Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Assim, iniciou a sua vida missionária, ganhou o mundo, viveu em países sul-americanos,
morou no México, na China, na Argélia, no Timor-Leste, aplicando a educação popular,
por meio da qual o educador ensina, mas também ouve e aprende, valorizando e
respeitando a cultura e a sabedoria de cada lugar. De volta ao Brasil, imergiu-se no
sertão, ensinou ao agricultor que este tinha direito à terra para plantar, enquanto
aprendeu com os seus hábitos e com a riqueza da sua língua e dos seus conhecimentos;
movimentou-se com os sindicalistas na capital; ouviu as prostitutas e os marginalizados
na periferia de São Paulo; vagou noites pelas ruas de Porto Alegre e, em 2016, idealizou
o “Mulherio das Letras”, movimento que propõe a visibilidade de escritoras as quais se
vêem com pouco espaço nas grandes editoras. Com toda essa bagagem, já aos 59 anos,
publicou seu primeiro livro, Vasto Mundo (2001, ed. Beca; 2015, ed. Alfagara).
1
https://revistamarieclaire.globo.com/Mulheres-do-Mundo/noticia/2018/02/maria-valeria-rezende-
freira-escritora-e-feminista.html
Em Vasto Mundo, Maria Valeria Resende dá voz ao pobre, analfabeto, faminto,
agricultor, trabalhador, às mulheres, que aparecem como fortes, como Maria Raimunda,
que “só teme a Deus e o perigo de amolecer quando vê menino sem mãe, homem
chorando, criança carregando enterro de anjinho, velho sem teto, mulher gestante com
variz e fome, essas coisas. Prefere mesmo é ter raiva que dá coragem e força para
resolver tudo o que aparece pela frente”, com uma história marcante de sororidade e
luta contra as injustiças por meio do canto; e como bondosas e justas, na figura de dona
Eulália, esposa de Assis Tenório, o qual a cala e a subjuga, mas que lhe deixa as funções
de governança para tratar uma doença no Rio de Janeiro, proporcionando, assim, um
breve tempo de redistribuição de terras, fartura e felicidade na região.
Maria Valéria Rezende foi 1º lugar do prêmio Jabuti (principal premiação literária
brasileira) nas categorias romance e livro do ano em 2015 com a obra Quarenta Dias
(2014, Alfaguara) e merece toda a visibilidade não só por sua escrita, mas, sobretudo,
pela mensagem que transmite pelo mundo, junto aos sem-teto, sem voz, sem trabalho
e dignidade.