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Análise III (Análise no IRn)

Notas de aulas

André Arbex Hallack

Agosto/2008
Índice

1 Noções Topológicas no IRn 1


1.1 O espaço vetorial IRn . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Seqüências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.3 Topologia usual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.4 Limites e continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.5 Homeomorfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.6 Compacidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.7 Conexidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.8 Norma de uma transformação linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.9 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

2 Diferenciabilidade 25
2.1 Definição: diferenciabilidade de uma aplicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.2 Exemplos de aplicações diferenciáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.3 Funções reais de m variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.5 A Regra da Cadeia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
2.6 Teorema/Desigualdade do valor médio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
2.7 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
2.8 As classes de diferenciabilidade C k . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
2.9 O vetor Gradiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
2.10 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

i
3 Derivadas de ordem superior e a Fórmula de Taylor 63
3.1 Inversão na ordem de derivação: Teorema de Schwarz . . . . . . . . . . . . . . 63
3.2 Derivadas de ordem superior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
3.3 A Fórmula de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

4 O Teorema da Aplicação Inversa 71


4.1 Preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
4.2 O Teorema da Aplicação Injetiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
4.3 O Teorema da Aplicação Sobrejetiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.4 O Teorema da Aplicação Inversa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
4.5 O Teorema da Aplicação Implı́cita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
4.6 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

5 Integrais Múltiplas 89
5.1 A definição de integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
5.2 Caracterização das funções (Riemann-) integráveis . . . . . . . . . . . . . . . . 93
5.3 Integrabilidade em domı́nios mais gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
5.4 Somas de Riemann . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
5.5 Integração repetida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
5.6 Mudança de variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
5.7 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112

Referências 115
Capı́tulo 1

Noções Topológicas no IRn

1.1 O espaço vetorial IRn

Consideremos o conjunto IRn = { (x1 , x2 , . . . , xn ) ; xi ∈ IR , i = 1, 2, . . . , n } das n-uplas de


números reais.
Dados x = (x1 , x2 , . . . , xn ) , y = (y1 , y2 , . . . , yn ) ∈ IRn e α ∈ IR, definimos:

x + y = (x1 + y1 , x2 + y2 , . . . , xn + yn )

α.x = (αx1 , αx2 , . . . , αxn )

Estas operações fazem do IRn um espaço vetorial de dimensão n sobre o corpo IR dos
números reais.

Produto interno no espaço IRn :


Definimos o PRODUTO INTERNO CANÔNICO < , > : IRn × IRn → IR pondo:

< x, y > = x1 y1 + x2 y2 + . . . + xn yn ∀ x = (x1 , . . . , xn ), y = (y1 , . . . , yn ) ∈ IRn

Normas:
(?)
A partir do Produto Interno Canônico acima definido, construı́mos a NORMA EUCLI-
DIANA k ke : IRn → IR pondo:

kxke = < x, x > ∀ x ∈ IRn

1
2 CAPÍTULO 1

(?)
Obs.: Outras duas normas se destacam no IRn :
A NORMA DO MÁXIMO k km : IRn → IR dada por

kxkm = max { |x1 | , |x2 | , . . . , |xn | } ∀ x = (x1 , . . . , xn ) ∈ IRn

A NORMA DA SOMA k ks : IRn → IR dada por

kxks = |x1 | + |x2 | + . . . + |xn | ∀ x = (x1 , . . . , xn ) ∈ IRn

(?)
É fácil mostrar que estas duas normas não provêm de produto interno algum no IRn .

(?)
Para todo x ∈ IRn temos :

kxkm ≤ kxke ≤ kxks ≤ n. kxkm

Métricas, bolas e conjuntos limitados:


A partir de qualquer norma k k no IRn podemos construir, de modo natural, uma métrica
d : IRn × IRn → IR (noção de distância), pondo:

d(x, y) = kx − yk ∀ x, y ∈ IRn

Seguem definições de certos lugares geométricos básicos:

Definição 1.1. Consideremos uma norma k k no IRn . Dados um ponto a ∈ IRn e um


número real r > 0, definimos:

(i) BOLA ABERTA de centro a e raio r: B(a; r) = {x ∈ IRn ; kx − ak < r}

(ii) BOLA FECHADA de centro a e raio r: B[a; r] = {x ∈ IRn ; kx − ak ≤ r}

(iii) ESFERA de centro a e raio r: S[a; r] = {x ∈ IRn ; kx − ak = r}

Obs.: É claro que os lugares geométricos acima definidos dependem da norma k k


considerada.

A seguir definimos uma relação de equivalência entre normas:

Definição 1.2. Duas normas k k1 e k k2 no IRn são ditas EQUIVALENTES quando,


sempre que for dada uma bola aberta, considerando uma das normas, é possı́vel obter uma
bola aberta de mesmo centro, considerando a outra norma, contida na primeira.
Noções Topológicas no IRn 3

A “equivalência”, assim definida, além de SIMÉTRICA (por definição), é REFLEXIVA E


(?)
TRANSITIVA, sendo portanto uma RELAÇÃO DE EQUIVALÊNCIA .

(?)
Proposição 1.3. Duas normas k k1 e k k2 no IRn são equivalentes se, e somente se,
existem constantes k, l > 0 tais que:
l. kxk2 ≤ kxk1 ≤ k. kxk2 ∀ x ∈ IRn

Já vimos antes que kxkm ≤ kxke ≤ kxks ≤ n. kxkm , para todo x ∈ IRn .
Portanto as normas Euclidiana, do Máximo e da Soma são EQUIVALENTES!

Definição 1.4. Um conjunto X ⊂ IRn é limitado (“em relação à norma k k”) quando existir
uma constante c > 0 tal que kxk ≤ c para todo x ∈ X.

É imediato que se duas normas k k1 e k k2 no IRn são equivalentes então um conjunto


X ⊂ IRn é limitado em relação à norma k k1 se, e somente se, X é limitado em relação à
(?)
norma k k2 .

(?)
Proposição 1.5. Um conjunto X ⊂ IRn é limitado (em relação a qualquer norma equi-
valente à Norma do Máximo) se, e somente se, todas as suas projeções
X1 = π1 (X), X2 = π2 (X), . . . , Xn = πn (X)
são conjuntos limitados em IR.

1.2 Seqüências

Definição 1.6. Dizemos que uma seqüência (xk ) no IRn converge para o limite a ∈ IRn
(“em relação à norma k k”) quando, para cada  > 0 dado, é possı́vel obter um ı́ndice
k0 ∈ IN tal que k > k0 ⇒ kxk − ak < . Neste caso escrevemos: a = lim xk ou xk → a.
De modo equivalente temos que, para cada  > 0 , os termos xk estão na bola aberta
B(a; ) (em relação à norma considerada), para todo k suficientemente grande.

Uma conseqüência importante da definição acima é que, se duas normas no IRn são
equivalentes, então a convergência de uma seqüência independe de qual das nor-
(?)
mas equivalentes é considerada .
4 CAPÍTULO 1

(?)
Conseqüências imediatas:
(i) lim xk = a ⇔ lim kxk − ak = 0
(ii) Toda seqüência convergente é limitada.
(iii) Se lim xk = a então toda subseqüência de (xk ) converge para a.
(iv) O limite de uma seqüência convergente é único.

Uma seqüência
 (xk ) no IRn equivale a n seqüências de números reais, ou seja, para todo
(k) (k) (k) (k)
k ∈ IN , xk = x1 , x2 , . . . , xn , onde xi = πi (xk ) = i-ésima coordenada de xk . Essas n
seqüências são ditas as Seqüências DAS COORDENADAS de (xk ).

(?)
Proposição 1.7. Uma seqüência (xk ) no IRn converge (em relação a qualquer norma
equivalente à Norma do Máximo) para o ponto a = (a1 , a2 , . . . , an ) se, e somente se, para
(k)
cada i = 1, 2, . . . , n tem-se lim xi = ai , ou seja, cada coordenada de xk converge para a
coordenada correspondente de a.

Corolário 1. Dadas as seqüências convergentes (xk ), (yk ) no IRn e (αk ) em IR, sejam
lim xk = a, lim yk = b e lim αk = α. Então:
(i) lim(xk + yk ) = a + b
(ii) lim αk .xk = α.a
(iii) lim < xk , yk > = < a, b >

A seguir dois importantes resultados, onde usamos o fato de IRn ter dimensão finita:
(?)
Teorema 1.8. (Bolzano-Weierstrass) Toda seqüência limitada (em relação a qualquer
norma equivalente à Norma do Máximo) em IRn possui uma subseqüência convergente.

Prova: Exercı́cio (Sugestão: use o mesmo resultado em IR para as seqüências das coorde-
nadas, juntamente com a proposição anterior)

Teorema 1.9. Duas normas quaisquer no espaço IRn são equivalentes.

Demonstração:
Sejam k ks : IRn → IR a Norma da Soma, dada por

kxks = |x1 | + |x2 | + . . . + |xn | ∀ x = (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ IRn

e k k : IRn → IR uma norma qualquer no IRn .


Noções Topológicas no IRn 5

Temos:
(i) Por transitividade, se mostrarmos que k ks e k k são equivalentes, então o teorema
estará demonstrado.
(ii) Para a Norma da Soma valem os resultados anteriores, pois ela é equivalente à Norma
do Máximo.

Consideremos a Base Canônica β = {e1 , e2 , . . . , en } do IRn .


Para todo vetor x = (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ IRn , temos:

kxk = kx1 e1 + . . . + xn en k ≤ |x1 | . ke1 k + . . . |xn | . ken k ≤ b.(|x1 | + . . . + |xn |) = b. kxks

onde b = max { ke1 k , . . . , ken k } (repare que este b está bem definido, pois tomamos o
máximo em um conjunto finito de números reais).
Logo kxk ≤ b. kxks para todo x ∈ IRn . (1)

Resta mostrarmos que existe a > 0 tal que kxks ≤ a. kxk ∀x ∈ IRn .

De fato: se isto não ocorrer temos que para todo k ∈ IN é possı́vel obter um xk ∈ IRn
tal que kxk ks > k. kxk k (pois k não serviria como tal a > 0 ).
xk
Tomemos, para cada k ∈ IN, uk = (note que a seqüência (uk ) está bem definida,
kxk ks
pois kxk ks > 0 ∀k )
Como kuk ks = 1 para todo k (verifique), temos que (uk ) é limitada em relação à Norma
da Soma.

Pelo Teorema de Bolzano-Weierstrass, (uk ) tem uma subseqüência (ukj ) convergente (na
Norma da Soma) para um ponto u ∈ IRn .

Temos então que ukj s → kuks . Logo kuks = 1 , o que significa que u 6= 0.

 1 
Agora, dado  > 0, é possı́vel obter kj0 tal que ukj0 − u s < e < .
2b kj0 2
Logo
1  
kuk ≤ ukj0 − u + ukj0 ≤ b. ukj0 − u s + < b. + =.
kj0 2b 2

Assim kuk = 0 ⇒ u = 0 (contradição!)

Então, obrigatoriamente, existe a > 0 tal que kxks ≤ a. kxk ∀x ∈ IRn . (2)

Por (1) e (2), k ks e k k são equivalentes, qualquer que seja a norma k k no IRn .
6 CAPÍTULO 1

Por transitividade, temos então que duas normas quaisquer no IRn são equivalentes.

Obs.: À luz deste último teorema, temos também que os resultados anteriores são
válidos para qualquer norma considerada no IRn .

(?)
Proposição 1.10. (IRn é Banach) Uma seqüência (xk ) no IRn é convergente (em
relação à qualquer norma k k considerada) se, e somente se, ela é uma Seqüência de Cauchy.

Prova: Exercı́cio (Sugestão: use a norma do máximo, a proposição 1.7 e o resultado já
conhecido para seqüências de números reais)

Prove também o resultado acima sem usar o que já foi provado para seqüências de números
(?)
reais .

1.3 Topologia usual

Conjuntos abertos:

Definição 1.11. Um ponto a é dito um PONTO INTERIOR a um conjunto X ⊂ IRn


quando existe  > 0 tal que B(a; ) ⊂ X. Se denotarmos por int X o conjunto dos pontos
interiores a X (INTERIOR de X), é imediato que int X ⊂ X. Se a ∈ int X então X é dito
uma VIZINHANÇA de a.
Um conjunto A ⊂ IRn é dito ser ABERTO (em IRn ) quando A = int A.
Um conjunto B ⊂ X é dito ser um conjunto ABERTO EM X quando existe um conjunto
aberto (em IRn ) A tal que B = X ∩ A .

(?)
Conseqüências imediatas:
(i) φ e IRn são abertos.
(ii) A interseção A = A1 ∩ . . . ∩ Al de uma coleção FINITA de abertos é um aberto.
[
(iii) A reunião A = Aλ de uma coleção arbitrária {Aλ }λ∈L de abertos é um aberto.
λ∈L

(iv) Toda bola aberta B(a; r) é um conjunto aberto.


[
(v) Para todo X ⊂ IRn tem-se: int X = A
A⊂X
A aberto
Noções Topológicas no IRn 7

Conjuntos fechados:

Definição 1.12. Um ponto a é dito um PONTO ADERENTE a um conjunto X ⊂ IRn


quando existe uma seqüência (xk ) em X ( xk ∈ X ∀ k ) tal que xk → a . Se denotarmos por
cl X o conjunto dos pontos aderentes a X (FECHO de X), é imediato que X ⊂ cl X.
Um conjunto F ⊂ IRn é dito ser FECHADO (em IRn ) quando F = cl F .
Um conjunto B ⊂ X é dito ser um conjunto FECHADO EM X quando existe um conjunto
fechado (em IRn ) F tal que B = X ∩ F .
Dado X ⊂ IRn , definimos fr X = cl X ∩ cl (IRn \X) (FRONTEIRA de X).
Sejam Y ⊂ X ⊂ IRn . Dizemos que Y é DENSO em X quando X ⊂ cl Y (todo ponto
de X é limite de uma seqüência de pontos de Y ).

(?)
Conseqüências imediatas:
(i) a ∈ cl X ⇔ toda vizinhança de a possui algum ponto de X.
(ii) F ⊂ IRn é fechado ⇔ A = IRn \F é aberto.
(iii) φ e IRn são fechados.
(iv) A reunião F = F1 ∪ . . . ∪ Fl de uma coleção FINITA de fechados é um fechado.
\
(v) A interseção F = Fλ de uma coleção arbitrária {Fλ }λ∈L de fechados é um fechado.
λ∈L

(vi) Toda bola fechada B[a; r] é um conjunto fechado.


(vii) Toda esfera S[a; r] é um conjunto fechado.
(viii) Qn é denso no IRn .
\
(ix) Para todo X ⊂ IRn tem-se: cl X = F
F ⊃X
F fechado

Pontos de acumulação:

Definição 1.13. Um ponto a é dito um PONTO DE ACUMULAÇÃO de um conjunto


X ⊂ IRn quando existe uma seqüência (xk ) em X\ {a} ( xk ∈ X , xk 6= a ∀ k ) tal que
xk → a . Denotamos por X 0 o conjunto dos pontos de acumulação de X.
Se a ∈ X não é ponto de acumulação de X, então a é um PONTO ISOLADO de X.
Se todos os pontos de X são isolados, X é chamado um conjunto DISCRETO.
8 CAPÍTULO 1

(?)
Conseqüências imediatas:
(i) a ∈ X 0 ⇔ toda vizinhança de a possui algum ponto de X\ {a}.
(ii) a ∈ X 0 ⇔ toda bola aberta B(a; r) possui uma infinidade de pontos de X.
(iii) Se X 0 6= φ então X é infinito.
(iv) O conjunto X 0 dos pontos de acumulação de X é fechado.
(v) Se X ⊂ IRn é infinito e limitado, então X 0 6= φ (Bolzano-Weierstrass)

1.4 Limites e continuidade

Estudaremos agora noções de limites e continuidade para aplicações f : X → IRn ,


com X ⊂ IRm . Podemos sempre identificar aplicações como esta através de suas funções
coordenadas:
A cada aplicação f : X ⊂ IRm → IRn correspondem n funções f1 , f2 , . . . , fn : X → IR
dadas por fi = πi ◦ f ( i = 1, . . . , n ), ditas as FUNÇÕES COORDENADAS da aplicação f .
Para todo x ∈ X temos f (x) = (f1 (x), f2 (x), . . . , fn (x)) .
Escrevemos f = (f1 , f2 , . . . , fn ).

Limites:
Definição 1.14. Sejam f : X ⊂ IRm → IRn e a ∈ X 0 (a é ponto de acumulação de X).
Dizemos que b ∈ IRn é o LIMITE DE f (x) QUANDO x TENDE PARA a e escrevemos
b = lim f (x)
x→a
quando, para cada  > 0 dado, é possı́vel obter δ > 0 tal que
x ∈ X, 0 < kx − ak < δ ⇒ kf (x) − bk < 

(?)
Proposição 1.15. Sejam f : X ⊂ IRm → IRn e a ∈ X 0 .
A fim de que lim f (x) = b ∈ IRn é necessário e suficiente que, para toda seqüência (xk )
x→a
em X\ {a} com xk → a se tenha f (xk ) → b .

(?)
Proposição 1.16. Seja a um ponto de acumulação de X ⊂ IRm . Dada a aplicação
f : X → IRn , cujas funções coordenadas são f1 , f2 , . . . , fn : X → IR , tem-se
lim f (x) = b = (b1 , b2 , . . . , bn ) ∈ IRn se, e somente se, lim fi (x) = bi ∀ i = 1, 2, . . . , n.
x→a x→a
Noções Topológicas no IRn 9

Continuidade:

Definição 1.17. Uma aplicação f : X ⊂ IRm → IRn é CONTÍNUA NO PONTO a ∈ X


quando, para cada  > 0 dado, é possı́vel obter δ > 0 tal que

x ∈ X, kx − ak < δ ⇒ kf (x) − f (a)k < 

Se f como acima é contı́nua em todos os pontos do conjunto X, dizemos simplesmente que


f é uma aplicação CONTÍNUA.

(?)
Proposição 1.18. Seja f : X ⊂ IRm → IRn . A fim de que f seja contı́nua em a ∈ X
é necessário e suficiente que, para toda seqüência (xk ) em X com xk → a se tenha
f (xk ) → f (a) .

(?)
Proposição 1.19. Uma aplicação f : X ⊂ IRm → IRn é contı́nua se, e somente se, para
cada A aberto do IRn (ou para cada F fechado do IRn ), sua imagem inversa f −1 (A) é
um conjunto aberto em X (ou f −1 (F ) é um conjunto fechado em X).

(?)
Proposição 1.20. A composta de duas aplicações contı́nuas é contı́nua.

(?)
Proposição 1.21. Seja a ∈ X ⊂ IRm . Dada a aplicação f : X → IRn , cujas funções
coordenadas são f1 , f2 , . . . , fn : X → IR , tem-se: f é contı́nua em a se, e somente se, cada
uma das suas funções coordenadas fi = πi ◦ f : X → IR é contı́nua no ponto a.

Corolário 1. Dadas f : X → IRm e g : X → IRn , seja h = (f, g) : X → IRm × IRn dada


por h(x) = (f (x), g(x)) . Então h é contı́nua se, e somente se, f e g são ambas contı́nuas.

Uma conseqüência deste corolário: se f, g : X ⊂ IRm → IRn e α : X → IR são contı́nuas


então são também contı́nuas (f + g) : X → IRn dada por (f + g)(x) = f (x) + g(x) ,
(α.f ) : X → IRn dada por (α.f )(x) = α(x).f (x) , < f, g > : X → IR dada por
< f, g > (x) = < f (x), g(x) >.

Obs.: Se, para obtermos f (x) (onde temos f : X ⊂ IRm → IRn e f = (f1 , f2 , . . . , fn ) ),
para cada função coordenada aplicada em x ( fi (x) ) submetemos as coordenadas do ponto
x = (x1 , . . . , xm ) a operações definidas por funções contı́nuas, então f é contı́nua.
Exemplos: f (x, y) = (( sen x).y, x2 y 3 , ex cos y) define uma função contı́nua f : IR2 → IR3 .
A função determinante det : Mn (IR) → IR é contı́nua.
10 CAPÍTULO 1

Continuidade uniforme:
Ao estudarmos a continuidade de uma aplicação f : X ⊂ IRm → IRn num ponto do
domı́nio X, o δ obtido para cada  (veja a definição) depende, em geral, não apenas do 
dado, mas também depende do ponto onde estamos analisando a continuidade de f .
Quando, para cada  dado, for possı́vel obter um δ que dependa apenas de  e portanto
sirva (como na definição) para TODOS OS PONTOS DE X, temos um fenômeno conhecido
como Continuidade Uniforme:

Definição 1.22. Uma aplicação f : X ⊂ IRm → IRn é dita UNIFORMEMENTE CONTÍNUA


quando, para cada  > 0 dado, é possı́vel obter δ > 0 tal que
x, y ∈ X, kx − yk < δ ⇒ kf (x) − f (y)k < 

(?)
Resultados relacionados com a continuidade uniforme:
(i) Uma aplicação f = (f1 , . . . , fn ) : X ⊂ IRm → IRn é uniformemente contı́nua se, e somente
se, suas funções coordenadas f1 , . . . , fn : X → IRn o são.
(ii) Uma aplicação f : X ⊂ IRm → IRn é uniformemente contı́nua se, e somente se, para todo
par de seqüências (xk ), (yk ) em X, com lim(xk − yk ) = 0 tem-se lim[f (xk ) − f (yk )] = 0 .
(iii) Se f : X ⊂ IRm → IRn é uniformemente contı́nua então, para todo a ∈ X 0 , existe o
limite lim f (x) .
x→a

Uma fonte natural de aplicações uniformemente contı́nuas:


Definição 1.23. Uma aplicação f : X ⊂ IRm → IRn é dita LIPSCHITZIANA quando existe
uma constante k > 0 (chamada CONSTANTE DE LIPSCHITZ DE f ) tal que
kf (x) − f (y)k ≤ k. kx − yk ∀ x, y ∈ X

Alguns resultados:
(?)
(i) Toda aplicação lipschitziana é uniformemente contı́nua.

(ii) Toda transformação linear A : IRm → IRn é lipschitziana (mostre), logo uniformemente
contı́nua e portanto contı́nua.

(iii) Se ϕ : IRm × IRn → IRp é uma aplicação bilinear (linear em cada componente) então ϕ
é lipschitziana em cada parte limitada de IRm × IRn = IRm+n .
Portanto toda aplicação bilinear é contı́nua.
Exemplos: multiplicação de números reais ( ϕ(x, y) = x.y ); Produto Interno Canônico
( < x, y > = x1 y1 + . . . + xn yn ); multiplicação de matrizes ( ϕ(A, B) = A.B )
Noções Topológicas no IRn 11

(iv) As projeções πi : IRm → IR , dadas por πi (x) = xi ∀ x = (x1 , x2 , . . . , xm ) ∈ IRm


( i = 1, 2, . . . , m ), são lineares, logo lipschitzianas e portanto contı́nuas.

1.5 Homeomorfismos

Definição 1.24. Dados os conjuntos X ⊂ IRm e Y ⊂ IRn , um HOMEOMORFISMO entre


X e Y é uma bijeção contı́nua f : X → Y cuja inversa f −1 : Y → X também é contı́nua.
Diz-se então que X e Y são conjuntos homeomorfos.

Resultados imediatos:
(i) O inverso de um homeomorfismo é um homeomorfismo.
(ii) A composta de dois homeomorfismos é um homeomorfismo.
(iii) Se dois conjuntos X e Y são homeomorfos, eles possuem a mesma estrutura topológica,
ou seja, um homeomorfismo “leva” abertos de X em abertos de Y e seu inverso “leva”
(?)
abertos de Y em abertos de X.

