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Univesidade Santa Cecília

Engenharia Mecânica
Resistência dos Materiais II

Flambagem por A situação a representa o


equilíbrio indiferente. Nela, ao se
Compressão aplicar a força Q na esfera, que está
sobre um plano, representado pela
Conceito de estabilidade do linha horizontal, ocorrerá uma nova
equilíbrio. posição de equilíbrio, semelhante a
De forma bastante comum esta em outro ponto qualquer do
ocorre confusão entre o que são plano.
equilíbrio e estabilidade. Uma
estrutura pode ser instável estando Na situação b, o equilíbrio é
em equilíbrio. instável. A força Q promove um
deslocamento na esfera que rola
Tome, por exemplo, um lápis sobre a superfície não existindo
apontado e tente coloca-lo apoiado mais a possibilidade de retorno a
em um plano horizontal apoiado esta posição de equilíbrio. Uma
pela ponta. Nesta situação, embora estrutura com este tipo de equilíbrio
ele esteja em equilíbrio, este é não suporta perturbações de
muito instável. Quando se apóia o nenhuma natureza.
lápis pela base, o equilíbrio é
estável. Isto pode ser observado na Na situação c, o equilíbrio é
figura 1 estável. A força Q promove um
P P deslocamento na esfera que rola
sobre a superfície oscilando em
torno da posição de equilíbrio inicial.

Carga crítica de barras


comprimidas.
Seja uma barra prismática
comprimida, em equilíbrio, como a
mostrada na figura 3.
Figura 1 – Equilíbrio estável e instável P

Em geral, o equilíbrio de uma


estrutura pode ser classificado
como: estável; instável ou Figura 3 – Barra comprimida em equilíbrio
indiferente.
Quando a força tem valores
Um modo bastante simples pequenos, a barra permanece reta
de observar este fato é analisar as e o equilíbrio é estável. Quando
três situações de equilíbrio ocorre um determinado aumento no
apresentadas na figura 2. valor desta força, podem aparecer
flechas nas seções da barra
Q Q Q
levando a barra para um novo
equilíbrio estável, como representa
a b c a figura 4.
Figura 2 – Situações de equilíbrio

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A
x B A expressão 2 é uma
P
diferencial de segunda ordem cuja
solução é:

 P   P 
v = C1 cos x  + C 2 sen x 
Figura 4 – Barra comprimida em uma nova
 E × Ι   E × Ι 
posição de equilíbrio
(3)
A passagem do primeiro
estado de equilíbrio estável para o onde C1 e C2 são constantes que
outro, ocorre quando a força atinge devem ser determinadas de
um determinado valor que é maneira a satisfazer as condições
chamado de Valor Crítico. Nessa de deslocamento das extremidades
situação a carga é chamada de apoiadas; ou seja:
Carga Crítica e indicada por Pcrit.
para x = 0 ⇒ v = 0 e
Quando a carga está no valor para x = l ⇒ v = 0
crítico o equilíbrio torna-se instável.
Com x = 0 , se tem
Nos dimensionamentos das
estruturas é importante que este 0 = C1 cos(0 ) + C 2 sen(0 ) 
valor crítico não seja alcançado.
Com isto, se garante, além da 0 = C1 × 1 + C 2 × 0 
integridade, a estabilidade da
estrutura. C1 = 0 (4)

Determinação da Carga Crítica. Com este resultado a


expressão 3 se resume a:
Na figura 4, se observa a
ocorrência de flechas nas seções
 P 
da barra. Torna-se possível, então v = C 2 sen x  (4)
escrever a equação da linha  E × Ι 
elástica para a barra.
Com x = l , tem-se:
d2 v M
=− (1)
dx 2
E×Ι  P 
0 = C 2 sen × l  (5)
 E×Ι 
Para uma seção qualquer,
com distância igual a x, a partir do Note-se, aqui, que para
apoio A o momento fletor vale satisfazer a equação,
M = P×v que, substituído na independentemente do valor de C2,
expressão 1, resulta: a função seno deve ser igual a zero.
Esta função é nula quando o ângulo
d2 v P×v
=−  for igual a nπ, ou seja:
dx E×Ι
P
d2 v P × v × l = nπ (6)
+ = 0 (2) E×Ι
dx E×Ι onde:

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n=0; 1; 2; 3; ........ A carga crítica encontrada
para n=2 muda o estado de
Assim, tem-se: equilíbrio de uma barra que tem a
forma da figura 4 para uma que tem
P a forma da figura 6.
× l = nπ 
E×Ι P

P
× l 2 = n 2π2 
E×Ι

n 2 × π2 × E × Ι
P= (7) Figura 6 – Barra flambada com Pcrit para
l2 n=2
Para as estruturas, em geral,
Note-se que n é um número se interessa descobrir a carga
inteiro, positivo, qualquer entre 1 e crítica para n=1. No presente
∞ . Para cada valor de n existe um capítulo far-se-á está consideração.
valor de P que muda o estado de
equilíbrio. Cada um destes valores Um fato importante de ser
é indicado por Pcrit. . lembrado é que a solução da
expressão 3 foi encontrada através
Desta forma com: das condições de apoio da barra.
Isto significa que para barras
π2 × E × Ι apoiadas de forma diferente, a
n=1  Pcrit1 = (8) solução será diferente. Mais à frente
l2
este fato será abordado .
4 × π2 × E × Ι
n=2  Pcrit 2 = (9)
l2 Equação de Eüler
Toma-se, inicialmente a
Importante se torna observar expressão 8 que é a carga crítica
que estas cargas críticas são as para a flambagem de uma barra
cargas que mudam o estado de prismática simplesmente apoiada
equilíbrio. Assim, a carga crítica em suas extremidades.
encontrada para n=1 muda o
estado de equilíbrio de uma barra Lembra-se, mais uma vez,
reta para uma barra que tem a que a carga crítica é aquela que
forma da figura 5. Nesta situação se muda o estado de equilíbrio; assim,
diz que ocorreu a flambagem da com cargas de menor valor que ela
barra por compressão. a barra permanece reta e com
P cargas de maior valor, ela flamba da
forma da figura 5, até que o valor
seja igual ao da encontrada para
n=2.

Lembrando que esta carga é


Figura 5 – Barra flambada com Pcrit para uma força normal de compressão, o
n=1 módulo da tensão normal
desenvolvida nos pontos das

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seções transversais da barra Podemos escrever esta
prismática é: expressão então como:

 σ fl = π × E 
2
P
σ = crit (10) 2
A l
i2
onde A é a área da seção
transversal da barra. π2 × E
σ fl = 2
(15)
A esta tensão se dá o nome l
 
de Tensão de Flambagem que é i
indicada por σfl.
Na expressão 15, o
Pcrit l
σ fl = (11) quociente é chamado de Índice
A i
de Esbeltez da barra e indicado
A tensão de flambagem é pela letra λ.
portanto a tensão que muda o
estado de equilíbrio da barra ou l
λ= (16)
seja, com tensões iguais a este i
valor o equilíbrio é instável.
O índice de esbeltez é uma
Substituindo o valor da carga medida relativa entre o
crítica, encontrado na expressão 8, comprimento da barra e sua seção
na expressão 11, tem-se: transversal. Uma barra é esbelta
quando seu comprimento é grande
π2 × E × Ι perante sua seção transversal.
σ fl = l2 
A Assim, a expressão 15 fica:

π2 × E × Ι π2 × E
σ fl = 2 (12) σ fl = (17)
l ×A λ2

Sabendo-se que o raio de Esta expressão é conhecida


giração de uma figura (i) é igual a: como Equação de Eüler.

Ι Ι OBS:-
i=  i =
2
(13) 1. A tensão de flambagem é um
A A valor de tensão que, se
atingido, muda o estado de
a expressão 12 fica: equilíbrio da barra, isto é; a
barra flamba.
π2 × E × i2
σ fl = (14)
l2 2. Para que em uma barra não
ocorra a flambagem, o valor
Observe-se que na de tensão desenvolvida pela
expressão 14 l é o comprimento da força de compressão
barra e i é uma propriedade de sua atuante, deve ser menor que
seção transversal.
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o da tensão de flambagem.
Isto é: k=2

P
σ= ≤ σ fl (18)
A

onde k=0,7

σ fl
σ fl = (19)
s
k=1
e s é o coeficiente de segurança
que se deseja usar.

