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com/lacanempdf
Marie-Hélene Brousse
Organização
Carmen Sílvia Cervelatti
Revisão tknica
Carmen Sílvia Cervelatti
Sandra Arruda Grostein
Rmslo de portugub
Celso William Cavicchia
Notu bt'"bliogr6ficas
Carmen Sílvia Cervelatti
Eliana Machado Figueiredo
Agradecimentos especiais
Maria Bonomi
Marizilda Paulino
Silvana Cardoso de Almeida
Brousse, Marie-Hél!ne.
�o inconsciente é a política" I Marie-Hélêne Brousse. -
São Paulo: Escola Brasileira de Psicanálise, 2003.
ISBN 85-89632-01-6
Bibliografia
CDD-150.195
O inconsciente é a política
Marie-Hélene Brousse
Apresentação
Sandra Arruda Grostein 07
Prefãcio
Angelina Harari 09
Conferências
O analista e o político:
"Alcançar em seu horizonte a
subjetividade de sua época" 13
7
interessante, tendo a psicanálise de orientação lacaniana como bússola
para abrir os caminhos ainda não explorados das aproximações e dos
distanciamentos na relação da psicanálise com as psicoterapias.
As propostas apresentadas são otimistas quanto ao futuro, pensado
a partir da possibilidade de a psicanálise "desembaraçar-se das suas
Nota
' Freud S. "O mal-estar na ci,·ilizaçào'' ( 19.29): Edição Standard Brasileira das Obras
Completas de Sigmund Freud. Vol. X..\] (19.27-1931); Rio de Janeiro: Imago Ed.,
1974, p. 167.
Prefácio
Angelina Harari
9
poder", de 1958; "A psiquiatria inglesa e a guerra", de 1947;
"Proposição de 9 de outubro ... " de 1967. Além disto hã nas
conferências referências mais gerais de Lacan e de Freud, assim como
do curso de Jacques-Alain Miller na Universidade de Paris VIII.
O leitor terá oportunidade de se deparar com várias chaves
lógicas encadeando os três capítulos, são vários os desdobramentos
possíveis aos quais a autora nos conduz.
Eis, à guisa de introdução do leitor ao livro, um, entre vários
possíveis, encadeamento lógico dos capítulos a respeito do tema O
inconsciente é a política:
• na primeira conferência a autora mostra como a dialética do
desejo não é jamais individual no campo analítico; portanto o
inconsciente está no cerne da política e isso se reflete no
interesse do analista em alcançar em seu horizonte a
subjetividade de sua época:
• em seguida, a conferencista marca a relação entre-a união dos
mercados (globalização) por um lado, e os processos de
segregação por outro, como a universalização em que, com o
intuito de anular as diferenças, vê a segregação ressurgir;
• por último, e sempre partindo de Lacan, postula que o futuro da
psicanálise está ligado ao fracasso em satisfazer a demanda do
mestre.
10
• INTRODUÇÃO
11
O inc:on<.:i�n,� I a polu,.:a
Notas
' Lacan, J. Seminário 14, A lógica do fantasma. Seminário inédito.
' Lacan, J. Seminário 23, O sinthoma. Seminário inédito.
12
lª CONFE�NCIA 26/11/2002
• PRIMEIRA CONFERÊNCIA 26 l 1 '2002
O analista e o político:
"�Jca�çar,em seu horizonte1a
subjetividade de sua época"
- -- -- Marie-Hélcne Brousse
Um silêncio é rompido
Primeiramente. devemos constatar que não é uma tradição dos
analistas assumir ou tomar uma posição política publicamente. Isso já
ocorreu na história da psicanálise, mas nesses últimos anos os analistas
15
O ,noon.5..·:�r:tt> � a poli11..·�
� ( >V ff !.le.; n·u ..J.-O"í 'l\"t>'(' e J_,;� cu.\ i"ll a..,......_,o. t,' �. (<.'). C-cY\ Í-.J r.,;._ l.e,.. ,
permaneceram em silêncio. As Cartas à opinião esclarecida, de
Jacques-Alain Miller, vieram romper um longo silêncio. Miller, que
criou a Associação Mundial de Psicanálise (AMP), havia reservadQ. o
seu trabalho à teoria e à clínica analítica se dirigindo essencialmente a
um público de analistas, no interior de uma comunidade de trabalho.
No ano passado, pela primeira vez, depois de vinte anos, ele saiu do
seu silêncio e se dirigiu à "opinião", como ele chamou, além das
instituições. Portanto, podemos dizer que ele retomou o seu lugar na
cidade. Ele o fez por razões éticas e também por razões ligadas ao
4r avanço e\!_defesa da psicanálise lacaniana na nossa sociedade, Eº
início do século_ XXI. .. Defesa porque a psicanãlise é mui�o
freqüentemente atacada. Ela se encontra sempre em uma situação
particulitr . e..111 relaç!9 ªQ QO<!� É raramente reconhecida na
universidade e, se está presente no campo da saúde mental, é mais pel�
fato de os analistas,,um a um, optarem por este trabalho. Talvez esteja
bem assim, porém!isso implica gue o discurso analítico· não esteja po
\.-!) mesmo Iug_!,I" 9.\:!e os outros discursos, É necessário tomá-lo conhecido.
,
O analista e a política
Para refletir sobre qual a !.�l�<;>.fu11damental que o analista tem
com a dimensão política1 a partir do ensino de Lacan, usamos duas
referêncjas. que não são exatamente da mesma época, às quais
_acrescentarei uma terceira. Foram escolhidas pela clareza.
A primeira, "alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua
época"', citação de "Função e campo da fala e da linguagem em
_psicanálise", texto de\ 1953,,no qual Lacan enuncia claramente, pela
primeira vez, a tese que irá orientá-lo em sua leitura de Freud e
re.valuciaoar a psicanáijse. É o momento em que Lacan apresenta o
axioma "o inconsciente é estruturado como uma linguagem", quando
se inicia a orientação estruturalista da psicanálise e se articula o avanço
da teoria do inconsciente com o da lingüística.
No campo analítico, ele diz que a dial�tica do desejo não é jamais
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indiv�<!_llal_; Não vamos tirar as conseqüências disso'imediatamente.\Não 'lE..,{;
há nada que pareç_ª mais individual do que fazer uma análise. O sujeito
fala a respeito do que el��m de mais íntimo, do gue ele tem de mais
singular. confessa o seu inconfessável.\Eis aí uma p_r:áH�_a qye .Qª_rec�
centrada no indivídu�_que aconte�e den_tr� de um consultório, 1distante
d�s laços soc��is que � suj �_ito estabelece, isto é, distante do coletivo\
,2 q�e quer di�er então "a dialética não. é individual':J Isso faz,
evidentemente, referência ao inconsciente estruturado como uma
linguagem., Na perspectiva ai_ialítica, a oposição individual/coletivo
q
não é válida, e desejo que o sujeito visa a decifrar é sempre o deseio
--===- -
do Outro, uma vez que passa pelos desfiladeiros do significant�
Além disso, Lacan sublinha n�L!,inguagem\ tanto sua ! natureza
histórica como també� sistêmica,J um sistema diferente conforme as
lín�.t Ele até se perguntou se os japoneses têm um inconsciente,
levando-se em conta a natureza da língua japonesa. Portanto, existe
1 historicismo da língua, ela traz em si a história e os traços fundamentais da
civilização. É nessa perspectiva que podemos compreendei o que ele dirá
mais tarde: o inconsciente é lítico - essa proposição que, sem a
referência ao desejo do Outro, nos esforçaríamos para considerar evidente.
Em Milão2, J.-A. Miller, relembrou que\a política é o inconsc_ient�fa
perguntou: será que o senso comum compreende isso? P��ig_'!�-� lapsos
do_s_ _políti<;o� e depois os interprete, e intel]!_�te--ª-_ 'Ô®_política como �
interpretam os fenômenos de formação do inconsciente. Ele retoma a
proposição dizendo:�'? mconsc1ente e a poHiicaJ que está em defas.�� Ã
com relação ª-�s� (?rientação do senso comum,\�Êo1Jtica e o!!Jsj}aicZen!�) ·
Miller ressaltou algo que é muito preciso: é modéstia de Lacan quando ele
diz isso. Ele é modesto, pois afinal de contas ele dá uma definição do
inconsciente. Para um analista é perfeitamente legítimo e mesmo
desejáve l. Ele não_ � �j_!__e_ <;mr _\ID"!a definicào 9.9._@líti�9. Q_gµe afinal
�e_ ç_Qntas nãQ_�flll nada_mlli�_do ql!�_uma interpretação se!vagem.
Tudo isso nos conduz à expressão em questão,}, levando-s�
c�nta o fato de 9.1Je a dialética-
do desejo não
--·- - -- é indiY.idua.1.Jexige-se
__ ... do
17
'-= .... • "'' ' - ..... � - ......._,...,... � . ... - . -- - - {' - , ,
�lista que ele se interesse pela dimensão_d.Q .I>.ºlítico e da cidDde.
