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Capítulo 17

As Bênçãos do Arrependimento
Outra Demonstração de Vigoroso Poder
Uma bênção significativa da Expiação decorre do poder de Cristo para
redimir os espiritualmente mortos. A Morte espiritual é uma forma de
alienação espiritual ou dissolução do relacionamento divino. Mas é mais
do que um banimento geográfico da presença de Deus. Assim como o
corpo físico enfraquece quando acometido por uma doença, da mesma
forma parece que enfraquecemos espiritualmente à medida que nos
envolvemos com cada novo pecado. Talvez percamos nossa capacidade ou
vontade de absorver luz e verdade. Talvez, como um músculo lesado,
perdemos força e resiliência para confrontar cada nova tentação. Sejam
quais forem os aspectos técnicos, a morte espiritual parece resultar numa
forma de degeneração ou entropia espiritual. Tal como acontece com a
morte física, é preciso algum poder para reverter o processo de decadência,
para curar nossas feridas espirituais, para fortalecer nossa fibra espiritual.
Novamente, a Expiação é a fonte desse poder de reversão, a fonte na qual
os homens podem “procurar a remissão de seus pecados” (2 Néfi 25:26).

O salmista cantou o bálsamo que cura que é o Salvador: “Refrigera a


minha alma” (Salmos 23:3). Helamã testificou: “Ele tem poder, recebido
do Pai, para redimi-los de seus pecados” (Helamã 5:11). O Salvador
perguntou: “Tanto se encolheu a minha mão, que já não possa remir? Ou
não há mais força em mim para livrar?” (Isaías 50:2; ver também Alma
7:13). E depois respondeu a sua própria pergunta: “O Filho do homem tem
na terra autoridade para perdoar pecados” (Mateus 9:6). Com esse poder,
Ele “vivificou” aqueles que estavam “mortos em ofensas e pecados”
(Efésios 2:1). Essa vivificação foi uma cura de nosso ser espiritual. Nas
próprias palavras do Salvador, Ele disse: “Não volvereis a mim agora,
arrependendo-vos de vossos pecados e convertendo-vos, para que eu vos
cure?” (3 Néfi 9:13). Por meio desse processo de cura Ele “nos tirou da
potestade das trevas” (Colossenses 1:13). Verdadeiramente, Satanás foi
vencido pelo “sangue do Cordeiro” (Apocalipse 12:11).

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Repetidas vezes, as escrituras revelam que a Expiação é a fonte sublime
do poder redentor. Jacó concluiu isso. Ele ensinou a respeito da redenção
“da morte eterna, pelo poder da expiação” (2 Néfi 10:25). Tão abrangente
é esse poder de salvar os espiritualmente perdidos que, ao falar daqueles
que tomarão parte na primeira ressurreição, João proclamou
conclusivamente que “sobre estes não tem poder a segunda morte”
(Apocalipse 20:6).
A purificação Depende do arrependimento
Não há dúvida de que a Expiação gerou suficiente poder para restaurar e
purificar a alma errante. Mas como isso é feito e quem é elegível para os
benefícios desse poder abençoado? Como uma pessoa que pecou pode ser
suficientemente purificada para retornar à presença de Deus e desfrutar
novamente do convívio Dele? Ao contrário da ressurreição, essa parte da
Expiação não é universal. Foi individual, querendo dizer que o sofrimento
de Deus, que tornou o processo de purificação possível, torna-se eficaz
somente para aqueles que se arrependem. Embora “o Senhor não [possa]
encarar o pecado com o mínimo grau de tolerância”, não obstante, Ele
prometeu que “aquele que se arrepender e cumprir os mandamentos do
Senhor será perdoado” (D&C 1:31–32).

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Essa natureza condicional da purificação espiritual foi revelada ao
Profeta Joseph: “O Senhor vosso Redentor sofreu (…) a dor de todos os
homens, (…) para trazer a si todos os homens, sob condição de
arrependimento” (D&C 18:11–12). Samuel, o lamanita, também ensinou
que a Expiação “[tornou] operantes as condições do arrependimento”
(Helamã 14:18). Em outras palavras, se não houvesse Expiação, não
haveria oportunidade para arrependimento. Os homens poderiam sentir
tristeza, poderiam mudar seu comportamento dentro de certos parâmetros,
mas nenhum processo de reabilitação divina estaria em andamento. Em
termos simples, sem a Expiação, não haveria purificação da alma do
pecador, independentemente de quaisquer coisas que ele fizesse.

Com a Expiação, essa purificação pode ocorrer —, mas apenas se nos


arrependermos. O rei Benjamim ensinou: “A nenhum desses será
concedida salvação, a não ser pelo arrependimento e fé no Senhor Jesus
Cristo” (Mosias 3:12). O Élder Marion G. Romney salientou a natureza
condicional dessa fase da Expiação: “Ele pagou a dívida dos seus pecados
pessoais e dos pecados pessoais de toda alma vivente que já habitou na
Terra ou que vai habitar na mortalidade na Terra. Mas Ele o fez de modo
condicional. Os benefícios desse sofrimento por nossas transgressões
individuais não chegará até nós incondicionalmente no mesmo sentido
que a ressurreição virá independentemente do que façamos. Se quisermos
partilhar das bênçãos da expiação no tocante a nossas transgressões
individuais, temos que obedecer à lei”.
1

O Presidente David O. McKay declarou: “Todos os princípios e


ordenanças do evangelho de Jesus Cristo são significativos e importantes
(. . .), mas não há nenhum que seja mais essencial à salvação da família
humana do que o princípio divino e eternamente operante do
arrependimento. Sem ele, ninguém pode ser salvo. Sem ele, ninguém pode
sequer progredir”. Por quê? Porque ele é a chave que abre o poder
2

purificador da Expiação.

Foi exatamente isso que Helamã ensinou: “E ele [Cristo] tem poder,
recebido do Pai, para redimi-los de seus pecados por causa do
arrependimento” (Helamã 5:11; grifo do autor).

