y de la sociedad, el romanticismo mantuvo el culto de lo irracional y lo individual. Con él resurgieron las
tendencias místicas, que habían sido relegadas a un segundo plano por la Ilustración.
26
7
. Duas citações se fazem necessárias para precisar esta preocupação científica: 1) [...] As estruturas básicas da
natureza podem então ser apreendidas e representadas pelas habilidades dos artistas e as metáforas poéticas,
como também pelos experimentos do cientista e as observações dos naturalistas. (RICHARDS, 2002, p. 12) [...]
The basic structures of nature might thus be apprehended and represented by the artist’s sketch and the poet’s
metaphor, as well as by the scientist’s experiment and the naturalist observation. 2) […] os pensadores
românticos consideravam as atividades do cientista comparáveis às do artista, pois ambos empregavam
imaginação criadora. (idem, p. 12). { [ ... ] Romantic thinkers considered the activities of the scientist
comparable to that of the artist, for both employed creative imagination. Considerando essas duas citações e o
que foi dito acima, a ciência proposta pelos românticos continha, além das características próprias da ciência
iluminista, uma consideração moral e uma perspectiva estética.
8
.De forma coloquial, duas descrições de uma situação são complementares se ambas são necessárias para uma
completa descrição dessa situação e ao mesmo tempo são incompatíveis uma com a outra. ( Armando de
Oliveira e Silva: anotações de aula para o Curso de Especialização em Psicologia Analítica- PUC/Pr, , 2007 ).
27
9
. […] Many thinkers participated in the project, especially in Germany, where it took various forms. Perhaps
best know is the Naturphilosophie, or, “nature philosophy”, associated with the names of Friedrich von
Schelling, Georg Hegel, Lorenz Oken, Carl Gustav Carus, Henrik Steffens and Karl Ernst von Baer. […] the
nature-philosophers were associated with German idealistic philosophy, which approached nature from the pole
of pure thought.
10
. [...] - given currency by Herder, Goethe, and Schelling – opposed the mechanical ideal stemming from
Descartes and Newton. […] nature ceased to be mere product of the Creator’s designs but itself became producer –
of itself. Self-production and development revealed that nature moved from a simpler, less organized, earlier state
to a more progressively developed later state. […] nature became temporalized. […] The mechanistic conception
of nature, by contrast, could not easily support intrinsic temporality: the clockwork mechanism that an intelligent
Creator would produce was stable, coherent, and as perfect from the beginning as it would be at the end. […] The
clockwork mechanism itself was, fundamentally a-temporal and thus a-historical. But nature as self-productive, as
organic, could have a history. […] The infusion of time into nature was not merely a necessary condition for the
appearance of evolutionary theories; it constituted those very theories during the late eighteen and the nineteenth
centuries.
28
[...] uma sensibilidade extrema que lhe permitia “sentir” a Natureza e “sentir
com” outros homens, uma rica vida interior, a crença no poder da
inspiração, da intuição e da espontaneidade e a importância atribuída à
vida emocional. (ELLENBERGER, 1976, p. 238)
11
. Este recorte de autores não ignora a suposição de que outros autores do Movimento Romântico e da Filosofia
da Natureza possam ter influenciado de alguma forma a construção do pensamento de Groddeck.
31
12
. [...] The kind of scientific perspective that emerged in German usually bears variously the names
Naturphilosophie and “Romantic science”. […] Naturphilosophie specifically focused on the organic core of
nature, its archetypal structure, and its relationship to mind, while Roamnticism added aesthetic and moral
features to this conception of nature. Thus […] all Romantic thinkers were Naturphilosophie, though not all
Naturphilosophie were Romantics.
32
Nada melhor do que o próprio autor para explicar o que ele pretendia com seu
texto. Em sua introdução a Idéias para uma Filosofia da Natureza, Schelling explicita
a essência de sua argumentação:
13
[...] Qualquer tentativa de separar o consciente e o inconsciente da mesma maneira que a alma e o corpo, os
quais são normalmente vistos em contraste direto, pode não ser adequada e é tão infrutífera como dividir o
homem em um homem especial dormindo e outro acordado; ambos são um, e somente nesta unidade eles são
capazes de manifestação. (CARUS ,1989, p.73 nota.3). [...] Any attempt to separate the conscious and the
unconscious in the same way as soul and body, which are commonly viewed in sharp contrast, may not be much
better and cannot be any more successful than trying to divide man into a special waking and sleeping man; both
are one, and only in this unity are they capable of manifestation.
14
[...] Of all precursors Carus claims the closer attention of psychology because his presentation of the
unconscious shows him to be mainly a psychologist. His idea of the unconscious is neither a poetic flash, nor a
speculative philosophic system as in the hands of the young von Hartmann, […] nor is it a heuristic medical
concept, semi-neurological and useful for explaining unknown mental processes. […] Carus described
psychological processes in detail and yet holds to a holistic view, placing the unconscious and the psyche within
a meaningful universe whose main focus for him is “life”. In the human life manifests as psyche, the first level
of which is the unconscious. He sees man as a psychological being.
36
(Leibniz) mas era o verdadeiro fundamento do ser humano, por estar enraizado na
vida invisível do mundo e por ser o elo entre a natureza e o homem.
Tendo como ponto de sustentação todas essas ideias, Carus vai distinguir a) três
níveis no inconscienteI, b) propor uma teoria do desenvolvimento humanoII, c)atribuir
uma série de características ao inconscienteIII, d)estabelecer formas de relação
interpessoalIV e e)definir a psicologia como sendo a ciência que estuda o
desenvolvimento da psique desde o inconsciente até o consciente.
Uma das suas principais obras é Psyche: Zur Entwicklungsgeschichte der Seele
(“Psyche: Sobre uma História do Desenvolviemnto da Alma”), publicado em 1846.
Dividido em três partes, com a primeira15 dedicada ao inconsciente, o livro começa
com as seguintes proposições:
15
. As outras duas partes são dedicadas ao consciente e à questão do eterno e do temporal no inconsciente e no
consciente.
16
. The key to an understanding of the nature of the conscious life of the soul lies in the sphere of the
unconscious. All the difficulties, even the apparent impossibility, of a real understanding of the secrets of the
psyche become obvious in this light. If it were absolutely impossible to be aware of the unconscious in
consciousness, man would have to despair of ever understanding his psyche. If, however, this impossibility is
only apparent, then the first task of a science of the psyche is to explain how man’s mind can descend into these
depths.
37
[...] Então tudo sugere que um princípio vital unificador, alguma coisa
autônoma – a entelequia de Aristóteles, a idéia de Platão, ou uma psique,
uma alma, alguma coisa, chame isso do você quiser – é a condição básica
18
de toda vida e portanto de todas as formas vivas.(CARUS, 1989, p. 7)
[...] todas essas coisas são criações desse ser curioso: “isso”, ser humano,
Deus ou qualquer que seja o nome que se queira dar.
17
. [...] had a talent for precision. He was an exact observer, a naturalist, an anatomist. However, he remained
always a generalist, seeking the large relationship of things, despite his craftsman’s gift. [ … ] Carus’ occupation
with the detail of processes in nature, body and psyche was for the sake of a greater whole. He did not seek ever
smaller explanations downward into matter, but moved outward into holistic principles. Carus attempted to hold
together the two sides of his nature, and thus of nature itself
18
. [...] Thus everything suggests that a unified life principle, something self-moving – Aristotle’s entelechy,
Plato’s idea, or a psyche, a soul, something divine, call it what you will – is the basic condition of all life, and
therefore of all living forms.
39
mais profundo (ver nota I), não existe a possibilidade da doença e que a disposição
para a doença aumenta proporcionalmente com o crescimento da consciência. Por
isso, Carus afirma que o ser humano tem a triste honra de possuir uma grande
variedade de doenças.
Avançando um pouco mais nesta questão, deparamos com uma reflexão
aparentemente contraditória em Carus:
Tudo issso sugere que a vida inconsciente da alma deveria, pela sua
própria essência, não ser suscetível à doença. Mas esses sistemas e
órgãos do corpo humano, pouco influenciados pela consciência e
totalmente governados pelo inconsciente são mais freqüentemente
suscetíveis à uma variedade de doenças do que aqueles altamente
19
influenciados pela consciência. (CARUS, 1989, p. 68)
Como exemplo disso ele cita doenças no sistema digestivo, circulatório, as glândulas
e os órgãos de excreção, dentre outros.
19
. All this suggests that the unconscious life of the soul should , by its very essence, not be subject to illness.
But those systems and organs in the human body, so little influenced by consciousness and entirely governed by
the unconscious, are more frequently subject to a variety of illnesses than are those highly influenced by
consciousness.
20
.[...] We consider illness to be really a generalized affliction affecting the body as a whole. No part of a healthy
body invaded by a pathological organism can remain normal. The body is a complete entity an can exist only as
such.[…] Whenever a localized illness develops, more than one organ is affected; the whole man is ill, suffering
particularly in one or another part.
21
. Partindo do princípio que Groddeck não conhecia a obra de Carus, ele ficaria bastante estimulado em
perceber essa sintonia entre sua noção de doença e a que Carus propõe.
40
Por estas breves colocações de Carus sobre a doença propondo um modelo que poderia
ser chamado somatopsíquico24,e aquilo que será considerado sobre a questão da doença, da
22
. [...] the marvelous and mysterious stirring of unconscious life , that “healing power of nature”, that
“physician in man” which slowly undermines illness, inducing a “crisis” that frequently restores health with
astonishing rapidity by means of strange reversals of organic activity. […] Thus we can see that unconscious
organic existence, though ignorant of illness, underlies everything that combats illness and strives constantly to
restore health. This used to be called “nature’s healing power”.
23
. […] of medical science to investigate these unconscious healing processes in order to understand them better,
to develop them,[…] as well as to imitate and stimulate them as far as possible.
41
saúde e do médico em Groddeck, podemos considerar Carus como uma fonte de inspiração,
lembrando sempre o que já foi dito sobre a falta de referência a Carus. De alguma maneira,
Groddeck tomou nas mãos estas tarefas propostas para a medicina - inspirado por
Schweninger - e explorou com mais profundidade esta “capacidade curativa da natureza”.
24
. Somatopsíquico: a doença ou a lesão é causada no corpo por algum agente patológico externo ou pela ação
de uma força externa intensa e com ressonâncias no curso total da vida do sujeito e mobilizando processos no
inconsciente para curar ou restaurar o equilíbrio. Neste modelo, inspirado a partir das idéias de Carus, tendo dois
sistemas interagindo (soma /psique) é possível perceber três momentos: 1) corpo: espaço do sofrimento; 2)
psique (passiva): vivendo os efeitos do sofrimento; 3) psique (ativa) buscando em si mesma meios de recuperar o
equilíbrio.
42
NOTAS
I
.1) Inconsciente absoluto geral: total e permanentemente inacessível à nossa consciência. 2) Inconsciente
absoluto parcial: ao qual pertencem os processos de formação, crescimento e atividade dos órgãos. Exerce uma
influência indireta sobre nossa vida emocional. Carus descreve os diferentes “espaços da alma”, como a
respiração, a circulação sanguínea, a atividade hepática; cada um destes espaços tem uma tonalidade emocional
própria e contribuiram para a constituição do sentimento vital, base da vida emocional. Os pensamentos e
sentimentos conscientes exercem também uma ação lenta e mediata sobre o inconsciente absoluto parcial, isto
explica porque a fisionomia de uma pessoa pode refletir sua personalidade consciente. 3) Inconsciente relativo
ou secundário que compreende a totalidade dos sentimentos, percepções e representações, que nos pertencem em
um momento ou outro, e que se converteram em inconsciente. (ELLENBERGER, 1976, p. 244-245). { 1). El
inconsciente absoluto general, total y permanentemente inaccesible a nuestra conciencia. 2). El inconsciente
absoluto parcial, al que pertenecen los procesos de formación, crecimiento y actividad de los órganos. Ejerce
una influencia indirecta sobre nuestra vida emocional. Carus describe los distintos “distritos del alma”, como la
respiración, la circulación sanguínea, la actividad hepática; cada uno de estos distritos tiene una tonalidad
emocional propia y contribuye a la constitución del sentimiento vital base de la vida emocional. Los
pensamientos y sentimientos conscientes ejercen también una acción lenta y mediata sobre el inconsciente
absoluto parcial, esto explica por qué la fisonomía de una persona puede reflejar su personalidad consciente. 3).
El inconsciente relativo o secundario que comprende la totalidad de los sentimientos, percepciones y
representaciones, que nos pertenecieron en un momento u otro y que se han convertido en inconscientes.
II
. Segundo Carus, a vida humana está dividida em três períodos: 1) Período pré-embrionário, durante o qual o
indivíduo existe simplesmente como uma pequena célula dentro do ovário da mãe; 2) Período embrionário,
mediante a fecundação, o indivíduo é despertado subitamente de seu longo sono, e se desenvolve o inconsciente
formativo. 3) Período posterior ao nascimento, no qual o inconsciente formativo continua dirigindo o
crescimento do indivíduo e a função de seus órgãos. A consciência surge de forma gradual, porém permanece
sempre sob a influência do inconsciente, ao qual o indivíduo retorna periodicamente durante o sono. (idem. p.
244).
{Según Carus, la vida humana está dividida en tres períodos: 1) Período pre-embrionario, durante el cual el
individuo existe simplemente como una pequeña célula dentro del ovario de la madre. 2) Período embrionario:
mediante la fecundación, el individuo es despertado súbitamente de su largo sueño, y se desarrolla el
inconsciente formativo. 3) Período posterior al nacimiento, en el cual el inconsciente formativo continúa
dirigiendo el crecimiento del individuo y la función de sus órganos. La conciencia surge de forma gradual, pero
permanece siempre bajo la influencia del inconsciente, al que el individuo retorna periódicamente durante el
sueño.
III
. Carus atribui as seguintes características ao inconsciente: 1) Tem aspectos “prometéicos” e “epimetéicos”,
está dirigido para o futuro e para o passado, porém não conhece o presente. 2) Está em movimento e
transformação constantes; os pensamentos ou sentimentos conscientes, quando se convertem em inconscientes,
sofrem uma modificação e maturação contínua. 3) É incansável; não necessita descanso periódico, enquanto que
nossa vida consciente necessita descanso e recuperação mental, o que consegue submergindo-se no inconsciente.
4) É basicamente perfeito e não conhece a enfermidade; uma de suas funções é “o poder curativo da Natureza”.
5) Segue suas próprias leis ineludíveis e não tem liberdade. 6) Possui sua própria sabedoria inata; nele não há
ensaio e erro, não há aprendizagem. 7) Sem darmos conta consciente disso, por meio do inconsciente
permanecemos em conexão com o resto do mundo, em particular com nossos semelhantes. (idem, p. 245).
{Carus adscribe las siguientes características al inconsciente: 1) Tiene aspectos “prometeícos” y “epímeteicos”,
está dirigido hacia el futuro y hacia el pasado, pero no conoce el presente. 2) Está en movimiento y
transformación constantes; los pensamientos o sentimientos conscientes, cuando se convierten en inconscientes
sufren una modificación y maduración continua. 3) Es incansable; no necesita descanso periódico, mientras que
nuestra vida consciente necesita descanso y recuperación mental, lo que encuentra sumergiéndose en el
inconsciente. 4) Es básicamente perfecto y no conoce la enfermedad; una de sus funciones es “el poder curativo
de la Naturaleza”. 5) Sigue sus propias leyes ineludibles y no tiene libertad. 6) Posee su propia sabiduría innata;
en él no hay ensayo y error, no hay aprendizaje. 7) Sin darnos cuenta consciente de ello, por medio del
inconsciente permanecemos en conexión con el resto del mundo, en particular con nuestros semejantes.
IV
. Carus distingue quatro formas de relação interpessoal: 1) De consciente a consciente; 2) De consciente a
inconsciente; 3) De inconsciente a consciente; 4) De inconsciente a inconsciente. Formulou o princípio de que o
inconsciente do indivíduo está relacionado com o inconsciente de todos os homens. (idem, p. 245) {Carus
43
III. MÉTODO
1. Instrumentos:
Para atingir o objetivo proposto por esta dissertação, foram utilizados os
seguintes instrumentos:
Livro escrito por Freud:
Correspondência completa: Freud, Lou Andreas – Salome/ Freud,
Lou Andreas – Salome.
Revista com capitulo se referindo ao método qualitativo:
Revista de Psicóloga Hospitalar editada pela Coordenadoria das
atividades dos psicólogos do H.C.
Livro sobre a historia da Psiquiatria;
A History of Clinical Psychiatry. The Origin and History of Psychiatric
Disorders;
Livro de autor se referindo sobre a humanização:
Goldenstein;
Livros de autores se referindo a historia do Inconsciente:
Ellenberger, Meier;
Livros de autores se referindo aos interlocutores de Groddeck:
Fortune, Ruby, Brabant;
Livro escrito por Ferenczi:
Thalassa. Ensaio sobre a teoria da genitalidade;
Obras escritas por Georg Groddeck até 1913;
Livros de autores se referindo a Georg Groddeck:
Chemouni,Fortune,Grossman,Martynkewick,Riveras, Hristeva,Nasio;
Livros de autores sobre Psicossomática:
Ávila, Chauchard, Ramos, Cagli, Hames, Lichtenberg;
Livros que referem o Romantismo Alemão:
Antiseri, Baumer, Descartes, Guinsburg, Richards, Tarnas, Williams;
Livros sobre a Filosofia da Natureza
Maritain, Schelling;
Obra escrita por Carl Carus:
46
2. Local de coletas:
As fontes utilizadas foram:
Bases de dados como: Capes BVS - Psi (biblioteca virtual em Saúde),
SciElo (Scientific Electronic Library Online) e PubMed/MedLine
Biblioteca da PUC-SP
Site de livros usados: Estante Virtual
Acervo da Livraria Cultura São Paulo
Sites de Internet; www.indepsi.cl ; www.amazon.com.br
3. Procedimento:
Para o desenvolvimento da seguinte dissertação a autora teve o seguinte
procedimento:
Primeiramente, foi feita uma pesquisa eletrônica que tinha por finalidade
levantar menções sobre a teoria de Georg Groddeck, nos relatos de pesquisas
empíricas onde o tema foi observado direta e indiretamente.
Assim, para realizar a pesquisa de artigos, ao acessar a base de dados,
foram digitadas as palavras–chaves escolhidas pela autora, sendo que, a princípio
eram realizadas buscas individualmente e em seguida eram feitas por meio de
cruzamento entre as palavras selecionadas em grupos de dois ou três termos.
As palavras-chaves escolhidas foram: Romantismo, Filosofia da Natureza,
Georg Groddeck, Psicossomática, Medicina Psicossomática, História da
47
Psicossomática. A autora teve como escolha estas palavras por acreditar que
teriam relação com o tema e objetivo proposto na adjacente dissertação.
No site www.indepsi.cl, a busca foi a partir da página referente ao autor
Sándor Ferenczi, por não existir uma página específica sobre Georg Groddeck.
Lá constava um link referente à Ferenczi e suas vinculações e aqui continha
uma página com textos sobre Groddeck.
Para a pesquisa por títulos de livros, tanto nas livrarias, como nos sites e na
biblioteca da PUC, o critério utilizado foi a busca de livros que tivessem como
tema: Psicossomática, Romantismo, Filosofia da Natureza e Georg Groddeck.
Concluída esta etapa da pesquisa, a autora passou a fazer a leitura dos
títulos dos artigos e literaturas, com o objetivo de fazer uma seleção inicial
daqueles que pareciam abordar os temas desejados. Foi priorizada nesta
dissertação, principalmente, uma biografia centrada em fontes primárias, ou seja,
as traduções confiáveis, dos escritos originais escritos por Groddeck em Alemão,
para outras línguas. Portanto, por se tratar de um trabalho de pesquisa em fontes
primárias, depois de cada citação de autoria de Groddeck, será mencionado seu
nome, o ano em que o texto foi editado pela primeira vez, e na seqüência o ano da
edição na qual a citação foi retirada, e a pagina (Primeira Seleção).
Terminada a busca de títulos compatíveis, realizou–se a leitura dos
instrumentos coletados e previamente selecionado, através da qual foi possível
elucidar o conteúdo dos mesmos e assim separar aqueles que seriam relevantes à
pesquisa descartando os que não tinham correlação com o tema. (Segunda
Seleção).
Por fim, realizou–se a leitura e seleção dos instrumentos, seguindo uma
categorização cronológica baseada nos acontecimentos biográficos, dentro de um
espaço de tempo definido como período pré – psicanalítico, enfatizando sua
produção intelectual e situando dentro de seu contexto biográfico, ampliando meu
procedimento para compreender também o contexto histórico-teórico que
corresponde à sua época.
E, a partir desta categorização da obra do autor, a autora deu início ao
desenvolvimento e à escrita desta Dissertação de Mestrado.
48
• 1899- Über Messen und Wägen in der ärztlichen Tätigkeit (“Sobre a medida
e a pesagem na atividade médica”)
• 1913- Nasamecu, natura sanat, medicus curat. Der gesunde und der
kranke Mensch gemeinverständlich angestellt (“Nasamecu, a natureza cura, o
médico trata. O Homem são e o Homem Doente representados de maneira
compreensível a todos”).
51
Mas voltemos agora ao primeiro ano das termas, ou seja, a metade do século
XIX:
Além do já citado Doutor Rosenberg, outro médico se torna conhecido
neste período: o doutor Carl Theodor Groddeck. Em 20 de junho de 1885,
perto de sua residência, na Chause 18, abriu um estabelecimento de água
termal e nata do soro, a qual um ano mais tarde acrescentou um espaço
para banho com água salgada. [...] A posição da propriedade era
particularmente vantajosa: uma casa imponente, com um grande jardim,
adjacente a um bosque serrano e com uma bela vista para o vale do Saale.
Para o Doutor Groddeck, que se transferiu para cá com sua mulher no
último mês de gravidez, este foi um grande passo. Os meios financeiros da
família eram insuficientes, então o marido teve que emprestar dinheiro de
algum parente e, para aumentar a renda, foram obrigados a alugar alguns
apartamentos da casa. Porque os banhos termais prometiam um
crescimento feliz, eles esperavam que o investimento logo começasse a
render. Além do risco financeiro, a transferência para Kösen proporcionou
para o Doutor Groddeck também uma mudança na atividade profissional:
ele não tinha experiência como médico termal, havendo trabalhado até
aquele momento como epidemiologista na Prússia. [...] Em alguns anúncios
nos jornais, o Doutor Groddeck propunha um programa de terapia e de
cura que seguia os princípios mais modernos: oferecia ao paciente banho
de água salgada e um tratamento à base do soro do leite, banho termal,
erva e uva. Praticava também cura elétrica que seguia o método
apresentado por Duchene em 1852. O horário do atendimento era das seis
2
da manhã até o entardecer. (MARTYNKEWICZ, 2005, p. 44 e 51)
1
. Inizialmente, però, l’interesse maggiore era rivolto al sale piuttosto che all effetto terapêutico dell’acqua salsa.