Exemplos:
1) Qualquer aplicação linear invertı́vel A : IRn → IRn é um homeomorfismo.
2) As translações Ta : IRm → IRm , onde Ta (x) = x + a, a ∈ IRm (fixado).
3) As homotetias Hλ : IRm → IRm , onde Hλ (x) = λ.x, 0 6= λ ∈ IR (fixado).
4) Duas bolas abertas quaisquer no IRm são homeomorfas, o mesmo ocorrendo com duas
(?)
bolas fechadas arbitrárias no IRm ou duas esferas no mesmo espaço.
(?)
5) Toda bola aberta no IRm é homeomorfa ao espaço IRm .

6) Seja f : X ⊂ IRm → IRn uma aplicação contı́nua. Seu GRÁFICO é o conjunto G ⊂


IRm × IRn formado pelos pontos (x, f (x)) , com x ∈ X . O domı́nio X e o gráfico G da
aplicação contı́nua f são homeomorfos.
12 CAPÍTULO 1

7) Sejam S m = x ∈ IRm+1 ; < x, x > = 1 ⊂ IRm+1 a esfera unitária m-dimensional e




p = (0, 0, . . . , 0, 1) ∈ S m seu POLO NORTE.


A PROJEÇÃO ESTEREOGRÁFICA ϕ : S m \ {p} → IRm é um homeomorfismo.

1.6 Compacidade

Definição 1.25. Um conjunto K ⊂ IRn será dito um conjunto COMPACTO quando for
limitado e fechado.

Buscaremos agora novas caracterizações para os compactos do IRn :


(?)
Teorema 1.26. Um subconjunto K ⊂ IRn é compacto se, e somente se, toda seqüência
(xk ) ⊂ K possui uma subseqüência convergente para um ponto de K.

(?)
Teorema 1.27. (Propriedade de Cantor) Dada uma seqüência “decrescente” de conjuntos

\
compactos e não-vazios K1 ⊃ K2 ⊃ . . . ⊃ Ki ⊃ . . . , sua interseção K = Ki (limitada e
i=1
fechada) não é vazia.

(?)
Lema 1.28. Todo conjunto X ⊂ IRn é separável, isto é, possui um subconjunto enumerável
E = {x1 , x2 , . . . , xl , . . .} ⊂ X, E denso em X.
Noções Topológicas no IRn 13

Lema 1.29. (Lindelöf ) Considere um conjunto arbitrário X ⊂ IRn . Toda cobertura aberta
[
X⊂ Aλ admite uma subcobertura enumerável.

Chegamos então ao resultado que nos interessa:


Teorema 1.30. Um conjunto K ⊂ IRn é compacto se, e somente se, toda cobertura aberta de
K admite uma subcobertura finita.

Demonstração:
(?)
(⇐) (Exercı́cio)
(⇒) Borel-Lebesgue:
Suponhamos que K seja compacto (limitado e fechado).
[
Seja K ⊂ Aλ uma cobertura aberta de K.
Pelo Lema de Lindelöf, ela admite uma subcobertura enumerável

[
K⊂ Aλi = Aλ1 ∪ Aλ2 ∪ . . .
i=1

Para cada i = 1, 2, 3, . . . ∈ IN ponha


\
Ki = K (IRn \ (Aλ1 ∪ . . . ∪ Aλi ))

Ki ⊂ K (limitado) ⇒ Ki é limitado.
Aλ1 ∪ . . . ∪ Aλi é aberto ⇒ IRn \ (Aλ1 ∪ . . . ∪ Aλi ) é fechado. Como K é fechado, temos
então que Ki é fechado.
Assim, para todo i ∈ IN, Ki é limitado e fechado.

Observemos agora que K ⊃ K1 ⊃ K2 ⊃ K3 ⊃ . . . ⊃ Ki ⊃ . . .



[
Dado x ∈ K, existe λ i0 tal que x ∈ Aλi0 (pois K ⊂ Aλi ) ⇒ x 6∈ Ki0
i=1

\
Logo Ki = φ .
i=1

Pela Propriedade de Cantor, podemos concluir que existe i0 tal que Ki0 = φ e teremos
\ 
φ = Ki0 = K X\ (Aλ1 ∪ . . . ∪ Aλi0 ) ⇒ K ⊂ (Aλ1 ∪ . . . ∪ Aλi0 )

Portanto toda cobertura aberta de K admite uma subcobertura finita.


14 CAPÍTULO 1

Destacamos a seguir os principais resultados relativos à compacidade:

Teorema 1.31. Seja K ⊂ IRm um conjunto compacto. Se f : K → IRn é uma aplicação


contı́nua, então sua imagem f (K) é um conjunto compacto do IRn .

(?)
Corolário 1. (Weierstrass) Toda função real contı́nua f : K → IR definida num compacto
m
K ⊂ IR atinge seu máximo e seu mı́nimo em K, isto é, existem pontos x1 , x2 ∈ K tais que
f (x1 ) ≤ f (x) ≤ f (x2 ) para qualquer x ∈ K.

(?)
Corolário 2. Seja K ⊂ IRm compacto. Toda aplicação contı́nua f : K → IRn é fechada,
ou seja, se F ⊂ K é fechado, então f (F ) ⊂ IRn é fechado.

(?)
Corolário 3. A inversa de uma bijeção contı́nua definida num compacto é uma função
contı́nua, isto é, toda bijeção contı́nua definida num conjunto compacto é um homeomorfismo
sobre sua imagem.

(?)
Teorema 1.32. Toda aplicação contı́nua f : K → IRn definida num conjunto compacto
K ⊂ IRm é uniformemente contı́nua.

1.7 Conexidade

Definição 1.33. Uma CISÃO de um conjunto X ⊂ IRn é uma decomposição X = A ∪ B ,


onde A e B são disjuntos ( A ∩ B = φ ) e abertos em X.
Todo conjunto X ⊂ IRn admite a chamada CISÃO TRIVIAL X = X ∪ φ .
Um conjunto X ⊂ IRn é dito CONEXO quando só admite a cisão trivial. Caso contrário
ele é dito DESCONEXO.
Noções Topológicas no IRn 15

(?)
Proposição 1.34. Uma decomposição X = A ∪ B é uma cisão de X se, e somente
se, nenhum dos conjuntos A, B contém um ponto aderente ao outro, ou seja, se tivermos
cl A ∩ B = φ = A ∩ cl B .

(?)
Proposição 1.35. X ⊂ IR é conexo se, e somente se, X é um intervalo da reta.

Destacamos a seguir o principal resultado relativo à conexidade:

Teorema 1.36. Seja X ⊂ IRm um conjunto conexo. Se f : X → IRn é uma aplicação


contı́nua, então sua imagem f (X) é um conjunto conexo do IRn .

(?)
Corolário 1. (Teorema do Valor Intermediário) Seja f : X → IR uma função real
contı́nua, definida num conjunto conexo X ⊂ IRm . Se existem a, b ∈ X e d ∈ IR tais que
f (a) < d < f (b) , então existe c ∈ X tal que f (c) = d .

Veremos a seguir uma série de resultados sobre conexidade:


(?)
Proposição 1.37. (Teorema da Alfândega) Seja X ⊂ IRn . Se um conjunto conexo
C ⊂ IRn contém um ponto a ∈ X e um ponto b 6∈ X , então C contém algum ponto da
fronteira de X.

Sugestão: use que IRn = int X ∪ fr X ∪ int (IRn \X)

(?)
Lema 1.38. Seja X = A ∪ B uma cisão do conjunto X ⊂ IRn . Se Y ⊂ X é conexo e
não-vazio então ou Y ⊂ A ou Y ⊂ B .
16 CAPÍTULO 1

(?)
Proposição 1.39. Se X ⊂ IRn é conexo e X ⊂ Y ⊂ cl X , então Y é conexo.

Corolário 1. Se X ⊂ IRn é conexo e Y é formado a partir de X adicionando-se alguns ou


todos os pontos de seu fecho, então Y é conexo.

Teorema 1.40. A reunião de uma famı́lia de conjuntos conexos com um ponto em comum é
um conjunto conexo.

(?)
Corolário 1. A fim de que X ⊂ IRn seja conexo é (necessário e) suficiente que, para
quaisquer a, b ∈ X , exista um conjunto conexo Cab com a, b ∈ Cab ⊂ X .
(?)
Corolário 2. Dados X ⊂ IRm e Y ⊂ IRn , o produto cartesiano X × Y ⊂ IRm+n é
conexo se, e somente se, X e Y são conexos.

Definição 1.41. (Componentes conexas) Seja X ⊂ IRn . Para cada ponto x ∈ X , definimos
a COMPONENTE CONEXA do ponto x em X como sendo a reunião Cx de todos os
subconjuntos conexos de X que contêm o ponto x.

É imediato que Cx é o maior subconjunto conexo (veja o teorema anterior) de X que


contém o ponto x.

Segue também que, dados dois pontos x, y ∈ X , suas componentes conexas Cx , Cy em


(?)
X, ou coincidem ou são disjuntas .

Assim, a relação “x e y pertencem à mesma componente conexa em X” é uma relação


(?)
de equivalência em X e as componentes conexas dos pontos de X o dividem em classes de
equivalência, as quais denominaremos as COMPONENTES CONEXAS de X.
Noções Topológicas no IRn 17

(?)
Proposição 1.42. Seja h : X → Y um homeomorfismo. Se Cx é a componente conexa
do ponto x em X, então Dy = h(Cx ) é a componente conexa do ponto y = h(x) em Y .

Portanto, um homeomorfismo h : X → Y estabelece uma bijeção entre as componentes


(?)
conexas de X e as componentes conexas de Y .
(Exemplos)

Um CAMINHO num conjunto X ⊂ IRn é uma aplicação contı́nua f : I → X definida


num intervalo I ⊂ IR.
Dizemos que os pontos a, b ∈ X PODEM SER LIGADOS POR UM CAMINHO EM X
quando existe um caminho f : I → X tal que a, b ∈ f (I)

Por exemplo, se X é convexo então cada dois pontos a, b ∈ X podem ser ligados por um
caminho em X, a saber, o caminho retilı́neo [a, b] = { t.a + (1 − t).b ; t ∈ [0, 1] }.
Se a, b ∈ X podem ser ligados por um caminho f : I → X então existe um caminho
(?)
ϕ : [0, 1] → X tal que ϕ(0) = a e ϕ(1) = b.

Um conjunto X ⊂ IRn é dito CONEXO POR CAMINHOS quando cada dois pontos
a, b ∈ X podem ser ligados por um caminho em X.
Por exemplo: todo conjunto convexo é conexo por caminhos.

Teorema 1.43. Todo conjunto conexo por caminhos é conexo. (Exercı́cio)

Obs.: Nem todo conjunto conexo é conexo por caminhos:


Exemplo: X = {(x, sen 1/x) ; x ∈ (0, +∞)} ∪ {(0, 0)} ⊂ IR2 é conexo mas não é conexo
por caminhos.
Isto não ocorre se o conjunto em questão for aberto:

Teorema 1.44. Se A ⊂ IRn é aberto e conexo então A é conexo por caminhos.

Prova: Exercı́cio.
18 CAPÍTULO 1

1.8 Norma de uma transformação linear

Seja A : IRm → IRn uma transformação linear.


Fixadas duas normas: k km em IRm e k kn em IRn , existe c > 0 tal que

kAxkn ≤ c. kxkm ∀ x ∈ IRm

Temos então: kxkm = 1 ⇒ kAxkn ≤ c e podemos definir ...

Definição 1.45. Fixadas duas normas: k km em IRm e k kn em IRn , definimos


(?)
uma norma em L(IRm ; IRn ) = Mn×m (IR) = IRnm pondo, para cada transformação linear
A : IRm → IRn ∈ L(IRm ; IRn ) :

kAk = sup { kAxkn ; kxkm = 1 }

Proposição 1.46. Nas condições da definição acima, temos:

kAk = sup { kAxkn ; kxkm ≤ 1 }

= inf { c > 0 ; kAxkn ≤ c. kxkm ∀ x ∈ IRm }

Obs.: Note que para cada par de normas fixadas, em IRm e IRn , temos uma norma
em L(IRm ; IRn ) = Mn×m (IR) = IRnm . De qualquer jeito, não vamos esquecer que as normas
obtidas neste último espaço são todas equivalentes.

(?)
Proposição 1.47. Nas mesmas condições da definição anterior, temos:

kAxkn ≤ kAk . kxkm ∀ x ∈ IRm

kABk ≤ kAk . kBk se B ∈ L(IRp ; IRm ) e A ∈ L(IRm ; IRn )

Obs.: Na segunda parte da proposição acima, consideramos a mesma norma em IRm .


Noções Topológicas no IRn 19

1.9 Exercı́cios

1. Se c ∈ [a, b] = { t.a + (1 − t).b ; t ∈ [0, 1] } então kb − ak = kb − ck + kc − ak . Se a norma


provém de um produto interno, vale a recı́proca. Para uma norma arbitrária, pode-se ter a
igualdade acima com c 6∈ [a, b] .

2. Se a norma provém de um produto interno e a 6= b em IRn são tais que kak ≤ r e kbk ≤ r
então k(1 − t).a + t.bk < r para todo t ∈ (0, 1) (ou seja, a esfera não contém segmentos de
reta).

3. Qualquer que seja a norma adotada no IRn (n > 1), a esfera unitária S n−1 = { x ∈ IRn ; kxk = 1 }
é um conjunto infinito.

4. Um conjunto X ⊂ IRn é dito CONVEXO quando, para todos os pares de pontos a, b ∈ X,


o SEGMENTO (RETILÍNEO) [a, b] = { t.a + (1 − t).b ; t ∈ [0, 1] } que os liga cumpre [a, b] ⊂
X . Mostre que a interseção de uma famı́lia arbitrária de conjuntos convexos é um conjunto
convexo.

5. Dado X ⊂ IRn , a ENVOLTÓRIA CONVEXA DE X é a interseção co (X) de todos os


subconjuntos convexos do IRn que contêm X. Prove que co (X) é o conjunto de todas as
combinações lineares α1 x1 + . . . + αk xk tais que x1 , . . . , xk ∈ X , α1 ≥ 0, . . . , αk ≥ 0 e
α1 + . . . + αk = 1 .

6. Mostre que o fecho de qualquer conjunto convexo no IRn é também convexo.

7. As seguintes afirmações a respeito de uma seqüência (xk ) de pontos do IRn são equivalentes:
(a) lim kxk k = +∞ ;
(b) (xk ) não possui subseqüência convergente ;
(c) Para todo conjunto limitado L ⊂ IRn , o conjunto dos ı́ndices k tais que xk ∈ L é finito.

8. Prove que lim xk = a em IRn se, e só se, lim < xk , y > = < a, y > para todo y ∈ IRn .

9. Toda matriz n × n é limite de uma seqüência de matrizes invertı́veis n × n .

10. Se nenhum ponto do conjunto X ⊂ IRn é ponto de acumulação então se pode escolher,
para cada ponto x ∈ X, uma bola aberta Bx , de centro x, de tal maneira que, para x 6= y
em X se tenha Bx ∩ By = φ .

11. Todo conjunto discreto é enumerável. Em outras palavras: todo conjunto não-enumerável
contém (pelo menos) um ponto de acumulação.
20 CAPÍTULO 1

12. Se A ⊂ IRn é aberto então sua fronteira fr A tem interior vazio. Dê exemplo de um
conjunto X ⊂ IRn cuja fronteira fr X seja um conjunto aberto.

13. Se F ⊂ IRn é fechado então sua fronteira fr F tem interior vazio.

14. Seja E ⊂ IRn um subespaço vetorial. Se E 6= IRn então int E = φ .

15. A ⊂ IRn é aberto se, e somente se, A ∩ cl (IRn \A) = φ .

16. Seja B(X; ) a reunião


\ das bolas abertas B(x; ) de raio  e centro em algum ponto
x ∈ X . Prove que cl X = B(X; ) .
>0

17. (i) Mostre que para toda seqüência decrescente F1 ⊃ F2 ⊃ . . . ⊃ Fk ⊃ . . . de conjuntos


fechados e não-vazios Fk ⊂ IRn , com lim diam Fk = 0 ( diam X = sup { d(x, y) ; x, y ∈ X} ),

\
n
existe um ponto a ∈ IR tal que Fk = {a}.
k=1

[
(ii) (Teorema de Baire) Mostre que se F = Fk , onde cada Fk é fechado em IRn e tem
k=1
interior vazio, então int F = φ . (Sugestão: olhe o livro sobre Espaços Métricos do Elon)

[
n
(iii) O que podemos concluir se IR = Fk , onde cada Fk é fechado no IRn ?
k=1

18. Seja f : X → IRn contı́nua. Dada uma seqüência xk em X com lim xk = a ∈ X e


kf (xk )k ≤ c para todo k ∈ IN então kf (a)k ≤ c .

19. Sejam f, g : X → IRn contı́nuas no ponto a ∈ X . Se f (a) 6= g(a) então existe uma
bola B de centro a tal que x, y ∈ B ⇒ f (x) 6= g(x) .

20. Seja f : X → IRn contı́nua no ponto a ∈ X . Se f (a) não pertence a B[b; r] ⊂ IRn
então existe δ > 0 tal que x ∈ X, kx − ak < δ ⇒ f (x) 6∈ B[b; r] .

21. Sejam f : X → IRn e a ∈ X . Suponha que, para todo  > 0 , exista g : X → IRn ,
contı́nua no ponto a, tal que kf (x) − g(x)k <  para todo x ∈ X . Então f é contı́nua no
ponto a .

22. Seja f : IRm → IRn contı́nua. Se X ⊂ IRm é limitado então f (X) ⊂ IRn é limitado.

23. Se f : IRm → IRn é contı́nua então, para cada parte limitada x ⊂ IRm , a restrição f |X
é uniformemente contı́nua.
Noções Topológicas no IRn 21

24. Se a aplicação linear A : IRm → IRn é injetiva, então existe c > 0 tal que kAxk ≥ c kxk
para todo x ∈ IRm .

25. Se B é a bola aberta de centro na origem e raio 1 no IRn , a aplicação contı́nua f : B → IRn
x
definida por f (x) = não é uniformemente contı́nua.
1 − kxk

26. Considerando as seqüências de pontos zk = (k, 1/k) e wk = (k, 0) no IR2 , prove que
a aplicação ϕ : IR2 → IR dada por ϕ(x, y) = xy não é uniformemente contı́nua. Use
um argumento análogo para provar que uma aplicação bilinear ϕ : IRm × IRn → IRp só é
uniformemente contı́nua se for identicamente nula.

(x, y, z) ∈ IR3 ; z ≥ 0 , x2 + y 2 − z = 0 é homeomorfo ao IR2 .



27. O cone C =

28. Estabeleça um homeomorfismo entre IRn+1 \ {0} e S n × IR .

(x, y) ∈ IR2 ; x ≥ 0 , y ≥ 0

29. O quadrante P = é homeomorfo ao semi-plano superior
S = { (x, y) ; y ≥ 0 } .

30. Os conjuntos X = (x, y) ∈ IR2 ; y = 0 , 0 < x < 1 e Y = (x, y) ∈ IR2 ; y = 0


 

são homeomorfos, mas não existe um homeomorfismo h : IR2 → IR2 tal que h(X) = Y .

31. Estabeleça um homeomorfismo entre os conjuntos X = { x ∈ IRn ; 0 < kxk ≤ 1 } (bola


unitária fechada menos a origem) e Y = { y ∈ IRn ; kyk ≥ 1 } (complementar da bola unitária
aberta).

(x2 − y)y
32. Seja f : IR2 → IR definida por f (x, y) = se 0 < y < x2 e f (x, y) = 0 nos
x4
demais pontos. Prove que o limite de f (x, y) é zero quando (x, y) tende para (0, 0) ao
longo de qualquer reta que passe pela origem, mas não se tem lim f (x, y) = 0 .
(x,y)→(0,0)

x2 − y 2
33. Seja f : IR2 → IR definida por f (0, 0) = 0 e f (x, y) = 2 se (x, y) 6= (0, 0) .
  x + y2
 
Mostre que lim lim f (x, y) 6= lim lim f (x, y) .
x→0 y→0 y→0 x→0

2
34. O conjunto das matrizes invertı́veis n × n é aberto no IRn .

35. O conjunto das aplicações lineares injetivas é aberto em L(IRm ; IRn ) . Idem para as
sobrejetivas.

36. f : X → IRn é contı́nua se, e só se, para todo Y ⊂ X , tem-se f (X ∩ cl Y ) ⊂ cl f (Y ) .


22 CAPÍTULO 1

37. O conjunto das matrizes n × n com determinante 1 é um conjunto fechado, ilimitado e


2
com interior vazio em IRn .

38. O conjunto dos valores de aderência de uma seqüência limitada é um conjunto compacto
e não-vazio.

2
39. As matrizes ortogonais n × n formam um subconjunto compacto do IRn .

40. Todo conjunto infinito X ⊂ IRn possui um subconjunto não-compacto.

41. Seja X ⊂ IRn . Se todo conjunto homeomorfo a X for limitado, então X é compacto.

42. Seja f : IRm → IRn contı́nua. As seguintes afirmações são equivalentes:


(a) lim f (x) = ∞ ;
x→∞

(b) A imagem inversa f −1 (K) de todo compacto K ⊂ IRn é compacta.

43. Sejam X ⊂ IRm , K(compacto) ⊂ IRn , f : X × K → IRp contı́nua e c ∈ IRp . Suponha


que, para cada x ∈ X , exista um único y ∈ K tal que f (x, y) = c . Prove que esse y
depende continuamente de x .

44. Toda aplicação localmente lipschitziana definida num conjunto compacto é lipschitziana.

45. Um subconjunto conexo não-vazio X ⊂ Qn consta de um único ponto.

46. Um conjunto conexo enumerável X ⊂ IRn possui no máximo um ponto.


2
47. O conjunto das matrizes invertı́veis n × n é um aberto desconexo em IRn . Também é
desconexo (mas não aberto) o conjunto das matrizes ortogonais.

48. Se X ⊂ IRn é compacto, então toda aplicação contı́nua aberta f : X → S n é sobrejetiva.

49. Seja X ⊂ IRm . Uma aplicação f : X → IRn diz-se localmente constante quando
para cada x ∈ X existe uma bola B de centro x tal que f |(B∩X) é constante. X é conexo
se, e somente se, toda aplicação localmente constante f : X → IRn é constante.

50. Se X ⊂ IRn é conexo por caminhos e f : X → IRn é contı́nua, então f (X) é conexo
por caminhos.

51. Se X ⊂ IRm e Y ⊂ IRn são conexos por caminhos então X × Y ⊂ IRm+n é conexo por
caminhos.
Noções Topológicas no IRn 23

52. A reunião de uma famı́lia de conjuntos conexos por caminhos com um ponto em comum
é conexa por caminhos.

53. O fecho de um conjunto conexo por caminhos pode não ser conexo por caminhos.

54. As componentes conexas de um subconjunto aberto em IRn são conjuntos abertos.

55. Dada uma aplicação linear A : IRm → IRn e fixadas normas em IRm e IRn , a imagem por
A da esfera unitária S = { x ∈ IRm ; kxk = 1 } é um conjunto limitado no IRn . Pondo, para
cada A ∈ L(IRm ; IRn ) , kAk = sup { kAxk ; x ∈ S } , a função A 7→ kAk é uma norma no
espaço vetorial L(IRm ; IRn ) , para a qual vale a desigualdade kAxk ≤ kAk · kxk para todo
x ∈ IRm . Além disso, se A ∈ L(IRm ; IRn ) e B ∈ L(IRn ; IRp ) então, fixadas normas em
IRm , IRn e IRp , tem-se kBAk ≤ kBk · kAk .