O arrependimento não é um princípio negativo, mas, sim, positivo,


extremamente glorioso. Não foi algo que veio de um pai irado e
autoritário, mas do mais amoroso Pai de todos. Não é apenas para os
iníquos, mas para todas as boas e excelentes pessoas que desejam se
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tornar melhores. É para todo indivíduo que ainda não atingiu a perfeição.
É o único caminho para a paz de consciência, o perdão dos pecados e, no
final, a própria divindade.
O Que É o arrependimento?
O que é, então, o verdadeiro arrependimento e como ele se relaciona
com a Expiação? Não é apenas um processo de cinco ou sete passos pelo
qual avançamos mecanicamente. Não é apenas deixar de fazer coisas
erradas, deixar o tempo passar ou expressar pesar. Nenhuma dessas coisas
por si só constitui arrependimento. Alma, o filho, descreveu o verdadeiro
arrependimento quando falou ao povo de Zaraenla. Ele contou a vida de
seu pai, Alma, o pai, que tinha sido um dos iníquos sacerdotes de Noé.
Um dia, o profeta Abinádi entrou em cena. Alguma coisa na mensagem de
Abinádi penetrou no coração e na alma de Alma, o pai. Alma, o filho,
comentou: “E em virtude de sua fé, verificou-se uma grande mudança em
seu coração. Alma então acrescentou: “[Meu pai] pregou a palavra a
vossos pais e em seus corações também se verificou uma grande
transformação”. Depois, seu sermão chegou a seu clímax: “E agora, eis
que vos pergunto, meus irmãos, (. . .) Haveis experimentado esta poderosa
mudança em vosso coração?” (Alma 5:12–14).

Isso é arrependimento verdadeiro. É um processo suavizador,


amenizador, refinador que provoca uma grande mudança no coração. É
manifestado por aqueles que chegam com um coração quebrantado e um
espírito contrito. É uma ardorosa determinação de reconciliar-nos com
Deus a todo custo. Essa mudança significa que “não temos mais
disposição para praticar o mal, mas, sim, de fazer o bem continuamente”
(Mosias 5:2). Lamôni e seus servos sofreram essa mudança. Ao
acordarem de seu sono espiritual “todos disseram ao povo a mesma coisa
— que seu coração havia sido transformado; que não desejavam mais
praticar o mal” (Alma 19:33).

E quanto aos que não sentem essa mudança, mas obtêm uma
recomendação para o templo? E quanto aos que têm pecados graves, mas
escapam da repreensão ou da ação disciplinar, enquanto outros na mesma
situação carregam sua cruz? O Presidente Harold B. Lee falou diretamente
sobre esse assunto: “Não há pecadores bem-sucedidos”. 3

Há vários anos um pai me expressou algumas preocupações que ele


tinha com sua filha adolescente. Ela havia compartilhado alguns de seus
planos com ele. Ela queria “viver a vida” por algum tempo, experimentar
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de tudo, e depois, três meses antes da época de se casar, ela iria “limpar
seus atos” e obter uma recomendação para o templo. Ele ficou
extremamente decepcionado, e com razão. Alguém poderia perguntar:
“Será que isso é um coração quebrantado e um espírito contrito — a
determinação de reconciliar-se com Deus a todo custo?” Será que ela
achava realmente que o bispo ou o presidente de estaca assinaria uma
recomendação para alguém que tivesse uma atitude dessas? Mesmo que o
fizessem, deixaria de ser uma bênção na vida dela. Essa atitude refletia a
mentalidade dos fariseus e saduceus que consideravam a lei judaica como
uma longa lista de leis mecânicas — muitos passos a ser dados — muito
tempo a passar. Tornou-se uma questão de forma em oposição à
substância. Ezequiel revelou o ponto-chave da verdade: “Lançai de vós
todas as vossas transgressões (…) e fazei-vos um coração novo e um
espírito novo” (Ezequiel 18:31). A santificação finalmente foi alcançada
pelos nefitas devido à “entrega de seu coração a Deus” (Helamã 3:35).
Repetidas vezes nas escrituras o arrependimento é relacionado ao coração.
É um novo coração, um coração quebrantado, uma mudança no coração,
um coração contrito.

O Élder Spencer W. Kimball contou a respeito de Holman


Hunt, o artista, que um dia mostrou a um amigo sua pintura de Cristo
batendo na porta. De repente, o amigo exclamou: “‘Há uma coisa errada
em sua pintura’.

‘O que é?’ perguntou o pintor.

‘A porta na qual Jesus está batendo não tem maçaneta’, respondeu o


amigo.

‘Ah’, disse o Sr. Hunt, ‘não foi um erro, não. Sabe, essa é a porta do
coração humano. Ela só pode ser aberta por dentro’”. O Élder Kimball
continuou, dizendo: “E é isso que acontece. Jesus pode estar junto à porta,
mas cada um de nós decide se vai abrir a porta”. Os líderes do sacerdócio
4

podem advertir, aconselhar, disciplinar e incentivar carinhosamente, mas


tudo será em vão a menos que haja em algum momento, em algum lugar,
uma mudança interna no coração.
Arrependimento ou Racionalização?
Como ocorre essa mudança no coração? Primeiro, deve haver um
reconhecimento sincero e irrestrito de nossos pecados, e não uma
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racionalização deles. Alma deu este maravilhoso conselho a seu filho
Coriânton: “Não procures, mesmo nas mínimas coisas, desculpar-te de
teus pecados” (Alma 42:30). Que grande contraste com a filosofia de
Corior de que “nada que o homem fizesse seria crime” (Alma 30:17) ou
com a crença dos lamanitas de que “tudo que fizessem estaria certo”
(Alma 18:5). É preciso, no final, escolher uma dessas doutrinas
conflitantes. Não pode haver arrependimento e racionalização ao mesmo
tempo. A racionalização é a resposta do mundo ao pecado. O
arrependimento é a resposta do Senhor. São duas estradas diferentes com
destinos opostos. Robert Frost conta a respeito de uma bifurcação que
encontrou na estrada ao viajar. Ele ficou indeciso em relação a qual
caminho deveria tomar, e então escreveu o seguinte a respeito de sua
escolha:
Faço este relato com um suspiro.
Há muito e muito tempo
Dois caminhos divergiam em um bosque, e eu
Optei pelo menos percorrido, E isso
fez toda a diferença.5

Toda vez que pecamos encontramo-nos numa bifurcação espiritual.


