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QUANDO O CRISTIANISMO NÃO FUNCIONA

Michael Horton

A história de Jó nos auxilia a entender o momento que estamos vivendo aqui. Expressões
como "a paciência de Jó", "os conselheiros de Jó" são bastante significativas. Estamos aqui, neste
momento, escandalizados com o sofrimento que trouxe Tim Brewer - marido, pai, pastor e amigo - a
uma atitude desesperada. Achamo-nos invadidos por uma variedade de emoções: piedade, tristeza,
ira, perplexidade, ressentimento e desespero. Todos desejamos saber como essas coisas terminaram
desse modo trágico. Desejamos saber como alguém que pregava a suficiência da Palavra de Deus e
acreditava em Sua graça em face a todas as circunstâncias da vida pôde chegar a este ponto. Se
isso não foi suficiente para ele, por que seria suficiente para mim? O que acontece quando o
cristianismo não funciona?

Nossa cultura tem valorizado apenas coisas que são práticas, coisas que funcionam. Cada
idéia ou convicção é julgada por sua utilidade: Isso me ajudará a criar meus filhos, a ter um
casamento bem sucedido, ou a ter uma vida saudável? Assim, quando uma idéia ou convicção não
passa nesse teste, achamos fácil mudar para um outro produto. Freqüentemente, quando as pessoas
vêm a Cristo, os pregadores prometem-lhes "vitória em Jesus ". Pessoas sorridentes e felizes dão
testemunho sobre como um dia foram infelizes e agora estão cheias de borbulhante exultação.
Casamentos desfeitos são restaurados, crianças problemáticas tornam-se verdadeiros anjos e a
depressão é banida para a velha vida. Mas, naturalmente, aqueles de vocês que conheceram o Tim e
a sua pregação estão plenamente conscientes de que esta não era a sua mensagem. Ele não via o
cristianismo como a solução para todos os problemas terrenos, nem apresentava a Jesus como o Sr.
"Conserta Tudo", mas como o Amigo de Pecadores, Redentor e Pastor de Suas ovelhas. Ele sabia
haver um problema maior que nós, como criaturas caídas, enfrentamos; embora ele não
considerasse os desafios terrestres irrelevantes ou triviais; antes abordava-os corretamente na
perspectiva da eternidade.

Mas mesmo que o Cristianismo não tenha resposta para cada um dos problemas que temos
nesta vida, seguramente essa perspectiva da eternidade nos ajudará a enfrentá-los. Por isso
desejamos saber: Por que este pai, irmão, marido, amigo e pastor pôs fim a sua vida tão jovem?

Jó foi um homem profundamente consagrado a Deus e à Sua Palavra. Era tão zeloso com
sua família que sempre que seus filhos terminavam as festas familiares que realizavam na casa de
cada um dos irmãos, seguindo um turno, Jó ofereceria sacrifício em nome dos seus filhos. Satanás
questionou a Deus sobre a fidelidade de Jó. Por que ele não seria fiel?, Satanás perguntou. Afinal de
contas, ele vive uma vida maravilhosa. Ele é rico, feliz, e a família dele é saudável e despreocupada.
Então Deus permitiu a Satanás que testasse Jó.

No dia seguinte, um desastre seguia a outro desastre, e Jó, em um dia, perdeu praticamente
tudo que lhe era precioso. Mesmo assim, Jó respondeu, "Nu saí do ventre de minha mãe, e nu
voltarei. O SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR". Jó recusou-se
a atribuir a Deus qualquer culpa. Satanás foi novamente a Deus e declarou, "Estende, porém, a Tua
mão, toca-lhe nos ossos e na carne, e verás se não blasfema contra Ti na Tua face!" O corpo de Jó
tornou-se cheio de tumores malignos e dores e a sua própria esposa implorava-lhe: "Amaldiçoa a
Deus e morre"! Mas Jó mesmo assim respondeu: "temos recebido o bem de Deus, não receberíamos
também o mal?"

