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ANAIS
DO

III SIMPÓSIO DE ENTOMOLOGIA DO RIO DE JANEIRO

FICHA CATALOGRÁFICA FEITA PELOS COORDENADORES

D111a Da-Silva, Elidiomar Ribeiro, 1967-


Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro –
EntomoRio / Elidiomar Ribeiro Da-Silva. – Rio de Janeiro: Perse,
2016. 190 f.
ISBN 978-85-464-0221-2
1. Zoologia. 2. Entomologia.
I. Título. II. Autor

CDD: 595.7
CDU: 59

1. Ciência da Informação. 2. Administração.


I. Título.
i

UNIPÊ / BC CDU - 658:004


Ministério da Educação
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Instituto de Biociências

ANAIS
DO

III SIMPÓSIO DE ENTOMOLOGIA DO RIO DE JANEIRO

ARTIGOS COMPLETOS
Ano da publicação: 2016

Organizado por:

Elidiomar Ribeiro da Silva


Maria Inês da Silva dos Passos
Departamento de Zoologia,
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

Valéria Magalhães Aguiar


Claudia Soares Santos Lessa
Departamento de Parasitologia e Microbiologia,
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

Luci Boa Nova Coelho


Departamento de Zoologia,
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

ii
III SIMPÓSIO DE ENTOMOLOGIA DO RIO DE JANEIRO

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro


Reitor
Luiz Pedro San Gil Jutuca

Vice-Reitor
Ricardo Silva Cardoso

Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa


Evelyn Goyannes Dill Orrico

Pró-Reitor de Graduação
Alcides Wagner Serpa Guarino

Instituto de Biociências
Diretor
Carlos Henrique Soares Caetano

Local de realização do evento: Auditório Tércio Pacitti - IBIO / CCET


Avenida Pasteur 458 – Urca – Rio de Janeiro, RJ
Data: 01 a 03 de setembro de 2015

Organização e realização do evento:


Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Fomento:

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)


Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ)

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III SIMPÓSIO DE ENTOMOLOGIA DO RIO DE JANEIRO

Coordenadora do III EntomoRio Cauan Augusto de Oliveira


Maria Inês da Silva dos Passos (UNIRIO) Antunes (FIOCRUZ)
Derek Godoy (UNIRIO)
Fernanda Avelino C. da Silva (UFRJ)
Comissão organizadora do evento Flávia Souza da Motta (FIOCRUZ)
Ângela Alves de Almeida (UFRRJ) Francisco E. de Lima Nascimento (UFRJ)
Cláudia Soares Santos Lessa (UNIRIO) Higor Tomaz Teixeira de Castro (UNIRIO)
Elidiomar Ribeiro da Silva (UNIRIO) Isabelle da Rocha Silva Cordeiro (FIOCRUZ)
Felipe Ferraz Figueiredo Moreira (FIOCRUZ) Juliana Mourão S. Rodrigues (FIOCRUZ)
Gabriel Luis Figueira Mejdalani (UFRJ) Laura Pires Stallone (UNIRIO)
José Ricardo Miras Mermudes (UFRJ) Lidiane Coelho Berbert (UEZO)
Marcela Laura Monné Freire (UFRJ) Mariana Freire Campos (UNIRIO)
Márcio Eduardo Felix (FIOCRUZ) Rafaela Pereira de Carvalho (UNIRIO)
Maria Inês da Silva dos Passos (UNIRIO) Raquel Leite Wainfas (FIOCRUZ)
Nelson Ferreira-Jr (UFRJ) Sávio Cavalcante (UNIRIO)
Ronaldo Figueiró Portella Pereira (UEZO) Stephanie Vaz Nogueira Campos (UFRJ)
Valéria Magalhães Aguiar (UNIRIO) Tatiana Cristina da Silveira (UFRJ)
Tatiana Nascimento Docile (UFRJ)
Thaiane Franklin da Silva (UEZO)
Thiago Rodas Müller de Campos (UNIRIO)
Comitê científico do evento
Thiago Xisto de Oliveira (UFRJ)
Gabriel Luis Figueira Mejdalani (UFRJ)
Virgínia Codá (UNIRIO)
Leonardo Henrique Gil Azevedo (UFRJ)
Wagner Rafael Maciel de Souza (UFRJ)
Nelson Ferreira-Jr (UFRJ)
Wellington Thadeu A. Azevedo (UNIRIO)

Equipe de apoio do evento Editoração e administração Web


Adriana Leal de Figueiredo (UNIRIO)
Felipe Ferraz Figueiredo Moreira (FIOCRUZ)
Aline Amanda Sampaio (UFRJ)
Ana Carolina Neves (UFRJ)
André Silva Roza (UFRJ)
Angelina Pimentel Vieira (UFRJ) Revisão dos resumos do evento
Bernardo Egito Amarante (UNIRIO) Márcio Eduardo Felix (FIOCRUZ)

iv
III SIMPÓSIO DE ENTOMOLOGIA DO RIO DE JANEIRO

Apresentação

O Estado do Rio de Janeiro abriga um grande número de instituições que realizam pesquisas
científicas sobre insetos, com a orientação de muitos estudantes de graduação e pós-graduação. O
Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro congrega professores, pesquisadores e estudantes de
diferentes áreas, todos interessados em questões relativas à Entomologia, para a divulgação de
pesquisas e troca de experiências, promovendo a integração das instituições fluminenses. Seguindo-
se a filosofia das duas primeiras edições, realizadas respectivamente no Museu Nacional/UFRJ e na
FIOCRUZ, o III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro teve por objetivo oferecer ao público uma
abordagem multidisciplinar, promover o debate e divulgar as variadas linhas de pesquisa em
andamento nas diversas instituições nacionais, especialmente do Estado do Rio de Janeiro.

As linhas das pesquisas apresentadas no evento abrangem taxonomia, sistemática, evolução,


morfologia, biologia molecular, diversidade, ecologia, bioindicadores, zoologia cultural, divulgação
científica, dentre outras, envolvendo sempre a temática dos insetos e outros artrópodes classicamente
incluídos em eventos de Entomologia. Nesse sentido, promove-se uma maior interação entre os
diferentes grupos de pesquisa de diversas instituições, tais como UFRJ, UERJ, UNIRIO, UFRRJ,
UEZO e FIOCRUZ. O evento visa gerar a discussão de problemas de interesse comum aos
entomólogos, fornecendo assim propostas para suas soluções. Também objetiva atrair mais
estudantes de graduação interessados em realizar sua iniciação científica em entomologia e contribuir
para a formação de novos pesquisadores. Por sinal, pela primeira vez o evento foi realizado em um
local mais dedicado à graduação.

Diante do sucesso do III EntomoRio, e face à qualidade dos resumos apresentados, concretizou-se a
ideia de se organizar um documento com artigos completos, feitos com base nos temas livres e
palestras apresentados. E o resultado é a presente publicação, que consiste no relato de pesquisas a
partir de duas das palestras proferidas e mais quinze artigos elaborados por autores de resumos
apresentados no evento. Como introdução, há um artigo que analisa comparativamente os
quantitativos de temas, autores e instituições entre as três edições já realizadas do Simpósio de
Entomologia do Rio de Janeiro.

Comissão Editorial dos Anais do III EntomoRio

v
Revisão dos artigos

Todos os artigos foram avaliados pela comissão científica quanto aos critérios de formato e conteúdo,
conforme regulamento divulgado. Os artigos deveriam conter resultados de atividades de pesquisa
em Entomologia. O conteúdo dos artigos é de inteira responsabilidade dos respectivos autores.

Pareceristas “ad hoc”

Adauto Maurício Tavares


Alexandre Silva de Paula
Christina Wyss Catelo Branco
David Martins
Eduardo Assis Abrantes
Francisco Fernando Lamego Simões Filho
Jacenir Mallet
José Cola Zanúncio
Laura Rocha Prado
Lívia Maria Silva Ataíde
Lucas Ramos Costa Lima
Luciano de Azevedo Moura
Marcos Rafael Gusmão
Tiago Cardoso da Costa Lima
Paschoal Coelho Grossi
Paulo Sérgio Fiuza Ferreira
Rafael Boldrini
Wilson Sampaio de Azevedo Filho

vi
SUMÁRIO

A CIENCIOMETRIA DO ENTOMORIO – UM BREVE RETRATO DA PESQUISA ENTOMOLÓGICA NO ESTADO DO RIO


DE JANEIRO ............................................................................................................................................................ Pág. 002

ENSINAR E APRENDER CIÊNCIAS E BIOLOGIA COM OS INSETOS ................................................................... Pág. 012

ZOOLOGIA CULTURAL, COM ÊNFASE NA PRESENÇA DE PERSONAGENS INSPIRADOS EM ARTRÓPODES NA


CULTURA POP ........................................................................................................................................................ Pág. 024

SINOPSE DAS ESPÉCIES DE Eurysternus DALMAN, 1824 (COLEOPTERA, SCARABAEIDAE, SCARABAEINAE,


ONITICELLINI) DO PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA, SUDESTE DO BRASIL
.................................................................................................................................................................................. Pág. 036

INVENTÁRIO DAS ESPÉCIES DE Grammodesma ACHARD, 1923 (COLEOPTERA: CHRYSOMELIDAE:


CHRYSOMELINAE) OCORRENTES NO PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA, SUDESTE DO BRASIL
.................................................................................................................................................................................. Pág. 056

REDESCRIÇÃO DA FÊMEA DE Planicephalus flavicosta (STÅL, 1862) (HEMIPTERA: CICADELLIDAE)


.................................................................................................................................................................................. Pág. 062

PRIMEIRO REGISTRO DO GÊNERO Leptogaster MEIGEN, 1803 (DIPTERA: ASILIDAE) NO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO E SUA ABUNDÂNCIA NA RESERVA BIOLÓGICA DA UNIÃO (RJ, BRASIL)
.................................................................................................................................................................................. Pág. 070

FLUTUAÇÃO POPULACIONAL DE Campsurus truncatus ULMER, 1920 (EPHEMEROPTERA: POLYMITARCYIDAE) NA


MATA DO PARAÍSO, VIÇOSA, MINAS GERAIS ...................................................................................................... Pág. 077

Balclutha hebe KIRKALDY, 1906 AND Curtara atomaria (STÅL, 1862), NON-SEASONAL LEAFHOPPERS IN A
SEASONAL ENVIRONMENT (HEMIPTERA: CICADELLIDAE) ………………………………………………………… Pág. 084

POPULATION DYNAMICS OF CICADELLIDAE AND DELPHACIDAE (HEMIPTERA) IN AN URBAN ENVIRONMENT OF


THE RIO DE JANEIRO CITY ………………………………………………………………………………………….…….. Pág. 091

FLUTUAÇÃO POPULACIONAL DE Singhiella simplex (SINGH, 1931) (HEMIPTERA: ALEYRODIDAE) EM AMBIENTE


URBANO DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO ..................................................................................................... Pág. 101

INFLUÊNCIA DA LUZ E DO RELÓGIO BIOLÓGICO NA ATIVIDADE DE OVIPOSIÇÃO DO MOSQUITO VETOR Aedes


aegypti (LINNAEUS, 1762) (DIPTERA: CULICIDAE) - OBSERVAÇÕES PRELIMINARES ...................................... Pág. 109

APLICAÇÃO DA ENTOMOLOGIA FORENSE EM CASOS JUDICIAIS NO PROJETO O JÚRI E A PERÍCIA ......... Pág. 120

ESTUDOS MORFOLÓGICOS PARA CARACTERIZAR INDIVÍDUOS TOTIPOTENTES EM COLÔNIAS DE Cryptotermes


brevis (WALKER, 1953) (DICTYOPTERA: ISOPTERA: KALOTERMITIDAE) .......................................................... Pág. 126

COMPOSIÇÃO DE ELMIDAE (INSECTA: COLEOPTERA) EM UM RIACHO DO PARQUE NACIONAL DA TIJUCA, RIO


DE JANEIRO, RJ, BRASIL ........................................................................................................................................ Pág. 138

BESOUROS (COLEOPTERA) ATRAÍDOS POR LUMINÁRIAS EM LOCALIDADES SERRANAS URBANIZADAS NO


INTERIOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ....................................................................................................... Pág. 144

CONTRIBUIÇÃO AO CONHECIMENTO DA MORFOLOGIA E TAXONOMIA DE Dicranocentrus SCHÖTT, 1893, COM


HISTÓRICO COMENTADO PARA A REGIÃO NEOTROPICAL (COLLEMBOLA: ENTOMOBRYIDAE) .................. Pág. 151

ANÁLISE DO FILME DE ANIMAÇÃO “VIDA DE INSETO” À LUZ DA BIOLOGIA ANIMAL ...................................... Pág. 166

vii
ARTIGO INTRODUTÓRIO

1
DA-SILVA, E.R. et al. 2016. A cienciometria do EntomoRio – um breve retrato da pesquisa entomológica no Estado do Rio
de Janeiro. In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de
Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 2-10.

A CIENCIOMETRIA DO ENTOMORIO – UM BREVE RETRATO DA PESQUISA


ENTOMOLÓGICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Elidiomar Ribeiro Da-Silva1,4
Luci Boa Nova Coelho2
Maria Inês da Silva dos Passos3

RESUMO

O Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro (EntomoRio) é um evento científico bianual que congrega
professores, pesquisadores e estudantes de diferentes áreas do estudo dos insetos, para a divulgação de
pesquisas e troca de experiências. A análise cienciométrica dos trabalhos apresentados nas três edições (2011,
2013 e 2015) já realizadas do evento pode representar um breve retrato da pesquisa entomológica no estado.
Um total de 447 pesquisadores participaram da autoria de resumos de temas livres, representando 52
instituições, algumas de outros estados e até do exterior. Três ordens de insetos se destacam entre as mais
estudadas: Coleoptera, Diptera e Hemiptera. Fica clara a vocação do Estado do Rio de Janeiro para estudos
taxonômicos, o que explica a grande quantidade de novos táxons propostos nos resumos. Somando-se as três
edições do evento, foram apresentados trabalhos versando sobre quatro gêneros e 130 espécies novos,
número bastante significativo. Também se destacam os inventários faunísticos, tão importantes no
mapeamento da distribuição das espécies.

Palavras-chave: estudo cienciométrico; evento científico; insetos.

ABSTRACT

SCIENTOMETRICS OF ENTOMORIO – A BRIEF PORTRAIT OF ENTOMOLOGICAL RESEARCH


IN RIO DE JANEIRO STATE
The Entomological Symposium of Rio de Janeiro (EntomoRio) is a biannual scientific event that brings together
professors, researchers and students from different areas of the study of insects, for the dissemination of
research and exchange of experiences. The scientometric analysis of the papers presented in the three editions
(2011, 2013 and 2015) have made the event may represent a brief picture of entomological research in the
state. A total of 447 researchers participated in the authoring of free themes summaries, representing 52
institutions, some from other states and even abroad. Three orders of insects stand out among the most studied:
Coleoptera, Hemiptera and Diptera. It is clear Rio de Janeiro State vocation for taxonomic studies, which
explains the large amount of new taxa proposed in the summaries. Adding to the three editions of the event,
papers were presented dealing on four new genera and 130 new species, quite a significant number. Also
highlight the faunal inventories so important in mapping the distribution of species.

Keywords: insects; scientific event; scientometrics.

___________________
1
Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3
Laboratório Insetos Aquáticos, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
4
Autor correspondente: elidiomar@gmail.com.
2
INTRODUÇÃO

MACIAS-CHAPULA (1998) definiu cienciometria como sendo o estudo dos aspectos


quantitativos da ciência enquanto uma disciplina ou atividade econômica. A cienciometria é um
segmento da sociologia da Ciência, sendo aplicada no desenvolvimento de políticas científicas.
Envolve estudos quantitativos das atividades científicas, incluindo a publicação e, portanto,
sobrepondo-se à bibliometria (MACIAS-CHAPULA, 1998: 134).
O Brasil está em 20º lugar dentre os países que mais publicaram pesquisas em Zoologia entre
1945 e 2012 (SANTOS & LIMA FILHO, 2012), o que é o mínimo que se espera de um país que possui
a maior biodiversidade do planeta (SANDES & DI BIASI, 2000). Ainda que incipientes dentro do campo
da Zoologia e da Entomologia (e.g. SANTOS & LIMA FILHO, 2012; SHIMANO et al., 2013), estudos
cienciométricos são comuns em outras áreas do conhecimento científico. Em verdade, o avanço do
conhecimento produzido pelos pesquisadores tem de ser transformado em informação acessível para
a comunidade científica. Dentro desse cenário, os indicadores bibliométricos e cienciométricos se
tornaram essenciais (MACIAS-CHAPULA, 1998).
O Estado do Rio de Janeiro abriga considerável quantidade de instituições que realizam
pesquisas científicas sobre insetos, com a constante formação de estudantes de graduação e pós-
graduação. Em 2011, as professoras doutoras Marcela Laura Monné e Cátia Antunes de Mello Patiu
(do Museu Nacional, UFRJ) tiveram a ideia de convidar pesquisadores de outras instituições cariocas
com pesquisas no campo da Entomologia para, juntos, organizarem um evento científico. Nascia
assim o I Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro, cuja sigla é EntomoRio. O I EntomoRio,
realizado no próprio Museu Nacional, congregou professores, pesquisadores e estudantes de
diferentes áreas do estudo dos insetos, para a divulgação de pesquisas e troca de experiências,
promovendo a integração das instituições fluminenses. Mantendo tal filosofia, novas edições do
Simpósio foram realizadas em 2013 e 2015, respectivamente na FIOCRUZ e na UNIRIO. Hoje, pode-
se dizer que o EntomoRio é um evento já consagrado no calendário científico fluminense e, mais até,
uma alternativa a congressos de âmbito nacional, como o Congresso Brasileiro de Zoologia e o
Congresso Brasileiro de Entomologia. Em seus seis anos de existência, o EntomoRio pode ser um
ótimo indicador geral do estágio atual, das tendências e das perspectivas da Entomologia no Estado
do Rio de Janeiro, bem como das vocações temáticas dentro das diferentes instituições.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo cienciométrico foi realizado a partir dos livros de resumos das três edições
do EntomoRio, realizadas nos anos de 2011, 2013 e 2015. A classificação das ordens de Hexapoda
3
citadas seguiu RAFAEL et al. (2012). As abreviaturas das instituições são as seguintes: CONICET
(Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas – Argentina); JBRJ (Jardim Botânico do
Rio de Janeiro); FIOCRUZ (Fundação Instituto Oswaldo Cruz); IFES (Instituto Federal do Espírito
Santo); IFRJ (Instituto Federal do Rio de Janeiro); INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia); UCB (Universidade Castelo Branco); UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro);
UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia); UEZO (Universidade Estadual da Zona Oeste);
UFBA (Universidade Federal da Bahia); UFC (Universidade Federal do Ceará); UFES (Universidade
Federal do Espírito Santo); UFF (Universidade Federal Fluminense); UFJF (Universidade Federal de
Juiz de Fora); UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais); UFMT (Universidade Federal de Mato
Grosso); UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto); UFPB (Universidade Federal da Paraíba);
UFPel (Universidade Federal de Pelotas); UFPR (Universidade Federal do Paraná); UFRGS
(Universidade Federal do Rio Grande do Sul); UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro); UFRRJ
(Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro); UFSM (Universidade Federal de Santa Maria); UFU
(Universidade Federal de Uberlândia); UFV (Universidade Federal de Viçosa); UnB (Universidade de
Brasília); UNESP (Universidade Estadual Paulista); UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas);
UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo); UniFOA (Centro Universitário de Volta Redonda);
UNIGRANRIO (Universidade do Grande Rio); UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro); UCDB (Universidade Católica Dom Bosco); USP (Universidade de São Paulo).

AUTORES E INSTITUIÇÕES

Somando-se as três edições do EntomoRio, 447 pesquisadores participaram dos resumos de


temas livres. Desse total, apenas 35 (7,83%) foram autores ou coautores de resumos nas três edições,
enquanto que 48 (10,74%) participaram da autoria em duas edições. Do total, 364 (81,43%)
participaram de trabalhos em apenas uma das edições. Dentre os que apresentaram trabalhos em
duas edições do evento, dez (20,83%) participaram do EntomoRio I e do EntomoRio II, doze (25,00%)
participaram do EntomoRio I e do EntomoRio III, e 26 (54,17%) participaram do EntomoRio II e do
EntomoRio III. Ainda com relação aos que participaram como autor ou coautor em duas edições,
destacada maioria (36, exatamente 3/4 do total) apresentou trabalho em eventos seguidos (EntomoRio
I e II; EntomoRio II e III).
Um total de 52 instituições esteve representado nos resumos apresentados no EntomoRio
(Tabelas 1-2). Considerando-se apenas o primeiro autor de cada resumo, são 31 as instituições
representadas, na grande maioria universidades públicas (Tabela 1). Com base na análise quantitativa
dos três livros de resumos, a UFRJ é o carro-chefe da Entomologia fluminense, até mesmo porque
inclui dois núcleos tradicionalmente produtivos (o Museu Nacional e o Instituto de Biologia), com
4
muitos laboratórios e até um departamento especificamente de Entomologia (no caso do Museu
Nacional). Outras instituições que merecem destaque são a FIOCRUZ, também um tradicional celeiro
de pesquisas entomológicas, e a UNIRIO, sede da mais recente edição do evento (2015). Ambas
tiveram seus melhores desempenhos exatamente quando sediaram o EntomoRio. A UNIRIO
apresentou um impressionante incremento quantitativo ao longo das edições. Tal dado é um indicador
do acerto na estratégia de se fazer o rodízio de sedes do evento, visando o incremento da participação
de pesquisadores e instituições.

Tabela 1. Número de resumos (temas livres) nas diferentes edições do EntomoRio de acordo com a instituição do primeiro
autor. As instituições que sediaram as edições estão marcadas.

INSTITUIÇÃO ENTOMORIO I ENTOMORIO II ENTOMORIO III


FIOCRUZ 12 18 8
IFES 0 0 2
IFRJ 0 1 0
INPA 0 0 1
UCB 3 4 2
UCDB 1 0 0
UERJ 2 4 0
UESB 2 1 0
UEZO 0 0 1
UFBA 0 3 0
UFC 0 1 0
UFES 0 3 2
UFJF 0 0 1
UFMG 0 0 1
UFMT 2 0 0
UFPel 0 2 0
UFPR 0 1 0
UFRGS 0 1 3
UFRJ 41 33 41
UFRRJ 1 1 4
UFSM 0 1 0
UFU 0 1 0
UNESP 0 1 0
UNIABEU 0 0 1
UNICAMP 0 3 2
UNIFESP 1 2 1
UniFOA 0 0 2
UNIGRANRIO 1 0 0
UNIRIO 2 7 12
Universidad Oriente (Cuba) 0 0 1
USP 1 2 1

Tem-se, percentualmente falando, pouca participação das outras universidades públicas do


Estado do Rio de Janeiro, o que pode indicar a necessidade de uma melhor divulgação do evento e
até mesmo da inclusão de profissionais dessas instituições na organização. Certamente a participação
de um professor da UEZO na comissão organizadora do III EntomoRio (2015) contribuiu para a vinda
de participantes daquela instituição. Ainda com relação às instituições participantes, vê-se uma
tendência de incremento da participação de pesquisadores de fora do Estado do Rio de Janeiro e até
do exterior (Tabelas 3-4), em colaboração com instituições fluminenses ou até mesmo encabeçando

5
as pesquisas. Isso é um indício demonstrador que o EntomoRio se firma como uma excelente opção
de evento não só em termos locais, mas no âmbito nacional. Com otimismo, pode-se prever uma
participação cada vez mais efetiva de pesquisadores oriundos de outros países da América Latina,
principalmente aqueles carentes em eventos locais de Entomologia e Zoologia.

Tabela 2. Número de resumos (temas livres) nas diferentes edições do EntomoRio de acordo com a instituição,
considerando-se todos os autores. As instituições que sediaram as edições estão marcadas.

INSTITUIÇÃO ENTOMORIO I ENTOMORIO II ENTOMORIO III


CONICET 0 0 1
FIOCRUZ 12 22 13
FIOCRUZ - BA 0 1 0
IFES 0 0 2
IFRJ 0 1 0
INPA 0 0 1
Instituto de Biologia do Exército 0 1 0
Instituto de Criminalística Carlos Éboli 1 4 1
JBRJ 0 0 1
Ministério da Saúde CE 0 0 1
Ministério da Saúde DF 0 0 1
Núcleo Entomológico de Roraima 0 0 1
Polícia Militar Ambiental do MS 1 0 0
Secretaria de Saúde CE 0 1 0
Secretaria de Saúde TO 1 0 0
Sistema Elite de Ensino 0 0 1
UCB 5 4 2
UCDB 1 0 0
UERJ 3 3 0
UESB 2 1 0
UEZO 0 0 3
UFBA 0 4 0
UFC 0 1 0
UFES 0 3 2
UFF 1 0 0
UFJF 0 0 2
UFMG 0 1 1
UFMT 3 1 1
UFOP 0 1 0
UFPB 0 0 1
UFPel 0 4 0
UFPR 2 2 1
UFRGS 0 2 3
UFRJ 43 44 53
UFRRJ 1 2 5
UFSM 0 1 0
UFU 0 1 0
UFV 0 0 2
UnB 0 0 1
UNESP 0 1 1
UNIABEU 0 0 1
UNICAMP 0 3 2
UNIFESP 1 2 1
UniFOA 0 0 4
UNIGRANRIO 1 0 0
UNIRIO 3 8 15
Universidad de Buenos Aires 0 1 1
Universidad Oriente (Cuba) 0 0 1
Universidade Metodista de São Paulo 0 1 0
University of Agricultural Sciences 0 1 0
University of Illinois 0 1 0
USP 3 4 1

6
Tabela 3. Número de resumos (temas livres) nas diferentes edições do EntomoRio de acordo com a procedência do
primeiro autor (Estado do Rio de Janeiro; outros estados do Brasil; exterior).

INSTITUIÇÃO ENTOMORIO I ENTOMORIO II ENTOMORIO III


Do RJ 62 67 71
De outros estados 7 22 14
Do exterior 0 0 1

Tabela 4. Número de resumos (temas livres) nas diferentes edições do EntomoRio de acordo com a procedência dos
autores e coautores (Estado do Rio de Janeiro; outros estados do Brasil; exterior); n= total de resumos do evento.

INSTITUIÇÃO ENTOMORIO I (n=69) ENTOMORIO II (n=89) ENTOMORIO III (n=86)


Do RJ 63 69 73
De outros estados 13 27 22
Do exterior 0 2 3

Face às exigências de produção e à cada vez maior complexidade das pesquisas, não é
surpreendente a grande quantidade de coautorias nos trabalhos submetidos ao EntomoRio (Tabela
5). As três edições do evento tiveram número máximo de autores por resumo de dez, onze e oito,
respectivamente. A média foi em torno de três autores por resumo nas três edições. Vale destacar
que apenas nove resumos (em um total de 244, ou seja, 3,69%) foram de autoria única.

Tabela 5. Quantitativo do número e média de autores por resumo (temas livres) nas diferentes edições do EntomoRio;
n= total de resumos do evento.

NÚMERO DE AUTORES / RESUMO ENTOMORIO I (n=69) ENTOMORIO II (n=89) ENTOMORIO III (n=86)
1 2 2 5
2 20 30 33
3 18 18 19
4 7 9 11
5 4 12 11
6 4 8 2
7 0 7 2
8 2 0 3
9 1 1 0
10 1 0 0
11 0 2 0
MÉDIA 3,23 3,82 3,22

Dentro desse cenário, era de se esperar uma quantidade significativa de parcerias entre autores
de instituições diferentes. Porém, de modo surpreendente, a maior parte das parcerias observada nos
resumos é dentro da mesma instituição. Porém, parece existir uma tendência ao incremento das
colaborações interinstitucionais, posto que o percentual relativo vem aumentando a cada edição:
20,29% no EntomoRio I, 28,09% no EntomoRio II e 34,88% no EntomoRio III (Tabela 6). Vale ressaltar
que as parcerias ocorridas entre diferentes setores de uma mesma instituição não foram consideradas
“interinstitucionais”. Assim, por exemplo, resumos que contenham apenas profissionais do Instituto de
Biologia e do Museu Nacional (ambos pertencentes à UFRJ) como autores, foram considerados de
instituição única.

7
ORDENS

Analisando-se criticamente os grupos de Hexapoda tratados nos resumos de temas livres


(Tabela 7), de certo modo pode-se dizer que três ordens merecem destaque: Coleoptera,
especialmente as grandes famílias, como Cerambycidae; Hemiptera, especialmente Cicadellidae; e
Diptera, com estudos tanto taxonômicos quanto em relação à sinantropia. Tais grupos são
historicamente bem estudados no Estado do Rio de Janeiro. O estudo dos Coleoptera tem como
patriarca o Prof. Miguel Angel Monné Barrios, o dos Cicadellidae o Prof. José Alfredo Pinheiro Dutra,
e os diferentes estudos de Diptera representam as continuidades das pesquisas de grandes nomes
da Entomologia brasileira, como o Prof. Hugo de Souza Lopes. Muitos pesquisadores hoje em dia dão
continuidade e até mesmo diversificam esse legado. O estudo da ordem Coleoptera tem como núcleo
inicial o Museu Nacional, mas hoje se desenvolve também, dentre outros locais, no Instituto de
Biologia. O estudo dos Cicadellidae teve origem no Instituto de Biologia, sendo efetivo também no
Museu Nacional, na FIOCRUZ e, mais recentemente, na UNIRIO. E os Diptera continuam sendo
destaque nas pesquisas entomológicas do Museu Nacional (mais voltadas para a taxonomia) e da
FIOCRUZ (no campo da Entomologia médico-veterinária), mais recentemente com núcleos bem
produtivos na UNIRIO (sinantropia) e UEZO (ecologia).

Tabela 6. Totalização e percentual de parcerias interinstitucionais versus resumos de instituição única nos resumos (temas
livres) das diferentes edições do EntomoRio; n= total de resumos do evento.

ENTOMORIO I (n=69) ENTOMORIO II (n=89) ENTOMORIO III (n=86)


Parceria entre instituições 14 (20,29%) 25 (28,09%) 30 (34,88%)
Instituição única 55 (79,71%) 64 (71,91%) 56 (65,12%)

Outras pesquisas também podem ser consideradas como típicas do Estado do Rio de Janeiro,
abordando Collembola (no Museu Nacional) e insetos aquáticos, incluindo os grupos Odonata,
Ephemeroptera, Plecoptera, Nepomorpha, Gerromorpha, Trichoptera, Chironomidae, Dytiscidae,
Hydrophilidae e Elmidae (na UFRJ e na UNIRIO). O grande desenvolvimento de tais estudos é muito
relacionado à atuação do Prof. Jorge Luiz Nessimian (Instituto de Biologia), que formou e forma
gerações de pesquisadores na área.

TEMAS

Em que pese o incremento de estudos mais analíticos, com base nas pesquisas apresentadas
no EntomoRio, fica clara a vocação do Estado do Rio de Janeiro a estudos preponderantemente
taxonômicos (Tabela 8), o que explica a grande quantidade de novos táxons propostos. Já se pode

8
até dizer que é tradição do EntomoRio a revelação de gêneros e espécies novos. Somando-se as três
edições do evento, foram apresentados trabalhos versando sobre quatro gêneros e 130 espécies
novos (Tabela 9), número bastante significativo.

Tabela 7. Número de resumos (temas livres) nas diferentes edições do EntomoRio de acordo com a ordem dos insetos
abordados; n= total de resumos do evento. As três ordens de maior destaque estão marcadas.

ORDEM ENTOMORIO I (n=69) ENTOMORIO II (n=89) ENTOMORIO III (n=86)


Collembola 4 1 6
Ephemeroptera 2 2 4
Odonata 4 3 6
Plecoptera 2 2 0
Orthoptera 0 1 4
Phasmida 0 0 1
Mantodea 0 0 2
Blattodea 2 1 5
Isoptera 0 0 3
Hemiptera 18 21 29
Psocoptera 0 0 1
Phthiraptera 0 0 2
Neuroptera 0 0 1
Megaloptera 1 0 1
Diptera 21 36 25
Siphonaptera 0 0 2
Coleoptera 18 14 20
Trichoptera 3 3 6
Lepidoptera 5 2 6
Hymenoptera 4 1 10

Outro destaque evidente são os inventários faunísticos, tão importantes no mapeamento da


distribuição das espécies. Vale ressaltar que grupos de pesquisa notoriamente consolidados e
produtivos, cujos estudos versam em Ecologia, Bioquímica, Biofísica e Entomologia agrícola, não
estiveram tão efetivamente presentes no elenco de resumos analisado. Isso é mais um indício de que
se deve tentar fazer uma divulgação mais eficiente do EntomoRio.

Tabela 8. Número de resumos (temas livres) nas diferentes edições do EntomoRio de acordo o tema principal da pesquisa;
n= total de resumos do evento. Os dois temas de maior destaque estão marcados.

TEMAS ENTOMORIO I (n=69) ENTOMORIO II (n=89) ENTOMORIO III (n=86)


Biodiversidade (faunístico) 11 22 17
Biogeografia 0 2 0
Ciclo de vida e desenvolvimento 2 4 3
Coleção 0 1 0
Ecologia 6 4 11
Entomologia agrícola 1 0 1
Entomologia cultural / educação 0 1 5
Entomologia forense 6 8 4
Entomologia médico-veterinária 1 10 5
Morfologia 0 1 1
Sistemática / Filogenia / Molecular 4 4 4
Taxonomia 38 28 35

9
Tabela 9. Número de gêneros e espécies novos mencionados nos resumos (temas livres) das diferentes edições do
EntomoRio; n= total de resumos do evento.

TÁXONS NOVOS ENTOMORIO I (n=69) ENTOMORIO II (n=89) ENTOMORIO III (n=86)


Gêneros 2 1 1
Espécies 36 45 49

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MACIAS-CHAPULA, C.A. 1998. O papel da informetria e da cienciometria e sua perspectiva nacional e internacional.
Ciência da Informação 27(2): 134-140.
RAFAEL, J.A.; MELO, G.A.R.; CARVALHO, C.J.B.; CASARI, S.A. & CONSTANTINO, R. (eds.). 2012. Insetos do Brasil:
Diversidade e Taxonomia. Holos Editora, Ribeirão Preto.
SANDES, A.R.R. & DI BLASI, G. 2000. Biodiversidade e diversidade química e genética. Biotecnologia, Ciência e
Desenvolvimento 13: 28-32.
SANTOS, T. & LIMA FILHO, G.F.L. 2012. Para que serve um marimbondo? Ensaio cienciométrico sobre a disciplina de
Zoologia no curso de Ciências Biológicas. Revista Eletrônica de Educação da Faculdade Araguaia 2(2): 605-610.
SHIMANO, Y.; SALLES, F.F. & JUEN, L. 2013. Study of the mayfly order Ephemeroptera (Insecta) in Brazil: a
scienciometric review. Revista Brasileira de Entomologia 57(4): 359–364.

10
ARTIGOS ELABORADOS A PARTIR DE PALESTRAS

11
MACEDO, M.V. et al. 2016. Ensinar e aprender Ciências e Biologia com os insetos. In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar,
V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 12-23.

ENSINAR E APRENDER CIÊNCIAS E BIOLOGIA COM OS INSETOS


Margarete Valverde de Macedo1,2
Vivian Flinte1
Milena de Sousa Nascimento1
Ricardo Ferreira Monteiro1

RESUMO

O ensino de Ciências e Biologia baseado unicamente em aulas teóricas, que utilizam apenas representações
prontas, não permite ao aluno os importantes passos da vivência da realidade estudada e o desenvolvimento
de habilidades e competências necessárias à formação de um cidadão crítico e participativo. Esse trabalho tem
como objetivos apresentar e desenvolver sugestões de como utilizar os insetos no processo ensino-
aprendizagem de Ciências e Biologia na Educação Básica, de maneira a aproveitar melhor o potencial que
esses organismos e estas disciplinas têm para a formação integral do indivíduo. Iniciamos justificando, em
termos práticos e pedagógicos, o uso dos insetos como ferramentas de ensino na Educação Básica, chamando
atenção para suas possibilidades e facilidades. Sugerimos e descrevemos conteúdos e estratégias que podem
ser desenvolvidos a partir do trabalho com insetos, apresentando alternativas para diferentes perfis de
infraestrutura escolar e explorando espaços dentro ou, principalmente, próximos da escola que permitam e
estimulem observações, perguntas e debates. Consideramos também a importância da formação do professor,
receptividade e apoio da escola para que os objetivos sejam alcançados.

Palavras-chave: aprendizagem; atividades; campo; Educação Básica; ferramenta de ensino;


laboratório; sala de aula.

ABSTRACT

Teaching and learning Science and Biology with insects


Teaching Science and Biology based solely on lectures, using only finished materials, does not allow students
to experience themselves natural phenomena, important for developing skills and competencies necessary for
critical thinking. In this work we suggest ways to use insects in teaching of Science and Biology in Basic
Education, in order to better explore the potential of these organisms and school subjects for the formation of
students. The benefits of using insects as educational tools in Basic Education are explained in practical and
pedagogical terms, drawing attention to its possibilities and facilities. We suggest and describe contents and
strategies that can be developed to work with insects, presenting alternatives for different school infrastructure
profiles and exploring spaces within or close to the school that allow and encourage questions and debates.
Teacher formation and school support are important to achieve good results.

Keywords: activities; Basic Education; classroom; field work; laboratory; learning; teaching tool.