Podemos racionalizar o pecado ou arrepender-nos imediatamente. A
estrada “menos percorrida” fará “toda a diferença”.

Na época do Livro de Mórmon havia leis morais que eram bem


semelhantes às leis civis. O mesmo não ocorre hoje em dia. A lei civil não
pune vários crimes morais graves, como o adultério e o aborto. Ouvimos
desculpas para esses pecados sob os rótulos de “livre arbítrio” ou de que
“todo mundo está fazendo isso” ou então “ninguém vai ficar sabendo”.
Mas não há justificativa, não há desculpa, não há um álibi para se quebrar
as leis de Deus. Foi isso que o Senhor disse a Joseph Smith: “Não tens
desculpa para tuas transgressões” (D&C 24:2). Quando honestamente
reconhecemos isso, estamos na estrada do arrependimento.

O principal obstáculo ao arrependimento sempre é o ego. Thomas


Carlyle expressou-se desta forma: “O maior dos erros é não ter
consciência de nenhum”. Foi esse o aviso que Alma tentava dar a seu
6

filho rebelde, Coriânton: “Reconhece as tuas faltas e o mal que praticaste”


(Alma 39:13). Aqueles que, em vez disso, decidem viver uma vida de
negação e defender-se da lei de Deus descobrem esta amarga verdade:
“Vossos pecados subiram a mim e não são perdoados, porque procurais
aconselhar a vossa própria maneira” (D&C 56:14).
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A racionalização é a droga intelectual que anestesia a dor na
consciência. Mórmon testemunhou essa overdose letal numa época em
que seu povo estava sem “princípios nem sentimentos” (Morôni 9:20).
Néfi viu os sinais de perigo na vida de Lamã e Lemuel quando comentou:
“[Deus] vos falou numa voz mansa e delicada, mas havíeis perdido a
sensibilidade” (1 Néfi 17:45). Compare isso com o lamento de Néfi: “Oh!
Que homem miserável sou! (. . .) Meu coração geme por causa de meus
pecados; não obstante, sei em quem confiei” (2 Néfi 4:17, 19), É difícil
imaginar essas palavras ditas por um profeta de Deus. A vida de Néfi era
uma vida de devoção e obediência, mas ele nunca esteve mais consciente
da distância que ainda tinha que percorrer para atingir a perfeição. Quanto
mais espiritual se torna uma pessoa, mais sensível ela fica em relação a
suas imperfeições. Quanto melhor ele se torna, pior se dá conta de que é.

Como todos nós pecamos, tal como Néfi, a questão não é apenas se
erramos, mas se erramos e estamos agora dispostos a nos arrepender. John
Donne falou sobre a eficácia do arrependimento:
Ensina-me a arrepender-me; porque isso é como
Se tivesses selado meu perdão com teu [de Cristo] sangue.7

O propósito desta vida na Terra é ser um estado probatório, para ver se


vamos nos arrepender e seguir Cristo. O Senhor determinou “para o
homem os dias de sua provação” (D&C 29:43). De fato, o Senhor tomou
providências para que a semente de Adão “não [sofressem] a morte física
até que eu, o Senhor Deus, mandasse anjos para pregar-[lhes] o
arrependimento e a redenção” (D&C 29:42). Foi isso que Leí ensinou
claramente: “E os dias dos filhos dos homens foram prolongados (…) para
que se arrependessem enquanto estivessem na carne” (2 Néfi 2:21). Alma
ensinou da mesma forma que se não houvesse “tempo para o
arrependimento (…) a palavra de Deus teria sido vã e estaria frustrado o
grande plano de salvação” (Alma 42:5).

A iniquidade por si só raramente foi a causa da destruição do homem. A


maior tragédia é a iniquidade associada à falta de vontade de arrepender-
se. A destruição predita dos iníquos de Nínive foi suspensa porque eles
estavam dispostos a voltar-se a Deus. O povo de Melquisedeque
“entregara-se à prática de iniquidades” (Alma 13:17), mas foram
poupados porque “se arrependeram” (Alma 13:18). Alma, o pai, “[fez]
muitas coisas abomináveis aos olhos do Senhor” (Mosias 23:9), e os
filhos de Mosias foram chamados de “os mais vis pecadores” (Mosias
28:4), ainda assim cada um deles encontrou ímpeto para reverter seu
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curso. Em cada um desses casos, ainda restavam brasas de
arrependimento. Para aqueles que deixaram as brasas morrerem, o Senhor
proferiu a consequência: “Aquele que não se arrepender, dele será tirada
até a luz que recebeu, pois meu Espírito não contenderá sempre com o
homem” (D&C 1:33). Foi a mesma mensagem que o Senhor enviou ao
iníquo povo de Amonia: “Se persistirdes em vossas iniquidades” e “não
vos arrependerdes”, “vossos dias não serão prolongados na terra” (Alma
9:18). Era algo simplesmente lógico. A razão desta vida terrena foi
proporcionar um período probatório para arrepender-nos. Se alguém se
recusar a fazê-lo depois de lhe ser oferecidas todas as oportunidades
razoáveis, ele desperdiçou seu direito de permanecer. Nesse ponto, como
dizem as escrituras, ele está “[amadurecido] para a destruição” (Helamã
13:14).

Em certo ponto, Oliver Cowdery se desassociou da Igreja. Joseph


estava ansioso para que ele se arrependesse e voltasse. Ele instruiu seu
secretário: “Quero que você escreva para Oliver Cowdery e pergunte se
ele não sofreu o suficiente”. A racionalização e a procrastinação trazem o
8

restolho da vida — o arrependimento traz os frutos.