56. Seja G o grupo das matrizes invertı́veis n × n . Mostre que se A ∈ G e kAxk ≥ |c| . kxk
para todo x ∈ IRn então kA−1 k ≤ 1/c . Conclua que se X ∈ G e kX − Ak < c/2 então
kX −1 k ≤ 2/c . Em seguida, use a identidade X −1 − A−1 = X −1 (I − XA−1 ) para mostrar
que lim X −1 = A−1 . Logo, f : G → G dada por f (X) = X −1 é contı́nua.
X→A

57. Dada A ∈ L(IRm ; IRn ) , supomos fixadas normas em IRm e IRn e definimos, como antes,
kAk = sup { kAxk ; x ∈ IRm , kxk = 1 } . Mostre que, com essa definição de kAk , temos
também kAk = inf { c ∈ IR ; kAxk ≤ c kxk para todo x ∈ IRm } .
P
58. Defina convergência e convergência absoluta (ou normal) de uma série xk , cujos
n P
termos xk = (xk1 , xk2 , . . . , xkn ) pertencem ao IR . Prove que a série xk converge (resp.
P
converge absolutamente) se, e somente se, para cada i = 1, . . . , n , a série k xki converge
(resp. converge absolutamente). Conclua que toda série absolutamente convergente no IRn é
convergente.

59. Dada uma seqüência de aplicações lineares Ak : IRm → IRn , suponha que para todo
x ∈ IRm exista Ax = lim Ak x . Prove que a aplicação linear A : IRm → IRn assim definida é
k→∞
linear, que lim Ak = A relativamente a qualquer norma em L(IRm ; IRn ) e que a convergência
Ak x → Ax é uniforme em qualquer parte limitada de IRm .

n n2
X Xk
60. Mostre que para toda aplicação X ∈ L(IR ) ' IR , a série é absolutamente
k=0
k!
convergente. Indiquemos sua soma por eX . Usando que eX · eY = eX+Y se XY = Y X ,
conclua que para toda X ∈ L(IRn ) temos que eX é invertı́vel, com (eX )−1 = e−X .
24 CAPÍTULO 1
Capı́tulo 2

Diferenciabilidade

2.1 Definição: diferenciabilidade de uma aplicação

Definição 2.1. Uma aplicação f : U → IRn , definida no aberto U ⊂ IRm diz-se diferenciável
no ponto a ∈ U quando existe uma transformação linear T : IRm → IRn tal que, para todo
v ∈ IRm com a + v ∈ U , temos
r(v)
f (a + v) = f (a) + T (v) + r(v) com lim =0
v→0 kvk

A diferenciabilidade de f no ponto a significa que podemos obter uma “boa aproximação


linear”para f numa vizinhança de a. Essa boa aproximação de f (a + v) por f (a) + T (v) numa
r(v)
vizinhança de a é expressa pela condição lim = 0.
v→0 kvk

r(v)
Pondo ρ(v) = se v 6= 0 e ρ(0) = 0 , podemos exprimir a diferenciabilidade de f no
kvk
ponto a por:

f (a + v) = f (a) + T (v) + ρ(v) · kvk com lim ρ(v) = 0


v→0

Alguns resultados imediatos:

Seja f : U (aberto) ⊂ IRm → IRn uma aplicação diferenciável no ponto a ∈ U .


Então existe uma transformação linear T : IRm → IRn tal que, para todo v ∈ IRm com
a + v ∈ U:
f (a + v) = f (a) + T (v) + ρ(v) · kvk com lim ρ(v) = 0
v→0

25
26 CAPÍTULO 2

(A) f é contı́nua em a

Antes do próximo resultado apresentaremos o conceito de derivada direcional.

Seja f : U → IRn definida num aberto U ⊂ IRm .


A derivada direcional de f num ponto a ∈ U , relativamente a um vetor v ∈ IRm é, por
definição:
∂f f (a + tv) − f (a)
(a) = lim ∈ IRn quando existir tal limite
∂v t→0 t

Se f = (f1 , f2 , . . . , fn ) , onde fi : U → IR (i = 1, . . . , n) são as funções coordenadas de


f , então  
∂f ∂f1 ∂fn
(a) = (a) , . . . , (a)
∂v ∂v ∂v

∂f
Quando v = ej é o j-ésimo vetor da base canônica do IRm , escrevemos (a).
∂xj

∂f
(B) T (v) = (a) ∀ v ∈ IRm
∂v
Diferenciabilidade 27

Conseqüências de (B):
(i) A derivada direcional de f em a , se f é diferenciável em a, depende linearmente do
vetor relativamente ao qual é considerada.

(ii) A transformação linear T : IRm → IRn que dá a boa aproximação para f perto de
a é única e chamada a derivada de f no ponto a , que indicaremos por f 0 (a) ou Df (a).

(iii) Podemos obter a matriz que representa a transformação linear f 0 (a) em relação às
bases canônicas de IRm e IRn , que será uma n × m matriz chamada a matriz jacobiana de f
no ponto a e indicada por Jf (a). Sua j-ésima coluna é dada por
 
0 ∂f ∂f1 ∂fn
f (a).ej = T (ej ) = (a) = (a) , . . . , (a) ∈ IRn
∂xj ∂xj ∂xj

onde ej é o j-ésimo vetor da base canônica do IRm (j = 1, 2, . . . , m).


Então:  
∂f1 ∂f1 ∂f1
 ∂x1 (a) ∂x2 (a) . . . ∂xm (a) 
 
 
 
 ∂f2 ∂f2 ∂f2 
0
 (a) (a) . . . (a) 
Jf (a) = [f (a)] = 
 ∂x1 ∂x2 ∂xm 

 .. .. .. 

 . . . 

 
 ∂fn ∂fn ∂fn 
(a) (a) . . . (a)
∂x1 ∂x2 ∂xm

r(v)
(C) Temos: f (a + v) = f (a) + f 0 (a)(v) + r(v) com lim =0
v→0 kvk

Se f = (f1 , f2 , . . . , fn ) e r = (r1 , r2 , . . . , rn ) , a condição acima é equivalente a


 
∂fi ∂fi ∂fi ri (v)
fi (a + v) = fi (a) + (a) (a) . . . (a) · v + ri (v) com lim =0
∂x1 ∂x2 ∂xm v→0 kvk

para todo ∀ i = 1, 2, . . . , n.

Temos então o ...


28 CAPÍTULO 2

Teorema 2.2. A aplicação f : U → IRn é diferenciável no ponto a ∈ U se, e somente se,


cada uma das suas funções coordenadas f1 , f2 , . . . , fn : U → IR é diferenciável em a.

Corolário 1. A aplicação f = (g, h) : U → IRn × IRp , dada por f (x) = (g(x), h(x)) é
diferenciável no ponto a ∈ U se, e somente se, cada uma das aplicações g : U → IRn e
h : U → IRp é diferenciável em a.
Em caso afirmativo, temos: f 0 (a) = (g 0 (a), h0 (a)) : IRm → IRn × IRp .

2.2 Exemplos de aplicações diferenciáveis

A) Aplicações constantes: Uma aplicação constante é diferenciável em todo ponto e sua


derivada em qualquer ponto é a transformação linear nula O .

B) Transformações lineares: Qualquer transformação linear T : IRm → IRn é diferen-


ciável em todos os pontos a ∈ IRm e DT (a) = T 0 (a) = T ∀ a ∈ IRm .

C) Aplicações bilineares: Qualquer aplicação bilinear ϕ : IRm × IRn → IRp é diferenciável


em cada ponto (a, b) ∈ IRm × IRn e ϕ0 (a, b) = Dϕ (a, b) : IRm × IRn → IRp é a transformação
linear dada por:

ϕ0 (a, b) (v, w) = ϕ(v, b) + ϕ(a, w) ∀ (v, w) ∈ IRm × IRn


Diferenciabilidade 29

D) Aplicações k-lineares: Qualquer aplicação k-linear µ : IRm1 × IRm2 × . . . × IRmk → IRp


é diferenciável em cada ponto (a1 , a2 , . . . , ak ) e

Dµ (a1 , . . . , ak ) (v1 , . . . , vk ) = µ(v1 , a2 , . . . , ak ) + µ(a1 , v2 , a3 , . . . , ak )+. . .+ µ(a1 , . . . , ak−1 , vk )

2
Exemplo: det : IRn = IRn × IRn × . . . × IRn → IR é n-linear e portanto é diferenciável em
cada n × n matriz real A. Dada A = (A1 , A2 , . . . , An ) , onde cada Ai = (ai1 ai2 . . . ain ) é
2
a i-ésima linha de A, temos que det0 (A) : IRn → IR é a transformação linear dada por
n
X
det0 (A)(V ) = det(A1 , . . . , Ai−1 , Vi , Ai+1 , . . . , An ) ∀ n × n matriz real V
i=1
30 CAPÍTULO 2

E) A derivada da “análise na reta” :


Sejam f : U (aberto) ⊂ IR → IR e a ∈ U .
Dizemos que existe a derivada de f em a quando existir o limite

f (a + t) − f (a)
lim = f 0 (a) ∈ IR
t→0 t

Já vimos que f é derivável em a se, e somente se, existir uma constante c ∈ IR tal que,
para todo t ∈ IR onde a + t ∈ U , tenhamos

r(t)
f (a + t) = f (a) + c · t + r(t) com lim =0
t→0 t

Em caso afirmativo, temos ainda que f 0 (a) = c.

Se considerarmos a transformação linear T : IR → IR dada por T (x) = c.x ∀x ∈ IR e


r(t) r(t)
observarmos que lim = 0 ⇔ lim = 0 podemos então concluir que
t→0 t t→0 |t|

f é derivável em a ⇔ f é diferenciável em a

F) Caminhos diferenciáveis:
Um caminho em IRn é uma aplicação f : I → IRn cujo domı́nio é um intervalo I ⊂ IR.
O vetor velocidade (vetor tangente) do caminho f : I → IRn em um ponto a ∈ int I é
definido por:

df f (a + t) − f (a)
(a) = lim ∈ IRn desde que esse limite exista
dt t→0 t
Diferenciabilidade 31

Temos f = (f1 , f2 , . . . , fn ) , fi : I → IR , i = 1, 2, . . . , n.
O caminho f possui vetor velocidade em um ponto a se, e somente se, cada fi for derivável
(ou seja, diferenciável) em a. Isto ocorrerá portanto se, e somente se, f for diferenciável em
a. (ver teorema 2.2).
Teremos, em caso afirmativo:

df1
 
(a)
 
 dt  f10 (a)
df 
..

 ..
 
(a) =  =
  
.  .
dt
 
   
 df
fn0 (a)

n
(a)
dt

df
que pode ser “visto” tanto como um vetor em IRn (o vetor velocidade (a) de f em a)
n
dt
quanto como uma transformação linear de IR em IR (a derivada de f em a, dada por
df
f 0 (a)(t) = (a) · t ).
dt

Aplicação: Dada uma aplicação f : U (aberto) ⊂ IRm → IRn diferenciável em a ∈ U ,


tentaremos obter, via caminhos, uma interpretação para f 0 (a)(v) , onde v ∈ IRm .
Dado v ∈ IRm , consideremos um caminho α : (−, ) → U ⊂ IRm dado por

α(t) = a + tv

dα α(0 + t) − α(0) a + tv − a
Temos que ∃ (0) = lim = lim = v (v é o vetor veloci-
dt t→0 t t→0 t
dade de α em t = 0)
Geometricamente, a imagem do caminho α é uma curva (neste caso um segmento de reta)
em U , passando pelo ponto a e tendo v como vetor tangente em a.

Vamos agora olhar para o caminho γ = f ◦ α : (−, ) → f (U ) ⊂ IRn , correspondente à


aplicação de f ao caminho α (composição).
Geometricamente, a imagem do caminho γ é uma curva em f (U ) , passando por f (a).
Temos:
dγ (f ◦ α)(t) − (f ◦ α)(0) f (a + tv) − f (a) ∂f
∃ (0) = lim = lim = (a) = f 0 (a)(v)
dt t→0 t t→0 t ∂v
32 CAPÍTULO 2

Portanto, f 0 (a)(v) é o vetor velocidade de γ em t = 0 (geometricamente, é o vetor tangente


à imagem de γ, em f (a) ):

G) Funções de uma variável complexa:


Seja f : U ⊂ C → C função de uma variável complexa z definida num aberto U ⊂ C.
f é derivável em z0 ∈ U quando existe o limite

f (z0 + h) − f (z0 )
lim = f 0 (z0 )
h→0 h

Temos que f é derivável em z0 se, e somente se, existe uma constante complexa
c = a + ib tal que, se z0 + h ∈ U , temos

r(h)
f (z0 + h) = f (z0 ) + c · h + r(h) com lim =0
h→0 h

Em caso afirmativo, temos ainda f 0 (z0 ) = c = a + ib.

Seja f : U (aberto) ⊂ C → C derivável em z0 ∈ U com f 0 (z0 ) = a + ib ∈ C.


Pela associação C ↔ IR2 , que faz corresponder a cada complexo x + iy o par (x, y) e
vice-versa, podemos enxergar f como uma aplicação definida num aberto U ⊂ IR2 e tomando
valores em IR2 : f : U ⊂ IR2 → IR2 , z0 = (x0 , y0 )

f (z) = f (x + iy) = u(x, y) + iv(x, y) ⇒ f (x, y) = (u(x, y), v(x, y))

Consideremos a transformação linear T : IR2 → IR2 correspondente à multiplicação pelo


número complexo c = a + ib
Diferenciabilidade 33

Dado h ∈ IR2 tal que z0 + h ∈ U temos:

r(h)
f (z0 + h) = f (z0 ) + T (h) + r(h) com lim =0
h→0 khk

Portanto f (x, y) = (u(x, y), v(x, y)) vista como aplicação f : U ⊂ IR2 → IR2 é diferen-
ciável no ponto z0 = (x0 , y0 ) e temos ainda:

H) Inversão de matrizes:
Seja U = GL(IRn ) o conjunto das n × n matrizes invertı́veis.
2 2
Temos que o conjunto U ⊂ IRn é aberto em IRn (espaço das n × n matrizes), pois
U = det−1 (IR \ {0}) e det é uma função contı́nua.
2
Seja f : U → IRn dada por f (X) = X −1 (inversão da matriz X) ∀ X ∈ U .
Esta aplicação f é diferenciável em toda matriz A ∈ U e sua derivada em cada matriz
2 2
A ∈ U é a transformação linear f 0 (A) : IRn → IRn dada por:

f 0 (A)(V ) = −A−1 · V · A−1


34 CAPÍTULO 2

2.3 Funções reais de m variáveis

Seja f : U ⊂ IRm → IR uma função real de m variáveis definida num aberto U ⊂ IRm .

Temos: f é diferenciável em a ∈ U se, e somente se, existe uma transformação linear


T : IRm → IR (funcional linear) tal que, sempre que a + v ∈ U , temos:

r(v)
f (a + v) = f (a) + T (v) + r(v) com lim =0
v→0 kvk

Em caso afirmativo, temos T = f 0 (a) ∈ (IRm )∗ , derivada de f em a.

Equivalentemente, f é diferenciável em a ∈ U se, e somente se, existirem constantes


A1 , A2 , . . . , Am tais que, para todo v = (v1 , v2 , . . . , vm ) ∈ IRm com a + v ∈ U , tem-se:

r(v)
f (a + v) = f (a) + A1 v1 + A2 v2 + . . . + Am vm + r(v) com lim =0
v→0 kvk

 
∂f ∂f ∂f
Como Jf (a) = (a) (a) . . . (a) , chegamos a outra definição equivalente:
∂x1 ∂x2 ∂xm

∂f ∂f
f é diferenciável em a ∈ U se, e só se, existirem as derivadas parciais (a), . . . , (a)
∂x1 ∂xm
e, para todo vetor v = (v1 , v2 , . . . , vm ) ∈ IRm com a + v ∈ U tivermos

∂f ∂f r(v)
f (a + v) = f (a) + (a).v1 + . . . + (a).vm + r(v) com lim =0
∂x1 ∂xm v→0 kvk
Diferenciabilidade 35

A diferencial

Seja f : U (aberto) ⊂ IRm → IR uma função diferenciável em a ∈ U .


Sua derivada f 0 (a) , em a, é uma transformação linear f 0 (a) : IRm → IR, ou seja, um
funcional linear sobre IRm , que denotaremos por df (a) e chamaremos a diferencial de f
no ponto a:

df (a) = f 0 (a) : IRm → IR , df (a) ∈ (IRm )∗


m
m ∂f X ∂f
Para todo vetor v = (v1 , v2 , . . . , vm ) ∈ IR , temos: df (a)(v) = (a) = (a).vj
∂v j=1
∂xj

Nosso interesse agora será, uma vez que df (a) ∈ (IRm )∗ , exprimir df (a) como combinação
linear de funcionais que formem uma base de (IRm )∗ . Para tal, utilizaremos a base dual da
base canônica de IRm :

Sejam B = {e1 , e2 , . . . , em } a base canônica do IRm e B ∗ sua base dual, em (IRm )∗ .

Temos B ∗ = {π1 , π2 , . . . , πm } , onde πj : IRm → IR é dado por πj (x1 , . . . , xm ) = xj , para


todo j = 1, 2, . . . , m (πj é a projeção na j-ésima coordenada).

É comum denotarmos πj por xj . Logo B ∗ = {x1 , x2 , . . . , xm } (aqui cada xj é um


funcional linear).
Para todo j = 1, . . . , m temos que xj = πj : IRm → IR é uma transformação linear, logo
diferenciável em todos os pontos de IRm e sua derivada (diferencial) em cada ponto é a própria
transformação linear xj .

Portanto: xj = dxj (x) ∀ x ∈ IRm , ∀ j = 1, . . . , m. Logo escreveremos xj = dxj , para


todo j = 1, . . . , m.

Assim, B ∗ = {dx1 , dx2 , . . . , dxm } é a base dual da base canônica do IRm .

∂f
Para todo j = 1, . . . , m temos: df (a)(ej ) = (a) e pela relação entre B e B ∗ , temos:
∂xj

∂f ∂f ∂f
df (a) = (a).dx1 + (a).dx2 + . . . + (a).dxm
∂x1 ∂x2 ∂xm

Conseguimos portanto escrever df (a) como combinação linear dos funcionais da base B ∗
(que são também diferenciais), dual da base canônica B de IRm .
36 CAPÍTULO 2

Uma útil condição suficiente

Teorema 2.3. Se uma função f : U (aberto) ⊂ IRm → IR possui derivadas parciais em todos
os pontos de uma vizinhança de a ∈ U e cada uma delas é contı́nua no ponto a ∈ U , então
f é diferenciável em a.
Diferenciabilidade 37

Um exemplo interessante

Seja f : U ⊂ IR2 → IR uma função contı́nua definida num aberto U ⊂ IR2 .


Considere o conjunto S = gr f = {(x, y, f (x, y)); (x, y) ∈ U } ⊂ IR3 (gráfico de f ).
Seja g : U → S a aplicação dada por g(x, y) = (x, y, f (x, y)).
Temos g = (g1 , g2 , g3 ) , sendo suas funções coordenadas dadas por:

g1 (x, y) = x , g2 (x, y) = y , g3 (x, y) = f (x, y)

Já vimos que g é um homeomorfismo de U em S, ou seja, S é topologicamente idêntico a


um “pedaço” U do plano (S é uma superfı́cie).

Consideremos agora f diferenciável em a ∈ U .


É imediato então que g é diferenciável em a (olhe para as funções coordenadas de g).
Fixemos v ∈ IR2 .
O caminho α : (−, ) → U dado por α(t) = a + tv é geometricamente um segmento de
reta passando por a e tem v como um vetor tangente em a (vetor velocidade em t = 0)

Temos então (veja Aplicação do exemplo F) que g ◦ α : (−, ) → S é um caminho cuja


imagem é uma curva em S, passando por g(a) e tendo neste ponto g 0 (a)(v) como vetor tan-
gente:
38 CAPÍTULO 2

Procedendo desta forma para cada vetor v ∈ IR2 , temos que g 0 (a)(v) fornece um vetor
tangente a uma curva na superfı́cie S, no ponto g(a)

Vamos dar uma olhada para


 
∂g1 ∂g1
(a) (a)   

 ∂x ∂y  1 0
0
 ∂g2 ∂g2   0
 
1

Jg(a) = [g (a)] =  (a) (a)  = 
 
∂x ∂y

   ∂f ∂f 

∂g3 ∂g3
 (a) (a)

(a) (a)
 ∂x ∂y
∂x ∂y

(matriz de g 0 (a) em relação às bases canônicas)

Temos que a dimensão da imagem de g 0 (a) é igual a 2 e portanto o conjunto dado por
Tg(a) (S) = g(a) + g 0 (a)(v), v ∈ IR2

é um plano (plano tangente ao gráfico S de f em
g(a) = (a, f (a)) ).
Diferenciabilidade 39

2.4 Exercı́cios
f (x + th) − f (x)
1. (Derivadas direcionais) Sendo f 0 (x)(h) = lim e admitindo a existência
t→0 t
das derivadas em questão, calcule:
a) f 0 (z)(h), com z = (4, −1), h = (1, 2) e f : IR2 → IR2 dada por f (x) = (x2 + y, x + y 2 ).
b) ϕ0 (x)(v), onde x, v ∈ IRm são vetores quaisquer e ϕ : IRm → IR é definida por
ϕ(x) = f (x).g(x), sendo f, g : IRm → IR funcionais lineares.
c) ξ 0 (x)(h), onde h ∈ IRm é um vetor arbitrário e ξ : U → IR é definida do seguinte modo
no aberto U ⊂ IRm : são dadas f, g : U → IRp diferenciáveis e ξ(x) = < f (x), g(x) > , para
todo x ∈ U , é o produto interno dos vetores f (x) e g(x).

2. (Diferenciabilidade) Seja E o espaço das matrizes n × n (se achar conveniente, identifique


2
E com IRn ). Defina f : E → E pondo f (X) = X 3 para cada matriz X. Mostre que f é
diferenciável em todos os pontos de E (use o método do exercı́cio anterior para determinar o
candidato a f 0 (X)).

3. (Diferenciabilidade) Sejam f : U (aberto) ⊂ IRm → IRn e a ∈ U .


Mostre que se f é diferenciável em a não podemos garantir a existência do limite
f (a + v) − f (a)
lim .
v→0 kvk
f (a + v) − f (a)
Mostre também que se existe o limite lim então não podemos garantir a
v→0 kvk
diferenciabilidade de f em a.

2
4. (Diferenciabilidade e derivadas direcionais) Seja det : IR3 → IR a função determinante.
Se    
1 1 1 0 1 2
A= 2 0 3 e V = 0 0 0 ,
   

3 1 0 −2 −1 1
∂ det
obtenha (A) de duas maneiras diferentes:
∂V
∂ det
(i) Usando (A) = det 0 (A) (V ) (lembre que det é função 3-linear neste caso);
∂V
(ii) Pela definição (via limite) de derivada direcional.

5. (Diferenciabilidade) Sejam U ⊂ IRm e f, g : U → IRn diferenciáveis no ponto a ∈ U ,


f (a + v) − g(a + v)
com f (a) = g(a). Mostre que f 0 (a) = g 0 (a) se, e só se, lim = 0.
v→0 kvk
40 CAPÍTULO 2

6. (Diferenciabilidade e matriz jacobiana) Seja f : IR3 → IR3 a aplicação dada por


3y 2 z 2
f (x, y, z) = (x2 + + − z, y + z, z − x + 5).
2 2
Mostre que f é diferenciável (em todos os pontos do IR3 ).
Dado a = (x, y, z) ∈ IR3 , obtenha a matriz jacobiana de f em a e responda: em quais
pontos a ∈ IR3 temos que f 0 (a) é isomorfismo ?
Qual o posto de f 0 (b) nos pontos b ∈ IR3 tais que f 0 (b) não é isomorfismo ?
O conjunto X = a ∈ IR3 ; f 0 (a) é isomorfismo é conexo ? Justifique.


7. (Diferenciabilidade e matriz Jacobiana) Seja f : IR3 → IR4 dada por

f (x, y, z) = (x2 − y 2 , xy, xz, zy)

a) Prove que f é diferenciável em todos os pontos de IR3 e calcule sua matriz jacobiana.
b) Mostre que a derivada f 0 (x, y, z) : IR3 → IR4 é uma transformação linear injetora, exceto
no eixo Oz (isto é, para x = y = 0).
c) Determine a imagem de f 0 (0, 0, z) : IR3 → IR4 .