___________________
1
Laboratório de Ecologia de Insetos, Departamento de Ecologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Autor correspondente mvmacedo@biologia.ufrj.br.
12
INTRODUÇÃO

Apesar da estrutura ainda um tanto enrijecida da sala de aula, marcada pelo processo passivo
de transmissão-recepção do conhecimento, a evolução de teorias e práticas educacionais tem aberto
a possibilidade para novas formas de abordar conteúdos, de modo a estimular nos alunos o
desenvolvimento de um conjunto de atitudes e habilidades, tais como: saber aprender, pesquisar,
selecionar informações, identificar evidências, concluir e comunicar, explicar conclusões, entre outras
(um detalhamento sobre as habilidades pode ser lido em CAZELLI & FRANCO, 2001).
O ensino de Ciências e Biologia baseado unicamente em aulas teóricas, ainda muito comum,
prejudica o aluno, pois o deixa em um estado permanente de objeto (DEMO, 2002). Na sala de aula,
a utilização de representações prontas e acabadas não permite ao aluno os importantes passos da
vivência da realidade estudada, durante a qual irão ocorrer as impressões estéticas motivadoras da
conduta e do aprendizado, e a elaboração de hipóteses (característica fundamental do pensamento
científico) sobre o fenômeno observado (FONSECA & CALDEIRA, 2008). Como afirmou CALDEIRA
(2005):
“O ensino de Ciências não deve fundamentar-se na memorização de conteúdos
distantes da realidade dos alunos, mas precisa permiti-lo a elaboração de sua própria
interpretação. Mais do que ensinar ciências é preciso possibilitar o raciocinar sobre e
através de fenômenos naturais. ”

A maioria das crianças são aprendizes concretos, capazes de pensar de forma hipotética
apenas quando lidam com exemplos concretos. O pensamento formal se desenvolve plenamente
somente em algum momento entre os 14 anos e a idade adulta. Assim, teorias e conceitos científicos
podem parecer altamente abstratos para a maioria dos alunos, mesmo no Ensino Médio e na
faculdade. Por isso faz sentido, para um processo de ensino-aprendizagem de sucesso, que quanto
mais oportunidades práticas e exemplos da vida real se puder fornecer na aula de Ciências, melhor
(MATTHEWS et al., 1997). Nesse contexto, a adoção da pesquisa como pedagogia, como método
didático, deveria ser uma tônica no ensino de Ciências. DEMO (2002), em seu livro “Educar pela
pesquisa”, discutiu que pesquisa e educação não devem ser separados, pois a pesquisa não se basta
em ser o princípio científico, ela precisa também ser princípio educativo. Assim, pesquisa é o meio e
a educação, o fim. Para estimular a pesquisa no aluno, é fundamental que exista na escola e em sala
de aula, ambiente positivo para se conseguir no aluno participação ativa, presença dinâmica, interação
e comunicação fácil.
Nesse contexto, muito mais do que a mera aula expositiva, mesmo acompanhada de textos,
fotos, slides etc., o desenvolvimento do espírito científico requer que várias importantes habilidades
sejam trabalhadas, como a observação, o planejamento, a organização, a associação, a integração,

13
que tornam possível a mobilização de conhecimentos para a solução de problemas, em outras
palavras, construir competências. Segundo PERRENOUD (1999), competência é:

“uma capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiado


em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles. ”

As aulas práticas em ambientes naturais, em laboratórios (quando existem na escola) ou na


própria sala podem ser um ótimo recurso didático no processo de ensino-aprendizagem de Ciências
e Biologia. Visitas a espaços não formais de educação (museus, exposições, feiras etc.) proporcionam
também estímulos à curiosidade e ao interesse, facilitam o aprendizado e quebram a monotonia do
ambiente tradicional da sala de aula. A utilização de trabalhos de campo não é uma estratégia de
ensino muito comum no currículo da Educação Básica, talvez por exigir certa disposição e
compromisso tanto do professor quanto do aluno, porém, possuem muitos aspectos positivos. As
atividades em campo podem, por exemplo, representar um estímulo para os professores, que, com
elas, têm possibilidade de inovação em seu trabalho. Por seu aspecto estético motivador, tais
atividades proporcionam o envolvimento emocional dos alunos, levando-os à reflexão sobre valores,
ao desenvolvimento de atitudes e habilidades. O contato direto com o ambiente proporciona a
experiência do fenômeno natural íntegro, ou seja, como ocorre na realidade, reduzindo a
fragmentação do conhecimento (SENICIATO, 2006).
Iremos, neste artigo, desenvolver sugestões de como, dentro do contexto apresentado até aqui,
utilizar os insetos como facilitador do ensino e da aprendizagem de Ciências e Biologia na Educação
Básica, ou seja, no Ensino Fundamental e no Ensino Médio.

POR QUE USAR INSETOS PARA FACILITAR A APRENDIZAGEM

No ensino de Ciências e Biologia, os insetos talvez sejam o grupo animal que melhor permita
ao professor oferecer aos alunos oportunidades para a construção de conceitos concretos,
desenvolvimento do pensamento científico e exemplos de vida real (MACEDO et al., 2001). Hoje, o
consenso geral entre os educadores de Ciências é que atividades exploratórias como um elemento
de questionamento têm mais sucesso em cativar o interesse, estimular o pensar, promover a
aprendizagem pela pesquisa e desenvolver o pensamento científico. Nesse sentido, os insetos como
ferramenta de ensino se sobressaem (MATTHEWS et al., 1987).
Há muitos motivos para usar os insetos em sala de aula. Primeiramente, sua enorme riqueza
de espécies, diversidade de adaptações e sucesso evolutivo. São muito abundantes, podendo ser
encontrados em praticamente qualquer lugar e em todas as épocas do ano em nossa região.
Possuem, em geral, tamanho reduzido e ciclo de vida curto, e passam por grandes mudanças físicas
14
durante o desenvolvimento, sendo assim excelentes modelos para utilização em demonstrações e
experimentações com objetivos didáticos, sendo fáceis de manter, manusear e criar em laboratório.
Por fim, o entendimento dos insetos pode se constituir na base para uma compreensão mais ampla
da natureza e de seus processos.

O QUÊ APRENDER COM OS INSETOS

Os insetos podem ser usados como modelos para estudos de diversos conteúdos de Ciências
e Biologia, muitas vezes relacionados. A seguir exemplificamos alguns destes conteúdos, mas,
certamente, a lista é ainda maior do que esta apresentada.
Aspectos da biologia (ciclo de vida, metamorfose) e do comportamento animal podem ser
abordados com a criação de alguns insetos. Mostrá-los no ambiente, através de uma pequena saída
de campo ou visita ao jardim da escola também é recomendável. Esse tipo de observação traz o
importante elemento da realidade. Em atividades ao ar livre facilmente encontram-se insetos em
diferentes estágios de desenvolvimento que podem ser trazidos para a sala ou para o laboratório e
criados para observação do ciclo de vida. Pode-se observar o que o inseto está fazendo (repousando,
alimentando-se, acasalando, colocando ovos, cuidando da prole etc.), e algumas de suas
características, como tamanho, forma, cor, defesas.
A ecologia talvez seja o melhor campo para desenvolver conceitos relacionados aos insetos,
através de práticas realizadas em sala, no laboratório e no campo. Pelo seu grande número, eles
participam de virtualmente todas as cadeias e teias alimentares, além de estarem envolvidos nos
diversos tipos de interações ecológicas, como parasitismo/parasitoidismo/predação (+ -),
competição (- -) e mutualismo (+ +). São animais que ocorrem em todos os continentes e em
praticamente todos os ambientes, desde terrestre a aquático, possuindo adaptações específicas para
cada um, além de apresentarem comportamentos muito variados. Esses temas também remetem à
importância dos insetos para o funcionamento dos ecossistemas e da necessidade de sua
preservação e da conservação das áreas naturais. O entendimento das características dos insetos
que levaram ao enorme sucesso do grupo também é uma discussão interessante neste contexto e
que auxilia no entendimento da evolução não apenas dos insetos, mas também de outros grupos
animais.
Em zoologia ao estudar os grupos animais, sua morfologia e suas relações filogenéticas em
mais detalhes, os insetos destacam-se pelo extraordinário número de espécies, formas e hábitos
diferentes. As diversas ordens de insetos com características morfológicas bem evidentes e facilmente
reconhecidas se apresentam como material bastante didático e prático no conhecimento/aprendizado
sobre classificações zoológicas de animais nas diversas categorias taxonômicas. Vários mecanismos
15
bioquímicos e fisiológicos básicos existentes nesses animais (que surgiram há mais de 400 milhões
de anos) são compartilhados com a espécie humana, embora outros tantos tenham sofrido
modificações ao longo de sua evolução. Assim, fica fácil entender porque estudos de fisiologia
realizados com insetos tiveram tanto impacto no entendimento dos mecanismos fundamentais que
governam o funcionamento dos seres vivos em geral. Como algumas espécies de insetos transmitem
e causam várias doenças, o professor pode explorá-las, discutindo suas consequências, mas também
suas causas tanto no contexto de programa de saúde, quanto no de ecologia. Um exemplo é o
conhecido mosquito da dengue, para o qual o próprio homem cria condições para reprodução. A
criação de alguns mosquitos (facilmente coletados pelo professor e pelos alunos) em sala ou no
laboratório da escola pode ajudar no entendimento do ciclo de vida e formação de conceitos concretos.
Os insetos foram e ainda são muito usados como material para estudar genética (por exemplo,
modelos de herança, cromossomos ligados ao sexo), biologia do desenvolvimento embrionário,
mecanismos de ação de hormônios esteróides, aspectos da biologia celular, entre outros. A
criação e experimentos com Drosophila melanogaster Meigen, 1830 (Diptera: Drosophilidae), a
mosca-das-frutas, podem ser facilmente realizados em sala ou no laboratório para trabalhar alguns
desses conceitos, inclusive alguns relacionados à evolução.
Os insetos também podem ser muito úteis em Educação Ambiental, em parte por seu
potencial interdisciplinar, mas também por permitir discussões sobre as mudanças ambientais atuais.
Além disso, os insetos são responsáveis por alguns serviços ecossistêmicos essenciais para a nossa
sobrevivência, como a polinização e a ciclagem de nutrientes, sendo, portanto, ótimos exemplos para
serem trabalhados dentro da temática da Educação Ambiental. Alguns jogos e atividades lúdicas
usando os insetos podem ser muito úteis para trabalhar conceitos relacionados à conservação.
Algumas espécies de insetos são importantes pragas na agricultura, enquanto que outras atuam
justamente fazendo o controle biológico dessas pragas, ou seja, mantendo essas populações de
pragas em densidades baixas, causando danos bem reduzidos. Ao falar sobre o controle de pragas,
podem ser levantados alguns pontos interessantes de discussão, como quais características das
formas de cultivo atuais propiciam o aparecimento de pragas, e o papel das interações (herbivoria,
parasitoidismo) na regulação de populações das pragas, sejam elas plantas ou insetos.

COMO UTILIZAR OS INSETOS

A forma como os insetos serão utilizados no ensino de Ciências e Biologia depende muito do
assunto a ser tratado e do objetivo que se quer alcançar. A versatilidade do grupo permite que sejam
realizadas atividades de diferentes níveis de complexidade e em diferentes espaços, oferecendo,
assim, as mais diversas experiências de aprendizado aos alunos. Abaixo são descritos e
16
desenvolvidos alguns procedimentos gerais que podem ser usados para trabalhar temas de estudo
em Ciências e Biologia e cujo ajuste do nível de aprofundamento pode tornar a atividade aplicável
para turmas desde a educação infantil até o Ensino Médio.

Em campo

Não há dúvidas de que um trabalho de campo em uma unidade de conservação (Figura 1A) é
a opção ideal, pela diversidade de animais, hábitos, comportamentos e interações que podem ser
encontrados. Portanto, se esta alternativa é possível, ela deve ser a escolhida! Entretanto, sabemos
que para isso são necessários diversos tipos de recursos e disponibilidade de tempo, entre outros. O
interessante quando trabalhamos com insetos é que essas limitações não impedem que uma prática
ao ar livre seja realizada, uma vez que os insetos podem ser encontrados em qualquer lugar. Em uma
breve ida ao jardim da escola ou à praça mais próxima podem ser observadas formigas carregando
folhas para o formigueiro, borboletas alimentando-se em flores, lagartas alimentando-se de folhas ou
mesmo besouros escondidos em sua planta hospedeira, oportunizando momentos ricos para
observação direta relacionada a diversos conteúdos de Ciências e Biologia. Interações, como
herbivoria/parasitismo e mutualismo (ex.: polinização), e tipos de defesa, como camuflagem e
coloração de advertência, entre outros fenômenos, são frequentemente observados, mesmo em
pequenas áreas com vegetação. Nesse tipo de atividade, a curiosidade, a observação atenta e a
investigação são a chave do sucesso, mas procure levar também alguns materiais simples, como lupa
portátil, papel e lápis. Os alunos podem ser solicitados a anotar tudo o que observarem, como as
partes do corpo, o tamanho e a cor do inseto, a planta hospedeira, hábitos e comportamentos, entre
outros aspectos, dependendo do objetivo do trabalho de campo. Um celular ou máquina fotográfica,
mesmo de um modelo simples, ajuda a fazer o registro das observações, inclusive para
compartilhamento entre os colegas e desenvolvimento posterior, enriquecendo o conhecimento de
todo grupo.
Por outro lado, se o objetivo da atividade em campo é coletar insetos para criação em
laboratório, outros materiais serão necessários. Grande parte dos insetos, como lagartas, besouros,
percevejos, cigarras, pode ser coletada de forma simples, manualmente, utilizando-se apenas sacos
ou potes plásticos transparentes para o transporte. Outros grupos de insetos exigem métodos de
coleta mais elaborados, como o uso de armadilhas e rede entomológica (Figura 1B). A coleta de
insetos vivos para criação exige também a preocupação com a coleta de seu alimento. Se o inseto se
alimenta de folhas, estas devem ser coletadas especificamente da planta onde o inseto foi encontrado,
pois espécies de insetos alimentam-se, em geral, de um ou poucos tipos de plantas. No caso de
insetos carnívoros, como louva-a-deus, por exemplo, outros insetos menores devem ser coletados
17
para sua alimentação. É importante também o registro de todas as informações de coleta, como local,
data, nome do coletor, planta hospedeira, em uma etiqueta, para posterior registro na caixa
entomológica, se esta for uma opção. Mais detalhes sobre métodos de coleta e montagem de insetos
podem ser encontrados em ALMEIDA et al. (1998). Alternativamente, se possível, os insetos criados
podem ser liberados de volta no local onde foram coletados e esta atividade pode também suscitar a
discussão de diversos aspectos relativos à preservação e conservação, além de princípios e valores
relativos ao respeito à vida e à natureza.
Um ponto importante é a necessidade de obtenção de licença para realização de atividades
como as acima descritas em unidades de conservação. Procure acessar a página do ICMBio (Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) para obter orientações de como fazer essa
solicitação. Este instituto criou um sistema, SISBIO (Sistema de Autorização e Informação em
Biodiversidade) que agiliza a concessão dessa licença e realiza o controle de todas as atividades de
pesquisa e didáticas em unidades de conservação.

A B

Figura 1. Saída de campo para observação de insetos (A) e coleta de insetos com rede entomológica (B).

Em laboratório

A criação de insetos em laboratório pode ser uma atividade bastante enriquecedora para o
ensino de Ciências e Biologia. Por possuírem curto tempo de vida, em poucas semanas pode ser
observado todo o ciclo de vida de um inseto, seus hábitos alimentares e diversos comportamentos.
Pode ser criada uma rotina de cuidados dos insetos, com uma escala entre os alunos, todos se
responsabilizando pelos insetos, trabalhando, além dos conceitos de biologia, senso de
responsabilidade, disciplina e trabalho em equipe. Sugere-se um caderno único onde todos façam as
anotações diárias referentes à criação. Insetos fitófagos (ou herbívoros), aqueles que se alimentam
de tecido vegetal, são mais fáceis de serem criados, pois o seu alimento é mais fácil de ser mantido
em laboratório. Os ramos da planta hospedeira devem ser mantidos em geladeira, dentro de sacos
18
plásticos transparentes, com um algodão umedecido na ponta dos galhos; assim as folhas
permanecem frescas e adequadas para alimentação por mais tempo. É importante separar um canto
na sala ou no laboratório para a criação dos insetos, pois essa é uma atividade que pode durar de
duas a três semanas, dependendo do inseto coletado e do seu estágio de vida. Deve-se tentar
minimizar a diferença entre as condições encontradas no campo e as da criação; para isso, sugerimos
que os insetos sejam mantidos em potes plásticos com tampa (Figura 2A) ou em aquários de vidro
(terrários), forrados com papel toalha ou papel higiênico. Para manter a umidade, é preciso borrifar
algumas gotas de água no papel, mas sem encharcar, para evitar a proliferação de fungos. O local da
criação deve ser arejado e sem incidência direta da luz do sol. A cada dois dias o recipiente de criação
deve ser limpo, o papel trocado e o alimento renovado.
Outra atividade interessante que também pode ser realizada é a preparação de uma pequena
coleção de insetos em um meio líquido (álcool etílico a 80%) ou a montagem de uma caixa
entomológica, que pode ser feita usando os insetos após a criação ou mesmo com insetos
encontrados mortos. A coleção em uma caixa entomológica deve ser feita com insetos montados em
alfinetes entomológicos e posteriormente secos. Para detalhes sobre a montagem de insetos, ver
ALMEIDA et al. (1998). A escolha dos insetos que serão depositados na coleção didática da escola
depende do objetivo pedagógico dessa atividade. Por exemplo, se o objetivo é exemplificar o ciclo de
vida e os diferentes estágios de vida de um inseto, a coleção deve conter ovos, larvas ou ninfas, pupas
(no caso de holometábolos) e adultos. Mas, se o objetivo é demonstrar a grande diversidade dos
insetos ou usar esses exemplares para fins de identificação taxonômica, é importante conter adultos
pertencentes ao maior número possível de ordens, utilizando caixas de madeira com tampo de vidro
ou acrílico, e contendo cânfora e sílica, para armazená-los de maneira adequada (Figura 2B). O uso
e/ou a elaboração de uma chave dicotômica (facilmente encontrada na internet) para identificar as
diferentes ordens de insetos coletados ou já depositados na caixa entomológica da escola são
atividades que treinam a observação e auxiliam o aprendizado das características dos grupos.

A B

Figura 2. Lagarta de uma espécie de borboleta criada em pote plástico com folhas de sua planta hospedeira (A) e caixa
entomológica mostrando a diversidade de insetos adultos (B).
19
Em sala de aula

A realização de atividades práticas em sala de aula é de extrema importância para o


aprendizado do aluno, uma vez que aumentam o envolvimento e a participação do aluno. Nesse
contexto, o uso de jogos didáticos pode ser uma alternativa às metodologias tradicionais, contribuindo
para a melhora no desempenho dos alunos (GOMES & FRIEDRICH, 2001). Diversos jogos podem
ser elaborados com a temática sobre insetos, como palavras cruzadas, jogo da memória, dominó, jogo
da velha, entre outros. O importante nesses jogos é sempre fazer a associação da imagem a algum
conceito relacionado ao inseto, por exemplo, o jogo da memória pode associar uma imagem a
informações sobre a ecologia do grupo. GRENHA & MACEDO (2005) desenvolveram Interação
(Figura 3A), jogo de tabuleiro baseado nas interações dos insetos com outros organismos e com o
ambiente, cujo objetivo é fornecer uma ferramenta que pode ser utilizada para apresentar, desenvolver
e fixar conceitos como hábitos, formas de defesa, alimentação, interações, entre outros. Cada aluno
participante é uma espécie de inseto e recebe uma carta explicativa com informações sobre a sua
espécie. Durante o jogo, o aluno se depara com situações sobre as quais deve tomar decisões com
base nas características da sua espécie para prosseguir.
Outros exemplos de atividades práticas que podem ser realizadas em sala de aula são a
confecção de esculturas (Figura 3B), fichas (Figura 3C), painéis e maquetes. Ao final do semestre,
essas atividades podem ser organizadas em uma exposição sobre insetos (Figura 3D), apresentando
os trabalhos dos alunos. Esse momento da exposição é importante como coroação do trabalho de
todo um período letivo, além de estimular o trabalho em equipe, o planejamento e a execução de
projetos. Se a escola tem um evento durante o qual os alunos fazem apresentação de seus trabalhos
ao público, este é um momento muito adequado para a “exposição de insetos”. Se a escola ainda não
tem este tipo de evento, pode ser muito interessante que esta ideia seja considerada no âmbito das
Ciências e Biologia, pois este pode passar a ser um rico espaço no qual a escola abre suas portas
para a comunidade, fortalecendo os laços e tornando-se ainda mais relevante em seu contexto social.

QUAIS INSETOS USAR

Os insetos que podem ser facilmente usados em sala de aula são: Lepidoptera (espécies de
borboleta e mariposas comuns ou com importância econômica, como pragas de hortaliças),
Hymenoptera (formigas que possam ser criadas em terrários; abelha de mel, Apis mellifera),
Coleoptera (joaninhas e tenébrios são fáceis de serem coletados ou comprados, além daqueles
besouros que frequentemente se alimentam de feijão e amendoim), Diptera (mosca da fruta,
Drosophila melanogaster), Blattodea (baratas domésticas). Novamente chamamos atenção para o fato
20
de que a escolha de um ou outro inseto e sua forma de utilização vão depender dos objetivos da
atividade e, obviamente, das condições que se têm na escola.

A B

C D

Figura 3. Alunos jogando Interação em sala de aula (A). Esculturas (B), fichas e modelos (C) são alguns dos materiais
sobre insetos elaborados e apresentados em exposição aberta ao público no polo Petrópolis (D), como atividade final da
disciplina Insetos na Educação Básica, do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do CEDERJ.

DO QUE PRECISAMOS PARA COMEÇAR A USAR INSETOS EM SALA DE AULA

Infraestrutura nas escolas

É evidente que uma boa infraestrutura na escola facilita muito o trabalho nas Ciências e na
Biologia, pois um laboratório grande e equipado, e condições que permitam saídas para trabalhos de
campo podem abrir um leque de possibilidades de desenvolvimento de temas nestas disciplinas.
Entretanto, há opções de baixo custo que podem cumprir as funções de estimular o estudo e
desenvolver ou fixar conteúdos sobre diversos temas. Neste contexto, o laboratório pode ser
substituído por uma reorganização do mobiliário da sala durante o trabalho, de forma a permitir que
os alunos se organizem em grupos, e um pequeno espaço destinado ao armazenamento do material
quando este não estiver sendo trabalhado. O trabalho de campo pode ser feito em espaços externos
21
à escola, como um jardim, uma praça ou um terreno abandonado, pois sabemos que vamos encontrar
insetos em qualquer um destes espaços.

Formação

O professor precisa estar preparado para empregar os insetos, tanto no sentido de disposição,
valorização e estímulo, quanto em relação ao domínio do conteúdo necessário para o planejamento,
a prática e a execução das atividades. Para tanto o professor deve ter tido uma boa formação inicial,
mas saber também que cursos de formação continuada e estudos independentes podem ajudar
bastante no sucesso desta empreitada. Recursos instrucionais, como guias práticos, livros
especializados, textos em sites de universidades, podem ajudar os professores a superar sua
insegurança quanto ao uso dos insetos e orientá-los em suas atividades. Não há dúvida, no entanto,
que mais material de apoio aos professores e aos alunos precisam ser desenvolvidos e difundidos em
nosso país.

Disposição

Se a infraestutura não é limitante e sua deficiência pode ser superada de outras formas, e se a
formação necessária para propor e desenvolver atividades usando insetos nas Ciências e na Biologia
também pode ser melhorada usando recursos já disponíveis, resta a disposição em tornar real esta
possibilidade. É claro que a receptividade e o apoio da escola podem ajudar bastante, particularmente
nas atividades extraclasse, e este apoio deve ser buscado em todas as iniciativas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não se deve esquecer que os insetos e quaisquer organismos, mesmo sendo usados como
modelos, são seres vivos e, como tais, alguns cuidados devem ser tomados. Mais ainda, deve-se
aproveitar a oportunidade de trabalho com eles para que alguns valores e atitudes sejam
desenvolvidos. Dentre estes podemos destacar o respeito à vida e à natureza, a partir da compreensão
de que todo ser vivo faz parte de uma teia de relações importantes na natureza e que a quebra de um
elo desta teia pode ter um efeito em cascata de consequências desastrosas também para o homem.
É importante também que o professor tenha em mente que outros organismos podem e devem
ser usados no estudo de Ciências e Biologia. É muito provável que a partir da discussão do uso dos
insetos como ferramenta pedagógica o professor tenha ideias de como e quais outros organismos
podem ser usados, até mais apropriadamente, dependendo da situação!
22
Finalmente, estamos certos de que os problemas que envolvem o processo ensino-
aprendizagem de Ciências e Biologia na Educação Básica são bem mais complexos de serem
resolvidos do que a simples adoção de uma ou outra metodologia de ensino/aprendizagem.
Entretanto, esperamos apenas contribuir para reduzir a distância entre o possível e o ideal no ensino
destas disciplinas tão importantes ao desenvolvimento de um cidadão crítico e participativo em nossa
sociedade.

Sugestões de leitura
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identificação de insetos. Holos, Ribeirão Preto.
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23
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artrópodes na cultura pop. In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do
III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro,
p. 24-34.

ZOOLOGIA CULTURAL, COM ÊNFASE NA PRESENÇA DE PERSONAGENS


INSPIRADOS EM ARTRÓPODES NA CULTURA POP

Elidiomar Ribeiro Da-Silva1,3


Luci Boa Nova Coelho2

RESUMO

O ser humano sempre foi fascinado pelas outras espécies animais. E tal admiração constitui a base
da chamada Zoologia Cultural, setor da Ciência que estuda a presença de elementos zoológicos nas
diferentes manifestações da cultura. Temas relacionando Zoologia e cultura vêm ganhando destaque
recentemente e, nesse cenário, surgiu o projeto A Zoologia na composição de personagens fictícios,
coordenado pelo Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural da UNIRIO. Até o presente foi
estudado o uso de aracnídeos, insetos e crustáceos na inspiração a personagens de histórias em
quadrinhos, sempre pensando em possíveis formas de aplicação em sala de aula ou em divulgação
científica.

Palavras-chave: cultura popular; divulgação científica; popularização da ciência.

ABSTRACT

ZOOLOGIA CULTURAL, WITH EMPHASIS ON CHARACTER INSPIRED PRESENCE IN


ARTHROPODS IN POP CULTURE
The human being has always been fascinated by other animal species. This admiration is the basis of
so-called Cultural Zoology, a Science sector that studies the presence of animal elements in the
different manifestations of culture. Issues relating Zoology and culture have gained prominence
recently and, in this scenario, we created the project Zoology and the composition of fictional
characters, coordinated by the Laboratory of Urban and Cultural Entomology of UNIRIO. To date we
studied the use of arachnids, insects and crustaceans inspiring the characters of comics, always
thinking of possible ways to use in the classroom or in popular science.

Keywords: popular culture; popularization of science; scientific divulgation.

___________________
1
Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3
Autor correspondente: elidiomar@gmail.com.

24
INTRODUÇÃO

Desde os primórdios de sua evolução, o Homo sapiens é fascinado pelas outras espécies
animais. As pinturas rupestres (Figura 1) são testemunhas desse antigo interesse (ALVES, 2012),
certamente ligado às necessidades básicas de sobrevivência. O tempo passou e o ser humano
acabou, de certa forma, se excluindo do meio natural (DA-SILVA et al., 2015a). Mas, talvez como
forma compensatória, a admiração pelos nossos “irmãos” do reino animal permaneceu e pode ser
vista no dia-a-dia, mesmo daqueles cidadãos urbanos, cuja vida está muito afastada do mundo natural.
Não por outro motivo, a ida aos jardins zoológicos e museus de história natural é sempre um programa
concorrido e os canais por assinatura com animais - e natureza em geral - como temática central são
abundantes e diversificados. De certo modo, tais canais de TV são substitutos modernos das coleções
de bancas de jornal das décadas de 1970 e 1980, como Os Bichos, Mil Bichos (Editora Abril),
Naturama (Editora CODEX), A Fauna (Editora Salvat) e tantas outras (Figura 2). A abundância de
títulos sobre animais naquela época é mais um indicador do interesse pelo tema.

Figura 1. Animais pintados na Gruta de Lascaux, França, um dos sítios de arte rupestre mais famosos do mundo. (Fonte:
Wikipédia.)

Diante de tal cenário, é esperada uma presença maciça de elementos zoológicos nas diferentes
manifestações culturais, e o seu estudo constitui a chamada Zoologia Cultural. Embora nossa
25
relação com os animais seja antiga, seu estudo acadêmico é relativamente recente, de modo que
conceitos e definições de termos, ou mesmo linhas centrais de investigação, são ainda pouco
definidos. Em linhas gerais, quando o estudo é relacionado a manifestações folclóricas ou regionais,
tem-se a Etnozoologia que, por definição, é o estudo dos conhecimentos, crenças, representações
afetivas e comportamentos que intermediam as relações entre as populações humanas e as espécies
animais dos ecossistemas que as incluem (PINTO, 2011). Evidentemente, quando o objeto de estudo
são os insetos e outros artrópodes tradicionalmente abrigados dentro da designação “Entomologia”,
os termos utilizados são Entomologia Cultural (HOGUE, 1980, 1987) e Etnoentomologia
(PACHECO, 2001), respectivamente. Definições detalhadas de Etnozoologia e Etnoentomologia
podem ser obtidas nos excelentes artigos de Costa Neto e colaboradores (COSTA NETO, 2002, 2005,
2005, 2006a, 2013; COSTA NETO & RESENDE, 2004; SILVA et al., 2015)

Figura 2. Enciclopédias sobre a temática do mundo animal, que tanto sucesso fizeram nas décadas de 1970 e 1980.
(Fonte: Google Imagens.)

MÍDIAS DA CULTURA POP EM ESTUDOS ACADÊMICOS

Histórias em quadrinhos ou gibis (HQs) fazem parte da vida de todos nós. Independentemente
da idade, o fascínio por esse meio de comunicação sobrevive por gerações. As HQs são muito mais
do que histórias de fantasias criadas para entreter crianças. Podem possuir muitos detalhes, alusões
e ideias sofisticadas, e essas abordagens podem e devem ser aproveitadas de diversas formas,
inclusive nas salas de aula, como uma tentativa para despertar o interesse e prender a atenção dos
alunos (RAMA & VERGUEIRO, 2004; DA-SILVA et al., 2014a,b,c,d). O mesmo raciocínio se aplica a
filmes do cinema, programas, séries e desenhos animados da TV.
26
A despeito de ser um processo com liberdade criativa, a composição de um personagem das
HQs (ou de qualquer outra mídia) muitas vezes recebe interessantes influências da vida real. Face à
forte ligação dos animais com o ser humano, não é de se estranhar que eles venham servindo como
inspiração para muitos personagens da ficção (DA-SILVA et al., 2015b). A incorporação de elementos
da cultura pop às produções acadêmicas vem ganhando destaque recentemente (NEMÉSIO et al.,
2013; DA-SILVA et al., 2014a, 2014b; CASTANHEIRA et al., 2015). Importante elemento cultural, as
produções cinematográficas vêm sendo mais e mais utilizadas na escola, embora ainda existam
poucos estudos sobre a sua aplicação no ambiente escolar. Os filmes possuem potencialidade
pedagógica especial e podem dar suporte a novas modalidades educativas, com possibilidades de
utilização em todos os níveis e disciplinas (COELHO & DA-SILVA, 2015).

ARTRÓPODES NA CULTURA

Temas relacionando a Zoologia às manifestações culturais vêm ganhando destaque. COELHO


(2000, 2004) estudou as referências a insetos nas letras e na arte das capas de discos de rock,
respectivamente. ASHENDEN (2000-2001) fez um estudo entomológico da célebre obra literária Ada,
de Vladimir Nabokov. CHERRY (2002, 2005) estudou a função dos insetos na mitologia e na magia,
respectivamente. MARIÑO PÉREZ & MENDOZA ALMERALLA (2006) fizeram uma análise crítica da
presença de insetos e outros artrópodes em filmes do cinema, de 1938 a 2002. COSTA NETO (2006b)
pesquisou a utilização de insetos em manifestações populares no Nordeste brasileiro. MENDONÇA
(2008) estudou as manifestações folclóricas que poderiam ser utilizadas para facilitar o aprendizado
da Zoologia na escola. CHANTOURY-LACOMBE (2009) estudou a ligação entre insetos e técnicas de
pinturas usadas na Europa renascentista. MONSERRAT (2009, 2011) abordou a presença de
artrópodes nas pinturas dos artistas El Bosco e Salvador Dalí, respectivamente. CARVALHO (2010)
investigou o significado simbólico de duas espécies de borboletas presentes em pinturas do século
XV. MONSERRAT (2010) fez um estudo sobre tatuagens contendo referências a artrópodes.
NEMÉSIO et al. (2013) abordaram a utilização dos diferentes grupos taxonômicos animais em selos
postais. DA-SILVA et al. (2014a) estudaram as possíveis formas de utilização da HQ Os Sete Soldados
da Vitória (DC Comics – Editora Panini) no ensino de Biologia. DA-SILVA et al. (2014b, c, d)
inventariaram os personagens da Marvel Comics e da DC Comics inspirados em aracnídeos, insetos
e crustáceos, respectivamente. CASTANHEIRA et al. (2015) analisaram a presença de artrópodes em
filmes e séries de TV. Recentemente, número expressivo de espécies animais vêm sendo batizadas
em homenagem a ícones da cultura pop, como artistas (DUMAS et al., 2013), atletas (SANTOS &
NESSIMIAN, 2009) e personagens fictícios (RODRIGUES et al., 2012; STANLEY et al., 2013).

27
APLICAÇÃO DA ZOOLOGIA CULTURAL NA EDUCAÇÃO REGULAR

Conforme já mencionado, o ser humano sempre foi fascinado pelos animais de um modo geral
e uma prova desse interesse é o sucesso que fazem os canais de TV que têm documentários em sua
grade, particularmente sobre natureza e vida selvagem. É impossível hoje em dia não se impressionar,
tanto com a qualidade dos vídeos quanto com as informações que eles passam. Isso é Zoologia na
sua essência, uma parte da Ciência extremamente interessante e atrativa até para o público leigo.
Porém, nas aulas regulares, o quadro costuma ser diferente. Tem-se um conteúdo técnico vasto
(morfologia, fisiologia, taxonomia, filogenia) que deve ser ministrado, o que, muitas vezes, causa
enfado e desinteresse por parte dos alunos (DA-SILVA et al., 2015b). Como um dos maiores desafios
da educação é tornar palatável e atraente o conteúdo da matéria aos alunos, o uso de elementos da
cultura pop em sala de aula traz uma atmosfera amigável e tem se mostrado uma ferramenta didática
de grande utilidade.
Didaticamente falando, HQs, livros, filmes, desenhos animados e séries de TV podem ser
utilizados em todos os níveis e disciplinas acadêmicos. Em matérias ligadas à História Natural e à
Ciência, seu uso é particularmente interessante, posto que estudos indicam que a assimilação do
conhecimento científico é mais efetiva quando se usa elementos da vida cotidiana do aluno. Com base
nas mídias, muitos conceitos biológicos podem ser trabalhados em aulas regulares. Com a devida
adequação de nível de profundidade, há conteúdos passíveis de aplicação tanto no ensino superior
quanto nos ensinos médio e fundamental. Os temas vão desde os mais específicos, ligados à Zoologia
(caracterização morfológica) até conceitos biológicos gerais (alimentação, predação, competição,
mutualismo, colonialismo, reprodução, ciclo de vida) e aplicados (controle biológico, conservação
ambiental). Todos esses conceitos e temas podem ser utilizados para enriquecer as aulas, transmitir
conteúdos e despertar o interesse dos alunos (COELHO & DA-SILVA, 2015). Mas isso, sempre, com
os devidos cuidados e ajustes. Como obras ficcionais, os filmes não estão obrigatoriamente
compromissados em abordar conteúdos de Ciências Naturais da forma que é considerada correta pela
comunidade científica (CARVALHO & MARTINS, 2009). Há sempre que se realçar que a utilização
acadêmico-didática de uma obra ficcional deve ser moderada com muita cautela e planejamento,
posto que o technobabble - recurso narrativo que usa palavras familiares para fazer uma teoria surreal
soar verossímil (REBLIN, 2012) – é comum em tal tipo de obra. E é aí que deve entrar o grau de
discernimento do professor, ao ministrar os conhecimentos e conduzir adequadamente as atividades
(COELHO & DA-SILVA, 2015a; DA-SILVA, 2015).
Interessante exemplo prático da utilização de personagens da cultura pop (no caso,
pertencentes ao universo dos super-heróis) em aulas de Ciências nos foi contado pela professora
Márcia Denise Guedes, do Colégio Futuro VIP Pilares, situado na Zona Norte do município do Rio de
28
Janeiro. Profa. Márcia propôs duas atividades aos seus alunos do 7º ano do Ensino Fundamental. Na
primeira, cada grupo de alunos deveria indicar um super-herói ou vilão da ficção que apresentasse
alguma característica animal, analisando o personagem em comparação com os animais estudados
na matéria. Na segunda atividade, cada grupo deveria criar um personagem contendo características
dos animais estudados (Figura 3). Iniciativas como essa trazem dinamismo às aulas, com certeza
influenciando beneficamente na motivação por parte dos alunos.

Figura 3. Tarefas propostas aos alunos das turmas de 7º ano, Ciências, do Colégio Futuro VIP Pilares, no 2º semestre de
2015. (Fotos: Márcia Denise Guedes.)