Tristeza Segundo Deus
Aqueles que vivenciaram uma mudança no coração manifestam pesar,
não apenas tristeza, mas a tristeza segundo Deus. A tristeza do mundo e a
tristeza segundo Deus são coisas bem distintas. Paulo diferencia as duas:
“Agora folgo, não porque fostes contristados, mas porque fostes
contristados para arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus.
(. . .) Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a
salvação” (II Coríntios 7:9–10). Não há duas tristezas iguais. Há a tristeza
do mundo, que é um reconhecimento intelectual de nosso erro. É a tristeza
do criminoso que é apanhado. É a tristeza da jovem imoral por ter ficado
grávida. É a tristeza do transgressor porque seus planos malignos não
deram certo. O profeta Mórmon foi testemunha dessa tristeza. Ele foi líder
dos exércitos nefitas. Devido à iniquidade deles, muitos foram mortos em
batalha. O coração dele se regozijou momentaneamente, quando viu o
lamento e o pranto deles perante o Senhor. Mas as escrituras então
acrescentam: “Mas eis que esta minha alegria foi vã, porque seu pesar não
era para o arrependimento, (…) ao contrário, era mais o pesar dos
condenados, porque o Senhor não lhes permitiria deleitar-se
continuamente no pecado” (Mórmon 2:13). Pelo contrário, Alma suplicou
a seu filho: “Deixes apenas teus pecados te preocuparem, com aquela
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preocupação que te levará ao arrependimento” (Alma 42:29).

A tristeza segundo Deus é de uma qualidade infinitamente


transcendental. Não há necessidade de pressão externa. A transformação
vem de dentro. Pode haver lágrimas abundantes. Haverá uma dor do
fundo da alma, às vezes até excruciante. Podemos nos sentir
“[humilhados] até o pó” (Alma 42:30). Até os justos, ocasionalmente,
podem clamar: “Oh! Que homem miserável sou!” (2 Néfi 4:17). Os filhos
de Mosias conheciam o processo: “Eles padeceram muita angústia (. . .)
sofrendo muito e temendo que viessem a ser lançados fora para sempre”
(Mosias 28:4). Alma reconheceu que seu passado de atos iníquos “causou
penoso arrependimento” (Mosias 23:9). Haverá recém- descobertas
reservas de compaixão por aqueles que podem ter sido magoados, talvez
algum embaraço e finalmente e sempre uma disposição de submeter-se a
qualquer coisa necessária para reconciliarem-se com Deus — sejam
desculpas, confissão, ação disciplinar ou qualquer outra exigência divina.
Haverá uma total ausência de justificativas, álibis e tentativas de culpar
outros. Haverá uma completa aceitação de responsabilidade por nossas
atitudes e ações, e um compromisso inabalável de estar bem com Deus.
Em essência, o arrependimento pode trazer-nos um momento de total
integridade intelectual, emocional e espiritual — quando podemos dizer
que dominamos o conselho de Polônio: “Sê verdadeiro consigo mesmo”. 9

O Salvador ensinou que se não nos arrependermos, teremos que sofrer


como Ele sofreu. Isso não significa, porém, que não haja arrependimento
se nos arrependermos. De fato, o Presidente Kimball ensinou que o
sofrimento pessoal “é uma parte muito importante do arrependimento.
Uma pessoa não começa a se arrepender até que tenha sofrido
intensamente por seus pecados”. O Presidente Kimball depois
10

acrescentou: “Se a pessoa não sofreu, ela não se arrependeu. (. . .) Ele tem
que passar por uma mudança em seu sistema que o fará sofrer e então o
perdão é uma possibilidade”. Esse sofrimento, por mais intenso que seja,
11

não obstante é substancialmente menor para alma arrependida do que para


o impenitente. O Salvador toma para Si parte do fardo em favor daqueles
que se arrependem. Esse princípio é ilustrado por uma história que B. H.
Roberts adorava compartilhar.

“É relacionada com Lord Byron que quando era jovem e frequentava a


escola, um colega seu caiu no desagrado de um valentão cruel e opressor,
que batia nele sem misericórdia. Byron, por acaso, estava presente, mas
sabendo como seria inútil tentar lutar com o valentão, aproximou-se dele e
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perguntou por quanto tempo pretendia bater em seu amigo. ‘O que você
tem com isso?’ perguntou o valentão, com rudeza. ‘Porque’, respondeu o
jovem Byron, com lágrimas nos olhos, ‘Eu apanho no lugar dele, se você
o deixar ir’.”
12

O Salvador “apanha no lugar” daqueles que se submetem à Sua


vontade. Isaías profetizou que Ele seria “moído por causa das nossas
iniquidades” e depois prometeu que “pelas suas pisaduras fomos sarados”
(Isaías 53:5; ver também I Pedro 2:24). Essa cura derivava das raízes
medicinais do Getsêmani.

O Élder Vaughn J. Featherstone conta a respeito de um rapaz que o


procurou para uma entrevista para a missão. O Élder Featherstone
perguntou a respeito das transgressões do rapaz. De modo petulante, o
rapaz respondeu: “Não há nada que eu não tenha feito”. O Élder
Featherstone perguntou especificamente o que ele havia feito:
transgressões morais, drogas e assim por diante. Novamente ele
respondeu: “Eu lhe disse que fiz de tudo”. O Élder Featherstone
perguntou: “O que o faz pensar que vai para a missão?” “Porque eu me
arrependi”, foi a resposta. “Não faço nenhuma dessas coisas há um ano”.
O Élder Featherstone então olhou para o rapaz que estava do outro lado da
mesa — 21 anos de idade — sarcástico, petulante, com uma atitude bem
distante do arrependimento sincero. “Meu querido jovem amigo”, disse
ele, “sinto dizer-lhe isso, mas você não vai para a missão. (. . .) Você não
devia ter sido ordenado élder e, na verdade, devia ser julgado para saber
se continuará sendo membro da Igreja. O que você cometeu foi uma série
de transgressões monumentais. Você não se arrependeu. Apenas parou de
fazer algo. Um dia, depois de ter visto o Getsêmani e voltado,
compreenderá o que é o verdadeiro arrependimento”. Ao ouvir isso, o
rapaz começou a chorar. Continuou chorando por cinco minutos. Não
houve troca de palavras, apenas silêncio. Então, o Élder Featherstone saiu
da sala.