Então vieram os famosos conselheiros de Jó. No princípio, eles agiram bem, passam uma
semana simplesmente assentados com ele sem dizer palavra alguma, porque viram que era grande a
sua dor. O que ele precisava era de amizade e não de pessoas que viessem questionar a sua fé
dando-lhe sermões insensatos. Mas ao findar aquela semana, eles começaram a expressar suas
opiniões sobre o que estava acontecendo na vida de Jó. Isso começou com o grito de desespero de
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Jó, amaldiçoando o dia do seu nascimento. Uma nuvem escura de depressão caiu sobre Jó e ele só
pôde desejar nunca ter nascido. Foi após essa lamentação que os conselheiros começam a oferecer
os seus pontos de vista.

Elifaz começa dizendo a Jó: "Eis que tens ensinado a muitos, e tens fortalecido a mãos
fracas. As tuas palavras têm sustentado aos que tropeçavam; e aos joelhos vacilantes tens fortificado.
Mas agora, em chegando a tua vez, tu te enfadas, sendo tu atingido te perturbas. Porventura não é o
teu temor de Deus aquilo em que confias, e a tua esperança a retidão dos teus caminhos?" Esta é a
religião do homem natural. Por natureza, acreditamos que somos pessoas basicamente boas que
ocasionalmente fazem coisas podres. No fim, as boas coisas excedem as más e as pessoas assim
avaliam o que lhes acontecem. Esse é o modo como a nossa razão natural avalia as coisas. Há
alguns anos, o Rabino Harold Kushner, depois de perder o seu filho, escreveu: "Quando Coisas
Ruins Acontecem Às Boas Pessoas", a suposição, naturalmente, é que a maioria de nós merece
coisas melhores que as que temos e somos, porque somos basicamente bons. Elifaz acrescenta:
"Lembra-te: acaso já pereceu algum inocente? e onde foram os retos destruídos? Segundo eu tenho
visto, os que lavram a iniquidade e semeiam o mal, isso mesmo eles segam". Neste ponto, o sermão
de Elifaz parece ter sido interrompido por uma súbita revelação de Deus de que tudo que ele dissera
até então estava errado: "Uma palavra se me disse em segredo... entre os pensamentos de visões
noturnas... Um vulto estava diante dos meus olhos; ouve silêncio e eu ouvi a voz: 'Seria porventura o
mortal justo diante de Deus? Seria acaso o homem puro diante do seu Criador? Eis que Deus não
confia nos seus servos, e aos seus anjos atribui imperfeições; quanto mais àqueles que habitam em
casas de barro!" Esta parte do sermão contradiz ao que Elifaz dissera anteriormente. Repentinamente
Elifaz percebe que nem mesmo o íntegro e justo Jó podia confiar em seus próprios méritos ou em sua
própria fidelidade a Deus. Como as Escrituras declarariam mais tarde: "Não há justo, nem sequer um.
Não há quem faça o bem. Nossas justiças são como trapos de imundícia."

Mas Elifaz voltou rapidamente à sua loucura, e encorajou Jó a aceitar a disciplina de Deus
com a confiança de que tudo iria acabar bem. As riquezas seriam restabelecidas, a saúde retornaria,
e Jó e seus amigos ririam disso dali a alguns anos. Respostas vêm facilmente, muito facilmente, para
muitos de nós em ocasiões assim.

A resposta de Jó foi honesta "Por que esperar se já não tenho forças? Por que prolongar a
vida se o meu fim é certo? Acaso a minha força é força de pedra? ou é de bronze a minha carne?”,
“Pelo que a minha alma escolheria antes ser estrangulada, antes a morte do que esta tortura” ele
clamou. Dirigindo-se a Deus, Jó implorou por respostas: "Até quando não apartarás de mim a tua
vista? Até quando não me darás tempo de engolir a minha saliva? Se eu pequei, que mal te fiz a ti, ó
Espreitador dos homens? Por que te fizeste de mim um alvo? para que a mim mesmo me seja
pesado? Por que não perdoas a minha transgressão e não tiras a minha iniquidade?" A suposição
natural diante de tal sofrimento é que de algum modo Deus está nos castigando por nossos pecados.
Mas nós, como leitores de Jó, sabemos dos primeiros capítulos que este teste teve outra razão.
Como Jó, tiramos conclusões apressadas com base em informações limitadas para tentar entender
porque as coisas nos acontecem. Nós não temos acesso às razões de Deus, à Sua câmara interna, e
Ele não nos fala diretamente por que coisas ruins nos acontecem, mas isso não nos impede de tirar
conclusões.