A partir de 1730 il figlio di un falegname di Dresda, Johann Gottfried Borlach, apri le fonti di acqua salsa a
Kösen e fece dell’attività della saline una prospera impresa. L’estrazione del sale ebbe un rápido sviluppo e nel
1880 divenne un elemento essenziale dell’economis di Kösen. A questo periodo risale anche la costruzione dello
stabilimento di gradazione, oggi tra le strutture più caratteristiche della città. Parallelamente si risolse
l’attenzione anche all’efficacia terapêutica dell’acqua salsa. Tra gli amici e sostenitori di questa terapia si
annovera il medico di corte prussiano, dottor Wilhelm Hufeland, che propose di fare di Kösen una località
modelo per l’igiene. All’inizio del XIX secolo arrivarono i primi ospiti delle terme, che per fare le inalazioni
dovevano ancora camminare negli spazi ricavati sui cumuli di sale. Una sala per inalazioni fu construita nel
1888. All’inizio gli ospiti non erano più di quaranta all’anno. Sucessivamente si construirono anzitutto le
strutture termali. Nel 1836 il dottor Rosenberg aprì una clinica per bambini malati facendo conoscere l’effetto
terapêutico del bagno termale e, poco più tardi, anche dell’elettricità. Quando nel 1847 venne aperta la linea
ferroviaria e, dopo una decina anni, cesso la produzione delle saline, il numero degli ospiti delle terme aumento
notevolmente. Nel 1859 si contavano già 1300 ospiti e Kösen venne chiamata “terme de acqua salsa”. Le
inalazioni e la cura i bagni erano accompagnate da bevande a base di siero del latte, dieta, molto movimento
all’aria fresca e rigido rispetto dei tempi di riposo e di sono. Dalla meta del XIX secolo nella termale sulla Saale
arrivarono soprattutto ospiti provenienti da Berlino, tra cui il pittore Adolph von Menzel, che durante i suoi
soggiorni trasse ispirazione per due dipinti. Da Weimar più volte venne a Kösen Franz Liszt, accompagnato dalla
principessa Sayn-Wittegenstein. [ ... ] Kösen non era di sicuro una località termale lussuosa, però aveva una certa
atmosfera e un fascinio.
2
.Oltre al giá citato dottor Rosenberg, un altro medico fece parlare di sé in questo período: il dottor Carl Theodor
Groddeck. Il 20 giugno 1855, accanto allá sua abitazione, in Chause 81, apri uno stabilimento di acque termali e
di pura del siero, al quale un anno più tarde si aggiunse uno stabilimento per bagni con acqua salsa. [...] La
53
Isto nos faz retomar a biografia dos pais de Groddeck. O pai, Carl Groddeck,
era filho de um deputado de Danzing, sua cidade natal, no norte da Alemanha. Já
sua mãe, Caroline, era filha do professor August Koberstein, historiador da literatura
alemã e professor em PforteI por 50 anos. Caroline e Carl se conheceram quando
ele ainda era estudante em Pforte. O jovem estudante era pensionista na casa dos
Koberstein e foi acometido por um distúrbio cardíaco que perduraria por toda a vida.
Durante a convalescença, Carl permaneceu na casa do professor, o que
proporcionou o tempo e a intimidade suficientes para que os dois jovens se
apaixonassem. A Senhora Koberstein era quem se ocupava do paciente, e por este
motivo Carl tinha muito apreço por ela. Por sua vez a filha, Caroline, nunca falava de
sua mãe com muita admiração, diferente de como se referia a seu pai 3. A mãe era
uma mulher totalmente comum, mas com uma facilidade para atrair pessoas, o que
para a filha era um defeito. Independente de como a Senhora Koberstein era vista
por sua filha, para os demais, no entanto, era uma pessoa notável.
Em 1849, Carl Groddeck formou-se na Faculdade de Medicina da
Universidade de Berlim, com a tese com o título em latim, De morbo democrático,
nova insaniae forma. Em 1850, Carl apresenta-a em público, revista e ampliada,
agora com o título em alemão: Die Demokratische Krankheit, Eine Neue
Wahnsinnsform. Nas suas “Memórias”4, Groddeck escreve sobre seu pai:
[...] Como era normal na época – eram os anos em torno de 1848 - aquele
que estivesse mais próximo da política se tornava o centro do círculo; era o
meu pai. Tirando o fato de ter ele, como filho de um deputado, sido atraído
para o movimento com mais força do que os outros, ele pusera na cabeça,
mostrar-se ativo e, pela necessidade de ser incomum – uma necessidade
que infelizmente adotei e que levei uma grande parte da minha vida para
neutralizar – ele o fez de um modo característico: escolheu para sua tese
posizione della proprietà poi era particolarmente vantaggiosa: una casa imponente, con un grande giardino,
adiacente a un bosco montano e con una bella vista sulla valle della Saale. Per il dottor Groddeck, transferitosi
qui con la moglie agli ultimi di gravidanza, questo fu un grande passo. I mezzi finanziri della famiglia non erano
sifficienti, cosi i coniugi dovettero farsi prestare denaro da parenti e, per aumentare le entrate, fuorono costretti
anche ad affitare alcuni appartamenti della casa. Poichè i bagni termali promettevano uno sviluppo felice, essi
speravano che gli investimenti avrebbero presto cominciato a rendere. Oltre al rischio finanziario, il
transferimento a Kösen comporto per il dottor Groddeck anche un cambiamento nell’attività professionale: egli
non aveva alcuna esperienza come medico termale, avendo lavorato fino a quel giorno come epidemiologo in
Prussia. [...] In parecchi annunci sul giornale il dottor Groddeck proponeva un programa di terapia e di cura che
seguiva i principi più moderni: offriva ai pazienti bagni di acqua salsa e una cura a base di siero del latte, bagni
termali, erbe e uva. Praticava anche cure elettriche che seguivano il metodo presentato da Duchene nel 1852. Gli
orari della andavano dalle sei del mattino al tardo pomeriggi.
4
. Lebenserinnerungen, escrito em 1929 e inéditas até 1970 quando são incluídas na coletânea Der Mensch und
sein Es. Briefe, Aufsätze, Biographisches, editado por Margaretha Honnegger. ( Editora Perspectiva, São Paulo,
1994, pags. 267-378 ).
54
[...] Escolhendo a mesma profissão que seu pai, Groddeck não poderia
deixar de conhecer sua tese de doutorado. Sua influência direta não é
possível de ser percebida, mas os problemas que ela propõe produziram
efeitos alguns anos mais tarde em seu filho. No entanto, o que de fato vai
marcar o futuro psicanalista, é a maneira própria como seu pai praticava a
5
medicina. (CHEMOUNI, 1984, p. 23)
[...] De resto era tão pouco neurologista quanto eu, mas um simples médico
clínico, aliás, muito avançado em relação ao seu tempo, talvez também
bastante distante das opiniões remanescentes da sua época, conforme se
quer. Nos seus últimos anos de vida, estudou, para uso médico particular,
o livro de Rademacher, o redescobridor de Paracelso, então quase
desconhecido. Eu já havia lido, no tempo do colégio, esta “terapêutica” pela
experiência de Rademacher; para minha formação médica e humana, foi
tão importante quanto a minha relação de estudante e de amigo com
Schweninger. (GRODDECK 1930, 1994, p. 118)
5
. Choisissant le même métier que son père, Groddeck n’était pas sans connaître sa thèse de doctorat. Son
influence directe n’est pas d’emblée perceptible, mais les problèmes qu’elle soulève trouveront quelques annèes
plus tard un écho chez son fils. Toutefois, ce qui semble surtout avoir marqué le futur psychanalyste, c’est la
façon personnelle dont son père pratique la médecine.
56
III
Em medicina meu pai era um herege , reconhecendo sua própria
autoridade, seguindo seu próprio caminho e perdendo-se nele, a seu bel-
prazer. Em relação ao respeito pela ciência não era possível encontrar
qualquer vestígio disso em suas palavras e atos. Ainda me lembro como
ele ria das esperanças depositadas na descoberta dos bacilos da
tuberculose e do cólera e com que prazer ele dizia que, desprezando todos
os dogmas da fisiologia, havia alimentado com sopinha um bebê.
(GRODDECK 1929,1994)
6
. Creo que intentó honradamente convertise en un Koberstein.
7
.Buscó la compania de los padres de su mujer y trató de adoptar su visón de la vida, pero no fue possible. Era
demasiado solitário, demasiado fuerte.
8
. “[...], por que me apelidaram de Pat? [...] Mas não tem nada a ver com o padroeiro irlandês. O homem de
quem recebi o nome de Georg era um amigo particular de meu pai, Marchand, que, na opinião da sua esposa, era
57
marca não só seu nascimento como sua vida - “... os primeiros e mais terríveis
conflitos de minha vida.” (GRODDECK 1929, 1994, p.3) -, foi o fato de sua mãe só
ter amamentado o primeiro de seus filhos. Sobre este acontecimento, já na vida
adulta, Groddeck anota:
Depois destes três dias, chegou a sua casa Bertha, uma senhora gorda e afetuosa,
que lá permaneceu por três anos (GROSSMAN, 1967). Para Groddeck, o fato de ter
sido amamentado por uma ama-de-leite e ter uma mãe verdadeira que lhe dava
carinho, o colocava em dúvida sobre qual das mulheres amar, dilema que tornaria
todas as suas escolhas mais difíceis:
Mesmo sendo o mais novo dos irmãos, Groddeck não gozava de uma posição
privilegiada em sua família, esta pertencia à sua irmã Lina, pois ela sofria de
insuficiência cardíaca, sendo considerada frágil e doente. Segundo o relato do
próprio Groddeck, a mãe buscava tratar os filhos de forma semelhante, e ao
parecido com o cantor Padilla; em conseqüência disso, ela lhe deu uma alcunha, mas como era saxônia, falava
Patilje, em vez de Padilla. E tornou-se também meu apelido.”
(GRODDECK 1929, 1994 p. 358)
58
Lina, desde o primeiro ano de vida, tinha uma insuficiência cardíaca e deve
ter sido muito delicada, embora não me lembre disso da minha infância. Ela
me contou mais tarde que a chamavam de almofada chorona, e eu me
recordo que de noite nós nos deitávamos alternadamente no sofá, atrás de
nossa mãe, às vezes juntos. Devido às muitas doenças de minha irmã, eu
me arrogava diversos direitos, pois mamãe, bem ou mal, devia tratar todos
os filhos por igual, se não quisesse cedo demais chamar a atenção da filha
para sua doença. Creio que ela o fez com muita habilidade, a irmã foi
poupada de muitos sofrimentos e foi-lhe dada a sensação de muita
felicidade, e eu me alegrava por ter sido mimado desde cedo por causa
disso, um hábito a que ainda hoje estou apegado. (GRODDECK 1929,
1994, p. 365)
Acredito que a partir desta condição de doença de sua irmã, Groddeck vivencia
uma lição, que é aprendida e memorizada para sempre: a debilidade orgânica tinha
força, era uma arma poderosa.
Ainda sobre a influência das descobertas das patologias vale ressaltar o fato
que define a escolha da sua profissão. Segundo relatos de historiadores, em um
determinado dia, enquanto brincava com Lina no quintal, observou que a irmã cobria
sua boneca com vários cobertores, então ele diz: “Não faça isso, não vês que ela
acabará sufocada?”. O Dr. Carl Groddeck observou a cena e entendeu que o filho de
apenas três anos já tinha vocação para a medicina. Quando o pai perguntou-lhe se
gostaria de ser médico, o menino entendeu que aquilo era um elogio e respondeu-
lhe entusiasmado que sim.
Próximo de completar seis anos foi à primeira escola, juntamente com sua irmã
Lina. Era uma escola de meninas, uma Mädchenschule. Na época, os filhos de pais
bem situados começavam seus estudos em escolas femininas. Era uma escola
dirigida por três irmãs, e foi descrita por Groddeck com riqueza de detalhes:
As três irmãs Hochbohm dirigiam a escola, cada uma era mais gorda do
que a outra e a mais magra - Marie - era a mais temida. Entre outras
coisas, ela nos ensinava aritmética. Sua influência, a influência do medo,
foi muito grande e ainda hoje tem vestígios [...]. A irmã do meio, Emma
Hochbohm, era a diretora do instituto; por causa da sua obesidade, foi
apelidada de “carrossel de duas pernas”. [...] A mais velha das irmãs
Hochbohm era a mais gorda; na verdade era tão gorda que não podia
lecionar, porque as crianças não queriam e não podiam ser ensinadas por
59
ela. Diziam as más línguas que ela, com toda aquela gordura, não podia
passar pelo portão da igreja, mas tinha de se lançar com o ombro à frente.
(GRODDECK 1929, 1994, p. 269)
Este fato parece ter incomodado Groddeck, pois ele próprio se definia como
“um pagãozinho”, que até deixar a casa paterna nunca havia entrado em uma igreja.
Mas, apesar deste fato, foi nesta escola que descobriu o verdadeiro sentido do
escrever:
Este relato é referente à redação que os alunos deveriam fazer, sobre “minhas
férias”. Ele relatou sua primeira saída de casa sem a mãe, com os irmãos. Foram a
Sachsenhausen, onde havia uma fonte de água mineral: “não me admira que a
tenha escrito na redação; era a primeira vez em que me dava conta de como são
fúteis todas as questões do espírito, quando as comparamos com a delícia que o
sedento sente ao beber água”. (GRODDECK 1929, 1994, p.285)
60
Pforte resultou em tudo que ele havia temido. A escola é descrita como uma
fortaleza, rodeada de muros altos feitos de pedra, uma verdadeira prisão. O jovem
Groddeck foi um pecador desde o início, parecia desejar tudo aquilo que estava
proibido: jogos de cartas, trepar sobre os muros e fumar. E depois de ser um
magnífico estudante durante anos, se tornou um estudante medíocre (GROSSMAN,
1967).
Vários relatos de seus biógrafos, revelam o quanto a disciplina aplicada nessa
escola gerou sofrimento e desamparo durante os seis anos em que ali viveu.
(VALVERDE; RIVERAS, 2004, p. 28)
[...] Ouvi pela primeira vez o nome de Schweninger. Meu pai falou com
entusiasmo sobre ele, que devia ser um médico sob a graça divina, pois
conseguira obrigar Bismarck a obedecer. Eu nunca tinha ouvido da boca do
meu pai um elogio a qualquer médico e estava sinceramente convencido
de que só ele compreendia a Medicina. (GRODDECK 1929, 1994, p. 332)
9
Com o diploma de bacharel no bolso, deixei a escola estadual de Pforte
10
para estudar em Berlim , o domicílio dos meus pais. Pouco depois de
minha chegada, meu pai teve um derrame e faleceu em setembro do
mesmo ano. A primeiro de outubro ingressei, como estudante, no Instituto
de Educação para Médicos Militares. (GRODDECK 1929, 1994, p. 268).
2. Formação Profissional
A essa sugestão do pai para que Groddeck fosse médico se segue outra,
complementar: a de que fosse médico militar. E os motivos para isso são expostos,
de forma singela, por Groddeck:
Nas muitas conversas com esse homem (Villaret) ele tentava convencer-se
de que a carreira de médico militar, com o seu misto de obrigações rígidas
9
. Para uma avaliação sobre os efeitos dos seis anos e meio passados no Pforte na formação pessoal e intelectual
de Groddeck, ver Wolfgang Martynkewicz, p. 87-89.
10
. Sobre as razões, as consequências e os desdobramentos da mudança da família Groddeck para Berlim, ver
“Memórias” (GRODDECK 1929, 1994, p. 369- 370).
63
e da ampla liberdade médica, era adequado para o seu caçula, cuja vida
ainda não estava assentada e podia ser moldada. Ele pensava
provavelmente que, no serviço militar, esse menino sonhador pudesse
adquirir senso de realidade, do qual ele possuía uma grande porção.
Estava firmemente convencido de que nisso estava meu futuro [...]
(GRODDECK 1929, 1994, p. 371, 372)
11
. Lembranças do Pai, publicado inicialmente em Die Arché III, 8 ( 23 de setembro de 1927 ).
64
12
. 07 de maio de 1885
13
. Segundo Wolfgang Martynkewicz a data da morte do pai de Georg Groddeck é 22 de setembro de 1885.
65
14
. O molde para a ciência laboratorial foi criado no Instituto de Química de Justus von Liebig, na Universidade
de Giessen.
66
e, por extensão, pouco valor deram à terapêutica. É possível falar de uma atitude
médica, que tem um tom até certo ponto fatalista, chamada de “niilismo terapêutico”
e que segundo Roy Porter se define como a capacidade da medicina [...] em
compreender as doenças de que as pessoas morriam, mas não conseguir impedi-las
de morrer. (PORTER, 2004, p. 57). A atitude dos médicos para com as
possibilidades terapêuticas e curativas disponíveis nessa época pode ser ilustrada
pela afirmação, com a dose certa de ironia, feita por Oliver Wendell Holmes, ao
escrever, em 1891, seus Medical Essays:
15
[...] A nova medicina anátomo-clínica, que teve em Laënnec seu pioneiro
16
em Paris no Hôpital Necker, e Louis, no Hôtel Dieu, foi produto de
gigantescos hospitais públicos em que pesquisadores e alunos podiam
adquirir abundante experiência direta, tendo uma participação ativa. A
“clínica” (como passou a ser chamada essa medicina hospitalar) tornou-se
axial na medicina. Montaram-se instalações hospitalares para a realização
de exames post-mortem, que correlacionaram a patologia dos vivos com as
manifestações internas depois da morte. A observação em massa dos
pacientes permitiu que as doenças fossem identificadas ontologicamente
como entidades independentes, em vez de serem singulares em cada
caso, e a estatística criou perfis representativos das moléstias. Assim, além
de cuidar dos enfermos, o hospital oitocentista transformou-se no lugar por
excelência em que a doença podia ser exibida aos estudantes, no que se
converteu numa ronda padronizada dos pavilhões: sendo casos de
caridade, os pacientes não podiam reclamar. Além disso, os necrotérios
eram um local perfeito para preparar os estudantes e realizar pesquisas.
(Porter, 2004, p.175). [...] Assim, para Louis e seus colegas, a medicina
clínica era uma ciência da observação, a ser aprendida nos pavilhões
hospitalares e nos necrotérios, através da anotação e da explicação dos
fatos. A formação médica devia ser uma disciplina da explicação dos
aspectos visuais, dos sons e dos odores da doença – uma educação dos
sentidos. O julgamento clínico, verdadeiro ofício do médico, estava na
15
. René Théophile Hyacinthe Laënnec (1781 – 1826): inventor, em 1813, do estetoscópio, que era, e foi,
durante muito tempo, a grande inovação diagnóstica até por volta de 1895 quando se dá a descoberta do Raio X.
16
. Pierre Louis, que publicou, em 1834, Ensaios sobre a instrução clínica, nos quais estabelece os princípios do
que seria a nova medicina hospitalar. “[...] Este afirmou que os sintomas (isto é, o que o paciente sentia) tinham
um valor clínico secundário; muito mais importantes eram os sinais (o que o exame clínico constatava). Com
base nesses sinais, era possível determinar as lesões dos órgãos enfermos – que eram os guias mais objetivos
para identificar a doença, fazer prognósticos e sempre que possível, conceber remédios”. (PORTER, 2004, p. 99)
67
Como foi dito anteriormente, um dos discípulos de Johannes Muller foi Rudolf
Virchow, considerado o mais criativo dos pesquisadores médicos alemães. Virchow
é conhecido, entre outros resultados, pela sua máxima Omnis cellula e cellula (todas
as células provêm de células):
17
. Con la fisiologia scientifica nasce un nuovo paradigma che se impone sui concetti vitalistici dominanti
all’inizio del XIX secolo e sull’influsso del naturalismo romantico di Friedrich Wilhelm Schelling. La fisiologia
ispirata alla filosofia della natura di Schelling postulava l’unita di natura e spirito, indagava il concetto di vita e
rifiutava qualsiasi descrizione fisiologica isolata dei singoli fenomeni. La malattia non veniva spiegata con un
danno localizzato, bensi con uno squilibrio nella persona o tra l’individuo e l’ambiente. La fisiologia scientifica,
natta attorno al 1820, poneva le basi per nuove concezioni. Du Bois, Brücke, Helmholtz e Ludwig videro
nell’uomo una macchina bioquimica complessa. Du Bois-Reymond nel 1842 scrisse in una lettera: “Brücke e io
siamo promessi solennemente di far valere la verità secondo la quale nell’organismo nessun’altra forza è attiva,
se non le semplici forze fisico-chimiche”. Si tratta, come mostra la citazione, di un’alleanza orgogliosa di aver
superato le stupidaggini romantiche della speculazione con dati empirici. Nel periodo dell’industrializzazione e
della fondazione dell’imperio la fisiologia scientifica non è solo un metodo di indagine, bensi, come dice
Siegfried Bernfeld, una “Weltansschauung”.
69
Influenciou essa postura também o fato do nome de Virchow desde muito cedo estar
mencionado à Groddeck de uma forma muito negativa, seja pela posição que ele
assume, contrária à nomeação de Schweninger como médico do Charité,18 como
também pelas opiniões contrárias à Virchow emitidas pelo seu pai, não só em
relação aos seus métodos de cura como também por suas opiniões políticas.
Retornando à bio - bibliografia de Groddeck, será dentro deste contexto de
pesquisas, descobertas, materialismo científico, primazia do espírito reducionista, e
franca oposição em relação à filosofia especulativa do romantismo, que acontecerá a
primeira fase do processo de formação profissional, na área médica, e também na
esfera pessoal de Groddeck.
Neste momento, cabe citar a precisa observação feita pelo biógrafo
Martynkewicz:
18
. Hospital da Universidade de Berlim.
70
19
. Groddeck è entusiasta di aprendere la professione di medico, ma quanto più amplia le sue conoscenze
mediche, tanto più gli risulta difficile pensare di praticarle un giorno. L’immagine che ha del medico e della
medicina è stata influenzata dal padre e da concezioni romantiche e vitalistiche. [...] La scientifizzazione della
formazione e la standardizzazione del livello professionale furono introdotti all’inizio dell’Ottocento, ma si
affermarono solo nella seconda metá del secolo. Nel 1861 lo studio della fisica venne inserito nel corso di studi
di medicina al posto della filosofia. Il paradigma delle scienze naturali è subentrato a quello filosofico. Il
linguagio del medico si è separato da questo del filosofo. Ciò è visible, non da ultimo, anche nel colloquio tra
medico e paziente: la doamnda del medico non è piu: “Che cos’ha?, bensì “Dove le fa male?” L’esperienza e la
conoscenza medica sono ridotte a un rapporto, descrivibile empiricamente, tra sintomi, lesioni e organi malati.
Perché il fenomeno della malattia appaia in tutti i suoi collegamenti e combinazioni, il medico deve liberarse dai
segni diretamente visibili alla superficie e seguire le tracce della malattia oltre la sua mera manifestazione. Se il
medico nella tradizioen ippocratica era una sorta di indovino che si avvicianava al corpo da lontano e lo
osservava come una trama, ora si allontana dal visible e penetra nella profonditá del corpo. Cambia
l’angolazione. [...] Il sapere ordinato sulla base di annotazioni, classificazioni o esperimenti scientifici nel
decifrare la malattia doveva sempre astrarre dai processi vitali, dall’individuo. In questo Groddeck si trova in
difficoltá: come la maggior parte degli studenti di medicina di quel tempo è arrivato all’università con una
formazione umanistica non più adatta alle necessità della disciplina. Aveva imparato a interpretare, a spiegare e a
descrivere, ma non a separare,a scindere e a fissare. Lo sguardo anatomico, che trova la verità della malattia nel
corpo morto, su di lui ha un effetto ripugnante. Egli diffida di questa verità che si manifesta solamente nella
morte, nel cadavere. Solo con grande fatica riesce ad assimilare gli argomenti delle lezioni e a seguire il
programma.