Uns seis meses depois, o Élder Featherstone estava falando para um


grupo do instituto, no Arizona. Depois da reunião, ele viu aquele mesmo
rapaz caminhando pelo corredor na sua direção e os detalhes da sua
entrevista lhe voltaram à lembrança. O Élder Featherstone desceu do
púlpito para apertar-lhe a mão. Quando o jovem ergueu o rosto, o Élder
Featherstone percebeu que algo maravilhoso havia acontecido na vida
dele. Lágrimas escorreram pelo rosto do rapaz, e um brilho quase sagrado
irradiava de seu semblante. “Você esteve lá, não foi?” perguntou o Élder
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Featherstone. Em meio às lágrimas, ele disse: “Sim, Bispo Featherstone,
estive no Getsêmani e voltei”. “Eu sei”, replicou o Élder Featherstone.
“Dá para ver em seu rosto. Creio agora que o Senhor o perdoou”. 13

Uma tristeza segundo Deus envolve partilhar com o Salvador do


sofrimento do Getsêmani. É uma tristeza que promove um novo coração e
um novo espírito.
Um abandono absoluto
Mas o arrependimento exige mais do que apenas tristeza. O verdadeiro
arrependimento exige abandono absoluto do pecado. Dante fala de uma
alma que fingia ter-se arrependido, que era bom de promessas, mas
carecia de bons atos. Crendo que somente os juramentos o salvariam,
reivindicou uma coroa celestial. Pouco antes de sua esperada ascensão,
porém, um “querubim negro” apareceu em cena. O trágico personagem,
então no inferno, relembrou o encontro e as palavras de maldição do
intruso infernal:

“Você não vai levá-lo. Não trapaceie comigo! Porque com meus
asseclas ele deve vir. (. . .) Aquele que não se arrepende não pode
ser absolvido.
Ele não pode se arrepender e agir ao mesmo tempo
Porque a contradição não o permitiria!”
Ai de mim! Com que violência tremi
Quando ele me agarrou e disse: “Talvez
Você não achasse que eu fosse versado em lógica!”14

Mesmo os escravos do mundo inferior sabiam que não poderia haver


perdão sem abandono do pecado.

O Élder Matthew Cowley nos dá a consoladora certeza de que o


abandono de qualquer pecado é possível: “Não há nenhum de nós aqui na
Terra que não seja maior que seus pecados, que não seja maior que suas
fraquezas e suas faltas”. Isso é verdade. “Mas por quanto tempo devo
15

abandonar o pecado?” é uma pergunta muito repetida. “Quanto tempo até


eu poder ser reintegrado ou até que eu possa ser batizado?” A resposta é
sempre a mesma — quando houver uma vigorosa mudança no coração e
uma nova mente para tornar a vontade do Senhor suprema em sua vida,
independentemente de seus próprios desejos passionais — quando houver
uma determinação inequívoca de deixar para trás os antigos caminhos. Há
um modo de avaliar isso, mas trata-se de um medidor principalmente de
atitude, e não de tempo.

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Bjorn Borg, considerado o melhor tenista de nossa época, segundo a
revista Time, era “imperturbável na quadra, um jogador educado que
raramente contestava as decisões do bandeirinha ou fazia caretas ou
jogava a raquete no chão ou arremessava bolas com raiva. Era chamado
de ‘Iceborg’”. O artigo continua: “Ele controla tão plenamente suas
emoções que até um leve franzir de sobrancelhas na quadra causa
assombro em seus fãs e nos outros jogadores”. Mas nem sempre foi assim.
A revista Time revela um lado mais sombrio antes que houvesse uma
extraordinária mudança.

“Aos 11 anos, o jovem Bjorn xingava como um marinheiro,


arremessava a raquete, ameaçava os juízes e reclamava de cada falta
marcada. ‘Eu agia como maluco na quadra. Era horrível. Então o clube do
qual eu fazia parte me suspendeu por cinco meses, então minha mãe
pegou a raquete e a trancou no armário. Por cinco meses, ela deixou
minha raquete trancada. Depois disso, jamais abri a boca de novo na
quadra de tênis. Desde o dia em que voltei daquela suspensão, não
importava o que acontecesse, eu sempre me comportava bem na
quadra.’”16

Quando tomamos a decisão de abster-nos de certas maneiras de agir,


independentemente do que acontece, então o arrependimento está
atuando. Abandonamos o pecado quando dominamos o hábito em
quaisquer circunstâncias que ele nos seja imposto. Não se trata da
passagem do tempo, mas uma mudança no coração é o ponto-chave.
Restituição
O arrependimento exige restituição plena, no espírito de Zaqueu, que
disse: “Se nalguma coisa tenho defraudado alguém, (. . .) restituo
quadruplicado” (Lucas 19:8; ver também Levítico 6:4). Esse espírito
exsudava do Élder Spencer W. Kimball quando ele foi chamado ao
apostolado. E quanto às pessoas que ele poderia ter ofendido? Será que
tinham ressentimentos contra ele? Ele visitou cada homem com quem
fazia negócios para explicar a situação. “‘Fui chamado para um cargo
elevado na minha Igreja. Não posso servir com a consciência tranquila a
menos que saiba que minha vida foi honrosa. (. . .) Se houve alguma
injustiça, quero corrigi-la, e trouxe meu talão de cheques’. A maioria
apertou-lhe a mão e recusou-se a ouvir mais alguma coisa. Alguns deles,
[porém], acharam que seria justo terem obtido algumas centenas de
dólares a mais em certas vendas. [O Élder Kimball] preencheu os
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cheques.”17

A restituição vem de muitas maneiras. Pode envolver a devolução de


dinheiro, um pedido de desculpas, orações oferecidas em benefício da
parte lesada, a compensação por anos de serviço perdido por meio de
esforço redobrado, ou a compensação do negativismo com ações e
palavras positivas. O espírito do arrependimento exige uma restauração de
tudo o que for possível, tudo que estiver a nosso alcance.