Então entrou Bildade, o suíta. Bildade repetiu os mesmos erros de Elifaz, exortando a Jó a
refrear o seu desespero. "Se fores puro e reto, ele, sem demora, despertará em teu favor e restaurará
a justiça da tua morada". Ele dirige-se ao amigo em sofrimento: "O teu primeiro estado, na verdade,
terá sido pequeno, mas o teu último crescerá sobremaneira". Bildade promete, como os pregadores
da teologia da prosperidade nos dias de hoje: "Determine - isso - reivindique". Bildade tinha uma boa
intenção, mas ele tinha um entendimento teológico errado.

Mais uma vez, Jó respondeu com a sã doutrina: "Como pode o homem ser justo para com
Deus"? Deus não pechincha conosco, responde Jó à insinuação de que se alguém fizer o seu melhor
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Deus o fará próspero. Ele declara: "Quanto menos lhe poderei eu responder ou escolher as minhas
palavras para argumentar com ele? A ele, ainda que eu fosse justo, não lhe responderia; antes ao
meu juiz pediria misericórdia". Jó conclui que se Deus destrói tanto o ímpio quanto o justo, ele poderia
ser justificado em suas ações, mas ninguém é justo. Coisas más acontecem a pessoas más, coisas
boas acontecem a pessoas más; mas não existe isso de coisas más acontecendo com pessoas
justas. Não há justo, nem sequer um. Jó, portanto, conclui: "Por que, pois, trabalho eu em vão?
Porque ele não é homem , como eu, a quem eu responda, vindo juntamente a juízo. Não há entre nós
árbitro que ponha a mão sobre nós ambos. Tire ele a sua vara de cima de mim, e não me amedronte
o seu terror, então falarei sem o temer; do contrário não estaria em mim". Então Jó implora a Deus,
"deixa-me para que por um pouco eu tome alento". É normal em tais circunstâncias até mesmo os
filhos de Deus afastarem-se de Deus: "Se ele fosse um bom e todo-poderoso Deus, certamente ele
poderia parar meu sofrimento em um momento", nós argumentamos. Para Jó, esta questão teológica
tinha que ser colocada antes de ele pudesse dirigir-se a Deus. Esta foi a razão por que ele clamou
por um tipo de mediador entre ele e Deus, um advogado de defesa, alguém para intervir, pleitear o
caso dele perante o Juiz. Se ele tivesse um mediador, diz Jó, ele poderia dirigir-se a Deus. Ele
poderia apegar-se a ele no sofrimento, mas na sua situação ele não podia, então desejou que o
próprio Deus se afastasse dele.