71
[...] Ciência não é erudição, não é saber, mas aquilo que o saber cria; é o
alicerce imprescindível sobre o qual se constroem saber, conhecimento e
talento. E um homem de ciência é apenas aquele que lança tal alicerce ou,
pelo menos, trabalha nesse alicerce. Quem compreende este sentido da
palavra ciência não confunde o saber médico, a soma dos conhecimentos
anatômicos, fisiológicos, diagnósticos ou terapêuticos, com ciência médica.
Quando alguém é chamado um homem de ciência médica, isto significa:
esse homem descobriu a essência do pensamento e do agir médico,
estudou conscienciosamente a base e o terreno e, de acordo com esse
terreno e conforme a finalidade do ser médico, a partir do seu espírito e
pensamento traçou um plano de construção e lançou os fundamentos aos
quais poderiam ater-se os mestres de obras, até que seja imaginado um
plano novo, verdadeira ou aparentemente melhor. O essencial para o
criador da ciência médica é, portanto, o conhecimento da finalidade do
médico e o pensamento e o trabalho independentes para esta finalidade e,
finalmente, o que é mais importante, o acerto desse trabalho (GRODDECK
1925, 1994, p. 139, 140).
20
. Die Arché, I, 5 (10 de julho de 1925) em GRODDECK, 1994, p. 139-142.
72
[...] Sei que a máxima “Natura sanat, medicus curat” não foi descoberta por
Schweninger. Mas Schweninger foi o primeiro e, durante dezenas de anos,
o único médico moderno a reconhecê-la como ponto de partida, barreira e
objetivo da ciência médica. (GRODDECK 1925, 1994, p. 141)
21
. Aujourd’hui, le nom de Schweninger semble totalement inconnu. Les grandes encyclopédies française,
anglaises ou americaines ne le mentionnet ps. Tout au plus trouvons-nous, dans le Der grosse Brockhaus in
zwölf Banden (1980), trois ou quatre lignes indiquant, outra sa date de naissance et celle de son décés, sa qualité
de médecin de Bismarck. Par contre, la grande Encyclopédie française, de la fin du siécle dernier probablement,
consacre dans son tome 29 plus ligne à Schweninger : » Schweninger Ernst : médecin allemand contemporain,
né à Freistadt (Bavière) 15 juin 1850. Assistant de Buhl à Munich en 1870, il devint privat-docent en 1875. Il a
joui de la faveur spéciale de Bismarck, et a été nommé, grâce à lui, professeur à Université de Berlin en 1884,
puis membre extraordinaire du bureau de santé, et directeur de la clinique dermtologique à l’hôpital de la
Charité. En 1886, il a créé à Heidelberg un sanatorium spécial pour la cure de l’obésité d’aprés. [ ... ] Quant aux
histoires de la médecine, les différents ouvrages consultés ignorent totalement le nom de Schweninger.
22
Dans son ouvre, Freud ne fit jamais mention de Schweninger, sauf dans le « protocole original » de L’homme
aux rats ». Dans ce texte Freud rapporte une rêve de son patient dans lequel celui-ci était à la fois Schweninger et
Harden. (CHEMOUNI, 1984, p. 42)
23
. De fato, esta sentença é muito antiga, formulada inicialmente em latim arcaico conforme podemos ler no
Dicionário de Sentenças Latinas e Gregas. O seu autor, Renzo Tosi, ao comentar a sentença “Vis medicatrix
naturae” (“A força saneadora da natureza”) que de acordo com ele significa que a cura só é possível pela
capacidade natural de reação, escreve: [ ... ] Este conceito, porém, já se encontra em Hipócrates (por exemplo,
De fractoris 1,2); ainda goza de certa fama a medieval “Medicus curat, natura sanat” (“O médico cuida, a
natureza cura”) (TOSI, 2000, p. 353)
73
24
“El Psicoanalista Profano”, Fondo de Cultura Económica, México (1967); “L’analyste sauvage”, Press
Universitaires de France, Paris (1978).
75
Faz com que o chanceler se levante às oito da manhã para fazer exercícios
com pesos; durante todo o dia o paciente não deve comer senão arenques.
Quando Bismarck exclama: “Você deve estar completamente louco”,
Schweninger responde: “Muito bem, Alteza, será melhor que chame a um
veterinário. Dito isto Schweninger se vai. Este procedimento estabelece
seu poder sobre Bismarck, que se submete. Agora o doutor leva quinze
dias sem abandonar a casa de seu paciente. Os alimentos e a bebida, a
hora de levantar-se e de deitar-se, o trabalho e o sono, são
meticulosamente vigiados. Ao final deste período houve uma melhora
notável. Schweninger abandona a casa pela primeira vez. Neste momento,
o paciente ordena “uma porção tripla de creme”. Isto provoca uma violenta
gastralgia, seguida de icterícia e partida para Friedrischsruh. Ali o doutor
volta a vigiá-lo de perto e depois em Kissingen e Gastein não o deixa só
um dia. Depois de dois meses, o paciente está praticamente curado e
reconhece que pode voltar, rejuvenescido à fadiga do trabalho. Dominando
em vez de deixar-se dominar, Schweninger salva a vida de Bismarck.
25
. Para uma análise destes dois estilos de apresentação e o quanto estes estilos dificultam (ao criar lendas) ou
facilitam (ao situar o sujeito rigorosamente dentro do seu contexto histórico) o estudo criterioso de um autor, ver:
“Introduction: Biography, Fiction, History” (pg. 1-7) em Jung stripped bare by his biographers, even, Sonu
Shamdasani (Karnac Books, London, 2005).
76
26
. [...] Agresivo, vulgar, áspero, ruidoso, Schweninger ordenaba con frecuencia extraños tratamientos, y el de
Otto Von Bismarck fue típico. A los 68 años, Bismarck se había visto obligado a retirarse a su propiedad en el
campo “para restablecer su salud”. Su dieta, a pesar de la indigestión crónica y de una docena de otros síntomas
relacionados, no era precisamente la de un inválido. Emil Ludwig, en su biografía de Bismarck, describe una
comida en la que el canciller enfermo comió “libremente” sopa, anguilas, carne fría, langostinos, langostas,
carne ahumada, jamón crudo, carne asada y budín (¡ El canciller se quejaba, entre otras cosas, de falta de apetito!
). Schweninger fue llamad a consulta y estuvo de acuerdo con otros médicos en que, si no se hacía algo
inmediatamente, Bismarck no viviria seis meses; estaba irritable y apático, sufría de dolores de cabeza, venas
varicosas, insomnio, cólico, hinchazón de las piernas y dolores en la cara. Schweninger aceptó encargarse del
paciente, pero no en consulta con otros médicos; no sería responsable sino ante el proprio Bismarck. Ludwig
describe el procedimiento:
Hace que el canciller se levante a las ocho de la mañana para hacer ejercicios con pesas; durante todo el día el
paciente no debe comer sino arenques. Cuando Bismarck exclama:”!Usted debe de estar completamente loco!”,
Schweninger responde: “Muy bien, Alteza, será mejor que llame a un veterinário”. Dicho esto, Schweninger se
va. Este procedimiento estabelece su poder sobre Bismarck, quien se somete. Ahora el doctor lleva quince días
sin abandonar la casa de su paciente. Los alimentos y la bebida, la hora de levantarse y de acostarse, el trabalho y
el sueño, son meticulosamente vigilados. Al final deste período ha habido una notable mejoria. Schweninger
abandona la casa por primera vez. Al punto, el paciente ordena una “tripla porción de crema”. Se la produce una
violenta gastralgia, seguida de icterícia y partida hacia Friedrischsruth. Allí el doctor vuelve a vigilarlo de cerca
y después en Kissingen y Gastein no lo deja solo ni un dia. Después de un par de meses, el paciente está
práticamente curado y reconoce que puede volver, rejuvenecido a la fatiga del trabajo. Dominando en vez de
dejarse dominar, Schweninger le salva la vida a Bismarck.
Schweninger casi nunca empleaba drogas, pero si con frecuencia dietas extrañas. Propugnaba el ejercicio, la
hidroterapia y el masaje. No subestimaba la cuarta arma que empleaba, el dominio absoluto, y la utilizaba
conscientemente. Médicos excelentes habían fracasados con Bismarck porque se dejaban intimidar por el
paciente. Schweninger no se dejaba intimidar por nadie. Pero en las escuelas de medicina no se fabrican
autócratas; le resultaba difícil enseñar su método. Celebraba seminários frecuentes con sus discípulos y prestaba
especial atención a los que consideraba prometedores. Discutían sobre casos y formas de tratamiento, pero una y
otra vez resultaba obvio que un médico no podía sólo tener la aparencia de autoridade: tenia que tener esa
autoridad.
77
[...] Ele promove uma medicina da expectativa. O médico não deve intervir
no processo de cura natural, mas só sustentar e reforçar as defesas. Em
cada doença existe um determinismo que ao se retirar a ação médica pode
levar à morte ou à cura [...] Ele rejeita a procura da causa oculta de uma
doença; ao centro de sua teoria não busca aquilo que produz a doença,
mas aquilo que o libera dela. Não se interessa como respira uma pessoa e
que coisa significa respirar bem ou normalmente, a ele interessa como
ajudar e aliviar o sofrimento daquele que respira mal. Reprovará a medicina
científica de estudar a gênesis da doença abstraindo-a do processo vital.
27
(MARTYNKEWICZ, 2005, p. 101, 102)
[...] Peculiar nisto é seu carisma, que sobre Groddeck age como uma
vontade inflexível, na qual, porém ele não vê algum constrangimento, mas
uma alta exaltação. Agora tem uma tarefa: se tornar como Schweninger. E
partindo deste desejo estabelece suas próprias opiniões a respeito da
28
medicina. (MARTYNKEWICZ, 2005, p. 101)
27
. [...] Egli promove uma medicina dell’attesa. Il medico nao deve intervenire nei processi di cura naturale,
bensi solo sostenere e rinforzare le difese. In ogni malattia c’è un determinismo che si sottrae all’azione medica e
porta alla morte o alla guarigione. [...] Egli respinge la ricerca delle cause nascoste di una malattia; al centro
della su teoria non vi è ciò che produce la malattia, bensi ciò che libera da essa. Non chiede come repira una
persona e che cosa significhi respirare bene o normalmente, alui interessa come aiutare e alleviare la sofrenza di
chi respira male. Rimprovera alla medicina scientifica di studiare la genesi delle malattie astraendole dai processi
vitale.
28
. [...] Proprio in uesto è il suo carisma, che su Groddeck agisce come una volontà inflessibile, nella quale però
egli non vede alcuna costrizione, bensì un’autoesaltazione. Ora ha uno scopo: vuole diventare come
Schweninger. E partendo da questo desiderio fa proprie anche le sue opinioni riguardo alla medicina.
78
5. Tese de Doutorado
29
. [...] sapere della vita tutto cio è dato sapere nel proprio tempo.
30
. [...] Schweninger però non se aspetta dal suo laureando risultati necessariamente positivi, bensi una
documentazione dettagliata della completa inefficacia del farmaco. Groddeck deve scrivere una critica distruttiva
sul farmaco e afronta piacere uest’impresa. [...] Tanto il relatore uanto il laureando con i risultati del lavoro
mirano a un confronto con alcune autorità importanti del corpo dei medici che hanno consigliato caldamente
questo farmaco. Le ricerche sull’idrossilamina devo essere l’occasione per criticare in generale la produzione e
la diffusione scondirate di farmaci.
79
militar por um período de oito anos e isso ocorre a partir de 28 de junho de 1891
quando é designado para o Regimento de Infantaria Real em Brandenburgo. Sua ida
para o exército faz com que Groddeck interrompa seu trabalho como médico
assistente de Schweninger.
Neste período de trabalho como oficial médico - que vai de 28 de junho de
1891 até março de 1897 - além das obras escritas, dois fatos pessoais relevantes e
suas implicações posteriores marcam esta etapa da vida de Groddeck. Antes de
mencionar os acontecimentos, é importante salientar que esse período da sua vida
militar não é contínuo, tendo uma interrupção de um ano, a partir de maio de 1896,
por conta de uma dispensa, quando Groddeck volta a trabalhar como assistente de
Schweninger em sua clínica em Berlim. Uma outra observação é que neste tempo
de vida militar, que se inicia no Regimento de Infantaria Real em Brandenburgo,
Groddeck é transferido 3 vezes: inicialmente para Ueckermunde (1892) onde vai
supervisionar a higiene das embarcações fluviais; posteriormente volta para
Brandenburgo, e por último, é transferido para a escola de formação de Oficiais em
Weilburg33 (1894), onde permanece até obter a dispensa, por motivos de saúde, em
março de 1897. Sobre a sua permanência em WeilburgVIII e de uma dificuldade muito
específica, Groddeck escreverá:
com a mãe havia ocorrido quando ela vivia em Ilmenau, onde havia aberto um
pensionato para jovens e que logo seria fechado por motivos econômicos. Groddeck
recordará:
[...] Depois da morte do meu pai, minha mãe tentou novamente criar para si
mesma um campo de atividade: empregou uma pequena herança que
recebera de uma amiga de juventude – eram apenas algumas centenas de
marcos -, para fundar um lar para moças; para isso, mudou-se para
Ilmenau. [...] Passei com ela em Ilmenau algumas semanas e lembro-me
desse tempo com uma especial sensação de prazer. O natural nas
relações entre mim e minha mãe voltara a ser como no tempo da infância,
só que era diferente o plano em que este convívio de compreensão era
vivido no falar e no calar; assim continuou até a morte de minha mãe,
éramos adultos dados um ao outro com caminhos próprios. (GRODDECK
1929, 1994, p. 377)
34
. [...] viene preso da forti sensi di colpa. Esteriormente questo potrebbe essere collegato soprattutto al suo
arrivo tardivo al capezzale della madre e al fatto di non essere riuscito a vederla ancora cosciente. La sue ultime
visite frettolose, le lettere scritte con irregolarità e con lunghi intervalli, tutto questo ora gli agrava sull’animo.
35
Scommetto di giorno in giorno sempre di più sui massaggi e questo è il campo nel quale mi piacerebbe
vederti. Forse ho molto sucesso perchè faccio tutto da solo. Tu non vehai voglia? Fra pocchi anni i massaggi
avranno una grossa rilevanza nella cura delle malattie femminili. Una donna che sia capace di farli potrà contare
su un guadagno di parecchie migliaia di marchi; in uesto modo saresti completamente autonoma. Al riguardo ti
posso insegnare cose che nessun altro sa.
82
36
. Il cambiamento più importante di questo periodo comunque è senza dubbio legato al rapporto con Else von
der Grotz. Groddeck l’ha conosciuta come paziente. È la moglie del consigliere regionale Friedrich von der
Goltz, di uattordici anni più vecchio di lei. Quando si sono sposati la donna non aveva ancora compiuto
diciannove anni. Dal matrimonio sono natti due bambini: Ursula, l’11sttembre 1889 e Joachim, il 19 marzo
1892. Nel periodo in cui Else incontra Groddeck il matrimonio è già in crisi e la separazione è solo una questione
di tempo. Else vonder Grotz, che Groddeck nel diario chiama Elfe, è di una belezza straorninaria, è colta e
possiede un grande talento musicale. Già prima del matrimonio con Friedrich von der Goltz si era esibita come
pianista e cantante e le sue doti riscuotevano l’ammirazione generale.
37
. Era uma clínica, o Lichtenfelder-Kreiskrankenhaus, famosa por seu atendimento e por ter bons resultados no
tratamento e cura de emagrecimento.
38
. [ ... ] La fama che Groddeck porta con sé a Baden-Baden gli deriva da Schweninger, che lo ha espressamente
raccomandato e che qui ha molti sostenitori e conoscenti di rango. Anche i pazienti vengono inviati a Groddeck
prevalentemente dal maestro, che a Berlino cura un’illustre schiera di malati, mentre il suo allievo deve
rappresentarlo nella sua dépendance di Baden-Baden. È questo un compito per niente facile, perchè le guarigioni
di Schweninger, come saranno più tardi quelle di Groddeck, dipendono completamente dalla persona dl medico,
dalla sua presenza. Che il medico debba essere, non agire, è un’esperienza che Groddeck ha fatto con il maestro.
83
39
. Em março de 1898 Groddeck aluga um apartamento e um pequeno estúdio na Yburgstrasse, 7
40
.1889: Uber des Hydroxylamin und seine Verwendung in der Therapie der Hauntkrankheuen (“Sobre
a Hidroxilamina e sua aplicação no tratamento das enfermidades cutâneas”) - Tese de Doutorado.
1890: Das Hydroxylamin und die Schweningerkur (“A Hidroxilamina e a terapia de Schweninger”) -
Monatsheft für Praktische Dermatologie, 10, p. 349-354.
1892-1893: Hetzrein (“Heresias”) - Hygieia. Monatsschrift für Hygienisch Aufklärung und Reform.
Publicado com o pseudônimo de Cain;
: Rezeptschwindel (“O Embuste das receitas”) - Hygieia 6, caderno1;
: Lainweisheir (“Sabedoria leiga”) - Hygieia 6, caderno 1;
:Einiges über moderne Kollegialität (“Apontamentos sobre o coleguismo moderno”) - Hygieia, caderno 7;
: Kunst und Wissenschaft in der Medizen (“Arte e Ciência Médica”) - Hygieia 6, caderno especial;
: Krankheit (“Doenças”) - Hygieia 7, caderno 1;
: Die Schurzmassregeln gegen die Cholera (“As medidas de proteção contra o cólera”) - Hygieia 6, p. 481-484.
Publicado com o pseudônimo de Cain.
1893 – 1894: Arzteschulen (“Escola para médicos”) - Hygieia 7, caderno 8;
:Kur und Kuren (“Cura e curas)- Bibliothek des gesamten Medizinischen Wissenschften für Pratik Ärzti.
Viena. Publicado em conjunto com Schweninger;
1894 – 1895: Krankendiaet (“A dieta dos doentes”) - Bibliotek des gesamten Medizinischen Wissenschften
für Pratik Ärzti, Viena. Publicado em conjunto com Schweninger.
: Behring und Virchow (“Behring und Virchow”) - Hygieia 8, caderno 3;
1896: Konstipation (“Constipação”) - Bibliotek des gesamten Medinischen Wissenschaften für Pratik Ärzt,
Viena. Publicado em conjunto com Schweninger,
1899: Uber Messen und Wägen in der Ärtzheim Tätigkeit (“Sobre a medida e a pesagem na atividade médica”)
- Wiener Medizinische Press 40, pags. 1752 – 1762, 1810-1. Os textos
grifados são comentados no corpo do texto.
84
intelectual serviu também para ajudá-lo a suportar o tédio que sentia no seu dia-a-
dia.
Em 1893, Groddeck publica em um número especial da revista Hygieia
(periódico que tem como subtítulo: Revista Mensal para a Ciência da Saúde Pública
e Cura da Saúde Pessoal), o artigo Kunst und Wissenschaft in der Medizin e
segundo comentário de Wolfgang Martynkewicz:
41
. [...] È um attaco frontale diretto contro la medicina come scienza e a favore di una medicina tradizionale. La
medicina moderna scientifica è fallita; i successi ottenuti nel XIX secolo, constata Groddeck ironico, soni tutti
nel campo del “corpo umano morto”, nella terapia invece non è cambiato nulla. La medicina comunque non è
interessata a progredire in questo settore, [...] La medicina non è a dispozione dei malati. I malati sono a
disposizione della medicina. Il saggio segue l’onda di un malessere generale che si avverte nel XIX secolo nei
confronti del progresso scientifico i utilizza una lingua formale e polemica. [...] I lavori che Groddeck scrive nei
decenni successivi si muovono nella scia della critica culturale conservatrice. Kunst und Wissenschaft in der
Medezin rappresenta l’inizio programmatico e indica la direzione: in nome della totalità, dell’originalità e della
naturalità la medicina deve nuovamente occuparsi del testo della vita e da esso spiegare e compreendere i
sintomi della malattia.
85
suas relações” )42 e escreve: O homem é o produto dos seus antepassados e da sua
condição de vida. ( citado em MARTYNKEWICZ, 2005, pag. 113 )43 e comentado as
semelhanças e diferenças teóricas entre Virchow e Groddeck escreve Martynkewicz:
[...] No tratamento não se faz diferença entre são e doente e menos ainda
entre doenças do corpo e doenças psíquicas. O papel da fantasia reprimida
ou recalcada no surgimento da doença, que Groddeck mais tarde elevará a
um ponto de referência causal que determina cada coisa, neste período
não é absolutamente considerado. Somente no trabalho sobre
45
constipação, publicado em 1896, fala pela primeira de certo influxo do
46
fator psíquico. (MARTYNKEWICZ, 2005, p. 115)
42
. L’uomo è il prodotto delle sue relazioni.( Texto de Virchow, citado em: MARTYNKEWICZ,2005, pag.113 ).
43
[...] L’uomo è il prodotto dei suoi antenati e delle sue condizioni di vita.
44
.. Entrambi partono dal presupposto che l’adeguatezza o meno delle condizioni di vita è decisiva per la salute e
la malattia. Mentre Virchow pensa di poter controllare alcune malattie con un miglioramento delle condizioni di
vita, delle condizioni igieniche, della cultura e dell’educazione, Groddeck è molto più pessimista; [ ... ] Ciò che
fa ammalare gli uomini dipende in fondo dalla dispozione personale e dal singolo caso. Da questo Groddeck
deduce il principio terapeutico della personalizzazione, um principio del quale nel XIX secolo si appropriano
persone appartenenti a correnti completamente diversi. [ ... ] Nel principio della personalizzazione emerge lo
scetticismo verso tutti i metodi di cura che tendono a generalizzare e a schematizzare. Nella scuola di
Schweninger la personalizzazione viene sostenuta con particolari enfasi e si rivolge in equale misura contro la
medicina scientifica e contro quella sociale.
45
. Escrito junto com Schweninger e publicado em 1896 na Bibliotek des gesamten Medizinischen
Wissenschaften für Pratik Ärztl ( Viena ).
46
. [...] Nel tratamento non si fa differenza tra sano e malato e neppure tra mallatie del corpo e malattie
psichiche. Il ruolo delle fantasie represse o rimosse nell’insorgenza della malattia, che Groddeck più tardi eleverà
a punto di riferimento causale che determina ogni cosa, in questo periodo non viene assolutamente considerato.
Solo nel saggio sulla stipsi, publicato nel 1896, parla per la volta di un certo influsso dei fattori psichici.