O povo dos ânti-néfi-leítas compreendia esse princípio. Antes de


ouvirem o evangelho, em seu estado de espírito obscurecido, haviam
cometido inúmeros assassinatos e transgressões contra os nefitas. Num
sincero empenho de restituição, o rei arrependido dos lamanitas fez esta
oferta a Amon: “Seremos (…) escravos [dos nefitas] até repararmos os
muitos homicídios e pecados que cometemos contra eles” (Alma 27:8; ver
também Helamã 5:17). Aquele humilde rei sabia que seu povo não
poderia restaurar a vida daqueles nefitas que eles haviam matado, mas
ardia em seu coração o desejo de fazer tudo o que pudessem para reparar
seus erros. Ele e seu povo serviriam àqueles a quem tinham prejudicado e,
se necessário, até se tornariam seus escravos. Esse era o espírito da
restituição. Esse era o espírito que ardia no coração dos arrependidos
filhos de Mosias, porque foram “procurando zelosamente reparar todos os
danos que haviam causado à igreja” (Mosias 27:35).
Confissão
O verdadeiro arrependimento, porém, é um capataz zeloso. Exige mais
do que apenas o abandono do pecado. Moisés ensinou: “Culpado sendo
numa destas coisas, (…) confessará aquilo em que pecou” (Levítico 5:5;
ver também Números 5:6–7; Neemias 9:3). Davi prometeu: “Eu declararei
a minha iniquidade” (Salmos 38:18). Aqueles que procuraram João
Batista chegaram “confessando os seus pecados” (Mateus 3:6). Para o
Profeta Joseph, o Senhor declarou: “Ordeno outra vez que te arrependas
(…) e (…) que confesses teus pecados” (D&C 19:20). Mais tarde, Ele
admoestou: “Desta maneira sabereis se um homem se arrepende de seus
pecados — eis que ele os confessará e abandonará” (D&C 58:43). Samuel
Taylor Coleridge, falando por meio de um antigo marinheiro, conhecia
muito bem as dores do sigilo:
Imediatamente aquele estado de espírito foi arrancado
Com lastimosa agonia,
Obrigando-me a começar a minha história; E então me

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libertou.
Desde então, numa hora incerta, A agonia
retorna:
E até que a minha medonha história seja contada
Este meu coração arde dentro de mim.18

Felizmente, o homem verdadeiro arrependido, ao contrário do


marinheiro, não precisa confessar seus pecados repetidas vezes, depois
que uma confissão sincera tiver sido feita para o devido líder do
sacerdócio —, mas até que essa confissão ocorra, que lhe arda o coração.
O Senhor deixou absolutamente claro que “o que encobre as suas
transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará
misericórdia” (Provérbios 28:13). Quando Alma perguntou ao Senhor
como ele deveria tratar certos transgressores na Igreja, o Senhor
respondeu: “Se confessar seus pecados diante de ti e de mim e arrepender-
se com sinceridade de coração, tu o perdoarás e eu também o perdoarei”
(Mosias 26:29; ver também D&C 64:7). Mas se não confessarem “seus
nomes [seriam] riscados” (Mosias 26:36), querendo dizer que seriam
excomungados da Igreja.

Quando devemos confessar? Quando os pecados são de magnitude tão


séria que possam resultar numa ação disciplinar ou continuar a assombrar-
nos a mente de modo a não termos paz. Davi compreendia essa última
condição, como comprova sua admissão: “O meu pecado está sempre
diante de mim” (Salmos 51:3). Se então deixarmos de confessar, nosso
horizonte espiritual se torna limitado. É como estar cercado por uma
muralha circular e impenetrável. Nessa situação, podemos ter espaço
limitado para nos mover, mas estamos presos numa armadilha. Vamos
procurar em vão uma fenda pela qual possamos nos espremer, uma
abertura pela qual possamos passar, uma extremidade ao redor da qual
possamos dar a volta. Não há fim do muro, aberturas secretas, passagens
ocultas. Anos de serviço não remediam a confissão, anos de abstinência
não apagam sua necessidade, uma súplica pessoal ao Senhor não a
substitui. Em algum lugar, em algum momento, de alguma forma teremos
que encarar o muro e escalá-lo. Isso é confissão. Quando fazemos isso,
nosso horizonte espiritual se expande.

Oscar Wilde conhecia essa verdade quando narrou a história de Dorian


Gray. Certo dia, Dorian trocou sua alma pela promessa de eterna
juventude. Wilde descreve a decadência de Dorian de um jovem inocente
para um matador impassível — até que nada restou dele a não ser a

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sórdida visão do ser infeliz e desgraçado em que se tornara. Mesmo nesse
estado de aparente desesperança moral, a consciência de Dorian fez
cintilar uma última esperança: “Mas era seu dever confessar, sofrer a
humilhação pública e expiar seus erros perante todos. Havia um Deus que
conclamava os homens a confessar seus pecados na Terra e no céu. Nada
que ele fizesse o purificaria até que confessasse seus próprios pecados”. 19

E da mesma forma, quando necessário, nada há que possa nos


proporcionar a purificação desejada a não ser uma confissão sincera
àquele que foi designado pelo Senhor aqui na Terra.