APLICAÇÃO DA ZOOLOGIA CULTURAL EM DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA, EDUCAÇÃO


AMBIENTAL E PRESERVAÇÃO

Os conhecimentos tradicional e científico podem ser complementares. Ambos se constituem


em ferramentas importantes para o manejo dos recursos naturais, fornecendo possibilidades para a
conservação da biodiversidade (McGREGOR, 2008; PINTO, 2011). A cultura pop e suas diversas
mídias, que representam um meio de comunicação em massa de grande penetração popular, podem
ser aproveitadas na sala de aula, como uma forma de despertar o interesse e prender a atenção dos
alunos (conforme já comentado). Dentro de tal visão, podem também ser aliadas inestimáveis às
atividades de divulgação científica, especialmente entre os jovens, que constituem o público-alvo
desse tipo de publicação (DA-SILVA & COELHO, 2015).
Recentemente, DA-SILVA & COELHO (2015) publicaram um artigo científico versando sobre o
uso da cultura pop como forma de popularizar os estudos sobre um grupo ecológico específico, os
insetos habitantes de ambientes aquáticos. Em que pese a ocorrência de grupos taxonômicos
extremamente populares, como os mosquitos (Diptera: Culicidae) e as libélulas (Odonata), quando se
fala em “insetos aquáticos” a reação do público leigo – e até mesmo de alguns zoólogos não tão

29
familiarizados com a Entomologia – geralmente é de total desconhecimento.
Alguns personagens de HQs são muito adequados a discussões filosóficas sobre conservação
da fauna e dos recursos naturais de uma maneira geral. Um deles é o Homem Animal (DC Comics),
um herói capaz de assimilar as habilidades de todos os animais, criado no início da década de 1960,
mas sem chegar a fazer muito sucesso entre os leitores no início de sua carreira. Nas mãos do escritor
inglês Grant Morrison, o personagem passou a ter uma forte mensagem de ativismo em defesa dos
animais (RODRIGUES, 2010). Outro personagem com interessante viés conservacionista é o Monstro
do Pântano (também da DC Comics). Criado na década de 1970, o personagem é intimamente ligado
à natureza, representado como um ser monstruoso composto de matéria vegetal, mas também com
interessantes componentes animais. Criatura capaz de antessentir toda e qualquer ameaça à
natureza, tal capacidade faz do Monstro do Pântano um verdadeiro herói ecológico. Ambos os
personagens são representativos de uma postura crítica com relação aos impactos ecológicos,
questionando a relação que o homem estabelece com a natureza, em uma sociedade cada vez mais
propensa ao desperdício (RODRIGUES, 2013).

Figura 5. Homem Animal e Monstro do Pântano. (Fonte: Google Imagens.)

PROJETO: ZOOLOGIA NA CULTURA POP

Diante de tudo que foi comentado até aqui, foi elaborado o projeto institucional A Zoologia na
composição de personagens fictícios, coordenado pelo Laboratório de Entomologia Urbana e
Cultural e contando com a participação de outros setores da UNIRIO, além de pesquisadores da UFRJ,
da FIOCRUZ e da Universidade de Copenhagen. O projeto tem como objetivo principal promover o
inventário dos personagens dos universos de super-heróis que tenham sido inspirados, de alguma
30
forma, em grupos taxonômicos animais. As peculiaridades desses personagens que tenham
correspondência com características reais dos táxons inspiradores são enfatizadas, sempre pensando
em possíveis formas de aplicação em sala de aula ou em divulgação científica.
De um modo geral, os personagens vêm sendo classificados de acordo com a editora de
criação, o papel social (herói ou vilão), a classificação taxonômica do animal que o inspirou, a
presença/ausência de características associadas ao animal e a década de criação. Até o presente
foram publicados artigos científicos versando sobre aracnídeos (DA-SILVA et al., 2014b), insetos (DA-
SILVA et al., 2014c) e crustáceos (DA-SILVA et al., 2014d) (Figs. 4-6). Em elaboração estão estudos
sobre os Myriapoda, Merostomata e Tardigrada (fechando os estudos sobre o táxon Panarthropoda),
além de felinos (Mammalia: Carnivora: Felidae) e macacos não-humanos (Mammalia: Primates).

Figura 5. Exemplos de personagens inspirados em aracnídeos: Aranha Negra (DC, à esquerda), Homem-Aranha (Marvel,
à direita). Adaptados de DA-SILVA et al. (2014b).

Figura 6. Exemplos de personagens inspirados em insetos: Besouro Azul (DC, à esquerda), Vespa (Marvel, à direita).
Adaptados de DA-SILVA et al. (2014c).

31
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo-se da máxima de que é preciso conhecer para preservar (FARIA & SOUZA, 2015),
esforços no sentido de popularizar o conhecimento científico são sempre bem-vindos. As mídias da
cultura pop, podem, assim, ser aliadas inestimáveis às atividades de divulgação científica,
especialmente entre os jovens, que constituem o público-alvo desse tipo de obra (DA-SILVA &
COELHO, 2015). HUNN (2014) foi mais além nessa abordagem, afirmando que, mais do que
conhecer, é preciso “amar” para se preservar, e o uso de personagens queridos pelo público em
campanhas poder ser extremamente positivo. A utilização de atividades lúdicas na educação
ambiental serve para mostrar, de forma dinâmica e didática, o quão é importante cuidar da natureza
em todos os aspectos (TORRES et al., 2014).
A introdução da cultura pop na didática curricular traz para a sala de aula debates espontâneos,
a partir de observações comparativas entre a ficção e a realidade, criando uma maior intimidade do
aluno com o objeto de estudo. Essa iniciativa estimula a leitura, a pesquisa além dos livros didáticos,
o senso crítico, a criatividade, os debates extracurriculares, a paixão por novas descobertas, a
satisfação individual e a curiosidade para além dos muros da escola. Tais estímulos são benéficos,
influenciando diretamente no desenvolvimento acadêmico, cultural e pessoal do aluno.

Figura 7. Exemplos de personagens inspirados em crustáceos: Bedovian (DC, à esquerda), Câncer (Marvel, à direita).
Adaptados de DA-SILVA et al. (2014d).

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34
ARTIGOS DE TEMAS LIVRES

35
CUPELLO, M. & VAZ-DE-MELLO, F.Z. 2016. Sinopse das espécies de Eurysternus Dalman, 1824 (Coleoptera, Scarabaeidae,
Scarabaeinae, Oniticellini) do Parque Nacional do Itatiaia, Sudeste do Brasil. In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.;
Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 36-55.

SINOPSE DAS ESPÉCIES DE Eurysternus DALMAN, 1824 (COLEOPTERA,


SCARABAEIDAE, SCARABAEINAE, ONITICELLINI) DO PARQUE NACIONAL DO
ITATIAIA, SUDESTE DO BRASIL

Mario Cupello1
Fernando Z. Vaz-de-Mello2

RESUMO

São apresentados os primeiros resultados de um projeto ainda em andamento que visa completar um
levantamento e guia de identificação dos besouros rola-bosta do Parque Nacional do Itatiaia, uma das
mais importantes áreas de conservação da Mata Atlântica. O gênero Eurysternus Dalman, 1824, o
único membro sul-americano da tribo Oniticellini, está representado no parque por oito espécies: E.
cyanescens Balthasar, 1939, E. deplanatus (Germar, 1824), E. francinae Génier, 2009, E. hirtellus
Dalman, 1824, E. inflexus (Germar, 1824), E. parallelus Castelnau, 1840, E. nigrovirens Génier, 2009
e E. sulcifer Balthasar, 1939. Além de serem fornecidas diagnoses para o gênero e suas espécies,
apresentamos também uma chave de identificação e uma breve discussão sobre o posicionamento
filogenético, a história taxonômica e a história natural de Eurysternus.

Palavras-chave: chave de identificação, diagnoses, Mata Atlântica, rola-bostas, Serra da Mantiqueira.

ABSTRACT

A REVIEW OF THE Eurysternus DALMAN, 1824 SPECIES (COLEOPTERA, SCARABAEIDAE,


SCARABAEINAE, ONITICELLINI) PRESENT IN THE PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA,
SOUTHEASTERN BRAZIL
Here we present the first results of an ongoing project that aims to make an inventory and an
identification guide of the dung beetles inhabiting the Parque Nacional do Itatiaia, one of the most
important conservation areas in the Atlantic Forest. The genus Eurysternus Dalman, 1824, the only
South American member of the tribe Oniticellini, is represented in the park by eight species: E.
cyanescens Balthasar, 1939, E. deplanatus (Germar, 1824), E. francinae Génier, 2009, E. hirtellus
Dalman, 1824, E. inflexus (Germar, 1824), E. nigrovirens Génier, 2009, E. parallelus Castelnau, 1840,
and E. sulcifer Balthasar, 1939. We give diagnoses for the genus and its species, an identification key
to the species and a brief discussion about the phylogenetic placement, the taxonomic history and the
natural history of the Eurysternus.

Keywords: Atlantic Forest, diagnoses, dung beetles, identification key, Serra da Mantiqueira.

___________________
1
Departamento de Entomologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.
2
Departamento de Biologia e Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT, Brasil.
3
Autor correspondente: mcupello@hotmail.com.

36
INTRODUÇÃO

Os besouros rola-bosta da subfamília Scarabaeinae formam hoje um dos grupos mais


intensivamente estudados na entomologia. Isso é devido não somente à sua diversidade de mais de
260 gêneros e 6200 espécies distribuídos por todas as regiões zoogeográficas (TARASOV & GÉNIER,
2012), mas também por conta da incrível complexidade morfológica, ecológica e comportamental que
possuem (e.g., veja SCHOLTZ et al., 2009). Por serem consumidores de matéria orgânica em
decomposição, especialmente fezes, adultos e larvas desses besouros possuem papel fundamental
na ciclagem de nutrientes em ambientes terrestres. Consequentemente, para que possamos ter um
entendimento pleno da dinâmica ecológica de áreas tropicais continentais, é imprescindível que
primeiro conheçamos a composição e as relações biológicas de suas comunidades de rola-bostas.
A Mata Atlântica, um dos hotspots de biodiversidade mundial (MYERS et al., 2000; WILSON,
2002; LAURENCE, 2009), possui uma rica fauna de rola-bostas ainda largamente desconhecida.
Algumas de suas espécies, como Coprophanaeus machadoi (Pereira & d’Andretta, 1955),
Dichotomius schiffleri Vaz-de-Mello, Louzada & Gavino, 2011, D. alvarengai Maldaner, Nunes & Vaz-
de-Mello et al., 2015, D. speciosus (Waterhouse, 1891) e D. opalescens (Felsche, 1910), foram
classificadas recentemente como em risco de extinção (VAZ-DE-MELLO et al., 2001; CUPELLO &
VAZ-DE-MELLO, 2014; MALDANER et al., 2015) e outras espécies ainda não estudadas sob essa
perspectiva – sobretudo, aquelas ainda não descritas ou as muito raras e que não são coletadas há
décadas em certos locais em que antes eram encontradas – deverão ser incluídas nessa lista. A
principal causa que ameaça a sobrevivência dessas espécies é, sem dúvida, a intensa pressão
exercida pelo contínuo desmatamento dos últimos remanescentes florestais. RIBEIRO et al. (2009),
por exemplo, deixaram claro o atual cenário de fragmentação em que se encontra a Mata Atlântica,
bioma que outrora se estendia continuamente por grande parte do litoral sul-americano, desde o
nordeste e sudeste brasileiro até a Argentina, e regiões interiores do continente no Paraguai e Mato
Grosso do Sul, mas que hoje está reduzido a cerca de 11 a 16% de sua cobertura original e que tem
80% de sua área distribuída em pequenos fragmentos de menos de 50 hectares. Há ainda outras
causas mais sutis ameaçando as comunidades de Scarabaeinae da Mata Atlântica, como a
defaunação seletiva de mamíferos de médio e grande porte, os quais, com suas fezes, fornecem o
alimento primordial que a maioria dos rola-bostas depende para viver (CULOT et al., 2013).
Nos últimos anos, as comunidades de Scarabaeinae da Mata Atlântica foram alvo de diversos
estudos. No Rio Grande do Sul, por exemplo, Pedro Giovâni da Silva e colaboradores vêm
pesquisando intensivamente os rola-bostas em diversos pontos do estado (SILVA et al., 2011, 2012,
2013; SILVA & DI MARE, 2012). Em Santa Catarina, há os trabalhos de CAMPOS & HERNÁNDEZ
(2013) e SILVA & HERNÁNDEZ (2015). Por sua vez, HERNÁNDEZ et al. (2011), HERNÁNDEZ &
37
VAZ-DE-MELLO (2009) e CULOT et al. (2013) focaram o Estado de São Paulo, enquanto SILVA et
al. (2010) estudaram os rola-bostas de uma localidade em Pernambuco. Não obstante os esforços
quanto à padronização de coletas, testes estatísticos e outras ferramentas que esses trabalhos
tenham empregado, qualquer estudo que lide com a fauna de Scarabaeinae da região neotropical
enfrenta um sério problema que dificilmente pode ser contornado com sucesso: o amplo caos
taxonômico que muitos grupos hoje se encontram. Apesar do grande número de revisões que vêm
sendo publicadas nas últimas duas décadas [VAZ-DE-MELLO et al. (2011) resumiram aquelas
disponíveis até então], há ainda claras lacunas no atual conhecimento da sistemática dos
Scarabaeinae.
Naturalmente, essas brechas trazem grandes perdas. Em muitos trabalhos de cunho faunístico
ou de ecologia, não é possível identificar com segurança a maioria dos exemplares coletados, sendo
os autores obrigados a separá-los muito imprecisamente em grupos de indivíduos com morfologia
semelhante (as “morfoespécies”). Não tendo como nomeá-los, a comparação entre trabalhos de
diferentes autores fica inviabilizada e praticamente toda a informação é perdida. Portanto, há grande
urgência por trabalhos de taxonomia com os rola-bostas. Até onde sabemos, o único trabalho
publicado até agora que se dedicou a inventariar os rola-bostas de uma região de Mata Atlântica e
oferecer uma chave de identificação para as espécies encontradas foi o de SILVA et al. (2011), que
apresentou um guia de identificação para os Scarabaeinae do município de Santa Maria, no Rio
Grande do Sul.
Uma das áreas de Mata Atlântica há muito estudada é o Parque Nacional do Itatiaia (PNI),
unidade de conservação mais antiga do país e que está localizada na divisa entre os estados do Rio
de Janeiro (municípios de Itatiaia e Resende) e Minas Gerais (Itamonte e Bocaina de Minas), na Serra
da Mantiqueira. Abrangendo áreas com elevação entre 600 e 2.792 metros, o parque reúne uma
grande variedade florística e fisionômica nesse gradiente altitudinal: nas áreas mais baixas, predomina
a floresta ombrófila densa, que gradualmente se converte na vegetação herbáceo-arbustiva
característica dos campos de altitude do Planalto do Itatiaia. Levantamentos recentes da mastofauna
do PNI – fauna com a qual os rola-bostas estão intimamente relacionados – mostraram a presença de
69 espécies de mamíferos não voadores no local (GEISE et al., 2004; AXIMOFF et al., 2015). Desses,
é interessante ressaltar a presença de primatas como o bugio-ruivo [Alouatta fusca (Geoffroy Saint-
Hilaire, 1812)], o muriqui-do-sul [Brachyteles arachnoides (E. Geoffroy, 1806)], o macaco-sauá
[Callicebus nigrifrons (Spix, 1823)] e o macaco-prego [Sapajus nigritus (Goldfuss, 1809)], e ungulados
como o caititu [Pecari tajacu (Linnaeus, 1758)] e o queixada [Tayassu pecari (Link, 1795)], todos
prováveis fontes de fezes para o consumo dos rola-bostas.
Em colaboração com a equipe do Laboratório de Coleoptera do Departamento de Entomologia,
Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, desde 2010 nós temos desenvolvido um
38
levantamento e guia de identificação dos rola-bostas ocorrentes no PNI. Representando os primeiros
resultados desse projeto, o presente trabalho trata do gênero Eurysternus Dalman, 1824, o único
representante na América do Sul da tribo Oniticellini (GÉNIER, 2009). Com o intuito de auxiliar aqueles
interessados em estudar a fauna de rola-bostas do parque, oferecemos uma chave de identificação e
diagnoses para as espécies encontradas no local, além de um resumo das informações presentes na
literatura sobre o gênero.

MATERIAL E MÉTODOS

Os resultados deste trabalho foram obtidos com base, sobretudo, no exame de espécimes
depositados nas seguintes coleções (curadores entre parênteses): FIOC – Coleção Entomológica do
Instituto Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil (Márcio Felix); MNRJ – Museu
Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil (Miguel A. Monné e Marcela
L. Monné). Ainda que os exemplares coletados por J. F. Zikán e W. Zikán tenham indicado em suas
etiquetas apenas a localidade “Itatiaia” e não uma referência direta ao PNI, é sabido que esses dois
naturalistas coletaram durante anos na área do parque e, portanto, provavelmente foi lá que coletaram
os Eurysternus examinados neste trabalho.
A fim de acrescentar um maior número de exemplares e eventuais informações biológicas a
este trabalho, o primeiro autor fez nove excursões ao PNI entre 2010 e 2015 e lá pôde instalar
armadilhas pitfall iscadas com fezes humanas (variando até 10 o número de pitfalls por episódio de
coleta) em locais próximos à Casa do Pesquisador, a cerca de 810 m de altitude.
As diagnoses e a chave de identificação seguem a terminologia empregada por GÉNIER
(2009), o responsável pela última revisão de Eurysternus; as informações sobre a variação do
comprimento das espécies, em particular, foram tomadas integralmente de GÉNIER (2009). Quando
não há dimorfismo sexual além daquele presente em todas as espécies de Eurysternus, foi dada
apenas uma diagnose geral que se aplica a ambos os sexos, ao passo que, quando há qualquer
diferença entre os sexos que não aquela geral do gênero, deu-se primeiro a diagnose detalhada do
macho e, em seguida, uma lista das características que são próprias da fêmea. Por fim, as fotografias
foram tomadas com câmara Nikon D90 com lente macro Sigma 150 mm.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Tribo Oniticellini Kolbe, 1905


Subtribo Eurysternina Vulcano, Martínez & Pereira, 1960
Gênero Eurysternus Dalman, 1824
39
1) Relacionamento filogenético com outros rola-bostas
As espécies do gênero neotropical Eurysternus são facilmente diferenciadas de outros
escaravelhos por sua forma geral do corpo e, possivelmente, foi por isso que DALMAN (1824)
reconheceu e descreveu o táxon num momento ainda tão inicial da taxonomia do grupo (GÉNIER,
2009). Certamente, o metasterno amplo de Eurysternus, uma das principais características
diagnósticas do grupo, chamou atenção de Dalman, já que ele a utilizou ao batizar o novo gênero.
LANSBERGE (1874) redefiniu a tribo Sisyphini com base nesse caráter, além das mesocoxas
paralelas e tarsos posteriores delgados, e nela situou três gêneros: Amphistomus Lansberge, 1874,
Sisyphus Latreille, 1807 e Eurysternus. Reconhecendo particularidades deste último gênero,
VULCANO et al. (1960) descreveram a tribo Eurysternini apenas para comportar Eurysternus e
apontaram os palpos labiais biarticulados, o escutelo exposto e o clípeo inerme como características
que separariam Eurysternus de Sisyphini. HALFFTER & HALFFTER (1976) citaram outras
características que separariam as duas tribos, como a capacidade de Eurysternus de mover as pernas
médias para cima dos élitros, o que não é encontrado em nenhum Sisyphini. Em adição a estes
trabalhos, LOPEZ-GUERRERO (1999) descreveu a morfologia da genitália masculina de E.
mexicanus Harold, 1869 e E. magnus Castelnau, 1840 e a comparou com a de Sisyphus
submonticolus Howden, 1965 e S. crispatus mexicanus Harold, 1863 (citado como S. mexicanus). Em
sua conclusão, a autora afirmou que, a despeito da semelhança geral do órgão entre os dois gêneros,
algumas particularidades da morfologia do edeago de Eurysternus os isolam de Sisyphini.
GÉNIER (2009) confirmou a posição de VULCANO et al. (1960) quanto à falta de afinidades
entre Eurysternus e os outros gêneros Sisyphini, mas não concordou com a posição isolada do gênero
numa tribo monotípica. De fato, GÉNIER (2009) defendeu que estes besouros estariam mais
intimamente relacionados com os gêneros da tribo Oniticellini e, portanto, propôs que Eurysternini
fosse rebaixado ao status de subtribo. Para sustentar sua proposta, o autor comparou Eurysternus
com o gênero monotípico africano de Oniticellini Scaptocnemis Péringuey, 1901 e listou diversas
características compartilhadas pelos dois táxons, tais como: achatamento dorsal do corpo, cabeça
inerme, palpo maxilar cilíndrico e composto por quatro artículos, palpo labial chato e com dois artículos
bem desenvolvidos (terceiro palpômero distal, se presente, rudimentar), proepisterno se estendendo
verticalmente pela lateral do pronoto, margem anterior das protíbias dos machos munida de uma
escova de cerdas, mesocoxas paralelas e largamente separadas, escutelo visível entre as bases dos
élitros, bordas externas dos élitros paralelas e pseudoepipleura larga. Além disso, como mostraram
HUERTA et al. (2005), o comportamento de nidificação de Eurysternus e outros membros de
Oniticellini possui semelhanças que podem ser interpretadas como sendo homólogas e, nesse caso,
representariam em conjunto uma sequência de modificações evolutivas extremamente interessantes
40
e um forte argumento a favor da proposta GÉNIER (2009).
No entanto, é curioso notar que, das filogenias publicadas até o presente momento, tenham
elas sido baseadas em dados morfológicos (ZUNINO, 1983; PHILIPS et al., 2004; VAZ-DE-MELLO,
2007; TARASOV & GÉNIER, 2015; PHILIPS, 2016) ou moleculares (OCAMPO & HAWKS, 2006;
MONAGHAN et al., 2007), apenas uma (VAZ-DE-MELLO, 2007) retornou Oniticellini sensu GÉNIER
(2009) monofilético. Nesse trabalho, além de Eurysternus parallelus Castelnau, 1840, apenas outras
duas espécies de Oniticellini foram incluídas: Oniticellus cinctus (Fabricius, 1775) e Sinodrepanus
thailandicus Ochi et al., 2004, ambas da Ásia. O fato é que nenhum desses estudos teve entre os seus
objetivos principais o teste do posicionamento filogenético de Eurysternus entre as tribos de
Scarabaeinae e, por isso, a amostragem taxonômica utilizada não foi realmente adequada para esse
fim. Assim, testar a hipótese de GÉNIER (2009) através de uma análise cladística ou de métodos
filogenéticos probabilísticos ainda é de grande interesse. A última classificação proposta divide
Oniticellini em quatro subtribos: Oniticellina, Eurysternina, Drepanocerina e Helictopleurina
(BOUCHARD et al., 2011).

2) Histórico taxonômico
JESSOP (1985), o primeiro autor a revisar Eurysternus, reconheceu então 22 espécies válidas
no gênero. Logo em seguida, MARTÍNEZ (1988) descreveu mais seis espécies e dividiu Eurysternus
em três subgêneros: Eurysternus s. str., Paraeurysternus Martínez, 1988 e Eurysternodes Martínez,
1988. Mais tarde, ÖZDIKMEN (2009) descobriu que o último nome é homônimo júnior de
Eurysternodes Schuster & Summer, 1978 (Arachnida: Acari), e, para substituí-lo, propôs o nomen
novum Amartinezus. GÉNIER (2009), contudo, na última e maior revisão do gênero, sinonimizou os
três subgêneros e dividiu as 53 espécies consideradas por ele como válidas (27 delas novas) em 11
grupos de espécies.

3) História natural
Muito já foi publicado sobre a biologia de Eurysternus, sobretudo, sobre seu comportamento de
nidificação. Um aspecto importante sobre as espécies deste gênero é que não podem ser classificadas
em nenhum dos dois grandes grupos em termos de realocação de alimento em que os rola-bostas
são divididos: os paracoprídeos (os escavadores) e os telecoprídeos (os roladores) (HUERTA et al.,
2005). Os primeiros escavam túneis embaixo das massas de fezes deixadas por mamíferos e para lá
levam o alimento. No segundo grupo, os besouros constroem pequenas bolas com as fezes e as rolam
sobre o solo para longe da massa; somente quando alcançam certa distância dela é que finalmente
enterram a bola. Eurysternus não se enquadra em nenhum desses dois cenários. HALFFTER &
EDMONDS (1982), numa classificação muito mais detalhada, reconheceram sete padrões distintos
41
de nidificação entre os Scarabaeinae, sendo um deles, o Padrão VI, representado apenas pelas
espécies de Eurysternus.1
A primeira característica ímpar de Eurysternus está em possuir uma relação com o alimento na
época não reprodutiva distinta daquela do período fértil. Outros rola-bostas manejam o alimento do
mesmo modo toda a vida: se forem roladores, farão bolas estando ou não em período reprodutivo; se
forem escavadores, enterrarão independentemente da época de suas vidas. As espécies de
Eurysternus, por outro lado, quando não estão em período fértil, simplesmente alimentam-se
diretamente sobre o alimento, como ocorre em muitos Aphodinae, outro grupo de escarabeídeo
detritívoro, sem que haja a sua realocação. Segundo NORIEGA & CALLE (2008), há registros de
espécimes se alimentando de fezes de cavalo, macaco-aranha, macaco-uivador e de humanos, além
de carcaças de cutias, ratos, preguiças e tamanduás. Além disso, eles reportaram o consumo de
pétalas de flores de Gustavia hexapetala (Aublet) Smith por Eurysternus foedus, algo inédito em
Scarabaeinae. PESSOA & LANE (1941) apontam quatro espécies necrófagas de Eurysternus (E.
foedus; E. calligramus Dalman, 1824; E. impressicollis Castelnau, 1840; E. parallelus Castelnau, 1840)
atualmente válidas como sendo de interesse médico-forense por fazerem parte de sucessão
cadavérica. Não obstante essa variedade alimentar nos períodos inter-reprodutivos, o comportamento
destes animais muda drasticamente no período de nidificação.
A nidificação de Eurysternus é dividida em três fases distintas: o banquete nupcial (“nupcial
feast”), a nidificação experimental (“experimental nesting”) e a nidificação definitiva (“final nesting”).
De fato, esta é uma generalização, pois certas espécies não apresentam parte (e.g., E. deplanatus
(Germar, 1824)) ou nenhuma dessas fases (E. foedus Guérin-Méneville, 1844). Nessas exceções,
contudo, pode estar contida a chave que ligará o comportamento único de Eurysternus com o restante
de Scarabaeinae, como já afirmado por HUERTA et al. (2005).
Durante o banquete nupcial, as fêmeas constroem inúmeras bolas com as fezes. Essa ação
atrai os machos, fato que também é diferente de muitos outros rola-bostas, nos quais é o macho que
atrai as fêmeas com bolas que eles constroem (HUERTA et al., 2003). A cópula pode ocorrer em
momentos variados, mas o padrão é que ela seja seguida por nidificação experimental, onde ovos
individuais são postos em cada uma das várias bolas construídas durante o banquete nupcial. Em
seguida, essas bolas e seus ovos são destruídos e ingeridos.
Após o período de ninhos experimentais e um intervalo com alimentação normal, um ninho
definitivo com múltiplas bolas é construído e a fêmea ficará de guarda cuidando dos ovos e larvas em

1A discussão que se segue, a não ser quando especificada outra fonte, é uma compilação dos dados publicados por
HALFFTER & HALFFTER (1976), HALFFTER et al. (1980), HALFFTER & EDMONDS (1982) e HUERTA et al. (2003,
2005).

42
desenvolvimento, período que poderá durar até cerca 50 dias (HALFFTER et al., 1980). Esse
comportamento subsocial é útil na defesa contra fungos e cleptoparasitas que ameaçam o ninho. Após
a emergência das imagos, a fêmea abandona a cria. Ela poderá voltar a realizar todo o comportamento
de nidificação novamente, pois, diferentemente de outros rola-bostas, as fêmeas de Eurysternus
podem viver um longo período, algumas alcançando até dois anos de idade.
Outro aspecto ímpar da biologia de Eurysternus é o seu comportamento críptico. Segundo GILL
(1990), não é fácil observar espécimes em campo, pois eles apresentam coloração opaca,
movimentos letárgicos e uma forma de tanatose única, na qual as pernas médias e posteriores se
estendem enquanto o animal se finge de morto. Este hábito separaria Eurysternus do restante dos
Scarabaeinae neotropicais, mas táxons de outras regiões apresentam camuflagem e tanatose
similares. Cyptochirus Lesne, 1900, gênero africano de Oniticellini, por exemplo, apresentaria
comportamento semelhante (GILL, 1990).
Segundo HALFFTER et al. (1980), Eurysternus se originou na América do Sul, de onde se
expandiu para a atual área de distribuição, que se estende desde o México até o norte da Argentina
(GÉNIER, 2009).
O período de atividade de Eurysternus aparentemente é diurno. HERNÁNDEZ (2002) cita E.
parallelus Castelnau, 1840, E. cyanescens Balthasar, 1939 e uma terceira espécie não identificada
como ativas durante o dia. De fato, em Itatiaia, avistamos E. inflexus chegando às armadilhas em
horário diurno, por volta de 15:30, em outubro de 2010.

4) Espécies presentes no PNI


No PNI, são encontradas oito espécies de Eurysternus pertencentes a seis dos onze grupos
estabelecidos por GÉNIER (2009): grupo deplanatus: E. deplanatus (Germar, 1824) e E. parallelus
Castelnau, 1840; grupo foedus: E. sulcifer Balthasar, 1939; grupo inflexus: E. inflexus (Germar, 1824);
grupo hirtellus: E. hirtellus Dalman, 1824 e E. nigrovirens Génier, 2009; grupo calligramus: E.
cyanescens Balthasar, 1939; e grupo caribaeus: E. francinae Génier, 2009.

Diagnose: Corpo retangular e bem aplanado. Clípeo e fronte inermes; sutura clipeofrontal
inconspícua; sutura clípeo-genal fraca, mas visível. Antenas 9-articuladas inseridas anteriormente aos
olhos e com clava trífila; palpos maxilares cilíndricos e tetra-articulados; palpos labiais chatos e
aparentemente bi-articulados (terceiro artículo distal muito atrofiado e pouco visível). Pronoto inerme.
Escutelo claramente visível entre as bases dos élitros. Margem externa da protíbia das fêmeas
fortemente denteada, sendo quatro destes dentes muito longos e robustos; macho com apenas
algumas pequenas calosidades ligeiramente projetadas. Mesocoxas paralelas entre si e situadas nas
laterais do corpo. Élitros planos, chatos, com margens externas paralelas e com leve declive para o
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ápice; carena humeral presente; oito estrias elitrais; carena elitral formando ampla pseudoepipleura
vertical. Proepímero vertical, estendendo-se por toda a lateral do protórax. Mesosterno curto e de difícil
visualização; sutura mesometasternal fraca e sinuosa; metasterno amplo e totalmente plano, sem
qualquer área em declive.
Caracteres sexuais secundários são de fácil observação em Eurysternus:
- Protíbia dos machos, em seu ápice, logo abaixo do protarso, com um pente transversal de
cerdas curtas claramente visível. Este é ausente nas fêmeas (JESSOP, 1985; GÉNIER, 2009).
- Tarsômero basal do protarso dos machos curto e giboso. Nas fêmeas, tarsômero basal longo,
cilíndrico e fino.
- Protíbia dos machos com dentes muito reduzidos; fêmeas com dentes da protíbia bem
desenvolvidos
- Em algumas espécies, esporão da metatíbia dos machos fundido, enquanto nas fêmeas ele é
sempre articulado (JESSOP, 1985; GÉNIER, 2009).

Chave para as espécies de Eurysternus Dalman, 1824 encontradas no Parque Nacional do


Itatiaia (parcialmente adaptada de GÉNIER, 2009)

1- Metafêmures inermes ....................................................................................................................... 2


1’- Metafêmures com dente conspícuo em sua margem posterior ....................................................... 7
2- Pronoto com pontuação simples e com ao menos uma única área triangular glabra bem delimitada
na região anterior. Primeiro urosternito visível acuminado entre os ápices das metacoxas ................ 3
2’- Pronoto com pontuação ocelada e sem áreas glabras delimitadas por cerdas (i.e., pronoto
inteiramente glabro ou inteiramente coberto por cerdas). Primeiro urosternito visível truncado ou
acuminado entre os ápices das metacoxas. Forte pubescência por todo o corpo ............................... 5
3- Região anterior do pronoto com área triangular glabra única e de mesma coloração do restante do
tegumento. Vértex munido de dois tufos de longas cerdas ............................ E. inflexus (Germar, 1824)
3’- Região anterior do pronoto com três áreas glabras lustrosas e de coloração diferente do restante
do tegumento. Vértex sem tufo de longas cerdas ................................................................................. 4
4- Meso e metafêmures com coloração como o restante do tegumento, marrom escuro com brilho
metálico verde-oliva. Áreas circulares glabras da região anterior do pronoto menos lustrosas e
contrastantes com o restante do tegumento do que a área glabra triangular mediana. Metasterno do
macho com pequena carena longitudinal entre os ápices das metacoxas
.................................................................................................................. E. parallelus Castelnau, 1840
4’- Meso e metafêmures com coloração negra no terço basal e castanho claro no restante do
comprimento nos espécimes mais claros. Áreas circulares glabras da região anterior do pronoto tão
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lustrosas e contrastantes com o restante do tegumento quanto a área glabra triangular mediana.
Metasterno do macho inerme ................................................................... E. deplanatus (Germar, 1824)
5- Metasterno irregular, com depressões nas áreas adjacentes às mesocoxas, ao ápice das
metacoxas e no centro do disco metasternal ............................................... E. nigrovirens Génier, 2009
5’- Metasterno com superfície lisa e com forte coloração verde metálica no centro do disco, podendo
apresentar uma leve depressão nesta área ..................................................... E. hirtellus Dalman, 1824
6- Carena da pseudoepipleura elevada e mais alta do que a região adjacente dos élitros. Mesofêmures
clavados ................................................................................................ E. cyanescens Balthasar, 1939
6’- Carena da pseudoepipleura no mesmo nível ou mais baixa do que região adjacente dos élitros.
Mesofêmures lineares .......................................................................................................................... 7
7- Ápice dos élitros com cerdas escamiformes simples, bífidas e trífilas. Metafêmures lineares e com
dente na metade basal da margem posterior ................................................. E. sulcifer Balthasar, 1939
7’- Ápice dos élitros com cerdas filiformes e somente simples. Metafêmures levemente clavados e com
dente na metade apical da margem posterior nos machos e no centro da margem posterior nas fêmeas
........................................................................................................................ E. francinae Génier, 2009

1. Eurysternus parallelus Castelnau, 1840 (Figura 2)


= Eurysternus femoralis Lucas, 1857
Diagnose: Macho: 9,5-14,0 mm de comprimento. Tegumento castanho-escuro com brilho metálico
verde-oliva. Ápice do clípeo com forte depressão. Pronoto com pontuação simples e com pequena
área triangular glabra, lustrosa e ligeiramente convexa na superfície anterior flanqueada por duas
áreas circulares também glabras e lustrosas. Metasterno com pequena carena longitudinal entre as
metacoxas. Protarso presente; meso e metafêmur clavados e unicolores; metatíbia com esporão
articulado. Interestrias do ápice dos élitros com feixes de longas cerdas. Primeiro urosternito visível
acuminado entre as metacoxas.
Fêmea: Metasterno sem carena entre as coxas.
Comentários: Um espécime depositado no MNRJ possui etiqueta escrita a mão em grafite “Sergipe?
”. Se esta localidade for confirmada como correta, será de grande interesse, pois, segundo a
distribuição dada por GÉNIER (2009), a espécie não ocorreria no nordeste brasileiro, tendo o seu
limite setentrional na Mata Atlântica no estado do Rio de Janeiro.
Altitude e período de coleta: Espécie coletada por todo o ano (GÉNIER, 2009; MNRJ). Em relação
à altitude, os espécimes depositados no MNRJ e FIOC possuem altitude máxima de 900 m. Todos os
espécimes coletados pelo primeiro autor no PNI o foram em altitude de 750 m.
Distribuição Geográfica: BRASIL: Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São
Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul. PARAGUAI: Concepción, Central, Cordillera,
45
Paraguarí, Canindeyú, Alto Paraná, Caaguazú, Guará, Caazapá. ARGENTINA: Misiones, Corrientes
(GÉNIER, 2009). Amplia-se a distribuição no Brasil para o estado do Mato Grosso.
Material Examinado: BRASIL: MATO GROSSO: Rio Caraguatá, III.1953, Plauman col. – 1 macho e
2 fêmeas (MNRJ). MINAS GERAIS: Passa Quatro, XII.1916, E. Jaeger col. – 2 fêmeas (MNRJ).
PARANÁ: Guarapuava, III.1958, I. Schneider col. – 1 macho (MNRJ); Rio Negro, XII.1922, coletor não
legível – 1 fêmea (MNRJ). RIO DE JANEIRO: Itaguaí, Serra da Caveira, 600m, 25.II.1948, W. Zikán
col. – 1 macho (MNRJ); Itatiaia, 19.IV.1922, J. F. Zikán col. – 1 macho (FIOC); Itatiaia, 1924, J. F.
Zikán col. – 1 fêmea (FIOC); Itatiaia, 3.III.1930, J. F. Zikán col. – 1 macho (FIOC); Itatiaia, 03.XII.1940,
J. F. Zikán col. – 1 macho (FIOC); Itatiaia, 700m, 15.V.1924, J. F. Zikán col. – 2 machos (FIOC); Itatiaia,
700m, 5.XI.1928, J. F. Zikán col. – 1 fêmea (FIOC); Itatiaia, 700m, 19.XII.1933, J. F. Zikán col. – 1
macho (FIOC); Itatiaia, 700m, II.1959, W. Zikán col. – 7 machos e 5 fêmeas (MNRJ); Itatiaia, 900m,
10.X.1929, W. Zikán col. – 1 macho (MNRJ); Mendes, Centro Marista São José das Paineiras, 18-
22.I.2013, Mario Cupello & Luiz P. Gonzaga cols. – 1 macho (MNRJ); Parque Nacional do Itatiaia,
750m, 22-24.X.2010, Wallace Beiroz & Mario Cupello cols – 1 macho (MNRJ); Parque Nacional do
Itatiaia, Casa do Pesquisador, 750 m., 27.II-01.III.2012, Mario Cupello col. – 1 fêmea (MNRJ); Rio
Muriaé, 12.XI.1908, W. Zikán col. – 1 macho (MNRJ). SANTA CATARINA: Arapongas, XII.1951, A.
Maller col. – 1 macho (MNRJ); Corupá, II.1968, Maller col. – 1 fêmea (MNRJ); Corupá, 60m, III.1940,
A. Maller col. – 3 machos e 2 fêmeas (MNRJ); Mafra, I.1969, A. Maller col. – 1 fêmea (MNRJ); Mafra,
800m, IV.1940, A. Maller col. – 1 macho (MNRJ); São Bento, I.1952, A. Maller col. – 2 machos (MNRJ).
SÃO PAULO: Angatuba, I.1923, “Burimayer” (Thomas Borgmeier?) col. – 1 macho (MNRJ); Aurora,
VI.1947, sem coletor – 1 macho (MNRJ); Mogi-Guaçu, 19.V.1969, Karol Lenke col. – 1 macho (MNRJ);
Rio Paraná, Porto Cabral, III a IV.1944, L. Travassos col. – 1 macho e 1 fêmea (MNRJ). SERGIPE
(?): sem data e coletor – 1 macho (MNRJ).