86
Em 1894 escreve o trabalho Kur und Kuren, no qual postula de forma clara o
princípio da personalização como fundamento de todo tipo de tratamento e cura: “A
respeito de toda ‘cura’ é necessário criar uma unidade, a ‘cura personalizada. [...] É a
única que tem validade geral. Essa na verdade supõe uma acurada apreciação de todos
os pontos vitais acessíveis, exteriores e interiores”. (GRODDECK in MARTYNKEWICZ,
2005, p. 114)47 e:
47
. Rispetto a tutte le ‘cure’ bisogna creare um’unità, la cura personalizzata. È l’unica ad avere validità generale”
Essa infanti sottopone “a un accurato apprezzamento tutti i punti vitali accessibili, esteriori e interiori”.
48
. “Quindi, per ristabilire uno strato di benessere, essa non si limita affatto, como evidenzia Groddeck, agli
interventi puramente; alla cura personalizzata interessa molto di più l’approccio olistico, globale alle modalità di
vita, allo scopo di redigere un nuovo ‘regime’ di prescrizioni e di regole. In questo modo al medico viene
attribuito “un notevole predominio psichico sul malato”; giá solo “l’influsso morale” del medico, dice Groddeck,
“spesso è sufficiente per portare a un miglioramento e alla guarigione”.
49
[...] Considera privi di valore i resultati della fisiologia alimentare, perché l’uomo non ha un determinato
bisogno di proteine, carboidrati e grassi. L’uomo, secondo Groddeck, non vive di ciò che ingerisce, bensì di ciò
che digerisce e di come lo digerisce, vive di ciò che utilizza e consume e che il suo corpo assimila.[ ... ] In fondo,
dice Groddeck, non è assolutamente importante ciò che l’uomo mangia, bensì con quali intervalli e in quali
porzioni assume il cibo. Invece di documentare nei particolari le sue supposizioni, Groddeck si rifugia nel
generico e alla fine del saggio avvia una polemica contro la medicina. Lo scritto presenta tesi già abbastanza
conosciute. È debitore soprattutto della terapia dietetica, tanto più che la dieta, insieme ai massaggi e ai bagni
caldi, è una delle componenti principali delle cure di Schweninger.
87
50
[...] Schweninger è stanco e facilmente influenzabile.
88
Mas a solução oferecida pela vida e pelas circunstâncias foi uma solução
intermediária: ao obter uma dispensa da atividade militar em março de 1896,
Groddeck vai trabalhar como médico assistente da clínica de Schweninger em
Berlim. Até este ponto a vida pessoal de Groddeck já foi contada anteriormente e
seguimos agora com sua vida e seu trabalho a partir do seu período em Baden-
Baden.
51
.[...] Due sono le possibilitá concrete: entrare in um ambulatório come assistente, per poi um giorno rendersi
indipendente, oppure, come gli consiglia il fratello Carl, affermarsi come ufficiale medico a Weilburg e, forse,
sperare addirittura in una carriera nell’esercito.
89
52
. I massagi, riferisce Cohn, vengono praticati tre volte al giorno dal medico in persona con “un metodo del
tutto particolare” [...] prima della colazione, prima del pranzo e prima di cena, ogni volta per un quarto d’ora. Il
paziente rimane sdraiato su un divano, con le cosce leggermente sollevate verso il busto e le ginocchia piegate,
per rilassare i muscoli dell’addome, mentre sorregge il capo con le mani”. Cohn subdivide il procedimento del
massaggio en tre fasi: Per prima cosa il medico “dà dei colpetti” con i pugni chiusi sulla zona della fossetta
epigrastica, prima leggermente, poi premendo semre di più, fino ad affondare il più possible i pugni; tutto questo
mentre il paziente deve cercare di respirare profondamente. Nei primi giorni non è possibili farlo più di cinque
volte, perchè il movimento del diaframma, soto questa pressione, è molto faticoso. Segue poi la fase chiamata da
Cohn il “pizzicare”: “Il medico prende tra le mani gli strati adiposi dell’addome, con la massima estensione e in
orizzontale, schiaccia poi i cuscinetti di grasso con tale e forza che sulla pelle si formano macchie marroni e blu.
Durante questa operazione i malati piagnucolano e si lamentano: è la parte più dolorosa di tutto il trattamento”.
Infine, dice Cohn, “il medico salta con tutta la sua persona sull addome del paziente, in modo tale che entrambe
le ginocchia affondino in profondità nella fossetta epigrastica. Il medico rimane in ginocchio sul malato finché
questi non abbia fatto, all’inizio cinque, sette, poi dieci respiri profondi, fino ad arrivare a trenta. [...] Il dottor
Groddeck è paricolarmente bravo e precio in questo tipo di massaggio”. Come seconda componente del
trattamento vengono descritti i bagni caldi: Non si trata qui di bagni integrali, bensì di bagni di specifiche parti
del corpo. Il primo giorno, al mattino, dopo il massaggio viene prescrito il bagno caldo delle braccia, il secondo
giorno il bagno caldo dei piedi e il terzo il bagno caldo delle natiche, e si prosegue ogni giorno con questo
ordine. Schweninger ha construito vasche particolari perle braccia e per i piedi. Le vasche per le braccia sono
grosse casse di latta, poste un tavolo, hanno un coperchio con due buchi e sono riempite con acqua a 360
90
Réamur. Nella parte superiore c’è una bocchetta d’afflusso e di lato un tubo collegato a un rubinetto, che porta a
un secchio. Il malato infila nella vasca le braccia fino alla spalla, lasciando gli avambracci e le mani posate sulle
cinghie tese all’interno della vasca. Le braccia rimangono venti minuti a bagno, mentre viene versata
continuamente nuova acqua calda fino a quando la temperatura raggiunge lentamente i 400 Réamur. [...] Le
vasche per i piedi si distinguono dai secchi normali per il fatto che sono a forma di stivale, in modo che tutta la
base del piede possa poggiare comodamente, mentre la gamba rimane piegata ad angolo reto. [...] Il terzo giorno
viene fatto un bagno alle natiche, alla stesa temperatura. La terza componente della cura di Schweninger è la
dieta. Prima di parlare delle pientanze, Cohn racconta di “come i pasti vengano serviti in piccole porzioni e con
altrettanto picole stoviglie. I bicchieri sono quelli delle bambole, che contengono meno di 50 grammi d’acqua.
Anche i piatti sono quelli delle bambole, che possono contenere al massimo una fetta di carne. I coltelli e le
forchette sono pure molto piccoli. E tutto questo ha un’azione suggestiva benefica: sembra di aver bevuto e
mangiato di più quanto in realtà non si sia ricevulto”. Oltre alla forma esteriori, secondo Cohn si cura soprattutto
il ritmo della somministrazione dei pasti. Con grande puntualità, ogni tre ore viene servito un nuovo pasto: “la
prima colazione attorno alle sette e mezzo, la seconda attorno alle dieci e mezzo, all’una e mezzo il pranzo, alle
quattro e mezzo la merenda e la cena alle sette e mezzo”. Con il passare del tempo Groddeck modifica e integra
la cura. I massaggi e i bagni caldi rimangono sostanzialmente gli stessi; l’importanza della dieta viene invece
ridimensionata e alla fine addirittura considerata un provvedimento dannoso. La cura per il mommento è di tipo
puramente fisioterapico, deve solo rafforzare in generale la resistenza del corpo e favorire i processi naturali di
guarigione. Un ruolo centrale, soprattutto per i massaggi e per i bagni caldi, è ricoperto dal dolore procurato a
scopo terapeutico, che sugli uomini dovrebbe avere valore educatico.
53
. Em 23 de março de 1901, nasce sua filha Barbara. (falece em 7 de agosto de 1957).
54
.1901: Einiges über die Bedeutung mechanischen Vorgänge im Bauch (“Algumas considerações sobre o
significado dos processos mecânicos no ventre”). Wiener Medizinische Presse, 42, 1455-1459 e 1534 –1538.
1903: Ein Frauenproblem (“Um Problema de Mulher”). C.J. Naumann, Leipzig
1905: Ein Kind der Erde (“Um Filho da Terra” 2 vols.). Herzel, Lepzig.
Uber die Mechanik des Wachsturs (“Sobre o mecanismo do crescimento“). Wiener Medizinische Press
46, 1184 –1188.
1906: Bemerkungen über mechanische Kräfte in menschlischen Korper (“Considerações sobre forças
mecânicas no corpo humano”). Archiv für physikalisch-diatetische Therapie in der Ärtzliche Práxis, 8, 8-12.
Die Wasserverteilung in Körpen (“A distribuição da água no corpo”). Idem. 8, no 3.
Die Wasserbewegung in Körpen (“A circulação da água no corpo”). Idem. 8, no 4.
Wasserfülle und Wasserarmut (“Abundância e falta de água”). Idem 8, no 5.
Die Hochzeit des Dionysos (“As Núpcias de Dioniso”) E. Pierson, Dresden
1908: Studien über die Rolle des Wassers in menschlichen Organismus (“Estudos sobre o papel da água no
organismo humano”). Zeitschrift für den Ausbau der Entwickelugslehre 2, cadernos 3 e 4.
1909: Der Pfarrer von Langewiesche (“O Pastor de Langewiesche”). Publicado como folhetim no Frankfurter
Zeitung (março e abril).
Hiz zu Gottnatur (“Rumo ao Deus-Natureza”). Verlag von S. Hirzel. Leipzig
91
Roger Lewinter, o editor do livro “Écrits de Jeunesse”, que contém dois textos
literários58, não-médicos, de Groddeck, ao comentar sobre o estilo de apresentação
de Un Problème de Femme (Ein Frauenproblem) escreve:
1910: Tragödie oder Komödie? EineFrage na die Ibsenleser (“Tragédia ou Comédia? Uma questão para os
leitores de Ibsen”). Verlag von S.Hirzel. Leipzig.
1913: Nasamecu, natura sanat, medicus curat. Der Gesunde und der kranke Mensch Geimeinverständlich
Argestelt (“Nasamecu, a natureza cura, médico trata. O Homem São e o Homem Doente representados de
maneira compreensível a todos”). Verlag von S. Hirzel, Leipzig.
55
. [...] nel caso di Groddeck la dedica e il contenuto sono strettamente correlati. Ciò che egli dice in questo libro
è rivolto sempre anche alla moglie e, [...] questo regalo de Natale è un’epistola e contemporaneamente un
manifesto della misoginia.
56
. [...] anche un lettore pieno di buona volontà perde la pazienza.
57
. [...] Quanto alla forma, la mia prima impressione è stata estremamente positiva. [...] La seconda invece è
quella che il libro si lasci leggere con una certa difficoltà; [...] per me risulta una lettura difficile. [...] È tutto
conciso, teso, con frasi brevi e con quello che in musica si chiama, credo, “ritmo sostenuto”.
58
. Ein Frauenproblem (1903); Der Pfarrer von Langewiesche (1909).
92
E que temas são discutidos por Groddeck, dentro desta forma tão peculiar de
apresentação? E que relevância tem para a sua obra posterior? As discussões giram
em torno de questões como a ciência, a arte, a angústia, o sentimentalismo, o amor,
a família, a educação, o crescimento da mulher, o homem, a mulher, a criança; com
cada um desses temas sendo tratados em capítulos específicos.
A exposição e a análise detalhada de cada um desses temas estão fora do
âmbito deste trabalho, mas duas questões são formuladas aqui pela primeira vez e
vão percorrer a obra de Groddeck, merecendo em outros tempos um maior
aprofundamento, a partir de outros recursos teóricos. O fato é que a presença destes
temas, já no início de sua trajetória intelectual, revela muito de sua originalidade: a
mulher-mãe e a criança.
Na primeira questão, duas formas de apresentação estão presentes: as
colocações que Groddeck faz a respeito da mulher, que transitam entre o elogio, a
análise histórica e críticas ferinas às conquistas intelectuais das mulheres, e a
mulher como mãe, que seria para ele a imagem privilegiada da mulher. Segundo
Groddeck:
[...] mãe é o instrumento criador da eternidade. O amor maternal é o
60
começo e o fim de todo amor (GRODDECK 1903, 1992, p. 57)
[...] um amor superior vive na mulher, o amor à eternidade. O amor
maternal é o começo e o fim de todo amor. (GRODDECK 1903, 1992, p.
61
58)
[...] o amor da mãe, que é a origem e a continuação de toda a vida. O amor
é o melhor educador. Este amor floresce, e é imperecível, como a mulher.
62
(GRODDECK 1903, 1992, p. 79)
59
. [...] Le découpage formel du texte, cependant, en séquences ininterrompues – la typographie, voulue par
Groddeck, supprime tout espace entre les paragraphes d’un même chapitre – [...] la prosodie des phrases,
lapidaires mais comprises dans un flux continu; l’articulation de l’oeuvre, enfin, en développements qui
résument les donnés historiques, et en passages essentiellement lyriques qui culminent dans une exaltation
visionnaire...
60
. [...] la mère est l’instrument créateur de l’éternité. L’amour maternel est commencement et fin de tout amour.
61
. [...]Un amour supérieur vita dans la femme, l’amour de l’éternité. L’amour maternel est commencement et
fin de tout amour.
62
. [...] l’amour de la mère, qui est l’origine et la continuation de toute vie. L’amour est le meilleur éducateur .
Cet amour fleurit, et il est impérissable, comme la femme.
93
E este amor maternal é que dará à mulher, mais do que o amor pelo homem, a sua
plenitude. Em seu comentário sobre este trecho do livro, Jacquy Chemouni escreve:
63
. [...] Et c’est alors l’avènement de la femme : Femme et mère se fondent dans un même moule. Elles
constituent l’essence de l’être feminin qui a contribué à la disparition de l’homme. À la fin de son ouvrage, il
peut affirmer que « l’homme disparaît, mais la femme est éternelle ».
64
. Com este lema ele encerra a sua primeira conferência (16 de agosto de 1916): [ ... ] O resultado da vida
humana é ser uma criança (GRODDECK, 2005, p.5) [...] L’esito della vita umana è di essere bambino}. E o
mesmo é explorado em outras das suas conferências psicanalíticas.
65
. [...] Alors tu deviendras un enfant, et plus encore: un être humain
66
. Le soleil brille uniquement pour lui, les arbres portent des fruits uniquement pour lui, la mère vit uniquement
pour lui. L’enfant crée ses propres mondes, pour être libre et libérer. [ ... ] Par eux, tu deviendras libre, par eux,
tu deviendras un enfant, et plus encore : un être humain.
67
. [ ... ] la mère et son enfant, un temps du moins, forment une unité indissociable.
68
. A partir das Conferências Psicanalíticas.
94
69
. Au même titre que Winnicott et que l’Ecole psychanalitique hongroise, mais de façon toute différente, il
établit une psychanalyse centrée exclusivemente sur la mère, sur l’espace qu’elle instaure dans la vie de chaque
être humain [ ... ] A Freud, dont l’ouvre s’est surtout préoccupée de comprendre la place du père, Groddeck
répond par une psychanalyse qui, sans, s’opposer aux idées du fondateur de la psychanalyse, voit en la mère et
en sa fonction le pivot de l’existence.
70
. [ ... ] Wolfgang Guntram è il figlio minore di un padre severo e di una madre sensibile e tenera e cresce
solitario tra i fratelli maggiori.
71
. Il 12 gennaio 1905 Groddeck comunica Al fratello che il libro uscirà la primavera seguente presso l’editore
S. Hirzel di Lipsia. [ ... ] Quanto al titolo, segue il consiglio del fratello e lo cambia in Ein Kind der Erde.
95
Em 30 de março, sai o romance em 2 volumes Ein Kind der Erde e “[...] em abril
a editora envia a Groddeck uma breve crítica, que poderia ser considerada como
positiva. [...] Em julho a editora comunica que o livro não está vendendo bem”.
(MARTYNKEWICZ, 2005, p. 181) 72
O tema central dos escritos de Groddeck, produzidos em 1905 e publicados em
1906 no Archiv für physikalisch-diätetische Therapie in der ärztlichen Praxis (ver nota
52 ) é:
72
. [ ... ] In aprile l’editore invia a Groddeck una breve critica, che questi stenta a considerare positiva. [ ... ] A
luglio l’editore comunica che il libro non si vende bene.
73
. [ ... ] Il tema centrale di questi è l’’insorgere e lo sviluppo di malattie a causa dell’influsso esercitato dalla
distribuzione e dal movimento dell’acqua nel corpo. Groddeck ritiene che variazioni nella distribuzione di acqua
e di umori causino, o perlomeno favoriscano, la formazione di determinate malattie, tra le quali egli annovera
poliartriti e malatie cardiocircolatorie. Secondo Groddeck i responsabili della mancata distribuzione dell’acqua e
dell’alterazione del suo peso specifico sono le abitudini di vita moderne, che hanno portanto a uno squilibrio,
così che i liquidi rimangono blocatti in determinati organi e parti del corpo e non circolano più, [ ... ] L’acqua
viene spostata con il movimento e non può accumularsi negli spazi interstiziali e neppure nelle cavitá delle
articolazioni e del corpo. Con l’attività fisica, gli esercizi di respirazione e i massaggi si dovrebbe ottenere una
ridistribuzione dei liquidi nel corpo. Con questi terapia Groddeck si aspetta benefici non solo per disturbi fisici,
ma anche per sintomi psichici quali l’isteria, la neurastenia e le ossessioni.
74
. Após um período sofrendo de hidropsia, Carl Groddeck morre em 6 de maio de 1909.
96
75
. Avec Nasamecu nous sommes au coeur de l’enseignemente et de la pensée de Schweninger. [ ... ] De la
philosophie médicale schweningerienne à Nasamecu, il existe une véritable filiation intellectuelle, filiation que
Groddeck, engagé totalement dans la psychanalyse ... .
98
10. Senhorita G.
A primeira menção que Groddeck faz à esta paciente, está na carta que
escreve a Freud, em 27 de maio de 1917:
77
[...] Em 1909, portanto, três anos antes da publicação desse livro ,
comecei a tratar uma senhora cuja observação me levou ao mesmo
caminho que, mais tarde, passei a conhecer como sendo o da psicanálise.
Posso garantir, com certeza, que aquela doente não conhecia nem mesmo
76
. [...] Selon Schweninger, « le médecin est un souverain » ; sa pratique s’apparente à l’ art, [...] Cet art dépend
de la force et de la supériorité du médecin. [...] L’expérience permet au médecin d’affirmer son art, alors que
l’amour empêche l’ installation d’une véritable relation médecin-malade. [...] La grande expérience est la vie
elle-même. [...] L’idée centrale de la philosophie de Schweninger est que le médecin n’est pas un scientifique,
mais un artiste. Avec des éclairages différents – historique, sociologique, philosophique, etc. – il tente de dire en
quoi la pratique médicale est un art. L’art est éternel.[...] En ce sens, l’art ne constitue pas un savoir mais résulte
d’une activité innée. Il s’élève contre l’idée, alors prévalente, que l’activité du médecin consiste essentiellement
à appliquer des connaissances scientifiques. [...] La science est de peu secours dans la relation médecin-malade.
[...] Le fait de soigner est identique à travers les temps.[...] Un Hipocrates, par son art de soigner, peut être
considéré aujourd’hui encore comme médecin [...] Son art de soigner n’est pas inférieur à celui des médecins
formés à l’université. Ce que le médecin est capable d’apporter à son patient est identique au cours des tems,
seule la forme change. On n’établit pas de meilleures relations médecin-malade parce qu’on vit au XX siècle, la
condition humaine étant toujours la même. [...] Seule les moyens mis à la disposition du médecin se modifient,la
qualité de son travail, essentiellement de son travail relationnel, est semblable. L’art du médecin résulte d’un
savoir inné : il est propre à l’homme. L’art n’est que la forme visible de ce savoir. La richesse technique,
scientifique ne pourra rien changer. [...] Art et science s’opposent donc comme le naturel s’oppose au culturel.
Seule l’experience leur sert de dénominateur commum. [...] Schweninger critique la formation du médecin,
refuse qu’un diplôme puisse sanctioner la profession médicale ;[...] est medecin à partir de la capacité à établir
une relation avec autrui dans ce qui qu’il a de plus personnel, de plus intime. Le médecin est en quelque sorte
une instituition naturelle ; nul besoin de diplôme pour le définir. La capacité de chacun à devenir médecin
dépend de son niveau personnel de maturité. La profession médicale exige qu’on accède à une certaine maturité
face à la vie, afin de l’affronter dans les meilleures conditions. La meilleure école pour devenir médecin est la
vie elle-même.La tâche du médecin n’est pas de guérir la maladie. [...] Son rôle est de soigner : « l’activité du
médecin n’est pas de guérir, mais de soigner » [...] Quelle que soit la subtilité de l’art du médecin, il ne guérit
jamais la maladie. Un corp restitué dans sa saine intégrité, n’est lóuvre que de la nature : « Natura sanat Medicus
curat ! », c’est-à-dire : la nature guérit, le médecin soigne.[...] Si le médecin ne peut guérir, il ne peut non plus
soigner la maladie, la maladie n’existant pas pour le médecin. Dans sa pratique, il est face à des hommes
malades. [...] La maladie apparaît alors pour Schweninger comme une abstraction, une abstraction nécessaire à la
pensée. [ ... ] Ainsi est-il absurde de parler de la maladie personelle d’un individu. Nous sommes en présence
uniquement d’êtres humains malades, jamais de maladie.
77
. Nasamecu.
99
Na carta 31:
Desta vez me sinto na obrigação de abordar algo que deveria haver tratado
anteriormente: as associações de palavras. [...] a audição de uma palavra
determinada acarreta um sem fim de associações completamente
estranhas ao tema. [...] Nem todas estas associações podem ser reduzidas
imediatamente a fenômenos sexuais, porém, na vida de todo ser humano
existe uma quantidade tal de recordações agradáveis e desagradáveis, de
sonhos e histórias esboçadas, que resulta surpreendente que o som das
palavras não provoque mais danos que o que já provocou. Todas as
nossas preocupações são produzidas por associações que se
desenvolvem no subconsciente, porém que podem ser percebidas se
78
. [...] Dovunque possiamo trovare simboli. È importante che le cose non siano chiuse in se stesse, che il mare
non sia soltano il mare ma anche la madre, che la chiesa non sia soltanto la chiesa ma anhe la madre, che i
pensieri sull’eternità siano la madre. Il mondo è pieno di simboli. In questo sta il senso dei diversi miti relativi
all’omicidio della madre, del padre, del figlio, dei fratelli e delle sorelle. I miti istruiscono sui più profondi
sentimenti dell’uomo e si fanno intendere a patto che noi riusciamo a coglierne la valenza simbolica.
101
79
. Me siento in obbligo oggi di parlare di un argomento che avrei già dovuto affrontare da tempo: le
associazioni di parole.[...] ascoltare una data parola possa scatenare una ridda di associazioni che nulla hanno a
che fare con la conversazione che si sta svolgendo. [...] Tutte queste associazioni non sono da ricondurre
immediatamente a fenomeni sessuali, ma coinvolgono la vita dell’essere umano nella sua interezza: c’é in ogni
uomo una tale massa di ricordi piacevoli e spiacevoli, di fantasticherie e di storie irrisolte, che è stupefacente che
il suono delle parole non provochi più danni di quanto già non faccia.
80
. Na sua atividade como médico, já no período anterior à Primeira Guerra, Groddeck reconhece que o
tratamento psíquico está sempre presente no tratamento, e é o ponto de partida de todo procedimento terapêutico.