Em que espírito fazemos essa confissão? O Senhor mostrou-nos o


ponto-chave: “Eu, o Senhor, perdoo pecados e sou misericordioso para
com aqueles que confessam seus pecados com o coração humilde” (D&C
61:2). Esse é o espírito. Não há lugar para fingimento ou falsidade, não há
como amenizar os fatos, não podemos divulgar 99% e reter 1%. Temos de
revelar toda a verdade e nada mais que a verdade. O pai de Lamôni tinha
o espírito certo: “Abandonarei todos os meus pecados para conhecer-te”
(Alma 22:18; grifo do autor). A confissão e o arrependimento envolvem
uma desnudação irrestrita da alma, uma rendição incondicional do ego. A
revelação deve ser voluntária, e não compelida pelas circunstâncias
externas. Uma das almas condenadas de Dante descobriu de modo árduo
que a confissão no leito de morte jamais invocaria o processo de
purificação:
Quando percebi que havia chegado à idade
Em que a prudência de todo homem recolhe as velas E guarda seus equipamentos
para enfrentar a tempestade, Aquilo em que antes me deleitava passou a me
causar vergonha:
Em penitência confessei, abandonando tudo.
Ah, que infeliz sou eu — pois ainda assim não estou salvo!20

A resistência à confissão é algo que acontece até aos bons santos. Eles
podem sentir-se envergonhados ou embaraçados. Talvez acreditem que
seus líderes do sacerdócio tenham um conceito pior deles depois que o
pecado for confessado. Precisamos lembrar que os bispos e os outros
líderes do sacerdócio são amigos que desesperadamente querem ajudar e
aliviar fardos. São seres humanos que cometeram erros, mas que querem
melhorar. São pais para seus rebanhos. Posso honestamente dizer que
como líder do sacerdócio, jamais passei a ter um conceito pior de um
homem ou de uma mulher que voluntária e humildemente confessou. Pelo
contrário, regozijei-me por estarem tentando colocar sua vida em ordem.

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Em cada caso, creio que os laços de irmandade foram fortalecidos, e não
enfraquecidos.

Quando Mahatma Gandhi tinha 15 anos, ele roubou algo do irmão. Seu
irmão carregava no braço um pedaço de ouro sólido. Gandhi achou fácil
arrancar um pedacinho para si mesmo. Disse que a dor da culpa foi tão
forte que ele decidiu nunca mais roubar. Tendo saldado a dívida com o
irmão, disse que tomou a decisão de confessar a seu pai — mas tinha
medo, não que o pai fosse bater nele, mas pela dor que isso causaria a ele.
Por fim, ele disse: “Senti que devia correr o risco, porque não poderia
haver uma purificação sem uma clara confissão”. Gandhi resolveu
escrever sua confissão. Fez isso, confessando sua culpa, prometendo
nunca mais roubar e pedindo o devido castigo. Concluiu pedindo ao pai
que não se punisse pelo que Gandhi tinha feito. Naquela época, o pai de
Gandhi estava muito doente e confinado ao leito, que nada mais era que
uma tábua de madeira. Gandhi, tremendo, entregou a confissão ao pai,
depois se sentou diante dele e esperou ansiosamente uma resposta. Em
suas próprias palavras ele conta o que aconteceu:

“Ele leu tudo, e lágrimas cor de pérola escorreram-lhe pelo rosto,


molhando o papel. Por um momento, ele fechou os olhos em pensamento
e depois rasgou o bilhete. (. . .) Pude ver a agonia do meu pai. Se eu fosse
pintor, poderia fazer uma gravura da cena ainda hoje. Tudo está bem
vívido em minha mente.

Aquelas lágrimas de amor cor de pérola limparam meu coração e


lavaram meu pecado. Somente quem sentiu esse amor pode saber o que é.
(. . .) Ele transforma tudo em que toca. Não há limite para seu poder.

Esse tipo de perdão sublime não era algo natural para meu pai. Achei
que ele ficaria zangado, diria palavras ásperas e bateria na testa. Mas ele
ficou maravilhosamente sereno, e creio que foi devido à minha clara
confissão. Uma clara confissão, combinada à promessa de jamais cometer
o pecado de novo, quando oferecida ao que tem o direito de recebê-la, é o
mais puro tipo de arrependimento. Sei que minha confissão fez meu pai
sentir-se absolutamente seguro a meu respeito, e isso aumentou o afeto
que ele tinha por mim”. 21

Que belo comentário. A confissão sincera aumenta, e não diminui, o


afeto que um líder do sacerdócio tem pela alma arrependida.

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O Élder Marion G. Romney comentou: “Meus irmãos e irmãs, há
muitos entre nós cuja aflição e sofrimento são desnecessariamente
prolongados porque não completaram seu arrependimento confessando
seus pecados”. Naamã, o leproso, foi ao profeta Eliseu em busca de cura.
22

Eliseu disse a Naamã que fosse lavar-se sete vezes no Rio Jordão.
Podemos nos perguntar o que teria acontecido se Naamã, o sírio, tivesse
mergulhado três vezes no Rio Jordão e depois desistido. Será que ficaria
três sétimos limpo? Ou e se ele tivesse mergulhado seis vezes e desistido
— será que estaria seis sétimos limpo? Sabemos a resposta. A purificação
só veio depois que ele mergulhou pela sétima vez, após total submissão à
palavra de Deus. E então se seguiu a purificação! As escrituras relatam:
“Sua carne tornou-se como a carne de um menino, e ficou purificado” (II
Reis 5:14). O mesmo acontece com o pecador, o leproso espiritual. Deve
haver total submissão à vontade do Senhor, um coração quebrantado e um
espírito contrito, até uma confissão, se necessário, para completar o
sétimo mergulho, e então o espírito é purificado “como o espírito de um
menino”.

Por que o Senhor exige uma confissão? É tão difícil. Talvez porque esse
ato a mais do que todos os outros nos faz ajoelhar-nos na mais profunda
humildade. Falando do processo do arrependimento Alma declarou:
“Deixa que te humilhem até o pó” (Alma 42:30). Mas, oh, como é
grandiosa a promessa para os que assim o fazem: “Se confessarmos os
nossos pecados, Jesus Cristo é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e
nos purificar de toda a injustiça” (I João 1:9). Por outro lado, o Senhor
advertiu: “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará”
(Provérbios 28:13). A verdadeira natureza do homem sempre acabará
sendo revelada. Todo disfarce, toda farsa, todo subterfúgio pode durar
alguns dias, semanas, meses, talvez até anos, mas por fim o verdadeiro
caráter do homem será expresso em suas palavras, traído em suas ações e
manifestado em seu semblante. Quão melhor seria revelar
voluntariamente o verdadeiro caráter do que ser descoberto
involuntariamente. A confissão é um modo de transpor esse vão.
Um poder purificador
Os frutos do arrependimento nos deixam puros. Isaías declarou: “Ainda
que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos
como a neve” (Isaías 1:18). Na antiga Israel, o Dia da Expiação
simbolizava as consequências que fluiriam do verdadeiro dia da expiação.
Lemos nas escrituras: “Porque naquele dia se fará expiação por vós, para
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purificar-vos; e sereis purificados de todos os vossos pecados perante o
Senhor” (Levítico 16:30; ver também Levítico 23:27–28). Isso somente
era possível por causa do futuro dia de redenção do Salvador. Por meio
dessa Expiação, o Senhor prometeu aos justos que suas “vestes [serão]
branqueadas por meio do sangue do Cordeiro” (Éter 13:10; ver também
Alma 13:11). 23