2. Eurysternus deplanatus (Germar, 1824) (Figura 3)


Diagnose: 8,0-11,0 mm de comprimento. Tegumento variando desde castanho-escuro até castanho-
claro. Ápice do clípeo com forte depressão. Pronoto com pontuação simples e com pequena área
triangular glabra, lustrosa e ligeiramente convexa na superfície anterior. Protarso presente; meso e
metafêmures clavados e de coloração negra no terço basal e castanho no restante do comprimento
nos espécimes mais claros, pouco contraste entre as duas áreas nos espécimes mais escuros.
Metatíbia com esporão articulado. Interestrias do ápice dos élitros com feixes de longas cerdas.
Primeiro urosternito visível acuminado entre as metacoxas.
Altitude e período de coleta: Habitualmente coletado acima de 1.000 m nos meses de janeiro,
fevereiro, abril, setembro, novembro e dezembro (GÉNIER, 2009). O único exemplar examinado com
dados de altitude depositado no MNRJ foi coletado a 700 m, enquanto o espécime único da FIOC foi
46
coletado também no PNI a 1.380 m de altitude.
Distribuição Geográfica: BRASIL: Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina,
Rio Grande do Sul (GÉNIER, 2009).
Material Examinado: Localidade não especificada: 4.IX.1921, sem coletor – 1 macho (MNRJ).
BRASIL: PARANÁ: Guarapuava, XII.1959, I. Schneider col. – 1 fêmea (MNRJ). RIO DE JANEIRO:
Itatiaia, XI.1950, Travassos & Dalcy cols. – 1 macho (MNRJ); Itatiaia, 700m, II.1959, W. Zikán col. – 1
fêmea (MNRJ); Itatiaia, 1380m, 23.XII.1935, J. F. Zikán col. – 1 macho (FIOC).

3. Eurysternus inflexus (Germar, 1824) (Figura 4)


= Eurysternus rufescens Dalman, 1824
= Eurysternus opatrinus Perty, 1830
= Eurysternus planipennis Lucas, 1859
Diagnose: 9,0-12,0 mm de comprimento. Tegumento castanho-claro. Ápice do clípeo com forte
depressão. Vértex munido de dois tufos de longas cerdas. Pronoto com pontuação simples; superfície
anterior com área triangular glabra e de mesma coloração do restante do tegumento bem delimitada
por fileira de longas cerdas. Protarso presente; meso e metafêmures levemente clavados e de
coloração negra no terço basal e castanho-claro no restante do comprimento; metatíbia com esporão
articulado. Interestrias do ápice dos élitros com feixes de longas cerdas. Primeiro urosternito visível
acuminado entre as metacoxas.
Altitude e período de coleta: Espécie de altitude mediana a elevada, coletada nos meses de janeiro,
março, abril, outubro, novembro e dezembro (GÉNIER, 2009). Todos os espécimes depositados no
MNRJ foram coletados pelo primeiro autor em altitude de 750 m, nos meses de outubro, novembro e
fevereiro.
Distribuição geográfica: BRASIL: Goiás, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo (GÉNIER, 2009).
Material Examinado: BRASIL: RIO DE JANEIRO: Itatiaia, 07.I.1924, J. F. Zikán col. – 1 fêmea
(FIOC); Itatiaia, 10.II.1933, J. F. Zikán col. – 1 macho (FIOC); Itatiaia, 20.II.1933, J. F. Zikán col. – 1
fêmea (FIOC); Itatiaia, 06.XI.1937, J. F. Zikán col. – 1 fêmea (FIOC); Itatiaia, 20.XII.1937, J. F. Zikán
col. – 1 macho (FIOC); Itatiaia, 02.I.1948, J. F. Zikán col. – 1 fêmea (FIOC); Parque Nacional do Itatiaia,
750m, 22-24.X.2010, Wallace Beiroz & Mario Cupello cols. – 4 machos e 11 fêmeas (MNRJ); Parque
Nacional do Itatiaia, Casa do Pesquisador, 750m, 22-24.IX.2011, Mario Cupello col. – 5 machos e 1
fêmea (MNRJ); Parque Nacional do Itatiaia, Casa do Pesquisador, 750m, 11-13.XI.2011, Mario
Cupello col. – 3 fêmeas (MNRJ); Parque Nacional do Itatiaia, Casa do Pesquisador, 750 m., 27.II-
01.III.2012, Mario Cupello col. – 1 macho (MNRJ); Parque Nacional do Itatiaia, Casa do Pesquisador,
810m, Mario Cupello col. – 15 machos e 4 fêmeas (MNRJ); Parque Nacional do Itatiaia, Casa do
Pesquisador, 810m, 22-25.II.2013, Mario Cupello col. – 15 machos e 4 fêmeas.
47
4. Eurysternus nigrovirens Génier, 2009 (Figura 8)
Diagnose: Macho: 5,0-75 mm de comprimento. Forte pubescência e distinta pontuação ocelada por
todo o corpo. Ápice do clípeo com forte depressão. Pronoto sem áreas glabras. Proepisterno com
duas carenas semi-paralelas. Metasterno fortemente irregular, com depressões nas áreas adjacentes
às mesocoxas, ao ápice das metacoxas e no centro do disco metasternal; pequena área plana entre
os ápices das metacoxas. Protarso presente. Meso e metafêmures lineares. Metatíbia com esporão
não-articulado. Interestrias do ápice dos élitros com feixes de longas cerdas. Primeiro urosternito
visível truncado entre os ápices das metacoxas.
Fêmea: Metatíbia com esporão articulado.
Comentários: Não tivemos em mãos espécimes coletados no PNI, mas GÉNIER (2009) cita uma
fêmea coletada em Itatiaia, o único exemplar conhecido do Rio de Janeiro.
Altitude e período de coleta: Para Itatiaia, GÉNIER (2009) cita um único espécime de altitude de
700 m coletado por J. F. Zikán em junho de 1928. Em relação a toda a área de distribuição, a espécie
ocorre por todo o ano (GÉNIER, 2009).
Distribuição geográfica: BRASIL: Paraíba, Piauí, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas
Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo. PERU: Madre de Dios. BOLÍVIA: Santa Cruz.
PARAGUAI: Concepción, San Pedro, Canindeyú, Paraguarí. ARGENTINA: Salta (GÉNIER, 2009).
Material Examinado: BRASIL: MINAS GERAIS: Santana do Riacho, Parque Nacional da Serra do
Cipó, 780m, 21.I.2001, Vaz-de-Mello & Génier cols. – 1 fêmea, parátipo (MNRJ).

5. Eurysternus hirtellus Dalman, 1824 (Figura 7)


= Eurysternus cirratus Harold, 1883
Diagnose: Macho: 6,0-7,5 mm de comprimento. Tegumento castanho-escuro. Forte pubescência e
distinta pontuação ocelada por todo o corpo. Ápice do clípeo sem forte depressão. Pronoto
inteiramente coberto por cerdas longas e sem áreas glabras. Proepisterno munido de somente uma
carena lateral. Metasterno com superfície lisa e com forte coloração verde metálica no centro do disco,
podendo apresentar uma leve depressão nesta área. Protarso presente; meso e metafêmur lineares
e unicolores; metatíbia com esporão não-articulado. Interestrias do ápice dos élitros com feixes de
longas cerdas. Primeiro urosternito visível truncado entre as metacoxas.
Fêmea: Ápice do clípeo com forte depressão; metatíbia com esporão articulado.
Comentários: Não tivemos acesso a espécimes de E. hirtellus com procedência do PNI, mas a
presença desta espécie no local foi confirmada por JESSOP (1985), que designou um espécime de
Itatiaia como neótipo do nome. O tipo está depositado no Naturhistoriska Riksmuseet, Estocolmo,
Suécia, e foi escolhido por ser um dos espécimes identificados como E. hirtellus pelo entomólogo
paulista Eduardo Navajas (1905-1962), o último pesquisador que teve em mãos a série-tipo original
48
de Dalman (1824).

Figuras 1-8. Espécies de Eurysternus encontradas no PNI: 1. E. cyanescens Balthasar, 1939. 2. E. parallelus Castelnau,
1840. 3. E. deplanatus (Germar, 1824). 4. E. inflexus (Germar, 1824). 5. E. francinae Génier, 2009. 6. E. sulcifer Balthasar,
1939. 7. E. hirtellus Dalman, 1824. 8. E. nigrovirens Génier, 2009.

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Na distribuição geográfica abaixo, utilizamos dados somente de GÉNIER (2009). Dois outros
trabalhos, LOUZADA et al. (2007) e MARTÍNEZ (1988), não tiveram seus dados incluídos porque, até
a revisão de GÉNIER (2009), o nome E. hirtellus era mal aplicado a um conjunto de espécies-crípticas
que hoje forma o grupo hirtellus.
Altitude e período de coleta: Para Itatiaia, GÉNIER (2009) cita um espécime coletado a 700 m de
altitude por J. F. Zikán em março de 1930. A espécie é coletada nos meses de janeiro, março abril,
maio, agosto, setembro e outubro (GÉNIER, 2009).
Distribuição Geográfica: BRASIL: Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro (GÉNIER,
2009).
Material Examinado: BRASIL: ESPÍRITO SANTO: Vitória, Morro Moscoso, X.1982, B. Silva col. – 1
macho (MNRJ). RIO DE JANEIRO: Rio de Janeiro, Corcovado, 27.X.1975, C. A. Campos Seabra – 1
fêmea (MNRJ); Rio de Janeiro, Paineiras, 1961, H. Schubart col. – 1 macho (MNRJ); Rio de Janeiro,
Parque Laje, III.1991, Fernando col. – 1 macho (MNRJ); Rio de Janeiro, Represa Rio Grande, IX.1967,
P. M. Oliveira col. – 1 fêmea (MNRJ).

6. Eurysternus cyanescens Balthasar, 1939 (Figura 1)


= Eurysternus confusus Jessop, 1985
Diagnose: Macho: 10,0-15,0 mm de comprimento. Tegumento negro com leve brilho azulado. Ápice
do clípeo sem forte depressão. Pronoto com pontuação ocelada distribuída pelo tegumento; superfície
mediana anterior com pequena área glabra entre os olhos. Protarso presente; mesofêmur linear e
unicolor; metafêmur clavado, unicolor e com pequeno dente na metade apical da margem externa;
metatíbia com esporão não-articulado. Interestrias do ápice dos élitros podem apresentar feixes de
cerdas curdas; carena da pseudoepipleura elevada e mais alta do que a região adjacente dos élitros.
Primeiro urosternito visível truncado entre as metacoxas.
Fêmea: Esporão tibial articulado
Comentários: Uma espécie muito próxima de E. cyanescens é E. calligrammus Dalman, 1824. As
diferenças entre elas não são fáceis de visualizar e, de fato, mesmo JESSOP (1985) se confundiu ao
afirmar que os machos de E. calligrammus seriam como as fêmeas da espécie ao apresentarem o
metafêmur inerme, o que os diferenciaria dos machos de E. cyanescens, que têm o metafêmur armado
com um dente agudo na margem externa. Além de corrigir esse erro, GÉNIER (2009) chama atenção
para a sutura mesometasternal fortemente carenada de E. calligrammus, a qual é completamente
distinta daquela vista em E. cyanescens, que é simples e plana. Ademais, o ápice da protíbia dos
machos de E. cyanescens é fortemente curvado para baixo, o que não ocorre em E. calligrammus.
Fêmeas de E. calligrammus, por outro lado, realmente podem ser separadas de E. cyanescens por
apresentarem metafêmur desarmado, enquanto as fêmeas da segunda espécie têm um dente como
50
o dos machos. Apesar de não termos registro de E. calligrammus para o PNI, a distribuição das duas
espécies é largamente sobreposta e, dessa forma, acreditamos que existe a possibilidade de
existência de E. calligrammus nas partes baixas de Itatiaia.
Altitude e período de coleta: Para Itatiaia, GÉNIER (2009) citou apenas um espécime coletado a
700 m de altitude por Richard von Diringshofen (citado como “Dirings”) em janeiro de 1960. Da coleção
do MNRJ, espécimes de Itatiaia foram coletados entre 700 e 1.250 m de altitude. Todos os exemplares
coletados pelo primeiro autor no PNI o foram a 750 m. O período de coleta citado por GÉNIER (2009)
foi de agosto a abril.
Distribuição Geográfica: BRASIL: Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo,
Paraná e Santa Catarina (GÉNIER, 2009).
Material Examinado: BRASIL: AMAZONAS (possível erro de etiquetagem): Manaus, 28.V.1956,
Elias & Roppa col. – 1 macho (MNRJ). MINAS GERAIS: Cambuquira, sem data, sem coletor – 1 macho
(MNRJ); Catas Altas, RPPN Serra do Caraça, trilha da bocaina, 1250m, 22-24.X.2014, Mario Cupello,
Marcela L. Monné & Allan Carelli cols. – 1 fêmea (MNRJ); Maria da Fé, XI.1980, sem coletor – 1 fêmea
(MNRJ); Poços de Caldas, IX.1967, Roppa col. – 1 macho (MNRJ). RIO DE JANEIRO: Itatiaia,
15.XII.1933, J. F. Zikán col. – 1 macho (FIOC); Itatiaia, 700 m, II.1959, W. Zikán col. – 1 fêmea (MNRJ);
Parque Nacional do Itatiaia, 1250m, 1-4.X.2009, M. L. Monné, J. R. Mermudes & M. A. Monné cols. –
1 macho (MNRJ); Parque Nacional do Itatiaia, 1250 m, 30.IX-02.X.2010, Marcela L. & Miguel A. Monné
cols. – 1 fêmea (MNRJ); Parque Nacional do Itatiaia, Casa do Pesquisador, 750m, 22-24.IX.2011,
Mario Cupello col. – 2 fêmeas (MNRJ); Parque Nacional do Itatiaia, Casa do Pesquisador, 750 m.,
27.II-01.III.2012, Mario Cupello col. – 1 fêmea (MNRJ); Petrópolis, 17.XII.1993, E. Conrado col. – 1
macho (MNRJ); Petrópolis, Le Vallon, Alto Mosela, 24.I a 23.II.1956, D’Albuquerque col. – 1 macho e
1 fêmea (MNRJ); Petrópolis, Le Vallon, Alto Mosela, III.1957, Daley col. – 2 fêmeas (MNRJ); Rio de
Janeiro, Alto da Boa Vista, III.1951, Campos Seabra col. – 3 machos (MNRJ); Rio de Janeiro,
Corcovado, 14.XI.1952, D. Zajclw col. – 1 fêmea (MNRJ); Rio de Janeiro, Morro Santa Bárbara,
16.III.1952, Orlando Rego col. – 1 fêmea (MNRJ); Rio de Janeiro, Tijuca, 1934, Campos Seabra col.
– 1 fêmea (MNRJ); Rio de Janeiro, Tijuca, 2.XI.1951, Campos Seabra col. – 1 macho (MNRJ).

7. Eurysternus sulcifer Balthasar, 1939 (Figura 6)


Diagnose: Macho: 16,5-18,0 mm de comprimento. Tegumento castanho com brilho metálico verde-
oliva. Ápice do clípeo com forte depressão. Pronoto com pontuação simples e cerdas escamiformes;
superfície mediana anterior com pequena área glabra flanqueada por duas áreas circulares glabras e
lustrosas. Protarso ausente. Meso e metafêmur lineares e unicolores; metafêmur com forte dente com
ápice apontando para o trocanter na metade basal da margem posterior; metatíbia com esporão não-
articulado. Interestrias do ápice dos élitros com cerdas curtas, escamiformes e bífidas ou trífilas no
51
ápice. Primeiro urosternito visível truncado entre as metacoxas.
Fêmea: Metatíbia com esporão articulado.
Comentários: Não encontramos nas coleções estudadas espécimes com procedência do PNI, mas
GÉNIER (2009) citou dois machos e uma fêmea coletados no local.
Altitude e período de coleta: Espécimes coletados entre 1.500 e 1.720 m de altitude; presente nos
meses de janeiro, março, setembro, novembro e dezembro (GÉNIER, 2009).
Distribuição Geográfica: BRASIL: Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Rio
Grande do Sul (GÉNIER, 2009). Amplia-se a distribuição para o Paraná.
Material Examinado: BRASIL: MINAS GERAIS: Passa Quatro, sem data e sem coletor – 1 macho
(MNRJ); Virgínia, 12.IX.1916, J. F. Zikán col. – 1 fêmea (MNRJ). PARANÁ: Guarapuava, XI.1959, I.
Schneider col. – 1 macho (MNRJ).

8. Eurysternus francinae Génier, 2009 (Figura 5)


Diagnose: Macho: 13-17,5 mm de comprimento. Ápice do clípeo com forte depressão. Pronoto com
pequenos pontos ocelados e com superfície mediana anterior apresentando área elíptica glabra,
lustrosa e de forte coloração verde-oliva bem delimitada e ligada à base do pronoto por um fraco sulco
longitudinal de coloração similar ao restante do tegumento. Metasterno levemente deprimido no meio
da superfície anterior e na superfície acima de cada metacoxa e com forte carena longitudinal mediana
estendendo-se a partir dos ápices das metacoxas; superfície adjacente às mesocoxas plana. Protarso
presente e ligeiramente mais claro do que a protíbia. Dois primeiros dentes da protibia horizontais e
apontados para fora, terceiro dente vertical e apontado para baixo. Meso e metafêmerus bicolores,
com superfície externa predominantemente amarelada e superfície interna amarelada apicalmente e
marrom escura no restante do tegumento; mesofêmur linear e metafêmur levemente clavado e com
forte dente na metade apical da margem posterior. Metatíbia com esporão não-articulado. Interestrias
do ápice dos élitros com feixes de cerdas curtas. Primeiro urosternito visível acuminado entre os ápices
das metacoxas.
Fêmea: Metasterno sem forte carena, somente uma pequena quilha separando as duas depressões
posteriores. Protíbia com os três dentes horizontais e apontando para fora. Metafêmur com pequeno
dente no meio da borda posterior. Metatíbia com esporão articulado.
Comentários: Não tivemos acesso a espécimes do PNI, mas GÉNIER (2009) cita um macho coletado
em IV.1995 para Itatiaia, o único exemplar do estado do Rio de Janeiro.
Altitude e período de coleta: Acima de 1.000 m de altitude (MC e FZVM, observação pessoal);
presente em maio e entre os meses de setembro e março (GÉNIER, 2009).
Distribuição geográfica: BRASIL: Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná,
Santa Catarina, Rio Grande do Sul (GÉNIER, 2009).
52
Material Examinado: BRASIL: MINAS GERAIS: Catas Altas, RPPN Serra do Caraça, trilha da
bocaina, 1250m, 22-24.X.2014, Mario Cupello, Marcela L. Monné & Allan Carelli cols. – 1 macho e 1
fêmea (MNRJ); Catas Altas, RPPN Serra do Caraça, 1250m, 08-13.XII.2014, Mario Cupello & Allan
Carelli cols. – 1 fêmea (MNRJ). SÃO PAULO: Serra do Japi, 1050m, 1998, M.I.M. Hernández col. – 2
machos e 2 fêmeas, parátipos (MNRJ).

AGRADECIMENTOS

Desde 2011, quando o resumo deste trabalho foi apresentado pela primeira vez no I Entomorio,
nós temos recebido fundamental suporte da equipe do Laboratório de Coleoptera do MNRJ e, por isso,
somos muito gratos a todos os seus integrantes que nos auxiliaram nos trabalhos de campo e em
laboratório: Miguel A. Monné, Marcela L. Monné, Juan Pablo Botero, Allan Carelli, Marianna Simões
(atualmente na University of Kansas, Kansas, Estados Unidos), Vanessa Machado (ex-membro),
Rodrigo Souza (ex-membro) e Wallace Beiroz (atualmente na Universidade Federal de Lavras, Minas
Gerais, Brasil). Também somos gratos a Márcio Felix (FIOC) pelo empréstimo de material, a Leo
Nascimento (PNI) pelas autorizações de coleta e a dois revisores anônimos que em muito melhoraram
a fluidez do nosso texto e a clareza das nossas diagnoses. Ao longo do período de elaboração deste
trabalho, MC recebeu suporte financeiro através de bolsas de iniciação científica do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/UFRJ/CNPq), bolsa de mestrado do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e bolsa de mestrado Nota 10 da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). FZVM é bolsista de
produtividade em pesquisa do CNPq (304925/2010-1) e recebeu os seguintes financiamentos: CNPq
484035/2013-4 e FAPEMAT/CNPq PRONEM 568005/2014.

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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 56-61.

INVENTÁRIO DAS ESPÉCIES DE Grammodesma ACHARD, 1923 (COLEOPTERA:


CHRYSOMELIDAE: CHRYSOMELINAE) OCORRENTES NO PARQUE NACIONAL
DO ITATIAIA, SUDESTE DO BRASIL
Aline Amanda Sampaio1,2
Marcela Laura Monné1

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo apresentar um inventário das espécies de Grammodesma
Achard, 1923 presentes no Parque Nacional do Itatiaia (PNI), uma das mais importantes áreas de
conservação da Mata Atlântica do sudeste do Brasil. Foram estudados espécimes depositados em
coleções entomológicas (Museu Nacional, UFRJ, Rio de Janeiro, e Fundação Oswaldo Cruz, Rio de
Janeiro, Brasil), bem como os espécimes coletados por nós na área do parque. Como resultado, três
espécies foram registradas como presente no PNI: G. luridipennis (Baly, 1859), G. elongata Bechyné
de 1952 e G. obliqua (Stal, 1859). Uma chave de identificação para essas espécies é fornecida.

Palavras-chave: chave de identificação; Chrysomelini; Mata Atlântica; Minas Gerais; Rio de Janeiro.

ABSTRACT

INVENTORY OF THE Grammodesma ACHARD, 1923 SPECIES (COLEOPTERA:


CHRYSOMELIDAE: CHRYSOMELINAE) OF PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA,
SOUTHEASTERN BRAZIL
The present work aims to present an inventory of the Grammodesma Achard, 1923 species present in
the Parque Nacional do Itatiaia (PNI), one of the most important Atlantic Forest conservation areas of
southeastern Brazil. We studied specimens deposited at entomological collections (Museu Nacional,
UFRJ, Rio de Janeiro, and Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brazil) as well as specimens
collected by us in the area of the park. As result, three species were recorded as present in the PNI:
G. luridipennis (Baly, 1859), G. elongata Bechyné, 1952 e G. obliqua (Stal, 1859). An identification key
for these species is given.

Keywords: Atlant Forest; Chrysomelini; identification key; Minas Gerais; Rio de Janeiro.

___________________
1
Departamento de Entomologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Autora correspondente: alinebioufpi@gmail.com.
56
INTRODUÇÃO

Coleoptera é a mais rica e variada ordem da classe Insecta, com aproximadamente 392 mil
espécies descritas, incluindo quase três mil extintas (SLIPINSKI et al., 2011), correspondendo a cerca
de 40% do total de insetos e 30% dos animais descritos. Na Região Neotropical, são conhecidas 127
famílias, 6.703 gêneros e 72.476 espécies (COSTA, 2000). A ordem dos besouros distingue-se
facilmente das demais por apresentar o primeiro par de asas modificado em élitros, protegendo o
segundo par de asas membranosas (GALLO et al., 2002).
A família Chrysomelidae inclui entre 37.000 e 40.000 espécies descritas. Apresentam a forma
do corpo muito variada, de esférica a hemisférico, e às vezes, achatada com élitros expandidos em
forma de escudo. Caracterizam-se por apresentar cabeça sem rostro e com suturas gulares
separadas; antenas formadas por 9 ou 11 artículos; élitros geralmente completos, expondo 1-2 tergitos
em algumas espécies (JOLIVET & VERMA, 2002).
A subfamília Chrysomelinae apresenta 3.000 espécies e 132 gêneros (JOLIVET & VERMA,
2002). WILCOX (1975) citou para as Américas 368 espécies e 25 gêneros. Diferencia-se das demais
subfamílias por possuir o corpo oval-convexo e coloração com tonalidades iridescentes; élitros
geralmente apresentam listras longitudinais ou manchas regulares e irregulares; terceiro segmento
tarsal geralmente não bilobado (BURGOS-SOLORIO & ANAYA-ROSALES, 2004).
O gênero Grammodesma Achard, 1923 pertence a tribo Chrysomelini (BOUCHARD et al.,
2011), e atualmente apresenta 31 espécies registradas para o Brasil. Distinguem-se dos demais
gêneros de Chrysomelinae pelos palpos maxilares com artículo apical mais curto do que o anterior;
processo prosternal projetado e com encaixe no mesosterno; élitros pontuados; metacoxas distantes
entre si; garras tarsais simples, não fusionadas na base (BLACKWELDER, 1946).
O Parque Nacional do Itatiaia (PNI) está localizado no sudeste do estado do Rio de Janeiro,
nos municípios de Resende e Itatiaia; e ao sul de Minas Gerais, envolvendo os municípios de Alagoa,
Bocaina de Minas e Itamonte (IBDF, 1982). O PNI abrange vegetação típica do bioma Mata Atlântica,
com forte gradiente altitudinal. Em áreas de mais baixa altitude, a floresta densa predomina, com alta
diversidade e abundância de fauna e flora; com o aumento de altitude, por sua vez, esta vegetação é
progressivamente substituída por vegetação rasteira resistente ao frio intenso típica de Campos de
Altitude. Em toda a sua área, o PNI abrange cerca de 5.000 espécies de insetos, 350 de aves e 50 de
mamíferos, além de inúmeros répteis e anfíbios (ICMBIO, 2010).
ZIKÁN & ZIKÁN (1967) registraram 76 espécies de Chrysomelinae para o PNI, com 23 gêneros
listados para essa subfamília, incluindo Grammodesma, com três espécies: G. circuita (Stal, 1859), G.
impuncticollis (Stal, 1859) e G. obliqua (Stal, 1859). Tais espécies podem ser encontradas numa
altitude que varia de 700 a 1960m.
57
As informações sobre a fauna de Chrysomelinae do estado do Rio de Janeiro são escassas, o
que representa uma grande lacuna no conhecimento entomológico da região. Então, visando remediar
parte deste problema, este trabalho tem como meta o levantamento e chave de identificação para as
espécies de Grammodesma Achard ocorrentes no PNI.

MATERIAL E MÉTODOS

O material estudado é proveniente da coleção de Coleoptera do Departamento de Entomologia


do Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro (MNRJ), e da coleção entomológica do
Instituto Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro (CEIOC). A coleta manual foi o
principal meio de obtenção dos espécimes, e quando necessário, utilizou-se o auxílio de guarda-chuva
entomológico e rede entomológica. As identificações foram feitas com auxílio das descrições originais
e comparação com material já identificado por especialista. As fotografias em vista dorsal, lateral e
ventral dos exemplares foram realizadas com câmera Nikon D90 de lente macro Sigma 1500mm. Os
termos utilizados na chave de identificação são aqueles comumente utilizados para Chrysomelinae
(JOLIVET & VERMA, 2002).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo ZIKÁN & ZIKÁN (1967), o gênero Grammodesma apresenta três espécies: G. circuita
(Stal, 1859), G. impuncticollis (Stal, 1859) e G. obliqua (Stal, 1859) no PNI. No entanto, as duas
primeiras espécies foram transferidas para Grammomades Achard, 1923. Após as visitas feitas às
coleções citadas, dois novos registros de Grammodesma – G. elongata Bechné, 1952 e G. luridipennis
(Baly, 1859) – para o PNI foram acrescidos (Quadro 1).

Quadro 1. Espécies de Grammodesma ocorrentes no Parque Nacional do Itatiaia, RJ (*novos registros).

Tribo Espécies N° de Instituição


exemplares
1 Chrysomelini Grammodesma elongata Bechyné, 1952* 1 MNRJ
2 Chrysomelini Grammodesma luridipennis (Baly, 1859) * 8 MNRJ
3 Chrysomelini Grammodesma obliqua (Stal, 1859) 1 CEIOC

58
Chave de identificação para as espécies de Grammodesma Achard, 1923 do Parque Nacional
do Itatiaia:

1 - Cabeça e pronoto pretos com brilho metálico; vértice com depressão marrom-avermelhada; sutura
genofrontal ausente; clípeo com um par de fóveas; pronoto com depressão e pontuação grossa;
escutelo arredondado no ápice; escutelo e élitros marrom-avermelhados; élitro sem manchas e com
estrias; pontuação elitral não contrastante; processo prosternal não dilatado na base e com depressão
mediana no ápice.................................................................. Grammodesma luridipennis (Figuras 1-3).

1 2 3
Figuras 1-3. Grammodesma luridipennis (Baly, 1859). 1, vista dorsal. 2, vista ventral. 3, cabeça e pronoto.

- Cabeça e pronoto pretos ou castanho-claros; vértice sem depressão; sutura genofrontal presente;
clípeo sem fóveas; pronoto sem depressão e com pontuação fina; escutelo triangular, preto ou
marrom; élitro sem estrias, castanho com manchas e pontos pretos ou marrons; pontuação elitral
contrastante; processo prosternal dilatado na base e sem depressão mediana no ápice ................... 2
2 - Cabeça e pronoto castanho-claros; margens do pronoto com iridescência verde; escutelo, manchas
e pontuações elitrais marrons; élitro ligeiramente alargado para trás e com declínio acentuado na
região posterior, mais visível em vista lateral; terço anterior de cada élitro com mancha em “zigue-
zague”, estendendo-se até a sutura elitral; quatro faixas paralelas interrompidas, no terço posterior de
cada élitro; região anterior do processo prosternal, em vista lateral,
anguloso..................................................................................Grammodesma elongata (Figuras 4-6).

59
4 5 6
Figuras 4-6. Grammodesma elongata Bechyné, 1952. 4, vista dorsal. 5, vista ventral. 6, vista lateral.

- Cabeça e pronoto pretos; margens do pronoto sem iridescência verde; escutelo, manchas e
pontuações elitrais pretos; élitro não alargado para trás e com declínio pouco acentuado na região
posterior, mais visível em vista lateral; macha transversal no terço basal do élitro, alargando-se
gradativamente até a sutura elitral, se estendendo por toda a margem sutural; linha transversal oblíqua
no terço posterior do élitro; região anterior do processo prosternal, em vista lateral, curvo ......................
..................................................................................................... Grammodesma obliqua (Figuras 7-9).

7 8 9
Figuras 7-9. Grammodesma obliqua (Stal, 1859). 7, vista dorsal. 8, vista ventral. 9, cabeça e pronoto.

60
AGRADECIMENTOS

Agradeço ao curador da coleção entomológica Márcio Felix (CEIOC) pela inestimável colaboração
com o empréstimo de material, e ao Prof. Miguel A. Monné pelas sugestões.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Nacional de Itatiaia. Disponível em: http://www.icmbio.gov.br/parnaitatiaia/quem-somos.html. Acesso em: 14 de
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ZIKÁN, J.F. & ZIKÁN, W. 1967. A inseto fauna do Itatiaia e da Mantiqueira. Revista Brasileira de Entomologia 12: 118-
154.

61
CAMPOS et al. 2016. Redescrição da fêmea de Planicephalus flavicosta (Stål, 1862) (Hemiptera: Cicadellidae). In: Da-Silva,
E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de
Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 62-69.

REDESCRIÇÃO DA FÊMEA DE Planicephalus flavicosta (STÅL, 1862)


(HEMIPTERA: CICADELLIDAE)
Mariana Freire Campos1,4
Virgínia Codá2
Luci Boa Nova Coelho3
Elidiomar Ribeiro Da-Silva2

RESUMO

Planicephalus Linnavuori, 1954 foi originalmente descrito como subgênero de Deltocephalus


Burmeister, 1838 e é um gênero atualmente composto por onze espécies. A redescrição da fêmea de
Planicephalus flavicosta (Stål, 1862) foi baseada em exemplares procedentes do município de
Itaguaçu, Estado do Espírito Santo, com foco na genitália. Até então, a fêmea era reconhecida apenas
por seu padrão de coloração, semelhante ao do macho, e pela aparência do sétimo esternito. Embora
amplamente distribuída pelo Brasil e pelo continente americano, este é o primeiro registro de P.
flavicosta para o estado.

Palavras-chave: cigarrinha; Deltocephalini; sudeste do Brasil; taxonomia.

ABSTRACT

REDESCRIPTION OF THE FEMALE OF Planicephalus flavicosta (STÅL, 1860) (HEMIPTERA:


CICADELLIDAE)
Planicephalus Linnavuori, 1954 was originally described as a subgenus of Deltocephalus Burmeister,
1838 and is now a genus composed of eleven species. The redescription of the female of Planicephalus
flavicosta Stål, 1862 was based on specimens from the municipality of Itaguaçu, state of Espírito Santo,
focusing on genitals. Until then, the female was only recognized for its staining pattern, similar to the
male, and for the seventh sternite appearance. Despite being widely distributed throughout Brazil and
the Americas, this is the first record of P. flavicosta for the state.

Keywords: Deltocephalini; leafhopper; southeastern Brazil; taxonomy.

___________________
1
Departamento de Botânica, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
RJ, Brasil.
2
Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3
Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
4
Autor correspondente: ccamposmariana@gmail.com.
62
INTRODUÇÃO

O gênero Planicephalus Linnavuori, 1954 (Deltocephalinae: Deltocephalini) foi originalmente


descrito como um subgênero de Deltocephalus Burmeister, 1838. KRAMER (1971) elevou seu status
a gênero, o qual é, atualmente, formado por onze espécies. Planicephalus flavicosta (Stål, 1862) é
uma cigarrinha amplamente distribuída pelo continente americano. No Brasil, apresenta registros no
Amazonas, Roraima, Rondônia, Maranhão, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa
Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Goiás (CAVICHIOLI & ZANOL, 1991; MEJDALANI
et al., 2009; OLIVEIRA et al., 2013).
Abundante em ervas daninhas associadas às culturas de trigo, aveia e milho, P. flavicosta foi
registrada como vetor de fitoplasmas (OLIVEIRA et al., 2013), e MCDV (maize chlorotic dwarf
waikavirus) em milho anão (LOPES et al., 1994). A espécie é conhecida principalmente por
características do macho, sendo a fêmea reconhecida por seu padrão de coloração, semelhante ao
do macho, e pela aparência do sétimo esternito, o qual KRAMER (1971) considerou idêntico ao de P.
flavocostatus (Van Duzee, 1892), de ocorrência nos Estados Unidos.
Com base em exemplares procedentes do Estado do Espírito Santo, Sudeste do Brasil, o
presente trabalho redescreve a fêmea de P. flavicosta, fornecendo pela primeira vez detalhes acerca
das estruturas genitais externas e internas. A espécie é pela primeira vez registrada para o território
capixaba.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi feito com base em exemplares procedentes do município de Itaguaçu, região
central do Estado do Espírito Santo. Os exemplares encontram-se depositados no Museu Regional de
Entomologia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Minas Gerais.
A técnica para preparação das peças genitais seguiu OMAN (1949). A extremidade do abdome
dos exemplares foi retirada e diafanizada em hidróxido de potássio (em banho maria), logo após as
peças foram destacadas, colocadas em lâmina escavada com glicerina P.A. e observadas sob
estereomicroscópio e microscópio óptico, conforme procedimento corriqueiro para estudos
taxonômicos de Cicadellidae. A genitália foi estocada em um tubo de vidro contendo glicerina,
alfinetado junto com o exemplar. As fotografias foram realizadas por meio de uma câmera digital
acoplada a estereomicroscópio e a microscópio óptico, usando-se posteriormente o programa gratuito
CombineZP® para compor imagens multifocadas. As fotografias foram editadas utilizando-se o
programa Adobe Photoshop CC®. A terminologia descritiva seguiu YOUNG (1977), exceto quanto à
terminália (BALDUF, 1934; BLOCKER & TRIPLEHORN, 1985).
63
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Planicephalus flavicosta (Stal, 1862) – Redescrição da fêmea


(Figuras 1-13)

Tamanho: 3,0-3,5 mm. Padrão de coloração similar ao do macho (LINNAVUORI, 1959).


Cabeça triangular, coloração castanho-escura a negra, com manchas amarelas e brancas
(Figuras 1-3); margem anterior pouco produzida medianamente, com mancha mediana branca; coroa
uma mancha branca atrás de cada ocelo, outra próxima à margem posterior, entre o ocelo e a linha
mediana, e uma bem menor na margem posterior, próxima ao olho; linha mediana marcada por
castanho-avermelhado, com uma mancha branca, a cada lado, na margem posterior e outra próxima
ao ápice da coroa, também branca; larga faixa amarela de contorno sinuoso, ligando a mancha branca,
situada atrás de cada ocelo, àquela lateral à linha mediana; margem posterior com fina faixa também
amarela; largura máxima interocular cerca de 4 vezes o comprimento mediano, que é de cerca de 0,6
vezes a largura máxima interocular; fronte com seis pares de arcos, uma faixa longitudinal central e
uma mancha superior circular, todas amarelas. Pronoto castanho, com uma mancha amarela, de
contorno irregular, próxima à margem anterior, a cada lado da linha mediana, e três manchas brancas
circulares atrás de cada olho; cinco faixas longitudinais amareladas, a central coincidindo com a linha
mediana (Figuras 1-2); largura máxima do pronoto cerca de 0,9 vezes a largura máxima da coroa.
Escutelo com triângulos basais castanho-escuros ladeados por manchas amarelas e uma mancha
circular castanha, a cada lado da linha mediana. Espinhos tarsais escurecidos basalmente. Asa
anterior castanha, translúcida, veias amarelo-pálidas, contornadas de castanho-escuro esfumaçado,
células apicais castanho-escuras; metade basal da margem costal amarela; margem apical amarelo-
esbranquiçada. Asa posterior com veias castanhas.

Figura 1. Planicephalus flavicosta – fêmea (vista laterodorsal).