Mas como veremos nos comentários acerca do Nasamecu, este tratamento é baseado na sugestão: “[ ... ]
Imagina-se que um tratamento psíquico, uma terapêutica pela sugestão somente é útil para as pessoas ditas
nervosas. Este é um grave erro. O tratamento psíquico se coloca no início mesmo de todo tratamento.
(GRODDECK, 1980, p.102) { [ ... ] On s’imagine souvent qu’un traitement psychique, une thérapeutique par la
102
É importante mais uma vez salientar que esse caso só é relatado, por
Groddeck algum tempo depois, e não a partir de um relato em primeira mão; e que o
mesmo é considerado por ele como precursor do seu interesse pela temática
psicanalítica. Cronologicamente, vale salientar que entre a Senhorita G. e o contato
com Freud encontramos a redação do Nasamecu, no qual Groddeck faz uma crítica
incipiente à Psicanálise. Em função disso, vale citar Martynkewicz, que, com uma
certa dose de crítica, comenta o “contato” de Groddeck com a Psicanálise antes da
Primeira Guerra Mundial:
suggestion ne soient utiles qu’aux personnes dites nerveuses. C’est un grave erreur. Le traitement psychique se
place au début même de tout traitement.
81
. Il caso della signorina G serve chiaramente a Groddeck per construire un nuovo inizio, [ ... ] Allo stato
attuale delle conoscenze del lascito non si può ancora affermare con certezza se questa analisi abbia avuto luogo
e se esista una figura di riferimento reale per la signorina G. Per quanto riguarda quest’ultima questione vengono
fatti accenni, in parte dallo stesso Groddeck, a diversi pazienti. Nella bozza di una lettera, mai publicata,a
Sigmundo Freud ( datata giugno 1917 ), Groddeck sembra svelare il segreto della signorina G: la paziente “dalla
quale ho imparato la psicoanalisi”, dice Groddeck, è Martha Schwab. Di questa bozza esistono però tre versioni,
molto diverse nella lunghezza e nel contenuto e di datazione incerta. In un’altra stesura della lettera Groddeck
attenua di nuovo i riferiemnte alla signorina G, facendo il nome di altre pazienti che dice aver trattato anch’esse
“ con la psicoanalisi ottenendo grande successo”. In qualunque modo [ ... ], non è cosi improbabile che dietro
alla signorina G. Ci siano state più pazienti, e che si tratti quindi di un caso altamente condensato. [ ... ] un’altra
paziente non nominata esplicitamente da Groddeck: Margarethe Fellinger. Questa iniziò il trattamento
nell’agosto 1909, proprio nel periodo che Groddeck indica anche a Freud. Come mostra la corrispondenza, tra
medico e paziente si crea presto un rapporto stretto: Margareth Fellinger diventa la “cara Grete” ( questo
spiegherebbe l’abbreviazione “G” ). Anche il quadro dei sintomi presenta alcune corrispondenze. Ma le lettere
scambiate con Margareth Fellinger non danno chiarimenti sul tipo di trattamento psicoanalitico, la psicoanalisi
non entre in gioco nemmeno come terminologia.
82
. [ ... ] Che Groddeck nel período che precede la Prima guerra mondiale abbia effettuato uma svolta verso la
psiconalisi è puttosto un’automistificazione alla quale i suoi seguaci, però, hanno prontamente creduto.
103
É a partir de 1909, que as ideias de Groddeck são inicialmente lidas para seus
pacientes e conhecidos, que se encontram no Sanatório; material que
posteriormente será organizado e publicado em forma de livro.
O primeiro ciclo destas conferênciasX tem como título Hin zu Gottnatur (“Rumo
ao Deus-Natureza”) que em seguida é editado pela S. Hirzel Verlag em julho de
1909: “[...] Em um livro a que dei o título “Rumo ao Deus-Natureza” – originou-se,
como várias das minhas publicações, de conferências dadas em círculo pequeno
[...]” (GRODDECK 1929, 1994, p. 310)
É um ciclo de cinco conferências que tem como tema a linguagem, a natureza,
a arte, a personalidade e a emancipação feminina. Destas conferências, duas foram
publicadas no livro “Escritos Psicanalíticos sobre Literatura e Arte” (Editora
Perspectiva, 2001), “Sobre a Linguagem” e “Caráter e Tipo”, que são exatamente as
palestras onde é possível reconhecer a noção do Deus-Natureza, noção que serve
de princípio para a origem do conceito do “Isso”; e na palestra a respeito da questão
da emancipação feminina podemos perceber ecos no livro “O Homem e seu Isso”
(Editora Perspectiva, 1994), principalmente no artigo autobiográfico de Groddeck e
na carta escrita por ele para a Senhorita Emma Stropp; outros comentários e
desdobramentos desta última conferência estão na biografia de Groddeck escrita por
W. Martynkewicz.
O título geral deste ciclo é inspirado nos versos finais do poema escrito por
GoetheXI, mas antes cabe uma nota sobre as referências que Groddeck faz sobre
este autor:
[...] Para minha mãe, que era a pessoa mais importante na minha infância,
havia dois deuses: um era Goethe – ela tinha sempre à sua mesinha de
cabeceira um livro verde com uma seleção dos poemas de Goethe, que ela
chamava a sua Bíblia -, o outro, não tão venerado, era Shakespeare. Na
minha infância, Goethe era para mim extremamente maçante, mesmo mais
tarde cultivei com ele apenas um culto das palavras, que sem dúvida eu lia
e relia. (GRODDECK 1929, 1994, p. 348)
deste seixo, isto é, cria de novo, investiga as coisas sem as decompor, mas
as vê na totalidade. (GRODDECK 1909, 2001, p. 27)
No estudo de Paul Bishop sobre Goethe, Schiller e Jung, podemos ler alguns
trechos do ensaio Die Natur, atribuído a Goethe:
83
. “Ao Contemplar o Crânio de Schiller”
84
. Que pode o homem mais nesta vida,
Do que se lhe revele a Natureza-Deus?:
Ao vê-la sublimar a matéria firme em Espírito,
E firme conservar o que o Espírito criou.
Traduzido por Paulo Quintela e publicado em Goethe: Poemas, Editora Centelha, Coimbra, 1986 (p. 227). No
livro Georg Groddeck: Escritos Psicanalíticos sobre Literatura e Arte, publicado em 2001, pela Editora
Perspectiva, São Paulo e traduzido por Natan Robert Zins e Geraldo Gerson de Souza, temos outra tradução do
mesmo trecho:
“O que pode um homem ganhar mais na vida
“Do que o que lhe revela o deus-natureza:
“Como ele dissolve o sólido em espírito,
“Como ele mantém sólido o que o espírito gerou.
85
. Escritos Psicanalíticos sobre Literatura e Arte.
105
Suas leis são obedecidas, ainda que resistindo, se age com ela até quando
se acredita estar desafiando-a. Não tem linguagem nem discurso mas cria
línguas e caracteres para sentir e falar. Sua coroa é o amor. Só através do
amor alguém se aproxima dela. Abre abismos entre os seres e tudo aspira
a enlaçar-se. Isolou tudo para poder voltar a unir. Com uns poucos goles
na taça do amor repara toda uma vida de dor. É tudo. Se recompensa e se
castiga a si mesma, se compraz e se tortura a si mesma. É rude e doce,
amável e terrível, fraca e todo poderosa. Tudo está sempre nela. Não
conhece nem passado nem futuro. O presente é sua eternidade. É
bondosa. Eu a felicito por todas as suas obras. É sábia e tranqüila. Não se
arranca dela nenhuma explicação. Nenhum presente que não dê de boa
vontade. É astuta, mas com boa finalidade e o melhor é não ver as suas
astúcias. É inteira e, no entanto, completamente inacabada. O que faz
pode fazê-lo sempre. A cada um ela se mostra com sua própria forma. Se
esconde sob mil nomes e mil termos e permanece sempre a mesma. Ela
colocou-me aqui. Também me fará sair. Confiou-me a ela. Pode mover-me
a seu bel prazer. Não adiará a sua obra. Não fui eu quem falou com ela.
Não, o verdadeiro e o falso foi ela quem definiu. Tudo é culpa dela, tudo é
87
mérito seu. (ROBERT, 1966, p. 51)
86
. Nature! We are surrounded and embraced by her – powerless to leave her and powerless to enter her more
deeply. Unasked and without warning she sweeps us away in the round of her dance and dances on until we fall
exhausted from her arms. She brings forth ever new forms: what is there, never was; what was, never will return.
All is new, and yet forever old. [ … ] All her effort seems bent toward individuality, and she cares nothing for
individuals. She builds, always, destroys always, and her workshop is beyond our reach.[ … ] Her crown is love.
Only through love do we come to her. She opens chasms between all beings, and each seeks to devour the other.
She has set all apart to draw all together. With a few draughts from the cup of love she makes good a life full of
toil. She is all. She rewards herself and punishes herself, delights and torments herself. She is rough and gentle,
charming and terrifying, impotent and all-powerful. All is eternally present in her. She knows nothing of past
and future. The present is eternity for her.
87
.La Naturaleza : Se obedecen sus leys aun cuando se la resiste, se actúa con ella hasta cuando se cree,
desafiarla.No tiene ni lenguaje ni discurso pero crea lenguas e caracteres con el fin de sentir y de hablar. Su
corona es el amor. Sólo por él se acerca uno a ella. Abre abismos entre los seres y todo aspira a enlazarse. Todo
lo ha aislado para reunirlo todo. Con unos pocos rasgos en la copa del amor, repara toda una vida de dolor. Es
todo. Se recompensa y se castiga a sí misma, se goza y se tortura a si misma. Es ruda y dulce, amable y terrible,
débil y todopoderosa. En ella está todo siempre. No conoce, ni pasado ni futuro. El presente es su eternidad. Es
buena. Yo la alabo con todas sus obras. Es sabia y tranquila. No se le arranca ninguna explicación. Ningun
regalo que no dé por su gusto. Es astuta, pero con buen fin y lo mejor es no ver su astucia. Es entera y, sin
106
[...] Como nos faz lembrar Hemecker, “Na Natureza provou ser uma chave
para toda uma geração de pensadores Românticos e Pós-Românticos,
inclusive Alexander von Humboldt (1769-1859) (a quem Freud muito
admirava), Carl Gustav Carus (1789-1869), Rudolf Virchow (1821-1902),
isso sem mencionar Ernst Haeckel (1834-1919) (que via Goethe como
predecessor de Darwin e a si mesmo como um sucessor de ambos),
Hermann von Helmholtz (1821-1894) e Emil Du Bois-Reymond (1834-
1896). De fato, como Hemecker sugeriu, caros, Virchow e Haeckel
concluíram, o ‘princípio genético’, que sustenta as teorias deles, a partir do
conceito de morfologia de Goethe. E ele propõe o fisiologista Johannes
Müller (1801-1858) como a figura mais provável de ter mediado a
morfologia Goethiana e os princípios da Filosofia da Natureza para
Virchow, Helmholtz, Du Bois-Reymond, e, particularmente, Ernst Brücke
(1819-1892). [...] aonde a objeção freqüentemente afirmada, de que o
status de Goethe como um cientista natural foi ignorado ou considerado
como uma figura marginal no século dezenove, acaba por ser uma lenda
89
cujo tempo há muito acabou (BISHOP, 2009. p. 15)
embargo, completamente inacabada. Lo que hace puede hacerlo siempre. A cada cual se le muestra con una
forma pròpria. Se esconde bajo mil nombres y mil terminos y siempre permanece la misma. Me ha colocado
aquí. También me hará salir. Me confió a ella. Puede moverme a su antojo. No adiará su obra. Non soy yo quien
ha hablado de ella. No, lo verdadero y lo falso es ella quien lo ha dicho. Todo és su culpa, todo és su mérito.
88
. [...] De acordo com este princípio, a tensão entre polos opostos fornece o mecanismo pelo qual a vida se
desenvolve. (BISHOP, 2009, p. 54) […] According to this principle, the tension between polar opposites
provides the mechanism by which life develops}. Esta tensão pode ser formulada no seguinte aforismo de
Goethe: “Tensão é o estado aparentemente indiferente de um ser cheio de energia em plena prontidão para se
manifestar, se diferenciar, se polarizar”. (GOETHE, 2003, p. 5)
89
. As Hemecker remind us, ‘On Nature’ proved to be a key for a whole generation of Romantic and post-
Romantic thinkers, including Alexander von Humboldt (1769–1859) (whom Freud much admired), Carl Gustav
Carus (1789–1869), Rudolf Virchow (1821–1902), not to mention Ernst Haeckel (1834 – 1919) (who saw
Goethe as a forerunner to Darwin and himself as a successor to both), Hermann von Helmholtz (1821–1894),
and Emil Du Bois-Reymond (1834–1896). Indeed, as Hemecker has suggested, Carus, Virchow, and Haeckel
derived the ‘genetic principle’ that underpins their theories from Goethe’s concept of morphology. And he
proposes the physiologist Johannes Müller (1801– 1858) as the figure most likely to have mediated Goethean
morphology and the principles of Naturphilosophie to Virchow, Helmholtz, du Bois-Reymond, and, in
particular, Ernst Brücke (1819 – 1892), […] Thus the objection, frequently asserted, that Goethe’s status as a
natural scientist was ignored or regarded as a marginal figure in the nineteenth century, turns out to be a legend
whose time is long since over.
107
90
. De acordo com Paul Bishop esse aforismo expressa de forma clara e precisa a concepção dinâmica e
polarística da natureza.
108
Neste momento uma citação é necessária, por fazer uma síntese a respeito
da influência e da presença de Goethe na obra de Groddeck. Este esforço sintético
foi realizado por Jacquy Chemouni:
12. O “ISSO”
[...] Não existe nenhum eu, é uma mentira, uma desfiguração quando se
diz: eu penso, eu vivo. Dever-se-ia dizer: isso pensa isso vive. “Isso” quer
dizer o grande mistério do mundo. Não existe um eu. [...] Tudo flui. Com
toda a certeza não existe um eu. É um erro da linguagem e
lamentavelmente um erro fatal. Porque ninguém é capaz de libertar-se
dessa palavra “eu”. Encontramo-nos então diante de um mistério profundo
da natureza que não se pode explicar. (GRODDECK 1909, 2001, p. 28, 29)
91
. [ ... ] Si Schweninger et Freud inspiret directment la pratique et la théorie groddckienne, Goethe apparaît
comme l’auteur dont l’ouvre trace la voie d’un ideal scientifique et propose, dans le langage de son époque, un
« cadre » pour penser l’homme, « cadre » que Groddeck reprendra. Au-delá de l’adhésion de Groddeck à telle ou
telle des explications scientifique de Goethe, dont beaucoup se sont avérées totalement fausses, à l’encontre ausi
de son appréciation sur « Goethe ... plus grand comme naturaliste que come poète », l’ouvre de Goethe sera
présente tout au long de l’elaboration des conceptions groddeckiennes. Certaine d’entre elles, le ça, mais aussi la
symbolisation qui est au coeur de la psychanalyse sauvage, trouvent leurs origines chez Goethe. [...]
Schématiquement, on peut dire que Groddeck est resté constamment proche du Goethe philosophe naturaliste,
plus philosophe que naturaliste, poète romantique plus que scientifique, panthéiste plus que matérialiste...
92
. Outras assinaturas conceituais importantes de Groddeck: monismo psique-soma, a mãe, simbolização, bi-
sexualidade natural do ser humano.
109
93
. [...] A semelhança entre os atributos da natureza e os atributos do «isso» são evidentes: todo-poderoso,
onipresente, na origem de todas as criações e ações humanas, traço monista, caráter transcendente, estranho ao
poder da consciência e do eu, etc. A Natureza, Deus-Natureza, como o Isso ignora a vontade do sujeito; ela não
obedece a não ser ao seu próprio determinismo. Ele constitui a essência mesma do indivíduo, em determinar a
ação (CHEMOUNI, 1984, p. 161). La similitude entre les attributes de la Nature et eux du ça est évidente :
toute-puissance, omniprésence, à l’origine de toutes créations et actions humaines, teinte moniste, caractère
transcendant, étranger au pouvoir de la conscience, du moi, et.. La Nature, le Dieu-Nature, comme le ça, ignore
la volonté du sujet ; elle n’obéit qu’à son propre déterminisme. Elle constitue l’essence même de l’individu, en
détermine l’action.
94
. Uma outra fonte importante deste mesmo autor é o Dicionário Comentado do Alemão de Freud [DCAF]
(Imago Editora, Rio de Janeiro, 1996). Ver verbete: Id ou “o Isso”: das Es(p. 261-269).
110
Uma fonte que provém de uma profundidade que age em nós, mas que
este conhecimento nem é apreendido antes nem domina, e que irrompe,
um “Isso” que flui em nós e não chega a nós certamente do exterior como
um prodígio estranho mas que advertimos de um lado como nós mesmos e
de outro como qualquer coisa de muito respeito e ao qual temos a nossa
disposição na superfície para o cotidiano.
95
Si riconosce l’Es di Groddeck soltanto se si osserva il contesto nel quale questo concetto compare per la prima
volta: con il libro Hin zu Gottnatur Groddeck annuncia una nuova religione, una nueva fede; è en tutto un libro
absolutamente profetico. E molto di ciò che Groddeck dirà piu tardi dell’Es è influenzato da questo motivo
religioso primigenio: l’Es come forza che ci guida, come principio creatore, che si può benissimo chiamare
anche “Dio”. [ ... ] Di un tale Es, prima di Groddeck, ha già parlato Wilhelm Bölsche nel saggio Die
Auferstehung des Religiösen durch die Kunst ( Il risorgere del religioso per mezzo dell’arte ), apparso nel 1904
sul Kunstwart, una rivista che Groddeck, come dimostrato, conosceva bene. Doppo la perdita della forza
unificante della religione Bölsche scrive della “nostalgia di un principio di vita interiore delle cose, di un
congiungimento con la forza che crea, gover na e sviluppa”. E chiama questo principio interiore “Es”;
112
Una sorgente che proveniene da una profundità che agisce in noi, ma che questa consapevolezza nè coglie prima
né domina, e che irrompe, un “Es”che fluisce in noi e non arriva a noi certo dall’esterno, come un prodigio
estraneo, ma che avvertiamo da unlatto come noi stessi e dall’altro come qualcosa di più rispetto a ciò che
abbiamo a disposizione in superficie per il quotidiano.
In questo Es si trova l’unita del naturale, si uniscono corpo e spirito. L’Es è il principio creatore del mundo che
“compone e risuona in noi”. Alle fine del suo saggio Bölsche crea un nesso che ritroviamo poi in Hiz zu
Gottnatur: “Es. Il mio Io più profondo. La natura in me. Il principio di sviluppo. Al di là della grande linea di
confine, tra i puri tutte le parole si ricongiungono. Non ho niente da dire contro Dio. “Dio-natura’ dice Goethe.
Bölsche non è affatto lo scopritore dell”Es, ma molto probabilmente è colui dal quale Groddeck ha preso in
prestito il concetto e dal quale si è lasciato stimolare, come dimostra soprattutto il fatto che ha desunto da lui
l’intero nesso, la struttura di pensiero. Per Bölsche l’Es crea una connessione tra vita spirituale e mondo
corporeo, anulla “la frantumazione della vita individuale”, consentendo all’uomo di arrivare alla totalità:
“Nell’unità della natura il corpo e lo spirito non sono opposti assoluti”. L’entusiasmo per il tutto, l’’esserebun
tutt’uno” viene transferito all’Es che così rappresenta, dice Bölsche, “l’essenza della religiosità”, il “momento
nostalgico (Sehnsucht)”. L’ Es supera la vecchia fede e ne genera una nuova, una religione creata ad arte.
96
. Quando Freud escreve a Lou Andreas-Salomé (7 de outubro de 1917) sugerindo que lesse o texto de
Groddeck, Psychische Bedingtheit und Psychoanalytische Behandlung organischer Leiden, recém-publicado e
mesmo recomendando, Freud faz algumas ressalvas {tendência do autor ao excesso e à simplificação e um certo
elemento de misticismo}, Lou Salomé responde em 10 de outubro de 1917:
[...] Conheço o autor até certo ponto de alguns artigos do Zukunft, que ele escreveu há anos atrás sobre
‘Gottnatur und die Frau’, até quanto posso lembrar-me, engenhoso mas decididamente místico ( FREUD, 1975,
pags. 88-89 ). Esta resposta mostra que Lou Salomé acompanhou a polêmica do texto de Groddeck e também foi
uma das poucas, senão a única psicanalista, a conhecer algo de Groddeck, antes que ele se aproximasse da
psicanálise; pois a obra pré-psicanalítica de Groddeck parece ter sido totalmente ignorada por Freud e seus
discípulos. A única referência feita por Freud a algumas dessas obras, e já publicadas há um certo tempo, e não
de forma elogiosa, está numa carta que ele escreve a Ferenczi em 30 de março de 1922: [ ... ]Cumprimente Frau
Gisela cordialmente por mim e diga a ela que recentemente li alguns velhos livros de Groddeck (‘Ein Kind der
Erde’ – ‘Tragödie oder Komödie’ – ‘Hin zur Gottnatur’ ) os quais são muito alemães e ruins. (FREUD, 2000,
p. 78 – 79) { [ ... ] Greet Frau Gisela cordially for me and tell her that I recently read several old books by
Groddeck (A Child of the Earth – Tragedy or Comedy – Over to God’s Nature), which are very German and bad.
113
[...] realizou-se uma discussão sobre o meu livro para o qual fui convidado
e lá compareci. Recebi muitas descomposturas, o que faz parte das minhas
agradáveis recordações da reunião de mulheres, pois, significa algo
quando senhoras como Gertrud Bäumer ou Sra. Heyl se dão ao trabalho de
me educar. [...] Gabriele Reuter levantou-se e me explicou com insistência
que eu não podia falar sobre essas coisas porque nunca tinha sido mãe.
Isto já era demais para uma pessoa com alegre disposição, mas tão logo
ela terminou de falar, a minha vizinha me cochichou ao ouvido as palavras
– não sei se por um senso de justiça ofensiva ou por troça: “Ela também
nunca teve filho”. (GRODDECK 1929, 1994, p. 311)
97
. A metá luglio, presso l’editore S. Hirzel di Lipsia uscirà un libro singolare. Un libro che ad alcuni farà
scuotere la testa, farà arrabbiare ferocemente altri ( soprattutto donne ), forse in molti, perlomeno in singoli
gruppi di persone, scatenerà un vero entusiasmo. Dovrebbe portare però ciascuno, nemico e amico, ad
ammettere: qui c’è qualcuno, una personalità che ha da dire qualcosa.
98
Ver: GRODDECK, 1994, p. 103-106.