8. (Derivada) Seja f : U → IRn diferenciável no aberto U ⊂ IRm . Se, para algum b ∈ IRn , o
conjunto f −1 (b) possui um ponto de acumulação a ∈ U então f 0 (a) : IRm → IRn não é injetiva.

9. (Derivada; matriz Jacobiana) Seja f : IR2 → IR2 definida por f (x, y) = (ex cos y, ex sen y).
Considere a transformação linear T = f 0 (3, π/6) : IR2 → IR2 , e os vetores h = (1, 0) e k = (1, 1).
Qual é o ângulo formado pelos vetores T 100 (h) e T 101 (k) ?

10. (Derivada; matriz Jacobiana) Seja f : IR2 → IR3 dada por

f (x, y) = (x2 , y 2 , (x + y)2 )

Mostre que f 0 (x, y) : IR2 → IR3 tem posto 2, exceto na origem (isto é, f 0 (x, y)(e1 ) e f 0 (x, y)(e2 )
são linearmente independentes salvo quando x = y = 0).

11. (Derivada) Seja f : IRm → IRm diferenciável, com f (0) = 0. Se a transformação linear
f 0 (0) não tem valor próprio 1 então existe uma vizinhança V de 0 em IRm tal que f (x) 6= x
para todo x ∈ V − {0}.

12. (Derivada; matriz Jacobiana) Seja f : IR3 → IR3 dada por

f (x, y, z) = (x + y + z, x2 + y 2 + z 2 , x3 + y 3 + z 3 )

Mostre que f 0 (x, y, z) : IR3 → IR3 é uma aplicação biunı́voca, salvo se duas das coordenadas
x, y, z são iguais.
Diferenciabilidade 41

13. (Derivada; matriz Jacobiana) Mostre que a derivada da aplicação f : IR2 → IR2 , dada por
f (x, y) = (ex + ey , ex + e−y ) é uma transf. linear invertı́vel f 0 (x, y) : IR2 → IR2 para todos os
pontos z = (x, y) ∈ IR2 . Diga se f , considerada como uma função complexa, é holomorfa.

2
14. (Diferenciabilidade) Seja E = IRn o espaço vetorial formado pelas matrizes n × n. Indi-
cando com X ∗ a transposta de uma matriz X, considere a aplicação f : E → E definida por
f (X) = XX ∗ . Descreva a derivada f 0 (X) : E → E. Mostre que f 0 (X)(H) é simétrica, para
cada H ∈ E e que se X é ortogonal (isto é, X ∗ = X −1 ) então, para toda matriz simétrica S,
existe pelo menos uma matriz H tal que f 0 (X)(H) = S.

15. (Máximos e mı́nimos relativos interiores) Seja U ⊂ IRm aberto. Se f : U → IR atinge um


máximo (ou mı́nimo) relativo no ponto x ∈ U , e f é diferenciável no ponto x, então f 0 (x) = 0
(transformação linear nula).

16. (Condições necessárias, não suficientes) Obtenha aplicações f : U (aberto)⊂ IRm → IRn
tais que:
a) Existem todas as derivadas parciais de f em um ponto mas não existem todas as derivadas
direcionais (f não é diferenciável neste ponto).
b) Existem todas as derivadas parciais de f em um ponto mas f não é contı́nua nesse ponto
(f não é diferenciável neste ponto).
c) Existem todas as derivadas direcionais de f em um ponto mas f não é contı́nua nesse ponto
(f não é diferenciável neste ponto).
d) Existem todas as derivadas direcionais de f em um ponto a ∈ U , f é contı́nua nesse ponto,
mas a derivada direcional de f em a, relativamente a um vetor v ∈ IRm , não depende linear-
mente de v (f não é diferenciável neste ponto).
e) Existem todas as derivadas direcionais de f em um ponto a ∈ U , f é contı́nua nesse ponto,
a derivada direcional de f em a, relativamente a um vetor v ∈ IRm , depende linearmente de v,
mas f não é diferenciável neste ponto.

2
17. (Derivada do determinante) Seja E = IRn o espaço vetorial das matrizes n × n. Sabemos
que a função determinante det : E → IR é diferenciável em toda matriz A ∈ E (ver exemplo
D nas notas de aula). Verifique, para as matrizes 4 × 4, a validade da expressão
∂ det
(A) = (−1)i+j det A[i,j] , onde A[i,j] é a n − 1 × n − 1 matriz obtida eliminando-se a i-ésima
∂xij
linha e a j-ésima coluna da matriz A (a expressão foi obtida também no exemplo D), escolhendo
uma variável xij .
42 CAPÍTULO 2

18. (Caminhos diferenciáveis) Determine as equações paramétricas das retas tangentes às
seguintes curvas em IR3 nos pontos especificados:
a) g : t → (x, y, z) = (t, t2 , t3 ) nos pontos correspondentes a t = 0 e t = 1.
b) f : t → (x, y, z) = (t − 1, t2 , 2) nos pontos correspondentes a t = 0 e t = 1.
c) h : t → (x, y, z) = (2 cos t, 2 sen t, t) nos pontos correspondentes a t = π/2 e t = π.

19. (Caminhos diferenciáveis, EDOs) Consideremos o problema de obter um caminho


y = y(t) : I ⊂ IR → IRp tal que:


 y (n) (t) = F (t, y(t), y 0 (t), y 00 (t), ..., y (n−1) (t))

 y(0) = η1 São dados



y 0 (0) = η2 F : IRnp+1 → IRp
η1 , η2 , ..., ηn ∈ IRp

 ...




 y (n−1) (0) = η
n

Mostre que podemos resolver este problema resolvendo um sistema de equações de primeira
ordem, que equivale ao problema da forma:


 x01 (t) = f1 (t, x1 (t), x2 (t), ..., xn (t))

x02 (t) = f2 (t, x1 (t), x2 (t), ..., xn (t))


x1 , x2 , ..., xn : I ⊂ IR → IRp



...




x0n (t) = fn (t, x1 (t), x2 (t), ..., xn (t))


São dados
x1 (0) = η1
f1 , f2 , ..., fn : IRnp+1 → IRp




 x2 (0) = η2
η1 , η2 , ..., ηn ∈ IRp



...





xn (0) = ηn

Mostre agora que podemos reduzir o problema acima a um outro, na forma:


( São dados
x0 (t) = f (t, x(t)) np
x : I ⊂ IR → IR f : IRnp+1 → IRnp
x(0) = η0
η0 ∈ IRnp

Finalmente, se quisermos, podemos ainda reduzir o problema acima a um outro, autônomo


(“independente” de t):
( São dados
w0 (t) = g(w(t)) np+1
w : I ⊂ IR → IR g : IRnp+1 → IRnp+1
w(0) = η
η ∈ IRnp+1
Diferenciabilidade 43

20. (Caminhos diferenciáveis, EDOs) Usando a idéia do exercı́cio anterior, reduza cada pro-
blema abaixo a um formado por uma única equação de primeira ordem:
a) y 00 + y 0 2 = 0, y(0) = a, y 0 (0) = b, y = y(t) : I ⊂ IR → IR
b) (1 − t2 )y 00 − 2ty 0 + 2y = 0, y(0) = a, y 0 (0) = b, y = y(t) : I ⊂ IR → IR
c) y 000 − 2y 00 + 3y 0 − y = 0, y(0) = a, y 0 (0) = b, y 00 (0) = c, y = y(t) : I ⊂ IR → IR

21. (Caminhos diferenciáveis, EDOs) Consideremos o problema:


( São dados
x0 (t) = f (t, x(t))
f : IRn+1 → IRn , contı́nua
x(0) = x0
x0 ∈ IRn
a) Mostre que x = x(t) : I ⊂ IR → IRn é solução do problema acima se, e somente se:
Z t
x(t) = x0 + f (s, x(s)) ds , para todo t ∈ I
0

b) Um importante resultado (Teorema de Picard) assegura que, se f é lipschitziana em relação


à variável x (existe uma constante k > 0 tal que ||f (t, x) − f (t, y)|| ≤ k ||x − y||, para todos
(t, x), (t, y) ) numa vizinhança de (0, x0 ) então existe uma solução para o problema acima,
definida numa vizinhança de t = 0 de modo único. Mais ainda, o Teorema de Picard fornece
uma seqüência de caminhos x1 , x2 , ... : I → IRn que converge para a solução, seqüência esta
dada por:
Z t Z t
x1 (t) = x0 , x2 (t) = x0 + f (s, x1 (s))ds , ..., xn+1 (t) = x0 + f (s, xn (s))ds ,...
0 0

Use a seqüência acima para obter a única solução x = x(t) : IR → IRn do problema:
(
x0 (t) = A(x(t)) (x0 = Ax) A : IRn → IRn , linear, n × n matriz de coef. constantes
x(0) = x0 x0 ∈ IRn

OBS.: Boas justificativas para o estudo de sistemas lineares de coeficientes constantes


0
x = Ax se encontram não só no fato de que uma série de problemas são desta natureza,
bem como em um outro resultado importante, o Teorema de Hartman, que de um certo modo
diz que, dado um problema x0 = f (x), f ∈ C 1 (note que f não é necessariamente linear), se
x0 é ponto singular (f (x0 ) = 0) e os autovalores de Df (x0 ) têm todos parte real não nula
(neste caso x0 é dito ser um ponto singular hiperbólico), então o comportamento das soluções
x = x(t) numa vizinhança de x0 pode ser aproximado pelo comportamento das soluções do
sistema linear x0 = Df (x0 )x (repare que este é linear) numa vizinhança de 0 (origem do IRn ).
44 CAPÍTULO 2

22. (Funções reais de m variáveis) Mostre que se uma função f : U (aberto)⊂ IRm → IR possui
derivadas parciais em todos os pontos de uma vizinhança de a ∈ U e m − 1 delas são contı́nuas
no ponto a, então f é diferenciável em a.

23. (Gráficos de funções, planos tangentes) Seja f : U ⊂ IR2 → IR uma função contı́nua
definida num aberto U ⊂ IR2 . Tomando S = {(x, y, f (x, y))|(x, y) ∈ U } ⊂ IR3 (gráfico de f ),
sabemos que g : U → S dada por g(x, y) = (x, y, f (x, y)) é um homeomorfismo entre U e S
(dê uma olhada na Seção 2.3). Se f é diferenciável em um ponto a ∈ U então é imediato que
g também é diferenciável em a e sabemos que existe o Plano Tangente a S (gráfico de f ) no
ponto g(a): Tg(a) (S).

Seja f : IR2 → IR a função dada por f (x, y) = x2 + y 2 .


Faça um esboço de S (gráfico de f ).
Fixemos um ponto a ∈ IR2 , digamos a = (2, 1). Dado um vetor v ∈ IR2 , consideremos o
caminho γ = γ(t) : IR → IR2 dado por γ(t) = a + tv (geometricamente a imagem de γ é uma
reta em IR2 , passando por a e tendo em a vetor tangente igual a v). Sabemos que (g ◦ γ)(IR)
é uma curva em S (lembremos que g(x, y) = (x, y, f (x, y)), conforme acima) e que o vetor
tangente a (g ◦ γ)(IR) no ponto g(a), dado por (g ◦ γ)0 (0) = g 0 (a)(v), é um vetor tangente a S
em g(a) (g(a) + g 0 (a)(v) ∈ Tg(a) (S)).

Dados os vetores v1 = e1 = (1, 0), v2 = e2 = (0, 1), v3 = (2, 1), v4 = (1, 3), v5 = (3, −2)
em IR2 , utilizando a Matriz Jacobiana de g em a = (2, 1), calcule g 0 (a)(vi ), i = 1, ..., 5 (alguns
vetores tangentes a S em g(a) = (2, 1, 5)), faça um esboço considerando os vetores tangentes
g 0 (a)(v1 ) e g 0 (a)(v2 ) e finalmente verifique que todos esses cinco vetores tangentes a S em
g(a) = (2, 1, 5) são coplanares, como era de se esperar.

24. (Gráficos de funções, planos tangentes) Com as mesmas considerações do exercı́co anterior
para uma função f : U ⊂ IR2 → IR definida num aberto U ⊂ IR2 , determine os Planos
Tangentes a S (gráfico de f ) nas situações abaixo (faça os esboços):

a) f1 (x, y) = x2 + y 2 . Determine T(0,0,f1 (0,0)) (S) e T(1,2,f1 (1,2)) (S) .

b) f2 (x, y) = x2 − y 2 . Determine T(0,0,f2 (0,0)) (S) e T(1,2,f2 (1,2)) (S) .


1/2
c) f3 (x, y) = (4 − (x2 + y 2 )) . Determine T(0,0,f3 (0,0)) (S) e T(1,1,f3 (1,1)) (S) .
Diferenciabilidade 45

2.5 A Regra da Cadeia

Teorema 2.4. (Regra da Cadeia) Sejam U ⊂ IRm e V ⊂ IRn conjuntos abertos,


f : U → IRn uma aplicação diferenciável no ponto a ∈ U , com f (U ) ⊂ V e g : V → IRp
uma aplicação diferenciável no ponto b = f (a) ∈ V .
Então a aplicação composta g ◦ f : U → IRp é diferenciável no ponto a e temos ainda que

(g ◦ f )0 (a) = g 0 (b) ◦ f 0 (a) : IRm → IRp


46 CAPÍTULO 2

Algumas conseqüências:

(A) Interpretação geométrica para f 0 (a)(v):

Corolário 1. Seja f : U ⊂ IRm → IRn uma aplicação diferenciável em a ∈ U . Dado v ∈ IRm ,


seja α : (−, ) → U um caminho em U , diferenciável em t = 0 (existe vetor velocidade em
t = 0), com α(0) = a e α0 (0) = v.
Então f 0 (a)(v) é o vetor velocidade do caminho f ◦ α : (−, ) → IRn em t = 0 (geometri-
camente é o vetor tangente à curva (f ◦ α) (−, ) em f (a) ).

(B) Derivada da aplicação inversa:

Corolário 2. Seja f : U → IRn diferenciável em a ∈ U ⊂ IRm e suponha que f admite uma


inversa g = f −1 : V → IRm , V ⊂ IRn (f (U ) = V, g(V ) = U, f ◦ g = idV e g ◦ f = idU )
que é diferenciável no ponto b = f (a).
Então f 0 (a) : IRm → IRn é um isomorfismo cujo inverso é g 0 (b) : IRn → IRm e em particular
temos que m = n.
Diferenciabilidade 47

(C) Regra da Cadeia e derivadas parciais:

Corolário 3. No teorema anterior, suponha f = (f1 , f2 , . . . , fn ) e g = (g1 , g2 , . . . , gp ).


Então para cada i = 1, . . . , p e j = 1, . . . , m , temos:
n
∂(gi ◦ f ) X ∂gi ∂fk
(a) = (b) · (a)
∂xj k=1
∂yk ∂xj

(D) Regras de diferenciação:

Corolário 4. Sejam f, g : U → IRn diferenciáveis no ponto a ∈ U (aberto) ⊂ IRm e λ um


número real. Então:

f + g : U → IRn é diferenciável em a , com (f + g)0 (a) = f 0 (a) + g 0 (a)

λf : U → IRn é diferenciável em a , com (λf )0 (a) = λ · f 0 (a)


Se ϕ : IRn × IRn → IRp é uma aplicação bilinear então a aplicação ϕ(f, g) : U → IRp ,

definida por x 7→ ϕ(f (x), g(x)) é diferenciável no ponto a , com

[ϕ(f, g)] 0 (a)(v) = ϕ (f 0 (a)(v), g(a)) + ϕ (f (a), g 0 (a)(v))


48 CAPÍTULO 2

Algumas aplicações:
(i) “Derivada do produto”: Sejam f, g : U ⊂ IR → IR diferenciáveis (deriváveis) em
a ∈ U . Então f g : U → IR dada por f g(x) = f (x) · g(x) é derivável em a com

(f g) 0 (a) = f 0 (a) · g(a) + f (a) · g 0 (a)

(ii) Seja f : IRm → IR dada por f (x) = kxk2 = < x, x > . Então

f 0 (a)(v) = 2 < v, a > ∀ v, a ∈ IRm

(iii) Seja n : IRm → IR dada por n(x) = kxk = < x, x >1/2 (norma proveniente de um
produto interno). Então
< v, a >
n0 (a)(v) = ∀ v ∈ IRm , a 6= 0 ∈ IRm
< a, a >1/2
Diferenciabilidade 49

2.6 Teorema/Desigualdade do valor médio

Tentaremos agora generalizar o Teorema do Valor Médio de Lagrange, estudado no


curso de análise na reta.
Teorema 2.5. (Generalização do TVM de Lagrange da “Análise na Reta”)
Seja f : U ⊂ IRm → IR diferenciável em todos os pontos do segmento de reta aberto
(a, a + v) = { a + tv , 0 < t < 1 } ⊂ U e tal que sua restrição ao segmento de reta fechado
[a, a + v] ⊂ U seja contı́nua.
Então existe t0 ∈ (0, 1) tal que f (a + v) − f (a) = f 0 (a + t0 v)(v)

OBS.: Apesar de conseguirmos acima generalizar o Teorema do Valor Médio de La-


grange para funções (contradomı́nio = IR), o mesmo não pode ser feito para aplicações
f : U ⊂ IRm → IRn em geral, conforme ilustra o contra-exemplo abaixo.

Contra-Exemplo:
Seja f : IR → IR2 a aplicação (caminho) dada por f (t) = (cos t, sen t) ∀ t ∈ IR
Para todo t ∈ IR , temos: f 0 (t) = (− sen t, cos t) 6= (0, 0)
Agora f (2π) − f (0) = (0, 0) 6= f 0 (t).2π ∀ t ∈ IR

OBS.: Conforme veremos a seguir, o teorema do valor médio, quando temos uma aplicação
f : U ⊂ IRm → IRn , n > 1, aparece sob a forma de desigualdade.
Isto não impede que dele seja extraı́da uma série de resultados significativos, conforme
veremos adiante.
50 CAPÍTULO 2

Teorema 2.6. (“Versão fraca” da Desigualdade do Valor Médio)


Dado U ⊂ IRm , aberto, seja f : U → IRn diferenciável em cada ponto do segmento de
reta aberto (a, a + v) e tal que sua restrição ao segmento de reta fechado [a, a + v] ⊂ U seja
contı́nua.
Então existem uma constante real θ > 0 e um ponto ci0 ∈ (a, a + v) tais que

kf (a + v) − f (a)k ≤ θ. kf 0 (ci0 )(v)k ≤ θ. kf 0 (ci0 )k . kvk

Em particular, se kf 0 (x)k ≤ M para todo x ∈ (a, a + v) , temos

kf (a + v) − f (a)k ≤ θ.M. kvk se kf 0 (x)k ≤ M


Diferenciabilidade 51

Teorema 2.7. (“Versão completa” da Desigualdade do Valor Médio)


Dado U ⊂ IRm , aberto, seja f : U → IRn diferenciável em cada ponto do segmento de
reta aberto (a, a + v) e tal que sua restrição ao segmento de reta fechado [a, a + v] ⊂ U seja
contı́nua.
Se kf 0 (x)k ≤ M para todo x ∈ (a, a + v) então kf (a + v) − f (a)k ≤ M. kvk.
52 CAPÍTULO 2

OBS.: Se a norma considerada em IRn provém de um produto interno, então podemos


garantir ainda que existe um ponto ci0 ∈ (a, a + v) tal que

kf (a + v) − f (a)k ≤ kf 0 (ci0 )(v)k ≤ kf 0 (ci0 )k . kvk

Algumas conseqüências:

(A) Uma fonte natural de aplicações Lipschitzianas:

Corolário 1. Seja U ⊂ IRm aberto e convexo. Se f : U → IRn é diferenciável, com


kf 0 (x)k ≤ M para todo x ∈ U então f é Lipschitziana, com kf (y) − f (x)k ≤ M. ky − xk
quaisquer que sejam x, y ∈ U .

OBS.: Para concluı́rmos que f é Lipschitziana basta a “Versão fraca”(Teo 2.6)


Diferenciabilidade 53

(B) Generalização de um resultado canônico:

Corolário 2. Se f : U → IRn é diferenciável no aberto e conexo U ⊂ IRm e f 0 (x) = O


(transformação linear nula) para todo x ∈ U então f é constante.

(C) Um lema muito útil:

Corolário 3. Sejam U ⊂ IRm aberto, [a, a + v] ⊂ U e f : U → IRn diferenciável em cada



ponto do segmento aberto (a, a + v) com f [a,a+v] contı́nua.
Seja T : IRm → IRn uma transformação linear.
Se kf 0 (x) − T k ≤ M ∀ x ∈ (a, a + v) então kf (a + v) − f (a) − T (v)k ≤ M. kvk
54 CAPÍTULO 2

2.7 Exercı́cios

1. (Regra da Cadeia)
a) Se f (x, y) = x2 + y 2 e g(t) = (3t + 1, 2t − 3), seja F (t) = (f ◦ g)(t).
Calcule F 0 (t) diretamente e aplicando a Regra da Cadeia.
b) Se f (x, y, z) = xyz e g(s, t) = (3s + st, s, t), seja F (s, t) = (f ◦ g)(s, t).
∂F ∂F
Calcule e diretamente e aplicando a Regra da Cadeia.
∂s ∂t
2. (Regra da Cadeia e Equações de Cauchy-Riemann em coordenadas polares)
Seja f = f (z) : A(aberto)⊂ C → C uma função complexa de uma variável complexa
z = x + iy. Sabemos que f (z) = u(x, y) + iv(x, y), onde u, v : U → IR são as funções
coordenadas de f (pela identificação de C com IR2 , dada por z = x + iy → (x, y)).
Para que f seja derivável em um ponto z0 = x0 + iy0 = (x0 , y0 ) ∈ A, é necessário que as
Equações de Cauchy-Riemann sejam satisfeitas em z0 , isto é:

∂u ∂v ∂u ∂v
(x0 , y0 ) = (x0 , y0 ) e (x0 , y0 ) = − (x0 , y0 )
∂x ∂y ∂y ∂x

Agora, se z0 6= 0 então z0 = r0 eiθ0 , de modo que z0 pode ser representado por suas coordenadas
polares (r0 , θ0 ). Desse modo, cada ponto z = x + iy = (x, y) numa vizinhança de z0 também
pode ser representado por suas coordenadas polares: z = reiθ . Temos então x = r cos θ e
y = r sen θ.
Portanto (x, y) = m(r, θ) = (m1 (r, θ), m2 (r, θ)) = (r cos θ, r sen θ), onde m é a aplicação de
mudança de variáveis (de coordenadas polares para coordenadas retangulares).
Pondo U = u ◦ m e V = v ◦ m, temos:

u(x, y) = u(m(r, θ)) = (u ◦ m)(r, θ) = U (r, θ)


v(x, y) = v(m(r, θ)) = (v ◦ m)(r, θ) = V (r, θ)

Temos portanto f (z) = U (r, θ) + iV (r, θ) numa vizinhança de (r0 , θ0 ). Utilizando a Regra
da Cadeia, obtenha as Equações de Cauchy-Riemann em coordenadas polares (supondo f
derivável em z0 = r0 eiθ0 = (r0 , θ0 ), z0 6= 0):

∂U 1 ∂V ∂V 1 ∂U
(r0 , θ0 ) = (r0 , θ0 ) e (r0 , θ0 ) = − (r0 , θ0 )
∂r r0 ∂θ ∂r r0 ∂θ

3. (Regra da Cadeia) Seja f : U → IRn \ {0} diferenciável no aberto conexo U ⊂ IRm . A fim de
que seja kf (x)k =constante, é necessário e suficiente que f 0 (x)(v) seja perpendicular a f (x),
para todo x ∈ U e todo v ∈ IRm (considere a norma euclidiana e o produto interno canônico).
Diferenciabilidade 55

4. (Regra da Cadeia) Sejam U (aberto)⊂ IRm e p ∈ IRm \U . Prove que a função f : U → IR


dada por f (x) = kx − pk, para todo x ∈ U (função distância a p) é diferenciável em U e
obtenha df (a)(v) = f 0 (a)(v), onde a ∈ U e v ∈ IRm .