64
Sétimo esternito (Figuras 4-5) com metade apical mais estreita em relação à metade basal,
margem apresentando dois lobos laterais e dois menores, medianos; uma dobra semicircular limitando
a área entre os ápices dos lobos laterais; área semicircular elevada, manchada de castanho, até
próximo à margem posterior; largura máxima cerca de 2,5 o comprimento mediano. Pigóforo (Figuras
4, 6) com formato aproximadamente ovoide e coloração castanho-escura com margens ventrais
amarelas, área amarelada semi-circular do terço mediano da margem ventral à região central; cerdas
amarelas esparsamente distribuídas próximas à margem ventral e com maior concentração na região
ventro-posterior, apresentando cerdas por toda a região posterior. Primeiro valvífero (Figura 7) de
formato ovoide-triangular, com dois conjuntos de cerdas pequenas e robustas. Válvula I (Figuras 7-8)
com comprimento cerca de 7,5 vezes a largura máxima; ápice agudo, curvado dorsalmente;
esculturações circulares dorsais ocupando aproximadamente dois terços da válvula na porção apical,
também encontrados ventralmente, próximas à base, ocupando um quinto da margem; haste
localizada na metade da válvula, desembocando subapicalmente na margem dorsal. Válvulas II
(Figuras 9-11) delicadas e fortemente fusionadas uma à outra; margem irregularmente denteada, com
alternância de dentes de dois tamanhos básicos; poro próximo à base de cada dente de tamanho
maior iniciando dutos em direção ao interior da peça. Segundo valvífero (Figura 12) com cerdas
espiniformes na margem ventral, próximas ao ponto de inserção na válvula III, e também um conjunto
de cerdas medianas. Válvula III (Figuras 12-13) com cerdas espiniformes por toda a margem ventral
e no ápice da margem dorsal, com cerdas maiores esparsamente distribuídas entre elas; comprimento
cerca de 7,5 vezes a largura máxima.
Material estudado – BRASIL, Espírito Santo, município de Itaguaçu, 07/III/2013, M.C. Velez col., 4
fêmeas (UFV).

Figura 2. Planicephalus flavicosta – fêmea. Cabeça, tórax e base das asas anteriores (vista dorsal).
65
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pela primeira vez são descritos os detalhes da genitália das fêmeas, especialmente as válvulas
do ovipositor de Planicephalus flavicosta. O sétimo esternito lembra os de P. christinae Zanol, 1998 e
P. equatorianus Zanol, 1998 (cf. ZANOL, 1998), pela presença de uma mancha central posterior, mas
pode ser diferenciada pela margem posterior, que é truncada no caso dessas duas espécies. De
maneira geral, as peças do ovipositor são semelhantes às do gênero Deltocephalus e da tribo
Doraturini. A válvula I lembra a de Chiasmus Mulsant & Rey, 1855 (Chiasmusini) e a válvula II, a de
Divus Distant, 1908 (Drabescini) e de Selenocephalini (cf. HILL, 1970).

Figura 3. Planicephalus flavicosta – fêmea. Cabeça e parte do tórax (vista ventral).

Figura 4. Planicephalus flavicosta – fêmea. Extremidade posterior do abdome (vista ventral).


66
De acordo com DA-SILVA & COELHO (2015), é imperativo que se tente descrever, com o maior
detalhamento possível, a genitália das fêmeas de Cicadellidae. Isso pode ser extremamente útil no
levantamento de características taxonômicas relevantes para a diferenciação entre as espécies, o que
é fundamental para os estudos faunísticos e de estudo da biodiversidade.

AGRADECIMENTOS

Ao Dr. Paulo Sérgio Fiuza Ferreira (UFV) e ao Dr. David dos Santos Martins (INCAPER), pela
disponibilização dos exemplares.

Figura 5. Planicephalus flavicosta – fêmea. Sétimo esternito (vista ventral).

Figura 6. Planicephalus flavicosta – fêmea. Pigóforo (vista lateral).

Figura 7. Planicephalus flavicosta – fêmea. Primeiro valvífero e válvula I (vista lateral).


67
Figura 8. Planicephalus flavicosta – fêmea. Ápice da válvula I (vista lateral).

Figura 9. Planicephalus flavicosta – fêmea. Válvula II (vista lateral).

Figura 10. Planicephalus flavicosta – fêmea. Ápice da válvula II (vista lateral).

Figura 11. Planicephalus flavicosta – fêmea. Detalhe dos dentes da margem dorsal da válvula II (vista lateral).
68
Figura 12. Planicephalus flavicosta – fêmea. Segundo valvífero e válvula III (vista lateral).

Figura 13. Planicephalus flavicosta – fêmea. Ápice da válvula III (vista lateral).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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69
MOREIRA JR, D. & MAIA, V.C., 2016. Primeiro registro do gênero Leptogaster Meigen (Diptera: Asilidae) no Estado do Rio
de Janeiro e sua abundância na Reserva Biológica da União (RJ, Brasil). In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa,
C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 70-76.

PRIMEIRO REGISTRO DO GÊNERO Leptogaster MEIGEN, 1803 (DIPTERA:


ASILIDAE) NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO E SUA ABUNDÂNCIA NA
RESERVA BIOLÓGICA DA UNIÃO (RJ, BRASIL)

Danilo Moreira Junior1,2


Valéria Cid Maia1

RESUMO

Os Asilidae são uma família de dípteros predadores, com pernas fortes e hipofaringe perfuradora
bastante desenvolvida. Este trabalho visa contribuir para o conhecimento da ocorrência e abundância
do gênero Leptogaster no Estado do Rio de Janeiro. No período de janeiro de 2013 a março de 2014,
foram realizadas coletas com rede entomológica e armadilha Malaise, em três trilhas da reserva
Biológica da União, região de Mata Atlântica do estado do Rio de Janeiro. Foram coletados 520
indivíduos de Asilidae. Verificou-se maior abundância do gênero Leptogaster, com 61,34% do número
total de espécimes coletados (319 indivíduos). A razão sexual observada foi de aproximadamente 1:1.
Foi encontrado um maior número de exemplares nos meses de primavera e verão, como esperado
para a maioria dos insetos. Verificou-se a maior abundância de indivíduos na trilha mais larga e
próxima à rodovia, o que sugere que Leptogaster é um gênero bem adaptado a condições ambientais
alteradas.

Palavras-chave: distribuição; Mata Atlântica; moscas assassinas.

ABSTRACT

FIRST RECORD OF THE GENUS Leptogaster MEIGEN, 1803 (DIPTERA: ASILIDAE) IN RIO DE
JANEIRO STATE AND THEIR ABUNDANCE IN RESERVA BIOLÓGICA DA UNIÃO (RJ, BRAZIL)
The Asilidae are a family of dipteran predators, with strong legs and well developed drill shape
hypopharynx. This paper aims to contribute to the knowledge of occurrence and abundance of
Leptogaster in Rio de Janeiro. During the period of one year and two months between January 2013
and March 2014, insects were collected using entomological nets and Malaise traps along three trails
of the Reserva Biológica da União, an area of Atlantic Forest in the state of Rio de Janeiro. 520
specimens of Asilidae were collected. Among them, Leptogaster was the most abundant genus, with
61.34% of the total number of specimens (319 specimens). Sexual rate was approximately about 1:1.
The number of specimens was greater in the spring and summer than in the other seasons, as
expected for the most insects. There was a higher abundance of specimens in the wider and closer to
the highway trail, suggesting that the genus Leptogaster is well adapted to the modified environmental
conditions.

Keywords: distribution; Atlantic Forest; robber flies.


___________________
1
Departamento de Entomologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Quinta da Boa Vista, São Cristóvão, 20.940-040 Rio de Janeiro, RJ, Brasil
2
Autor correspondente: danilo.dj@gmail.com.
70
INTRODUÇÃO

Os Asilidae são moscas cujos adultos e larvas são predadores de outros insetos. Os adultos
são facilmente reconhecidos pelo vértice aprofundado entre os olhos, face pilosa, hipofaringe
perfuradora e fortemente desenvolvida, tórax robusto e pernas fortes. Formam uma das mais
diversificadas famílias de Diptera, com distribuição cosmopolita. Incluem mais de 7.000 espécies
conhecidas em cerca de 530 gêneros. Na Região Neotropical, existem cerca de 1.576 espécies
distribuídas em 217 gêneros (GELLER-GRIMM, 2015).
O gênero Leptogaster Meigen, 1803, pode ser reconhecido por ter tamanho não superior a 20
mm, estreitamento na região das antenas e fronte mais larga que o vértice (Figura 1), nervura A1
normalmente muito maior que a célula bm e o ápice desta separada da base da célula m3 pela veia
tronco (Figura 2).
Com distribuição geográfica mundial, esse gênero inclui 254 espécies descritas. No Brasil, de
acordo com PAPAVERO (2009), Leptogaster tem ocorrência registrada nos estados do Amazonas,
Pará, Santa Catarina e São Paulo.

OBJETIVO

Este trabalho visa contribuir para o conhecimento da ocorrência do gênero Leptogaster no


Estado do Rio de Janeiro, através do estudo de sua abundância espacial e temporal na Reserva
Biológica da União.

Figura1. Cabeça de Leptogaster (Asilidae).


71
Figura2. Asa de Leptogaster (Asilidae).

MATERIAL E MÉTODOS

Local de estudo: Reserva Biológica da União


Com cerca de três mil hectares e situada na mesorregião das baixadas litorâneas fluminenses,
a Reserva Biológica da União está localizada nas coordenadas S 22°25'35", W 42°2'4" no norte
fluminense e guarda elementos primários da flora e da fauna, e a maior riqueza e diversidade vegetal
entre todos os remanescentes de Mata Atlântica do estado do Rio de Janeiro (Figura 3).

Figura 3. Mapa indicando a localização da Reserva Biológica da União, RJ.


72
A reserva abrange os municípios de Rio das Ostras (53%), Casimiro de Abreu (46%) e Macaé
(1%) e conserva rica fauna, incluindo espécies endêmicas e ameaçadas como a preguiça-de-coleira
(Bradypus torquatus Desmarest, 1816), a jaguatirica (Leopardus pardalis Linnaeus, 1758), onça-parda
(Felis concolor Linnaeus, 1771), além de ser conhecida por abrigar uma das maiores populações
silvestres de mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia Linnaeus, 1766).
Foram feitas coletas bimestrais em três trilhas: Buracão (Figura 4), Interpretativa (Figura 5) e
Três Pontes (Figura 6), com cinco dias de duração cada, durante o período de janeiro de 2013 a março
de 2014, utilizando-se rede entomológica. Na primeira expedição, foram colocadas armadilhas do tipo
Malaise, uma por trilha, exceto na última, onde foram colocadas duas armadilhas: uma próxima à linha
férrea e a outra a cerca de três quilômetros do início da trilha, próxima a um lago. O conteúdo de todas
as armadilhas foi recolhido mensalmente e transportado para o laboratório de Diptera do Museu
Nacional/UFRJ, onde se procedeu a triagem. Os espécimes de Asilidae foram montados em alfinetes
entomológicos, identificados em gênero com base na chave de FISHER (2009), utilizando-se
estereomicroscópio, etiquetados e depositados na coleção de Diptera do Museu Nacional (MNRJ).
Fotos dos exemplares foram feitas com uso de microscópio Leica MZ16 utilizando-se o programa Auto
Montage Pro by Syncroscopy.

Figura 4. Trilha Buraco. Figura 5. Trilha Interpretativa. Figura 6. Trilha Três Pontes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontrados 520 exemplares de Asilidae distribuídos em 20 gêneros, sendo Leptogaster


o mais abundante, com 61,34% do total (Figura 7). Na trilha Buracão, foi verificado um maior número
de indivíduos do gênero Leptogaster (n= 193), ao passo que nas trilhas Três Pontes/lago, Três
Pontes/ferrovia e Interpretativa, os totais foram 63, 36 e 17, respectivamente. Vale a pena ressaltar
que 60,50% dos exemplares coletados foram encontrados na primeira trilha (Figura 8). O número total
de fêmeas coletadas foi um pouco maior do que o número de machos (160 e 149, respectivamente).
Apenas na trilha Buracão, as fêmeas se apresentaram em maior número: 107 fêmeas e 86 machos,

73
o que representa respectivamente 55,44% e 44,55% de valores percentuais da trilha. Já nas trilhas,
Três Pontes/lago, Três Pontes/ferrovia e Interpretativa os machos foram mais abundantes. Os
números absolutos e valores percentuais para fêmeas e machos foram respectivamente: 30 (47,61%)
e 33 (52,38%); 16 (44,44%) e 20 (55,55%); 07 (41,17%) e 10 (58,82%) (Figura 9).

Figura 7. Abundância do gênero Leptogaster (Asilidae) na Reserva Biológica União, RJ.

Como pode ser observado, as diferenças na razão sexual não foram significativas. Por fim, 10
espécimes não puderam ter o sexo identificado, por estarem muito danificados, e foram excluídos
deste estudo (3,15% do total). No período de 26/09/2013 a 27/01/2014 foi coletado um número
significativamente maior de indivíduos (69,27%) do que no período de 28/01/2013 a 25/10/2013
(Figura 10) mostrando que o gênero Leptogaster apresentou maior abundância na primavera e nos
dois primeiros meses do verão do que no final do verão e no outono e inverno, o que ocorre com a
maioria dos insetos (FORATTINI, 1962).

Figura 8: Número de indivíduos de Leptogaster (Asilidae) por trilha na Reserva Biológica da União, RJ.

74
Figura 9. Porcentagem de machos e fêmeas de Leptogaster (Asilidae) por trilha na Reserva Biológica da União, RJ.

Figura10: Número de exemplares de Leptogaster (Asilidae) coletados no período de janeiro de 2013 a março de 2014 na
Reserva Biológica da União, RJ.

A trilha com maior abundância de representantes do gênero Leptogaster é a mais antropizada,


sendo mais larga que as demais, com maior movimentação de veículos e também mais próxima da
BR 101, indicando uma provável adaptação desta mosca a condições ambientais mais alteradas.
Diferença não significativa na razão sexual entre machos e fêmeas já era esperada, uma vez que na
maioria das espécies com reprodução sexuada e sem partenogênese, a razão sexual é
aproximadamente de 1:1 (FISHER, 1930).
Trata-se do primeiro registro de Leptogaster no Estado do Rio de Janeiro, gênero assinalado
anteriormente apenas para os estados de São Paulo (Região Sudeste), Amazonas, Pará (Região
Norte) e Santa Catarina (Região Sul).

75
CONCLUSÕES

- Leptogaster é um gênero presente no Estado do Rio de Janeiro e abundante na Reserva Biológica


da União, representando o gênero de Asilidae com maior número de exemplares.
- A trilha mais antropizada foi também a que apresentou maior abundância de exemplares de
Leptogaster, indicando adaptabilidade do gênero a condições ambientais mais alteradas.
- Não houve diferenças significativas na proporção sexual do gênero Leptogaster na Reserva Biológica
da União.
- Nos meses de primavera e verão foi encontrado um maior número de exemplares do gênero.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Paulo, Ribeirão Preto.

76
CAMPOS, T.R.M. et al. 2016. Flutuação populacional de Campsurus truncatus Ulmer, 1920 (Ephemeroptera:
Polymitarcyidae) na Mata do Paraíso, Viçosa, Minas Gerais. In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. &
Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 77-83.

FLUTUAÇÃO POPULACIONAL DE Campsurus truncatus ULMER, 1920


(EPHEMEROPTERA: POLYMITARCYIDAE) NA MATA DO PARAÍSO, VIÇOSA,
MINAS GERAIS
Thiago Rodas Müller de Campos1,4
Elidiomar Ribeiro Da-Silva1
Aline Fernandes Baffa1
Luci Boa Nova Coelho2
Paulo Sérgio Fiuza Ferreira3

RESUMO

A partir de coletas realizadas em uma reserva florestal de Viçosa, Estado de Minas Gerais, foram
estudados aspectos da biologia populacional de Campsurus truncatus. Em 28 meses de coleta, foram
obtidos 5.996 exemplares. Os maiores valores de abundância foram obtidos em fevereiro, abril e
outubro. Foi verificada a correlação significativa positiva dos valores populacionais com velocidade do
vento, evaporação, precipitação, quantidade de dias de chuva, temperatura e nebulosidade, e negativa
com pressão atmosférica e insolação.

Palavras-chave: autoecologia; efemérida; Floresta Atlântica; Região Neotropical.

ABSTRACT

POPULATIONAL FLUCTUATION OF Campsurus truncatus ULMER, 1920 (EPHEMEROPTERA:


POLYMITARCYIDAE) IN MATA DO PARAÍSO, VIÇOSA, MINAS GERAIS STATE
From surveys carried out in a forest reserve of Viçosa, Minas Gerais State, we studied aspects on
population biology of Campsurus truncatus. In 28 months of collects, 5,996 specimens were obtained.
The greatest abundance values were obtained in February, April and October. It was observed a
significant positive correlation of population values with wind speed, evaporation, precipitation, number
of days of rain, temperature and cloud cover, and negative with air pressure and insolation.

Keywords: Atlantic forest; autecology; mayfly; Neotropics.

___________________
1
Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3
Museu Regional de Entomologia, Departamento de Entomologia, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, Brasil.
4
Autor correspondente: thiago.rodas.muller@gmail.com.
77
INTRODUÇÃO

Os integrantes da ordem Ephemeroptera são notáveis por passarem a maior parte de sua
existência como formas imaturas aquáticas, chamadas náiades, enquanto os adultos sobrevivem por
tempo suficiente apenas para a concretização do processo reprodutivo (EDMUNDS JR et al., 1976).
Devido a breve existência imaginal, não é incomum que alguns grupos promovam voos nupciais, às
vezes de grande magnitude (DA-SILVA & SALLES, 2012). É o que ocorre com o gênero Campsurus
Eaton, 1868 (Polymitarcyidae), comumente encontrado por todo o Brasil (PEREIRA & DA-SILVA,
1991; MOLINERI et al., 2015). A partir de coletas com armadilha luminosa, realizadas na Mata do
Paraíso, uma reserva florestal vinculada à Universidade Federal de Viçosa, Estado de Minas Gerais,
foram estudados aspectos da biologia populacional de Campsurus truncatus Ulmer, 1920. Os
resultados preliminares, ainda tratando a espécie como C. melanocephalus Pereira & Da-Silva, 1991,
foram apresentados em congresso científico (DA-SILVA et al., 1996).
A espécie tem distribuição conhecida para os estados de Pernambuco, Espírito Santo e Rio de
Janeiro (SALLES et al., 2015). A ocorrência de C. truncatus no município de Viçosa e no Estado de
Minas Gerais só foi registrada em literatura cinzenta (resumos de congressos, teses). Assim,
efetivamente a espécie é pela primeira vez registrada em Minas Gerais com base no presente trabalho.

OBJETIVO

Estudar o padrão de variação populacional de Campsurus truncatus Ulmer, 1920 (Figura 1),
com base em amostragens periódicas realizadas na Mata do Paraíso, município de Viçosa, MG.

ÁREA DE ESTUDOS

A Mata do Paraíso (20º45'S; 42º51'W) é uma reserva de Mata Atlântica secundária, com pouco
menos que 200 hectares de extensão e altitude média de 650 m, vinculada à Universidade Federal de
Viçosa (UFV). Segundo ANTUNES (1986), o clima da região está classificado como temperado
chuvoso (mesotérmico), também chamado subtropical de altitude (Cwb). Segundo dados históricos
(1931 a 1960) do Setor de Meteorologia Agrícola da UFV, as médias anuais de temperatura,
precipitação, evaporação e umidade relativa do ar são, respectivamente, 19oC, 1.341 mm, 650 mm e
80% (DE PAULA & FERREIRA, 1998). Conforme a classificação fitogeográfica de HUECK & SEIBERT
(1972), a vegetação está constituída por bosques subtropicais decíduos e mesófilos, com alta
proporção de espécies perenes. No local há ambientes lênticos, possíveis sítios de criação das
náiades de Campsurus truncatus.
78
Figura 1. Campsurus truncatus, imago macho.

MATERIAL E MÉTODOS

Os exemplares foram coletados com a utilização de uma armadilha luminosa modelo “Luiz de
Queiroz”, equipada com lâmpada UV de 15 watts e 100 volts, elevada a 2,5 metros do solo e adaptada
para a conservação dos insetos a seco. O material, coletado de agosto de 1981 a novembro de 1983,
está depositado no Museu Regional de Entomologia da UFV. Os exemplares capturados foram
mantidos a seco em mantas entomológicas, armazenadas em latas de 20 litros, contendo naftalina e
paraformaldeído, até a triagem e contagem. Após essas, os exemplares encontram-se estocados em
caixas entomológicas. Os dados ambientais foram obtidos junto ao INMET e são relativos ao município
de Viçosa. Visando estimar a possível influência dos fatores ambientais, utilizou-se a Correlação de
Postos de Kendall para confrontá-los aos fatores climáticos da localidade.

RESULTADOS

Em 28 meses de coleta, foram obtidos 5.996 exemplares de Ephemeroptera, sendo 5.262


machos (87,76%) e 734 fêmeas (12,24%). A maior quantidade de machos pode não representar um
desequilíbrio na proporção sexual, mas provavelmente é devida às fêmeas serem maiores, pesadas
(são repletas de ovos) e, por isso, terem maior dificuldade física em se aproximar da armadilha.
79
Figura 2. Aspecto e localização da Mata do Paraíso, Viçosa, MG. Mapa baseado em COELHO & DA-SILVA (2003). Fonte
das imagens de satélite: Google Maps (2015). Desde a época das coletas até os dias de hoje a fisionomia da localidade
sofreu pouca variação.

Os maiores valores de abundância média (Figura 3) foram obtidos em fevereiro, abril e outubro
de 1982 (respectivamente 412,5, 400,5 e 318,25 exemplares). Foi verificada a correlação significativa
positiva das médias mensais de C. truncatus com a velocidade do vento, a evaporação, a precipitação,
a quantidade de dias de chuva, a temperatura, a nebulosidade, e negativa com a pressão atmosférica
e a insolação (Tabela I).

DISCUSSÃO

Temperatura e pluviosidade são fatores tradicionalmente correlacionados a variações nas


populações de insetos tropicais (eg., WOLDA, 1978; FERREIRA et al., 1986; COELHO & DA-SILVA,
2003; MARQUES et al., 2004). Temperatura e umidade têm papel decisivo na ecdise imaginal
(BURKS, 1975; DA-SILVA, 1998). A temperatura é um dos fatores mais críticos, tendo um efeito
marcante no desenvolvimento e nas atividades do inseto. A evaporação costuma ser correlacionada
80
positivamente à temperatura (BARRETO & GODOY, 1961). A pressão atmosférica é um fator que
pode estar correlacionado com mudanças no comportamento sexual de determinados insetos
(PELLEGRINO, 2011). Insetos muito susceptíveis à perda de água por transpiração, como os adultos
de Ephemeroptera (BURKS, 1975), tendem a ser negativamente influenciados por valores elevados
de insolação (DA-SILVA, 1998). Por fim, como parâmetro de comparação, já foi registrado que a
velocidade do vento e nebulosidade têm influência na eficiência das armadilhas luminosas como meio
de coleta para certos grupos de insetos (NOWINSZKY, 2004; STEINER & HÄUSER, 2011).

Figura 3. Variação mensal da abundância média (em log Y) de Campsurus truncatus na Mata do Paraíso, Viçosa, MG, de
agosto de 1981 a julho de 1983.

Trabalhos populacionais com Ephemeroptera sugerem uma variação de acordo com a época,

81
mesmo em ambientes tropicais, onde a sazonalidade não é aparentemente tão bem definida,
indicando flutuações na abundância de acordo com a época avaliada (WOLDA & FLOWERS, 1985).
Muitos insetos das regiões intertropicais podem agir de forma sazonal, por causa de alternâncias entre
períodos secos e chuvosos ao longo do ano (WOLDA, 1988).

Tabela I. Correlação de Kendall (t) entre os valores populacionais de Campsurus truncatus e os parâmetros ambientais da
Mata do Paraíso, Viçosa, MG.

PARÂMETROS AMBIENTAIS t p
Velocidade média do vento 0,3059 p<0,05
Velocidade máxima do vento 0,33161 p<0,05
Insolação total (mês anterior) -0,38235 p<0,05
Evaporação de piche 0,31706 p<0,05
Nebulosidade média 0,26457 p<0,05
Número de dias de chuva 0,29719 p<0,05
Precipitação total 0,28925 p<0,05
Pressão atmosférica -0,35788 p<0,01
Temperatura máxima média 0,36713 p<0,01
Temperatura compensada média 0,38381 p<0,01
Temperatura mínima média 0,36713 p<0,01

Indivíduos adultos de Ephemeroptera já foram bem relacionados de acordo com a umidade e


temperatura, pois tais fatores influenciam na emergência dos adultos (SUHAILA & CHE SALMAH,
2010). No entanto, padrões populacionais de Ephemeroptera tendem a variar de acordo com
mudanças físicas e químicas de um ambiente (SVITOK, 2006), sugerindo que, uma mudança nas
variáveis climáticas pode prejudicar o ciclo de vida desses insetos. Dados sobre flutuações de
espécies podem ajudar a monitorar ambientes. LUOTO (2009), em trabalho com insetos aquáticos,
concluiu que Ephemeroptera e Trichoptera foram mais relacionados com temperaturas mais quentes
nas regiões lacustres da Finlândia, e que o estudo da relação entre variáveis abióticas e a fauna de
insetos aquáticos pode ajudar a entender mudanças climáticas ocorridas no passado.
Especificamente em relação ao gênero Campsurus, são poucos os estudos de biologia
populacional. TAKEDA & GRZYBKOWSKA (1997) estudaram a ecologia de náiades de C. violaceus
Needham & Murphy, 1924 em um afluente do Rio Paraná, encontrando os valores mais elevados de
densidade entre março e julho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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82
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environment. Biotropica 17(4): 330-335.

83
COELHO, L.B.N. et al. 2016. Balclutha hebe and Curtara atomaria, non-seasonal leafhoppers in a seasonal environment
(Hemiptera: Cicadellidae). In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III
Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro,
p. 84-90.

Balclutha hebe KIRKALDY, 1906 AND Curtara atomaria (STÅL, 1862), NON-
SEASONAL LEAFHOPPERS IN A SEASONAL ENVIRONMENT (HEMIPTERA:
CICADELLIDAE)
Luci Boa Nova Coelho1,4
Elidiomar Ribeiro Da-Silva2
Bernardo Egito Amarante2
Sávio da Silva Cavalcante2
Paulo Sérgio Fiuza Ferreira3

RESUMO

Balclutha hebe KIRKALDY, 1906 E Curtara atomaria (STÅL, 1862), CIGARRINHAS NÃO-
SAZONAIS EM UM AMBIENTE SAZONAL (HEMIPTERA: CICADELLIDAE)
Cigarrinhas (Hemiptera: Cicadellidae) são insetos fitossuccívoros importantes em ambientes
florestais. O hábito alimentar, os elevados valores populacionais desses insetos e o fato de poderem
ser pragas agrícolas tornam importante o estudo de suas populações. Cigarrinhas, geralmente,
apresentam maiores valores de abundância durante as estações chuvosas, mas existem espécies
que não seguem tal padrão. Este trabalho relata Balclutha hebe (Deltocephalinae) e Curtara atomaria
(Iassinae) como espécies não-sazonais em uma reserva florestal do sudeste do Brasil.

Palavras-chave: Auchenorrhyncha; Brasil; Deltocephalinae; flutuações; Lassinae.

ABSTRACT

Phytosuccivorous insects, leafhoppers (Hemiptera: Cicadellidae) are important in forest environments.


The food habit, population size and the fact that these groups represent agricultural pests, make
important to study them. Leafhoppers, normally, present major abundance during rainy seasons,
though they may have species that do not follow this pattern. This paper presents Balclutha hebe
(Deltocephalinae) and Curtara atomaria (Lassinae) as non-seasonal species in a forest reserve of
southeastern Brazil.

Keywords: Auchenorrhyncha; Brazil; Deltocephalinae; fluctuations, Lassinae.

_____________________________
1
Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3
Museu Regional de Entomologia, Departamento de Entomologia, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, Brasil.
4
Corresponding author: lucibncoelho@gmail.com.
84
INTRODUCTION

Relationships between organisms and the environment helps to understand ecological factors
which relevant to specific populations. These studies, in an anthropocentric point of view, are relevant
for phytophagous insects within an agricultural region to detect potential pests. The Atlantic Forest is
one of the most threatened and destroyed biomes of the planet, with about 100,000 km 2 of its area
remaining, what corresponds to 1% of the Brazilian territory (FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA,
2009). The Atlantic Forest covers about 10.33% of the Minas Gerais State, southeastern Brazil
(INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS, 2010), including the region known as Zona da Mata (CRUZ
et al., 2012).
Cicadellidae (Hemiptera: Auchenorrhyncha) are phytophagous insects, with higher biodiversity
(SOHI & MANN, 1988) and feeding on buds, leaves, petioles, stems and exposed roots (MENEZES,
1972; COELHO, 1997; LEITE et al., 2002). Species of this group cause direct damages to plants by
the sap extraction, but many of them as phytopatogens (ZANOL & MENEZES, 1982) and some having
economical relevance (GALLO et al., 1988). The food habit makes Cicadellidae a group with a large
study potential related to forest biodiversity and its alterations on plant composition (COELHO, 1997).
However, the scarcity of population studies shows that richness and studies on ecosystems of
Cicadellidae need to be better evaluated (ZANOL & MENEZES, 1982).

OBJECTIVES

To analyze the population variation of the leafhoppers Balclutha hebe (Kirkaldy, 1906)
(Deltocephalinae) and Curtara atomaria (Stål, 1862) (Lassinae) in Mata do Paraíso, an Atlantic Forest
reserve in the Zona da Mata, Minas Gerais State, Brazil, from samples collected from 1981 to 1993.

STUDY AREA

The municipality of Viçosa is located in the Zona da Mata and its original vegetation was a
continuous montane semideciduous forest inserted in the Atlantic Forest domains (VELOSO et al.,
1991; DE PAULA & FERREIRA, 1998). This original vegetation was replaced by coffee crops and later
by pastureland of molasses grass (Melinis minutiflora Beauv. – Poales: Poaceae) and secondary
forests in different successional stages. The Mata do Paraíso forest reserve (20º45'S; 42º51'W) is the
largest forest fragment in Viçosa. In the 19th century, after deforestation, it was partly replaced by
coffee crops and pastures. Nowadays, the forest is in different succession stages, which covers an
area of about 200 ha (DE PAULA & FERREIRA, 1998; PINTO et al., 2007) as a vegetation island
85
(CRUZ et al., 2012).
Mata do Paraíso, bonded by the Federal University of Viçosa (Universidade Federal de Viçosa
- UFV), is located in Viçosa municipality (Figures 1-2). This reserve, with an average altitude of 650 m
(DE PAULA & FERREIRA, 1998), was first used for wood and coffee production. Currently, the Mata
do Paraíso is administrated and protected by the Departamento de Engenharia Florestal of UFV, legally
blocking the removal of any material from this site (COELHO & DA-SILVA, 2003; COELHO et al., 2014).
The climate of Mata do Paraíso is classified as rainy temperate (mesothermal), also called as
subtropical altitude (Cbw) (ANTUNES, 1986). Its annual temperature, rainfall, evaporation and relative
humidity averages were, respectively, 19°C, 1,341mm, 650mm, 80% from 1931 to 1960 (DE PAULA
& FERREIRA, 1998).

MATERIAL AND METHODS

The samplings were performed in a twilight-night operation with a “Luiz de Queiroz” light trap
(SILVEIRA NETO & SILVEIRA, 1969), with UV light bulb (15W, 100V), positioned about 2.5 meters
above the soil and adjusted for collecting dry insects (FERREIRA & MARTINS 1982). This trap was
mounted in a representative point of the region with wetlands, pasture and areas at different stages of
forest regeneration. The collections were performed during 64 months from September 1981 to
November 1983, June 1986 to June 1988 and August 1992 to July 1993. The trap was used from
twilight - night, between 6:00 PM and 6:00 AM (COELHO, 1997; DE PAULA & FERREIRA, 1998,
ZANUNCIO et al., 2001). The abundance in different seasons (dry and rainy) were compared through
the Mann-Whitney Test. The specimens of these insects are deposited in the Regional Museum of
Entomology of the UFV.

Figure 1. Vegetation aspect of Mata do Paraíso, Viçosa, Minas Gerais State, Brazil.
86
Figure 2. Map with the location of Mata do Paraíso, Viçosa, Minas Gerais State, Brazil. Modified from COELHO &
NESSIMIAN (2009).

RESULTS AND DISCUSSION

The climatic seasons are a proven influence to the dynamics of many tropical insects’
populations. In Mata do Paraíso, seasons can be marked by the balance between evaporation and
rainfall, which the first being the dry season (April to September) and the other the rainy season
(October to March). The population of most leafhoppers species was highest in the rainy season
(COELHO, 1997). However, this pattern was not followed by some species, which similar number of
individuals between seasons. Of the species with constancy above 25%, those that did not apparently
have seasonal variation are Balclutha hebe and Curtara atomaria (Figure 3). Population values of these
species were similar between the dry and rainy seasons in Mata do Paraíso (Figure 4).
The seasonality of the Auchenorrhyncha groups (mostly Cicadellidae) in Las Cumbres, Panama,
showed most of them following a certain seasonal variation, while others presented no significant
differences between the climatic seasons (WOLDA 1980). B. hebe and C. atomaria fit in the last pattern
and thus, are characterized as non-seasonal in the area studied.
Curtara atomaria has occurrence known only to Brazil, which have been described from Rio de
Janeiro State (DeLONG, 1979). Later, the species were recorded for Minas Gerais State in the
municipality of Viçosa (COELHO et al., 2001), based on the material studied.
87
Figure 3. Non-seasonal Cicadellidae species of Mata do Paraíso, Viçosa, Minas Gerais State, Brazil.

Balclutha hebe, with a worldwide distribution, was described from Hawaii and recorded in
Australian, Afrotropical, Oriental, Nearctic, and Neotropical regions. In the Americas, it occurs in the
United States, Costa Rica, Nicaragua, Belize, Bahamas, Cayman Islands, Cuba, Dominica, Honduras,
Haiti, Virgin Islands, Puerto Rico, Trinidad and Tobago, Panama, Suriname, Ecuador, Guatemala,
Colombia, Bolivia, Peru, Paraguay, and Brazil (ZANOL, 2006). In Brazil, this insect has been registered
to Roraima, Maranhão, Bahia, São Paulo (ZANOL & MENEZES, 1982; COELHO, 1997), Santa
Catarina (HICKEL et al., 2001), and Rio de Janeiro (LOBO, 2007). This is first formal record of this
species in Minas Gerais State and the municipality of Viçosa after one unpublished record (COELHO,
1997).

FINAL CONSIDERATIONS

The rain and dry seasons are well marked in Mata do Paraíso. There are significant differences
of climatic elements between seasons, especially humidity and temperature. The small population
variation presented by Balclutha hebe and Curtara atomaria can show that these species are generalist
to bioecological demands, possibly by a phenotypic plasticity.
Forest strata have great importance as areas of biodiversity and provides environmental
services, particularly for the genetic flow of species of phytophagous insects of agricultural importance,
important to select insect resistance to slowing the various forms of management (behavioral,
chemical, etc.). Such resilience to climate requirements and possibly host is an aspect to be studied,
88
especially for B. hebe, which can carry Xylella fastidiosa Wells, Raju, Hung, Weisburg, Mandelco-Paul
& Brenner, 1987 (Xanthomonadales: Xanthomonadaceae), the causal agent of citrus variegated
chlorosis (HICKEL et al., 2001).

Figure 4. Abundance of Balclutha hebe (Mann-Whitney = 0.82, p = 0.22, n.s.) and Curtara atomaria (Mann-Whitney = 2.16,
p = 0.14, n.s.) in different seasons (rainy and dry) of the Mata do Paraíso, Viçosa, Minas Gerais State, Brazil.

ACKNOWLEDGEMENTS

We would like to thank the anonymous reviewers, who greatly contributed to the improvement
of the text.

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90
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the Rio de Janeiro City. In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III
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p. 91-100.

POPULATION DYNAMICS OF CICADELLIDAE AND DELPHACIDAE (HEMIPTERA)


IN AN URBAN ENVIRONMENT OF THE RIO DE JANEIRO CITY
Elidiomar Ribeiro Da-Silva1,3
Luci Boa Nova Coelho2
Diego Paschoa Trindade1
Marcilio de Sena Barbosa1
Thiago Rodas Müller de Campos1

RESUMO

DINÂMICA POPULACIONAL DE CICADELLIDAE E DELPHACIDAE (HEMIPTERA) EM UM


AMBIENTE URBANO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
Com base em coletas de insetos atraídos por fonte luminosa, foi feita uma amostragem dos
Auchenorrhyncha, entre maio de 2014 e abril de 2015. Foram registradas duas famílias, Delphacidae
e Cicadellidae, sendo que a última foi bem mais abundante. Nebulosidade e umidade relative foram
correlacionadas significativamente com as densidades de Cicadellidae. Para os Delphacidae,
evaporação, precipitação e temperatura (do mês anterior) foram correlacionadas significativamente
aos dados populacionais. Considerando o total de Auchenorrhyncha, os valores foram
significativamente correlacionados a umidade relativa, precipitação, nebulosidade e evaporação.

Palavras-chave: Auchenorrhyncha; Brasil; flutuações.

ABSTRACT

Based on insect collections attracted by light source, samplings of Auchenorrhyncha were collected
monthly from May 2014 to April 2015. Two families, Delphacidae and Cicadellidae, were recorded the
latter attaining higher abundance. Cloudiness and relative humidity were significantly correlated to
Cicadellidae densities. For Delphacidae, evaporation, precipitation and temperature (the previous
month) were significantly correlated to population data. Considering the total of Auchenorrhyncha, the
densities were significantly correlated to relative humidity, precipitation, cloudiness and evaporation.

Keywords: Auchenorrhyncha; Brazil; fluctuations.