Zofar aumenta o bolo e oferece o seu conselho. Ele começa: "Porventura não se dará
resposta a esse palavrório? Acaso tem razão o tagarela?”. Mas, naturalmente, Jó não estava
escarnecendo. Ele estava contando a verdade sobre a sua situação, coisas que pessoas piedosos às
vezes são propensas a equivocadamente ver como escarnecimento. "Sabe, portanto" diz Zofar, "que
Deus permite seja esquecida parte da tua iniquidade". "Se dispuseres o teu coração, e estenderes as
tuas mãos para Deus; se lançares para longe a iniquidade da tua mão, e não permitires habitar na tua
tenda a injustiça; então levantarás o teu rosto sem mácula. A tua vida será mais clara que o meio-dia,
ainda que haja trevas, será como a manhã." É um tipo moralismo vulgar que se encontra
freqüentemente em alguns círculos cristãos em nossos dias, mas isso é tão velho quanto a queda
no Jardim do Éden. Nós nos vestimos com folhas de figo e acreditamos que nossa vergonha é
coberta pela nossa própria retidão. Vulgaridades são oferecidas ao invés de promessas, e a resposta
de Jó é compreensivelmente sarcástica: "Na verdade, vós sois o povo, e convosco morrerá a
sabedoria. Também eu tenho entendimento como vós, eu não vos sou inferior; quem não sabe
cousas como essas?... As vossas máximas são como provérbios de cinza, os vossos baluartes,
baluartes de barro. Calai-vos perante mim, e falarei eu, e venha sobre mim o que vier... Eis que me
matará, já não tenho esperança; contudo defenderei o meu procedimento". Não obstante, Jó é
subjugado com pesar e dor. Quando ele derrama seu coração perante Deus, Elifaz apresenta outro
sermão: " Tomas vão o temor de Deus" diz a Jó, "e diminuis a devoção a ele devida". Jó responde:
"Tenho ouvido muitas coisas como estas; todos vós sois consoladores molestos. Porventura não
terão fim essas palavras de vento?" Mais importante, Já não sabe o que fazer do conforto de Deus no
seu sofrimento: "Na verdade, as minhas forças estão exaustas; tu, ó Deus, destruíste a minha família
toda". E ainda, em meio a sua dor, Jó uma vez mais busca por um mediador, alguém que pudesse
defender a sua causa perante Deus: "Já agora sabei que a minha testemunha está no céu, e nas
alturas quem advoga a minha causa. Os meu amigos zombam de mim, mas os meus olhos se
desfazem em lágrimas diante de Deus, para que ele mantenha o direito do homem contra o próprio
Deus, e o do filho do homem contra o seu próximo". Até mesmo quando ele derrama seu lamentos
pelo seu tormento terreno, Jó é capaz de encontrar um janela por onde ele vislumbra uma esperança.
Não é a visão de uma saúde renovada, riqueza recuperada ou felicidade redescoberta, mas é a visão
de algo mais precioso no meio do seu sofrimento: "Porque eu sei que meu Redentor vive, e por fim se
levantará sobre a terra. Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei a
Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, os meus olhos o verão e não outros. Como meu coração anela dentro
de mim!"

Eliú começa a entender algo do conforto de Jó em seu grande fardo como declara, "Se com
ele houver um anjo intercessor, um dos milhares, para declarar ao homem o que lhe convém, então
Deus terá misericórdia dele, e dirá ao anjo: 'Redime-o para que não desça à cova; achei resgate. Sua
carne se robustecerá com o vigor da sua infância, e ele tornará aos dias da sua juventude. Deveras
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orará a Deus, que lhe será propício; ele, com júbilo, verá a face de Deus, e este lhe restaurará a sua
justiça. Cantará diante dos homens e dirá: Pequei, perverti o direito, e não fui punido como merecia.
Deus redimiu a minha alma de ir para a cova; e a minha vida verá a luz".

Depois que Jó e seus amigos terminam os sermões, Deus finalmente fala e dirige-se a ele.
Fora do vendaval, ele responde a Jó: "Quem é este que escurece os meus desígnios com palavras
sem conhecimento? Cinge, pois, os teus lombos como homem, pois eu te perguntarei, e tu me farás
saber. Onde estavas tu quando eu lançava os fundamentos da terra? Dize-mo, se tens
entendimento". Depois de listar um número sem fim de ações divinas que ilustram a sua sabedoria e
poder sobre o universo, Deus fecha a boca de Jó e de seus amigos. Porque todos eles tinham
assumido que tinham acesso aos propósitos secretos de Deus. Todos eles agiram na suposição de
que podiam discernir a mente de Deus. Quão facilmente nós tentamos isso quando o sofrimento
atinge a nós ou aos nossos amados! É um equívoco tentar racionalizar o propósito por trás de tudo.
Deus recusa-se a revelar essas coisas e suas deliberações permanecer um mistério para os mortais.
Deus pergunta a todos eles: "Brincarás [comigo] como se fora um passarinho? ou ter -[me]- ás preso
à correia para as tuas meninas? Qualquer esperança de subjugar - [me] é falsa; acaso não será o
homem derribado só em ver - [me]. Quem é, pois, aquele que pode erguer-se diante de mim? Quem
primeiro me deu a mim, para que eu haja de retribuir-lhe? Pois o que está debaixo de todos os céus é
meu".