Lacan chega ao ponto de dizer que aquele que não quiser se interessar
por isso, não pode ser analista. Eu vou citar a frase inteira. Ele fala do
analista: "Que antes renuncie a isso, i>_oi:t--ª�tºi. q!-!_ef!1_ não �e_gujr
alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua, �oca. Pois, como
poderia fazer fie seu ser o ei_x o de tantas vi�s 19uem nada soubesse da
\dialética gue o compromete <;om essas ,l;j4as num movimento
àmhó�3 • É uma frase belíssima, em primeiro lugar, porque é uma
definição do trabalho do analista: "fazer de seu ser o eixo de tantas
vidas". Não é dessa forma que ele falaria a respeito disso mais tarde,
porém um ponto permaneceu constante até o final do seu ensino: que a
1 �áti��_do analista \o compromete em seu próprio se�. Além disso, é
19
Essa descrição mostra o analista como homem de desejo, e de um
desejo articulado ao insuportável, ou seja,1um desejo que não recu��iante
�on!9 do insyportávrl_�da.um. É o que Freud chamou de "a Coi�",
cf:as Ding,. o centro vazio de cada analista. E por que vazio? PQ_rqll� �-9
P.Onto ondep_ .si.ijci� ���O sujeito esvanece exatamente ali onde ele
�e aproximado ponto do que é insuportável, o ponto de horror.\
Muitas vezes, no Seminário 7 - A ética da psicanális�, Lacan
lembra Aristóteles. Ele confronta a ética da psicanálise com a ética
aristotélica. Resumindo, / Aristóteles clefine o campo� �ti_ca,
c_on_��d�do g_tE .o meioé.J> gµe está fora desse campo, tudo o que eJe
chama de monstrµa§Q. t!.ldQ� � �a ordem dQ_g_ue_s��de imagi11ar�
de pior exista Ele exemplifica com os atos de barbáries, com os tiranos
de sua época e, completa, disso não se fala porque não faz parte das
coisas humanas, portanto não faz parte do campo da ética.
Diferentemente, a psicanális� - por consid�r_a! o -�_o_n�truº-�-º
não como uma_j@rtic_l!_��Ld!!de.1.2,e alguns � sim c.9mo en�<_?n�r_ável �1}1
todos os humanos, mesmo que com modalidades diferentes, mas
«.:....::; - - - ----�- · - - - - •
A neutralidade do analista
O que é a neutralidade do analista? Não é um eu não vou tomar
partido. O analista é forçosamente alguém que se compromete, que se
envolve e que toma partido. Como definir esta_ neutral_i�ad�,_ !endo
como fundo o comprometimento?
Em primeiro lugar, considerar-se il eutro não significa e sta r fora
da subj etividade de sua época . É não a pena s estar dentro dessa
su bjetividade como ta mbém sa ber se orientar nela .
E m segundo lugar, �q ue a neutra lida de seria ma is uma
neu tralização do jui z!;)-: O ana lista não tem que julgar, ele não é um juiz.
Lacan diz isso em uma conferência:\quem sou eu para j ulga r essa v ida
�e confessa?; Portanto. nada de sugestão, nem de j uiz. nem de
conselheiro_J A neutra lidade do a na lista dev e ser definida e baseada
nesses dois pontos. li; uma neutra lidade com rela ção a o eu.J. e a o
supereu) ma s é uma neutralidade que é de um compromisso para o
suj eito.l É uma espécie de adiamento do p�çonceitp e_.de. escolha,.
escc:,lhas q ue lhe são própria s enquanto s ujçito e _ não enqua nto a na lista.
'º analista não está presente na a nálise enquanto sujeito, e sua
neutra lida de diz resp eito ao eu, à a daptação soc ia l e a o supereu =;-:sz
seut
�
im perativo de gozoj E�, é um:i n�utra lidade que diz resp�ito a os
.
Notas
Lacan, J. .. Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise", in Escritos; Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1 998, p. 322.
' '.\liller, J.-..\. "'lntuitions milanaises [I)", in Mental - Revue lntemationale de Santé
.\lenta/e e Psychanalyse Appliquée, n º 1 1. décembre 2002, pp. 9-2 1 .
.
,'Q Lacan, J. .Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise", in Escritos-, Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1 998, p. 322.
' Lacan. J. · ·_.\ direção do tratamento e os princípios de seu poder", in Escritos: Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed .. 1 998, p. 648.
Lacan, J. O Seminário - Livro 7: A ética da psicanálise; Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed., 1 988. p. 1 4.
·, � 1 .
C: c,,,,ul ()! d, (}..O a. v1 0 &-s,4 o cÚ vtJõ 6lÍ:-t
; ,s-C-1/w, : d( v'iY v ('l( ai) �
_ j) O Cc(cJ'Ív,,
� fh C.{; ff,q WúdtJJé &J
�!li !Ottl-0 &ft}
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o
Debate
2S
dos filhos não se dá mais simplesmente pelo casa�ento, mas por algo que
s�hama �·sentimento filial", que é de alguma forma <;>_reconhecimento
l
qQ!pais �[_parte dos filho,Vlsso mostra um dos paradoxos da noss;;
época, uma vez que se toma algo, �_m_ princípio _privado, como e
sentimento, comq_critériQ_çie legkir_n�ª-2· Ao mesmo tempo, o Estado se:
dá o direito de -�uma ingerência cada vez maiOLna privad9, ou at�_!!C:
íntimo.� O mesmo desembargador, por exemplo, acha que num futurc;
mais ou menos próximo, o Estado vai ter o direito de se imiscuir não sé.
no casamento como instituto legal, mas também terá uma palavra a dizer'
sobre a existência ou não de afeto; ele vai buscar penetrar nesse âmbito. !
-f7' Para esta nossa discussão.l!_oca.Jjzei alguns dos sentidos da palavra·
"subjetividade" nos Escritos de Lacan. É uma palavra que na nossa época'
ganhou uma importância muito grande, e me pareceu que o sentido·
consagrado atualmente não é exatamente o mesmo sentido gue dá Lacan.
Subjetividade corresponde para Lacan, mesmo em épocas muito diversas
do seu ensino,V1o_gue poderíamos chamar de efeitos dt! suieito. e não a
uma configuração qualquer, que fosse próxima do indivíduo psicológico. !
Por exemplo, a subjetiYidade surge no texto de Lacan em :
oposição ao mental, ou à rede de alianças simbólicas. Neste sentido, é j
uma noção que\�ao esta !l_!�ito_1�!!81:: �11 <!e sil'!_t_o_n:i.�J � subjetividade é!
aquilo que s e precipita dç_YfillL.�ª vontade , � .um_a-�rt�i
organj:za�º·J Entào�_tem ck_fato um caráter mais ou menos 1
subversiyo. O que vale dize!"__ q!:_le .!_�m g_ç_saída !-1.JTI caráter político. 1
Ora, se costumamos dizer - Marie-Hélene Brousse trouxe-nos uma
contribuição importante sobre essa questão - que vivemos em útft lempo
em quef os laços sociais são estruturados a partir do discurso ao dãcifnçji
mesmo tempo sa�.!n_()�-9�e_a ci�ncja. 9ã_Q __ i_r.r}p!i_ç1:t u_rn. _disc!IfSO,. n_��
implica um laço social. Podemos concluir que os laços sociais interessam
de muito perto aos psicanalistas, uma vez que cada um deles yaj apresentar
µm tr2E.Sº J?IÓprio. A subjetividade vai aparecer para um psicanalista
fundamentalmente como tropeço. como algo que não está no seu lugar.
Em certo sentido, c�da tropeço vaj set O��J)discurs-9 n��.ti&!na.
ç:
�i _. v,,l (,Ío,"'rt'n iv?
r'/ 4 e. t/n, <LI C4t '.;.., ·:.e, eh (' &'M ú, -1 ·11 . ' 7-'"'
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O totalitari smo, por exemplo, produz sintomas, que são facetas do
que chamamos de "subjeliYi.dade__de nosso tempo".
Quando Lacan faz o e!Qg_io de F�d, quando se opõe à critica de
André Breton, que ficou decepcionado por encontrar em Freud a
imagem de um burguês bem comportado de Viena, L.acan está dizenjo
que não é exatamente a participação pública pgHtjca de Freud que o
�cteriza como a to�de fogo que B!e!?E_ d�sejava ter .
encontrado, \mas'Jo fato dweJer �ciado, posto a nu, aquilo que é/?;)
segregadoJ \0 que Marie-Hélene Brousse çbamou. de �monstnrnso." ,
e�tá l!ª verdadd no cerne do indiv@ijili",g_g _�()J_ett�o.'
O que Freud inventou politicamente foi a idéia - expressa em uma
prática sistemática - de que tratar um tropeço da lógica de um Qi�ç_urso,
isto é, tratar um sintoma\é contesJar ���e - �isçurso, e ir mais longe do_9!!� (�,
a tentativa frustrada da his�til!.Jl!J.k se.re1u1e à i!TIRQtêQ�J\JJ --::· �;:". ::-��;r,·-�· ,;
Então, me pareceu muito feliz a demonstração de Marie-Hélene
Brousse, de que o analista,\__!endo º!1 não uma E_articipação coletiva
visível,! não pode esquecer que \o fato de agir
.. como analista já é ,'B---;
E2m�
.
27
Lneutraliclade COJn u m engaj amento) O lateral da minha questão tem que
ver c om algo que discu timos em u m carte l sobre a c ontratransferência.
Uma c olega no carte l pe rgu ntava a re spe ito da relação e ntre a
neutralidade e a c ontratransferên_ç ia. QIJ� dize r.:.. ...Q. filie seria esse
engajame nto? Em um_ movim_!f!t� p�ic analítico e sse eng�me nto_foi
entendido como o analist�ter de se colocâr na relação analítica. Então,
c oloc ar- se se ria falar a partir dos seu s se ntimentos, dos seus
julgamentos, preconceitos etc. Eu gostaria de que Marie-Hélene Brousse
pudesse falar u m pouc o sobre e ssa relação, 'sobre esse "sai r ç}Q_silênc io".