3. O estudo do raio de giração é k=0,5


de grande importância já
que, se não existir restrição a
barra tende a flambar de
maneira que a seção gire em Figura 7 – Coeficientes k para
diferentes formas de apoio.
torno do eixo central de
inércia de menor momento e
portanto, de menor raio de Flambagem Elástica e
giração
Flambagem Inelástica.
4. A mudança na forma de A expressão 17 mostra que a
apoio da barra, provoca tensão de flambagem é função do
alteração na solução da índice de esbeltez da barra. Com
expressão 3. Esta alteração, ela, é possível traçar o gráfico da
pode ser expressa por meio figura 8.
do índice de esbeltez.
σf l (Mpa)
1400,0

5. A forma geral do índice de 1200,0

1000,0
esbeltez é: 800,0

600,0

l
λ = k × (20)
400,0

i 200,0

0,0
0 50 100 150 200 λ 250

onde k é um coeficiente que Figura 8 – Gráfico da tensão de flambagem


depende da forma de apoio em função do índice de esbeltez para
da barra. E=200GPa.

6. Os valores de k para Pela figura 8 é possível


diferentes formas de apoio observar que barras com esbeltez
são as mostradas na figura 7. muito pequena necessitam de uma
tensão muito grande para que
ocorra a flambagem.

Deve-se levar em conta


também que, as expressões até

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aqui obtidas possuem como Assim, é feita uma distinção
premissa a validade da lei de entre a flambagem que segue a
Hooke. Esta lei tem validade desde equação de Eüler – chamada de
que a tensão não ultrapasse a Flambagem Elástica – e a que não
tensão limite de proporcionalidade segue – chamada de Flambagem
do material (σp). Inelástica.

Assim, a equação de Eüler Como já foi mencionada, a


possui validade para tensões abaixo flambagem elástica segue a
de σp. equação de Eüler, já a flambagem
inelástica segue outro padrão de
σ comportamento.

O padrão de comportamento
da flambagem inelástica é muito
dependente do material e os
Validade da resultados possuem uma grande
σp equação de Eüler dispersão.

Algumas equações de
λ aproximação são usadas para
traduzir este comportamento. Uma
λlim das importantes aproximações foi
Figura 9 – Gráfico da tensão de flambagem
em função do índice de esbeltez mostrando feita por Tetmajer que aproxima o
a validade da Equação de Eüler. comportamento à função:

Na figura 9 está indicado o σ fl = a − bλ + cλ2 (21)


valor para λ onde a tensão
necessária para a flambagem é σp. onde a; b e c são constantes que
A este valor, se dá o nome de dependem do material da barra.
Índice de esbeltez limite e se indica
por λlim. A tabela 1 mostra os valores
das constantes para alguns
A primeira vista, se pode materiais.
imaginar que barras com esbeltez Tabela 1 – Constantes a; b e c para
menor que o limite não apresentam alguns materiais para tensões em MPa.
o fenômeno da flambagem. Isto não
Material λlim a b c
é verdade, estas barras também
podem apresentar flambagem. Para Aço st
105 303 1,16 0
barras com índice de esbeltez muito 37
pequeno, a falha por compressão Aço st
pode ocorrer antes da mudança de 89 329 0,63 0
50
estado de equilíbrio. Ferro
80 764 12,2 0,05
Fundido
As equações que traduzem
estes efeitos não podem estar Madeira 100 287 0,20 0
baseadas na Lei de Hooke, já que a Aço ao
tensão desenvolvida é maior que a 86 461 2,34 0
Níquel
tensão limite de proporcionalidade.
Alumínio 66 139 0,89 0

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Outra aproximação
importante foi feita por Telêmaco V.
Langendonck, que propõe o
comportamento como sendo uma
parábola com vértice na tensão
limite de escoamento (σe).

A figura 9 representa este


comportamento.
σ

Aproximação por
σe uma parábola

σp

λ
λlim Validade da
equação de Eüler

Figura 9 – Gráfico mostrando a validade da


Equação de Eüler e a aproximação pela
parábola.

A equação proposta por


Telêmaco, para uma barra com um
índice de esbeltez menor que limite
é:

σe − σp
σ fl = σ e − × λ2 (21)
λ2
lim

As aproximações que aqui


são apresentadas não são as
únicas existentes. Muitas outras são
aceitas e para o dimensionamento
de pilares existem normas, como as
da AISC e a NBR 8800, que usam
outras formulações.

De uma maneira geral, se


pode dizer que quando a
flambagem for elástica, a equação a
ser usada é a Equação de Eüler.
Quando ela for inelástica se pode
usar uma das aproximações.

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