Após a defesa de Deus, Jó ficou sem desculpa. Apesar da sua teologia, a sua experiência o
tinha levado a questionar a soberania e a bondade de Deus. Porque ele não podia compreender
como isso poderia ser conciliado com a sua visão de Deus, ele concluiu que não havia resposta. Mas
Deus recordou-lhe, como ele recorda a todos nós, que o fato de não termos as respostas não
significa que não haja resposta. Os amigos de Jó tinham todas as respostas: o sofrimento de Jó era o
efeito do seu pecado ou o seu fracasso para reivindicar vitória sobre as suas circunstâncias.
Recusando-se a aceitar a justificação pelas obras e a aceitar trivialidades, Jó tornou-se um
existencialista e preferiu não ter resposta a ter respostas erradas. Muito semelhante a Jean-Paul
Sartre, depois do desespero de duas guerras mundiais selvagens, Jó concluiu que suicídio poderia
ser preferível a suportar o seu sofrimento. Uma vez após outra ele clama a Deus para por fim a sua
vida.

Para aqueles que são amarrados aos altos mastros de sofrimento, há freqüentemente um
medo que é maior do que o medo da morte. É o medo de vida. É o medo da manhã seguinte, e a
manhã depois daquela. Diante de um desespero tão profundo, a tentação é grande ou para fugir de
Deus, porque o sofrimento é creditado de alguma maneira à Sua ira pelos nossos pecados pessoais,
ou para refugiar-se nele porque a pessoa sabe que ele ou ela está em paz com Deus. Foi por isso
que Jó disso que seria capaz de dirigir-se a Deus em sua situação se tão somente ele tivesse um
intercessor, um advogado ou mediador. Gradualmente, cresce a sua confiança neste mediador: "Já
agora sabei que a minha testemunha está no céu, e nas alturas quem advoga a minha causa. Os
meu amigos zombam de mim, mas os meus olhos se desfazem em lágrimas diante de Deus, para
que ele mantenha o direito do homem contra o próprio Deus, e o do filho do homem contra o seu
próximo"

Qualquer coisa que estivesse errada na vida de Tim, ele tinha uma convicção inabalável de
que a sua testemunha estava no céu. Ele sabia que Jesus Cristo era o seu intercessor, um amigo a
quem ele poderia derramar as lágrimas a Deus e ele sabia que Jesus Cristo, o seu Irmão Mais Velho,
estava intercedendo por ele diante de Deus como um homem pleiteia pelo seu o amigo. Tim conhecia
o significado do desespero de Paulo sobre a sua natureza pecaminosa, em Romanos capítulo 7, onde
o Apóstolo lamenta, "Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço.
Desventurado o homem que sou! quem me livrará do corpo desta morte?" Mas, também, como o
Apóstolo Paulo, Tim sabia a resposta para aquela pergunta: " Graças a Deus, por Jesus Cristo
nosso Senhor! Já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus".
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Então, por que esta confiança não impediu nosso irmão de pôr um fim em sua vida? Não
podemos responder a essa pergunta de forma melhor que a dos amigos de Jó para solucionar o
enigma do seu sofrimento. Mas eu posso dizer isto: Mesmo que sejamos muito fracos para nos
agarrar em Cristo, Ele é forte o suficiente para nos sustentar. Ainda que não sejamos capazes de
encarar o amanhã, Cristo já venceu a morte e sofreu o seu aguilhão por nós. À semelhança de Jó que
sabia que o seu Redentor vivia e que ele o veria no mesmo corpo que foi coberto no momento com
chagas sangrentas e dolorosas, o Apóstolo Paulo declarou: "Se Cristo não ressuscitou é vã nossa
pregação e vã a vossa fé... Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os
mais infelizes de todos os homens". O cristianismo não é verdadeiro porque funciona. Em muitos
casos, não funciona. Quer dizer, não resolve todos os problemas que nós pensamos que deveria
resolver. Aqueles que se tornam cristãos porque foi dito a eles que refariam o casamento, ao se
encontrarem diante de um juiz para assinar o divórcio, podem perder o interesse pelo Cristianismo.
Aqueles que esperaram se libertar de hábitos e desejos pecaminosos depois da conversão em que
uma "vitória imediata" foi prometida podem se achar desiludidos completamente com Deus, quando
percebem que ainda são pecadores salvos pela graça. E há, sem dúvida, muitos nesta cidade e em
outros lugares que dirão, " Se o cristianismo não funcionou para alguém como o Dr. Timothy Brewer,
como pode funcionar para mim"? É uma pergunta honesta, uma pergunta compreensível. Mas
presume que o cristianismo conserta tudo. O cristianismo não resolve tudo, não pelo menos aqui e
agora. Ele promete que tudo será consertado no fim da história, mas nesta nossa experiência no
deserto, estamos em peregrinação para a cidade santa. Alguns peregrinos acharão a jornada muito
mais difícil que permanecer no Egito, em incredulidade. Tim não era nenhum desses peregrinos que
retrocederam para o Egito. Outros agüentarão a parte deles nesta vida o melhor que puderem, e o
Tim e a Beth Brewer foram torres de força para mim em minha própria peregrinação, quando os via
enfrentar sucessivos desastres confiando uma vez após outra em Deus e na Sua graciosa promessa.
Mas Tim foi um peregrino para quem a caminhada para a cidade eterna tornou-se tão pesada que ele
procurou um outro caminho. Com Beth, ele estava almejando uma cidade melhor, mas estava pouco
disposto esperar.