114
99
. [ ... ] Groddeck comunica il suo forte interesse a parlare alle donne e a intervenire nel dibattito. Alla fine,
dopo un po’di esitazione, viene invitato. La serata dell’incontro la spaziosa sala del Lyceum-Klub è affollata;
nonostante le numerose richieste, secondo lo statuto, non possono parteciare all’incontro ospiti esterni. Groddeck
tiene un discorso lungo e appassionato. Non accade però quello che tutti nella sala stanno aspettando: le
affermazioni contenute nel libro riguardanti la donna, che non riuscirebbe a sviluppare una sua personalità, e il
discorso sulla sua “periodica incapacità di intendere e volere” non vengono più riprese dall’autore nella stessa
forma. Al centro del suo discorso vi sono il deterioramento incombente della razza e la responsabilità della
donna al riguardo. Su questo tema comunque nella sala c’è accordo: la purezza della razza e la responsabilità
peculiare della donna come imperativi supremi trovano tutti concordi. Le esperte di diritto femminile Alice
Salomon e Gertrud Bäumer cercano perciò di portare la discussione di nuovo sul dissenso e criticano l’ideale
femminile di Groddeck in quanto vago e stilizzato. Una parte della donne presenti accoglie la critica, rifiutandosi
però di disapprovare per questo motivo l’intero libro, che conterrebbe anche molte cose belle.
100
. [ ... ] Lo scalpore è grande e si ricollega soprattutto all’afermazione di Groddeck secondo la quale la donna
non ha una personalità propria, ma è solo una parte della natureza divina.
101
. Sobre esta crítica ver: MARTYNKEWICZ, 2005, p. 206)
115
102
. Hanneliese Schumann, [...] è sposata con Wolfgang Schumann, un figliastro di Ferdinand Avenarius, che
dopo disparati studi, tutti incompiuti, nel 1908 è entrato nella redazione del Kunstwart, del quale presto diventa
un importante collaboratore con funzioni di dirigente.[...] Tra Hanneliese Schumann e Groddeck si sviluppa una
voluminosa corrispondenza negli anni tra il 1909 e il 1919; [...] tra i due corrispondenti si crea una certa
vicinanza che li porta a farsi confidenzi e a raccontarsi particolari intimi. Possiamo qui anticipare che Hanneliese
Schumann è, con una certa sucurezza, la reale mediatrice e il modelo per quell’amica alla quale l’alter ego di
Groddeck, Patrik Troll, nel Libro dell’Es scrive a sue lettere sulla psicoanalisi. Emerge così che le storie
raccontate nel libro non sono prive di una base reale; peraltro anche lo stile delle lettere è estemamente simile.
116
[...] foi eleita uma comissão com a tarefa de levar ao prefeito as decisões
da reunião e exigir que a cidade pelo menos adquirisse no atacado batatas
e legumes e vendesse a preço de custo à população menos abastada.
Quando apresentei ao prefeito Fieser as nossas reivindicações, ele se
mostrou bastante sensível ao problema da população, porém afirmou que
era impossível a cidade ocupar-se com o comércio de batatas e legumes,
e, dirigindo-se a mim, disse: “O Senhor conhece os meios de combater
melhor os especuladores, “fundem uma cooperativa de consumo”. Quando
comunicamos ao doutor os nossos esforços na prefeitura, ele disse: “Mas
isso é esplêndido, também já pensei nisso”. (PILCHER in GRODDECK,
1994, p. 399)
103
. Para uma apresentação, comentários e referência a algumas destas palestras ver MARTYNKEWICZ, 2005,
p. 212- 215
104
. Para um comentário da palestra de Groddeck, feita por Agnes Koch e publicada no Badener Tagblatt, ver
GRODDECK, 1996, p. 255, 256.
117
Groddeck fala dos mais variados temas ligados a questões de saúde e usa a
linguagem mais simples e compreensível possível. Ao final de 1912, prepara os
manuscritos destas conferências para a publicação. O tradutor de Nasamecu para o
francês, P.S. Vilain, faz o seguinte comentário:
105
. Büttenstrasse 11.
106
. Der gesunde und der kranke Mensch.
107
. Cet ouvrage n’a rien du traité scientifique : il est l’aboutissement d’un cycle de causeries populaires que
Groddeck [...] a faites, devant un public modeste, au bénéfice de l’association coopérative dont il fut l’animateur
désintéressé. L’auteur s’est contenté de les remanier légérement afin de les publier sous la forme d’un livre.
Aussi bien le lecteur ne s’étonnera-t-il pas de retrouver dans les differents chapitres, de façon répétitive, les
thémes favoris de ce médecin généreux [...] la définition de l’homme malade ; le rôle et le pouvoir du médecin ;
118
14. Nasamecu
l’admiration devant le miracle de l’organisme humain. Il ne sera pas davantage surpris de rencontrer, p.e., au
chapitre traitant des os, un développement sur les nerfs du pied, ou, dans celui qui est consacré aux muscles, les
idées de Groddeck sur l’information sexuelle ; [...] il s’efforce de voir l’homme soufrant dans l’ensemble de ses
conditions d’existence et d’envisagerles éléments du corp humais dans leur interdépendance.
108
. [...] Che il 30 maggio ringrazia com um telegramma per il “libro ineguagliable”[...] Tutta la critica
dell’epoca è concorde sul fatto che si tratti bem più che di una semplice opera di medicina.
109
. Novíssimo Dicionário Latino-Português: L. Quicherat (Livraria Garnier, Rio de Janeiro, 11a edição, 2000).
119
qual é o seu significado: “Natura sanat, medicus curat. É a natureza que cura e não
mais o médico, que, cuida”. (GRODDECK 1913, 1980, p. 106) 110
E atribui ao paciente um papel responsável neste processo, pois sem essa
responsabilidade, a natureza não pode realizar o seu esforço de cura; do paciente
se espera que crie as condições de vida necessárias, as mais simples e claras
possíveis, como: “[...] nos casos de diarréia, a dieta total; ou, no caso de pneumonia,
a transferência para o hospital, aonde o doente levará uma vida regular; ou ainda a
prescrição de regras de vida precisa”. (GRODDECK 1913, 1980, p. 106) 111
Este compromisso, se não cumprido, dará condições ao médico de
reconhecer onde ocorrem situações que impedem a natureza de agir de forma
curativa e o que é possível fazer para minimizar o nível de sofrimento do paciente
até limites suportáveis.
A segunda menção a esta sentença ocorre no contexto em que Groddeck está
atribuindo ao médico a função de sempre se colocar a serviço da natureza: “[...] e
nós, os médicos, consideramos este serviço como uma honra. Natura sanat,
medicus curat”. (GRODDECK 1913, 1980, p. 143) 112
Mas o que significa exatamente este servir à natureza? A resposta que
Groddeck dá a esta pergunta é bem singela: servir é procurar imitar de forma
artificial suas formas de manifestação.
A terceira menção surge no final do livro, com Groddeck dizendo que nada é
mais nobre neste mundo do que ser médico e: “[...] de viver, e de morrer com esta
113
verdade, Natura sanat, medicus curat”. (GRODDECK 1913, 1980, p. 238). E é
com esta declaração de princípios que o livro acaba.
Apesar de estar sempre procurando reconhecer e valorizar o diálogo entre o
médico e a natureza, Groddeck privilegia a segunda parte da frase, ou seja, a
posição e o valor do médico. O conceito de natureza, apesar de estar presente, não
é tão analisado e explicitado, mas isso vai ficar mais claro na medida em que a
análise do livro for sendo ampliada.
De acordo com Chemouni, o livro de Groddeck pode ser visto como um
prolongamento e um desdobramento do livro de Schweninger Der Arzt: “[...] com o
110
. Natura sanat, medicus curat. C’est la nature qui guérit et non pas le médecin, qui,lui, soigne.
111
. [...] dans le cas de diarrhée, la diète totale ; ou, dans les cas de pneumonie, le transfert à l’hôpital, où le
malade trouvera une vie régulière ; ou encore la prescription de règles de vie précises.
112
. [...] et nous autre médecins, nous considérons ce service comme un honneur. Natura sanat, medicus curat.
113
. [...] de vivre, et de mourir avec cette vérité : Natura sanat, medicus curat.
120
[...] é bem por isso, e em função da grande ignorância das pessoas, que eu
escrevi este livro. É tempo de elas adquirirem algum conhecimento a fim de
não mais se comportarem na vida como uma criança. O médico, sem mais
razão, necessita de conhecimentos, mas ele estará mal colocado, se estes
conhecimentos forem exclusivamente de ordem médica. (GRODDECK
117
1913, 1980, p. 230)
114
. [...] Avec Nasamecu nous sommes au coeur de l’enseigment et de la pensée de Schweninger ; tout ce qui est
significativ dans cet ouvrage [...] nous le retrouvons dans l’ouvre de Schweninger et em particulier dans son
ouvrage intitulé Der Arzt.
115
. Ce livre traite de l’homme bien portant et de l’homme malade. Il reproduit mes opinions personelles sans
prétendre au niveau d’um ouvrage scientifique.
116
. Cada capítulo é dedicado a um aspecto do corpo humano: os ossos, as articulações, os músculos, os nervos,
a respiração, a circulação do sangue, o sistema vascular, os nervos simpáticos, os olhos, os cinco sentidos e
considerações sobre a alimentação e sobre o comer e o beber, além de uma introdução e uma conclusão.
117
. [ ... ] C’est bien pour cela, c’est à cause de la trop grande ignorance des gens que j’ai écrit ce livre. Il est
temps qu’ils acquiérent quelque savoir, afin de ne pas se comporter dns la vie comme des enfants. Le médecin, à
121
[...] O homem não é nunca um ser completo, mas sempre um vir a ser, ele
muda de um segundo a outro, hoje ele é diferente do que foi ontem,
amanhã ele será diferente daquilo que é hoje. Sem descontinuidade, pela
absorção do alimento, por sua respiração, por suas sensações, por seus
pensamentos, pelo seu modo de viver, ele transforma uma parcela do seu
meio ambiente em uma parcela de ser humano e, da mesma maneira sem
interrupção, por suas secreções, por suas palavras, por seus gestos, pelo
seu modo de viver, ele transforma uma parcela do ser humano em uma
119
parcela do meio ambiente. (GRODDECK 1913, 1980, p. 7)
plus fort raison, a besoin de connaissances. Mais il serait bien mal loti, si ses connaissances étaient
exclusivement d’ordre médical.
118
.[...] que l’être humais n’est jamais achevé, mais toujours en devenir et conditionné par les circonstances
environnabtes ; qu’il no constitue pas une unité, mais une association ; qu’il comporte des composants mâles et
des composants femelles.
119
. [...] L’homme n’est jamais un être accompli, mais toujours en devenir ; il change d’unes econde à l’autre,
aujourd’hui il est diffèrent de ce quil était hier, domain il sera différent de ce quil est aujourd’hui. Sans
discontinuer, par l’absorption de nourritore, par sa respiration, parses sensations, par ses pensées, par son mode
de vie, il transforme une parcelle de son environnement en une parcelle d’être humais et, de même maniére, sans
interruption, par ses sécrétions, par ses paroles, par ses gestes, par son mode de vie, il transforme une parcelle
d’être humais en une parcell d’environnement.
120
.[...] jamais perdre de vie la relation indissoluble qui existe entre l’homme et son environnement, cette
confluence entre l’homme et le monde.
122
121
. Dans le monde médical aussi bien que dans le public, le traittement individualisé a pris valeur de slogan.
L’expression est aussi inadéquatt que possible ; car il suffit me connaître som métier pour savoir que l’on ne
traite pas un être humain dans son existence individuelle et autonome, mais toujours un ensemble de conditions
de vie qui ne cessent d’agir sur l’homme, de le former et de le modifier. Quiconque a affaire aux malades,
qu’ilsoit médecin ou non, sait que, dans sa thérapeutique, voire dans son diagnostic, il convient de tenir compte,
des habitudes, de l’environnement et, surtout, du contexte familial.
122
. Uma descrição literária bem precisa deste modelo de atendimento, com seus personagens, seu cotidiano, a
ação médica, as doenças e as questões e angústias presentes na Europa, pode ser lida no romance A Montanha
Mágica, de Thomas Mann.
123
. [...] Les succés qu’obtiennent les hôpitaux, les stations thermales, etc., s’expliquent en grand partie par le
changement plus ou moins brutal et brusque de toutes ces conditions dans la vie du patient.
124
. É importante sempre lembrar que para Groddeck não existe possibilidade do sujeito ser objetivo: [...] isto é
totalmente impossível; todo homem é subjetivo, ninguém pode abstrair-se de si mesmo, mas dever-se-ia tentá-lo
e quem o tentou, mesmo por um momento apenas percebe-se imediatamente como isto é infinitamente difícil.
(GRODDECK, 2001, p. 28)
125
. Le médecin traite une tranche de vie, et nullement une personalité, mais il la traite de façon personelle, ce
qui vent dire qui lui même, le medecin, doit avoir de la personalité, doit être subjectif au plus haute degré, tout en
agissant à partir d’une large experience et en appréciant le cas particulier de mille points de vue différent.
123
O médico deve dominar seu paciente. [...] O dom inato de dominar é mais
indispensável que todo o resto e é seu dever desenvolver este dom. O
médico deve dispor de uma personalidade, reunir em sua pessoa
numerosas personalidades. [...] Ele deve conhecer as inúmeras facetas das
126
. [...] Même dans son propre pedu, l’homme n’est pas une unité, il se compose d’innombrables corpuscules
vivants qui, certes forment un union étroite et se trouvent constamment das des relations reciproques intenses.
124
127
. Le médecin doit dominer son patient. [...] le don inné du dominateur lui est plus indispensable que tout le
reste et il est de son devoir de développer ce don. Le médecin doit disposer d’une personalité, réunir en sa
personne de nombreuses personalités.
128
. [...] la supériorité psychique du médecin sur le patient est la condition primordiale de toute thérapeutique et
que la pernalité du médecin compte bien plus que la méthode do traitement choisi. [...] Il est indispensable que
le médecin réussisse à dominer le patient.
129
. La base de l’art du médecin est de savoir imposer son autorité.
130
. En dernière analyse, c’est la personnalité du médecin qui trouvera les solutions à ces problemes.
131
. Le métier du médecin est tout autre: il est appelé à dominer, à diriger ce mini-universe qui s’apelle un être
humain et qui se met en travers de son chemin, disant : Aide-moi, car je suis malade.
132
. L”une des qualités premières et essentielles du médecin est sa discrétion.
133
. [...] garde ta langue, regarde les consèquences de ta parole !
134
. [...] la manie des diagnostics
135
. [...] em quoi le diagnostic regarde-t-il le patient ?
125
136
. La médecine est la science expérimentale par excellence : elle repose sur les expériences que la vie fait
devant nous, et que nous chechons à interpréter et à imiter aussi bien que possible.
137
. [...] l’action médicale est le fondement de la science.
138
. [...] Le médecin, à plus forte raison, a besoin de connaissances. Mais il serait bien, mal loti, si sés
connaissances étaient exclusivement d’ordre médical.
139
. [...] Le terme de « bon sens » n’implique nullement qu’il soit permis d’être ignorant ; le bon sens ne vise pas
à la création du savoir, mais à son emploi. Il implique que l’on puisse convertir en actes la quantité de savoir
dont on dispose. [...] Ce qui compte, c’est la capacité de mettre en oeuvre son savoir. Ce n’est pas toujours
bénéfique que d’aborder les choses pratiques avec les moyens d’une érudition excessive.
126
Com estas exigências e para que o médico, na sua ação de cuidar e não de
curar, tenha da vida uma visão multifacetada e se preocupe com o doente e não
com a doença, é que se oferece a crítica de Groddeck a respeito do peso e da
importância do diagnóstico, pois ele em nada ajuda: as denominações médicas
pouco informam a respeito da etiologia, da evolução e do estado atual da doença e
não dão grandes subsídios para a terapêutica a qual ele considerava fundamental.
Ao considerar o sujeito dentro da totalidade da sua vida é possível perceber uma
sutileza que para Groddeck funciona como uma explicação para o processo do
adoecer: [...] o ser humano é o produto da sua existência. São seus hábitos que o
adoecem (GRODDECK 1913, 1980, p. 35).141 O diagnóstico deveria então:
Dentro desta visão sistêmica, o que é uma doença e qual a sua relação com a
saúde? Qual é o sentido da doença, aqui entendida como direção, propósito, e
também como significado?
140
. [...] La profession médicale est indissolublement liée à tous les problèmes sociaux, [...] tous les vrais
médecins sont de quelque manière au service du travail social: non pas pour des raisons humanitaires – nous
détestons cette expression, parce qu’elle est profanée par les bavardages – mais par nécessité, pour l’amour de
notre métier. Pour le moment, les problèmes sociaux sont encore partie intégrante de la médecine de tous les
jours.
141
. [ ... ] l’être humain est le produit de son existence. Ce sont ses habitudes qui le rendent malade.
142
. [ ... ] embrasser l’ensemble de la situation et des conditions d’existence du malade. Seule la connaissance
complete de ces éléments permet des conclusions pour um traitement. Et le métier de médecin consiste `traiter et
non à donner des diagnostics. Nil nocere : ne pas faire de mal!
143
. [ ... ] Le diagnostic ne pose sans doute pás de problème, mais ce n’est pas lui qui compte, c’est la
thérapeutique. On aura beau étudier, sur le traitement de cettes affection, des pages et des pages dans les livres,
que dis je, des volumes entiers et des bibliothèques compl`tes, cela ne servira à rien. Si, au contraire, on se
décidait à étudier non pas les livres, mais l’homme que l’on devant soi, et toutes les conditions de la vie du
patient, il serait bien possible que l’on découvre la thérapeutique adéquate
127
[...] a saúde e a doença não são contrários. Eles não estão separados por
qualquer linha além dela ou aquém dela aonde se possa dizer: aqui o
sujeito é saudável e a partir de lá ele é doente.
144
(GRODDECK 1913, 1980, p. 21)
[...] cada época é assim tanto saudável quanto não-saudável, da mesma
maneira que cada ser humano é simultaneamente sadio e doente.
145
(GRODDECK 1913, 1980, p. 88)
[...] o erro antigo que considera que a doença é um agente externo que
agride o homem desde fora. [...] é bom admitir que a doença não é jamais
um elemento externo ao corpo, mas um processo da vida [...] que o
elemento decisivo para a evolução da vida no sentido da saúde ou da
doença, não é o bacilo, mas o próprio homem. (GRODDECK 1913, 1980,
146
p. 94-95)
[...] Falamos de doenças, mas não temos certeza, o termo “doença” implica
que imagine-se um adversário, um inimigo que ataca-nos do externo. Idéia
bem pueril. O estado patológico, parte integrante da vida, é a tentativa da
vida mesma de procurar adaptar-se a condições novas. [...] Nós nos
adaptamos às condições que a vida oferece. (GRODDECK 1913, 1980, p.
147
235)
[...] As tendências de cura estão incluídas na própria doença. Existem
mesmo no câncer, mesmo na morte; a vida persegue a sua ação
ordenadora, procura curar e trazer à saúde, criar, mesmo quando as
condições são más, a melhor existência possível: ela comove a
148
sensibilidade do doente. (GRODDECK 1913, 1980, p. 236)
[...] Quer estejamos doentes ou bem, portanto, a vida é uma aposta na
ordem. Sem se cansar ela diz ao homem: “coloque ordem” [...] porque o
caos está em você mesmo, aqui está a doença que tem a missão de
149
colocar a ordem no teu caos. (GRODDECK 1913, 1980, p. 236)
[...] Mas realmente, a herança, a doença e a morte estão no seu serviço
para “ornar e concluir”. É necessário render-se a esta evidência: no caos
reside o germe da cura. A própria vida cura: isso é precisamente o que os
150
homens e os médicos devem saber (GRODDECK 1913, 1980,p. 237)
144
. [ ... ] La santé et la maladie ne sont pas des contraíres, elles ne sont pás séparées par quelque ligne au-delá
ou en deça de laquelle lón pourrait dire : junqu’ici le sujet est bien portant, à partir de là il est maladie.
145
. [...] Plus ou moins, chaque époque est aussi bien saine que malsaine, de même que chaque être humais est
simultanément bien portant et malade.
146
.[...] L’ancient erreur qui veut que la maladie soit un agent étranger qui agresse l’homme ;[ ... ] bien admettre
que la maladie n’est jamais un élément étranger au corps, mais un processus de la vie même de ce corps ; [...]
que l’élément décisif pour l’évolution de la vie dans le sens de la santé ou dans celui de la amaldie n’est pas le
bacille, mais l’homme lui-même.
147
.[...] Nous parlons de maladies, mais nous avons bien tort, le terme « maladie » impliquant que l’on songe à
un adversaire, un ennemi qui nous agresse de l’extérieur. Idée bien puérile. L’état pathologique, parte intégrant
de la vie , n’est que la tentative de la vie même de chercher à s’adapter à des conditions nouvelles. [...] Nous
nous adaptons aux conditions qui la vie offre.
148
. [...] Les tendances de guérison sont includes dans la maladie même. Elles existent même dans le câncer;
même dans la mort, la vie poursuit son action ordonnatrice, cherche à guerir et à ramener à la santé, à créer,
même quand les conditions sont mauvaises, la meilleur existence possible : elle émousse la sensibilé du
moribond.
149
. [...] Que l’on soit malade ou bien portant, la vie est une mise en ordre.[...] Sans se lasser, elle dit à homme :
mets d el’ordre, et si tune le peux, parce que le chaos est en toi-même, voici la maladie qui a mission de mettre
de l’ordre dans ton chaos.
150
. [...] Mais en réalite, l’hérédité, la maladie et la mort sont à son service pour la parer et la parachever. Il faut
se rendre à cette évidence : dnas le chaos gît le germe de la mise en ordre, et dnas la maladie, le germe de la
guérison. La vie elle-même guérit : c’est justement ce que les hommes et les médecins doivent savoir.
128
A doença não é considerada por Groddeck como algo que se opõe à saúde,
mas que a complementa. Desta forma, fica difícil estabelecer exatamente em que
momento uma doença tem seu começo. Também deve - se considerar a sua função
de tentar, através dos seus próprios recursos, ir além de alguma situação caótica na
vida; a doença buscando o restabelecimento da ordem. Mas não podemos perder de
vista que o foco do pensamento de Groddeck não é a doença e sim o doente; não é
a doença que dá nexo ao doente e sim o doente que oferece a lógica da doença:
O melhor resumo do que foi dito até agora sobre a doença, a relação dela
com a saúde, a dificuldade em delimitar a diferença entre as fronteiras exatas com a
saúde, a relativização da doença e a questão colocada acima sobre a escolha
pessoal do doente em definir ou não seu estado como patológico, encontramos em
Jacquy Chemouni:
151
. [ ... ] le malade n’est pas le produit de sa maladie, mais la maladie est le produt du malade, encore que l’on
doive bien admettre que toute affection a des repercussions sur le patient en le transformant.
152
. Je ne vois aucune possibilite de définir scientifiquement le terme « malade » ; [ permettre ] de dire ma
définition personnelle. Est malade, à mon sens, l’individu diminué dans son rendement et qui se croit tel. Pour
moi, tout les autres sont bien portants, peu m’importe que la Faculté les ait déclares gravement malades.
153
. [ ... ] Quand quelqu’un se sent malade, il convient de le traiter en malade, même si l’examen ne découvre
rien de pathologique sur lui ou en lui.
129
[...] é por isso bem difícil dizer se certos processos são mais de ordem
física ou psíquica, pois os dois estão ligados indissoluvelmente.