Enquanto formulava minha pergunta, me dei c onta de que o tema que
-...:-�--=-..:.==-�...:e..;: ::.
nos reúne, i�nconsciente é a_ políti?, surgiu e m um curso de J. -A.
Miller, logo após uma e tapa em que e le trabalhava a\§�ratrãnsferené'§
Então, há alguma relação?
28
orientação política deste parceiro. Na verdade, essa orientação política
não é exatamente a minha, portanto - contratransfer_ê ncia. Se estivesse
na perspectiva de analisar a contratransferência, eu teria fei� uma
intervenç�o .f_Q__f!1 _�el��E_él_�_s._sa escolha política, alh�.s., essa escolha iria
impl icar numa viagem 120.lítiça_ . qu� _e ra_ _ m1Jitº arris�ada,. Nossa
orientação_ nos pr9íQe de fazer i_sso pois(temos o princípio de que a
contratransfe_rência é a somató�a dos ereconceitos do analista/Nesta
linha, poderia considerar que minha critica dessa posição política seria
apenas um dos meus preconceitos. Tendo uma vez apontado realmente
um pouquinho esses aspectos, ela teve uma reação e me colocou
devidamente no meu lugar. �o mel! l_!]_gªr, ne;it.e caso, era_tentar fazer
com que ela des_cpbrisse\9ual era a sua causa nessa escolha política (0
humanitária, portanto, nessa escolha de ideal.\
Por não considerar isso na definição da contratransferência,
conseqüentemente por calar um pouco o comando da interpretação,
permitiu-me tentar fazer com que ela decifrasse a orientação de gozo
que se encontrava no âmago de sua escolha amorosa - uma
identificação
----- - -- - -
com- a vítima e _uma presença incontestá�e_l - - -- --- - -
da pulsão de
f!19rt;.1 Isso levou um certo tempo, mas ela conseguiu chegar lá. Eu tive
de lQJl!a rurn� de_çisão....u.m_ poucQ_ di.fiçi1.._qu_e_ era a de não colocar todo
ºª
º..J!l�Q transferenc_il!l J>a1ªn�_ para_irri11edir que ela fosse para
aquele local extremamen!�rjgoso, como el�ueria _ ir._fja acabou
i_Qd-9/Mesmo que eu tenha dito estar preocupada, nada mais do que isso,
mas também nada menos. Para onde ela iria exigia que ela tomasse
algumas medidas para que garantisse que ela pudesse voltar./A idéia de
�nnanecer nesse lugar tem para ela um sentido de morrer 1�. foi �
ela ouviu,1Voltou, pelo menos fisicamente, ela teve um mau encontro, ela
se deparou com o ponto de horror, ao qual me referi. Efl"I - � gebra
Marie-Hélene Brousse
Sim, todo discurso implica um freio ao gozo. Essa frase é de
Lacan. Mas há diversas maneiras de entender o gozo. O discurso é da
ordem ��_strutura da linguagem e implica forçosamente em uma
organização de um modo de gozo. Portanto, todo discurso opera dessa
forma. Com relação às quatro modalidades de discurso que Lacan
constrói a partir de seu esquema de quatro lugares,\em cada um deles
�iste um lugar para o gozo que não é __ ocupado pelo mesmo
significante.Jf_i>_f'!anto existe em cada discurso uma modalidadt: d�
gozo dif�r�I!!.� Por outro lado, temos que observar, e é extremamente
-
f ' .-
_:::r,- "-()(
· ea r.· . ,,..iv, .._, l, v
/ - . . , ,, [ Ç_ tJ ,} CJ
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- v.- ,
0 .
0 - , ;,
Para da r início a essa conferê ncia, utiliza remos uma referê ncia de
Lacan, uma referência a ntiga, de 194 7, após a S e�da Guerra-
iyt undia l, um texto belíssimo escrito pa ra uma revista de p siquiatria na
-- ·- ----
França,
- - - � -L---'Évolution ea
· - ingl esa-==--=
psychiatrique, intitulad°' {'A J?Siguiatria
g�.;!!,ª".@a conclusão desse texto, dua s frases fo ra m selecionadas.
-
Antes de fazer a citação se faz necessária uma explicaç ão por que esse
texto fo i escolhido. De um lado, p orque ele é interessa nte e, de outro,
p or ser um texto de 1947 , escrito exata mente 20 anos a ntes de 1967, de
quando extra ímos outra referê ncia para essa conferê ncia, a saber, a
"Prog_osição de 9 de outubro d� 1967 sobµ: o psjçapa)jsta da Escola ".
Primeira cita ção, que se encontra a o fi nal do texto "A psiquiatria
inglesa e a guerra": �Minha exposição encerra-S�!t<;>_Q_onto em que se
vislumb_ra os horizontes ue nos io'etam na vida 6bl1êã"'.a té mesmo, 1
que horror\..,�!..l? olíti� S e� dl!YJcbJ \! í enco�tra��mos -ohioos dê
.
interessej para nos compensa rem de��e� apaj xo_n_a ntes trabalhos <;lo ti.RQ
' dosli8em dos produtos de desintegraç_ã_o_uréj��E�para.frel!.!ª fabulante',
produtos eles mesmos inesgotáveis desse esnobismo de uma fal
ciência. .. "1• E m outras pala vras, a qui é a idéia de qu���nc9ntram coisa�
mais interessantes na psicanálise dq QO� t9_g� y ista p olit ic� do que no
exemplo que é dado, que seria a mudança do índice de a lguma
37
O in,.:on,...·,�nr� � :1 politi..·a
substância na unna. É por isso que ele fala dos trabalhos sobre os
produtos de uma falsa ciência. E_!e__empre� o termo "fal sa ciênc�"
porque considera que a utilização da ciência nesse tipo de trabalho não
é_ outra coisa que 1:l_f!l�Je.11t�U.!Ya..lkse ap rop.riaLd.Ç YJ!!?.. fal�éi. l�g_iti_maçª"o.
, A segunda frase: "_)>ara dizer a verdade.\os riscos inerentes a taJ
.·; r�-�ito .gelos interesses coletivoy'na prática pareceram reduzir-se a
proporçõ es ínfimas, � esta guerra. penso eu, demons trou cabalmente
queln ão é de uma dea,asjada jnd.Qcilidwk dos jpdjyjdyos qu e advirão
! os perigos do futuro human_oj Fica doravante claro que as forças
, sombri as do superego se coligam aos mais frouxos abandonos da
consciência para CQ.IJ!luzir º�l!_omens a uma mortejl,Ç eit<!_por causas ao
me_nos hu_m<1 n11 s_. ·�q ue��Jlll�� _a_p a�5,...e�S?Elº,,�çti_fi ci.2._!)�_p_e> r i� so é
h,e!élLc,27' Portanto, esta já é uma perspectiva bastante clara de que 1�
G
pe��_ e os ri scos nã_o virão d�__i ndocilidade dos indivíduos., e a
psicanálise escalberia.\âe.lÍYess.� que escol her, a indocil idade ao in vés da
��ilidede f: essa docil idade é apenas o p oder do sup ereu e os abandonos
da cons ciência. fornojá foi dito. supere11 + e,r - sacri.icio, c_oostge(ilQdo
que o sacàficia não é absah:uamentc, cm si mesmo, heréic�
supereu + eu = sacrifício
- c_onfl ito com a psicanálise do el! e as p ersp ectivas de readap tação do eu.
--- - - - - --- -�---
Em 1 967, vinte anos mais tarde, ele defi ne �is..�o os hori zontes
O horizonte da psicanálise e os pontos de fuga
38
el a se aplica ao laço social. É a psicanálise à medida_ qtJ� JJào determin�
um_ real socil!!_, no_qual está submersa. O� trê!_PQ...n!_os de f'llj_a__eermi!.1:.'!1
�':!�� tanto (!_g_Ue def] ne a época q_uan to o mundo 9ue determina a
organização da pr_§pri� psicanáli se. Esses pontos de fuga, diz ele, são os
Desej o_ _ressaltar toda. a i mportância desse termo. N ão se trata de
f2_,7°gj:
trori a nem de i deologia e sim de,coisas advindas da experiênci a.,..
D�s d�i s prif!1ei ros pontos de fuga, que são as coordenadas do
nosso h_?�Z0�!�4U m é ex traído d a CUBi?,:F: O da tran smi ssão do
carro
�b�r ana)jtjçp I Para L acan,\!..Prática da psicanáli se é defini da pelos
três pontos de Üiia a pattic de três diPJ�o��- o simbólico, o
i�magi ná ri o e o real ,
,-
-- - - - - --
= Nome-do-Pai = metáfora pate���
-
-
Édipo
'·------------- �-
� rante um tempo, L acan desenvolveu um a psicanálise ori entada •
eJ truturalmeote em sua elín� em sua práti ca, centrando-a n�
�� áfora pat��sse seri a o tempo um, o pri meiro tempo do ensi no
de Lacan.
l
(} /1�"'(''.i �� l;-t,Y. v>O r11 !_.j!.4J.,, ! ..,vv\Ü .J�, ..,.,-.o,.. 1
b· . 'r/ {.. c ,J -r
1 . \ � "'· "' Ir 7\ '1\ 0,._
,Em 1 967, os efeitos da cHoica a obrigaram a rnr:dar de ..po5jcão.