___________________
1
Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3
Autor correspondente: elidiomar@gmail.com.
91
INTRODUCTION

The urban environment is a result of environmental, biological and socio-economic factors


interactions, within the space built by men predominating on the natural environment, causing major
changes (BRUN et al., 2007; TORRES, 2015). However, urban areas are not occupied exclusively by
humans. Despite being poorly studied compared to preserved ecosystems, they host a great amount
of animals, including insects. According to TORRES (2015), because of urbanization, such
environments have fragments of different vegetation types, with different sizes and shapes, usually
composed by opportunistic or exotic plant species (the parks, squares, lakes, gardens and buildings of
a city). Many of these locations are used as a shelter by a variety of animals, enabling even colonization
by new species, who have learned to take advantage of such urbanized habitats.
The urban insect fauna is quite diverse, sampling members of Diptera, Lepidoptera,
Hymenoptera, Hemiptera, Blattodea, Orthoptera, and Zygentoma orders, occurring, basically, in all
substrates. Insects have a great adaptive capacity, as they can inhabit almost every location, such as
residences, factories, or sewage (MELIC, 1997; ALCARAZ et al., 2006; ISHIKAWA et al., 2015).
Afforestation and urban lighting can have direct influence on the number of species as a whole.
Among the Hemiptera, Auchenorrhyncha represents a diverse group of phytophagous insects,
with a large number of species distributed in several taxa, occurring in a variety of ecosystems. Many
species are abundant in agricultural crops and can cause significant damage by feeding on the sap
and, thus transmitting pathogens (GIUSTOLIN et al., 2009). Cicadellidae and Delphacidae are widely
distributed in the world, including the Americas. Many species of these families are vectors of
phytopathogenic virus and mollicutes, which cause severe symptoms in several plant hosts (DE
OLIVEIRA et al., 2013).

OBJECTIVES

The present studying aimed to evaluate the population dynamics of auchenorrhynchous insects
of the Cicadellidae and Delphacidae families in a residential building in the northern zone of Rio de
Janeiro, southeastern Brazil.

AREA OF STUDY

The climate of Rio de Janeiro favors the occurrence of insects, primarily because of its rainfall
volume and high temperatures. The metropolitan region has, predominantly, a semi-humid tropical
climate, with heavy rainfall in the summer, when temperatures can easily reach forty degrees Celsius.
92
In contrast, the weather is much more mild and dry in the winter. The average temperature during the
year ranges from 22o to 24o Celsius and rainfall tends to be in between 1,000 to 1,500 millimeters
annually. The rainy season is in the summer, while winter is drier. The proximity of the sea and the
sharp and diverse relief of the metropolitan region of Rio de Janeiro contribute to the great spatial
variability and meteorological features. The urbanization process also changes the atmospheric
conditions, since they influence thermal properties of the surface, decreasing the wind intensity and
soil humidity (cf. KALNAY & CAI, 2003).

MATERIAL AND METHODS

Population dynamics of auchenorrhynchous insects of the Cicadellidae and Delphacidae


families were studied using monthly quantitative samples, carried out from May 2014 to April 2015, one
sample per month, in a residential building of the northern zone of Rio de Janeiro (Figure 1), and were
correlated with meteorological data (obtained from Instituto Nacional de Meteorologia – INMET)
through Pearson Correlation. Two types of calculation were performed, the first one comparing the
population values to environmental data from the same month of the collected samples, and the other
correlating population values to the environmental data of the previous month.
Multiple regression was applied to values of abundance of Auchenorrhyncha and variables
appointed as significantly correlated with the monthly variation of insects, namely: evaporation, cloud
cover, precipitation and relative humidity. For the correlation that resulted in the most significant value
(in this case, the population variation of Auchenorrhyncha and monthly average relative humidity data
– see below), was drawn the linear regression line. The statistical program used was PAST, version 3.
The organisms were collected in a chandelier, illuminated by two fifteen watts white-fluorescent
lamps. Many insects are positively phototrophic and the use of light traps produce valuable faunistic
data. This data can be considered as a biodiversity parameter of the concerned vicinity (DADMAL &
KHADAKKAR, 2014). The specimens were collected, sorted, counted and deposited in the José
Alfredo Pinheiro Dutra Collection, from Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, RJ, Brazil.

RESULTS AND DISCUSSION

Various insects respond to abiotic factors like humidity, temperature, light and resources in
different ways. These abiotic factors not only affect the behavior of insects but also disturb the
physiological mechanism (KHALIQ et al., 2014). In this study, the different groups responded
significantly to evaporation, precipitation, cloudiness, temperature and relative humidity.
93
Figure 1. Collection point, a residential building located in a strictly urban area of Cachambi neighbourhood, north zone of
the city of Rio de Janeiro. Map of the city of Rio de Janeiro (above) and Cachambi and neighboring districts (below). Source:
Google Maps.

Overall, 148 specimens of Auchenorrhyncha were collected, 136 of the Cicadellidae family and
12 belonging to Delphacidae family. Part of the taxa identified is in Figure 2. During the sampling period,
Auchenorrhyncha presented three population peaks, the most prominent one in June-July, other in
November and another in March-April (Figure 3). The Cicadellidae members, which represent the vast
majority of the group, maintained such default values. Delphacidae, the less numerous members, had
the greatest population values in February-March, followed by June (Figure 4).
The peaks of Cicadellidae population were observed in April and June (22 and 21 specimens,
respectively). Cloud cover (t = 0.61132; p<0.05) and relative humidity (t=0.81865, p<0.01) were
significantly correlated to the population data. For Delphacidae, evaporation (t=0.68246, p<0.05),
precipitation (K = t=0.68133; p<0.05), maximum temperature of the last month (t=0.609; p<0.05), and
medium temperature of the last month (t=0.57687; p<0.05) were significantly correlated to the
population increases. Considering the total of Auchenorrhyncha, population values were significantly
correlated to relative humidity (t=0.82575; p<0.01), precipitation (t=0.59906; p<0.01), cloudiness

94
(t=0.63612; p<0.05) and evaporation (t=0.61364; p<0.05).
Multiple regression showed significant influence of the independent factors (evaporation, cloud
cover, precipitation and relative humidity) in population biology Auchenorrhyncha (multiple R=0.83875;
multiple R2= 0.7035; multiple R2 adj = 0.53407; ANOVA F=4,1522; p<0.05). The environmental factor
most significantly correlated to the Auchenorrhyncha is relative humidity. Simple linear regression
showed the influence of this factor in population dynamics, as shown in Figure 6. The line of regression
was calculated (slope a = 1.6098, std. error a = 0,34771, intercept b = -102,49, std. error b = 24,836).
The most distant points of the line were those relating to the months of May and June, which had
exeptionally high population densities.

Figure 2. Specimens of Auchenorrhyncha collected in a residential building located in a strictly urban área of Cachambi
neighbourhood, North Zone of the city of Rio de Janeiro. Cicadellidae: (A) Xerophloea viridis (Fabricius, 1794); (B)
Acinopterus sp; (C) Haldorus sp; (D) Protalebrella brasiliensis (Baker, 1899); (E) Curtara samera DeLong & Freytag, 1972.
Delphacidae: (F) Delphacodes sp; (G) Tagosodes sp; (H) Metadelphax(?) sp.
95
OTT & CARVALHO (2001), studying the Leafhopper community of a field in the State of Rio
Grande do Sul, observed that the lower population values were obtained in periods of low rainfall.
According to these authors, periods of exceptional drought can lead adults to enter a reproductive
diapause or move to favorable locations, as lower layers of vegetation or adjacent wetter areas. From
samples collected with a light trap held in Viçosa, State of Minas Gerais, COELHO & DA-SILVA (2003)
observed there were significant positive correlation between the values of Agallia incongrua Oman,
1938 leafhopper population and the average temperature. LARA et al. (2007) noted that in June, the
beginning of the dry period of the year, there is reduction in the number of leafhoppers. The progressive
increase in the number of insects occurred from December, during summer, characterized by the onset
of the rainy season and high temperatures. On the other hand, SANTA-CECILIA et al. (2002) found a
significant positive correlation between population values of Oncometopia fascialis (Signoret, 1854)
leafhopper with temperature and relative humidity, not with the rainfall. SARTOR et al. (2009),
inventorying the species of insects of the municipality of Viamão, State of Paraná, observed that in the
month of November was registered the largest number of specimens, coinciding with high values of
relative humidity and rainfall. Still related to rainfall, the immediately preceding month (October) had
the largest amount of precipitation sampling period. The month showing the lowest population, May,
was also the one who had the lowest rates of precipitation and maximum temperature in the period.
FABRIN et al. (2014) studied the population variation of leafhoppers in the State of Rio Grande do Sul,
noting four population peaks, occurring in the months of August, October, December and February.
According to them, the population of leafhoppers grows after the onset of spring rains, reaches peak
in summer and autumn and decreases significantly in the winter. REHMAN et al. (2015) studied the
population biology of the leafhopper Amrasca biguttula (Ishida, 1912) in Pakistan, correlating to the
relative humidity, at certain times of the day.

Figure 3. Monthly fluctuation of the abundance of Auchenorrhyncha in a residential building of the municipality of Rio de
Janeiro, may 2014 to April 2015.
96
Figure 4. Monthly fluctuation of the abundance of Cicadellidae and Delphacidae in a residential building of the municipality
of Rio de Janeiro, may 2014 to April 2015.

Figure 5. Linear regression line between the monthly variation of the abundance of Auchenorrhyncha and monthly average
values of relative humidity, obtained in a residential building of the municipality of Rio de Janeiro, may 2014 to April 2015.

The comparison between the seasons (spring/summer on one side, fall/winter on the other), in
the case of Auchenorrhyncha (t = 2.7043; p 0.05) and in the case of Cicadellidae (t = 2.8972; p = 0.05),
indicated the existence of significant seasonal variation (Figure 6). With respect to Delphacidae, there
was no difference in population number between stations, possibly by the low abundance values found.
While certain Auchenorrhyncha are active throughout the year, others seem to have a distinct
seasonal distribution. This seasonal activity is correlated with the start of the wet season and the
resulting production of new plant growth (WOLDA, 1978). In one of the few urban studies of the group,
CORDEIRO & SILVA (2012) analyzed the Hemiptera (Heteroptera and Auchenorrhyncha) of a hill of
97
Sulacap, West Zone of Rio de Janeiro. They found that most taxa and specimens occurred,
significantly, in the rainy season. In the present study, maybe because the sampling period have
occurred into an exceptionally dry year, population difference was not detected between stations.
However, grouping up spring with summer and autumn with winter, the difference was statistically
significant, indicating a seasonal pattern for the group.

Figure 6. Box-plot comparing the values of abundance of Auchenorrhyncha and Cicadellidae in the different seasons.

FINAL CONSIDERATIONS

The urban ecology is a relatively new area of research and the urban environment, therefore, is
a still little-known ecosystem (JAPYASSÚ & BRESCOVIT, 1999). In this way, urbanization, since
preserving portions of the original coverage, seems to favour a surprisingly high number of species,
and not just those introduced.

98
The groups obtained in this research can be relict fauna from Atlantic Forest remains within the
city of Rio de Janeiro, besides eventually introduced species from works of landscape architecture.
Further studies are needed for detailing the dynamics of occupation of urban areas by these
Auchenorrhyncha and to assess the impact of these animals throughout the urban community. One
factor that was not considered here is the possible influence of the development cycle of these insects,
it is not known how many generations occur each year and even if adults are present throughout the
year. To elucidate this question, it would be necessary to carry out biological studies with the species.
We must further highlight that the collection type used in this study (inspection of chandelier in
a residential building) can function as an alternative option to light common traps. This procedure is
suitable not only for inventories of taxa, as well as for ecological oriented studies. Respecting properly
the interval between the dates of collection, the material obtained is perfectly suitable to studies of
population biology and seasonality.

ACKNOWLEDGEMENTS

We would like to thank the anonymous reviewers, who greatly contributed to the improvement
of the text.

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100
DA-SILVA, E.R. et al. 2016. Flutuação populacional de Singhiella simplex (Hemiptera: Aleyrodidae) em ambiente urbano
do município do Rio de Janeiro. In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais
do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de
Janeiro, p. 101-108.

FLUTUAÇÃO POPULACIONAL DE Singhiella simplex (SINGH, 1931)


(HEMIPTERA: ALEYRODIDAE) EM AMBIENTE URBANO DO MUNICÍPIO DO RIO
DE JANEIRO
Elidiomar Ribeiro Da-Silva1,4
Anna Carolina Sampaio Tosi1
Rafael Lacerda Macedo2
Luci Boa Nova Coelho3

RESUMO

O presente estudo objetivou conhecer a distribuição populacional do inseto urbano introduzido


Singhiella simplex (Hemiptera: Aleyrodidae), analisar as variações da população amostrada e
correlacioná-las com variáveis climáticas. O número amostral foi obtido a partir de coletas mensais de
indivíduos atraídos por iluminação doméstica em bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, durante o
período de um ano. As análises mostraram um período de maior ocorrência da espécie nos meses de
março/abril e uma correlação significativa da população amostrada com a umidade relativa,
pluviosidade e evaporação.

Palavras-chave: autoecologia; mosca-branca; praga urbana; sudeste do Brasil.

ABSTRACT

POPULACIONAL FLUCTUATION OF Singhiella simplex (SINGH, 1931) (HEMIPTERA:


ALEYRODIDAE) IN URBAN ENVIRONMENT IN RIO DE JANEIRO MUNICIPALITY
This study aimed to understand the population fluctuation of the introduced urban insect Singhiella
simplex (Hemiptera: Aleyrodidae), analyze the variations of the sampled population, and correlate them
with climatic variables. The sample size was obtained from monthly collections of individuals attracted
to domestic lighting, in an urban neighborhood in the northern of Rio de Janeiro city during one year.
The analyzes showed significant correlation of the sampled population with the relative humidity,
precipitation and evaporation.

Keywords: autecology; southeastern Brazil; urban pest; whitefly.

___________________
1
Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ.
2
Núcleo de Estudos Limnológicos, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ.
3
Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, RJ.
4
Autor correspondente: elidiomar@gmail.com.
101
INTRODUÇÃO

Desde o início dos tempos, o ser humano tem uma relação bastante próxima com os insetos
de uma forma geral. Com a ocupação antrópica de ambientes antes selvagens, essa relação ficou
ainda mais evidente e, por vezes, dependente. Os insetos são animais extremamente adaptáveis, de
maneira que alguns evoluíram tendo relação direta com o homem. Muitas espécies são associadas à
chamada fauna urbana (GARDEN et al., 2006), podendo representar sérios problemas relacionados
à saúde pública, sendo vetores de patógenos e agentes de doenças ou indicadores de fatores
estressantes de nutrientes. As ordens mais comuns que ocorrem no meio urbano são Lepidoptera,
Blattodea, Coleoptera, Diptera, Hemiptera, Hymenoptera, Isoptera, Phthiraptera, Siphonaptera e
Thysanura (FOOTTIT & ADLER, 2009).
Dentre a ordem Hemiptera, destaca-se Singhiella simplex (Singh, 1931) (Aleyrodidae) (Figura
1), espécie oriunda da Ásia tropical e que vem se tornando praga por todo Brasil (LOPES-DA-SILVA
et al., 2014; DA-SILVA & COELHO, 2015). Conhecida como “mosca-branca-do-fícus”, a praga é
originalmente associada à figueira Ficus benjamina L., 1753 (Rosales: Moraceae) que, nos últimos
anos, vem sendo utilizada em vários países para produção de incenso, cerca viva, extração de resina
e ornamentação. Esse inseto se adaptou bem ao clima brasileiro e a outras espécies de árvores,
aumentando de forma significativa os estragos na flora urbana (DA-SILVA & COELHO, 2015). No
Brasil, a espécie foi observada pela primeira vez em 2009, em diversos municípios do Estado do Rio
de Janeiro, sendo logo depois detectada em São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, o que
mostra seu potencial expansionista. O presente trabalho teve como objetivo estudar a flutuação
populacional de S. simplex em uma residência urbana da Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro,
mais especificamente no bairro do Cachambi, a partir de indivíduos atraídos pela iluminação
doméstica.

Figura 1. Singhiella simplex (♂ à esquerda, ♀ à direita).


102
ÁREA DE ESTUDOS

Situada entre a Linha do Equador e o Trópico de Capricórnio, a cidade do Rio de Janeiro tem
clima tipicamente tropical, chuvoso no verão e seco no inverno, e possui serras e extensões
originariamente de Mata Atlântica. Localizada no Estado do Rio de Janeiro, Região Sudeste do Brasil,
está às margens do Oceano Atlântico, entre a Linha do Equador e o Tropico de Capricórnio. O período
chuvoso se concentra no verão, enquanto o inverno é mais seco. O clima é tipicamente tropical, porém,
em função de sua topografia, que apresenta regiões de baixadas e regiões montanhosas, algumas
pequenas variações são encontradas. Os processos de urbanização também alteram as condições
atmosféricas da região, uma vez que provocam modificações nas propriedades térmicas da superfície,
diminuição da intensidade do vento e da umidade no solo (KALNAY & CAI, 2003).

MATERIAL E MÉTODOS

Os exemplares foram coletados em um globo de luz (“lustre”), iluminado por duas lâmpadas
fluorescentes brancas, com potência individual de 15 watts. A espécie foi identificada com base em
AMARAL et al. (2013). Os exemplares foram fotografados com a utilização de um smartphone
Samsung Galaxy S5, acoplado à ocular de microscópio estereoscópico Physis. Os exemplares
estudados encontram-se depositados no Laboratório de Insetos Aquáticos, Departamento de
Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
A partir de coletas quantitativas mensais, realizadas de maio de 2014 a julho de 2015, em uma
edificação residencial da Zona Norte do Rio de Janeiro, bairro do Cachambi (Figura 2), foi possível o
estudo da variação populacional de Singhiella simplex. Os valores numéricos mensais do inseto foram
confrontados a dados meteorológicos obtidos no Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), cobrindo
o período de abril de 2014 a junho de 2015 (Tabela I), por meio da Correlação de Postos de Kendall.
A influência da precipitação foi testada por meio da Regressão Linear Simples, tendo sido os dados
populacionais normalizados por log (x+0,5). Os dados ambientais do mês de coleta dos exemplares e
os do mês imediatamente anterior à cada coleta foram utilizados nas correlações. As correlações e a
regressão foram calculadas utilizando-se o programa PAST (PAleontological STatistics), versão 3
(HAMMER, 2015).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As estações climáticas da localidade, durante o período amostral, puderam ser delimitadas com
base no balanço precipitação – evaporação. Quando a precipitação superou a evaporação definiu-se
103
o mês como chuvoso, enquanto o contrário caracterizou o mês como seco. Tal procedimento foi
adotado por outros estudos de biologia populacional de espécies tropicais (DE PAULA & FERREIRA,
1998; COELHO & DA-SILVA, 2003). Assim, durante as amostragens, apenas dois meses foram
considerados chuvosos (julho de 2014 e março de 2015), o que caracteriza o período como
excepcionalmente seco.

Tabela I. Dados meteorológicos para o município do Rio de Janeiro, de abril de 2014 a junho de 2015. Evap. = evaporação
(mm); Nebul. = nebulosidade; Precip. = precipitação (mm); T. máx. = temperatura máxima média ( oC); T. méd. =
temperatura compensada média (oC); T. mín. = temperatura mínima média (oC); UR = umidade relativa média (%).

Meses Evap.1 Nebul. Precip.1 T. máx. T. méd. T. mín. UR1


Abr/2014 100,51 4,66 100,4 29,02 25,06 22,08 74,77
Mai/2014 27,15 4,34 26,7 27,81 23,67 20,30 73,60
Jun/2014 42,89 4,35 42,7 27,87 23,33 20,42 73,40
Jul/2014 77,60 5,27 87,5 25,97 22,04 19,05 73,74
Ago/2014 22,79 4,28 18,1 27,13 22,37 18,65 68,79
Set/2014 32,47 4,51 29,6 29,16 24,06 20,32 67,73
Out/2014 29,98 3,70 28,4 28,94 24,46 21,09 68,70
Nov/2014 59,63 5,51 59,0 29,49 25,52 22,64 71,04
Dez/2014 45,29 4,13 44,9 32,78 27,80 24,52 67,88
Jan/2015 39,31 3,22 39,2 34,61 29,80 26,13 65,55
Fev/2015 79,31 4,52 79,3 33,32 28,47 25,48 70,68
Mar/2015 146,97 5,99 158,3 30,66 26,90 24,24 78,11
Abr/2015 57,69 4,53 52,7 29,38 25,45 22,84 76,75
Mai/2015 65,52 4,67 64,2 27,56 23,58 20,65 77,42
Jun/2015 65,53 4,12 64,5 27,38 22,88 19,28 79,23

Fonte: INMET
1
correlação significativa com os valores de abundância de Singhiella simplex.

Figura 2. Ponto de coleta, área totalmente urbana da Zona Norte do município do Rio de Janeiro (Fonte: Google Maps).
104
A primeira ocorrência de exemplares de S. simplex nas amostragens foi em junho de 2014.
Depois, os valores de abundância permaneceram baixos até a ocorrência de pico populacional em
março/abril (37 e 27 indivíduos, respectivamente), tornando a cair em maio de 2015 (Figura 3).

Figura 3. Variação mensal da abundância (número de indivíduos) de Singhiella simplex em uma residência urbana da
Zona Norte do município do Rio de Janeiro, de maio de 2014 a julho de 2015.

Com base na Correlação de Kendall, foi detectada a relação positiva significativa (U = 0,63083;
p<0,01) entre a umidade relativa do ar e a dinâmica populacional desse Aleyrodidae, isso quanto aos
dados ambientais do mesmo mês de coleta dos exemplares. Considerando os valores do mês
imediatamente anterior às coletas, os parâmetros umidade relativa do ar (U=0,49115; p=0,01),
evaporação (U=0,51399; p<0,01) e precipitação (U=0,49115; p<0,05) foram correlacionados
significativamente aos valores de abundância de S. simplex.
A umidade relativa é fator já relacionado às flutuações populacionais de insetos da família
Aleyrodidae. ARAÚJO (2005), estudando a dinâmica populacional de Aleurothrixus aepim (Goeldi,
1886) e Bemisia tuberculata (Bondar, 1923) no Piauí, constatou que valores mais elevados de
abundância ocorreram nos meses de umidade relativa alta. Elevadas taxas de evaporação e
evapotranspiração mantêm a umidade relativa alta, o que pode explicar a correlação positiva com os
valores populacionais (STANSLY & NATWICK, 2010).
Quanto à influência da pluviosidade, FIGUEREDO (2002), estudando Aleurocanthus woglumi
Ashby, 1915 na Venezuela, observou que os valores populacionais mais altos ocorreram durante a
época seca. MEDEIROS et al. (2009), estudando a biologia populacional de Aleurocanthus woglumi

105
Ashby, 1915 no Maranhão, observaram os maiores valores de abundância no período com menores
taxas de precipitação. MARTÍNEZ et al. (2012), estudando a biologia populacional de Bemisia tabaci
(Gennadius, 1889) na Colômbia, também verificaram a correlação negativa entre os valores de
abundância e precipitação. LEITE et al. (2002), estudando B. tabaci em Minas Gerais, verificaram que
as temperaturas mais elevadas favoreceram as populações de mosca-branca, não detectando o efeito
da chuva sobre as populações. Tais resultados diferem dos encontrados no presente trabalho, em que
o total de pluviosidade do mês anterior ao de cada coleta influenciou positivamente a dinâmica
populacional de S. simplex (r=0,67932; p<0,01), verificado com a reta de regressão (Figura 4).
Deve-se ressaltar que, contrariando a maioria dos relatos até aqui registrados, S. simplex
apresenta boa capacidade de voo (DA-SILVA & COELHO, 2015), posto que as amostragens foram
realizadas no 6º pavimento de uma edificação, cerca de 30 metros acima da copa das árvores mais
próximas, possíveis locais de criação dos exemplares.

Figura 4. Reta de regressão simples entre a precipitação total (mm) e a abundância [log (x+0,5)] de Singhiella simplex
(slope a = 0,011717; intercept b = -0,57166; stderr a = 0,0035105; stderr b: 0,24296; r = 0,67932; p = 0,0053457) em uma
residência urbana da Zona Norte do município do Rio de Janeiro, de maio de 2014 a julho de 2015.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estudos sobre relictos naturais presentes em ambientes metropolitanos são interessantes em


muitos aspectos. Animais ocorrentes na "selva de pedra" urbana precisam se adaptar a tais ambientes,

106
o que, muitas vezes, inclui mudanças na alimentação e no comportamento. O crescimento
desordenado das cidades e a consequente diminuição das áreas naturais forçam insetos e outros
animais a convierem com o ser humano, desenvolvendo estratégias ecológicas de colonização.
Qualquer espaço que forneça alimento e calor passa a ser propício à ocupação dos novos moradores.
Sem essa capacidade de adaptação, tais espécies provavelmente entrariam em colapso rapidamente.
O clima é fator básico para as delimitações e análises de dinâmica populacional e tem também
grande relevância na organização e estruturação das comunidades. O relevo acentuado da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro e a proximidade do Oceano Atlântico contribuem para a grande
variabilidade espacial e estacional dos elementos meteorológicos, tais como precipitação,
temperatura, umidade, ventos, nebulosidade e evaporação. As variações climáticas podem selecionar
espécies com maior adaptação a perturbações locais do microclima (RICHARDSON et al., 2000).
Espécie potencialmente indicadora de alteração ambiental (no caso, a urbanização),Singhiella
simplex é um bom exemplo de inseto exótico que, além de se adaptar bem ao clima e à região, se
adaptou adequadamente à flora local e aos novos nichos disponíveis. Assim, pode vir a causar danos
a plantas ornamentais do Rio de Janeiro, pela transmissão de patógenos.

AGRADECIMENTOS

Aos pareceristas anônimos, pelas sugestões que enriqueceram em muito o texto.

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108
BARBOSA, C.S. et al. 2016. Influência da luz e do relógio biológico na atividade de oviposição do mosquito vetor Aedes
aegypti (Linnaeus, 1762) (Diptera: Culicidae): observações preliminares. In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.;
Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 109-119.

INFLUÊNCIA DA LUZ E DO RELÓGIO BIOLÓGICO NA ATIVIDADE DE


OVIPOSIÇÃO DO MOSQUITO VETOR Aedes aegypti (LINNAEUS, 1762)
(DIPTERA: CULICIDAE) - OBSERVAÇÕES PRELIMINARES

Christine Silveira Barbosa1


Luana Cristina Farnesi1
Rafaela Vieira Bruno1,2

RESUMO

Devido à importância médica do mosquito Aedes aegypt (Linnaeus,1762) como vetor de múltiplos patógenos,
muitos estudos vêm sendo desenvolvidos sobre a fisiologia e comportamento deste inseto. Porém, ainda restam
lacunas sobre os fatores que influenciam comportamentos importantes do vetor, como é o caso da oviposição.
Neste trabalho, a atividade de oviposição das fêmeas de A. aegypti foi avaliada, em laboratório, sob o prisma
da influência do fator luz, com ênfase na investigação do papel do relógio biológico. O número de ovos
colocados, por fêmea, foi avaliado em ambas as fases clara e escura, tanto em regime “LD” (12h de luz e 12h
de escuro), quanto em “DD” (escuro constante) ou “LL” (claro constante). A média obtida foi de ± 80 ovos/fêmea
em LD, ± 95 ovos/fêmea em DD e ± 50 ovos/fêmea em LL. Nossos resultados indicam que, a preferência de
oviposição é pela fase escura, e aparentemente, o fator exógeno (luz) tem importância mais marcante que o
fator endógeno (relógio circadiano).

Palavras chave: comportamento; ovos; preferência de postura; ritmos biológicos

ABSTRACT

Light and biological clock influence in the egglaying activity of the Aedes aegypti (Linnaeus,
1762) (Diptera: Culicidae) - preliminary observations
Due Aedes aegypti (Linnaeus, 1762) medical importance as a vector of multiple pathogens, many studies to
have been done on the physiology and behavior of this insect. However, there are still gaps on the factors that
influence important vector behaviors, as in egglaying. In this paper, the activity of A. aegypti females egglaying
was assessed in the laboratory. The light factor influence was analyzed, emphasizing the investigation of the
biological clock role. The number of eggs laid per female, was assessed in both light and dark phases in “LD”
photoperiod (12 hours of light and 12 hours of dark), and "DD" (constant darkness) or "LL" (light constant).
Average was ± 80 eggs / female in LD, ± 95 eggs / female in DD and ± 50 eggs / female in LL. Our results
indicate the preference of egglaying is in the dark stage, and apparently the exogenous factor (light) is stronger
than the endogenous factor (circadian clock).

Keywords: behavior; biological rhythms; eggs; egglaying preference.

___________________
1
Laboratório de Biologia Molecular de Insetos, Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, Rio de Janeiro, RJ.
2
Autor correspondente: rafaelabruno@gmail.com.
109
INTRODUÇÃO

Ao longo da evolução, os mais variados organismos vêm sendo submetidos a ciclos diários –
dentre os mais importantes – de luz, temperatura e umidade, devido ao movimento de rotação que a
Terra realiza em torno do seu próprio eixo. Os organismos passaram então a apresentar ritmos
circadianos (do latim circa = cerca e diem = dia) em resposta às variações fisiológicas e ambientais
(MOORE-EDE et al., 1982; MARQUES & MENNA BARRETO, 1999). Dados empíricos sobre a
existência de um relógio biológico em diversas espécies que incluem plantas, animais e seres
humanos, já vem sendo constatados desde a antiguidade, sugerindo a importância desses ritmos
(AMORETTY et al., 2013). A primeira indicação de que havia um controle endógeno do relógio
circadiano surgiu com o experimento de um astrônomo francês chamado Jean-Jacques d’Ortous de
Mairan, em 1729, quando observou que as folhas de Mimosa pudica (Linnaeus, 1753) (dormideira) se
abriam durante o dia, e se fechavam durante a noite. Ao retirar o estímulo luminoso de algumas dessas
plantas, mantendo-as em escuro constante, foi observado que as folhas continuavam abrindo durante
as horas correspondentes ao dia (“dia subjetivo”), e fechando durante o horário correspondente à noite
(“noite subjetiva”).
Outro estudo importante com essa mesma espécie de planta foi realizado, em 1835, pelo
botânico suíço Augustin de Candolle. Foi constatado que o movimento das folhas apresentava um
atraso diário quando os espécimes eram colocados em escuro constante (livre de indicadores
ambientais), evidenciando uma periodicidade endógena de 22 a 23 horas. Esse período próximo, mas
não exatamente igual a 24 horas, ficou conhecido posteriormente como “período de livre curso”. Mais
tarde, Colin Pittendrigh, em 1950, iria demonstrar que o período de livre curso poderia ser “acertado”
por fatores ambientais que indicassem a passagem de tempo (PITTENDRIGH, 1993; FOSTER &
KREITZMAN, 2005). Para essa propriedade, dá-se o nome de “sincronização”, ou entrainment (em
inglês) (MARQUES & MENNA BARRETO, 1999; JOHNSON et al., 2003). Os ciclos de claro-escuro e
de temperatura quente-frio, são os que mais fortemente sincronizam o relógio de diversas espécies.
No entanto, ciclos sociais, de alimentação e de umidade, por exemplo, também sincronizam o relógio
circadiano (MOORE-EDE et al., 1982; MARQUES & MENNA BARRETO, 1999).
Em insetos, o relógio circadiano da mosca-de-fruta Drosophila melanogaster (Meigen, 1830) é
o melhor compreendido e vem sendo utilizado em estudos comparativos para auxiliar na
caracterização do relógio circadiano em espécies vetoras de doenças tropicais, tais como Lutzomyia
longipalpis (Lutz & Neiva, 1912), Aedes aegypti e Culex quinquefasciatus (Say, 1823) (GENTILE et
al., 2009). Em Drosophila Fallén, 1823, a regulação molecular do relógio circadiano envolve alças de
retroalimentação negativa. Na alça principal, estão localizadas as proteínas CLOCK (CLK) e CYCLE
(CYC), que formam um heterodímero e se ligam aos sítios E-box (CACGTG) nas regiões promotoras
110
de period (per) e timeless (tim), induzindo a transcrição destes genes. Curiosamente, o acúmulo das
proteínas PER e TIM ocorre algumas horas mais tarde do que seus respectivos transcritos. Esta
diferença ocorre pela ação da quinase DOUBLETIME (DBT) que fosforila a proteína PER, marcando-
a para degradação via proteossoma (EDERY et al., 1994; PRICE et al., 1998; KLOSS et al., 1998,
2001). Em meados da noite, quando PER se associa a TIM formando um heterodímero, as duas
proteínas são estabilizadas e protegidas da degradação mediada por DBT (HARDIN, 2011;
STANEWSKY, 2002; YU et al., 2006).
A proteína DBT, por sua vez, associa-se ao heterodímero PER-TIM, formando o complexo PER-
TIM-DBT (KLOSS et al., 2001). A fosforilação de PER e de TIM promove a migração deste complexo
para dentro do núcleo. Uma vez no núcleo, esse complexo se liga a CLK-CYC (AKTEN et al., 2003;
CHANG & REPPERT, 2003). O complexo, então, promove a fosforilação de CLK por meio de DBT, o
que reprime a ligação do fator transcricional CLK-CYC às regiões promotoras dos genes controlados
por ele, como per e tim (YU et al., 2006; revisado em HARDIN, 2011). Com a inibição da transcrição
de per e tim, os níveis de suas proteínas começam a cair.
No início do dia, a presença da luz provoca a sincronização do relógio. Este estímulo promove
uma mudança conformacional da flavoproteína denominada CRYPTOCHROME (CRY), levando a
proteína TIM à degradação via proteossoma (STANEWSKY et al., 1998; NAIDOO et al., 1999; EMERY
et al., 2000; LIN et al., 2001; RIEGER et al., 2003; BUSZA et al., 2004). Com a ausência da repressão
exercida por PER-TIM-DBT, CLK-CYC consegue se ligar e ativar novamente a transcrição de per e
tim, recomeçando o ciclo por retroalimentação negativa (STANEWSKY, 2002; HARDIN, 2011).
Já foi comprovado que, em mosquitos da espécie A. aegypti (Linnaeus, 1762), vários aspectos
do comportamento, como alimentação sanguínea, locomoção, cópula, são influenciados pelo relógio
biológico (CLEMENTS, 1992). Porém existem lacunas a serem elucidadas a respeito dos fatores que
influenciam diretamente a atividade de oviposição. Portanto, a investigação de como fatores externos
podem influenciar essa atividade é relevante, tanto para desvendar questões básicas da fisiologia do
vetor quanto para pesquisas direcionadas ao controle do mesmo (MADEIRA et al., 2002; WONG et
al., 2011).
A escolha do local para ovipor é de suma importância na vida dos insetos (BENTLEY & DAY,
1989) já que sua perpetuidade dependerá disso. Dependendo do inseto, essa escolha pode ser
baseada em diferentes fatores, como por exemplo: composição do substrato, nível de umidade e até
mesmo nível de incidência de luz (CLEMENTS, 1992; ABRAM et al., 2015). Além disso, é importante
destacar que as fêmeas de A. aegypti possuem uma habilidade “dispersiva” ao colocarem seus ovos.
Isto é, em uma mesma postura, as fêmeas podem colocar ovos em diversos locais, multiplicando
assim suas chances de sucesso em “espalhar” seus descendentes de um mesmo ciclo gonotrófico.
Essa estratégia pode resultar em dispersão do vetor quando sítios apropriados de oviposição não são
111
encontrados e, consequentemente, podem alastrar consideravelmente doenças transmitidas por este
vetor (REITER et al., 1995; EDMAN et al., 1998).
Esta espécie ainda conta com uma estratégia de sobrevivência chamada de resistência dos ovos à
dessecação, característica tal que protege os embriões em desenvolvimento da perda de água,
possibilitando que o ovo sobreviva em condições secas até que o criadouro esteja novamente em
condições favoráveis à eclosão (CHRISTOPHERS, 1960; KLIEWER, 1961; CONSOLI & LOURENÇO-
DE-OLIVEIRA, 1994; REZENDE et al., 2008, VARGAS et al., 2014). Ovos de A. aegypti possuem a
capacidade de se manterem em estado de quiescência por meses, em ambiente seco, até que o
criadouro em questão seja novamente inundado (VARGAS et al., 2014). Sendo assim, ter
conhecimento sobre o padrão da atividade de oviposição desse vetor é extremamente importante do
ponto de vista epidemiológico e no desenvolvimento de novas estratégias de controle.
Acerca da literatura (GILLETT & HADDOW, 1957) diz-se que o pico do ciclo de oviposição de
A. aegypti ocorre entre às 14 e 15 horas, com preferência pela fase clara. Entretanto, notou-se nos
experimentos de rotina laboratorial, com posturas forçadas, uma quantidade visivelmente maior de
ovos quando as fêmeas eram postas a ovipor em ambientes escuros, contrapondo o observado na
literatura conhecida. Sendo assim, é clara a importância do fator ambiental luz na atividade de
oviposição de fêmeas de A. aegypti. Por esse motivo, estudamos neste trabalho a influência da luz na
atividade de oviposição desta espécie.

OBJETIVOS

No presente trabalho foi avaliada a influência da luz na quantidade de ovos postos por fêmeas
do vetor A. aegypti, verificando assim a preferência da fêmea pela fase clara ou escura e a possível
regulação desta atividade pelo relógio circadiano.