Davi suplicou ao Senhor: “Lava-me completamente da minha iniquidade,


e purifica-me do meu pecado”. Depois, ele descreveu o milagre:
“Purifica-me (…) e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a
neve” (Salmos 51:2, 7). Não existe uma pessoa arrependida com manchas
ou de cor acinzentada. Não há mancha negra que venha a emergir das
águas do batismo, não há mácula que sobreviva aos rigores do
arrependimento. A alma arrependida se torna branca como a neve. Para
esse santo, é como se o ato nunca tivesse sido cometido. Esse é o milagre
24

do arrependimento. Como disse o Élder Matthew Cowley: “Creio que


quando nos arrependemos algo é apagado lá em cima, de modo que
quando lá chegarmos, seremos julgados pelo que somos e talvez não pelo
que fomos”. Ele também comentou: “É disso que eu gosto a esse respeito
— o apagamento” Para o que não se arrepende, isso não acontece. O
25

Senhor advertiu: “Eis que meu sangue não os purificará se eles não me
ouvirem” (D&C 29:17).

O Senhor ama cada um de Seus filhos e anseia por perdoá-los. Se


simplesmente nos arrependermos: “Grandioso é [Deus] em perdoar”
(Isaías 55:7). Pedro explicou que o Senhor “não [quer] que alguns se
percam, senão que todos venham a arrepender-se” (II Pedro 3:9). Até
Acabe, o malvado rei de Israel, teve um momento transitório de
arrependimento que foi recompensado pelo Senhor: “Porquanto se
humilha perante mim, não trarei este mal nos seus dias” (I Reis 21:29). É
como se o Senhor quisesse nos abençoar a cada tentativa, por menor ou
mais débil que seja de colocarmos nossa vida em Suas mãos. Àqueles que
sinceramente se arrependem o Senhor prometeu: “Eis que aquele que se
arrependeu de seus pecados é perdoado e eu, o Senhor, deles não mais me
lembro” (D&C 58:42). Ezequiel assegurou-nos dessa mesma grande
verdade: “De todos os seus pecados que cometeu não se terá memória
contra ele” (Ezequiel 33:16; ver também Ezequiel 18:22). É um
pensamento glorioso: O Senhor vai julgar-nos pela pessoa que nos
tornamos, e não pela que éramos antes. Se nos arrependermos, Ele vai
julgar o novo homem, não o velho. Essa foi a súplica de Davi: “Não te
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lembres dos pecados da minha mocidade, nem das minhas transgressões;
mas segundo a tua misericórdia, lembra-te de mim, por tua bondade”
(Salmos 25:7).

O perdão do Senhor é total e incondicional, depois que nos


arrependemos. Samuel, o lamanita, ensinou aos nefitas que o Senhor, por
meio de Sua Expiação, tornou possíveis “as condições do
arrependimento” (Helamã 14:18). O Senhor declarou ao Profeta Joseph
Seus sentimentos a respeito desse princípio divino: “Pois eis que eu, Deus,
sofri essas coisas por todos, para que não precisem sofrer caso se
arrependam; mas se não se arrependerem, terão que sofrer assim como eu
sofri” (D&C 19:16–17). O Élder Neal A. Maxwell resumiu isso muito
bem: “Acabaremos tendo que escolher o modo de vida de Cristo ou Seu
sofrimento!” Se escolhermos Seu modo de vida vamos vencer a morte
26

espiritual por meio dos milagrosos poderes purificadores da Expiação.

Notas
1. Conference Report, outubro de 1953, p. 35.
2. McKay, Gospel Ideals, p. 13.
3. Lee, Stand Ye in Holy Places, p. 221.
4. Kimball, O Milagre do Perdão, pp. 203–204.
5. Frost, “The Road Not Taken”, p. 105.
6. McKay, Gospel Ideals, p. 13.
7. Donne, “Holy Sonnets VII”, p. 249.
8. Smith, ​Doutrinas de Salvação, comp. por Bruce R. McConkie, 1954–1956, 3 vols., vol. I,
pp. 245–246.
9. Shakespeare, Hamlet, 1.3.78.
10. Kimball, Teachings of President Spencer W. Kimball, p. 88.
11. Ibid., p. 99.
12. Roberts, Gospel and Man’s Relationship to Deity, p. 25.
13. Featherstone, Generation of Excellence, pp. 156–159.
14. Dante, A Divina Comédia, p. 48.
15. Smith, Matthew Cowley, p. 298.
16. Phillips, “The Tennis Machine”, pp. 56–57.
17. Kimball e Kimball, Spencer W. Kimball, p. 197.
18. Coleridge, “The Rime of the Ancient Mariner”, em Williams, Immortal Poems, p. 287;
grifo do autor.
19. Wilde, O Retrato de Dorian Gray, p. 176; grifo do autor.
20. Dante, A Divina Comédia, p. 48.
21. Gandhi, Autobiography, pp. 23–24; grifo do autor.
22. Conference Report, outubro de 1955, p. 124.
23. O poeta John Donne expressou-se eloquentemente sobre o sangue expiatório de Cristo e
Seu maravilhoso poder de transformar um pecador num santo:
Não carecerás de graça, se te arrependeres.
Mas quem te dará essa graça, afinal?
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