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Resumo
A ideia central deste ensaio é discutir, sob a luz do conceito das três ecologias (social,
ambiental e mental), o processo de articulação ético-político e estético exercido pelas marcas
através da publicidade, no contexto de umasociedade de controle. O que se pretende é realizar
uma análise que considere a relação das marcas com a exterioridade de forma rizomática,
através da publicidade como estratégia de agenciamentos molar e molecular, refletindo sobre
a produção de subjetividade. A partir da metodologia qualitativa, este ensaio baseia-se nas
pistas teóricas trilhadas por Félix Guattari e Gilles Deleuze. A pesquisa é de caráter
exploratório, exemplificada por peça publicitária da marca NATURA. Algumas pistas
desvelam que através da comunicação rizomática, a publicizaçãomarcária produz “kits de
subjetividades”, que consomem e, ao mesmo tempo, veiculam as próprias marcas.
INTRODUÇÃO
Na obra As Três Ecologias, Félix Guattari realiza uma análise crítica no que se
refere à relação do sujeito com o ambiente que o cerca, considerando as questões de
transversalidade entre as dimensões social, mental e ambiental. O pensamento
ecológico-filosófico proposto pelo autor sugere uma tentativa de compreender o
indivíduo através de seus pontos de contato com a realidade que o produz e o
atravessa, em suas múltiplas dimensões.
1
Trabalho apresentado no Grupo de Trabalho Comunicação, Consumo e Subjetividade, do 4º Encontro
de GTs - Comunicon, realizado nos dias 08, 09 e 10 de outubro de 2014.
2
Fernando Pontes:Pós-Graduado em Gestão Empresarial e Marketing (ESPM-RJ), Mestrando em
Psicossociologia (EICOS/IP/UFRJ). fernandopontes@ymail.com.
2
Frederico Tavares: Pós-doutorado em Psicossociologia (EICOS/IP/UFRJ), Professor e Pesquisador do
Programa EICOS (IP/UFRJ); Professor da Escola de Comunicação (ECO/UFRJ).
frederico.tavares@eco.ufrj.br
PPGCOM ESPM // SÃO PAULO // COMUNICON 2014 (8 a 10 de outubro 2014)
METODOLOGIA
PPGCOM ESPM // SÃO PAULO // COMUNICON 2014 (8 a 10 de outubro 2014)
O PENSAMENTO ECOSÓFICO
Em As Três Ecologias, Félix Guattari se afasta da separação ambientalista
dualística do humano (cultural) e não-humano (natural), refletindo sobre o conceito de
3
Disponível em www.facebook.com/natura.br. Acesso em Abr.2014.
PPGCOM ESPM // SÃO PAULO // COMUNICON 2014 (8 a 10 de outubro 2014)
ponto em que pode ser reinventado, que estará em jogo a saída das crises maiores de
nossa época” (GUATTARI, 1990, p.55).
Neste contexto, Guattari sinaliza para o fato de que a subjetividade, os bens e
o meio ambiente encontram-se laminados sob a lógica de uma sociedade de controle
operada pelo Capitalismo pós-industrial – ou Capitalismo Mundial Integrado, como o
denomina – sendo necessário, portanto, se debruçar sobre o que poderiam ser os
dispositivos de produção de subjetividade, indo no sentido de uma re-singularização
individual e/ou coletiva (GUATTARI, 1990).
Esta nova configuração do capital tende cada vez mais a “descentrar seus
focos de poder das estruturas de produção de bens e de serviços para as estruturas
produtoras de signos, de sintaxe e de subjetividade, por intermédio, especialmente, do
controle que exerce sobre a mídia, a publicidade”. (GUATTARI, 1990, p.31). Esta
concepção de capitalismo, também entendida como conexionista (PELBART, 2003),
opera sob a lógica do controle e se estende por todas as dimensões psíquicas, sociais,
políticas e culturais, através da perspectiva de um enredamento. A busca por novos
dispositivos de re-singularização pressupõe a subjetividade como meta a ser re-
alcançada, a partir de um olhar transversal:
“A subjetividade, através de chaves transversais, se instaura ao
mesmo tempo no mundo do meio ambiente, dos grandes
Agenciamentos sociais institucionais e, simetricamente, no seio das
paisagens e dos fantasmas que habitam as mais íntimas esferas do
indivíduo. A reconquista de um grau de autonomia criativa num
campo particular invoca outras reconquistas em outros campos”.