155
(GRODDECK in CHEMOUNI 1984, p. 89)
Vale salientar que Groddeck não tinha uma teoria do psíquico, tanto em seus
aspectos estruturais quanto dinâmicos. A sua noção de inconsciente era pensada
dentro do espírito romântico como desconhecido, um aspecto oculto da natureza e
do sujeito, material sem estrutura que se expressa principalmente na poesia, nos
sonhos e na enfermidade mental. Como clínico geral, Groddeck, nesse primeiro
momento, situa o inconsciente e faz seus comentários a respeito dele, como o
desconhecido das funções somáticas:
154
. Dès cette époque, Groddeck ser efuse à établir une franche distinction entre le normal et le pathologique,
entre la santé et la maladie. Il lui semble impossible de tracer une ligne de démarcation identique pour tous les
individus entre le domaine de la maladie et celui de la santé. Il depend de la liberté de chacun de s’affilier à la
catégorie des êtres souffrants ou à celle des bien portants. En un mot, définir le normal et le pathologique
nécessite de se référer non à la maladie , quelle qu’en soit la gravité, mais à la personne malade. [ ... ] Mais la
maladie existe tout de même. Elle ne se définit par aucune norme, ou capacité à s’adapter à des normes : elle
n’est vraie que dans le relatif, non dans l’absolu. A chaque individu correspondent des critères permettant de
déterminer ou non l’existence d’une pathologie.
155
. [ ... ] il est parfois bien difficile de dire si certains processus sont plutôt d’ordre physique ou d’ordre
psychique, puisque les deux sont indissolublement liés.
130
156
. [ ... ] alors il comprendrait soudain à quel point raison et volonté jouent dans notre existence un rôle
subordonné, à quel point une bonne partie de toute vie humaine, demeurant en quelque sorte souterraine, ne
franchit pas le seuil du conscient. Qui donc a conscience de cette grande, de cette merveilleuses station de
pompage que, à chaque seconde, fournit à notre corps et à notre intelligence un aliment nouveau ? [ ... ] Nous
proclamons fièrement que nous savons nous dominer, alors que nous ne sommes même pas capables de calmer
le moindre muscle dans un vaisseau sanguin, bien plus, nous ne percevons même pas, nous n’avons aucune
possibilité de percevoir la modification que connaît notre pupile à chaque regard. [ ... ] Nous ne sommes même
pas les maîtres de notre propre
musculature et bien moins encore de nos pensées.
131
[ ... ] O médico, sem dúvida, existe para todos os que sofrem, e ele deve
dar ao seu tratamento a forma mais simples possível, a fim de que todo
mundo, ricos e pobres, possam aproveitar; diante do médico, todos os
homens são iguais, ele age sem considerar a pessoa (GRODDECK
1913, 1980, p. 108)161
157
. [...] la règle fondamentale est: l’essentiel n’est pas le traitement prescrit, mais la manière de l’appliquer.
158
. [...] Le début de la thérapeutique consiste dans l’appréciation réciproque des forces morales dont disposent
respectivement le médecin et le patient.
159
. [...] o primeiro encontro é decisivo, e se, neste momento, o médico não perde de vista este objetivo, ele
atenderá a maior parte dos casos (idem, p.102) { [ ... ] sur ce point , la première rencontre est decisive, et si, à ce
moment-là, le médecin ne perd pas de vue cet objectif, il l’ atteindra dans la plupart des cas, }
160
.[...] On veut l’espérance de guérir. Bien plus, au fond, on n’attend pas, dès le premier moment, le secours,
mais la certitude de la guérison. On ne sait plus apprécier sa situation, on a perdu la confiance en soi. Ce deux
choses, on les attend du médecin. Ne nous laissons pas induire en erreur par les fortes parelos du patient exigeant
la verité, rien que la vérité. C que’il veut toujours, c’est l’esperance, la certitude de l guérison, mais jamais la
verité
161
. [...] le médecin, n’est ce pas, existe pour tous ceux qui souffrent, et il doit donner à sa thèrapeutique la forme
la plus simple possible, afin que tout le monde, riches ou pauvres, puisse en profiter, devant le médecin, tout les
hommes sont égaux, il agit san considération de la personne.
132
162
. [...] Le traitement psychique se place au début même de tout traitement.
163
.[...] la supériorité psychique du médecin sur le patient est la condition primordiale de toute thérapeutique.
164
. [...] Les membres de la familie, même quand ils sont de bonne volonté et sourtout à causa de leurs bonnes
intentions, constituent un obstacle pour la thérapeutique. Tout le monde,dès l’enfance, aime à jouer au toubib, et
quand un membre bien cher de la famille vous tombe malade, alors, désemparés, vous ramassez à droite et à
gauche les conseils les plus absurdes et, dans votre zèle excessif, vous faites des malheurs.
133
Groddeck reitera que [...] Só um pode ser o mestre, e este só pode ser o médico,
pois ele é quem cuida. (GRODDECK 1913, 1980, p.109)165
Estas intervenções do médico, a aceitação do paciente e da sua família dos
atos autoritários do médico, as sugestões terapêuticas, estão na realidade a serviço
de uma autoridade maior: a Natureza ou a Vida. Para que ela aja de forma curativa é
necessário que as condições curativas sejam criadas. Deixemos o próprio Groddeck
nos falar sobre isso:
[...] Este é um erro fundamental crer que o médico deva ou possa reparar o
homem que apresente defeitos, o recoloque em funcionamento, como
fazemos com uma máquina enguiçada; este trabalho é reservado à própria
vida humana, a esta vida que, única, dispõe dos conhecimentos e dos
meios necessários para curar, a vida que é melhor do que qualquer
168
engenheiro. (GRODDECK 1913, 1980, p. 30)
[...] Assim é o médico. Dirige as forças da vida, confia na vida. Em todos os
momentos, o conhecimento da vida lhe é indispensável. (GRODDECK
169
1913, 1980, p.131)
165
. [ ... ] Um Seul peut être le maitrê, et cela ne peut être que le médecin, celui qui soigne.
166
. [ ... ] Supposons que, des maintenant, nous disposions de toutes les connaisances que l’humanité accumulera
dans les millénaires à venir; nous n’en serions pas plus capables de guérir un simple rhume: nous ne pourrons
jamais faire autre chose que traiter. Et ce traitement lui-même, qui est notre seule tâche et notre seul privilège,
sera toujours limité par le pouvoir de la vie elle-même.La vie tolère, à la rigueur, que nous ôtions une articulation
malade, par example celle du genou, pour la remplacer par une autre ; bien plus, il es permit de penser qu’elle
nous permette un jour de transplanter d’un individu à l’autre, afin de remplacer des organes déficients, des reins,
des ovaires os des yeux normaux. Mais, toujours, elle se réservera le droit de faire vivre ou non ces organes, d
eles faire recevoir ou non dans l’unité du corp humain.
167
[ ... ] Ils portaient, au contraire, plus profondément inscrite en leur coeur que nous ne faisons, cette vérité,
essentielle dans le métir de médecin : à savoir que seule, la vie a le pouvoir de guérir; que la vie, le fait même
d’être vivant, est le véritable médecin.
168
. [ ... ] C’est une erreur fondamentale de croire que le médecin doive ou puisse réparer l’homme qui présent
des défauts, le remettre en marche, comme on fait d’une machine détraquée : cet office est réservé à la vie
humaine elle-même, à cette vie qui,seule, dispose des connaissances et des tours de main nécessaire pour guérir,
à la vie qui est vraiment meilleur ingénieur que n’importe qui.
169
[ ... ] Tel est le médecin. Il dirige les forces de la vie, il fait confiance à la vie. A tout moment, la connaissance
de la vie lui est indispensable.
134
170
. [ ... ] La vie elle-même guérit: c’est justement ce que les hommes et les médecins doivent savoir. C’est la
connaissance essentielle dont ils ont besoin, la base fondamentale de leur savoir, de leur pensée et de leur action.
La vie resemble au feu : bien longtemps avant que quelqu’un ait eu l’idées de l’analyser scientifiquement,
l’homme connaissait son pouvoir bienfaisant, savait le maîtriser et l’orienter, savait fondre les métaux et fonder
autour du feu son foyer. Et la vie se dompte, n’en doutons pas, comme le feu.
171
. [ ... ] Il ne faut pas croire, il n’est pas permis de croire qu’un médecin ait jamais guéri, un tel ou un tel : il
n’en pas le pouvoir : C’est la nature qui guérit, le médecin, lui, traite.
172
. [ ... ] Comme nous l’avons fait hier, comme nous le faisons aujourd’hui, nous découvrirons demain et tout au
long de notre vie des moyens et des méthodes de guérison que la nature produit comme en se jouant. Notre
recueillement est infini, et bien plus encore notre gratitude, pour tout ce qu’elle opère en notre nom.
135
sua mulher, Sophie. Esse ato, que agitou as engrenagens de alianças nacionais,
alimentadas por nacionalismo e temor, foi o estopim da Primeira Guerra Mundial. 173
A partir daí tudo aconteceu de forma muito rápida. Em meados de julho, um
investigador austríaco vinculou a conspiração ao grupo terrorista Mão Negra,
baseado na Sérvia. (Mais tarde descobriu-se que ele tinha sido auxiliado por oficiais
sérvios que queriam fazer da Bósnia-Herzegovina parte de uma Grande Sérvia). No
dia 23 de julho o governo imperial deu um ultimato: a Sérvia deveria colocar fim
(dentro de 48 horas) às intrigas que constituíam uma ameaça à tranquilidade da
monarquia. Viena exigiu que Belgrado censurasse publicações antiaustríacas e
prendesse ativistas antimonarquistas. A Sérvia rejeitou essas exigências, aceitou
outras e pediu uma arbitragem internacional. As autoridades austríacas, decididas a
subjugar os sérvios, recusaram a interferência externa.
A Sérvia era apoiada pela Rússia, França e Grã-Bretanha, seus parceiros na
Tríplice Entente. A Alemanha, com reservas, apoiou sua aliada austríaca. Mas os
diplomatas não conseguiram resolver o impasse e, no dia 28 de julho, a Áustria-
Hungria declarou guerra à Servia. No dia seguinte, a Rússia mobilizou suas tropas
para defender a Sérvia e a si própria da Áustria-Hungria. A Alemanha, temendo uma
ameaça à sua fronteira oriental, declarou guerra à Rússia em 1° de agosto 174 e, dois
dias depois, à França. As forças do Kaiser invadiram Luxemburgo e anunciaram que
marchariam através da Bélgica a caminho da França, o que levou a Grã-Bretanha a
declarar guerra à Alemanha no dia 4 de agosto. Em um mês, Montenegro lutava ao
lado dos sérvios, o Japão junto à sua aliada britânica e a Turquia em defesa dos
germânicos. Dois meses após o incidente em Sarajevo, 17 milhões de soldados de
oito países e suas distantes colônias foram mobilizados.
E o que acontece com Groddeck neste período inicial da guerra? Ele é
convocado, não para atuar no front, mas para ser o diretor-médico do Hospital Militar
da Cruz Vermelha em Badischer Hof.
Em um primeiro momento, o hospital abriga um número relativamente
pequeno de pacientes (cerca de 90), e, na medida em que as ações militares se
tornam mais intensas, o número aumenta para 100 soldados e 50 oficiais. Groddeck
173
. Para uma apresentação, causas, implicações e desdobramentos políticos e culturais da Primeira Guerra
Mundial, ver: A Sagração da Primavera, Modris Eksteins. Rocco, Rio de Janeiro, 1991; principalmente:
“Primeiro Ato: II. Berlim” (p. 81- 129).
174
. O clima na Alemanha, e principalmente em Berlim, nos dias antes e no dia da declaração de guerra à
Rússia, é descrito de maneira bem clara e com boa documentação por Modris Eksteins
(EKSTEINS, 1991, p. 81–92)
136
[...] Aqueles dois outros colegas do Badischer Hof assumiram uma posição
completamente diversa e logo em pouco tempo renunciam a colaborar
naquele projeto de cura. A sua atividade está sendo considerada de modo
crítico mesmo pelas autoridades médicas sanitárias. (MARTYNKEWICZ,
177
2005, p. 222)
175
. “[...] Che le ferito o le fratture ossee reagicono all’analise dell’Es, non meno bene delle nefrti, o
dell’insufficienza cardiaca, o delle neurose”.
176
. [...] I suoi metodi di cura comunque sono già abbastanza inusuali nell’ospedale militare. I soldati dovrebbero
riacquistare la forma il più velocemente possibile per ritornare sul campo ma Groddeck, dopo aver trattato le loro
ferite, programma vere e proprie cure. A quelli sovrappeso ordina una dieta dimagrante, massaggi quotidiani e
ginnastica, per eliminare la pancia in eccesso.
177
. [...] Gli altri due colleghi del Badischer Hof assumono uma posizione completamente diversa e già dopo
poco tempo rinunciano a collaborare a questo progetto di cura. La sua attività viene guardata in modo critico
anche dalle autorità sanitarie militari.
137
178
. Groddeck è adirato e manda súbito uma lettera di protesta all’autoritàsanitaria, nella quale si richiama al
“diritto fondamentale del medico”, che anche in guerra deve poter curare “a sua discrezione” e non essere
“influenzato da acun ordine”. Le autorità secondo lui non avrebbero alcun diritto di criticare in nessun modo il
suo operato medico o di imporgli regole; come medico egli ritiene di non dover sottostare alle leggi di guerra.[...]
La autorità militari non si lasciano impressionare e intervengono, dopo aver preso un’altra volta posizione, [...] a
metà maggio Groddech viene esonerato dall’incarico di direttore medico di Badischer Hof.[...] Il licenziamento
rappresenta una degradazione ufficiale e una dichiarazione di incompetenza.
138
NOTAS
I
A admiração de Caroline por seu pai era tanta, que mesmo depois de anos da morte dele e de várias tentativas e
conspirações de Carl Groddeck e seus filhos para que ela usasse roupas coloridas, seguiu vestida de luto por todo
o resto de sua vida.
II
[...] No meio desse vivo movimento de estudantes inteligentes e muito sensíveis entrou de repente minha mãe,
atraente e gentil, não bonita o bastante para provocar confusão, nitidamente inteligente e sensível. Sobrepujava a
todos na educação em geral e experiência de vida, afetada o suficiente para se impor, sem cativar. No seu íntimo,
ocupava-se apenas com aquele que era considerado líder, digna de amor e amada e, o que era essencial,
ameaçada em sua felicidade (GRODDECK 1929, 1994, p. 326).
III
. No episódio do colapso, que antecede em alguns meses a morte de Carl T. Groddeck, é possível perceber a
extensão desse posicionamento herético em relação à medicina e à ajuda que os médicos poderiam oferecer. Para
uma apresentação detalhada, ver: (GRODDECK 1929,1994, p. 379-385).
IV
[...] Como médico termal trabalhava somente no verão, portanto, nesses meses não podia ocupar-se muito com
a família; no início do outono e no inverno, ao contrário, conseguia ter mais tempo. Neste período, a família era
mais unida, pelo menos era o que percebia Georg Groddeck. (MARTYNKEWICZ, 2005, p. 53). [...] Como
medico termale lavorava sollo 0mnella stagione estiva, pertanto in questi mesi non poteva occuparsi quase per
niente della famiglia; all’inizio dell’autunno e in invern invece riusciva ad avere più tempo. In questi período la
famiglia era più unita, cosi almeno avvertiva Georg Groddeck.
V
No momento do nascimento de Georg, a família tinha problemas econômicos. Com o passar do ano o espaço
da clínica era adequado ao tempo e notavelmente ampliado com a aquisição do prédio adjacente. Os Groddecks
tinham a intenção de pagar a dívida assumida com a chegada do verão. Em 1866 a temporada é interrompida. A
guerra da Prússia pelo controle da Germânia afasta os hóspedes, assustados. Em 1862, o prussiano Otto Von
Bismarck governa a Prússia e leva avante com meios belicosos a fundação do Reich. Depois da vitória da Prússia
em Königsberg, em 3 de julho, a situação se acalma, mas naquele ano os hóspedes das termas não vêm mais para
Kösen.
[ ... ] Nesta situação difícil, o pai é ajudado por um comerciante milionário, Georg Marchand, de quem já é
amigo há algum tempo. [ ... ] Na Família Groddeck todos ficam particularmente felizes quando Marchand se
torna padrinho de Georg. (MARTYNKEWICZ, 2005, p. 54, 55) {Al momento della nascita di Georg la famiglia
ha problema economico. Con il passare degli anni gli spazi della clinica erano stato adeguati ai tempo e
notevalmente ampliati con l’acquisito dell’edificio adyacente. I Groddeck hanna intenzione di pagare i debiti
contratti con le entrate regoare dell’estate. Nel 1866 peró la stagione viene interrotta. La guerra della Prússia per
il controllo della Germânia fa fugire gli ospiti, spaventati. Dal 1862 il prussiano Otto von Bismarck è al governo
della Prússia e porta avanti com mezzi bellicose la fondatione del Reich. Dopo la vittoria della Prússia a
Königsberg il 3 luglio, la situazione si calma, ma per quell’anno gli ospiti delle terme non vengono più a
Kösen”.[…] In questa situazione difficile il padre è aiutato da un comerciante plurimiliardario di stettino, Georg
Marchand, al quale da qualche tempo è legato da amicizia. […] Nella famiglia Groddeck sono tutti
particularmente orgogliosi quando Marchand divento il padrino di Georg} .
VI
Ele cumpriu primeiro em Brandenburg e depois em Weilburg, no Lahn. A razão principal pela qual Groddeck
não segue a sua carreira como médico é contada por ele em seu escrito autobiográfico: “[...] Em certo sentido, os
relatórios aos superiores foram a razão pela qual não continuei como médico militar; se eu não tivesse insistido
na minha demissão, poderia ter feito uma grande carreira; pelo menos o chefe na época do departamento
médico do exército tentou me convencer de que, se eu ficasse, me estaria assegurada uma cátedra. Posso, às
vezes, imaginar alegremente que papel eu teria desempenhado na cátedra. Mas eu tinha provas de que o meu
talento para a ciência era limitado, e não apresentava qualquer inclinação para o serviço militar, na medida em
que ele vinha acompanhado de relatórios”. (GRODDECK 1929, 1994, p. 291)
VII
O editor da correspondência, Jeffrey Mousaieff Masson, escreve a seguinte nota: “No dia 5 de setembro de
1896, Schweninger, o famoso médico de Bismarck, proferiu uma palestra sob a forma de diálogo, juntamente
com Maximilian Harden, na qual defendeu o niilismo médico. Atacou a especialização na medicina, teceu
comentários depreciativos sobre o valor do Raio X para o diagnóstico e confessou invejar os veterinários, pois os
pacientes deles não sabiam falar. O clímax de sua palestra foi a frase: “O mundo pertence aos bravos inclusive
os doentes corajosos”. (FREUD, 1986, p. 301/7)
139
VIII
Um personagem que estará presente em Weilburg e posteriormente participará, em certa medida, da história
profissional de Groddeck e que merecerá um comentário não muito auspicioso de Freud em uma carta a
Groddeck. É Egenolf von Roeder. Explicando melhor: a partir de 1895, a Escola de Oficiais passa a ser
comandada por von Roeder, oficial que possuía uma boa formação filosófica e com quem Groddeck logo
percebe uma série de afinidades e estabelece um relacionamento de amizade. Por muito tempo mantiveram
contato muito próximo. Mais tarde, por volta dos anos vinte, von Roeder escreverá no periódico editado por
Groddeck, Die Arche, e será hóspede do Marienhöhe. Groddeck envia a Freud o manuscrito de um ensaio
filosófico escrito pelo amigo e que recebe em uma carta (25 de março de 1923) o seguinte comentário de Freud:
“O ensaio aristotélico que o Sr. me enviou continuou bastante indigesto para mim. Para minhas pobres aptidões
filosóficas, uma frase como: “O em si mora no quê na medida em que esse mora naquele”, basta para tolher
permanentemente compreensão e julgamento. Estou reduzido à sua informação de que o trabalho de seu aluno
obteve uma certa comprovação. Sua própria exposição, também acho-a bastante obscura”. (GRODDECK,
1994, p. 53); apesar dessa avaliação o texto de Von Roeder, “Das Ding an sich. Analytische Versuche na
Aristoteles Analytik”, foi publicado em 1925 na revista Imago (vol.IX, no.3). Von Roeder foi o editor e o autor
dos textos de apresentação de cada capítulo da coletânea de textos de Groddeck: Psychoanalytische Schriften zur
Literatur und Kunst (Lines Verlag, Wiesbaden, 1964) [ver: Escritos Psicanalíticos sobre Literatura e Arte,
Editora Perspectiva, São Paulo, 2001]
IX
O termo “romance de formação” (Bildungsroman) foi utilizado pela primeira vez em 1810, por Karl
Morgenstern. O criador deste gênero foi Goethe, que, entre os anos 1795 e 1796, publicou a obra Wilhelm
Meister Lehrjahre (“Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister”). [...] Com meios estéticos até então inéditos
na literatura alemã, Goethe empreendeu a primeira grande tentativa de retratar e discutir a sociedade de seu
tempo de maneira global, colocando no centro do romance a questão da formação do indivíduo, do
desenvolvimento de suas potencialidades sob condições históricas concretas. (Marcus Vinicius Mazzari, em
Goethe, 2006, p. 7, 8)
X
Três ciclos de conferências e a sua posterior compilação e publicação em forma de livro, constituíam neste
período (1909 – 1913) a produção teórica de Groddeck: Hin zu Gottnatur: ciclo de cinco conferências proferidas
no Sanatório de Baden-Baden em 1909 e editada por S. Hirzel; Tragödie oder Komödie? Eine Frage au die
Ibsenleser: ciclo de cinco conferências apresentadas no Sanatório em 1910 e posteriormente publicadas pela S.
Hirzel; Der gesunde und der kranke Mensch, ciclo de 12 conferências na “Associação de Consumo” de Baden-
Baden em 1912 e posteriormente publicadas em 1913 como Nasamecu: natura sanat, medicus curat. Der
gesunde und der kranke Mensch gemeinverständlich dargestellt editado pela S. Hirzel.
XI
Na construção do conceito do “Isso”, é possível perceber a presença de Goethe, de forma direta ou indireta, a
partir das seguintes obras ou trechos:
1. Na redação das conferências Hin zur Gottnatur:
a) Die Natur
b) O final do poema: Bei Betrachtung von Schillers Schädel
2. Na formulação do conceito do “Isso”.
a) Fausto II: Primeiro Ato: A Galeria Obscura (As Mães ! Mães ! a partir do verso 6218).
3. Seelensucher: Apesar do título do romance haver sido dado por Otto Rank, Groddeck, no primeiro capítulo,
faz uma pequena anedota com Goethe, quando conta que o herói do romance, Thomas Weltlein*, havia recebido
de Wolf Goethe, neto de W. Goethe, como prova de simpatia e amizade “[...] uma silhueta que o seu avô havia
esculpido de próprio punho. Sob um peso negro de carta de contornos nítidos se vê um homem que, sentado no
globo terrestre, sustenta na mão aberta uma minúscula figura de uma mulher nua, e ele com uma lupa examina
atentamente a zona crucial. August, entusiasmado faz emoldurar a pequena imagem e a batiza “O Investigador
de Alma”
(Seelensucher). Havia colocado em cima da sua escrivaninha de modo que, cada vez que levantava os olhos do
trabalho ou de um livro que estava lendo, o seu olhar não podia evitá-la. August amava aquela figura.