Não fomos chamados aqui esta tarde para julgar a Deus. Deus não prometeu para qualquer
de nós saúde, riqueza e felicidade. Na verdade, ele nos fala que se esperamos compartilhar a glória
de Cristo também participaremos do Seu sofrimento. O cristianismo é verdadeiro, não porque
funciona para as pessoas de forma pragmática, utilitária, mas porque há quase dois mil anos, o Filho
de Deus foi crucificado pelos nossos pecados fora do centro da cidade de Jerusalém, e foi
ressuscitado para nossa justificação. Este evento histórico pode não consertar nossos matrimônios,
nossas relações ou nossos problemas cotidianos do modo que gostaríamos, e no tempo que
gostaríamos, mas nos salva da ira vindoura de Deus. E seguramente devido a isso, tudo o mais,
mesmo não sendo insignificante, passa a ser secundário, se comparado a esse portentoso fato. "E
assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez e, depois disto, o juízo." Nós não
estamos aqui para julgar a Deus hoje. Mas também não estamos aqui para julgar Tim Brewer.
Ninguém pode justificar a ação dele, mas Tim Brewer está justificado diante de Deus. Como você
sabe, ser aceito perante Deus não tem que ver com o que temos feito ou deixado de fazer, ou todos
nós estaríamos perdidos. É uma questão de confiar no que Cristo fez, porque Ele terminou a obra da
nossa redenção, Ele pagou o resgate pelos nossos pecados e satisfez a justiça que nossa culpa
requeria.

A justiça perfeita que Deus requer de nós foi adquirida por um único homem que sempre
viveu, o Redentor em quem Jó, Paulo e todos os outros santos procuraram refúgio da morte e do
inferno. No momento em que confiamos em Cristo, renunciamos às nossas próprias reivindicações de
santidade e aceitabilidade, despojamo-nos das folhas de figo de nossa própria fabricação, Deus nos
veste com o manto da justiça de Cristo. Por causa da vida de obediência de Cristo , a sua morte
sacrificial e a sua ressurreição triunfante, somos aceitos pelo Pai e feitos os seus herdeiros,
recebendo o Espírito Santo e a promessa de ressurreição da nossa própria carne mortal. Isto significa
que é seguro olhar para Deus novamente. Como Jó disse que se ele tivesse um defensor, um
mediador, ele poderia erguer os olhos para Deus no seu sofrimento, então, todos nós podemos
chorar no ombro de nosso Pai esta tarde porque não temos nada a temer. Não é a Sua ira que nos
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enviou a dor e o sofrimento se de fato pertencemos a Ele, porque ele intercepta os desígnios de
Satanás e transforma até mesmo o pecado e o mal em mensageiros da graça.

