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Catia Seabra
RIO DE JANEIRO Agora é oficial. A tensão entre o Ministério Público Federal e o Ministério
Público do Rio de Janeiro foi documentada, nesta terça-feira (24), em uma troca de ofícios entre
o procurador-geral de Justiça do Rio, José Eduardo Ciotola Gussem, e a Procuradora Federal dos
Direitos do Cidadão, Deborah Duprat.
Gussem reagiu, rispidamente, à atitude de Duprat de formalizar uma solicitação para que a
investigação sobre o assassinato da menina Ágatha Vitória Sales Félix, 8, seja conduzida
pelo Ministério Público do estado.
Gussem retribuiu o ofício, lembrando que o combate ao crime organizado é tarefa do Ministério
Público Federal.
“Diante do diálogo inaugurado por vossa excelência, entendo oportuno relembrar que o triste
cenário de violência urbana vivenciado pelo estado do Rio de Janeiro repousa sua origem mais
imediata no gigantesco mercado ilícito transnacional de armas e drogas que, há décadas, tem
atormentado nosso estado”, diz o ofício de Gussem.
Dizendo-se firme nessa constatação, Gussem aproveita o “ensejo" para informar, "com igual
espírito colaborativo", que as estruturas do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro estão
prontas a contribuir com qualquer iniciativa do Ministério Público Federal que, valendo-se do
poder de investigação criminal que lhe foi reconhecido pelo STF (Supremo Tribunal Federal),
tenha por escopo coibir o tráfico internacional de armas e drogas.
Em sua resposta, o procurador-geral de Justiça do Rio ressalta que o ofício estava na imprensa
antes mesmo de chegar às suas mãos.
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/09/caso-agatha-acirra-crise-entre-ministerio-publico-federal-e-procurador-geral-no-rio.shtml 1/2
25/09/2019 Caso Ágatha acirra crise entre Ministério Público Federal e procurador-geral no Rio - 25/09/2019 - Cotidiano - Folha
“Informo que o referido expediente, tornado público em jornais de grande circulação, antes
mesmo de ingressar no Parquet fluminense, foi prontamente encaminhado por esta
Procuradoria-Geral de Justiça ao órgão de execução com atribuição".
Em seu ofício, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão anexa notícias sobre o assassinato
de Ágatha e faz um histórico sobre a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que,
em 12 de maio de 2017, condenou o Brasil pela violação do direito às garantias judiciais de
independência e imparcialidade da investigação, a devida diligência e o prazo razoável nas
apurações do caso Favela Nova Brasília.
"A Corte Interamericana de Direitos Humanos determinou, portanto, ao Brasil, que em quaisquer
casos de supostas mortes, tortura ou violência sexual decorrentes de intervenção policial, nas
quais haja a possibilidade de responsabilidade de agentes policiais, a investigação seja, desde o
início, conduzida por autoridade judicial ou pelo Ministério Público, assistidos por equipe
policial”.
Gussem, por sua vez, conclui seu oficio afirmando que o Ministério Público do Estado do Rio de
Janeiro "confia que o efetivo compromisso no combate ao crime organizado, principalmente de
natureza transnacional, representa providência urgente e essencial à prevenção da perda de vidas
humanas, em absoluta sintonia com os mais fundamentais princípios de proteção e promoção de
Direitos Humanos”.
O caso Ágatha apenas acirra uma crise já em curso. No dia 17, último dia à frente da instituição, a
então procuradora-geral, Raquel Dodge, solicitou a federalização das investigações sobre a
assassinato da vereadora Marielle Franco, além de pedir a abertura de inquérito no STJ
(Superior Tribunal de Justiça) para apurar uma eventual participação do ex-deputado Domingos
Brazão no episódio.
Em resposta, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) afirmou, em nota, que Dodge estava
“obstinada em federalizar o processo” e defendeu que a investigação permanecesse na esfera
estadual.
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/09/caso-agatha-acirra-crise-entre-ministerio-publico-federal-e-procurador-geral-no-rio.shtml 2/2