O Édipo engy�mto Norne-do-Paj é um problema para a psicanálise.
peixou de ser uma solução./
No Seminário J 7, O a, ·esso da psicanálise', encontramos a
formula�o�e�e prob�ema e já uma nova respo � Nesse seminário ele
faz uma apá)jse��rutural dos (mnos edipianos em Freu07 o próprio
Édigg, "lotem e Tabu", "Moisés e o ManÔteísw.y: - ãplicando-o método
�!!II'- e, - >'
!_ 1. ' � , '
de análise estrutural dos mitos, de Lévi-Stranss• E ele chegâ a uma
fórmula que fornece a verdade desses mitosJ o gue faz com que não sejam
_!Tlais mitos.�le retira deles as suas caract�risticas épic_llS para mostram.uai
_é a função desses mitos, W!!Zind()-()s a uma fóillllll;J
A partir da análise desses mitos, ele produz uma fórmula - o
Édipo, o mito edipiano assegura a seguinte equivalência_;, q .12fil, ..P!.Í
_m orto, N_ome-do-Pa i $�1ente1� condjçijo de _&ºZU.� i- 1 i - 1;- u_J
P =- - -Nome-do-Pai
· ----
(pai morto) = condição do gozo ' r
- -- - - , _ "'1·-<--.'�
,'= ..tz.
;-, . ·ai '
E Lacan acrescenta: este é o desejo de Freud. A igéia de percorrer
o mito fundador _ da psir,anáJise. o mito do Édipo,J QUe a .�
paterna é aquela que regula o 5020. Que re�ula. ou seja,'9 ue o orien�
e o limi!!J É a funcão paterna que , destina os lugares ao gozo Jlºr e
1
\ocaljzá-lo acaba controlando-o. ,
� clinica mostra que querer atribuir a o pai essa Junção de
ignificante-mestre, "á ue é o siimificante re ula e rQ.dUZ o g(?Zl?
- ou melhor, que gerencia, �E!i� �o -, não correspo�
.!º real que a experiência analitic:,. imQ§e, quer seja a experiência das
'.psicoses, das neuroses nu das per,ersões.1
O que mostra a clínica? Q!e não conseguimos nos Uy_rar 99 g_Q.�.9
atribuindo-o ao pai ou ao mestre/E. de fato. o gozo, as ex eriências de
o o satisfa ão da ulsão ortanto , se aram o be a verdade
que significa isso?
- Se considerarmos que o saber é S 1 + S2, o
- -- -.. . .. .. ··- --- .... · · - · ......-==-�-------
S!8!}_ffjç_ante paterno �ais
- " todos
. os significantes
---·----
ordenados a partir dele
- -
40
nãg. rew.:it am o gozo e então o gozo �parece e �urg�_ com� _ un:i_a�erdade
di ssociada de um saber.. Existe uma dissociação entre o saber de um
- · - -- --
l ado e a v erdade do outro. 1
· - -·.. .
S1 + S2 {saber) 1 Verdade
Isso produz algo assim como �·eu sei bem, mas mesmo assiw". �
Ou então a relação que o sujeito tem com o seu sintoma; y, or exemplo,
o sintom a obsessivo, O.J!Ç dido de verificação, o ritual,\guando o s.ujçito
-
�iz "eu sei qlle_ é absurd�0 _ mas eu}1ào 9onsi&o me i mpedir", o saber
está separado da verdade. "Eu sei bem, mas não adianta: a ve rdade está
no meu sintoma". J.
E Lacan acrescenta no texto: "... mesmo para a criança, apesar do
que se pensa, o pai é aquele que não sabe nada da verdade"6.�
operaç�o de análise dos mitos freudianos penn ite mostrarL a função do
�me-do-: Paj na c onstituição do saber I em _ contradição com_ 7as
evidências da clínicat Conseqüências: ,Q,tdip o nã o é a solução. �� �
n���� sário matar nenh um p ai para g� zar. M esmo os significantes
freL1_ dianos como trauma, sedução ou sintoma, não têm .nada que \'.Cr_c;,
c�_1��Portanhl,l a cli nica contemporâ nea é a prova dessa não
�� ção com o pai./ No interior da psicaná!ise_ existe mna....c.r:itica .à
i_ç!eolo� ia edip iana. Não são os nossos adversários q ue criticam o
a
42
�hn.:-Hêlênt: Brow.�
urna cri ança." Eu concordei com ele sobre a c_oincidência de dat as. Aí
de disse: " pois bem, se ela falou Vietnã era para dizer q ue na sua
infã ncia os pais dela bri gavam, portanto, �o falar em Viet nã ela est ava ,
se referindo ao desespero que ela sentia quando criança frente ao
espetáculo de ver seus pais se enfrent ando".@ aqui um v�irQ 1
pa rtidário do Édipo, a pont o de nã-9 sa�ermos quem delira mai_s, a
p1 ciente ou o psicanalist a.(�_essa i_nterpretação, o É dip o est á mais do
lado do delí ri o. �l!_ respondi que ele, o psicanalista, tinha sido muitQ
g__c neroso em relação à estrutura, gue eu não estava segura de q ue o
mundo int erno dessa senhora fosse determinado �elo con!J it o ent re se�
papai e sua mamãe, ist o é, pel o conflito edipiano.
-� N a perspectiva da
--==-=-=-=--�
clínicà de ori entação lacaniana, a escut a dos pacientes psicóticos é uma
liç ão para entra���- undo � e-��m outro tjp9__de arquitetura; uma
arquitetura diferente daquela dos neuróticos.
A crítica à descrição do Édipo, o__além-do-É dipo, como primeiro
ponto de fuga, associada ao conceito de Escola como lugar de debate e de
fonnacão, qu_e nã_o sej a mais org3!1izado pelo�i_gnific_�nte-rn�stre, isto nos--=>
conduz à idéia de uma psicanálise gue se desenvolve num cenári o político ·'-
·,
43
Portanto, temos aí o campo de concentração., ,os agrupamentos sociais
como nova organização no real,J
Os três J!!)ntos, a{ém-do-Édipo, µ_ma f�colí! e o C.!l!EPº_ d.e
conc�!TafàO, sà_Q_ º�- pQntos atrall�� quais Lacan agarra _a
..JDQdernidé!cl.€: .\ Acrescentamos ainda esta frase: "Nosso futuro de
mercados comuns encontrará seu equilíbrio num.extensão
ao
cada vez mais
<!_ura dos processos de �gregacão"·. O conjunto desses três pontos está
c9rr�lacionªº.9 ªº �rni.niQ_(IQ saber científi@_s_obre os laços sociais.
;, CQmo situar o dese · o o s1cana 1sta nessa con untura.
Em primeiro lugar, nós temos que nos assegurar e nos convencer de
que a e_sicanálise não é wn abrigo contra a ciência, pois quando é utilizada
como abrigo ela desaparece como clínica. � proponho uma nova esc�tà
P.ara o discum1 do mÊstre que é cgnjuntural, ou, mais exatamente, wna
concretizacão dos símbolos lltil�dos _pQr Lacan para_ <:!escrever o disc�
do mestre. Vocês já viram que o mestre não é mais o pai. Então, a escrita
que Lacan dá para o discurso do mestre é a seguinte:
DM
s, 52 I ·. J
�
S · a
OM
s, {A
s a {S
'., u -r I..J, ; .,, '-,.,J .
Qual o valor que podemos dar. nesta é,eoc�1 .ao S 11? Qual poderia
ser o significante-mestre operacion�I. uma vez q�e não é mais o pai?
44
O discurso do mestre moderno
Vam o! recllp erard o tex to de Lacan o term o que ele utilizou em
t 967 , �a época dos m ercados comt.mS - 1.!_l]lp�ríodo _ l!I U it o particular
_;Europa. M esm o que tenha se tomado um m ercado com um úni co,
R
que Lacan não diz, então temos que inventar. Prop onho - é apenas um a
hipótese -, 110 1 ug�r do_ �ª�! inssr��e:! ai� 1:f'!Ilº\Rçocedirne.r1rg.v á que a
maior parte das empresas produz m anuais de procedimento. não �p_e nas
� s empresas, was todas as instituições, 1 São esses procedim entos que
re&-Úlàm a condi.ita dos fu ncionári� s q��ndo s� !!�t� de adm inistrar
seres hum anos, m as que também organizam o t�_ J!l.J?O de uma pesquisa
cienti fica./Por exemplo, para um procedim ento parà exp erimentação
de m edicam entos está incluída a seleção de sujeitos cobaias. Além
diss.o, na França o termo procedim ento'º tem um duplo sentido j á que
também denota um procedim ento jurí dico/Não podemos fazer um jogo
de palavras� um sa_ber que �r�ait!_ri9!f�m en�e o_gozo, e 9!1_e �� f}lzer
_
isso !ªZ de� ae� recer a sirigulandag e\ Em todos os McDona/d 's do
mundo tanto o hambúrguer com o o sorriso daquele que o vende são os
mesmos. O u p elo m enos fazem de tudo p ara serem o m esm o.
O camp o de concentração· no discurse> de> mestre ocup ará o lug ar
do pequeno o_I ugar do go:zt:>; I sto é,\ohnodo _predom inante de gozo Í
ªt
:i)!•aJtDeote é Q da.w reg a�o!- portanto, ' seg.regação é a OQVa solução
dada ao g ozo.
1
procedimento
campos de
45
Jacques-Alain Miller, em s eu curso O lugar e o laço, utilizou a
expressão de um italiano, Antonio Negri, autor de O Império1 1Jalienaf.ào
autônoma - o processo2or meio do qual a e_r�ria pe��.? se coloca no
campo de concentração.\!:omemos_um exe�� homoss ex u�lid<1de�n9
mundo todo ela se tomou uma posiç ãoL um campo de concent�o
gozo - uma auto-segregação. t_um gueto _DQ gual se escolhe se fechar.