5. (Diferenciabilidade e Regra da Cadeia)


 
1 0 2
Sejam E o espaço das 3 × 3 matrizes reais e M =  0 −1 3 .
 

1 0 −1
Seja f : E → IR a função dada por f (X) = det (X + M ) .
(a) f é diferenciável (JUSTIFIQUE).
(b) Dadas A e V em E, mostre que f 0 (A)(V ) = det0 (A + M )(V ) .
   
0 1 −1 1 0 0
0
(c) Obtenha f (A)(V ) se A =  −1 2 −1  e V =  1 0 2 .
   

0 3 1 −1 1 1

6. (Regra da Cadeia: mudança de coordenadas e EDPs) Suponhamos que se queira obter


soluções para a equação da onda :

∂2u 2
2∂ u
= c , onde c ∈ IR, c 6= 0, e u = u(x, t) : U (aberto)⊂ IR2 → IR
∂t2 ∂x2
(
ξ = m1 (x, t) = x + ct
Introduzindo a mudança de variáveis (ξ, η) = m(x, t), onde , temos:
η = m2 (x, t) = x − ct

(ξ, η) = (x + ct, x − ct) = (m1 (x, t), m2 (x, t)) = m(x, t)

Fazendo v(ξ, η) = u(x, t), temos u = v ◦ m.


∂2v
Impondo a equação acima, mostre que chegamos a =0.
∂ξ∂η
Obtenha v = v(ξ, η), solução geral desta última equação, “volte” através da mudança de
variáveis m para obter u = u(x, t), solução da equação inicial, e verifique algumas soluções
particulares.

7. (Desigualdade do valor médio) Seja U ⊂ IRm um aberto e f : U → IRn . Suponha que


U contém os pontos a, b e o segmento de reta [a, b] que os une, e que f é diferenciável em
todo ponto de [a, b]. Mostre que existe uma transformação linear L : IRm → IRn tal que
f (b) − f (a) = L(b − a).

8. (Desigualdade do valor médio) Sejam U ⊂ IRm aberto, [a, b] ⊂ U, f : U → IRn contı́nua


em [a, b] e diferenciável em (a, b). Mostre que para cada y ∈ IRn existe cy ∈ (a, b) tal que
< f (b) − f (a), y > = < f 0 (cy )(b − a), y >.
56 CAPÍTULO 2

9. (Desigualdade do valor médio) Seja U ⊂ IRm convexo. Dada f : U → IRn diferenciável,


considere as seguintes afirmações:

a) kf 0 (x)k ≤ c para todo x ∈ U ;


b) kf (x) − f (y)k ≤ c kx − yk para quaisquer x, y ∈ U ;
c) f é uniformemente contı́nua ;
d) Para todo x0 ∈ cl U , existe lim f (x) ;
x→x0

e) Se U é limitado então f (U ) é limitado.


Mostre que a ⇔ b ⇒ c ⇒ d ⇒ e , mas as demais implicações são todas falsas.

10. (Desigualdade do valor médio - Extensão) Sejam U ⊂ IRm aberto e c ∈ U . Se a aplicação


contı́nua f : U → IRn é diferenciável em U \ {c} e existe o lim f 0 (x) = T ∈ L(IRm ; IRn ),
x→c
então f é diferenciável no ponto c, com f 0 (c) = T .

2.8 As classes de diferenciabilidade C k

A aplicação derivada e a Classe C 1

Seja f : U (aberto) ⊂ IRm → IRn uma aplicação diferenciável.


Definimos a APLICAÇÃO DERIVADA DE f como a aplicação

f 0 : U → L(IRm ; IRn )
x 7→ f 0 (x)

Agora questionamos: dado a ∈ U , quando a aplicação derivada f 0 é contı́nua em a ?

Para cada x ∈ U vamos identificar f 0 (x) com sua Matriz Jacobiana:

 
∂f1 ∂f1 ∂f1
 ∂x1 (x) ∂x2 (x) . . . ∂xm (x) 
 
 
 
 ∂f2 ∂f2 ∂f2 
 (x) (x) . . . (x) 
Jf (x) =  ∂x1
 ∂x2 ∂xm 

 .. .. .. 

 . . . 

 
 ∂fn ∂fn ∂fn 
(x) (x) . . . (x)
∂x1 ∂x2 ∂xm

onde fi : U → IR (i = 1, . . . , n) são as funções coordenadas de f : f = (f1 , f2 , . . . , fn ).


Diferenciabilidade 57

Observamos então que


∂fi
: U → IR
∂xj i = 1, . . . , n
∂fi j = 1, . . . , m
x 7→ (x)
∂xj

são as funções coordenadas da aplicação derivada (de f ) f 0 : U → L(IRm ; IRn ).


Ora, sabemos que uma aplicação é contı́nua em um ponto se, e somente se, suas funções
coordenadas são contı́nuas nesse ponto.

Podemos então concluir: a aplicação derivada f 0 : U → L(IRm ; IRn ) é contı́nua em um


∂fi
ponto a ∈ U se, e somente se, as funções : U → IR são contı́nuas em a , para todos
∂xj
i = 1, . . . , n e j = 1, . . . , m.

Dizemos que f pertence à classe C 1 (U ) se, e somente se, sua aplicação derivada
f 0 : U → L(IRm ; IRn ) é contı́nua (em todos os pontos de U ).

Exercı́cio: Seja f : U (aberto) ⊂ IRm → IRn uma aplicação de classe C 1 (U ) .


Prove que f é LOCALMENTE LIPSCHITZIANA, ou seja, dado x ∈ U , é possı́vel obter
uma vizinhança Vx de x tal que f é lipschitziana em Vx .

As classes de diferenciabilidade C k

Definição 2.8. Uma aplicação f : U (aberto) ⊂ IRm → IRn é dita ser de classe C k
(k = 1, 2, . . .) no aberto U ⊂ IRm quando existem e são contı́nuas em U todas as derivadas
parciais de ordem ≤ k das funções coordenadas de f . Notação: f ∈ C k (U ) .
Dizemos que f é de classe C 0 se f é contı́nua.
Dizemos que f é de classe C ∞ em U quando f ∈ C k (U ) para todo k = 0, 1, 2, . . . .

Obs.: Dizer que f ∈ C k (U ) (k = 1, 2, 3, . . .) equivale a dizer que f é diferenciável e sua


aplicação derivada f 0 : U → L(IRm ; IRn ) é uma aplicação de classe C k−1 em U .

Temos, com o estudo das derivadas de ordem superior, que a condição acima ainda é equiva-
lente a dizer que f é k vezes diferenciável e sua derivada de ordem k, f (k) , é contı́nua em U .

O resultado a seguir é um corolário da Regra da Cadeia e fica como exercı́cio:

Proposição 2.9. A composta de duas aplicações de classe C k é também de classe C k .


58 CAPÍTULO 2

Exercı́cio: Usando o resultado anterior, mostre que a inversão de matrizes:

i : GL(IRn ) → GL(IRn )
A 7→ A−1

é uma aplicação de classe C ∞ em GL(IRn ).

2.9 O vetor Gradiente

Definição 2.10. (Vetor Gradiente)


Seja f : U ⊂ IRm → IR uma função definida num aberto U ⊂ IRm .
Se f é diferenciável em um ponto a ∈ U então existe um único vetor ua ∈ IRm tal que

df (a)(v) = f 0 (a)(v) = < ua , v > para todo v ∈ IRm ,

onde <, > é o produto interno canônico no IRm (Justifique).

Tal vetor ua é chamado o vetor gradiente de f em a, será denotado por grad f (a) ou ∇a f
e é dado por:
 
∂f ∂f ∂f
grad f (a) = (a), (a), ..., (a)
∂x1 ∂x2 ∂xm

Consideremos o caso em que grad f (a) 6= 0 (vetor nulo) e f ∈ C 1 .


Podemos obter informações interessantes sobre o crescimento de f a partir do ponto a e do
vetor gradiente de f em a.

• O gradiente aponta para uma direção segundo a qual f é crescente (EXERCÍCIO).


Os vetores v que apontam para direções ao longo das quais a função f cresce são aqueles
∂f
tais que (a) = < grad f (a), v > é positivo, ou seja, são aqueles que formam um ângulo
∂v
agudo com grad f (a) ).

• Dentre todas as direções ao longo das quais a função f cresce, a direção do gradiente é
a de crescimento mais rápido, ou seja, se v for um vetor tal que kvk = k grad f (a)k, então
∂f ∂f
(a) ≤ (a) (EXERCÍCIO).
∂v ∂ grad f (a)

Veremos (nos exercı́cios a seguir) uma terceira e importante propriedade do vetor gradiente.
Diferenciabilidade 59

2.10 Exercı́cios

1. (Gradiente) Para cada uma das funções f : U (aberto)⊂ IR2 → IR dadas abaixo, faça:
a) Um esboço do gráfico de f .
b) Considerando um ponto a ∈ U dado, tente, a partir de seu esboço e sem calcular o grad f (a),
descobrir a direção ao longo da qual f tem o crescimento mais rápido a partir do ponto a dado.
c) Calcule o gradiente de f no ponto a e verifique se sua tentativa na letra b) acima foi bem
sucedida.

i) f1 (x, y) = x2 + y 2 no ponto a = (1, 2).


1/2
ii) f2 (x, y) = (4 − x2 ) no ponto a = (1, 1).
1/2
iii) f3 (x, y) = (9 − (x2 + y 2 )) no ponto a = (2, 2).

2. (Pontos crı́ticos, valores regulares, etc.) Seja f : U → IRn uma aplicação diferenciável
definida num aberto U ⊂ IRm .
Pontos crı́ticos de f : dizemos que um ponto a ∈ U é um ponto crı́tico de f quando a
derivada f 0 (a) : IRm → IRn não é sobrejetiva. Neste caso dizemos que a imagem f (a) ∈ IRn do
um ponto crı́tico a é um valor crı́tico de f .
Valores regulares de f : um ponto c ∈ IRn que não é um valor crı́tico de f (ou seja, não é
imagem por f de nenhum ponto crı́tico de f ) é dito um valor regular de f .

a) Se f : U ⊂ IRm → IR é uma função diferenciável, então caracterize seus pontos crı́ticos.

Um resultado importante (veremos mais tarde) nos garante que se f : U ⊂ IRm → IR é


uma função diferenciável, f ∈ C 1 (U ) (o que equivale a dizer que as derivadas parciais de f são
contı́nuas) e c ∈ f (U ) é um valor regular de f , então o conjunto
M = f −1 (c) = {x ∈ U ; f (x) = c}
é uma VARIEDADE DIFERENCIÁVEL DE DIMENSÃO m − 1, o que significará que:

• M é localmente homeomorfo ao espaço IRm−1

• M é “suave” (será de classe C 1 , neste caso)

Dois casos serão de nosso maior interesse:


i) m = 2 : neste caso temos f : U ⊂ IR2 → IR e M = f −1 (c) terá dimensão 1 : M será uma
curva (de nı́vel c)
ii) m = 3 : neste caso temos f : U ⊂ IR3 → IR e M = f −1 (c) terá dimensão 2 : M será uma
superfı́cie (de nı́vel c)
60 CAPÍTULO 2

Por enquanto nos restringiremos ao segundo caso (superfı́cies).

b) Para cada uma das superfı́cies M dadas abaixo, faça: um esboço de M , verifique as condições
para que o resultado acima enunciado possa ser válido e descreva qual a superfı́cie dada.
i) f1 (x, y, z) = x − 2y + 3z, M1 = f1−1 (3)
ii) f2 (x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 , M2 = f2−1 (4)
iii) f3 (x, y, z) = x2 + y 2 + z, M3 = f3−1 (−1)
iv) f4 (x, y, z) = x2 + y 2 , M4 = f4−1 (1)

c) Mostre agora que, nas condições do resultado apresentado anteriormente, o vetor gradiente
da função f no ponto a ∈ M = f −1 (c) é perpendicular à variedade M em a, ou seja, para
todo caminho diferenciável γ : (−, ) → M em M (sua imagem é uma curva contida em M )
passando pelo ponto a ∈ M , o vetor grad f (a) (gradiente de f em a) é perpendicular ao vetor
tangente à curva γ(−, ) em a. Dizemos também que o gradiente é perpendicular ao espaço
tangente a M no ponto a (Ta (M ), que tem a mesma dimensão de M ).
(Sugestão: olhe para a composição f ◦ γ e aplique a Regra da Cadeia)

d) Para cada uma das superfı́cies M da letra b) escolha um ponto a ∈ M e tente, sem calcular
o gradiente de f em a obter a direção do gradiente (visualmente mesmo!). Agora calcule o
gradiente de f em a e verifique a validade da letra c) anterior.

3. (Mais superfı́cies) Seja f : U (aberto)⊂ IR2 → IR diferenciável e tal que f ∈ C 1 (U ).


Já fizemos uma série de considerações a respeito de S = {(x, y, f (x, y)) ; (x, y) ∈ U }
(gráfico de f ) (ver Seção 2.3).

a) Mostre, indo na direção do resultado utilizado no exercı́cio anterior, que S é a imagem


inversa de um valor regular c de uma função h = h(x, y, z) de classe C 1 .
Conseqüência importante deste fato: o vetor gradiente de h em um ponto b = (a, f (a)) ∈ S
(obtenha grad h(b)) é o vetor normal ao plano tangente a S em b = (a, f (a)) (Tb (S)).

b) Obtenha as equações dos planos tangentes aos gráficos das seguintes funções nos pontos
especificados abaixo (tente fazer um esboço):
i) f1 (x, y) = x2 + y 2 no ponto b1 = (−1, 3, 10)
ii) f2 (x, y) = x2 − y 2 no ponto b2 = (0, 2, −4)
iii) f3 (x, y) = cos y no ponto b3 = (2, π, −1)
Diferenciabilidade 61


4. (Vetor Gradiente e plano tangente) Consideremos f : (0, ) × IR → IR dada por
2
3
f (x, y) = sen x e S = { (x, y, f (x, y)) , (x, y) ∈ U } ⊂ IR (gráfico de f ).
(a) Faça um esboço do gráfico de f .
(b) Dado um ponto a = (xa , ya ) no domı́nio de f , utilize uma propriedade do gradiente
(diga qual) para obter a direção e o sentido do grad f (a) sem fazer nenhum cálculo.
(c) Obtenha 3 vetores tangentes ao gráfico de f em (π, 5, 0) (justifique).
(d) Descreva S com h−1 (r), sendo r valor regular de uma função h : A(aberto) ⊂ IR3 → IR
π 1
e obtenha, justificando, a equação do plano tangente a S em ( , 3 , ) .
6 2
62 CAPÍTULO 2
Capı́tulo 3

Derivadas de ordem superior e a


Fórmula de Taylor

3.1 Inversão na ordem de derivação: Teorema de Schwarz

Seja f = (f1 , f2 , . . . , fn ) : U (aberto) ⊂ IRm → IRn .


Para todos j = 1, 2, . . . , m temos as derivadas parciais de 1a ordem (m aplicações):

∂f
: U → IRn
∂xj
∂f
x 7→ (x)
∂xj

Admitindo que cada uma dessas aplicações pode ser derivada parcialmente, temos para
todos k, j = 1, 2, . . . , m as derivadas parciais de 2a ordem (m2 aplicações):

∂2f
: U → IRn
∂xk ∂xj
∂2f
x 7→ (x)
∂xk ∂xj

(primeiro em relação a xj e depois em relação a xk )

Prosseguindo desta forma (se possı́vel), temos as derivadas parciais de 3a ordem, de 4a


ordem, etc.
A questão é: Mudanças na ordem de derivação parcial alteram o resultado ?

∂2f ∂2f
Por exemplo: = ?
∂x1 ∂x3 ∂x3 ∂x1

63
64 CAPÍTULO 3

Veremos uma condição suficiente: se as derivadas parciais em questão são contı́nuas então
elas coincidem.

Observações:
 
∂f ∂f1 ∂f2 ∂fn
1) Como = , , ..., , podemos considerar, sem perda de generali-
∂xj ∂xj ∂xj ∂xj
dade, f : U (aberto) ⊂ IRm → IR (função).

2) Como derivadas parciais de ordem superior a 1 são sempre tomadas iteradamente


∂3f
 2 
∂ ∂ f
Exemplo: =
∂x1 ∂x3 ∂x2 ∂x1 ∂x3 ∂x2
vamos considerar, novamente sem perda de generalidade, f : U (aberto) ⊂ IR2 → IR , para
∂2f ∂2f
obtermos = sob certas condições.
∂y∂x ∂x∂y

O lema técnico abaixo irá nos ajudar na obtenção do resultado desejado

Lema 3.1. Sejam f : U (aberto) ⊂ IR2 → IR e (a, b) ∈ U .

∂f ∂2f ∂2f
Se existem e em U e : U → IR é contı́nua em (a, b) então
∂x ∂y∂x ∂y∂x

∂2f f (a + h, b + k) − f (a + h, b) − f (a, b + k) + f (a, b)


(a, b) = lim
∂y∂x (h,k)→(0,0) h·k

Demonstração:
∂2f
Seja dado  > 0 . Como é contı́nua em (a, b) , existe δ > 0 tal que
∂y∂x
2 2

∂ f ∂ f
|h| < δ , |k| < δ ⇒ (a + h, b + k) − (a, b) <  (I)
∂y∂x ∂y∂x

Fixemos |k| < δ e definamos para todo |h| < δ :

Bk (h) = f (a + h, b + k) − f (a + h, b)

∂f
Como existe em U , temos que Bk é derivável e
∂x
∂f ∂f
Bk0 (z) = (a + z, b + k) − (a + z, b) (II)
∂x ∂x
Derivadas de ordem superior e a Fórmula de Taylor 65

Observemos que A(h, k) = f (a+h, b+k)−f (a+h, b)−f (a, b+k)+f (a, b) = Bk (h)−Bk (0)
e segue portanto do Teorema do Valor Médio de Lagrange que

A(h, k) = Bk0 (h0 ) · h , com 0 < |h0 | < |h|

Agora, de (II) e novamente do TVML, temos

∂f ∂f ∂2f
Bk0 (h0 ) = (a + h0 , b + k) − (a + h0 , b) = (a + h0 , b + k0 ) · k , com 0 < |k0 | < |k|
∂x ∂x ∂y∂x

Assim, obtemos:
(
A(h, k) ∂2f 0 < |h0 | < |h|
= (a + h0 , b + k0 ) , com (III)
h·k ∂y∂x 0 < |k0 | < |k|

De (I) e (III) temos finalmente:


2

A(h, k) ∂ f
0 < |h| < δ , 0 < |k| < δ ⇒ − (a, b) < 
h·k ∂y∂x

Finalmente temos o ...

Teorema 3.2. (Schwarz) Sejam f : U (aberto) ⊂ IR2 → IR e (a, b) ∈ U .

∂f ∂f ∂2f ∂2f
Se existem , , em U e : U → IR é contı́nua em (a, b) , então
∂x ∂y ∂y∂x ∂y∂x

∂2f ∂2f ∂2f


existe (a, b) e temos ainda (a, b) = (a, b) .
∂x∂y ∂x∂y ∂y∂x
66 CAPÍTULO 3

Corolário 1. Se f : U (aberto) ⊂ IRm → IRn é de classe C k em U então suas derivadas


parciais até a ordem k não dependem da ordem em que são calculadas.

Observações:

2 xy(x2 − y 2 )
1) Seja f : IR → IR dada por f (x, y) = se (x, y) 6= (0, 0) e f (0, 0) = 0 .
x2 + y 2
Temos:
∂2f ∂2f
(0, 0) 6= (0, 0) (faça as contas)
∂y∂x ∂x∂y
Este exemplo mostra que a simples existência das derivadas parciais de segunda ordem não
garante o resultado obtido com o Teorema de Schwarz.

2) Existe uma outra versão do Teorema de Schwarz, pela qual exigimos apenas que f
seja k−vezes diferenciável (veremos o significado das derivadas de ordem superior na próxima
seção) para garantirmos que as derivadas parciais até a ordem k não dependam da ordem em
que são obtidas, ou seja, as aplicações não precisam ser rigorosamente de classe C k .
Derivadas de ordem superior e a Fórmula de Taylor 67

3.2 Derivadas de ordem superior

Vamos começar estudando as derivadas de segunda ordem...

Definição 3.3. Dizemos que uma aplicação f : U (aberto) ⊂ IRm → IRn é 2 VEZES
DIFERENCIÁVEL no ponto a ∈ U quando existe um aberto V ⊂ IRm , com a ∈ V ⊂ U ,
tal que f é diferenciável em V ( ∃ f 0 (x) ∀ x ∈ V ) e a aplicação derivada f 0 : V → L(IRm ; IRn )
x 7→ f 0 (x)
é diferenciável em a .

Observações:
1) Uma aplicação é diferenciável num ponto se, e somente se, suas funções coordenadas são
todas diferenciáveis neste ponto.
2) As funções coordenadas de f 0 : V → L(IRm ; IRn ) são as m.n derivadas parciais

∂fi
: V → IR .
∂xj

Pelas observações acima, temos então a seguinte caracterização:

Proposição 3.4. Uma aplicação f : U (aberto) ⊂ IRm → IRn é 2 vezes diferenciável no


ponto a ∈ U se, e somente se, f é diferenciável numa vizinhança aberta V de a (V ⊂ U ) e
∂fi
as m.n derivadas parciais : V → IR são todas diferenciáveis em a.
∂xj

Obs.: Fixado v = (v1 , . . . , vm ) ∈ IRm temos, para cada x ∈ V na proposição acima:

∂f
(x) = f 0 (x)(v) = f 0 (x)(v1 e1 + . . . + vm em ) =
∂v
∂f ∂f
= v1 f 0 (x)(e1 ) + . . . + vm f 0 (x)(em ) = v1 (x) + . . . + vm (x)
∂x1 ∂xm

Conseguimos assim uma nova caracterização:

Proposição 3.5. Uma aplicação f : U (aberto) ⊂ IRm → IRn é 2 vezes diferenciável no


ponto a ∈ U se, e somente se, f é diferenciável numa vizinhança aberta V de a (V ⊂ U ) e,
∂f
para cada vetor v ∈ IRm , a derivada direcional : V → IRn é diferenciável em a.
∂v

Consideremos então, a partir de agora, uma aplicação f : U (aberto) ⊂ IRm → IRn , 2


vezes diferenciável em um ponto a ∈ U .
68 CAPÍTULO 3

O que é f 00 (a) ?

Como f 00 (a) é a derivada de f 0 : V ⊂ IRm → L(IRm ; IRn ) no ponto a , temos então


x 7→ f 0 (x)
f 00 (a) : IRm → L(IRm ; IRn ) (LINEAR), ou seja,

f 00 (a) ∈ L( IRm ; L(IRm ; IRn ) )

Ora, existe um isomorfismo natural entre L( IRm ; L(IRm ; IRn ) ) e o espaço L(2 IRm ; IRn )
das aplicações BILINEARES de IRm × IRm no IRn .

De fato, dada ϕ ∈ L( IRm ; L(IRm ; IRn ) ) , ϕ pode ser vista como uma aplicação bilinear
ϕ̃ : IRm × IRm → IRn da seguinte forma:

ϕ̃(v, w) = [ϕ(v)] (w) ∀ v, w ∈ IRm

É claro que ϕ̃ é bilinear, pois ϕ ∈ L( IRm ; L(IRm ; IRn ) ) .

Voltando à derivada segunda de f no ponto a, tı́nhamos f 00 (a) ∈ L( IRm ; L(IRm ; IRn ) ) .


Podemos portanto enxergar f 00 (a) ∈ L(2 IRm ; IRn ) da seguinte forma:

f 00 (a)(v, w) = [f 00 (a)(v)] (w) ∀ v, w ∈ IRm

Portanto f 00 (a) é uma aplicação bilinear de IRm × IRm no IRn !!!