(GUATTARI, 1990, p.55).
indivíduo, mas sim uma produção continua que se estabelece a partir da relação com o
outro, compreendendo-se esse “outro” como tudo o que produz efeito nos corpos e
nas maneiras de viver (GUATTARI; ROLNIK, 1996).
Essa subjetividade capitalística se reflete através da lógica do Capitalismo
Mundial Integrado, que opera na esfera psicossocial, produzindo
subjetividadesreguladas pelo desejo e pelo consumo. Segundo Guattari, a “máquina
capitalística produz (...) aquilo que acontece conosco quando sonhamos, quando
devaneamos, quando fantasiamos, quando nos apaixonamos e assim por diante. (...)”
(GUATTARI; ROLNIK, 1996, p. 16). Ela torna-se responsável por uma inédita
produção de subjetividade que, seja em seus aspectos materiais (bens de consumo) ou
imateriais (afetos, desejos, etc.), é projetada de forma rizomática, na realidade do
mundo e na realidade psíquica. E na cultura como um todo. Além disso, fabrica a
relação com a produção, com a natureza, com o movimento, com o corpo, com o
tempo, em suma, ela fabrica a relação do homem com o mundo e consigo mesmo
(GUATTARI; ROLNIK, 1996).
O paradigma da ecosofia reflete, pois, uma perspectiva transversal entre
sociedade e natureza, na qual a integração das três ecologias (e os seus registros:
social, mental e ambiental) devem ser pensadas, rizomaticamente, através do conceito
de “capitalismo conexionista” (PELBART, 2003), que configura e influencia a
produção das subjetividades na contemporaneidade, tendo como pano de fundo a
lógica de uma sociedade de controle (DELEUZE, 1992), que traz o consumo como
uma “cultura- valor”(GUATTARI; ROLNIK, 1996).
CONSUMO E ECOSOFIA
meios sóciotécnicos, como twittere youtube, onde alcançou mais de trinta mil
visualizações, sofreu uma evolução em 10/04/2014, indicando caminhos
interpretativos através da prática esportiva. A partir de uma nova abordagem, a
própria propaganda sugere, agora, a resposta para a pergunta “O que move você? /
Corrida?”, estimulando o consumidor a refletir sobre seus gostos, suas preferências,
seus prazeres e sua postura diante da vida. A nova peça ainda convida o espectador
impactado e acessar o site da empresa para obter “dicas” sobre esta modalidade
esportiva, sugerindo um movimento em rede. A estratégia sugere que novas peças
temáticas serão veiculadas para perpetuar e expandir este movimento de interações
com a marca e como novo produto em rede, alcançando rebatimentos molares e
moleculares.
Como proposta de continuidade e acentuação dos movimentos de
agenciamento e produção de subjetivação, a empresa sugere em sua fanpage, através
de teasers textuais, a intenção de lançar um concurso cultural cujo mote “O que move
você?” convidará o consumidor em potencial a pensar seus desejos (que são
capturados) e a compartilhar com a empresa com os demais participantes (e
consumidores). São movimentos de agenciamentos mútuos, em níveis molares e
moleculares, que estabelecem tanto a construção e a desconstrução do sujeito
impactadoquanto da própria marca impactante, através da produção de um diálogo
permanente, de desejos e devires, em diferentes movimentos e platôs.
REFERÊNCIAS
ALLIEZ, Éric (org) et al. Gilles Deleuze: uma vida filosófica. São Paulo: Ed. 34, 2000.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Trad. Lígia M. Ponde Vassalo.
Petrópolis, R.J.: Vozes, 1987.
GUATTARI, Félix. As três ecologias. Trad. Maria Cristina F. Bittencourt. São Paulo:
Papirus, 1990.
PELBART, Peter Pál. Vida capital. Ensaios de biopolítica. São Paulo: Iluminuras, 2003.