Então, �os <campos de concentracãg. ex pressão que, a meu ver, deve
ser usada no plural. \�s es guetos produz em mundos Pª=�los-1 Essa
expressão eu encontrei há bastante tempo num autor de livros de
suspense/policiais americanos, autor de Dália Negra, James Ellroy, que
em sua autobiografi a fala de s i próprio e de que ele, numa determinada
época de sua vida, vi_v_i� num� f!lundo paralelo, que s e refere a um
momento preciso, em que ele viv ia numa comunidade �Jack. des toando
dessa comunida de, e e.sses mundos não s e enc_ontravamsx ce.to, diz el�
/
�m moms_ntos de ç_x�IQsào de violência, qye ele chamava- d� tunrnltos.\Os
mundos paralelos s e encontram atravé�EC>JUºJHI.to , pelo saque. Entª9, �
lfil! mundo que inva de .Q.J)utro....é um encontro viokm.94
N� lu�ar d� suj eito bé![Tad�(�) no di�CJJLS9_ q9_me5! re eu
_
proponho as rede�, 1
Miller fala � m redes flexiye isí moduláveis, _ flutuantes, por ond�
circula a maes tri a. Portanto, podemos dizer que do lado do sujeito (� )
e do objeto (a) com o qual ele está relacionado -!q ue é estaJllienaçJo
. l1,ltônoma, 1 Jacques-Alain M iller diz dela que s e trata de umaI bela
-
definiç ão da "ex tim_i4 ade'1"-, e��a -��tL_midªci e de� .f�_!'ta forma
caracteriza o s ujeit_q . Eis, então, uma proposta para a escri ta do
di���rs o do mestre 1 ou, para dizê-lo de
- �oderno,\pós-N ome-do-Pai
· ·.-.... �l -
forma mais precis a,\de tal forma ql,!e o Nom�-do -Pai nãp s eja mais o
.
� l!á gutros S1 que não são redutíveis aopo_der paterno e, por outro
lado�n:_o há determinação caus al entre o SI e o gozo.
li
Vamos novamente nos bas ear no mesmo curso de M iller, f no qual
ele estuda a modificação que s ofre a psicanálise ao longo dos avanços na
--=---,-- --
- ..
dizer que \temos algo contra o comuml já que D.Qssa prática clínica se
sustenta no singular e não no comum. 1 Interessa-se pelo particular�n_ã_o
pelo unive_rsal\Qp�g��I� s�l���� ;,Ánào �(3$_ pr��i�.
O dever sorrir de uma certa maneira em determinadas condições não
assegura nada, nem mesmo que se deva sorrir. O fato de passar uma vida
vendendo hambúrgueres no McDonald 's, não quer dizer que sorrir seja a
resposta adequada, do ponto de vista do sujeito. Não �e_mos ganl!ltir_�
haja solução do sujeito universal, l!'is não há solucão universal.
Notas
' Lacan, J. "A psiquiatria inglesa e a guerra", in A querela dos diagnósticoS', Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1 989, p. 24-25.
' Idem, p. 25.
1 Lacan, J. O Seminário - Livro 1 7: O ai·esso da psicanálise; Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Ed., 1 992.
'Jden,_.__cL,,�-ªPítulo VllI; C,Po mito à estrutura", pp. l 1_1 - 1 24. '.
' Idem, p. 1 1 3.I
• �m, p. 122.
' Lacan, J. "Proposição de 9 de outubro de 1 967 sobre o psicanalista da Escola", in
º2fjQ Lacaniana n º 1 7, novembro de 1996, p. 1 2.
• Idem. - - - - - - -- --- - - · - - '
• Miller, J.-A. Seminário inédito (2001-1002).
'"NR: Procedimento significa em português: ato ou efeito de proceder; 1 ) maneira de
agir, modo de proceder, conduta, comportamento; 2) modo de fazer, técnica. método; 3)
forma estabelecida por lei para se tratarem as causas em juízo e para o cumprimento
dos atos e trâmites do processo.
11
Hardt, M. & Negri, A. Império; Rio de Janeiro: Ed. Recorei, 200 1 .
1
� _ -é11, i c \
1i- - ,.
uL� t:'c ,o<u e =C " ''; w( clo, J"'L_
�u: � S lt )ru1:,,, +i ·cvri , k �-'- �t. ;L Ta vu k1 1-{8 1-<
l!.u â .
I ; ,' ic· z ,_
' _1.;;_.,, (-..,., / .
Debate
Da ética ao avesso da psicanálise
Direito, avesso e vazio
Sandra Arruda Grostcin
Do Seminário 7, Laurent ressalta que U> ara Lacan exi ste uma
pyicanálise,j
-
\�-m-u-ta_ç_ã9 no que di�re§,Pe�t_o à guestãa c1a des_w, e umawet iç!g com
relação ao gozo. Ele usa a expressão(acumulari ao invés de ígoza_.id Já no
...,
49
respec ti�os da histeria, da neurose ob sessiva e da paran óia, -�
termos de sublimaç� o - a arte, a religião e a ciênc ia. ( ... ] E ssas
in dic ações n os ajudarão a art ic ular, em toda a sua gen erali dade, a
fórmula c om que, no final, c.!!_egaremos a pnar a função da
sub limaç_ão n a teferênc ia à Coisa", das Ding. ( . . . ] "E ssa Coisa, da qua .
J
todas as formas criadas_ pelo h_oJ'l'le_f1! _são do registro da sublimação '
i
será sempre representada po r um vazi o, preci samente pelo fato de el
n ão poder ser representada por outra c oisa - ou, mais ex atamente, d
ela n ão poder ser represen tada sen ão por outra c oisa.1 Mas, em tod�
form a de sublimação o vazio será determ inante. [ . .. ] Toda ar1e_ sei
caracter:_iP! _por_ µm cgtQ_rnQdo_de OJgMli_;zação em tomo desse vazio.1
[ . . . ] � religiãe>_c o�t� em._ todos os modos de evitar esse vazLo". [ . . . ] E;·
a ciênc ia, "o discurso da ciência r ej eita a presença da Cojg_.. .", das Ding,
" . . . u:ina_v _ez__q11�_.e.m sua perspectiva� delineia o ideal do - - saber
-- - ----�-� - ·.:: :-
absoluto, i�to éJ. de algo ��l ec: e, n o en tanto, a Coisa não a
-
so
Para melhor exemplific ar isto, teremos que voltar à referência das
ú ltimas au las � á c itado curso de J.- A. Miller.,
N esse c on texto, n essa discu ssão entre Miller e Lau ren t, ele uti liza
a fa mosa frase de maig de 1968 para fa lar da permissividade do gozo:
··� ibido proibir". Estudando n esse curso e trabalhando esse texto,
lem brei- me da frase "proibido proibir", tran sportada dos mu ros de
Paris, em 1968, para São Pau lo. Aqui, mesmo n essa époc a, ela
rep resentou uma músic a - e representa até hoje - um momento, u ma
época. C aetan o Veloso, num festival de Músic a Popu lar Brasileira,
ap resenta su a can ção É Proibido Proibir. Rec ebe do públic o, em suas
próprias palavras, no livro Verdade Tropical: "A platéia, n o Auditório
do TUC A (o Teatro da Universidade Católic a tinha sido a esc olha dos
organizadores do FIC ) , predominan temente estu dantil e c omprometida
com u m n ac ion alismo de esquerda (quer dizer, antiimperialista), reagiu
com violenta indign ação. Várias caras c on hec idas se mostravam
ostensivamen te hostis a mim [... ] e não pouc os entremeavam as vaias
convenc ionais (uuuuuuuu), c om xin gamentos e palavrões"� . N o palc o,
"À medida que os rostos cu riosos - mas nem por isso livres do ódio
que os fizera desaparec er - ressurgiam, minha ira e meu c onfuso
entusiasmo c resc iam e, numa voz a u m tempo desc on troladamen te
insegu ra e c on fiantemen te profétic a, eu disse:\Essa .é�a juventu de qu e
di z que gu�r: tomar o poder?"3 Todos aqui se lembram dessa c en a. "�
vocês forem em política como são em estétic a, estamos f�!of'.
C omo eles são �m_J>? lít_ica? �!3 Lac an, \ são fixados em seu
regime de gozo.\ O que isso tem_il !'er c om a psic análise n o tempo dos -
mercados c omu11� e dos proc� ssos de segregação?
Rec orro aqu i a ou tra referênc ia, dessa vez sugerida por N ic éas,
um texto de Alexan dre S teven s, pu blic ado n a Omicar? digital 4 1 -4Z'.