Uma vez esclarecida a natureza de f 00 (a) , vamos agora tentar enxergar melhor sua atuação
enquanto aplicação bilinear.
Dados v, w ∈ IRm , temos:

∂f 0 f 0 (a + tv) − f 0 (a)
   
00 00
f (a)(v, w) = [f (a)(v)] (w) = (a) (w) = lim (w) =
∂v t→0 t
 0
f (a + tv) − f 0 (a) f 0 (a + tv)(w) − f 0 (a)(w)
 
= lim (w) = lim =
t→0 t t→0 t

∂f ∂f
(a + tv) − (a)  
∂ ∂f ∂2f
= lim ∂w ∂w = (a) = (a) .
t→0 t ∂v ∂w ∂v∂w
Derivadas de ordem superior e a Fórmula de Taylor 69

∂2f ∂2f
Obs.: Considerando ainda o Teorema de Schwarz ( (a) = (a) quando f é
∂v∂w ∂w∂v
2 vezes diferenciável em a) segue que f 00 (a) é uma aplicação bilinear e SIMÉTRICA.

Podemos portanto resumir os resultados obtidos da seguinte forma:

Se f : U (aberto) ⊂ IRm → IRn é 2 vezes diferenciável no ponto a ∈ U então


f 00 (a) é uma aplicação bilinear e simétrica de IRm × IRm no IRn e temos

∂2f
f 00 (a)(v, w) = (a) ∀ v, w ∈ IRm .
∂v∂w

Definimos então diferenciabilidade para ordens superiores, de maneira indutiva:

Definição 3.6. Uma aplicação f : U (aberto) ⊂ IRm → IRn é dita k VEZES DIFEREN-
CIÁVEL no ponto a ∈ U quando existe um aberto V ⊂ IRm , com a ∈ V ⊂ U , tal que
f é diferenciável em V e a aplicação derivada f 0 : V → L(IRm ; IRn ) é (k − 1) vezes
x 7→ f 0 (x)
diferenciável em a .

Prosseguindo de forma análoga ao estudo que fizemos para a derivada segunda, podemos
chegar a conclusões semelhantes para derivadas de 3a ordem, de 4a ordem, etc.

Assim, de um modo geral, podemos concluir que...

Se f : U (aberto) ⊂ IRm → IRn é k vezes diferenciável no ponto a ∈ U então


f (k) (a) é uma aplicação k-linear e simétrica de IRm × . . . × IRm (k vezes) no IRn e
temos
∂kf
f (k) (a)(v1 , . . . , vk ) = (a) ∀ v1 , . . . , vk ∈ IRm .
∂v1 ∂v2 . . . ∂vk

Obs.: NOTAÇÃO: Dado v ∈ IRm , iremos considerar

f (k) (a) · v (k) = f (k) (a)(v, . . . , v) .

sendo (v, . . . , v) ∈ IRm × . . . × IRm (k vezes).


70 CAPÍTULO 3

3.3 A Fórmula de Taylor

A Fórmula de Taylor infinitesimal

Lema 3.7. Seja B ⊂ IRm uma bola aberta de centro 0. Se r : B → IRn é s vezes diferenciável
em B, s + 1 vezes diferenciável no ponto 0 e, além disso, r(j) (0) = 0 para 0 ≤ j ≤ s + 1 ,
então
r(x)
lim =0.
x→0 kxks+1

Teorema 3.8. (Taylor infinitesimal) Seja U (aberto) ⊂ IRm . Se f é s vezes diferenciável


em U e, num ponto a ∈ U , existe f (s+1) (a) , então
1 00 1
f (a + h) = f (a) + f 0 (a) · h + f (a) · h(2) + . . . + f (s+1) (a) · h(s+1) + r(h) ,
2! (s + 1)!
com
r(h)
lim =0
h→0 khks+1

A Fórmula de Taylor com resto integral

Teorema 3.9. (Taylor com resto integral) Seja f : U ⊂ IRm → IRn uma aplicação de classe
C (s+1) . Se o segmento de reta [a, a + h] está contido no aberto U , então
1 00 1
f (a + h) = f (a) + f 0 (a) · h + f (a) · h(2) + . . . + f (s) (a) · h(s) + r(h) ,
2! s!
com
1
(1 − t)s (s+1)
Z
r(h) = f (a + th) · h(s+1) dt .
0 s!

A Fórmula de Taylor com resto de Lagrange

Teorema 3.10. (Taylor com resto de Lagrange) Seja f : U ⊂ IRm → IRn ; uma aplicação de
classe C (s+1) . Se o segmento de reta [a, a + h] está contido no aberto U e se tivermos ainda
(x) · w(s+1) ≤ M. kwk(s+1) para todo x ∈ [a, a + h] e todo w ∈ IRm , então
(s+1)
f

1 00 1
f (a + h) = f (a) + f 0 (a) · h + f (a) · h(2) + . . . + f (s) (a) · h(s) + r(h) ,
2! s!
com
M
kr(h)k ≤ khks+1 .
(s + 1)!
Capı́tulo 4

O Teorema da Aplicação Inversa

4.1 Preliminares

Seja f : U (aberto) ⊂ IRm → IRn uma aplicação diferenciável.


A essência do estudo de diferenciabilidade se traduz no fato de que podemos obter in-
formações significativas sobre o comportamento de f numa vizinhança de um ponto a ∈ U
através de sua derivada f 0 (a) neste ponto (lembremos que f 0 (a) : IRm → IRn é uma
transformação linear).
Por exemplo: sob certas condições, temos:
(m≤n)
(i) f 0 (a) injetiva =⇒ existe uma vizinhança V de a tal que f é injetiva em V .

(m≥n)
(ii) f 0 (a) sobrejetiva =⇒ existe uma vizinhança V de a que é “levada” (aplicada) por f
sobre uma vizinhança W de f (a).

(m=n)
(iii) f 0 (a) bijetiva =⇒ existe uma vizinhança V de a que é “levada” biunivocamente
por f sobre uma vizinhança W de f (a).

Dois lemas úteis

Lema 4.1. Se T : IRm → IRn é uma transformação linear ( T ∈ L(IRm ; IRn ) ) INJETIVA
então existe r > 0 tal que

kT (x)k ≥ r. kxk ∀ x ∈ IRm

Este é o Exercı́cio 24 do Capı́tulo 1 desta apostila.

71
72 CAPÍTULO 4

Veremos agora mais um lema fundamental para os resultados que nos interessam:

Lema 4.2. (Lema de Aproximação) Seja f : U (aberto) ⊂ IRm → IRn uma aplicação
diferenciável e tal que sua aplicação derivada f 0 : U → L(IRm ; IRn ) é contı́nua em a ∈ U .
Então, dado  > 0 , podemos obter δ > 0 tal que

x1 , x2 ∈ B [a; δ] ⇒ x1 , x2 ∈ U e kf (x1 ) − f (x2 ) − f 0 (a)(x1 − x2 )k ≤ . kx1 − x2 k

Prova:

4.2 O Teorema da Aplicação Injetiva

Teorema 4.3. Seja f : U (aberto) ⊂ IRm → IRn uma aplicação diferenciável.


Se a ∈ U é tal que f 0 (a) : IRm → IRn é uma transformação linear INJETIVA (em
particular m ≤ n ) e a aplicação derivada f 0 é contı́nua em a, então existe um número δ > 0
tal que a restrição de f à B[a; δ] é injetiva.

Mais ainda, podemos garantir que a inversa da restrição f B[a;δ] é uma aplicação contı́nua
de f (B[a; δ]) em B[a; δ].

Demonstração:
O Teorema da Aplicação Inversa 73

Obs.: Note que, apesar de termos um homeomorfismo entre B[a; δ] e f (B[a; δ]) , não
podemos garantir que f (B[a; δ]) seja uma vizinhança de f (a) .
Por esta razão não podemos fazer nenhuma afirmação sobre a diferenciabilidade da inversa
em f (a).
A seguir veremos um resultado que nos ajudará a ir nessa “direção”.

4.3 O Teorema da Aplicação Sobrejetiva

Teorema 4.4. Seja f : U (aberto) ⊂ IRm → IRn uma aplicação diferenciável.


Se a ∈ U é tal que f 0 (a) : IRm → IRn é uma transformação linear SOBREJETIVA
(em particular m ≥ n ) e a aplicação derivada f 0 é contı́nua em a, então existem números
c>0 e α>0 tais que, se y ∈ IRn e ky − f (a)k ≤ α/2c então existe um x ∈ U tal que
kx − ak ≤ α e f (x) = y , ou seja, f (B[a; α]) é uma vizinhança de f (a).
74 CAPÍTULO 4

Demonstração:
O Teorema da Aplicação Inversa 75

Obs.: A sobrejetividade de f 0 (a) (e a continuidade de f 0 em a) nos garante portanto que


f (a) é ponto interior de f (B[a; α]), sem garantir porém a injetividade de f numa vizinhança
de a (como era garantido no Teorema da Aplicação Injetiva).
76 CAPÍTULO 4

Antes de combinarmos estes dois importantes resultados (Teoremas das Aplicações In-
jetiva e Sobrejetiva) para obter o Teorema da Aplicação Inversa, veremos uma importante
conseqüência do Teorema da Aplicação Sobrejetiva:

Corolário 1. (Teorema da Aplicação Aberta) Seja f : U (aberto) ⊂ IRm → IRn uma aplicação
tal que f ∈ C 1 (U ) , ou seja, f é diferenciável e a aplicação derivada f 0 é contı́nua (em todo
x ∈ U ).
Se f 0 (x) é sobrejetiva para todo x ∈ U então f é uma aplicação aberta, isto é, f (A) é
um conjunto aberto para todo A (aberto) ⊂ U .

Prova:

4.4 O Teorema da Aplicação Inversa

O que faremos agora será combinar os dois teoremas anteriores (Aplicações Injetiva e So-
brejetiva) para produzir o Teorema da Aplicação Inversa.
Apresentaremos tal resultado em duas partes:

Teorema 4.5. Seja f : U (aberto) ⊂ IRm → IRn uma aplicação diferenciável.


Se a ∈ U é tal que f 0 (a) : IRm → IRn é um ISOMORFISMO (transformação linear
bijetiva - em particular m = n ) e a aplicação derivada f 0 é contı́nua em a, então existe um
número δ > 0 tal que B[a; δ] é homeomorfa (“por f ”) a f (B[a; δ]), f (B[a; δ]) é vizinhança
de b = f (a) e f −1 = g : f (B[a; δ]) → B[a; δ] é diferenciável em b = f (a) .
Em particular: g 0 (b) = [f 0 (a)]−1 .
O Teorema da Aplicação Inversa 77

Demonstração:
78 CAPÍTULO 4

Mais ainda, se f ∈ C k (U ) ( k ≥ 1 ) então existem vizinhanças abertas V de a e


W de b = f (a) tais que f é um DIFEOMORFISMO entre os abertos V e W e
g = f −1 : W → V ∈ C k (W ).
(f : V → W difeomorfismo significa que é bijeção diferenciável com inversa diferenciável)

Demonstração:
O Teorema da Aplicação Inversa 79

4.5 O Teorema da Aplicação Implı́cita

Teorema 4.6. Sejam Ω (aberto) ⊂ IRm × IRn = IRm+n e (a, b) ∈ Ω , de forma que
a = (a1 , a2 , . . . , am ) ∈ IRm e b = (b1 , b2 , . . . , bn ) ∈ IRn . Seja f : Ω → IRn uma aplicação,
f = f (x, y) = f (x1 , . . . , xm , y1 , . . . , yn ) , tal que f ∈ C 1 (Ω) e f (a, b) = r ∈ IRn .
Se  
∂ (f1 , f2 , . . . , fn )
det (a, b) 6= 0
∂ (y1 , y2 , . . . , yn )

(ou equivalentemente: se L : IRn → IRn dada por L(v) = f 0 (a, b)(0, v) é um isomorfismo),
então existe uma vizinhança V de (a, b) em IRm × IRn tal que:

(x, y) ∈ V ∩ f −1 (r) ⇔ y = ϕ(x) e x ∈ U ,

onde ϕ : U (aberto) ⊂ IRm → IRn , U é vizinhança de a, ϕ(a) = b , ϕ ∈ C 1 (U ) e


 −1  
0 ∂ (f1 , f2 , . . . , fn ) ∂ (f1 , f2 , . . . , fn )
ϕ (x) = − (x, ϕ(x)) ◦ (x, ϕ(x)) ∀x∈U .
∂ (y1 , y2 , . . . , yn ) ∂ (x1 , x2 , . . . , xm )

“Descrição Esquemática”:
80 CAPÍTULO 4

Demonstração:
O Teorema da Aplicação Inversa 81

4.6 Exercı́cios

1. Nas condições do Teorema da Aplicação Injetiva (Teorema 4.3), apesar de termos, pela f ,
um homeomorfismo entre B[a; δ] e f (B[a; δ]) , NÃO PODEMOS GARANTIR que f leve
uma vizinhança de a em uma vizinhança de f (a). Ilustre isto através de um contra-exemplo.

2. Nas condições do Teorema da Aplicação Sobrejetiva (Teorema 4.4), apesar de termos


f (B[a; α]) como vizinhança de f (a) , NÃO PODEMOS GARANTIR que f seja injetiva
numa vizinhança de a. Ilustre isto através de um contra-exemplo.

3. Mostre que as projeções πi : IRm → IR , dadas por πi (x1 , x2 , . . . , xm ) = xi são aplicações


abertas.

4. Se f : U → IR3 é de classe C 1 e tem posto 3 em todos os pontos do aberto U ⊂ IR4


então |f (x)| não assume valor máximo para x ∈ U .
(Obs.: O posto de f em x é o posto de f 0 (x) )

5. Seja f : U → C uma função holomorfa, de classe C 1 , no aberto U do plano complexo.


Se f 0 (z0 ) 6= 0 então z0 possui uma vizinhança, restrita à qual f tem uma inversa derivável
(como função complexa), de classe C 1 .
(Sugestão: “olhe” f como f : IR2 → IR2 e use o Teorema da Aplicação Inversa)

6. Seja f : IR2 → IR2 dada por f (x, y) = (x + y, 2x + ay) .


(a) Calcule Df (x, y) e mostre que Df (x, y) é invertı́vel se, e somente se, a 6= 2 .
(b) Examine a imagem do quadrado unitário { (x, y) ; x, y ∈ [0, 1) } quando a = 1, 2, 3.

7. Seja f : IR2 → IR2 a aplicação que leva o ponto (x, y) no ponto (u, v) dada por
u = x, v = xy .
A aplicação é um-a-um (injetora) ? f é aplicada sobre todo o IR2 ?
Mostre que se x 6= 0 , então f leva uma vizinhança de (x, y) , de modo um-a-um, sobre uma
vizinhança de (x, xy).
Em que região do plano uv a aplicação f leva o retângulo { (x, y) ; 1 ≤ x ≤ 2 , 0 ≤ y ≤ 2 } ?
Que pontos do plano xy são levados pela f no retângulo { (u, v) ; 1 ≤ u ≤ 2 , 0 ≤ v ≤ 2 } ?

8. Seja f : IR2 → IR2 dada por f (x, y) = (y, x + y 2 ) .


Mostre que f ∈ C 1 (IR2 ) e que f é invertı́vel em alguma vizinhança de qualquer ponto do IR2 .
Esboce a imagem, pela f , das retas x = 0, 1, −1, 2, −2 e y = 0, 1, −1, 2, −2.
Determine a inversa g = f −1 : IR2 → IR2 e verifique que Dg (f (x0 , y0 )) = [Df (x0 , y0 )]−1 .
82 CAPÍTULO 4

9. Mostre que a composta de duas aplicações de classe C k é também de classe C k .


(Sugestão: INDUÇÃO, utilizando a observação logo após a definição de classe C k , além da
Regra da Cadeia)
Utilizando o resultado acima e o fato de que a inversão de matrizes é uma aplicação de
classe C ∞ em GL(IRn ) , conclua que no Teorema da Aplicação Inversa (Teorema 4.5)
temos f −1 ∈ C k (W ) , desde que tenhamos f ∈ C k (U ) (k = 1, 2, . . .) . Conclua também
que, no Teorema da Aplicação Implı́cita (Teorema 4.6), também obtemos ϕ ∈ C k (U ) se
f ∈ C k (Ω) (k = 1, 2, . . .) .

10∗ . Uma IMERSÃO do aberto U ⊂ IRm no IRp é uma aplicação diferenciável f : U → IRp
tal que, para cada x ∈ U , a derivada f 0 (x) : IRm → IRp é uma transformação linear injetiva
(em particular m ≤ p ⇒ p = m + n ).
A inclusão i : IRm → IRm × IRn dada por i(x) = (x, 0) ∀ x ∈ IRm é o exemplo canônico
de imersão: i é imersão e i ∈ C ∞ (verifique).
O objetivo deste exercı́cio (dirigido) é mostrar que toda imersão de classe C k (k ≥ 1) se
comporta localmente (de certa forma) como o exemplo canônico acima.
Seja f : U (aberto) ⊂ IRm → IRm+n = IRm × IRn uma imersão de classe C k (k ≥ 1) .
Dado a ∈ U vamos mostrar que existem abertos V1 3 a no IRm , V2 3 0 no IRn (de modo
que (a, 0) ∈ V1 × V2 (aberto) ⊂ IRm × IRn ), W 3 f (a) no IRm+n e existe um difeomorfismo
h : W → V1 × V2 tais que h ∈ C k (W ) e

(h ◦ f )(x) = (x, 0) ∀ x ∈ V1

1) Seja E = f 0 (a)(IRm ) (imagem de f 0 (a) ) ⊂ IRm+n . Conclua que dim E = m e


portanto existe (pelo menos um) subespaço F ⊂ IRm+n com dim F = n e IRm+n = E ⊕ F .
Fixemos uma base β = {v1 , v2 , . . . , vn } , base ordenada de F .
2) Considere ϕ : U × IRn → IRm+n dada por

ϕ(x, y) = ϕ(x, (y1 , . . . , yn )) = f (x) + y1 v1 + y2 v2 + . . . + yn vn

e mostre que ϕ ∈ C k (U × IRn ) e ϕ0 (a, 0) : IRm+n → IRm+n é um ISOMORFISMO.


3) Use o Teorema da Aplicação Inversa (Teo 4.5) para obter o difeo h : W → V1 × V2 que
atenda às condições descritas anteriormente.

Obs.: Podemos obter um resultado mais flexı́vel, ou seja, uma composição que fornece
uma outra inclusão (imersão canônica). Basta considerar ξ : IRm+n → IRm+n dada por
h = ξ ◦ h : W → ξ(V1 × V2 ) . Assim teremos
ξ(z1 , . . . , zm+n ) = (zl1 , . . . , zlm+n ) e fazer e
h ◦ f )(x) = ξ(x, 0) . ξ representa uma reordenação na base canônica do IRm+n . Este tipo de
(e
reordenação será muito útil à frente.
O Teorema da Aplicação Inversa 83

11. De acordo com o enunciado do Teorema da Aplicação Implı́cita (Teorema 4.6), obtenha a
expressão da derivada da aplicação implı́cita, ou seja, mostre que
 −1  
0 ∂ (f1 , f2 , . . . , fn ) ∂ (f1 , f2 , . . . , fn )
ϕ (x) = − (x, ϕ(x)) ◦ (x, ϕ(x)) ∀x∈U
∂ (y1 , y2 , . . . , yn ) ∂ (x1 , x2 , . . . , xm )

Sugestão: Use que f (x, ϕ(x)) = r (constante) se x ∈ U e aplique a Regra da Cadeia.

12. Seja F : IR5 → IR2 dada por F (u, v, w, x, y) = (uy + vx + w + x2 , uvw + x + y + 1) .


Note que F (2, 1, 0, −1, 0) = (0, 0).
(a) Mostre que podemos resolver F (u, v, w, x, y) = (0, 0) e obter (x, y) = ϕ(u, v, w) para as
soluções desta equação, numa vizinhança de (2, 1, 0) .
(b) Se (x, y) = ϕ(u, v, w) é a solução na parte (a), obtenha a matriz jacobiana Jϕ(2, 1, 0) .

13∗ . O objetivo agora é obter o Teorema da Aplicação Implı́cita no seu contexto mais geral.
Consideremos Ω (aberto)⊂ IRm+n , c ∈ Ω e f = f (z1 , . . . , zm+n ) : Ω → IRn uma aplicação
tal que f ∈ C k (Ω) (k ≥ 1) e f (c) = r ∈ IRn . Suponhamos ainda que
 
∂ (f1 , f2 , . . . , fn )
det (c) 6= 0
∂ (zj1 , . . . , zjn )
(observe que agora as variáveis zj1 , . . . , zjn não são necessariamente as últimas)
Notação: zl1 , . . . , zlm serão as outras variáveis (que não zj1 , . . . , zjn ) em z = (z1 , . . . , zm+n ) .
Nosso objetivo é mostrar que existe uma vizinhança aberta V de c em IRm+n tal que

z ∈ V ∩ f −1 (r) ⇔ (zj1 , . . . , zjn ) = ϕ(zl1 , . . . , zlm ) e (zl1 , . . . , zlm ) ∈ U ,

onde ϕ : U (aberto) ⊂ IRm → IRn , (cl1 , . . . , clm ) ∈ U , ϕ(cl1 , . . . , clm ) = (cj1 , . . . , cjn ) e
ϕ ∈ C k (U ).

Roteiro:
1) Seja ξ : IRm+n → IRm+n dada por ξ(z1 , . . . , zm+n ) = (zl1 , . . . , zlm , zj1 , . . . , zjn )
( ξ representa uma reordenação na base canônica do IRm+n de modo que as últimas variáveis
passam a ser zj1 , . . . , zjn )

Tomando η = ξ −1 , considere g = f ◦ η : ξ(Ω) ⊂ IRm+n → IRn .


Mostre que ξ(Ω) é aberto, g ∈ C k (ξ(Ω)) e, se considerarmos (x, y) = (x1 , . . . , xm , y1 , . . . , yn )
no IRm+n tem-se, para todo i, s = 1, . . . , n :
∂gi ∂fi
(ξ(c)) = (c) (use a Regra da Cadeia em g = f ◦ η )
∂ys ∂zjs
84 CAPÍTULO 4

Portanto
   
∂ (g1 , g2 , . . . , gn ) ∂ (f1 , f2 , . . . , fn )
det (ξ(c)) = det (c) 6= 0
∂ (y1 , y2 , . . . , yn ) ∂ (zj1 , . . . , zjn )

2) Utilize então o Teorema 4.6 considerando a aplicação g = f ◦ η : ξ(Ω) → IRn , uma vez
que para g temos  
∂ (g1 , g2 , . . . , gn )
det (ξ(c)) 6= 0
∂ (y1 , y2 , . . . , yn )

3) Com o resultado a respeito de g obtido acima, “volte para f ”, concluindo a demonstração


do Teorema da Aplicação Implı́cita na sua forma mais geral.

Obs.: Descreva ainda a expressão para ϕ0 (zl1 , . . . , zlm ) , dado (zl1 , . . . , zlm ) ∈ U .

14. Seja f : IR3 → IR2 dada por f (x, y, z) = (x + y + z, x − y − 2xz)


(a) Mostre que podemos resolver f (x, y, z) = (0, 0) , obtendo (x, y) = ϕ(z) para as soluções
desta equação, numa vizinhança de z = 0 .
" #
−1/2
(b) Mostre que Jϕ(0) =
−1/2
(c) Explicite a solução de (x, y) = ϕ(z) e verifique o resultado da parte (b).
(d) Repita os procedimentos das letras (a), (b) e (c), só que agora obtendo (y, z) = ψ(x)
numa vizinhança de x = 0 para as soluções da equação f (x, y, z) = (0, 0) .