(GRODDECK, 2007, p. 14-15) { [ ... ] lgli aveva regalato una silhoutte che suono nono aveva fatto ritagliatto di
próprio mano. Su un pezzo di carta nera daí netti contorni si vedeva un uomo che, seduto sul globo terrestre,
reggeva nella mano aperta la minuscola figura di una donna nuda, di cui con una lente esaminava attentamente la
zona cruciale. August, entusiasta, fece incorniciare la piccola immagine e la battezzò Scrutatore d’anime.
L’aveva collocata sulla sua scrivania in modo che, ogni qual volta levava gli occhi dal lavoro o dal libro che
stava leeggendo, il suo sguardo non poteva non cadervi sopra. August amava que’ll immagine”.}.
*August Muller é como é chamado o personagem principal no começo do romance e posteriormente muda para
Thomas Weltlein.
140
XII
Deus sive Natura (“Deus, ou seja, a Natureza”). Essa noção proposta por Espinosa de que Deus e a Natureza
são uma só e mesma coisa, gerou algumas polêmicas e foram interpretadas de formas tão diversas e
aparentemente contraditórias. Marilena Chauí no livro Espinosa: Uma Filosofia da Liberdade, Editora Moderna,
2006, expõe de forma sucinta essa diversidade de interpretação e as suas mudanças ao longo de três séculos
dentro da história do pensamento. Citando a autora:
No século XVII, lida com a mais perniciosa forma de ateísmo por afirmar a identidade entre Deus e Natureza;
[...] No século XVIII, porém, a afirmação de Espinosa “Deus ou Natureza” leva a interpretar e a valorizar sua
obra como primeira doutrina sistemática do deísmo, ou religião natural, defendida pelo racionalismo da
Ilustração; [...] A partir do Romantismo, no entanto, o século XIX considerou Espinosa, nas palavras do poeta
Novalis, “o homem embriagado de Deus” e sua obra, a forma mais profunda do misticismo panteísta, porque,
identificando Deus e Natureza, prometeria a felicidade do sábio como fusão de nossa alma no seio do absoluto
divino. Espinosa não seria um naturalista, como pretendera a Ilustração, mas um espiritualista, e o maior de
todos. (CHAUÍ, 2006, p. 12, 13)
XIII
Die Natur. Fragmento publicado anonimamente no Tiefurter Journal (1782-1783). A autoria do ensaio é
atribuída a Goethe mas conforme ele explica em 1828 a von Muller: Eu não posso, de fato, me lembrar ter
composto essas considerações, mas elas refletem adequadamente as idéias para as quais minha compreensão
tinha então voltado. Paul Bishop, 2009, p. 186 n.16) {‘I cannot, in fact, remember having composed these
remarks, but they reflect accurately the ideas to which my understanding had then attained’} (Paul Bishop
escreve sobre o autor deste fragmento: Embora o texto ‘A Natureza’ não é mais visto como tendo sido escrito
por Goethe, e é atribuído ao teólogo suiço Georg Christoph Tobler (1757 – 1812),mesmo assim acredita-se que
ele sumariza as idéias iniciais de Goethe. (idem, p. 1). {“Although the text ‘On Nature’ is now thought not to
have been written by Goethe, and is instead usually attributed to the Swiss theologian Georg Christoph Tobler
(1757-1812), it is nevertheless believed to summarize Goethe’s early thinking”
XIV
Neste trabalho em que se está privilegiando a construção do pensamento de Groddeck, principalmente as suas
ideias no que poderíamos caracterizar como período pré-psicanalítico, é importante reconhecer quem foram os
seus principais interlocutores, a interferência e a participação desses na obra groddeckiana, seja por contato
pessoal direto, por cartas, sugestões, críticas ou por interferência indireta através da leitura de textos. Antes de
citar os interlocutores mais importantes, uma distinção se faz necessária, ou seja, distinguir entre aqueles que
podemos chamar de interlocutores imediatos e interlocutores mediatos. Os primeiros foram aqueles com quem
Groddeck teve conversas diretas, através de contato pessoal, cartas, críticas, co-autoria de textos, ou que
estiveram sob tratamento no Sanatório, enfim, interlocutores que participaram diretamente de sua vida pessoal e
intelectual. Os segundos foram aqueles com quem Groddeck teve um contato unilateral, somente através da
leitura da sua obra, sendo influenciado, mas não podendo influenciar, exatamente pelo descompasso temporal,
um no passado e o outro no seu momento presente. Os primeiros interlocutores imediatos de Groddeck foram
seu pai e Schweninger, posteriormente Freud, depois Ferenczi e por fim, no seu período pós-psicanalítico, o
Conde Hermann Keyserling. O interlocutor mediato mais significativo na obra de Groddeck foi Goethe.
XV
Ampliando um pouco mais o que foi dito anteriormente, a presença de Goethe também pode ser reconhecida
na relação que Groddeck estabelece entre o “Isso” e o trecho do Fausto II, “O Reino das Mães” (Primeiro Ato –
Galeria Obscura: GOETHE, 2007, p. 217 – 231). Marcus Vinicius Mazzari, que faz a apresentação, comentários
e notas da edição do Fausto (segunda parte) pela Editora 34 (Goethe, 2007) escreve a respeito desta cena um
longo e importante comentário que nos ajuda a situar este trecho dentro do contexto da obra e também nas
posteriores associações que se podem fazer com a teoria de Groddeck ou como Paul Bishop (BISHOP, 2008, p.
63–70) que faz uma analogia entre esta mesma cena e a construção do conceito de inconsciente tal como
proposto por Jung. Citando Mazzari:
O que Goethe tinha em mente com o Reino das Mães permanece até hoje um enigma para os
leitores da tragédia – o máximo que Eckermann conseguiu extrair do velho poeta foram as
palavras: “Eu não posso revelar-lhe nada além de ter encontrado em Plutarco a observação de
que, na Antiguidade Grega, faziam-se referências às Mães como divindades. Isto é tudo o que devo
à tradição, o resto é minha própria invenção”.
Conforme apontam comentadores do Fausto, no capítulo 20 de sua Descrição da Vida de
Marcellus, Plutarco refere-se a um antigo culto a “deusas que se chamam Mães”. Além disso, no
capítulo 22 de seu texto “Sobre a decadência dos oráculos” encontra-se a indicação de que
existem 183 mundos diferentes, ordenados segundo a configuração de um triângulo cósmico cujo
espaço interno designado como o “campo da verdade”, poderia ser visto como o silencioso reino
dessas “Mães Goethianas”, guardiãs e mantenedoras de todo o existente: “Neste campo ficam,
imóveis, os fundamentos, formas e imagens primordiais de todas as coisas que já existiram ou
ainda existirão. Tudo envolto pela eternidade, a partir da qual o tempo, como uma emanação,
adentra esses mundos”.
Nesta cena que antecede a incursão de Fausto ao Reino das Mães, vêm à tona concepções
fundamentais da visão goethiana do Mundo e da Natureza: é o que ocorre quando aquele exprime
a sua recusa a tudo o que leva ao “enrijecimento” (Erstarren) espiritual e proclama o
“estremecer” (Schaudern) – o espanto ou assombro que para os antigos gregos constituía o início
de toda filosofia – como o “bem supremo” da humanidade. Ou, ainda, quando Mefistófeles fala da
“formação” e “transformação” como “eterna atuação” do “eterno princípio”, em
correspondência íntima com o conceito de “metamorfose”, que Goethe vislumbrava em todos os
fenômenos da Natureza, formando-os e transformando-os”. (GOETHE, 2007, p. 214)
XVI
De acordo com Freud, ele decidiu estudar medicina depois de assistir a uma palestra pública, no final de seus
estudos secundários, onde ouviu uma apresentação do texto Die Natur feita pelo professor de anatomia
comparada, Carl Brühl (1820 – 1899). Em “Um Estudo Autobiográfico”, Freud escreve: “[...] e foi ouvindo o
belo ensaio de Goethe sobre a Natureza, lido em voz alta numa conferência popular pelo professor Carl Brühl,
pouco antes de eu ter deixado a escola, que resolvi tornar-me estudante de medicina”. (FREUD, 1969, p. 16).
Para uma visão mais ampla da presença da obra de Goethe nos escritos de Freud, ver PAUL BISHOP, 2009,
principalmente o capítulo 1: The reception of Goethe in the works of Freud (p. 9 – 33)
XVII
. O termo “Isso” irá reaparecer na Primeira Conferência (16 de agosto de 1916), em um contexto muito
semelhante a essa menção inicial, ou seja, o “Isso”, o Eu e as limitações da linguagem e a necessidade de se
explorar outras formas de expressão: “[ ... ] A força que nos governa e rege, o “Isso”, constroi o corpo, cria os
signos corporais do ser humano; nos dá os pés, mãos, os olhos e sua cor, o cabelo, um coração grande ou
pequeno, um estômago sadio ou doente e dá forma a nosso nariz: todas estas são criações deste ser incrível:
“Isso”, ser humano, Deus ou qualquer que seja o nome que queiramos dar.[ ... ] A linguagem é um instrumento
demasiado pobre para aprender a conhecer os outros, e por isso, eu trato de fazer-me compreender, mais do
que pela minha linguagem, pelo meu rosto, pela expressão dos meus movimentos corporais, etc. Também
expressamos coisas com o tom da voz e os movimentos. (GRODDECK, 2005, p.4). La forza che ci regge, infatti,
l’Es, edifica il corpo, crea i segni corporali dell’uomo. Ci fornisce i piedi, le mani, gli occhi, il colore degli occhi,
i capelli, un cuore grande o piccolo, uno stomaco sano o malato, dà forma al naso; tutto viene creato da questo
essere curioso: Es, uomo, Dio, o qualunque altro nome gli si voglia dare. [ ... ] Il linguaggio è um pessimo
strumento per impare a conoscere gli altri.Io cerco di farmi capire molto più com il viso e com i movimenti del
corpo che non con il linguagio. Molte cose si esprimono con il tono della voce, con i movimenti” {Na Segunda
Conferência (23 de agosto de 1916), há uma breve menção ao “Isso” e à relação com o pai e a ideia de Deus: [ ...
] O pai é o instrumento pelo qual o “Isso” se utiliza para introduzir a idéia de Deus nos seres humanos (idem,
p. 10). {“[ ... ] Il padre è lo strumento di cui l’Es si serve per introdurre l’ideia di Dio nell’uomo”} Após essas
duas menções, as próximas referências ao “Isso” só irão acontecer na Conferência 32 (28 de março de 1917), e
nessa retomada, o “Isso” vai dialogar com Goethe, agora autor do Fausto II, e o “Reino das Mães” (Fausto II,
Ato I, “Na Câmara Escura ): “[ ... ] o ser humano depende do “Isso” inconsciente, que faz dele aquilo que
deseja. O homem não faz aquilo que deseja, mas aquilo que deseja o “Isso”. Se puder influenciar o “Isso,
aprendendo a conhecê-lo, descendo até aquela força viva que somos nós, fazendo aquilo que vem sugerido na
cena-chave do Fausto, quando Mefistófeles dá a Fausto a chave com a qual pode penetrar no Reino das Mães –
o Reino das Mães é o inconsciente. Se um ser humano consegue penetrar [ ... ] entra no reino da harmonia e
considera a culpa com maior indulgência (idem, p. 234). { [ ... ] l’essere umano dipende dall’Es inconscio, che
fa di lui cio che vuole. L’uomo non fa quello che vuole, ma quello che vuole l’Es. Si può influenzare l’Es
142
imparando a conoscerlo, scendendo fino alle forze vive che sono in noi, facendo ciò che viene suggerito nella
scena chiave del Faust, quando Mefistofele dà a Faust la chiave con la quale portà giungere nel Regno delle
Madri – il Regno delle Madri è le inconscio. Se un essere umano vi penetra, [ ... ] entra nel regno dell’armonia e
considera le colpe com maggiore indulgenza.} A partir daí, as colocações a respeito do “Isso” se tornarão mais
freqüentes porém não muito constantes até a Conferência 90 (29 de maio de 1918) e as seguintes onde a teoria
do “Isso” será mais elaborada. Um dado importante a ressaltar é que no início dessa construção teórica, o tema
das “Mães” será retomado: “[...] o essencial para vós é separar o eu e de adquirir a compreensão pelo “Isso”.
Significativo a este respeito é que Fausto, no momento onde ele aspira à inteligência do fato universal, recebe
de Mefistófeles a chave com a qual pode descender ao Reino das Mães; para isso falta seguramente
compreender o “Isso”, e que existe um caminho que deve ser administrado. O fato também a ser assinalado que
ele não fala da Mãe, mas das Mães, no plural. O “Isso” é assim singular e plural simultaneamente.
(GRODDECK, 1981, p. 103) { [ ... ] L’essentiel pour vous est d’écarter le moi et d’acquérir de la
compréhension pour le ça. Significatif à cet égard est que Faust, au moment ou il aspire à l’intelligence du fait
universel, reçoit de Méphistophéles la clé avec laquelle il peut descendre dans le royaume des mères ; par quoi il
faut sûrement comprendre le ça, et qu’il y a un chemin qui y mène. Il faut aussi remarquer qu’il n’est pas dit la
mère, mais les mères, au pluriel. Le ça est aussi singulier et pluriel simultanément.}
XVIII
[...] No livro Der Arzt (1906) Schweninger diz também ‘Es heilt’ (‘Isso Cura’), se bem que Schweninger não
deduza alguma metafísica do “Isso” que deve curar, como o fará, por sua vez, um pouco mais tarde seu
discípulo Groddeck; no entanto, usa o conceito de modo muito semelhante. Com ‘Isso Cura’, Schweninger
entende uma força que pertence tanto ao saudável quanto ao doente. A natureza que cura está no homem, essa
não age desde fora sobre ele. De outro lado, até a morte é para ele só uma consequência natural do processo
vital, a morte não agride a vida de fora, mas como a doença, se encontra dentro do corpo vivo
(MARTYNKEWICZ, 2005, p. 102, 103). { [ ... ] Nel libro Der Arzt (1906) Schweninger dice anche Es Helt
(esso guarisce !). Sebbene Schweninger non deduca alguna metafisica dall’Es che deve guarire, come farà invece
piu tardi il suo allievo Groddeck, tuttavia usa il concetto in modo molto simile. Con Es Heilt Schweninger
intende una forza che appartienne tanto al sano quanto al malato. La natura che guarisce è nell’uomo, essa non
agisce dall’esterno su di lui. D’altro canto, anche lá morte è per lui solo una conseguenza naturali dei processi
vitali. La morte non aggredisce la vita dall’esterno ma, come la malattia, si trova dentro il corpo vivente.} Em
uma nota de rodapé, o autor explica o sentido em que o termo Es é utilizado por Schweninger: Trata-se do
“isso” como pronome neutro e não como substantivo ‘Isso”. Recentemente, o biógrafo encontrou no espólio
uma anotação em uma carta na qual Groddeck afirma que Schweninger, no livro ‘Der Arzt’, restringiu muito
sua afirmação. Outra carta testemunha porém que Schweninger não estava interessado no “Isso” de Groddeck.
O escrito de Schweninger, além de tudo, precede em alguns anos o surgimento do “Isso” de Groddeck (idem,
p.103). {“Si tratta di “es” come pronome neutro e non come sostantivo “Es”. Recentemente il biografo há
scoperto nel lascito um’annotazione in una lettera nella quale Groddeck afirma che Schweninger nel libro Der
Arzt ha ripreso molte sue affermazioni. Altre lettere testtimoniano però che Schweninger non era interessato
all”Es di Groddeck. Lo scritto di Schweninger oltretutto precede di qualche anno la comparsa dell’Es di
Groddeck”}).
XIX
Um pouco mais sobre a cooperativa de consumo e seu propósito podemos ler no periódico Satanarium ( VI –
13 de março de 1918 ) [...] Nesta reunião se falou também da questão de instituir em Baden-Baden uma
Associação de Consumo, uma instituição que existia há anos, com resultados esplêndidos em outras cidades
alemãs. Naturalmente, é sabido de todos que a Associação de Consumo na Alemanha é um grande organismo
econômico que não só conta com muitos sócios, mas dispõe também de um capital de muitos milhões e tem a
sede principal em Hamburgo, [ ... ] A Associação se ocupa da entrega de gêneros alimentícios e de qualquer
tipo de necessidade quotidiana. [ ... ] Ela opera magnificamente em toda a Alemanha e faz um grande trabalho
beneficente e que verdadeiramente em Baden-Baden algo do gênero faltava. De quando em quando se
manifestava o desejo de fundar uma seção nesta cidade da grande Associação de Consumo. Não é tão simples,
porque em um ambiente conservador como o de Baden-Baden, é preciso, naturalmente, contar com muito
preconceito. Mas a coisa de fato teve início. Alguns membros do Círculo de Discussão, entre eles também o
doutor, deram o primeiro impulso. [ ... ] A idéia na base do surgimento da Associação de Consumo é aquela de
comprar no atacado e vender no varejo. Adquirir grande quantidade custa menos; maior é a quantidade mais o
preço médio cairá... (GRODDECK,1994, p. 66 e 68) { [ ... ]In queste reunioni si parlò anche della questione di
istituire a Baden-Baden un’Associazione di Consumo, un’istituzione che esisteva da anni, con splendi risultati, in
altre città tedesche.[ ... ] Naturalmente è noto a tutti che l’Associazione di Consumo in Germania è un grande
organismo economico che non solo conta diverse migliaia di soci, ma dispone anche di un capitale di parecchi
143
milioni e ha la sede principale ad Amburgo, [ ... ]. L’associazione si occupa della consegna di generi alimentari e
di ogni sorta di necessità quotidiana. [ ... ] Essa opera magnificamente in tutta la Germania e fa grande opera di
bene. Qui a Baden-Baden una cosa del genere mancava veramente. Di quando in quando se manifestava il
desiderio di fondare una sezione cittadina della grande Associazione di Consumo. Non è stato semplice, perché
in un ambiente convenzionale come quello di Baden-Baden, bisognava naturalmnete fare i conti con molti
pregiudizi. Ma la cosa ha ugualmente avuto inizio. Un paio di membri del Circolo di Discussione, tra il quali
anche il dottore, hanno dato il primo impulso.[...] L’idea in base alla quale sorgono le Associazioni di Consumo
è quella di compare all’ingrosso e vendere al minuto. Acquistare grande quantità costa meno; più grande è la
quantità, più il prezzo medio calerà ... }).
XX
Schweninger é mencionado apenas três vezes no livro Nasamecu: 1) quando Groddeck escreve sobre as mãos
do médico como um fator importante no tratamento e sugere [...] reler as páginas que Schweninger consagrou
às mãos do médico (GRODDECK 1913, 1980, p. 66) ([...] relire les pages que Schweninger a consacrées aux
mains du médecin); 2) ao escrever sobre o início do processo terapêutico e da necessidade do paciente acreditar
na capacidade do médico ele lembra [...] das palavras que Bismarck disse a Schweninger: “Até o presente, fui eu
quem tratou meus médicos, você é o primeiro a me tratar”. (idem, p. 110) ([...] du mot que Bismarck a adresse à
Schweninger: » “Jusqu’à présent, c’est moi qui ai traité mes médecins ; vous êtes le premier à me traiter”); 3)
ao descrever um procedimento respiratório, que ele considera de grande eficácia, ele lamenta [...] não poder
pretender a paternidade desta idéia de gênio: ela é de Schweninger. (idem, p. 156) [...] ne pouvoir prétendre à la
paternité de cette idée de génie: elle est de Schweninger.
XXI
. [ ... ] Para Bernheim , [ ... ] hipnose era compreendida como estado de elevada sugestibilidade, próxima
a dormência. Ele definiu sugestão amplamente, como o ato pelo qual uma idéia é aceita no cérebro. Para
Berheim e a escola de Nancy, terapia de sugestão consistia na deliberada manipulação do crédito, fé e
expectativa sob a orientação da sugestão e auto-sugestão no tratamento de uma vasta gama de condições físicas
e psicológicas. Somado a neuroses funcionais, Bernheim reivindica que era efetiva em casos de paralisias,
contraturas, insônia, dor muscular, hemiplegia, paraplegia, reumatismo, anestesia, disfunções gástricas,
neuralgia e ciática. Para Bernheim, o fator comum ativo das curas religiosas assim como, em muitas práticas
terapêuticas, foi a sugestão. [ ... ] Apesar de "sugestão" ter sido apresentada como um conceito moderno,
racional e científico o que ambos, explica e desmascara terapias precedentes e contemporâneas e formas de
curas religiosas. (SHAMDASANI, 2004, p.85) [ ... ] For Bernheim , [ ... ] hypnosis was understood as a state of
heightened suggestibility, akin to sleep. He defined suggestion widely, as the act by which an idea is accepted in
the brain. For Bernheim and the Nancy school, suggestive therapeutics consisted in the deliberate manipulation
of credence, belief, and expectation under the rubric of suggestion and autosuggestion in the treatment of a wide
range of psychological and physical conditions. In addition to functional neuroses, Bernheim claimed that it was
effective in cases of paralyses, contractures, insomnia, muscular pain, hemiplegia, paraplegia, rheumatism,
anaesthesia, gastric disorders, neuralgia and sciatica. For Bernheim, the common factor active in religious
healing as well as, in many therapeutic practices was suggestion. [ … ] Thus “suggestion” was presented as a
modern rational scientific concept which both explained and unmasked prior and contemporary medical
therapies and forms of religious healing.(SHAMDASANI, 2004, p.85)
144
VI. CONCLUSÃO:
hoje, mais do que nunca, sua obra faça sentido. Um dos fatores que torna a
obra de Groddeck tão surpreendente é sua teoria ser análoga a um assunto
muito cotidiano: a humanização, ou medicina humanizada, atualmente
discutida em hospitais, por médicos, psicólogos e enfermeiros. Se dermos um
texto não identificado escrito por Groddeck para um estudante de medicina que
esteja lendo sobre Humanização, este possivelmente acreditará se tratar de um
texto contemporâneo, e não um texto escrito a mais de nove décadas.
Após este percurso pela obra de Groddeck, na busca pela sua
originalidade e genuinidade, percebemos a sua proposta de um
reconhecimento do doente como sujeito do atendimento médico. Da doença
que se constrói e se estabelece a partir deste sujeito e de um esforço da vida
para que se recupere a ordem humana; o médico como um servidor e
facilitador das manifestações curativas da natureza. Isso implica em que ele
reveja sua formação e por extensão sua função.
Inspirada nessas colocações concluo este trabalho repetindo e reiterando
as últimas palavras de Groddeck em seu livro Nasamecu: “Não existe nada
mais nobre do que ser médico e de viver e de morrer com esta verdade:
Que todos os médicos sejam humanos!”.
146
___________ . Fausto: Uma tragédia. 2ª Parte. São Paulo: Editora 34, 2007.
ROY, O.; BERRIOS, G. A History of Clinical Psychiatry. The Origin and History
of Psychiatric Disorders. London: The Athlone Press, 1995.
149