Cito de manei ra livre o �corte�_ele fez._tla_\;'Pro_p osição de ..9.-.de.
ou tu�ro de 1967 sobre o psican�ns_ta da Esc ola". E111 relação aos
cam pos de c onc entração, deve- se ver qu e eles são resu ltado dos
rem a_n ejam�n tos . dos__$�p-os-sociars --feitos p eJ�_di�Cl;! rSE
51
universalizante da ciência.\ Os campos de conc�ntração são modelQs
1
que antecle_��- os efeitos �egregativos. E o que prnduz esse ef��o
é uma oer versig,\m��- ª própria estrutura do QiSÇU!SO da �iência. Os
1mercados comuns! (nós temos atualmente, aqui no Brasil, uma
discussão profunda sobre a ALCA - Associação Livre de Comércio
das Américas), têm os mesmos Jypdamentos universalizantes do
d isc urso da ciência, e, consegüente)1!.ent�, o�_ m._es�g� e_fe__i!.2;'
se_gre8ª_tivo� Stevens diz que . o discurso analítico é uma resposta
possível, diferente, pois se o mestre,\'5e o disct1rso do mestre, q_�e é_o
avesso da psicanálise, f ixa o sujeito no seu regime de go30, o di�cu�o
analítico visa dissociaI,g.,suieito de.;SÇl.\,.Sjgni.ficante-mestre P.ara fazer
perceber o gozo que o sujel!Q. �t,ira d�sss.__significan.!.SJP discurso da
ciência rejeita o vazio, �isc!1cso da psicanálise o inclui:)
E hoje, como anda a relação do sujeito com o seu gozo? O
i_rnp�rativ�cada vez mais obedecido. Goza-se com a droga, goza
se com o Big Brother, goza-se na depressão, goza-se na' fome.
Vou concluir com duas perguntas, uma para Marie-Hélene Brousse.
S2
horário. um local super perigoso, muito trabalho para conseguir. o
público diminuiu, muitos obstáculos etc, etc, etc. Então. por que
escolhemos a Pinacoteca?
Simplesmente, porque:
· É bonito!
Notas
' Lacan. J. O Seminário - Livro 7: A ética da psicanálise-, Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed., 1 988, p. 1 � .
' Veloso. C . Verdade Tropical; São Paulo: Companhia das Letras. 1 997 . p . 30 1 .
' Idem. p . 303.
' Idem.
• Stevens, A. "Camp de concentration. marché commum et segrégation··. in Omicar?
Digital - Re!lJe electTQ11ique_ fl!ultilingl!_e_ de psychanalyse (publiee a Paris par
Jacques-Alain Miller) n º 4 1 -42; Paris: AMP[UQBAR].
• Hardt. M. & Negri. A. Império; Rio de Janeiro: Ed. Record, 200 1 , p. -423.
º Idem.
Perg,m.tas
Rômulo Ferreira da Silva
Gostaria de insistir na questão sobre o porQuê da escolha desse
tem!j já que Marie-Hélene Brousso. observou que há um sucesso da
= rapêutic,al Gostaria de que ela nos precisasse um pouco mais. pois
psicote
neste momento, na verdade, a psicanálise tem sido sempre criticada, e
anunciada a sua morte; existe uma tentativa do poder público em
�uliln1Êr:!tá-la: por que neste_!!!_omento Lçs�movímento tà,g JigQ,[95.�
principalmente na AMP, d.� coloc._.!r,_�ªn�li�t?_füLCe���l!�caJ i
�� : M u.. '(e;:) til�. ��" c<:i J e v Ç;A_)J.A'"I. \.l'\ , �
Participante V (). r)J rf 0,'-)-/,,1-pv, �
f-..1 W. '-'À�· v tJ.) t\. \� ,
�/ 1)\) • rl.Ag-u'N � � .;.,, "" 9 · CiJ � UX, � ! •'YI V
A minha pergunta é sobre o conceito �c,/Jtico. Entendi, a partir
da sua outra conferência "O analista e o político", que somente é
possíYell �aJjzar o político na própria _experiência analíti.ci Como
(
pensar então a relação entre psicanálise e política, ou entre a psicanálise
e o político. Haveriam doi!i conc.eiJQs <:lis!in_tQs d�!i-��-P-Olí!_i_�o?
S3
Carlos Augusto Nicéas
A minha questão diz respeito à conseqüência a ser tirada do debate,
da solução proposta pelo analista com relaçã� à singularidade e 11?º às
soluções universais. Isso, estando claro, eu me lembrei do Seminário 1 1 de
Lacan, em que ele já se contrapunha ao que chamava de "soma dos
preconceitos do analista", ou seja, o sistema do ego do analista, e isso
podendo oferecer uma resistência ao processo de análise, ou seja, alcançar,
conseqüentemente, uma solução singular para o sujeito. Ora, me parece
que nos tempos atuais, diante dos fatos da pó/is, há um equívoco com o
�I nos defrontamos muitas vezes. Em nome do analista, no seu trabalho
de dirigir tratamentos, não poder fazer uso dos próprios preconceitos, ou
seja, é desejado que esse sistema egóico do analista tenda ao mínimo a
partir de sua análise pessoal; �quívoco é�em_ n_ome do anali�� -�r vi�o
como alguém gue_.___nessa direção do tratamento, não possa fazer valer os
�us preconç�itos�l�tas yezes confunde, me parece.i a posição dele
I,!ª cidade como alguém que devesse estar do lado das _regulamenta���
das normas, ditas normas liberadoras ets;, Isso, para mim, não quer dizer
que o analista não tenha uma posição política enquanto cidadão, mas eu
\ fico me perguntando se ele não deve, não só n_a_di�ão dos ��e_nt()§,
obedecer à questão de- singularidade,
- ,m
ser orientado por isso, mas
\_!$em.unhar sobre o que esses sujeitos segregado�dizeQ_t..,Mm iil um nas �
1
próprias análises\Eu pergunto aqui a Marie-Hélene Brousse, como ela vê
\ o testemunho dessas soluções de._��. feitas pelo �nalista na
pólis, na cidade? Isso persistindo para além das curas que ele dirige.
Participante
Eu gostaria de pedir um comentário sobre a questão do que
pode
ser a democracia na época da ciê�ia, considerando a possibilidade da
'7 democracia e os _r_g,rnentantes do discurs� do_mestre, con:i_o a ciênc�a
,) 1 e o c�_p_i!_a_lismq,2�rukLpa.res_ �m - Qp9sição
_
., Então, se tomarmos a
54
Manc-H:l�c Brous!iC'
Maric-Hélene Brousse
E u agradeço às perguntas, que são muito interessantes.
A primeira: se a mudança do regime de gozo produzida pela
psi canálise teria alguma relação com os movimentos de militância.
Essa questão me lembra duas idéias. É provável que, mesmo que a
psicanálise seja um discurso específico;�la não está só, ela não é única em
n---------
ossa cn.ilização que se orienta da fo�a com....2.._o faz. Provavelmente,
--
-----
mesma lógica da psicanálise. ' Por exemplo, um dramaturgo muito
-· - --··-' �- -
ss
sobre a orianização da sociedade. E xistem m odos � e organização
�od al que imp eQ em q ue a�icaná li�e exista, e até a proíbem. Portanto,
a p artir de uma política da psicanálise, o analista pode ser levado a
analisar a política, a vida públ ica de um m odo geral. Mas m e p arece
� que ��a t:ire� fündamentªI é a de elaborar uma política para a
1 psicaná lise, a partir dos seu�_pr�2_ri os fundam entos.
A escolha do tema Q iacanscience é a política deve -se ao fato de,
saberm os q ue estamo s m udando de época, p ortanto, devemos nos
p erguntar: no.9 ue está por vir, ainda bavern lugar para a psicaná lise?,
Lacan rep etiu vári as vezes, m as é algo que sup ostam ente
deveri amos saber: a psicanálise nem sempre exi stiu. Ela tem uma data de
nascim ento, portanto é urn a formação h umana q ue exige condições sócio
econômicas prgpícias para sua çzcistência, é um produto da civiliz.ação. Se
houve um periodo em que ela não existiu, h averá o mo!Jlento de_ �µ
desaparecimento _ e _cabe aos analistas se preocw,ao;m �QP� gyando iss2
ocorrerá__:!_ E por\estannos num m om ento de m udança de éPQc� é-..$
..' · fundam ental �portância nos preocup armos com o futuro da__psicanálise,
C om r elação ao conceito de p olítica, já respondi ao falar da
resp onsabilidade do analista de elaborar um a p olítica própri a para a
p sicanálise, a p olítica da p sicaná lise, q ue é de nossa responsabilidade,
nos levará a nos interrogarmos so�re a p olít_iç_ª, s_gbr:e ª_ vida_púbU ca em
�ral,
- -- assim
- - como a economia, ---isto é, inscrever nossa- prática, nossa
clínica no con�exto @��E!l- ir_:1 a.--1
--- --- - ------- ------
S6
eu digo que do analista é central na 'lis. É com o um
observatório, wn desfile dos modos de gozo e de vida.
Q uanto ao fato dos analistas e starem do lado das novas normas, me
p arece que eles têm muitas dificuldades em fazer isso.v\ psicanálise não
é wn abrigo, ao dizer isso Lacan criticava aos analistas da IPA. Já em
relação à comunidade lacaniana cabe a cri tica de�e há entre nós muitos
analistas gue são saudosjstas Escandaliz.am- se com os modos de
1
���ução_�istida; �gusti�-se. lte>rroti��. c9m i; os novos pais
homoss_�Xll.ai� e ingyietam-se em____§sç. aos. . desenvolvimentos de �
to1ªlmente novas) Devemos nos esforçar para não considerar como
mel hores os modos de gozo antigos. Sea disciplina familiar não mais e,çist�
'\"
� - <i, - 'SJ
' LACAN, J. O Seminári4 Livro /: Os escritos técnicos de Freud; Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, l 98�
3ª CONFE�CIA 28/11/2002
-- Carmen Si/,·ia Cen-el3tti
61
O 1ncon54·1�ncc i a polít":'
/1' C. p
globalização -+ procedimento ' ... , , , '"'
• r,J.-,pÍJ/.,. 0 ,._d.f .::-
. j/';·fi'v'. .,.,.,;:-, �·'C. .,- - redes
1
campos de
-·t,1__ ( ..;.,
concentração _.:,:, . ..- .