15. Funções implı́citas: Enuncie o clássico Teorema da Função Implı́cita como um caso par-
ticular do Teorema da Aplicação Implı́cita (Teo 4.6).

16. Seja f : IR3 → IR dada por f (x, y, z) = x2 · y · z .


Prove que numa vizinhança de (1, 1, 1), a equação f (x, y, z) = 1 define x como função de
classe C ∞ das variáveis y e z e obtenha as derivadas parciais dessa função.
Agora obtenha essa função explicitamente e verifique os resultados obtidos acima.

17. Seja g : IR5 → IR dada por g(u, v, w, x, y) = uy + vx + w + x6 .


Prove que numa vizinhança de (2, 1, 0, −1, 0), a equação g(u, v, w, x, y) = 0 define x como
função de classe C ∞ das variáveis u, v, w e y, x = ξ(u, v, w, y) , e obtenha grad ξ (2, 1, 0, 0) .
Agora pense como seria difı́cil (senão impossı́vel !) obter a expressão explı́cita da função
x = ξ(u, v, w, y) .
O Teorema da Aplicação Inversa 85

18. Seja f : IR4 → IR dada por f (x, y, z, w) = yw2 − 2xz − 5 + z 5 .


(a) Utilize o Teorema da Função Implı́cita para provar que numa vizinhança de (4, −1, 2, −3)
a equação f (x, y, z, w) = 2 define (implicitamente) w como uma função de classe C ∞ das
variáveis x, y e z.
Use o Teorema da Função Implı́cita para obter as derivadas parciais dessa função (sem
utilizar ainda qualquer expressão explı́cita da função).
Obtenha a expressão explı́cita dessa função e utilize-a para verificar os resultados obtidos
acima.
(b) Prove que numa vizinhança de (−3, 1, 0, 2) a equação f (x, y, z, w) = −1 define z
como função de classe C ∞ das variáveis x, y e w , z = ξ(x, y, w) , e obtenha grad ξ(−3, 1, 2)
usando as expressões das derivadas parciais de ξ fornecidas pelo Teorema da Função Implı́cita.

19. Seja f : U (aberto) ⊂ IR2 → IR uma função contı́nua e tal que

(x2 + y 4 )f (x, y) + f (x, y)7 = 1 para todo (x, y) ∈ U .

Prove que f ∈ C ∞ (U ) .

20. Um conjunto S ⊂ IR3 é dito uma SUPERFÍCIE REGULAR quando para cada ponto
p ∈ S existem uma vizinhança V de p no IR3 e uma aplicação χ : U → V ∩ S definida
num aberto U ⊂ IR2 tal que:
(1) χ ∈ C ∞ (U ) (χ é “suave”);
(2) χ é um homeomorfismo;
(3) Para todo q ∈ U , a derivada χ0 (q) : IR2 → IR3 tem posto 2, isto é, χ0 (q) é injetora.

(a) Mostre que se uma função f : U (aberto) ⊂ IR2 → IR é de classe C ∞ então o conjunto
S = (gráfico de f ) é uma superfı́cie regular no IR3 ;
(b) Seja r um valor regular de uma função f : Ω(aberto) ⊂ IR3 → IR , com f ∈ C ∞ (Ω) .
Prove que S = f −1 (r) ⊂ IR3 é uma superfı́cie regular no IR3 .
(c) Mostre que os seguintes conjuntos são superfı́cies regulares no IR3 :
(i) Todo plano π ⊂ IR3 é uma superfı́cie regular.
(ii) Esfera: S 2 ⊂ IR3 . S 2 = (x, y, z) ∈ IR3 ; x2 + y 2 + z 2 = 1 .


(iii) Cilindro: C = (x, y, z) ∈ IR3 ; x2 + y 2 = 1 .




(iv) Consideremos uma circunferência e uma reta, coplanares e disjuntas, no IR3 . Girando
a circunferência em torno da reta, obtemos um sólido de revolução chamado TORO.
Mostre que o Toro é uma superfı́cie regular no IR3 e faça um esboço.
(Pode considerar o caso em que a reta - eixo de rotação - é um dos eixos cartesianos).

(v) S = (x, y, z) ∈ IR3 ; ( x2 + z 2 − 3)2 = 4 − y 2 ⊂ IR3

86 CAPÍTULO 4

21. Seja χ : U (aberto) ⊂ IR2 → IR3 tal que:


(1) χ ∈ C 1 (U )
(2) χ : U → χ(U ) é BIJEÇÃO;
(3) Para todo q ∈ U , a derivada χ0 (q) : IR2 → IR3 tem posto 2, isto é, χ0 (q) é injetora.

Use o Teorema da Aplicação Inversa para mostrar que χ−1 : χ(U ) → U é contı́nua (o que
implica em χ ser um homeomorfismo).
Sugestão: Para cada ponto p ∈ χ(U ) , escolha uma projeção adequada π : IR3 → IR2 ,
use o Teorema da Aplicação Inversa em π ◦ χ e conclua que χ−1 é contı́nua em p .

• NOTA : Um subconjunto M ⊂ IRn é uma VARIEDADE DIFERENCIÁVEL DE DI-


MENSÃO m ( m ≤ n ) quando, para cada ponto p ∈ M existem uma vizinhança V de p
em IRn e uma aplicação χ : U → V ∩ M definida num aberto U ⊂ IRm tal que:
(1) χ ∈ C ∞ (U ) (χ é “suave”);
(2) χ é um homeomorfismo;
(3) Para todo q ∈ U , a derivada χ0 (q) : IRm → IRn tem posto m, isto é, χ0 (q) é injetora.

Observações:

1) Comparando as definições apresentadas, é fácil ver que uma superfı́cie regular no IR3 é,
em particular, uma variedade diferenciável de dimensão 2 no IR3 .
As variedades de dimensão 2 são geralmente chamadas SUPERFÍCIES e as de dimensão 1
são chamadas CURVAS.

2) Assim como utilizamos fortemente o Teorema da Função Implı́cita para obtermos su-
perfı́cies regulares (Exercı́cio 20), é possı́vel produzir variedades diferenciáveis de dimensão m
no IRm+1 , quando olhamos imagens inversas de valores regulares de funções de IRm+1 em IR e
utilizamos o mesmo Teorema da Função Implı́cita.

3) Existe também a definição de variedade de classe C k , quando na primeira condição


pede-se que a parametrização χ seja apenas de classe C k em U (k ≥ 1).

4) A terceira condição na definição de variedade diferenciável, que χ0 (q) : IRm → IRn seja
uma transformação linear injetora para todo q ∈ U , confere a chamada REGULARIDADE à
variedade, garantindo a existência de um ESPAÇO TANGENTE à variedade em cada um de
seus pontos.
Se a variedade em questão tem dimensão m, então esse espaço tangente (em cada ponto)
é um espaço vetorial m-dimensional. No caso particular das SUPERFÍCIES (de dimensão 2)
temos o chamado PLANO TANGENTE em cada um de seus pontos.
O Teorema da Aplicação Inversa 87

22. Enucie e prove o resultado referente à segunda observação na nota anterior, sobre va-
riedades diferenciáveis.

23. Prove que a esfera unitária S[0; 1] no IRm+1 (norma euclidiana) é uma variedade
diferenciável de dimensão m (por isso usamos a notação S m : S 1 é a circunferência unitária no
IR2 , S 2 é a esfera unitária no IR3 , etc.).

24∗ . Ao demonstrarmos o Teorema da Aplicação Implı́cita (Teorema 4.6), utilizamos forte-


mente o Teorema da Aplicação Inversa (Teorema 4.5). Mostre que ambos os resultados são
EQUIVALENTES, demonstrando o Teorema da Aplicação Inversa a partir do Teorema da
Aplicação Implı́cita.

25∗ . Uma SUBMERSÃO do conjunto aberto U ⊂ IRq no IRn é uma aplicação diferenciável
f : U → IRn tal que, para cada x ∈ U , a derivada f 0 (x) : IRq → IRn é uma transformação
linear sobrejetiva (em particular q ≥ n ⇒ q = m + n ).
Uma projeção s : IRm+n → IRn dada por s(z1 , . . . , zm+n ) = (zj1 , . . . , zjn ) ∀ z ∈ IRm+n é
um exemplo canônico de submersão: s é submersão e s ∈ C ∞ (verifique).
O objetivo deste exercı́cio (dirigido) é mostrar que toda submersão de classe C k (k ≥ 1)
se comporta localmente (de certa forma) como o exemplo canônico anteriormente descrito.
Seja f : Ω (aberto) ⊂ IRm+n → IRn uma submersão de classe C k (k ≥ 1) .
Dado c ∈ Ω vamos mostrar que existem abertos V 3 c e W do IRm+n e um
difeomorfismo G : W → V de classe C k (W ) tais que

(f ◦ G)(z1 , . . . , zm+n ) = (zj1 , . . . , zjn ) ∀ (z1 , . . . , zm+n ) ∈ W

1) Como f 0 (c) : IRm+n → IRn é sobrejetora, então Im f 0 (c) = IRn . Considerando então
z = (z1 , . . . , zm+n ) ∈ IRm+n , existem (mostre) variáveis zj1 , . . . , zjn tais que
 
∂ (f1 , f2 , . . . , fn )
det (c) 6= 0
∂ (zj1 , . . . , zjn )

Vamos separar a demonstração em duas partes:


1a PARTE) Caso particular: js = m + s ∀ s = 1, . . . n , ou seja, as variáveis zj1 , . . . , zjn
representam as últimas n coordenadas de z ∈ IRm+n = IRm × IRn :
2) Sendo c = (a, b) ∈ Ω ⊂ IRm × IRn , consideremos H : Ω → IRm × IRn dada por
H(x, y) = (x, f (x, y)) , H ∈ C k (Ω) e H 0 (c) é isomorfismo.

3) Exatamente como na demonstração do Teorema da Aplicação Implı́cita (Teo 4.6),


obtenha o difeomorfismo G = H −1 : W → V conforme desejamos: (f ◦ G)(x, y) = y .
88 CAPÍTULO 4

 
a ∂ (f1 , f2 , . . . , fn )
2 PARTE) Caso geral: as variáveis zj1 , . . . , zjn tais que det (c) 6= 0
∂ (zj1 , . . . , zjn )
não são necessariamente as n últimas:
4) Assim como no exercı́cio 13 desta mesma lista, considere ξ : IRm+n → IRm+n dada por
ξ(z1 , . . . , zm+n ) = (zl1 , . . . , zlm , zj1 , . . . , zjn ) e, tomando η = ξ −1 , considere a aplicação

g = f ◦ η : ξ(Ω) ⊂ IRm+n → IRn

5) Aplique a 1a parte à g (mostre antes, como o feito no exercı́cio 13, que isto é possı́vel) e
finalmente use novamente ξ e η para concluir a demonstração - o aberto W a ser obtido será
uma vizinhança de (d1 , . . . , dm+n ) , sendo dlk = clk para todo k = 1, . . . , m e djs = fjs (c)
para todo s = 1, . . . , n ).

26∗ . O objetivo deste exercı́cio é demonstrar o importantı́ssimo Teorema de Mudança de


Parametrização para o caso de superfı́cies regulares no IR3 .
Podemos citar, como aplicações, que ele tem papel fundamental nos conceitos de diferencia-
bilidade de aplicações definidas em superfı́cies regulares e de plano tangente (a uma superfı́cie
regular em um certo ponto).
É claro também que existe uma versão mais geral do mesmo resultado para variedades
diferenciáveis de dimensão m no IRn (m ≤ n), com as mesmas conseqüências.
Sejam p um ponto de uma superfı́cie regular S ⊂ IR3 , χ : U (aberto) ⊂ IR2 → S ⊂ IR3
e ψ : V (aberto) ⊂ IR2 → S ⊂ IR3 duas parametrizações tais que p ∈ χ(U ) ∩ ψ(V ) = W
(aberto em S).
Mostre que a “mudança de coordenadas” h = χ−1 ◦ ψ : ψ −1 (W ) → χ−1 (W ) é um difeo-
morfismo entre abertos do IR2 , ou seja, h é diferenciável e tem inversa diferenciável.
Roteiro:
1) Faça um esboço da situação.
2) Já temos que h é um homeomorfismo (justifique).
3) Seja r ∈ ψ −1 (W ) . Vamos mostrar que h é diferenciável em r.
4) Se h(r) = q ∈ U , defina adequadamente uma F : U × IR (aberto) ⊂ IR3 → IR3 tal
que se tenha F (u, v, 0) = χ(u, v) , F ∈ C ∞ (U × IR) e sobretudo det[F 0 (q, 0)] 6= 0 .
5) Use o Teorema da Aplicação Inversa na F para obter A(aberto) ⊂ U tal que q ∈ A e

χ−1 = π ◦ F −1 χ(A) : χ(A) → A , sendo π ◦ F −1 : W1 (aberto) ⊂ IR3 → IR2 de classe C ∞ e
π : IR3 → IR2 dada por π(u, v, t) = (u, v) .
6) Conclua que h é diferenciável em r e, mais ainda, h ∈ C ∞ .
7) Raciocı́nio análogo vale para h−1 .
Capı́tulo 5

Integrais Múltiplas

5.1 A definição de integral

Definição 5.1. (Blocos) Um BLOCO m-DIMENSIONAL é um produto cartesiano


m
Y
A= [ai , bi ] = [a1 , b1 ] × . . . × [am , bm ] ⊂ IRm (ai < bi ∀ i)
i=1

de m intervalos compactos [ai , bi ] , cada um dos quais se chama uma ARESTA do bloco A.
m
Y
O VOLUME m-dimensional do bloco A = [ai , bi ] é, por definição,
i=1
m
Y
vol. A = (bi − ai ) .
i=1
m
Y
Definição 5.2. (Partições) Uma PARTIÇÃO do bloco A = [ai , bi ] é um subconjunto
i=1
finito do tipo P = P1 × . . . × Pm , onde cada Pi é uma partição do intervalo [ai , bi ] .
Uma partição P = P1 × . . . × Pm do bloco A determina uma decomposição de A em
sub-blocos do tipo B = I1 × . . . × Im , onde cada Ii é um intervalo da partição Pi .
Cada um desses sub-blocos B é dito um BLOCO DA PARTIÇÃO P e escreve-se B ∈ P .
Se P é uma partição de um bloco A, segue que o volume do bloco A é soma dos volumes
de todos os blocos em que a partição P decompõe A
X
vol. A = vol. B .
B∈P

Q
A NORMA |P | de uma partição P = Pi é o maior comprimento de um subintervalo
de qualquer das partições Pi , ou seja, é o maior comprimento das arestas dos blocos B ∈ P .

89
90 CAPÍTULO 5

Definição 5.3. (Refinando partições) Dadas P e Q, partições do bloco A, dizemos que Q é


MAIS FINA do que P , ou equivalentemente, que Q REFINA P , quando P ⊂ Q .
Se P = P1 × . . . × Pm e Q = Q1 × . . . × Qm , temos P ⊂ Q se, e somente se,
(ex)
P1 ⊂ Q1 , . . . , Pm ⊂ Qm .
Neste caso ( P ⊂ Q ), cada bloco da partição Q está contido num único bloco da partição
P e cada bloco de P é a reunião dos blocos de Q nele contidos.
Q Q
Se P = Pi e Q = Qi são partições do bloco A, a reunião P ∪ Q NÃO É, em
geral, uma partição de A.
Q
Mas existe uma partição P + Q = (Pi ∪ Qi ) que refina P e Q simultaneamente.

Definição 5.4. (Somas inferiores e superiores)


Seja f : A → IR uma função real limitada, definida num bloco A ⊂ IRm .
Dada uma partição P do bloco A, a cada bloco B ∈ P associaremos os números

mB = inf { f (x) ; x ∈ B } e MB = sup { f (x) ; x ∈ B }

com os quais definimos


X
s(f ; P ) = mB · vol. B (SOMA INFERIOR de f relativamente à partição P )
B∈P
X
S(f ; P ) = MB · vol. B (SOMA SUPERIOR de f relativamente à partição P )
B∈P

Dada qualquer partição P , é imediato que s(f ; P ) ≤ S(f ; P ) .


É imediato também que se m ≤ f (x) ≤ M para todo x ∈ A , então

m · vol. A ≤ s(f ; P ) ≤ S(f ; P ) ≤ M · vol. A

qualquer que seja a partição P do bloco A.

Proposição 5.5. Se P e Q são partições do bloco A ⊂ IRm com P ⊂ Q e f : A → IR é


uma função limitada, então
(ex)
s(f ; P ) ≤ s(f ; Q) ≤ S(f ; Q) ≤ S(f ; P )

Proposição 5.6. Seja f : A → IR limitada. Dadas partições P e Q do bloco A, tem-se

s(f ; P ) ≤ S(f ; Q) .
Integrais Múltiplas 91

Definição 5.7. (Integral Inferior e Integral Superior)


Seja f : A → IR uma função limitada no bloco A. Definimos:
Z
f (x) dx = sup s(f ; P ) (INTEGRAL INFERIOR de f )
−A P

Z−
f (x) dx = inf S(f ; P ) (INTEGRAL SUPERIOR de f )
A P

É imediato dos resultados anteriores que se m ≤ f (x) ≤ M para todo x ∈ A então


Z Z−
m · vol. A ≤ f (x) dx ≤ f (x) dx ≤ M · vol. A
−A A

Definição 5.8. (Funções (Riemann-)integráveis)


Uma função f : A → IR , limitada no bloco A ⊂ IRm , é dita INTEGRÁVEL quando sua
integral inferior e sua integral superior forem iguais.
Esse valor comum é chamado a INTEGRAL de f em A e denotado por
Z
f (x) dx
A

(?)
Teorema 5.9. A fim de que uma função limitada f : A → IR seja integrável no bloco
m
A ⊂ IR é necessário e suficiente que, para cada  > 0 dado, se possa obter uma partição P
do bloco A tal que S(f ; P ) − s(f ; P ) <  .

Definição 5.10. (Oscilação)


Se f : X → IR é limitada em X ⊂ IRm , definimos a OSCILAÇÃO de f em X como

wX = w(f ; X) = sup { |f (x) − f (y)| ; x, y ∈ X } .

Se indicamos por mX e MX respectivamente o ı́nfimo e o supremo de f em X, temos

wX = MX − mX .

(ex)
Teorema 5.11. Toda função contı́nua f : A → IR é integrável.
92 CAPÍTULO 5

(?)
Teorema 5.12. Sejam f, g : A → IR funções integráveis no bloco A ⊂ IRm . Então
(a) A função f + g é integrável e
Z Z Z
[f (x) + g(x)] dx = f (x) dx + g(x) dx
A A A

(b) Para todo c ∈ IR , a função c · f é integrável e


Z Z
(c · f )(x) dx = c · f (x) dx
A A

Z
(c) Se f (x) ≥ 0 para todo x ∈ A então f (x) dx ≥ 0 .
A

(d) A função |f (x)| é integrável e


Z Z

f (x) dx ≤ |f (x)| dx .

A A

Em particular, se |f (x)| ≤ K para todo x ∈ A então


Z

f (x) dx ≤ K · vol. A .

A

(e) (Valor médio para integrais) Se f é contı́nua, existe c ∈ A tal que


Z
f (x) dx = f (c) · vol. A .
A

Uma conseqüência interessante do Teorema acima:


Toda função (limitada) f : A → IR pode ser escrita como a diferença f = f+ − f− entre
duas funções não-negativas naturais:

f+ : A → IR é chamada a PARTE POSITIVA de f ( f+ (x) = max {f (x), 0} ).


f− : A → IR é chamada a PARTE NEGATIVA de f ( f+ (x) = − min {f (x), 0} ).

Temos:

|f (x)| + f (x) |f (x)| − f (x)


f+ (x) = , f− (x) = e f (x) = f+ (x) − f− (x) ∀ x ∈ A .
2 2

Segue do Teorema acima que f é integrável se, e somente se, f+ e f− são ambas
integráveis.
Integrais Múltiplas 93

5.2 Caracterização das funções (Riemann-) integráveis

Embora já tenhamos no Teorema 5.9 uma caracterização para as funções integráveis em
blocos, nos interessa ainda obter uma caracterização que “funcione melhor” no sentido de
fornecer condições (necessárias e suficientes) de integrabilidade que sejam mais simples de se
analisar.
Para tal, introduziremos os conceitos de oscilação de uma função em um ponto e de con-
juntos de medida nula, com os quais iremos trabalhar nessa nova caracterização que estamos
buscando.

Oscilação de uma função em um ponto:

Seja f : X ⊂ IRm → IR uma função limitada. Fixemos x ∈ X .


Para cada δ > 0 , consideremos

wf (x; δ) = wf [X ∩ B(x; δ)] = w(f ; X ∩ B(x; δ) )

(oscilação de f no conjunto X ∩ B(x; δ) )

Nos interessa fazer δ → 0 .

É claro que wf (x; δ) , como função de δ , é monótona (não-decrescente).


É também óbvio que 0 ≤ wf (x; δ) ≤ wf = wf (X) ∀ δ > 0 .

Existe o limite
wf (x) = lim wf (x; δ) = inf wf (x; δ) ,
δ→0 δ>0

que definimos como a OSCILAÇÃO DE f NO PONTO x.

Algumas propriedades:

• wf (x) ≥ 0 ∀x∈X.
(ex)
• wf (x) = 0 se, e somente se, f é contı́nua no ponto x.
(ex)
• Se x ∈ int Y e Y ⊂ X , então wf (x) ≤ wf (Y ) .
94 CAPÍTULO 5

Conjuntos de medida nula:

Definição 5.13. (Conjuntos de medida nula)


Dizemos que um conjunto X ⊂ IRm tem MEDIDA NULA quando, para cada  > 0 ,
[
é possı́vel obter uma cobertura (enumerável) X ⊂ Ak de X por blocos m-dimensionais
X k∈IN
abertos Ak tais que a soma de seus volumes é vol. Ak <  .
k

Observações:
- Um BLOCO m-DIMENSIONAL ABERTO é um produto cartesiano
m
Y
A= (ai , bi ) = (a1 , b1 ) × . . . × (am , bm ) ⊂ IRm (ai < bi ∀ i)
i=1

m
Y
de m intervalos abertos e limitados (ai , bi ) , e cujo volume é dado por vol. A = (bi − ai ) .
i=1

- Na definição de conjunto de medida nula podemos usar também blocos fechados.


- Todo conjunto finito tem medida nula.
- Todo conjunto enumerável tem medida nula.
- O conjunto (usual) de Cantor K ⊂ IR (não-enumerável) tem medida nula. (Existem
“Conjuntos de Cantor” de medida positiva)

Algumas propriedades:
• Todo subconjunto de um conjunto de medida nula tem também medida nula.
• Toda REUNIÃO ENUMERÁVEL de conjuntos de medida nula é ainda um conjunto
(?)
de medida nula.
• Seja A ⊂ IRm um bloco m-dimensional.
[
Dada qualquer cobertura enumerável A ⊂ Ak de X por blocos abertos Ak tem-se
X k∈IN
(ex)
vol. Ak ≥ vol. A > 0 . Em particular, A não tem medida nula.
k
(?)
• Se X ⊂ IRm tem medida nula, então int X = φ .
• Se X ⊂ IRm tem medida nula e f : X → IRm é localmente lipschitziana, então f (X)
(ex)
tem medida nula.
Integrais Múltiplas 95

Caracterização das funções integráveis (em blocos)

Teorema 5.14. (Lebesgue)


Uma função f : A → IR , limitada no bloco m-dimensional A ⊂ IRm , é integrável (em A)
se, e somente se, o conjunto Df dos seus pontos de descontinuidade tem medida nula.

Demonstração:
(⇐) Suponhamos que Df = { x ∈ A ; f é descontı́nua em x } tenha medida nula.
Seja dado  > 0 .
Se w = supf {A} − inf f {A} é a oscilação de f em A, temos que existe uma coleção
enumerável {Dk } de blocos m-dimensionais abertos Dk tais que
[ X 
Df ⊂ Dk e vol. cl Dk < .
k k
2w

Por outro lado, dado x ∈ A\Df (f é contı́nua em x), temos que existe δx > 0 tal que

wf [ A ∩ B(x; δx ) ] < .
2 vol. A

Consideremos então um bloco m-dimensional aberto Cx tal que x ∈ Cx e cl Cx ⊂ B(x; δx ).