MATERIAIS E MÉTODOS

Manutenção de mosquitos
Foram utilizados ovos de A. aegypti da cepa Rockefeller, cedidos pelo Laboratório de Fisiologia
e Controle de Artrópodes Vetores (LAFICAVE), do Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, Rio de Janeiro,
Brasil. Ovos estocados em papel de filtro seco foram estimulados à eclosão como descrito por Farnesi
e colaboradores (2009).
As larvas recém eclodidas foram transferidas para bacias transparentes contendo 1,5 ml de
água filtrada e duas unidades de comida de gato (0.2 g) (Whiskas® adultos). As bacias foram
estocadas em incubadoras com temperatura (25 ± 1ºC), umidade (20 – 50%) e fotoperíodo (“LD”
112
12/12h: 12h de claro e 12h de escuro) controlados. As pupas foram coletadas com auxílio de uma
pipeta Pasteur manual e alocadas em copos plásticos escuros com capacidade para 200 mL, contendo
a mesma água da bacia de criação. As pupas foram transferidas para gaiolas de papelão (± 50 cm de
altura) com tela de tule e entraram a partir desse momento em incubadoras com fotoperíodo LD 12:12
(12 horas de claro seguidas de 12 horas de escuro) e LD invertido (12 horas de escuro seguidas de
12 horas de claro), até emergirem os adultos

Posturas forçadas nos diferentes regimes de luz


Cinco dias após a emergência dos adultos, cerca de 300 fêmeas mantidas em regime LD e LD
invertido foram alimentadas em cobaias anestesiadas de acordo com o protocolo do CEUA-FIOCRUZ
(licença LW-20/14) por cerca de 20 minutos. Após a alimentação, 40 fêmeas (por experimento/por
condição de fotoperíodo) foram individualizadas e passadas para os regimes teste e mantidas por três
dias nestes regimes (LD – 12 horas de claro seguidas de 12 horas de escuro, LD invertido – 12 horas
de escuro seguidas de 12 horas de claro, DD – 24 horas de escuro ou LL – 24 horas de claro). Todas
as fêmeas foram individualizadas em placas de Petri invertidas (90 ou 150 mm de diâmetro) forradas
com papel de filtro (Whatman nº1). No início do oitavo dia foi adicionado 4 mL de água filtrada a cada
placa para que a postura de ovos fosse induzida por seis horas do oitavo dia, assim como simplificado
no esquema da Figura 1.
A oviposição ocorreu por um período de seis horas. Após esse período, as fêmeas foram
recolhidas e os ovos foram contabilizados com auxílio de microscópio estereoscópio, foi registrado o
total de ovos por fêmea. Os dados estão apresentados como média e erro padrão de três experimentos
independentes. A metodologia de obtenção de posturas sincronizadas foi adaptada, conforme descrito
em REZENDE et al. (2008) e VARGAS et al. (2014).

113
Análise estatística
Os resultados obtidos foram analisados pelo T test, através do programa GraphPad Prism 5
(Graphpad Software, Inc).

RESULTADOS

LD – Primeiro fotoperíodo testado


Foi utilizado o regime de LD para mimetizar as horas de luz do campo, mais especificamente
da cidade do Rio de Janeiro (INMET, 2015). Nossos resultados demonstraram que no regime LD12:12,
a postura foi bem maior na fase escura, subsequente à fase clara (± 80 ovos/fêmea) do que na fase
clara, subsequente ao escuro (± 30 ovos/fêmea) (P < 0,05).

DD – Segundo fotoperíodo testado


O regime DD foi utilizado para ver se havia ou não alguma influência do relógio biológico na
atividade de oviposição. Não houve diferença significativa entre a quantidade de ovos postos tanto na
noite subjetiva, (± 95 ovos/fêmea), quanto no dia subjetivo (± 80 ovos/fêmea).

LL – Terceiro fotoperíodo testado


O regime de LL foi utilizado no intuito de testar se com o fotoperíodo obteríamos resultados
similares que apontassem a ausência de um controle endógeno ou não. Nossos resultados mostraram
que a quantidade de ovos por fêmea, de maneira geral, baixou drasticamente em relação ao regime
de DD. Na noite subjetiva o número médio foi de ± 50 ovos/fêmea, enquanto que na fase de claro
subjetivo a média foi de ± 60 ovos/fêmea, não havendo diferença estatística (P> 0,05) (Figura 2).

Fêmeas que não ovipuseram


Observamos que em regime LD, fase escura, todas as fêmeas ovipuseram, enquanto na fase
clara, 25% das fêmeas não ovipuseram. Em regime DD, somente 2% das fêmeas da noite subjetiva
não ovipuseram, em comparação aos 9% de fêmeas que não ovipuseram no dia subjetivo. Já em
regime LL, observou-se que houve maior preferência de oviposição no dia subjetivo: enquanto não
houve oviposição em 15% das fêmeas na noite subjetiva, somente 9% das fêmeas não ovipuseram
no dia subjetivo.

DISCUSSÃO

O mosquito A. aegypti pertence à família Culicidae, onde encontram-se muitas espécies vetoras
114
de patógeno. A. aegypti é o principal transmissor de Dengue no mundo inteiro (WHO, 2012), além de
estar envolvido também na transmissão de Febre Amarela Urbana, Chikungunya e Zika (MS/SVS
2014; VALLE et al., 2015). Dengue e Febre amarela são consideradas as duas doenças virais mais
importantes transmitidas ao homem por artrópodes (GOULD & SOLOMON, 2008). Exatamente por
não haver atualmente nenhuma terapia antiviral específica ou vacinas comercializadas, a única
estratégia viável nos dias atuais é o controle do vetor (VALLE et al., 2015). O estágio de ovo é, sem
dúvida, bastante importante no que tange as ações de controle do vetor, uma vez que os ovos são os
únicos que não possuem a capacidade de se dispersar (MONNERAT et al., 2002). Sendo assim, as
fêmeas da família Culicidae devem assegurar a sobrevivência e o desenvolvimento de seus ovos e
suas larvas, escolhendo um local mais apropriado para ovipor. Essa escolha é baseada na percepção
do estímulo físico e químico do criadouro (BENTLEY & DAY, 1989; NAVARRO-SILVA et al., 2009),
como baixa concentração de matéria orgânica decomposta, e efeitos atrativos de algumas plantas
sobre as fêmeas (CONSOLI & LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1994; COLTON et al., 2003; WONG et al.,
2011).
Sabendo da característica de “oviposição aos saltos” das fêmeas de A. aegypti (CLEMENTS
1992), a metodologia escolhida (de aprisionamento das fêmeas) foi importante para que tivéssemos,
em um mesmo local e em pouco tempo, um grande número de ovos na condição controle (LD), com
média de 80 ovos por fêmea. No entanto, em alguns casos obtivemos algumas fêmeas que
ovipuseram cerca de 120 ovos, número semelhante ao já descrito no campo (CHRISTOPHERS,
1960).
Em mosquitos hematófagos – como é o caso das fêmeas de A. aegypti – o repasto sanguíneo
é requerido para a produção dos ovos. O sangue é necessário para que os ovos se tornem maduros
e possam ser postos, pois o A. aegypti, diferente de outros mosquitos como o Georgecraigius
atropalpus (Coquillett, 1902), é anautógeno. A autogenia é um processo dependente de hormônios
específicos adquiridos no momento da hematofagia (GULIA-NUSS et al., 2015). Diante do exposto,
fica claro que fêmeas bem alimentadas são de extrema importância para uma postura bem-sucedida,
já que a produção de ovo é proporcional a quantidade de sangue ingerido. Por esse motivo, em nosso
trabalho, o momento da alimentação sanguínea e a escolha das fêmeas foram minuciosamente
controlados, determinando o tempo de 20 minutos para a alimentação de todas as gaiolas utilizadas
em todos experimentos, bem como a observação da dilatação e da coloração do abdômen das fêmeas
(cor avermelhado e aumento visível de volume abdominal) para a escolha das mesmas. A
coordenação da alimentação das larvas é de extrema importância, já que se não houver quantidade e
enriquecimento suficientes de reserva alimentar nesse estágio, os adultos serão menores e, mesmo
depois do repasto, colocarão menos ovos (SCOTT et al., 1993a,b; XUE et al., 1995; REYES-
VILLANUEVA, 2004; FARJANA & TUNO, 2013).
115
Nossos resultados corroboram em parte dados antigos da literatura. Para HADDOW & GILLETT
(1957), a preferência das fêmeas do mosquito A. aegypti em sua atividade de oviposição é pela fase
clara, quando no referido trabalho, eram registrados o maior número de ovos. Os autores afirmam que
o pico de oviposição ocorre no início da tarde (entre às 14 e 15 horas). Entretanto, essas análises
foram realizadas em campo. Nossos achados, com condições de luz e temperatura controladas em
laboratório, destacam que a maior média de ovos ocorreu quando as fêmeas estão sendo forçadas a
ovipor na fase escura. Por outro lado, um artigo do mesmo grupo discute que, em laboratório, foram
registrados picos de oviposição no início da fase escura, corroborando os nossos achados (HADDOW
et al., 1961; GILLETT et al., 1961). Ou seja, independente da atividade diurna de locomoção do A.
aegypti (GENTILE et al., 2009), a sua atividade de oviposição, na realidade, parece estar ligada à fase
escura, reforçando o que Corbet e colaboradores (1959) afirmam: “no ritmo de oviposição, o elemento
endógeno é fraco e o exógeno é o elemento forte”. Nossos resultados sugerem que existe, de fato,
um envolvimento endógeno, pelo que foi observado com os resultados do regime LL, pois a exposição
à luz constante diminuiu drasticamente a atividade de oviposição. Podemos hipotetizar que a ausência
de uma fase escura levou à desregulação de alguns genes do relógio endógeno, dentre eles, o gene
cryptochrome 1 (cry1), ortólogo do gene cry de Drosophila e responsável pela percepção da luz
(STANEWSKY et al., 1998). Por outro lado, nos resultados de DD, o número de ovos postos foi muito
semelhante e a oviposição não apresentou diferença entre as fases, sugerindo que o Zeitgeber luz
seja fundamental para a amplitude do ritmo.

116
Segundo GILLETT et al. (1958), não há diferença na quantidade de ovos postos por fêmeas
submetidas à regime de luz constante (LL) ou escuro constante (DD). Nesse trabalho os experimentos
de Gillett e colaboradores foram realizados por 6 dias seguidos onde as fêmeas realizavam a postura
livremente. Ao contrário, nossos resultados, na condição de postura forçada e sincronizada, foi
significativamente maior o número de ovos na condição de escuro constante (DD). No entanto, nossos
resultados são semelhantes quando observamos o regime LD. Tal como GILLETT et al. (1958)
encontramos o maior número de ovos postos neste regime, mesmo com metodologias distintas.
Outra afirmação de interesse, vista entre diversos pesquisadores (GILLETT et al., 1961) diz
que o pico de oviposição em A. aegypti, é aumentado pelo retorno ao escuro depois de uma fase
luminosa, não importando o tempo de exposição à luz. Nossos resultados confirmam esta afirmativa
uma vez que encontramos, no regime LD, uma atividade de oviposição maior na fase escura
subsequente à fase clara do que no inverso.
Nossas observações preliminares ainda não deixam claro qual a real participação da luz como
Zeitgeber para o ritmo de oviposição. Para uma avaliação da existência real de um controle endógeno
regulando a atividade de oviposição, já estão em andamento experimentos moleculares para a análise
da expressão de genes do relógio. Além disso, a viabilidade dos ovos postos nos dará informações
da importância do ciclo não só para a ovogênese como também para a embriogênese.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Robson Costa da Silva pelo suporte técnico, ao Dr. João Gesto, pela leitura
crítica do manuscrito, ao LAFICAVE/IOC pela disponibilização dos ovos e pela alimentação sanguínea
dos mosquitos e às agências de fomento (FAPERJ, CNPq e CAPES).

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de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 120-125.

APLICAÇÃO DA ENTOMOLOGIA FORENSE EM CASOS JUDICIAIS NO PROJETO


O JÚRI E A PERÍCIA

Camila Barbosa Braga Machado1,2


Leonardo Marinho da Silva Gomes1
Júlio Cesar Ferreira Junior1
Alfredo de Carvalho Maio Filho1

RESUMO

O crime tem um grande potencial em motivar as pessoas que, movidas pelo fascínio investigativo e
pela sede de justiça, vão à busca de informações. O projeto “O Júri e a Perícia” foi criado com o
objetivo de utilizar essa energia motivacional para ensinar assuntos específicos das áreas de
entomologia forense, jurídica e temas de elevado valor ético, moral e social. A utilização de laudos
entomológicos forenses em um crime simulado permite mostrar a importância dessa área pericial na
investigação de um crime de modo a promover uma interação interdisciplinar entre alunos de diversos
cursos de graduação. A metodologia foi dividida em três etapas, sendo a primeira um Tribunal do Júri
Simulado, a segunda uma Peça de Teatro, revelando a verdade dos fatos, e a terceira uma Mesa
Científica, com profissionais e professores das áreas do conhecimento abordadas no evento. A
presente ferramenta acadêmica possibilitou, através da utilização do evento como método de ensino
e da mesa científica, uma interação entre diversas áreas do conhecimento à perícia forense, entre um
grupo extremamente heterogêneo de pessoas.

PALAVRAS-CHAVE: Ciência forense; insetos; investigação criminal.

ABSTRACT

FORENSIC ENTOMOLOGY APPLICATION IN LEGAL CASES IN PROJECT O JURI E A PERÍCIA


The crime has a great potential to motivate people, who, moved by the investigative fascination and
seeking for justice, go to search for information. The project "O Júri e a Perícia" was created with the
goal of using this motivational energy to teach specific subjects in the areas of forensic and entomology
for addressing issues of relevant ethical and moral value, showing the importance of experts in this
area for the elucidation of a crime and promoting interdisciplinary interaction among students from
different undergraduate courses. The methodology was divided into three stages, the first a simulated
jury, the second one theatre play, revealing the true facts of the crime, and the third a Scientific table
with professionals and teachers in the areas of knowledge covered in the event. This academic tool
enabled, by using the event as a teaching and scientific table method, integration and interaction
between different areas of knowledge to forensics, from an extremely heterogeneous group of people.

KEYWORDS: criminal investigation; Forensic Science; insects.

___________________
1
Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Autor correspondente: machado.cbb@gmail.com.

120
INTRODUÇÃO

A entomologia forense consiste no estudo de insetos e outros artrópodes associados a diversas


situações criminais, servindo como uma ferramenta de auxilio, na investigação de crimes contra
pessoas vítimas de morte violenta (OLIVEIRA-COSTA, 2003; PUJOL-LUZ et al., 2008). PARADELA
et al. (2007), MIRANDA et al. (2013) ainda reforçam que é uma área de pesquisa que vem nas últimas
duas décadas se destacando e despertando interesse de peritos e pessoas ligadas a instituições
judiciais, devido à associação intrínseca entre a fauna de insetos necrófagos e o cadáver, em
diferentes casos de morte.
Segundo GOMES & VON ZUBEN (2004), os manuais de medicina legal que citam a
entomologia forense referem-se a sua primeira aplicação ocorrida em 1235, na China, baseados em
um manual chinês, escrito por Sung Tz’u, no qual é descrito um caso de homicídio com um instrumento
de ação corto-contundente, cujos investigadores, na busca de vestígios na vizinhança, localizaram
uma foice em torno da qual sobrevoaram moscas, possivelmente atraídas pelos odores exalados pelos
restos de substâncias orgânicas ali aderidas e imperceptíveis a olho nu. Em vista disso, o proprietário
da foice foi interrogado pela polícia, levando-o a confessar a autoria do crime.
A notícia sobre o crime sempre fascinou a humanidade desde os primórdios (QUINAMO &
ZENKNER, 2004). E a avidez por informações despertada nas pessoas pelo crime tem sido muito
explorada pelos meios de comunicação e entretenimento, muitas vezes de forma irresponsável.
Contudo, essa mesma avidez por informações também pode ser explorada de forma benéfica e
sistematizada para a transmissão de conhecimentos jurídicos e técnico-científicos periciais, de valores
éticos e morais, dentre outros que visem o enriquecimento educacional das pessoas (MAIO FILHO,
2014).
Um exemplo que pode ser explorado são os programas que abordam a perícia criminal como
elemento de integração. Em meados da década de 1990, canais de televisão a cabo começaram a
exibir programas de cunho pericial. Séries de documentários como “Medical Detectives” e “Arquivos
do FBI” foram exibidas e despertaram grande interesse dos telespectadores. Tamanho interesse não
passou despercebido pelas emissoras que passaram a editar seriados envolvendo a temática que se
proliferara rapidamente como “CSI: Crime Scene Investigation”; “Cold Case”; “CSI: NewYork”; “CSI:
Miami”; “Crossing Jordan”, entre muitos outros (RODRIGUES & ANTEDOMENICO, 2010).
ZEMBAL-SAUL et al. (2002), SILVEIRA & OSTERMANN (2002) e LIMA (2004) usam o crime
fictício como uma forma de trabalho de caráter contextualizado e interdisciplinar, que leva o
participante a aprender sobre conceitos científicos, a discutir, questionar, testar suas hipóteses e
ideias, despertando o interesse e a curiosidade, sendo uma forma de levar o aluno a participar de seu
processo de aprendizagem, deixando de lado a postura passiva do modelo tradicional de ensino.
121
Assim, a interdisciplinaridade contribui como uma proposta de um saber sistêmico e mais
contextualizado (FIEDLER-FERRARA & MATTOS, 2002).
Este estudo tem como objetivo o ensino na área de entomologia forense, mostrando a
importância de um laudo pericial nesta área para elucidação de um crime, promovendo uma interação
interdisciplinar entre alunos de diversos cursos de graduação.

MATERIAL E MÉTODOS

A proposta do projeto é desenvolver o ensino das ciências periciais e jurídicas através da arte.
A metodologia foi dividida em três etapas, sendo a primeira um Tribunal do Júri Simulado, a segunda
uma Peça de Teatro, revelando a verdade dos fatos, e a terceira uma Mesa Científica, com
profissionais e professores das áreas abordadas no evento. Os laudos técnicos periciais,
apresentados na primeira etapa, foram confeccionados por profissionais da área, baseados nos
vestígios encontrados na cena do crime simulada, dentro das normas processuais e dos rigores
científicos exigidos nos laudos oficiais apresentados pela perícia técnica. Assim como o processo
fictício, parte da peça de teatro foi criada baseando-se na cena do crime, de modo que a trama
justificasse todos os elementos vestigiais (materiais) coligidos.
O referido trabalho foi realizado durante a primeira e segunda etapa do projeto, onde foi
apresentado o laudo pericial de entomologia e genética. Logo após, os fatos apresentados pelos
peritos foram concretizados no decorrer da peça teatral. Foi criado um processo criminal fictício de um
crime doloso contra a vida, contendo a apresentação da denúncia pelo Ministério Público, o Inquérito
Policial com todas as provas (periciais e oculares) e a pronúncia do juiz. Os vestígios coletados para
análise pericial foram: um mosquito que estava morto aderido à parede da sala do imóvel e a perna
de um inseto que foi encontrada na mão direita da personagem “Bela”, os dois vestígios apresentando
uma substância parda avermelhada ao seu redor com aparência de sangue. Ambos foram coletados
por um perito criminal responsável pelo exame de “Local de Morte Violenta”, mas a perna do inseto
foi coletada no Instituto Médico-Legal (IML).
Foram enviados para o laboratório de Entomologia Forense, para que pudessem identificar
taxonomicamente com auxílio de chaves de identificação, no qual foi concluído que era a espécie
Aedes aegypti (Linnaeus, 1762) (Diptera: Culicidae), vulgarmente chamado de mosquito da dengue.
A substância parda avermelhada foi removida do corpo do inseto e enviada para o Setor de Bioquímica
a fim de atestar quanto a sua natureza, buscando saber se a substância era sangue e se era humano.
O inseto foi dissecado e o conteúdo intestinal foi transferido para um cartão FTA® (Flinders
Technology Associates), um papel à base de celulose absorvente contendo produtos químicos para
proteger as moléculas de DNA da degradação e preservar quanto ao crescimento bacteriano, e
122
também foi enviado ao Setor de Bioquímica a fim de confirmar se tratava de sangue, no qual o setor
de Entomologia Forense solicitou que se confirmado, fosse encaminhado para o Instituto de Pesquisa
Perícias Genética Forense (IPPGF).
Foi solicitado um confronto genético para o material biológico (sangue) enviado, no qual
também foi coletado o sangue dos suspeitos e outros, para a confecção do laudo, atribuindo tudo que
lhe foi solicitado. As amostras biológicas (swab oral) do personagem suspeito “Demósteles” e de seu
filho “Arthur” foram coletadas no IPPGF (Instituto de Pesquisas e Perícias em Genética Forense), as
coletas foram efetuadas mediante o preenchimento e assinatura de Ficha Cadastral, as doações foram
voluntárias conforme Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Também foi analisado o confronto
com a mostra de músculo esquelético colhido no cadáver de “Bela” (colhido no exame de necropsia
realizado no IML - enviado para este instituto), o swab oral de “Clarissa” também foi colhido no IML
em exame de corpo de delito de lesão corporal e foi enviado para este instituto.
As amostras do corpo do mosquito, do cartão FTA® e o da mão da “Bela” foram submetidos ao
método de extração orgânico de DNA e as amostras do “Demósteles”, “Arthur” e “Clarissa” foram
submetidas ao método de extração em resina Chelex 100®.
Para a amplificação do DNA e análise do perfil genético, as amostras de DNA foram submetidas
à amplificação pelo método PCR com emprego dos sistemas de identificação humana - PowerPlex®
16 HS System, da empresa Promega Corporation, para análise de STR autossômico mais o marcador
de gênero amelogenina, e da Amp/STR®Yjíler™ System (para STR do cromossomo Y), da empresa
AppliedBiosystems. Os produtos amplificados foram analisados no ABI PRISMTM3100 Avant
GeneticAnalyser, com auxílio dos softwares ABI Prism3100 DataCollection e ABI PRISM 3100
GeneMapper, da empresa AppliedBiosystems.
Após as confecções dos laudos por peritos criminais referentes a cada área abordada, os
alunos de Biomedicina, Biologia e Medicina que atuaram como peritos fizeram uma apresentação em
Power Point do Pacote Office 2010 do laudo de sua responsabilidade, para então apresentar no
Tribunal do Júri Simulado, que continha: defensor, promotor, juiz, oficial de justiça, escrivão, e
testemunhas oculares, também respondendo aos questionamentos não combinados previamente do
promotor e do defensor.
Para que então o Tribunal do Júri Simulado termine com o réu absolvido ou não, sendo tal
decisão tomada por uma votação do júri popular no qual é escolhido de forma aleatória com voluntários
da plateia, com auxílio de cinco perguntas que são os quesitos atribuídos para a tal decisão. Chegando
a segunda etapa, a Peça Teatral, que irá desvendar a verdade dos fatos, onde quem participou do júri
popular terá a oportunidade de saber se julgou o réu erroneamente ou não, sendo-lhe atribuída a visão
da dificuldade do julgamento e a importância da análise minuciosa das provas objetivas e subjetivas.
A Mesa Científica como a terceira parte do evento, mas ocorrendo apenas no evento de 2013, para
123
que assim a plateia possa tirar as dúvidas com os profissionais das áreas abordadas nas outras duas
etapas do projeto.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A prova pericial anexa ao auto do processo foi a seguinte: o laudo de entomologia apresentou
a perna do inseto encontrada na mão da personagem “Bela”, que era do mesmo inseto que estava
morto na parede, o inseto encontrado correspondia a um exemplar de Aedes aegypti (Linnaeus, 1762)
(mosquito da dengue), o material avermelhado encontrado na superfície do mosquito e dentro de seu
sistema digestório foi enviado para o setor de hematologia que ao ser analisado confirmou que ambos
eram de sangue humano, no qual as amostras eram uma mistura do material genético dos outros dois
personagens “Clarissa” e “Arthur”, confirmando que ambos estiveram no local, tornando-os
personagens importantes para a resolução do crime, que foi efetivada logo após a apresentação dos
laudos periciais.
A mesa científica só foi adotada pelo projeto no ano de 2013 (Raízes) nesse evento participaram
da mesa científica Vossa Excelência o Senhor Murilo Kieling, Juiz do Terceiro Tribunal do Júri do
Fórum do Estado do Rio de Janeiro, Gustavo Milson Fabrício Silva, doutor do Laboratório de
Histocompatibilidade e Criopreservação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Luiz Carlos Leal
Prestes Júnior, mestre e perito legista do Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto, Carolina Conceição
Bottino Grusz Kowski, mestre e perita do Instituto de Perícias e Pesquisas de Genética Forense da
Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, Fábio Guimarães, perito criminal do Instituto Carlos Éboli da
Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, Janyra Oliveira Costa, doutora e perita do setor de
Entomologia Forense do Instituto de Criminalista Carlos Éboli da Polícia Civil do Estado do Rio de
Janeiro, e Diego Rosa, entomologista forense.
Entre as diversas áreas de pesquisa forense, a entomologia vem nas últimas duas décadas
despertando o interesse de peritos e pessoas ligadas a instituições judiciais devido ao fato de existir
uma relação íntima entre esse estudo e as técnicas de investigação em diferentes casos de morte
(PARADELA et al., 2007). O evento contou com a presença de dois entomologistas forenses na mesa
científica. Uma das principais áreas que pode integrar as investigações criminais é a entomologia
forense, considerada a ciência aplicada ao estudo dos insetos e outros artrópodes (taxonomia, biologia
e ecologia) em processos legais, auxiliando os trabalhos de peritos e legistas (PARADELA et al., 2007;
CANEPARO et al., 2012; CRUZ et al., 2014).
No evento, a voz foi dada a plateia que perguntou aos membros da mesa sobre os diversos
assuntos abordados no julgamento e na peça de teatro como lei de adoção no Brasil, transplante de
medula óssea, DNA, Medicina Legal, Entomologia entre outros.
124
CONCLUSÕES

O projeto demonstrou grande potencial como método de ensino-aprendizagem e possibilitou a


abordagem, o ensino, a provocação de questionamentos e a discussão científica nas áreas
específicas, jurídica e de entomologia forense.
O julgamento permitiu aos alunos e ao público a vivência e a percepção da responsabilidade
dos profissionais do direito, dos jurados e do perito criminal na execução de suas funções. A utilização
do drama como método de ensino mostrou-se eficiente para uma abordagem interdisciplinar.
Os resultados do questionário indicaram que a metodologia proposta contribui para melhorar o
processo ensino-aprendizagem na área de entomologia forense.

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125
CESAR, C.S.S. et al. 2016. Estudos morfológicos para caracterizar indivíduos totipotentes em colônias de Cryptotermes
brevis (Dictyoptera: Isoptera: Kalotermitidae). In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N.
(eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
(UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 126-137.

ESTUDOS MORFOLÓGICOS PARA CARACTERIZAR INDIVÍDUOS


TOTIPOTENTES EM COLÔNIAS DE Cryptotermes brevis (WALKER, 1953)
(DICTYOPTERA: ISOPTERA: KALOTERMITIDAE)
Cássia de Souza Siqueira Cesar1,2
Katherine Tsantarlis1
Fabiana Elaine Casarin dos Santos1

RESUMO

Colônias de Cryptotermes brevis se diferem da maioria por não apresentarem operários verdadeiros e sim
pseudergates, indivíduos totipotentes que desempenham o papel de operário. A fim de auxiliar na identificação
dos pseudergates, foi feita biometria e caracterização morfológica externa de indivíduos imaturos (larvas e
ninfas), obtidos de colônias provenientes de móveis infestados. Os resultados da análise canônica para
biometria mostraram a existência de três estádios larvais e quatro estádios. Os indivíduos do terceiro estádio
larval e do primeiro estádio ninfal foram selecionados para serem caracterizados. Indivíduos classificados como
larvas apresentaram corpo branco; 10 a 12 artículos antenais; pequeno grau de desenvolvimento dos olhos;
sem broto alar. Ninfas apresentaram abdômen mais escuro e corpo esclerosado; 10 a 12 artículos antenais;
olhos desenvolvidos; presença de broto alar. Por fim, pseudergates apresentaram o abdômen mais escuro e
corpo esclerosado; 10 até 12 artículos antenais; grau de desenvolvimento pequeno ou alto; sem broto alar.
Concluiu-se que o nível de pigmentação e esclerose do corpo e ausência de broto alar são bons caracteres
para identificar pseudergates em colônias de C. brevis.

Palavras chave: cupins de madeira seca; insetos praga; polietismo; pseudergates.

ABSTRACT

MORPHOLOGICAL STUDIES TO IDENTIFY TOTIPOTENT INDIVIDUALS IN Cryptotermes brevis


(WALKER, 1953) COLONIES (DICTYOPTERA: ISOPTERA: KALOTERMITIDAE)
Cryptotermes brevis differs from most of termites colonies for not presenting a true worker caste but
pseudergates instead, totipotent individuals who fulfill the worker role. In order to help the identification of
pseudergates, we studied biometrics and external morphological characters of immature individuals (larvae and
nymphs), collected from infested furnitures. The results of canonical analysis presented three larval stages and
four nymphal stages. Individuals from the third larval stage and the first nymphal stage were selected for external
morphological characterization. Individuals classified as larvae presented white body, 10 to 12 antennal
segments; little developed eyes; lack of wing bud. Nymphs presented pigmented abdomen and sclerotized body;
10 to 12 antennal segments; well developed eyes; presence of wing buds. Pseudergates presented pigmented
abdomen and sclerotized body; 10 to 12 antennal segments; well developed or little developed eyes; lack of
wing bud. The conclusion was that the level of body pigmentation and sclerotization and the lack of wing bud
are good characters to identify pseudergates in C. brevis colonies.

Keywords: drywood termites; pest insects; polyethism; pseudergates.

___________________
1
Laboratório de Ecologia e Sistemática, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) – campus Diadema, SP, Brasil.
2
Autor correspondente: cassiasqr@gmail.com.

126
INTRODUÇÃO

Os cupins pertencem à Infraordem Isoptera que juntamente com Blattaria e Mantodea compõem
a superordem Dictyoptera (LEGENDRE et al., 2008; KRISHNA et al., 2013). Existem nove famílias de
cupins distribuídas por todo o mundo, sendo elas Archotermopsidae, Hodotermitidae, Kalotermitidae,
Mastotermitidae, Rhinotermitidae, Serritermitidae, Stolotermitidae, Stylotermitidae, Termitidae,
totalizando quase 3000 espécies (CONSTANTINO, 2015).
Na família Kalotermitidae, o gênero Cryptotermes, que engloba os cupins de madeira seca, é um
dos mais conhecidos. A espécie Cryptotermes brevis (Walker, 1953), é a mais comum, sendo
cosmopolita, ou seja, está distribuída por todo o mundo, principalmente nas regiões entre os trópicos
(SCHEFFRAHN & SU, 2008). C. brevis caracteriza-se por ser uma espécie praga em áreas urbanas,
sendo encontrada em residências e construções humanas, de forma que infestam grande variedade
de produtos de madeira e celulose, causando grandes prejuízos econômicos (POTENZA &
ZORZENON, 2006). Esses cupins constituem colônias formadas por poucas centenas de indivíduos
que vivem exclusivamente nas galerias formadas dentro da própria madeira infestada, da qual se
alimentam, não havendo nenhum contato com o solo (MCMAHAN, 1962).
O fenômeno de alocação de tarefas e divisão de trabalho em colônias de insetos sociais é
denominado polietismo. As diferenças morfológicas entre as castas resultam em diferentes
comportamentos, de forma que cada casta realiza uma tarefa específica dentro da colônia
(MCMAHAN, 1979). Desta forma, uma colônia de cupins funciona como um superorganismo, onde a
casta dos reprodutores (rei, rainha e alados) é responsável pela reprodução e dispersão; a dos
operários pela construção, forrageamento, nutrição e cuidados com a prole e a dos soldados pela
defesa ativa (COSTA-LEONARDO, 2002; EGGLETON, 2011).
Ainda dentro da colônia, temos os indivíduos imaturos. Os imaturos mais jovens e sem broto alar,
que equivalem aos primeiros estádios de cupins, são denominados larvas. Já os imaturos que
apresentam broto alar e originarão os reprodutores alados, são denominados ninfas (COSTA-
LEONARDO, 2002).
As colônias de C. brevis, assim como as de outras espécies de cupins de madeira seca, se
diferem das demais por apresentarem indivíduos totipotentes denominados pseudergates, que podem
originar todas as outras castas da colônia e desempenham o papel dos operários. Desta forma, suas
colônias são compostas pelos reprodutores (rei, rainha e alados), soldados e pseudergates (COSTA-
LEONARDO, 2002; SCHEFFRAHN & SU, 2008).
O desenvolvimento flexível dos pseudergates acontece devido à combinação de mudas
progressivas, estacionárias e regressivas (KORB et al., 2012). As mudas progressivas resultam no
aumento do corpo e/ou dos brotos alares; mudas estacionárias não apresentam nenhuma mudança
127
morfológica, de forma que o indivíduo dá origem a uma térmita igual a ele; e mudas regressivas
resultam na regressão do desenvolvimento das ninfas, que iriam originar os reprodutores alados,
tornando-se falsos operários novamente (COSTA-LEONARDO et al., 2007). Sendo assim, esses
indivíduos são capazes de se diferenciarem em soldados por meio de um estágio transitório, chamado
pré-soldado; em alados através de alguns estádios (estágios) ninfais ou em reprodutores de
substituição, também denominados neotênicos (MYLES, 1999; CORNETTE et al., 2008). Esse último
aparece quando o casal real primário morre ou é retirado da colônia (NOIROT, 1990; COSTA-
LEONARDO, 2002).
Segundo KORB & HARTFELDER (2008), os falsos operários de Kalotermitidae são difíceis de
serem identificados devido à falta de diferenças morfológicas para caracterizá-los, já que se encontram
entre o último estádio larval e o primeiro estádio ninfal. Apesar de existirem estudos sobre
diferenciação de castas em diversas espécies de cupins que possuem pseudergates (CORNETTE et
al., 2008; KOSHIKAWA et al., 2001), não há descrição sobre observações diretas da morfologia
externa e interna que ocorrem nesses indivíduos.
Assim, este trabalho teve como objetivo comparar variações biométricas entre pseudergates,
ninfas e larvas, a fim de auxiliar na identificação desses indivíduos totipotentes nas colônias de C.
brevis. A hipótese é que pseudergates apresentem uma caracterização morfológica externa
diferenciada das larvas devido a esclerose e pigmentação do corpo e, das ninfas, devido a
diferenciação de olhos e crescimento do broto alar.

MATERIAL E MÉTODOS

Os espécimes de Cryptotermes brevis foram obtidos de colônias provenientes de móveis


infestados coletados em março e maio de 2015 nas cidades de Diadema – SP e Jundiaí –SP,
respectivamente. Os móveis foram abertos com ajuda de martelo e formão para a coleta dos cupins.
Após a triagem os indivíduos foram fixados em solução FAA (formalina 37%: ácido acético: etanol =
1: 1: 3) durante 24 h, sendo depois transferidos para álcool 70% a fim de serem preservados.

Biometria
Após observar sob estereomicroscópio, a presença ou ausência de broto alar, foram separadas
132 larvas e 128 ninfas para biometria.
Para discriminação morfológica dos estádios de larvas e ninfas, realizou-se a medida de
diferentes partes do corpo de cada indivíduo de acordo com metodologia utilizada por MOURA et al.
(2011) e ALBINO & COSTA-LEONARDO (2011), baseadas em estudos de ROONWALL (1970) e
BARSOTTI & COSTA-LEONARDO (2005). Treze medidas foram utilizadas: comprimento da cabeça
128
(CC), largura máxima da cabeça (LC1), largura da cabeça à base das mandíbulas (LC2), altura da
cabeça (AC), largura do labro (LL), comprimento do pronoto (CP), largura do pronoto (LP), largura do
mesonoto (LMs), largura do metanoto (LMt), comprimento da tíbia (CT), comprimento do fêmur (CF),
largura do fêmur (LF),comprimento do primeiro broto alar (CBA) (Figura 1).

Figura 1. Medidas empregadas nas castas de Cryptotermes brevis (Walker, 1953). (a) Vista dorsal da cabeça do operário
mostrando: (AA’) comprimento da cabeça; (BB’) largura máxima da cabeça; (CC’) largura da cabeça à base das
mandíbulas e (DD’) largura do labro. (b) Vista lateral cabeça do operário mostrando: (EE’) altura da cabeça. (c) Vista dorsal
do pronoto mostrando: (FF’) comprimento do pronoto e (GG’) largura do pronoto. (d-e) Partes da perna mostrando: (d)
(HH’) comprimento da tíbia; (e) (II’) comprimento do fêmur e (JJ’) largura do fêmur; (f) (KK’) comprimento do broto alar
(Ilustrações: ALBINO, E.; VIEIRA, K.S.; MOURA, F.M.S.).

Análise estatística
Para avaliar as mudanças dos parâmetros morfológicos entre os indivíduos, foi realizada uma
análise discriminante canônica e os resultados dos scores foram dispostos em gráficos de dispersão.
Posteriormente, foi aplicado o teste de variância ANOVA e teste de Tukey a posteriori, todos realizados
no programa Statistica 12 (Statsoft, INC. 2001).

129
Caracterização dos imaturos
Após ter sido determinado o número de estádios existentes em cada casta de C. brevis, por meio
da análise discriminante canônica, foi possível analisar a morfologia externa desses estádios a fim de
descobrir, dentre eles, quem eram os pseudergates. Caracteres como nível de pigmentação e
esclerose do corpo, número de artículos nas antenas, presença de olhos e desenvolvimento de brotos
alares foram importantes nessa caracterização.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Biometria
De todo material coletado, foram mensurados 260 indivíduos, sendo 132 larvas e 128 ninfas,
apresentados na Tabela 1, a fim de reconhecer os estádios imaturos larvais e ninfais de C. brevis.

Tabela 1. Média e desvio padrão das 13 medidas para os sete estádios encontrados nas colônias de Cryptotermes brevis
(Walker, 1953) analisadas. Todos os valores estão em milímetros.