63
o ina,nsc,�n,� � ,1 roJitü:a
Notas
' Como sugeriu Jacques Lacan em "Subversão do suj eito e dialética do desej o no
inconsciente freudiano", in Escritos-, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1 998, p. 807.
' Entrevista de Marie-Hélene Brousse, Cana de São Paulo, boletim dB Escola
Brasileira de Psicanálise-São Paulo, ano 1 O. n º 1, março de 2003, p. 1 7.
• TERCEIRA CONFERÊNCIA 2811 1 /2002
O futuro da psicanálise
depende da "insistência do real"
� -- -- - -· -- - Marie-Hé/ene Brousse
65
Portanto, a frase de Lacan nos permite dar luma d�füti,ção _q.uase atual
dos meios de ação sobre o psiquismo . Ele disse que isso já tinha sido
utilizado e com sucesso. Podemos dizer que a partir de 1 947, essa ação
continuou avançando em termos globais.
Miller, no curso ao qual me referi várias vezes, falando em Milão,
na Itália, destacava que o chefe de Estado italiano, Berlusconi, tinha
três redes de televisão. Portanto, ele havia se �nstit�íd_o _c�mo me�!fe
da manipulação das imagens � das _pai��s. Nesse contexto, Miller, ao
encerrar o colóquio Os psicanalistas na pó/is, concluiu dizendo que
não existe mais..A..QQ/is. HQje o�!�mos m_?_ is próximo do sentido de
ágora é uma ágora totalmente nova - a televisão.,
Dessa maneira podemos mais uma vez ressaltar o caráter
visionário de Lacan, em 1 94 7, quanto a esse ponto. �c�rl!r�i 4�r_uma
c!_efinição precisa aos três termos �v9cad()_s _I)_()!_ _Laca� _ p�ra falar do
e_siqui�!!lº· ��se='?siquismo é manipulado pelas imagens e pelas
paixões. E ele defineis�\'és �e_três termo_§,;
• julgamento
• resolução
• unidade moral
De uma maneira anacrônica buscarei definir esses três termos
bem tradicionais no campo do psiquismo.
O �e �gnifi�a o ju_lgam�nto e_!!l_!�rmo_� de psican_Mise 'ª�anjaJ}_aJ
�ropo_nho di��r_g_ll� <>j!!!gª_lll�n!9 $ _S 1 -S2 �E -º pensamento,Porém,
pensamento no sentido definido pela psicanálise, nós somos �11same__11to_
-�
e não, (!ensa-se.
julgamento -+ s, - S2 (pensamento)
resolução -+ Até
66
Mi1ne-HélCnC" 8rou.'iS('
a
-rp
moral = terapêutica
68
�1:ariC'·•lélcnC' Brous!I.C'
69
/ __ "\. _ _ _ r · ·- - - -
Da mesma forma, contrariamente ao que poderíamos acreditar, o
desenvolvimento da ciência no campo da terapêutica não enfraqueceu
o desenvolvimento das terapias do psiquismoXonstitui-se, então, uma
aliança entreJ, produto da ciência aplicada à saúde mental e as técnicas
psicoterapêuticas,\seguindo-se os objetivos do eu e do supereu./
Em suma, o sucesso da terapêutica étuma aliança sagrada entre a
ciência e a religião, ou entre a ciência e a moral. E é por isso que se coloca
o problema çl9 futuro da psicanálise, que não é nem de uma ordem, nem
de outra. Ou seja,�ão é uma ciência, nem tampouco uma religião, e fica
além da morall Então, qual é o futuro para a psicanálise?
Lacan_procu_r�u_a Lf!es-mé dicalization da psicanálise. Freud já
pensava nisso. Por exemplo, ele diz: "em psicanálise a tera�!!H�_a não
p�_e_ matar a_ciên_�·. uma vez que Freud acreditava que a psicanálise
era uma ciência. Ou então, a fórmula de Lacan:, a cura acgntece por
--=-� Lacan vai--- além:
acréscimo.
�-- - -- -a _partir do final dos anos 60, ele a atrai
totalmente para_�ra �O C!m_RQ__cia t�raw
Como já disse, oào _é_ p_rop_i.çio_.à_psicanálise colocar-se em abrigo;
portanto, não �_e_ria _eficaz_t��tar se _E_roteger contra a onda _ do
t�_í!Pªll_tico. Simplesmente, prefiro dizer que o futuro da psicanálise
não es__!_á colado ao futl.!ro da terapêutica. '.
A psicsuá)ise e a ciência
Para melhor considerar o futuro da psicanálise, será preciso voltar
ao Seminário 1 7, 10 avesso da psicanálise. no qual Lacan afirma que a
psicanálise é um discurso./
Em primeiro lugar, ela é da ordem da estrutura da linguagem, na
medida em que �gem determina as mQ<ialidages dos l�ços soçiª-1_s.
Mas, tprincipalmente, e contrariamente à ciência, ela tem relação com o
gozo.\Diferencia-se da ciência, e particularmente da ciência aplicada (a
química aplicada à saúde mental): a p�icanfilise e a psicoterapia.
Vejamos as semelhanças e as diferenças sempre dentro do objetivo
de precisar qual é o futuro da psicanálise - pois, como sabem, o futuro
70
d_� iência ��tá_garantido e estQI! te!'ltando convencê-los de que o fu turo
da psicanális e também. E ntre a psicanálise e a psicoterapia ex iste uma
primeira relação: ambas são djscursos/ Relaciono a psicanálise à ;J
formalização do discurso do analista, e a psicoterapia, como já puderam
perceber, eu relacion_o ao disc;ucsa do mestre. � p sicot�r�p� � !.
diferencia da ciência n_a medida em cr_ue �. ciê(!� ia _!! ão é cli�_curso.
O ponto de convergência entre a ciência e a psicanálise poderia
ser o de que � são saberes sobre o real. A ciência, todos
concordam. trata-se de um saber sobre a matéria e que depende da
matematiza ção da matéria, ou seja, reduz a matéria à escri ta. A
\psicanálisj utiliza exatamente o mesmo método, já que ela trabalh a a
linguagem como materialidade, dito de uma outra maneira, trabalha
com aquilo Q_ue há de real na linguagem. A materialidade do signo. o
som e a marca. A psicanálise, portanto, também depende da escrita.
A té poderíamos dizer que Lacan consagra esse parentesco entre a
ciência e a psicanálise em torno da escri ta, em pequenas letras, dizendo
que \g que pode determinar j ustamente o futuro da psicanális e é a
impossibilidade, para o suj eito fa lante, de escrever a relação sexuali,1
Pois bem, a escrita do real pela letra, se é possível p ara a ciência,
na psican álise está presente so b a forma_ .9.Q. impossh:el. Poderíamos
nos valer dos dois sentidos da palavra " letra" , em francês: lettres - as
letras no sentido matemático do termo, os maternas, que, como sabem,
são a própria orientação do ensino de Lacan -; �)ettre�- no. �ç_ntido
das "obras consagradas na literatura" . Ç om isso Lªcªll.Qô�e__comp arar
o _r�sultado de_!!�an�li-� eL a uma tirada espirituosa. um poema., O final
-�r-.�·- - - · - - " . • • - - - - - - - -- -·- - --- •
71
exigências do mercado comum, da globalização. Em minha proposta
de interpretar o discurso do mestre segundo a fórmula na qual o
mercado comum vem ocupar o lugar do S 1 , no novo discurso do
mestre, a aplicação do saber científico responde também às exigências .' .
�-&O�, isto é, r�_spondeJlo . o�e.queoa a..
Portanto, a aplicação do saber científico às coisas humanas
atende a estes dois imperativos, -�er�ado comui'!!_-:: �.glQbali�_ -
e ao gozo. Isso implica,. um mínimo de suj��to. Como conseqüência, ..
encontramos, no campo da clínica, o_ t�atamento pela molécula. ,.--J
A psicoterapia e a psicanálise
O tema da aplicação da psicanálise à terapêutica será desenvolvido
um pouco mais adiante; neste contexto pretendo ainda retomar a relação
da psicoterapia c<;>m a psic�álise. No materna baseado em Saussure,
S (significante)
s (significado)
72
Então.\&ostaria de propor o seguinte: !ratar a linguagem e não por
meio da limruagem, pois,estamos doentes da linguagem . Em outras
palavras,\tratar a linguagem é tratar o império do SI e o gozo. �
Tratamento que se dá aohratar o simbóljço corno
semblante. Ou, em
outras palavras, curar-se da linguagem gelo sintoma.
Corno podemos esclarecer wn pouco mais o futuro da psicanálise?
Se houver um futuro para a psicanálise, não será nem o da ciência
e nem o da psicoterapia. É necessário que ela encontre o seu lugar,
sabendo que as suas duas melhores amigas_são a ciência e a
psicote!apia ( considerando melhor -ª-m�ç_omQ_!.��-ª--stue to_!lla tudo:<i
o que nos pertence). A psicanálise não conseguirá nunca se livrar delas,
portanto, deverá levá-las em consideração.
Então qual é o futuro da psicanálise?
73
Concl uindo, o futuro da psicanálise, me parece, depende de uma
c apacidade de imple mentar e ssa nova al iança do real c om o se mbl ante e
de mostrar que ,o gozo como tal só exi ste ao fa/asser' 2 • Nossa c ivilização
é atualmente caracteriza� pela passagem ao ato e também pelo acting-out
Nel a, a meu ver, a psicanálise tem a função de apresentar-se c omo uma
prática do ato. Um ato consiste e m colocar-se, o próprio ato, de acordo
c om o texto e também em c ol ocar o sentido c onforme o texto.