[ [
É imediato que A ⊂ Dk ∪ Cx é cobertura aberta do conjunto compacto A .
k x6∈Df

Essa cobertura admite portanto uma subcobertura finita

A ⊂ Dk1 ∪ . . . ∪ Dkm ∪ Cx1 ∪ . . . ∪ Cxl

Consideremos agora a partição P do bloco A obtida “prolongando-se as faces dos blocos


da subcobertura acima”.
96 CAPÍTULO 5

Vamos denotar por Bα os blocos da partição P que estão contidos em algum cl Dk


original e por Bβ os demais blocos da partição P .
Temos então:
X X X
S(f ; P ) − s(f ; P ) = wi · vol. Bi = wα · vol. Bα + wβ · vol. Bβ ≤
i α β
X X 
= w · vol. Bα + · vol. Bβ =
α β
2 vol. A
X  X
= w· vol. Bα + · vol. Bβ <
α
2 vol. A β
X 
= w· vol. cl Dk + · vol. A <
2 vol. A

 
< w· + · vol. A = 
2w 2 vol. A

Segue do Teorema 5.9 que f é integrável.

(⇒) Suponhamos agora que a função limitada f : A → IR seja integrável.


Seja Df o conjunto dos pontos de descontinuidade de f .
Queremos mostrar que Df tem medida nula.
 
1
Para cada k ∈ IN , definimos: Dk = x ∈ A ; wf (x) ≥ .
k
Temos então: [
Df = Dk .
k

Se mostrarmos que cada Dk tem medida nula, é claro que Df também terá medida nula.

Fixemos portanto k ∈ IN .

Seja dado  > 0 .


Como f é integrável, é possı́vel obter uma partição P do bloco A tal que

X 
wB · vol. B < .
B∈P
2k
Integrais Múltiplas 97

Vamos denotar por Bα os blocos da partição P que têm algum ponto de Dk no seu
interior.
[
Consideremos também o conjunto F = fr B .
B∈P

É claro que [
Dk ⊂ Bα ∪ F .
α
[ (?)
O conjunto F = fr B tem medida nula (verifique) e portanto existe uma coleção
B∈P

enumerável {Cβ } de blocos m-dimensionais tais que


[ X 
F ⊂ Cβ e vol. Cβ < .
β β
2

1
Para cada um dos blocos Bα , temos wBα ≥ pois cada um desses blocos tem um ponto
k
de Dk no seu interior.
Temos então
1 X X X 
vol. Bα ≤ wBα · vol. Bα ≤ wB · vol. B < ,
k α α B∈P
2k

de onde tiramos: X 
vol. Bα < .
α
2

Juntando os resultados obtidos, obtemos finalmente:

[ [
Dk ⊂ Bα ∪ Cβ , com
α β

X X
vol. Bα + vol. Cβ <  .
α β

Logo Dk tem medida nula (para todo k ∈ IN ) e podemos concluir portanto que

[
Df = Dk tem medida nula.
k
98 CAPÍTULO 5

5.3 Integrabilidade em domı́nios mais gerais

Volume segundo Jordan (Conjuntos J-mensuráveis)

Definição 5.15. (Funções caracterı́sticas)


A FUNÇÃO CARACTERÍSTICA do subconjunto X ⊂ Y é a função χX : Y → IR dada
(
1 se x ∈ X
por χX (x) =
0 se x 6∈ X

Definição 5.16. (Conjuntos J-mensuráveis e seus volumes)


Um conjunto limitado X ⊂ IRm é dito J-MENSURÁVEL quando, tomando-se um bloco
m-dimensional A ⊂ IRm com X ⊂ A , a função caracterı́stica χX : A → IR; é integrável.
Neste caso (X J-mensurável) definimos o VOLUME de X pondo
Z
vol. X = χX (x) dx
A

Teorema 5.17. Um conjunto limitado X ⊂ IRm é J-mensurável se, e somente se, sua
fronteira fr X tem medida nula.

Demonstração:
Integrais Múltiplas 99

Exemplos e observações:

• É imediato a partir do Teorema anterior que o fato de um conjunto X ⊂ IRm ser


J-mensurável (bem como o valor de seu volume) independe do bloco A ⊃ X tomado na
definição.

• Todo bloco m-dimensional A ⊂ IRm é J-mensurável e seu volume segundo Jordan


(ex)
coincide com o volume antes definido apenas para blocos m-dimensionais no IRm .

• Considerando que toda variedade diferenciável M ⊂ IRm de classe C 1 e dimensão


< m tem medida nula (por exemplo, as superfı́cies regulares que estudamos anteriormente,
são variedades diferenciáveis de classe C ∞ e dimensão 2 no IR3 ), podemos concluir:

Um conjunto limitado X ⊂ IRm cuja fronteira é uma reunião enumerável de variedades


diferenciáveis de classe C 1 e dimensões < m é J-mensurável.

Em particular, toda bola (aberta ou fechada) no IRm é J-mensurável, pois sua fronteira é
uma esfera de dimensão m − 1 .

• Se X ⊂ IRm é J-mensurável, temos:


(ex)
vol. X = 0 ⇔ X tem medida nula ⇔ int X = φ

(?)
Em geral, X ⊂ IRm pode ter medida nula sem ser J-mensurável.
(?)
Em geral, X ⊂ IRm pode ter interior vazio sem ter medida nula.

(?)
Teorema 5.18. Sejam X, Y subconjuntos J-mensuráveis do bloco A ⊂ IRm . Então:
a) X ∪ Y , X ∩ Y e A\X são J-mensuráveis;
b) vol. (X ∪ Y ) + vol. (X ∩ Y ) = vol. X + vol. Y .

Corolário 1. Se X e Y são J-mensuráveis e int (X ∩ Y ) = φ então

vol. (X ∪ Y ) = vol. X + vol. Y .


100 CAPÍTULO 5

Integração em domı́nios J-mensuráveis

Definição 5.19. (Integrabilidade em domı́nios J-mensuráveis)


Seja f : X → IR uma função limitada no conjunto J-mensurável X ⊂ IRm .
Consideremos um bloco A ⊂ IRm que contenha X e a extensão de f a uma função
(
f (x) se x ∈ X
fe : A → IR dada por fe(x) = .
0 se x ∈ A\X

Dizemos que f : X → IR é INTEGRÁVEL quando a função fe : A → IR dada acima for


integrável e definimos Z Z
f (x) dx = fe(x) dx
X A

Teorema 5.20. (Caracterização das funções integráveis)


Seja X ⊂ IRm um conjunto J-mensurável.
Uma função limitada f : X → IR é integrável se, e somente se, o conjunto Df de seus
pontos de descontinuidade tem medida nula.

Demonstração:
Se f é descontı́nua em x ∈ X , então fe também é descontı́nua em x. Daı́ segue Df ⊂ Dfe .
Se fe é descontı́nua em x, então x ∈ Df ou x ∈ fr X . Logo Dfe ⊂ Df ∪ fr X .

Podemos escrever portanto

Df ⊂ Dfe ⊂ Df ∪ fr X .

Como fr X tem medida nula (X é J-mensurável), temos que

Df tem medida nula ⇔ Dfe tem medida nula

e o resultado segue.

Note que, a partir da demonstração acima, a integrabilidade de f não depende do bloco


A ⊃ X tomado para a construção da extensão fe .

Mostra-se também que o valor da integral não depende do bloco A ⊃ X tomado para a
(ex)
construção da extensão fe .
Integrais Múltiplas 101

Teorema 5.21. Sejam f, g : X → IR integráveis no conjunto J-mensurável X ⊂ IRm .


Então:

(a) A função f + g : X → IR é integrável e


Z Z Z
[f (x) + g(x)] dx = f (x) dx + g(x) dx
X X X

(b) Para todo c ∈ IR , a função c · f : X → IR é integrável e


Z Z
(c · f )(x) dx = c · f (x) dx
X X

Z Z
(c) Se f (x) ≥ g(x) para todo x ∈ X então f (x) dx ≥ g(x) dx .
X X

Em particular, se m ≤ f (x) ≤ M para todo x ∈ X então


Z
m · vol. X ≤ f (x) dx ≤ M · vol. X .
X

(d) A função |f (x)| é integrável e


Z Z

f (x) dx ≤ |f (x)| dx .

X X

Em particular, se |f (x)| ≤ K para todo x ∈ X então


Z

f (x) dx ≤ K · vol. X .

X

(e) (Valor médio para integrais) Se f é contı́nua e X é conexo, então existe c ∈ X tal que
Z
f (x) dx = f (c) · vol. X .
X

Teorema 5.22. Sejam X, Y ⊂ IRm conjuntos J-mensuráveis. Uma função f : X ∪ Y → IR


é integrável se, e somente se, suas restrições a X e a Y são integráveis. Em caso afirmativo,
temos Z Z Z Z
(?)
f (x) dx + f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx
X∪Y X∩Y X Y

Corolário 1. Seja f : X → IR integrável no conjunto J-mensurável X ⊂ IRm .


Z Z
(ex)
Se Y ⊂ X é J-mensurável e X\Y tem interior vazio, então f (x) dx = f (x) dx .
X Y
102 CAPÍTULO 5

5.4 Somas de Riemann

Definição 5.23. (Decomposições pontilhadas)


Seja X ⊂ IRm um conjunto J-mensurável.

Uma DECOMPOSIÇÃO de X é uma coleção finita D = {X1 , X2 , . . . , Xk } de conjuntos


J-mensuráveis tais que X = X1 ∪ . . . ∪ Xk e int (Xi ∩ Xj ) = φ se i 6= j .
A NORMA da decomposição D é o número kDk = maior diâmetro dos conjuntos Xi ∈ D .

Uma DECOMPOSIÇÃO PONTILHADA de X é um par D∗ = ( D, (ξi ) ) , onde


D = X1 ∪ X2 ∪ . . . ∪ Xk é uma decomposição de X ,
ξ1 ∈ X1 , ξ2 ∈ X2 , . . . , ξk ∈ Xk .

Definição 5.24. (Somas de Riemann)


A SOMA DE RIEMANN de f relativamente à decomposição pontilhada D∗ = ( D, (ξi ) )
é definida por
X k
X
(f ; D∗ ) = f (ξi ) · vol. Xi .
i=1

O principal objetivo desta seção é provar o seguinte resultado:

Teorema 5.25. (A integral como limite de somas de Riemann)


Seja f : X → IR uma função limitada no conjunto J-mensurável X ⊂ IRm .
X
A fim de que f seja integrável é necessário e suficiente que exista o limite I = lim (f ; D∗ ) .
kDk→0

No caso afirmativo, temos


Z X
f (x) dx = lim (f ; D∗ ) .
X kDk→0

Obs.: A existência do limite acima significa que, para cada  > 0 dado, é possı́vel obter
δ > 0 tal que Z
X



f (x) dx − (f ; D ) < 
X

seja qual for a decomposição D de X com kDk < δ e seja qual for a maneira D∗ de pontilhar
essa decomposição.
Integrais Múltiplas 103

Para demonstrar o Teorema 5.25, utilizaremos os seguintes resultados:

Lema 5.26. Sejam Y ⊂ X ⊂ IRm J-mensuráveis, com vol. Y = 0 . Para todo  > 0 dado,
existe δ > 0 tal que, se D é qualquer decomposição de X com |D| < δ então a soma dos
volumes dos conjuntos Xi ⊂ D tais que d(Xi , Y ) < δ é menor do que  .

Teorema 5.27. Para toda função f : X → IR , limitada no conjunto J-mensurável X ⊂ IRm ,


tem-se
Z Z−
f (x) dx = lim s(f ; D) e f (x) dx = lim S(f ; D)
|D|→0 |D|→0
−X X

Corolário 1. (da demonstração) Se f : X → IR é limitada e não-negativa no conjunto


J-mensurável X ⊂ IRm então
Z Z−
f (x) dx = sup s(f ; D) e f (x) dx = inf S(f ; D)
D D
−X X

Demonstração do Teorema 5.25:


104 CAPÍTULO 5

Outro resultado que nos será útil no futuro é o ...

Corolário 1. (Lema de Duhamel) Seja f : X → IR integrável no conjunto J-mensurável


X ⊂ IRm . Para cada decomposição D = {X1 , . . . , Xk } de X, suponhamos dados números
η1 = η1 (D), . . . , ηk = ηk (D) tais que lim ηi = 0 .
|D|→0

(isto significa que, para qualquer  > 0 dado, pode-se obter δ > 0 tal que |D| < δ ⇒
|ηi (D)| <  ∀ i = 1, . . . , k ).
Nestas condições, tem-se
X Z
lim [f (ξi ) + ηi ] vol. Xi = f (x) dx
|D|→0 X
Integrais Múltiplas 105

5.5 Integração repetida

Teorema 5.28. (Teorema da integração repetida) Seja f : A1 × A2 → IR integrável no


produto dos blocos A1 ⊂ IRm e A2 ⊂ IRn . Para todo x ∈ A1 , seja fx : A2 → IR definida
por fx (y) = f (x, y) e ponhamos
Z Z−
ϕ(x) = fx (y) dy , ψ(x) = fx (y) dy .
− A2 A2

As funções ϕ , ψ : A1 → IR assim definidas são integráveis, com


Z Z Z
ϕ(x) dx = ψ(x) dx = f (x, y) dxdy , isto é
A1 A1 A1 ×A2

Z Z Z ! Z Z− !
f (x, y) dxdy = f (x, y) dy dx = f (x, y) dy dx
A1 ×A2 A1 − A2 A1 A2

Demonstração:
106 CAPÍTULO 5

Corolário 1. Se f : A1 × A2 → IR é integrável então


Z Z− ! Z Z− ! Z
f (x, y) dy dx = f (x, y) dx dy = f (x, y) dxdy e
A1 A2 A2 A1 A1 ×A2

valem mais 3 igualdades análogas, que se obtêm tomando outras integrais inferiores e superiores
dentro dos parênteses.

Em particular, se fx e fy são contı́nuas para quaisquer x ∈ A1 e y ∈ A2 (por exemplo,


se f é contı́nua) então
Z Z Z  Z Z 
f (x, y) dxdy = f (x, y) dy dx = f (x, y) dx dy
A1 ×A2 A1 A2 A2 A1

5.6 Mudança de variáveis

Lema 5.29. Sejam ϕ : IR → IR dada por ϕ(x) = αx + β , com α 6= 0 e I ⊂ IR um


intervalo compacto. Dada f : J → IR limitada no intervalo J = ϕ(I) , tem-se
Z− Z−
f (y) dy = f (αx + β) |α| dx
J I

Corolário 1. Sejam Y ⊂ IR um conjunto arbitrário, [a, b] um intervalo contendo Y e sua


imagem ϕ(Y ) (onde ϕ(x) = αx + β ) e f : [a, b] → IR uma função limitada que se anula fora
de ϕ(Y ). Então
Z−b Z−b
f (y) dy = f (αx + β) |α| dx
a a
Integrais Múltiplas 107

Exercı́cio∗ : Mostre que toda transformação linear invertı́vel T : IRm → IRm se exprime
como produto (composição) de transformações elementares (e invertı́veis) dos dois tipos abaixo:
Tipo 1: x = (x1 , x2 , . . . , xm ) 7→ T1 (x) = (ϕ(x), x2 . . . . , xm ) sendo ϕ ∈ (IRm )∗ ;
Tipo 2: x = (x1 , . . . , xi , . . . , xj , . . . , xm ) 7→ T2 (x) = (x1 , . . . , xj , . . . , xi , . . . , xm ) .

Teorema 5.30. (Caso linear) Sejam T : IRm → IRm uma transformação linear invertı́vel,
X ⊂ IRm um conjunto J-mensurável e f : T (X) → IR uma função integrável. Então
Z Z
f (y) dy = f (T x). |det T | dx
T (X) X

Demonstração:
108 CAPÍTULO 5

Corolário 1. Seja X ⊂ IRm um conjunto J-mensurável. Para toda transformação linear


T : IRm → IRm tem-se
vol. T (X) = |det T | . vol. X

Lema 5.31. Sejam X(compacto) ⊂ U (aberto) ⊂ IRm e ϕ : U × U → IR contı́nua, com


ϕ(x, x) = 1 para todo x ∈ X . Dado  > 0 , pode-se obter δ > 0 tal que |ϕ(x, y) − 1| < 
quaisquer que sejam x, y ∈ X com |y − x| < δ .
Integrais Múltiplas 109

Lema 5.32. Sejam U, V ⊂ IRm abertos, h : U → V um difeomorfismo de classe C 1 ,


X ⊂ U um compacto J-mensurável e N = N (h; X) = sup { | h0 (x)| ; x ∈ X } .
Então h(X) é J-mensurável e vol. h(X) ≤ N m · vol. X .
110 CAPÍTULO 5

Teorema 5.33. (Teorema de mudança de variáveis) Sejam h : U → V um difeomorfismo de


classe C 1 entre abertos U, V ⊂ IRm , X ⊂ U um compacto J-mensurável e f : h(X) → IR
uma função integrável.
Então f ◦ h : X → IR é integrável e
Z Z
f (y) dy = f (h(x)). |det h0 (x)| dx
h(X) X

Demonstração:
Integrais Múltiplas 111
112 CAPÍTULO 5

5.7 Exercı́cios

1. Se P = P1 × . . . × Pm e Q = Q1 × . . . × Qm são partições de um bloco m-dimensional


A ⊂ IRm , temos P ⊂ Q se, e somente se, P1 ⊂ Q1 , . . . , Pm ⊂ Qm .

2. Se P e Q são partições do bloco A ⊂ IRm com P ⊂ Q e f : A → IR é uma função


limitada, então
s(f ; P ) ≤ s(f ; Q) ≤ S(f ; Q) ≤ S(f ; P )

3. Seja A ⊂ IRm um bloco m-dimensional. Use o Teorema 5.9 para provar que toda função
contı́nua f : A → IR é integrável.

4. Sejam f : X ⊂ IRm → IR uma função limitada, x ∈ X e wf (x) a OSCILAÇÃO DE f


NO PONTO x. Mostre que:
(a) wf (x) = 0 se, e somente se, f é contı́nua no ponto x.
(b) Se x ∈ int Y e Y ⊂ X , então wf (x) ≤ wf (Y ) .

5. Seja A ⊂ IRm um bloco m-dimensional. Mostre: Dada qualquer cobertura enumerável


[ X
A⊂ Ak de X por blocos abertos Ak tem-se vol. Ak ≥ vol. A > 0 . Em particular,
k∈IN k

A não tem medida nula.

6. Se X ⊂ IRm tem medida nula e f : X → IRm é localmente lipschitziana, então f (X)


tem medida nula.

7. Se f, g : A → IR são funções integráveis no bloco m-dimensional A ⊂ IRm , prove que o


produto f.g é integrável em A e vale a desigualdade de Schwarz
Z 2 Z Z
2
f (x).g(x) dx ≤ f (x) dx · g(x)2 dx .
A A A

8. Prove que todo bloco m-dimensional A ⊂ IRm é J-mensurável e seu volume segundo
Jordan coincide com o volume antes definido apenas para blocos m-dimensionais no IRm .

9. Se X ⊂ IRm é J-mensurável, mostre que

vol. X = 0 ⇔ X tem medida nula ⇔ int X = φ

10. Se X ⊂ IRm tem volume zero, mostre que o mesmo ocorre com cl X . E medida nula ?
Integrais Múltiplas 113

11. Se uma seqüência de funções fk : A → IR , integráveis no bloco m-dimensional A ⊂ IRm ,


converge uniformemente para uma função f : A → IR então f é integrável em A e
Z Z
lim fk (x) = f (x) dx .
k→∞ A A

12. Se f : A → IR é integrável no bloco m-dimensional A ⊂ IRm então, para todo δ > 0 , o


conjunto Eδ = { x ∈ A ; ω(f ; x) ≥ 0 } tem volume zero.

13. Seja h : U → V um difeomorfismo de classe C 1 entre abertos U, V ⊂ IRm .


Mostre que X ⊂ U é J-mensurável se, e somente se, Y = h(X) é J-mensurável.

14. Seja f : X → IR uma função integrável no conjunto J-mensurável X ⊂ IRm .


Mostre que o valor da integral,
Z Z
f (x) dx = fe(x) dx
X A

não depende do bloco m-dimensional A ⊃ X tomado para a construção da extensão fe .

15. Sejam f : X → IR contı́nua, limitada no conjunto J-mensurável X ⊂ IRm e x0 ∈ X .


Para cada n ∈ IN seja Xn um conjunto J-mensurável de volume positivo tal que
Xn ⊂ X ∩ B(x0 ; 1/n) . Prove que
Z
1
lim f (x) dx = f (x0 ) .
n→∞ vol. Xn Xn

16. Seja f : X → IR integrável no conjunto J-mensurável X ⊂ IRm . Prove:


Z Z
Se Y ⊂ X é J-mensurável e X\Y tem interior vazio, então f (x) dx = f (x) dx .
X Y

17. Seja T2 : IRm → IRm uma transformação linear do tipo

x = (x1 , . . . , xi , . . . , xj , . . . , xm ) 7→ T2 (x) = (x1 , . . . , xj , . . . , xi , . . . , xm ) .

Se B ⊂ IRm é um bloco m-dimensional, é claro que vol. T2 (B) = vol. B . Mostre que:
(a) Z ⊂ IRm J-mensurável ⇒ vol. T2 (Z) = vol. Z
(b) X = X1 ∪ X2 ∪ . . . ∪ Xk é uma decomposição de X se, e somente se, temos que
Y = T2 (X) = T2 (X1 ) ∪ T2 (X2 ) ∪ . . . ∪ T2 (Xk ) é uma decomposição de Y = T2 (X) .

18. Sejam ϕ : [a, b] → IR e ψ : [c, d] → IR integráveis. A função f : [a, b] × [c, d] → IR ,


definidano retângulo A = [a, b] × [c, d] por f (x, y) = ϕ(x).ψ(y) é integrável e
Z Z b  Z d 
f (x, y) dxdy = ϕ(x) dx . ψ(y) dy .
A a c
114 CAPÍTULO 5

19. Supondo o Teorema de Mudança de Variáveis (Teo 5.33) válido apenas para funções não-
negativas, prove o resultado geral (ou seja, mostre que em sua demonstração podemos supor
f ≥ 0 SEM PERDA DE GENERALIDADE).

20. Sejam f : U (aberto) ⊂ IRm → IRm ∈ C 1 (U ) e a ∈ U tais que f 0 (a) é um isomorfismo.


Mostre que
vol. f (B[a; r])
lim = | det f 0 (a) | .
r→0 vol. B[a; r]

21. Seja f : IRm → IRm um difeomorfismo tal que f (B) ⊂ B , onde B é a bola unitária
fechada do IRm , e | det f 0 (x) | < 1 para todo x ∈ B .
Prove que, para toda função contı́nua g : B → IR tem-se
Z
lim g(x) dx = 0 onde f n = f ◦ f ◦ . . . ◦ f (n fatores)
n→∞ f n (B)

22. Sejam B4 a bola unitária fechada (norma euclidiana) no IR4 e B3 a bola análoga em IR3 .
(a) Use coordenadas polares para calcular o volume de B3 .
(b) Usando coordenadas esféricas, mostre que vol. B4 = π 2 /2 e generalize para obter o
volume de uma bola fechada de raio r em IR4 .
Referências

[1] Bartle, Robert G., Elementos de Análise Real, Editora Campus

[2] Lima, Elon L., Curso de Análise, vol. 2, Projeto Euclides, IMPA

[3] Lima, Elon L., Análise no Espaço IRn , Editora Edgard Blücher LTDA.

[4] Lima, Elon L., Análise Real, vol. 2, Coleção Matemática Universitária, IMPA

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