À semelhança de Jó e de Paulo, Tim sabia que o seu Redentor vivia, embora ele próprio não
pensasse que podia continuar vivendo aqui em baixo. Não haverá nenhuma morte, nenhum
sofrimento, nenhuma dor, nenhuma doença ou decepção. Neste momento, o Tim está esperando o
seu novo corpo e como também já está desfrutando a presença de Deus. Se a graça de Deus é maior
que todos nosso pecado, até mesmo este pecado de suicídio, então seguramente cada um de nós é
convidado calorosamente pela ressurreição de Cristo, "Vinde a mim, todos vós que estais cansados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei". E com Jó e Paulo ele reinará com Cristo porque o seu Redentor
vive. Porque a tumba de Cristo está vazia, o sepulcro de Tim também estará vazio no último dia. Com
Jó, Tim pode dizer: "eu o verei em minha carne", no mesmo corpo que, aos 18 anos de idade, caiu 75
pés enquanto escalava um rochedo, deixando-o com uma costela quebrada e os pés reconstruídos;
naquele corpo que testemunhou a morte do seu irmão por leucemia e o morte do seu pai enquanto o
Tim estava na faculdade.

É nesse corpo que, junto com Beth, cuidada de dois filhos com severas dificuldades para o
aprendizado , como sendo presentes de Deus, e nesse corpo que só há quatro meses foi atropelado
por um trem, Tim verá Deus. Será um corpo reconstruído não pelas habilidosas mãos de médicos
terrenos, mas pelas mãos do Criador, o Grande Médico. Esse corpo de Tim será perfeitamente
renovado e estará completamente livre de qualquer dor. Naquele dia, as Escrituras nos asseguram:
"Deus enxugará todas as lágrima dos seus olhos. Não haverá mais morte ou lamento ou choro ou
dor, pois esta velha ordem das coisas terá passado. Até então, ele está na presença de Deus sem o
seu corpo e a espera daquela entrada triunfal dos cativos libertados de Deus que chegam juntos em
procissão triunfal pelos portões da cidade eterna depois de um inverno longo, e duro pelo deserto.
Realmente, o cristianismo funciona, afinal de contas, para todos nós que acreditamos, exatamente
quando nós mais precisamos dele. Talvez alguns de vocês aqui, como Jó tinha pensado: “Serei
condenado; por que, pois, trabalho eu em vão? Porque ele não é homem, como eu, a quem eu
responda vindo juntamente em juízo. Não há entre nós árbitro que ponha a mão sobre nós ambos.
Tire ele a sua vara de cima de mim, e não me amedronte o seu terror, então falarei sem o temer; do
contrário, não estaria em mim”. Tim gostaria de lembrar a todos nós que temos este árbitro, este
mediador que tem removido a vara de Deus de sobre nós, de modo que o temor dele não nos assusta
mais. Agora podemos falar sem medo porque ele nos chama de filhos e não de inimigos.

A Beth e ao resto da família, eu sei eu que vocês perderam o marido, filho, pai e irmão. E
embora eu tenha perdido um de meus amigos mais íntimos, eu não posso imaginar o sofrimento de
vocês, mas Deus a tudo conhece e os confortará. Porque ele também perdeu o Seu Filho. Ele enviou
o Seu próprio Filho para um sofrimento terrível e uma morte cruel para que assim pudesse salvar
inimigos e torná-los Seus próprios filhos e filhas. Você pode vir a ele como seu Pai não somente
porque Ele sabe como você se sente, mas porque a Sua perda garantiu sua adoção na família dele e
fez do Tim um herdeiro em Cristo. E para todos aqui que têm medo da morte, ou de vida, as boas
notícias são que este homem está à mão direita de Deus, com um advogado que defende nossa
causa. O nome dele é Jesus Cristo e se sua fé está nesta Rocha dos Séculos e nesta Fortaleza
Poderosa, ele será seu amigo, neste mundo e no mundo vindouro.

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