Notas
' Lacan, J. "A psiquiatria inglesa e a guerra", in A querela dos diagnósticos-, Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1 989, p. 25.
' Miller, J.-A. "lntuitions milanaises ( 1 ]", in Menta/ - Revue lntemationale de Santé
Menta/e e Psychanalyse Appliquée, n º / /, décembre 2002, pp. 9-2 1 .
' Cf. Lacan, J. O Seminário - Livro 7: A ética ela psicanálise-, Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Ed., 1 988.
' Freud, S. "O mal-estar na civilização" ( 1 929); Edição Standard Brasileira das Obras
Completas de Sigmund Freud, Vol. XXI ( 1 927- 1 93 1 ); Rio de Janeiro: Imago Ed.,
1 974, p. 1 67.
' Op. cit. "A psiquiatria inglesa e a guerra", p. 25.
• Lacan, J. "A terceira", conferência pronunciada em 1 974 em Roma, publicada em
Lemes de la École lreudienne nº / 6, "La troisiême"; Paris, pp. 1 78-203 e em Jacques
Lacan - lntervenciones y textos 2, '1..a tcrcera"; Buenos Aires: Ed. Manantial, 1 988,
pp. 73- 1 08.
' NR: Para a tradução dos trechos do texto "A terceira" foram utilizados os textos em
francês (p. 1 85) e em espanhol (p. 84).
• Idem.
• Idem, p. 1 86 (em francês) e p. 85 (em espanhol).
'" Idem, p. 1 87 (em francês) e p. 87 (em espanhol).
" Op. cit. "A psiquiatria inglesa e a guerra", p. 25.
,: A palavra. fa/asser é a tradução de parlêtre, utilizada por Lacan.
76
Debate
77
O mconJCumtr e • politi&.'a
78
,1.uic-H\!'l('nc eruu..sc
79
O incons.c1t:"nr� i a politica
Notas
' Lacan, J. "Lettre de dissolution", in Autres écrits, Paris: Éditions du Seuil, 200 1 .
' Idem, p . 3 1 8.
' Ibidem.
' Brousse, M.-H. "4 moins I ", in La Jettre mensuelle nº 2 I I. septembre 2002, p. 2-5.
Marie-Hélene Brousse
Fiquei muito sensibilizada com a forma autêntica como você se
referiu a essa questão fundamental, que é a questão do real.
Nós, psicanalistas lacanianos, temos a tendência de falar do real
como repetição e fazer disso um mistério, para nada dizer. Seria uma
80
espécie de curinga quando encontramos dificuldades em articular,
então é a hora de usar o curinga, o real. Portanto, agradeço-lhe a
pergunta, a qual exige de mim uma maior clareza e me permite falar
mais um pouco sobre o real.
O real tem que ver com a escrita, e Galil(llijá__ dizia: "o livIJ>_.!!Q
JJlundo �stá escrito em linguagem ma_groªti_ça.''.... Nós preferi.!Jlos _d_i�e_!
q!:!� a ciência escreve _o Jivro do mundQ n_uf1!a li_I!fillªgem m�el!!áticª.
Portanto, para a ciência, o real tem o seu campo traçado pelo campo da
escrita, em que o real é o que ainda não pode ser escrito. À medida que
a_ ciência progride e�ua escrita, o real, enquanto aquilo que ainda não .
está escrito. recua.
Para a religião, desde sempre, tudo já foi escrito e, em particular,
a religião mulçumana levou isso até o extremo. E se está escrito,
portanto, não há problema.
A ciência por sua vez tenta escrever o que ainda não está escrito,
i;>essa manei� � ciência faz�
conseqüentemente escreve-se cada vez mais.
��-Q campo do real frent� aquilo qye ainda é impossível de ser escrito. _
Na psicanálise também estamos no campo da escrita. No campo
da escrita e de uma decifração, pois temos que escrever um texto.
Lacan falou de uma forma ma��L.nos Estados Unid.os, dirigi!}�o-�e
a um público q�e não _estava familiarizado com s.eu �nsamentoL�ele
disse: po�e p_ areçer.I!M.C!QQx_ªl�ud�sicanális�
é_ uma q.uestão de escrita (!Qr mais -��nsemos tratar-se de uma _
1
questão de fala ,
81
O ,n,.:ons,:n:111� j a p.llitu:a
questão d,a relação sexual é impossív el de ser escrita, pelo menos até agora.
Portanto, para os psicanalistas e para os analisandos o real em
qu estão é o mesmo.\!: acan propõe o segu inte: se este real insistir, então
a p sicaná lise continu ará sendo um sjntnma Cabe a questão: o que uma
aná lise fa z de um real que não se conh ece?
Numa análise escreve-se o seu própri o fa ntasma, como está neste
texto pri meiro magistral. Esta entrada ruidosa na clínica do fantasma,
o texto freu diano "Bate- se nu ma criança"i, então a psicaná lise não
coloca o fa ntasma no lugar daqu ilo qu e é impossível de se escrever. Ao
contrári o. a psicanálise desloca o fa ntasma deste lu gar justamente
escrevendo-o'lPropõe f�___1:1.lar esse iITIQQ��j vel, no� eá-lo, a partir d�_
u� ificante-ch ave_._ ou ª!!l®.J:lo....que chamei de texto do sujeito,
� mais como uma e9uivalência e não como u ma relação. M as nós já
v imos qu e não é uma equ ivalência. Portanto, trata-se de criar u ma
outra form a de equ ivalência.
Retomo a qu estão sobre o passe, como eu fu i Mais-um de um
cartel do passe, redigi o relatóri o, no qual nos perguntá vamos a
re speito do lu gàr ���pe����ni�p-síci{náli se. Esser�laiOiiõ
partiu de algu mas constataçõ es nos depoimentos de passe, a respeito
da formu lação de tal impossível. A través de tentativas da
imaginari zação do impossível, do impossível de ser escri to.
Quanto à psicanálise aplicada, nós estamos nu ma época em que
nos opomos à solução da dissolu ção da psi caná lise nas psicoterapias.
---- --==:;:==::;.=:==�==:;;=-
Eessa solução obrig a cada analista em sei.! ato a saber responder P�!
/
qu e está do lado da psicaná lise e não da �� E isso tanto nos
seu s consu ltórios, na sua terapêu tica, quanto nas institu içõ es onde ele
;.: - - - ·- -- -
se encontra.
Ag ora, o último ponto com relação à interpretação. N ós estamos
nu ma comu nidade, dada ao diá logo, e percebemos que a geografia não
nos atrapalh a. Essa é a vertente positiva da globalização. Enquanto
v ocê coloca a questão da interpretação como central, a questão da
ps icaná li se aplicada, Jacqu es-A lain M iller, em seu curso deste ano,
82
iniciou perguntando: "será que a psicanálise ainda pode ser oracular?""'
Ou seja, será que ela ainda pode propor interpretações oraculares?
Então, talvez vocês possam continuar com essa reflexão.
Nolas
' Cf. Lacan, J. "Conférences et entretetiens dans des universités nord-américaines", in
Scilicet 617, p. 13.
' Freud, S. "Uma criança é espancada: uma contribuição ao estudo da origem das
perversões sexuais" ( 1919), in Edição Standard Brasileira das Obras Completas de
Sigmund Freud, Vol. XV I I (1918-1919); Rio de Janeiro: Imago, 1974.
' Miller, J.-A. Seminário inédito (2002-2003).
Encerramento
"O sonho da razão erige monstros" 1
85
O llk·onsúr:-ntr:- t:- • poliuca
86
"-l.1ric•Hclcnc Brou,i.'K'
S2
DM
a
7
87
fantasias inconscientes. Monstros, estranhas figuras, grupos de
humanos e semi-humanos, de animais e de semi-animais, mistura do
bestial e do fantástico. O inconsciente. Goya cunha, na época, a
expressão "o sonho da razão erige monstros" e a obra em gravura
permanece propositalmente irracional. Podemos apenas gozar a
beleza, a imaginação, a flutuação e a indefinição das angustiadas
formas: seu significado, até hoje, sempre escapou às inúmeras
tentativas de decifração. Não poderemos nunca gozar as verdades mais
íntimas do autor supostamente contidas nesses si gnificados.
Há uma barra ao gozo da compreensão. Uma barra separa a razão
da desrazão, a razão consciente da dinâmica pulsional do inconsciente.
Belo exemplo do saber-fazer com o Real. Exemplo de Goya, em 1 8 1 9.
C� o fora-de-sentido assim produzido temos nós de nos virar, temos
nós de saber-fazer.
Ao atualizar o discurso do mestre às marcas do contemporâneo e
criticar a posição do analista quando potencializa o totalitarismo, você,
Marie-Hélene, parece dizer "o sonho da razão erige monstros": nosso
embate é o embate com o Real. Seu Seminário levou-me a isto.
Agradeço muito. Em nome de cada um de nós.
Nota
' De Salas, J. Los proverbias de Goya; Barcelona: Ed. Gustavo Gibi, 1 987/ 1 989.
88
Bibliografia
89
F reud, S . "Psicol ogia de grupo e a anál ise do ego" ( ] 921 ), in Edição
O incon..'fCÍtnlr." � a pol111ca
Ha rdt, �f. & Negri , A. Império; Rio de Ja neiro: Ed. Record, 2001.
90
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91