Estádios
L1 L2 L3 N1 N2 N3 N4
Medidas
(n=21) (n=38) (n=73) (n=47) (n=25) (n=30) (n=25)
Comprimento da 0,870 ± 1,114 ± 1,216 ± 1,281 ± 1,309 ± 1,318 ± 1,326 ±
cabeça (CC) 0,06 0,06 0,08 0,05 0,06 0,05 0,04
Largura máxima 0,737 ± 0,968 ± 1,087 ± 1,281 ± 1,299 ± 1,338 ± 1,358 ±
da cabeça (LC1) 0,05 0,04 0,07 0,05 0,05 0,03 0,04
Largura da
cabeça à base 0,384 ± 0,554 ± 0,645 ± 0,638 ± 0,656 ± 0,669 ± 0,680 ±
das mandíbulas 0,02 0,05 0,03 0,05 0,05 0,04 0,04
(LC2)
Altura da cabeça 0,505 ± 0,602 ± 0,659 ± 0,689 ± 0,720 ± 0,722 ± 0,736 ±
(AC) 0,04 0,03 0,04 0,03 0,04 0,04 0,05
Largura do labro 0,187 ± 0,310 ± 0,342 ± 0,349 ± 0,352 ± 0,369 ± 0,373 ±
(LL) 0,02 0,03 0,03 0,03 0,03 0,04 0,04
Comprimento do 0,187 ± 0,628 ± 0,377 ± 0,483 ± 0,496 ± 0,506 ± 0,549 ±
pronoto (CP) 0,02 0,03 0,05 0,07 0,05 0,05 0,05
Largura do 0,447 ± 0,600 ± 0,866 ± 1,064 ± 1,064 ± 1,105 ± 1,165 ±
pronoto (LP) 0,03 0,04 0,01 0,08 0,08 0,09 0,07
Largura do 0,552 ± 0,716 ± 0,93 ± 1,176 ± 1,213 ± 1,282 ± 1,326 ±
mesonoto (LMs) 0,05 0,03 0,11 0,11 0,08 0,06 0,05
Largura do 0,546 ± 0,872 ± 1,026 ± 1,220 ± 1,251 ± 1,336 ± 1,366 ±
metanoto (LMt) 0,04 0,05 0,09 0,12 0,08 0,07 0,09
Comprimento da 0,454 ± 0,633 ± 0,647 ± 0,648 ± 0,669 ± 0,693 ± 0,747 ±
tíbia (CT) 0,06 0,05 0,09 0,07 0,04 0,05 0,05
Comprimento do 0,358 ± 0,496 ± 0,578 ± 0,590 ± 0,592 ± 0,609 ± 0,640 ±
fêmur (CF) 0,05 0,03 0,07 0.07 0,06 0,04 0,05
Largura do 0,148 ± 0,195 ± 0,197 ± 0,205 ±
0,133 ± 0 0,133 ± 0 0,200 ± 0
fêmur (LF) 0,02 0,02 0,01 0,02
Comprimento do 0,529 ± 0,747 ± 1,004 ± 1,920 ±
- - -
broto alar (CBA) 0,07 0,10 0,13 0,15

130
Os dados resultantes da análise biométrica (Tabela 1) foram analisados estatisticamente. A
primeira função discriminante canônica (Função 1), relacionada à largura do pronoto (LP), representou
90,02% da variância total (Autovalor = 12,07). Já a segunda função discriminante canônica (Função
2), relacionada à largura da cabeça à base das mandíbulas (LC2), representou 9,90% da variância
total (Autovalor = 1,30).
A partir da projeção das funções 1 e 2 da análise discriminante canônica (Figura 2), foi possível
separar as 132 larvas medidas em três estádios diferentes: larva 1 (L1), larva 2 (L2), larva 3 (L3)
(Figura 3). A ANOVA realizada mostrou que houve diferença morfométrica entre os estádios (F
(171,43) = 287,06; p < 0,0001), e o teste de Tukey (p < 0,0001), mostrou que os três estádios diferiram
significativamente entre si.

Figura 2. Análise discriminante canônica. Projeção das funções para avaliar mudanças dos parâmetros morfológicos entre
as larvas, totalizando três estádios: larva 1 (L1), larva 2 (L2) e larva 3 (L3).

A primeira função discriminante canônica (Função 1), relacionada ao comprimento do broto alar
(CBA), representou 98,5% da variância total (Autovalor = 21,81). A segunda função discriminante
canônica (Função 2), relacionada ao comprimento da cabeça (CC), representou 1,2% da variância
total (Autovalor = 0,27). A partir da projeção das funções 1 e 2 da análise discriminante canônica
(Figura 4), foi possível separar as 128 ninfas medidas em quatro estádios diferentes: ninfa 1 (N1),
ninfa 2 (N2), ninfa 3 (N3) e ninfa 4 (N4) (Figura 5). A ANOVA realizada mostrou que houve diferença
morfométrica entre os estádios (F (29,48) = 101,74; p < 0,0001), e o teste de Tukey (p < 0,0001),
mostrou que os quatro estádios diferiram significativamente entre si.

131
Figura 3. Linhagem jovem de Cryptotermes brevis (Walker, 1953). Estádios larvais. a. Larva 1 (L1); b. Larva 2 (L2); c.
Larva 3 (L3); d. Larva 3 (L3) - pseudergate (ou falso operário).

Figura 4. Análise discriminante canônica. Projeção das funções para avaliar mudanças dos parâmetros morfológicos entre
as ninfas, totalizando quatro estádios: ninfa 1 (N1), ninfa 2 (N2), ninfa 3 (N3) e ninfa 4 (N4).

Figura 5. Linhagem ninfal de Cryptotermes brevis (Walker, 1953). Estádios ninfais: a. Ninfa 1 (N1); b. Ninfa 2 (N2); c. Ninfa
3 (N3); d. Ninfa 4 (N4).
132
Os resultados obtidos com a biometria mostraram a existência de três estádios larvais (Figura
3), o que está de acordo com o que ocorre em outras espécies do gênero, como em Cryptotermes
secundus (Hill, 1925) (KORB et al., 2009). Com relação aos estádios ninfais, no presente estudo foram
encontrados quatro estádios (Figura 5), o que difere da espécie C. secundus, que apresenta cinco
estádios ninfais (KORB et al., 2009). Contudo, PEDRO (2012), encontrou para a mesma espécie,
quatro estádios ninfais, o que corrobora com os dados apresentados neste trabalho. O padrão de
diferenciação de castas em cupins varia entre as famílias, gêneros e espécies devido ao seu
desenvolvimento hemimetábolo, já que o número de eventos de mudas que ocorre não é constante
(NOIROT & PASTEELS, 1987).

Caracterização dos imaturos


A partir dos estudos morfométricos realizados com os indivíduos de C. brevis de diferentes
colônias foi possível diferenciar os estádios dos imaturos (Figuras 3 e 5), sendo necessário selecionar
indivíduos do 3º estádio larval e do 1º estádio ninfal para caracterização morfológica e identificação
dos pseudergates (Tabela 2).

Tabela 2. Características observadas no 3º estádio larval, pseudergates e 1º estádio ninfal.

Pigmentação/ Grau de
Indivíduos esclerose do Broto alar desenvolvimento Número de
corpo dos olhos artículos antenais
Larvas do 3º Nenhum ou
estádio Não Não pequeno 10até 12
Pseudergates Sim Não Pequeno ou alto 10 até 12
Ninfas do 1º
estádio Sim Sim Alto 10 até 12

Os indivíduos caracterizados como larvas do 3º estádio (L3), apresentaram o corpo inteiro branco
(Tabela 2; Figura 6). Já os classificados como pseudergates foram os indivíduos que apresentaram
região abdominal pigmentada e corpo esclerosado (Tabela 2; Figura 6). A pigmentação do corpo indica
que esses indivíduos se alimentam ativamente, exercendo o papel de papel de operário, que passa o
alimento para os demais através de trofalaxia (PEARCE, 1997). Tais características observadas nas
larvas do 3º estádio e nos pseudergates condizem com a classificação de larvas dependentes e
independentes proposta por KORB & HARTFELDER (2008). Nesta classificação, as larvas
dependentes correspondem aos indivíduos dos primeiros estádios larvais, que dependem do cuidado
com a prole oferecido pelos pseudergates e, as larvas independentes, são os indivíduos dos últimos
estádios larvais, que se alimentam ativamente e cuidam de si mesmos, ou seja, as larvas
independentes correspondem aos pseudergates.
Ninfas do 1º estádio também apresentaram abdômen mais escuro e corpo esclerosado (Tabela
133
2; Figura 6), contudo, a presença de broto alar é um caractere importante para diferenciá-la dos
pseudergates. Na família Kalotermitidae, há evidências de que pseudergates não são os únicos
indivíduos que são independentes e trabalham, mas as ninfas também. Em outras famílias, como
Rhinotermitidae, operários e ninfas têm funções semelhantes na colônia e conseguem alimentar-se
sozinhos (NOIROT & PASTEELS, 1987). Também há estudos que comprovam a participação das
ninfas em forrageamento (ALBINO & COSTA-LEONARDO, 2011), mostrando a independência desses
indivíduos. Tais observações explicam a pigmentação mais escura do corpo das ninfas, uma vez que
são capazes de alimentar-se sozinhas.

Figura 6. Pigmentação e esclerose do corpo. (a) Larva 3 (L3) com ausência de pigmentação e escletorização do corpo; (b)
Pseudergate com corpo esclerosado e pigmentado; (c) Ninfa 1 (N1) com corpo pigmentado e esclerosado.

Com relação ao broto alar, apenas as ninfas do 1º estádio apresentaram este, já que os
pseudergates estão inclusos no último estádio larval, onde os indivíduos ainda são imaturos sem broto
alar (Tabela 2; Figura 7).
Quanto ao grau de desenvolvimento dos olhos, os indivíduos classificados como larvas do 3º
estádio não apresentaram olhos ou apresentaram olhos pouco desenvolvidos (Tabela 2; Figuras 8a e
8b). Esse resultado corrobora com estudos realizados em Neotermes connexus (Snyder, 1922), cupim
pertencente à família Kalotermitidae, assim como C. brevis, onde foi observado que o desenvolvimento
dos olhos começa no último estádio larval (MYLES & CHANG, 1984). A grande maioria dos
pseudergates não apresentaram olhos ou olhos pouco desenvolvidos, como as larvas do 3º estádio
(Figura 8c), mas alguns apresentaram olhos bastante desenvolvidos e pigmentados (Figura 8d). Estes
pseudergates com olhos bem desenvolvidos podem ser provenientes de mudas regressivas por
apresentarem o grau de desenvolvimento igual ao das ninfas do 1º estádio (Figura 8e). Porém, estudos
realizados em Hodotermopsis japônica (Isoptera: Termopsidae) mostraram que pseudergates

134
“normais”, pseudergates provenientes de mudas de regressão e ninfas apresentaram grau de
desenvolvimento dos olhos semelhantes (KOSHIKAWA et al., 2001). Para compreender melhor as
diferenças morfológicas, tal como o grau de desenvolvimento dos olhos, existentes entre pseudergates
“normais” e pseudergates provenientes de mudas de regressão em C. brevis e na família
Kalotermitidae, é necessário que futuros estudos sejam realizados.

Figura 7. Broto alar. (a) Larva 3 (L3) com broto alar ausente; (b) Pseudergate com broto alar ausente; (c) Ninfa 1 (N1)
com início da formação do broto alar indicado pelas setas.

Figura 8. Grau de desenvolvimento dos olhos. (a) L3 com nenhum vestígio de olhos; (b) L3 com pequeno grau de
desenvolvimento dos olhos; (c) pseudergate com pequeno grau de desenvolvimento dos olhos; (d) pseudergate com olhos
desenvolvidos; (e) N1 com olhos desenvolvidos.
135
Por fim, em relação ao número de artículos antenais, não houve diferença entre larvas do 3º
estádio, pseudergates e ninfas do 1º estádio, de forma que todos apresentaram uma variação de 10
até 12 artículos (Figura 9). Este padrão difere de estudos realizados em Neotermes connexus
(Isoptera: Kalotermitidae), onde foi observado que larvas possuíam menor número de artículos
antenais (15 ou menos) e pseudergates e ninfas apresentavam o mesmo número (16 ou mais)
(MYLES & CHANG, 1984).

Figura 9. Artículos antenais. (a) Larva 3 (L3); (b) Pseudergate (Ps); (c) Ninfa 1 (N1).

CONCLUSÃO

Caracteres como o nível de pigmentação e esclerose do corpo são importantes para diferenciar
pseudergates de larvas. Já a ausência do broto alar auxiliou na diferenciação dos pseudergates com
relação às ninfas. Esses caracteres foram considerados bons instrumentos para diferenciar os
pseudergates dos demais indivíduos das colônias de C. brevis. É necessário que futuros estudos em
relação às mudas regressivas em cupins Kalotermitidae sejam realizados para a melhor compreensão
sobre as diferenças morfológicas existentes entre os pseudergates "normais” e os pseudergates
provenientes das mudas de regressão nessa família.

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137
STALLONE, L.P. et al. 2016. Composição de Elmidae (Insecta: Coleoptera) em um riacho do Parque Nacional da Tijuca, Rio
de Janeiro, RJ, Brasil. In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III
Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro,
p. 138-143.

COMPOSIÇÃO DE ELMIDAE (INSECTA: COLEOPTERA) EM UM RIACHO DO


PARQUE NACIONAL DA TIJUCA, RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL

Laura Pires Stallone1,3


Maria Inês da Silva dos Passos1
Elidiomar Ribeiro Da-Silva2

RESUMO

Os Elmidae Curtis, 1830 (Insecta: Coleoptera) há a alguns anos vêm sendo estudados como
indicadores de qualidade de água, e recentemente o estudo da sua taxonomia vem crescendo. Esses
besouros vivem em ambientes lóticos, apresentando tamanho pequeno, ciclo de vida e estágios
variáveis. Um único trabalho de levantamento desse grupo foi realizado na Floresta Tijuca, onde foram
registrados seis gêneros de Elminae. O presente trabalho teve como finalidade encontrar e registrar
possíveis novos táxons, estudando a distribuição-espaço temporal dos elmídeos.

Palavras-chave: besouros aquáticos; Mata Atlântica; taxonomia.

ABSTRACT

ELMIDAE (INSECTA: COLEOPTERA) COMPOSITION IN A RIVER OF TIJUCA NATIONAL PARK,


RIO DE JANEIRO, RJ, BRAZIL
Elmidae Curtis, 1830 (Insecta: Coleoptera) has been studied as water quality indicators for a few years
now, and it is taxonomical studies greatly increased in recent years. Riffle beetles live in lotic
environments, being small in size and having variable life cycles and instars. A single inventory study
for this group has been done for Tijuca Florest, where six Elminae genera were registered. This study
aimed to collect and register possible new taxa, studying the space-time distribution of Elmidae.

Keyword: Atlantic florest; aquatic beetles; taxonomy.

___________________
1
Laboratório de Insetos Aquáticos, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3
Autor correspondente: cabeda.laura@gmail.com.
138
INTRODUÇÃO

Coleoptera é a ordem de Hexapoda que possui a maior pluralidade de indivíduos. Os besouros


são cosmopolitas, não sendo encontrados na Antártica. Insetos holometábolos, sendo seu ciclo de
vida inclui os estágios de: ovo, larva, pupa e adulto. Também dentre os artrópodes aquáticos,
Coleoptera é considerado um dos maiores grupos, com mais de 5.000 espécies (JÄCH & BALKE,
2008). Dentre os mais destacados representantes dos besouros aquáticos, encontram-se os Elmidae.
Os besouros da família Elmidae Curtis, 1830 vivem geralmente em ambientes lóticos (rios e
riachos), apresentando movimentos lentos e tamanho corporal pequeno. O ciclo de vida é muito
variável alcançando um a dois anos para completar todo o ciclo. As larvas apresentam de 5-8 estádios
ou 4-7 estádios dependendo da subfamília. O número de estádios, assim como tempo de vida, pode
variar de acordo com a temperatura, tamanho do corpo ou mesmo disponibilidade de alimento
(BROWN, 1987). Tanto adultos quanto larvas se alimentam de algas e ou madeira em decomposição,
sendo classificados como raspadores (MERRITT & CUMMIS, 1996).
Morfologicamente os elmídeos adultos são geralmente caracterizados por apresentarem
tamanho moderadamente pequeno (1,0 a 8,0 mm), com coloração geralmente uniforme, marrom a
preto; coxas anteriores tipicamente globulares e sem exposição do trocatino; e antena geralmente
filiforme, nunca pectinada ou lamelada. Suas larvas são caracterizadas por apresentarem corpo de
cilíndrico, subcilíndrico, triangular ou achatado dorsoventralmente; pleuritos presentes nos segmentos
abdominais 2 a 8, variável entre os gêneros, e opérculo móvel no último segmento abdominal providos
geralmente de três tufos de brânquias e garras móveis (BROWN, 1972, SPANGLER, 1982).
Atualmente são conhecidas 1310 espécies e 146 gêneros de Elmidae, sendo 1200 espécies
em 120 gêneros da subfamília Elminae e 130 espécies em 26 gêneros da subfamília Larainae. Na
América do Sul são encontrados em torno de 250 espécies e 38 gêneros de Elmidae. No Brasil já
foram registrados 149 espécies e 24 gêneros (SEGURA et al., 2013).
No levantamento anterior de Elmidae no Parque Nacional da Tijuca (PASSOS et al., 2003)
foram registrados seis gêneros de Elminae sendo eles: Austrolimnius Carter & Zeck, 1929, Cylloepus
Erichson, 1847, Gonielmis Sanderson, 1954, Heterelmis Sharp, 1882, Macrelmis Motschulsky, 1859,
Neoelmis Musgrave, 1935. Para a subfamília Larainae foi registrado apenas o gênero Phanocerus
Sharp, 1882. Entretanto, esse levantamento se restringe apenas à área do Rio da Fazenda, tendo o
Parque Nacional da Tijuca 32 quilômetros quadrados de Mata Atlântica e outros rios a serem
examinados.
O objetivo do presente trabalho é fazer o levantamento dos besouros aquáticos da família
Elmidae ocorrentes no Rio Archer, dentro dos limites do Parque Nacional da Tijuca, Rio de Janeiro,
RJ.
139
MATERIAIS E MÉTODOS

As coletas foram realizadas no Rio Archer, situado no setor Floresta do Parque Nacional da
Tijuca. O Parque está situado entre 22° 55'S e 23° 00'S e 43° 11 W e 43° 19W, o que corresponde a
3,5 % da área do município do Rio de Janeiro. Possui 3.953ha de, sendo 32Km² de cobertura vegetal
(PASSOS et al., 2003). Ele pertence ao bioma da Mata Atlântica, sendo assim um clima tropical e
úmido que abriga uma significativa biodiversidade. É também o parque nacional mais visitado do Brasil
(PNT, 2015) (Figura 1).

Figura 1. Mapa da Parque Nacional da Tijuca. O setor coletado está destacado em vermelho (Rio Archer, Floresta da
Tijuca). Modificado de http://www.parquedatijuca.com.br/#relevoehidrografia.

As amostragens quantitativa e qualitativa ocorreram sempre na mesma área, visando diminuir


as possíveis diferenças existentes ao longo do rio, como por exemplo, altitude. Nessa seção foram
retiradas amostras aleatórias de cada substrato (Figuras 2, 3): folhiço depositado em áreas de
remanso, pedra e folhiço retido em área de correnteza, em duas estações do ano (verão e inverno).
A amostragem quantitativa foi realizada no período de março de 2013 a dezembro de 2013. O
material foi amostrado por meio de uma peneira 1,0 mm, fixado em álcool etílico à 92,8% (álcool
comercial), acondicionado em sacos plásticos, etiquetados e levados ao laboratório, onde o material
140
foi lavado em peneira de malha de 350 µm e posteriormente conservado em álcool à 92,8%, O material
foi analisado com o auxílio de microscópio estereoscópico. Para a determinação de adultos foi
necessária a extração da genitália, segundo metodologia de BROWN (1972) e utilizadas lâminas
escavadas com glicerina, para observação. Posteriormente, para preservação, a genitália foi
acondicionada em pequeno tubo contendo glicerina.

Figura 2. Aspecto do Rio Archer, Parque Nacional da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ. A: local de amostragem do folhiço
depositado em áreas de remanso. (Foto Laura P. Stallone.)

Fig. 3. Aspecto do Rio Archer, Parque Nacional da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. A – B: local de amostragem; A: pedra;
B: folhiço retido em área de correnteza. (Foto: Laura P. Stallone.)

141
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontrados cinco gêneros: Austrolimnius Carter & Zeck, 1929, Heterelmis Sharp, 1882,
Hexacylloepus Hinton, 1940, Macrelmis Motschulsky, 1859, Phanocerus Sharp, 1882, já registrados
para a Floresta da Tijuca (PASSOS et al., 2003). Cylloepus Erichson, 1847, Gonielmis Sanderson,
1954 e Neoelmis Musgrave, 1935, não foram registrados nesse ponto de estudo, corroborando com o
trabalho de PASSOS et al. (2003) que apresentou baixa frequência para esses três gêneros. Apenas
larvas de Hexacyllopeus foram encontradas para a região até o momento, e pela primeira vez foram
encontradas larvas de Austroliminius. Os gêneros mais abundantes foram Heterelmis e Phanocerus
(Tabela 1). A maior ocorrência de indivíduos foi no mês de setembro, corroborando com os estudos
de PASSOS et al. (2003). No mês de maio a incidência de larvas foi muito baixa, podendo assim estar
associado à alta pluviosidade da época do ano.

Tabela 1. Distribuição dos gêneros de Elmidae pelos substratos amostrados no Rio Archer, Floresta da Tijuca, Rio de
Janeiro, RJ. Ff: folhiço depositado em áreas de remanso; Pe: pedra; Fc: folhiço retido em áreas de correnteza; a: adulto;
l: larva.

Táxons Ff Pe Fc Total
Elminae
Austroliminus Carter & Zeck, 1929 (l) 1 0 0 1
Heterelmis Sharp, 1882 (a) 4 13 9 26
Heterelmis Sharp, 1882 (l) 0 4 0 4
Hexacylloepus Hinton, 19406 (l) 0 0 4 4
Macrelmis Motschulsky, 1859 (a) 0 0 1 1
Larainae
Phanocerus Sharp, 1882 (a) 1 10 1 12
Phanocerus Sharp, 1882 (l) 0 2 0 2
Total 6 29 15 50

O substrato folhiço depositado em área de remanso teve a menor incidência de indivíduos,


como esse substrato apresenta pouca influência da correnteza, talvez apresente taxa de oxigênio
dissolvido baixa (BROWN, 1987).
Os Elmidae são caracterizados por apresentarem uma estrutura respiratória peculiar
denominada plastrão, que permite que o indivíduo permaneça na água sem a necessidade de voltar
à superfície (HINTON, 1969). A presença dessa estrutura, pode explicar o fato dos elmídeos
apresentarem uma grande afinidade com as áreas em cachoeiras ou com correnteza. Observando a
morfologia externa do grupo, os besouros de correnteza são dotados de pernas longas e de garras
tarsais fortes que os permitem a fixação no substrato. Além disso, as carenas presentes no pronoto e
no élitro dão a eles a configuração hidrodinâmica necessária para sua vida aquática em áreas em

142
fluxo de corrente. Isso corrobora, o que foi observado por BROWN (1987).
A presença de elmídeos no folhiço retido em áreas de correnteza e pedra pode ser explicada
pela disponibilidade de alimento, já que eles utilizam como base alimentar algas e detritos, que são
comumente encontrados nos substratos acima citados. Um outro fator a ser considerado é a influência
do fluxo da corrente nos substratos, que pode proporcionar áreas de refúgio e alimento (WARD, 1992),
assim como foi observado por SANSEVERINO & NESSIMIAN (1998) ao estudarem a comunidade de
Chironomidae (Diptera) em riachos de Mata Atlântica.

AGRADECIMENTOS

Aos graduandos Derek Godoy e Higor Tomaz Teixeira de Castro pela ajuda nas coletas. Ao
Laboratório de Insetos Aquáticos da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) pela
logistica. À Faperj – Pronem, ao CNPq e à bolsa de iniciação científica PIBIC-UNIRIO pelo apoio
financeiro.

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143
CASTRO, H.T.T. et al. 2016. Besouros (Coleoptera) atraídos por luminárias em localidades serranas urbanizadas no interior
do Estado do Rio de Janeiro. In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do
III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro,
p. 144-150.

BESOUROS (COLEOPTERA) ATRAÍDOS POR LUMINÁRIAS EM LOCALIDADES


SERRANAS URBANIZADAS NO INTERIOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Higor Tomaz Teixeira de Castro1,4
Derek Godoy1
Maria Inês da Silva dos Passos1
Luci Boa Nova Coelho2
Elidiomar Ribeiro Da-Silva3

RESUMO

Insetos voadores utilizam pontos luminosos como baliza para direcionamento do voo e podem tomar luzes
artificiais como ponto de referência em casos de noites com ausência de estrelas e da lua. Alguns insetos com
capacidade de voo reduzida, como os besouros (Coleoptera), aproximam-se até se chocarem contra a fonte
luminosa e, no caso de luminárias ou lustres urbanos, é comum que sejam aprisionados. O presente trabalho
teve como objetivo contribuir para o conhecimento da coleopterofauna presente em regiões serranas urbanas,
próximas a áreas de Mata Atlântica, do Estado do Rio de Janeiro, através da coleta passiva de indivíduos
aprisionados em lustres e luminárias. As coletas foram realizadas em três localidades situadas entre
metrópoles. O distrito de Penedo apresentou maior diversidade média e abundância de indivíduos. As famílias
com maior abundância foram Brentidae e Carabidae.

Palavras-chave: coleta passiva; levantamento; luz.

ABSTRACT

BEETLES (COLEOPTERA) ATTRACTED BY LAMPS ON URBAN INLAND MOUNTAINOUS


LOCATIONS IN RIO DE JANEIRO STATE
Flying insects use bright spots as a beacon for flight guidance, and might take artificial light as landmarks in
cases of absence of stars and moon light. Some insects with reduced flight capacity, such as beetles
(Coleoptera), approach until hitting the light source and, when it comes to lampposts and street lamps, it is
common for them to be trapped inside. The present study aimed to contribute to the knowledge of the
coleopterofauna present on urban mountainous regions on the proximities of the Atlantic forest of Rio de Janeiro
state, through passive sampling of individuals imprisoned in urban lamps. The samples where gathered on three
locations, situated between metropolises. Penedo district presented greater average diversity and abundance
of species. Families with greater abundance were Brentidae e Carabidae.

Keywords: inventory; light; passive sampling.

___________________
1
Laboratório de Insetos Aquáticos, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
1
Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3
Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
4
Autor correspondente: higor.bio.unirio@gmail.com.

144
INTRODUÇÃO

Atualmente existe um número estimado de 95.000 espécies viventes descritas de Hexapoda no


Brasil (LEWINSOHN & PRADO, 2005). Inseridos nesse grupo encontram-se os besouros (Coleoptera)
com aproximadamente 360.000 espécies descritas, sendo o maior e mais diverso grupo dos
metazoários (BEUTEL & HASS, 2000). Eles podem apresentar diferentes formas corporais, todos os
tipos de hábitos alimentares, e são encontrados em quase todos os ambientes.
Fontes luminosas são muito utilizadas para confecção de armadilhas de coleta para muitos grupos de
insetos. Durante o período noturno ou de pouca luminosidade o inseto precisa de um ponto de
referência para não se chocar contra obstáculos e manter sua trajetória, orientando-se pela luz da lua
ou pelas estrelas. Na ausência dessas fontes naturais ou em condição de escassa visibilidade, uma
fonte de iluminação artificial se transforma em baliza, para manter a direção do voo com ângulo
constante em relação a ela (BARGHINI, 2008). Alguns insetos com pouco controle de voo, como os
coleópteros, aproximam-se até se chocarem contra a fonte luminosa, e no caso de luminárias ou
lustres urbanos, é muito comum que sejam aprisionados, ou pousem em suas proximidades pois estão
impossibilitados de enxergar (BARGHINI, 2008). Já os insetos bons voadores, como os culicídeos
(Diptera), possuem maior capacidade de controle de voo e com isso conseguem permanecer voando
em torno da luz por mais tempo (BARGHINI, 2008).
O presente trabalho teve como objetivo contribuir para o conhecimento da coleopterofauna
presente em regiões serranas urbanas próximas a áreas de Mata Atlântica do Estado do Rio de
Janeiro.

MATERIAL E MÉTODOS

Com base em amostragens realizadas entre setembro de 2014 e abril de 2015, pelo menos
duas vezes ao mês, foi possível a obtenção de alguns grupos de Coleoptera. As coletas consistiram
no recolhimento dos insetos aprisionados em globos de luz de três localidades urbanas, de interior,
montanhosas e situadas entre metrópoles. No distrito de Itaipava, município de Petrópolis
(22º24’20.3’’S, 43º08’34.8’’W), os insetos foram coletados em lustres de uma lanchonete de posto de
combustível, às margens da Rodovia Washington Luís (BR-040). No distrito de Penedo, município de
Itatiaia (22º26’20.4’’S, 44º31’29.3’’W), foram coletados em lustres de uma galeria de lojas e de um
restaurante na área urbana da cidade. No município de Piraí (22º37’48.2’’S, 43º54’32.8’’W), foram
coletados em uma lanchonete de posto de combustível, às margens da Rodovia Presidente Dutra (BR-
116), próximo à entrada principal do perímetro urbano (Figura 1).
Neste trabalho foram utilizados lustres de áreas urbanas para coleta de indivíduos capturados não
145
intencionalmente. Após as coletas, os indivíduos foram triados e identificados com o auxílio de
estereomicroscópio e chaves de identificação (ARNETT et al., 2000; ARNETT & THOMAS, 2000;
TRIPLEHORN & JOHNSON, 2005). Os exemplares estão depositados na coleção do Laboratório de
Insetos Aquáticos, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências da UNIRIO, Rio de Janeiro, RJ.
Para a análise da diversidade dos coleópteros em seus respectivos pontos de coleta foi utilizado
o índice de Shannon-Weaver, feito no ‘’R Statistic’’ (R CORE TEAM, 2015) utilizando o pacote ‘’vegan’’
(OKSANEN et al., 2015). Posteriormente foi feito teste de normalidade (Shapiro-Wilk) para o índice de
diversidade, análise de variância para testar a existência de diferença significativa entre os índices e
o Teste de Tukey para avaliar os grupamentos.

RESULTADO E DISCUSSÃO

Através da análise de diversidade entre os três pontos amostrados, foi possível observar que
Penedo apresentou os maiores valores de Diversidade Média (DM), o que pode ser resultado da
grande riqueza de Carabidae nesse ponto. Já Piraí e Itaipava apresentaram menor DM (Figura 2).
Houve notável diferença quanto à abundância de espécimes coletados entre as localidades (Tabela
I), sendo Penedo a que apresentou maior abundância (62%), seguido de Piraí (22%) e Itaipava (16%).

Figura 1: Mapa do Estado do Rio de Janeiro, indicando os municípios e distritos amostrados.

A família Brentidae representou 34% dos coleópteros amostrados, destacando-se em dois


pontos, Piraí com 64% dos indivíduos e Itaipava com 39%. Apesar dos Brentidae também serem
significativos na fauna total, em Penedo a família Carabidae foi a mais abundante com 34%. Os
brentídeos alimentam-se de troncos em decomposição e árvores derrubadas, já sendo registrada a
146
ocorrência de indivíduos em madeiras estocadas e em decomposição (ABREU et al., 2002;
BLATCHLEY & LENG, 1916 apud BLOEM et al., 2002) o que pode indicar uma taxa elevada de
desmatamento nas regiões. Além disso, já foram reportados casos de introduções de espécies de
Brentidae (MAJKA et al., 2007), como pode ser o caso no local estudado, causando grandes explosões
populacionais e assim aumentando sua área de dispersão. Os bostriquídeos (Bostrichidae), com uma
frequência de 12% no Ponto II, podem juntamente aos brentídeos, indicar a presença de madeira
estocada ou desmatada na região (ABREU et al., 2002). Quanto à família Carabidae, alguns indivíduos
apresentam hábitos ripícolas (HERING & PLACTHER, 1997), a proximidade do local de coleta a um
corpo d’água pode explicar sua alta frequência no Ponto II, exemplos: Bembidiini, Brachini, Ozaenini,
Zuphini (ERWIN, 1979; 1984; HERING & PLACTHER, 1997). Os carabídeos são bioindicadores de
qualidade do ambiente, eles podem responder a pequenas escalas de mudança no ambiente até
fenômenos considerados continentais devido à alta sensibilidade às condições climáticas, além de
responderem negativamente a condições de poluição ambiental, como em áreas agrícolas que
utilizam pesticidas e fertilizantes (KOTZE et al., 2011). Isso evidencia as boas condições tanto do solo
e riachos, quanto da Mata Atlântica na região de Penedo. Vale ressaltar que em Penedo foi encontrado
um elmídeo (Elmidae) do gênero Hexacylloepus Hinton,1940.

Figura 2: Índice de diversidade (Shannon-Weaver) das áreas amostradas com suas Diversidades médias (DM), erros
padrões (EP) e grupamentos (GP).

Os besouros dessa família são considerados exclusivamente aquáticos, porém é comum a


dispersão desses indivíduos em período crepuscular, logo após a emersão. Durante este intervalo
eles são capazes de sobreviver vários dias fora do ambiente aquático (SEAGLE, 1980; BROWN,
1987), e provavelmente foi atraído pela luminária neste período.
147
AGRADECIMENTOS

À graduanda Laura Pires Stallone, pela ajuda na identificação de alguns táxons, e ao MSc.
Thiago Rodas Müller de Campos, pela ajuda nas análises estatísticas. À FAPERJ – PRONEM, ao
CNPq e ao PIBIC – UNIRIO, pelo apoio financeiro. Ao Laboratório de Insetos Aquáticos da
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), pelo apoio logístico. À Parada do Bubi,
ao Aglio e Olio Ristorante, ao Shopping Azul e ao Posto Saraiva, pelas facilidades de coleta.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, R.L.S.; SALES-CAMPOS, C.; HANADA, R.E.; VASCONCELLOS, F.J. & FREITAS, J.A. 2002. Avaliação de danos
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148
Tabela 1. Número total de exemplares dos táxons de Coleoptera urbanos amostrados em cada localidade estudada
(Itaipava, Penedo e Piraí) no Estado do Rio de Janeiro, Brasil.

Família Itaipava Penedo Piraí


Carabidae Carabidae sp 1 1
Carabidae sp 2 1
Carabidae sp 3 1
Notiophilini sp. 1
Elaphrini sp. 1
Opisthini sp. 4
Zuphiini sp. 8
Brachini sp. 2
Gehringini sp. 1
Bembidiini sp. 3
Ozaenini sp. 4
Notiophilini sp. 1
Polistichus Bonelli, 1810 1
Bostrichidae Dinoderus Stephens, 1830 2 10
Brentidae Apion Herbst,1797 9 19 20
Chrysomelidae Cassidinae sp. 1
Chrysomelidae sp 1 1
Chrysomelidae sp 2 1
Chrysomelidae sp 3 1
Chrysomelidae sp 4 1
Chrysomelidae sp 5 1
Chrysomelidae sp 6 1
Chrysomelidae sp 7 1
Chrysomelidae sp 8 1
Chrysomelidae sp 9 2
Coccinelidae Coccinellidae sp. 1 1
Coccinellidae sp. 2 1
Cucujidae Palaestes Perty, 1830. 3
Elateridae Elateridae sp. 1
Elmidae Hexacylloepus Hinton, 1940 1
Erotylidae Erotylidae sp 1 2
Erotylidae sp 2 1
Erotylidae sp 3 1
Meloidae Meloidae 1
Nitidulidae Meligethes Stephens, 1830 8 1
Pselaphidae Pselaphidae sp 3 4 7
Scarabaeidae Scarabaeidae sp. 1 1
Scarabaeidae sp. 2 1
Scarabaeidae sp. 3 1
Tenebrionidae Tenebrionidae sp1 1
Tenebrionidae sp 2 1

149
ANEXOS

Anexo I: Resíduos das análises apresentadas no trabalho.

Anexo II: Teste de normalidade (Shapiro-Wilk) para o índice de diversidade

150
XISTO, T. & MENDONÇA, M.C. 2016. Contribuição ao conecimento da morfologia e taxonomia de Dicranocentrus Schött,
1893 com histórico comentado para a Região Neotropical (Collembola: Entomobryidae). In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.;
Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 151-165.

CONTRIBUIÇÃO AO CONHECIMENTO DA MORFOLOGIA E TAXONOMIA DE


Dicranocentrus SCHÖTT, 1893, COM HISTÓRICO COMENTADO PARA A REGIÃO
NEOTROPICAL (COLLEMBOLA: ENTOMOBRYIDAE)

Thiago Xisto1,2
Maria Cleide de Mendonça1

RESUMO

O gênero Dicranocentrus inclui indivíduos com pigmentação variada, antenas com seis segmentos
(quinto e sexto segmentos anelados), cerdas pré-labrais simples, dens crenulada com espinhos,
mucro bidentado com espinho basal e corpo revestido por cerdas e escamas. Esse gênero abriga, até
o momento, 64 espécies com ocorrência exclusiva para a Região Pantropical. Neste trabalho é
apresentada a morfologia geral do gênero e a revisão da literatura, com histórico comentado sobre
sua ocorrência na Região Neotropical.

Palavras-chave: biodiversidade; Hexapoda; revisão de literatura.

ABSTRACT

CONTRIBUTION TO KNOWLEDGE ON MORPHOLOGY AND TAXONOMY OF Dicranocentrus


SCHÖTT, 1893, WITH LITERATURE REVIEW FOR NEOTROPICAL REGION (COLLEMBOLA:
ENTOMOBRYIDAE)
The genus Dicranocentrus includes specimens with pigmentation varied, antennae with six segments
(fifth and sixth antennal segments annulated), pre-labral chaetae simple, dens crenulated with spines,
mucro bidentate with basal spine and body covered by scales and chaetae. This genus houses, to
date, 64 species with occurrence for Pantropical Region. This paper presents the general morphology
of this genus and a literature review for Neotropics.

Keywords: biodiversity; Hexapoda; literature review.

___________________
1
Departamento de Entomologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Autor correspondente: xistocollembola@gmail.com.

151
INTRODUÇÃO

O gênero Dicranocentrus Schött, 1893 (Collembola: Entomobryidae), recentemente transferido


da subfamília Orchesellinae Börner, 1906 para Heteromurinae Zhang & Deharveng, 2015, inclui
indivíduos de médio a grande porte, com pigmentação variada, cerdas pré-labrais simples, corpo
revestido por cerdas e escamas, antenas com seis artículos, dens crenulada com espinhos e mucro
bidentado com espinho basal (MARI-MUTT, 1979, 1981a; NAJT et al., 1988; XU & ZHANG, 2014;
ZHANG & DEHARVENG, 2015). Dicranocentrus inclui, até o momento, 64 espécies nominais, com
registros para a Região Pantropical, dentre as quais 28 ocorrem somente na Região Oriental, 25 na
Região Neotropical, seis na Região Afro-tropical e três na Região Australiana (BELLINGER et al.,
2015; XISTO & MENDONÇA, 2016). A espécie D. gracilis Schött, 1893 tem registro para a Região
Afro-tropical e Neotropical e D. meruensis Wahlgren, 1908 para Região Afro-tropical e Oriental
(SCHÖTT, 1893; WAHLGREN, 1908; WINTER, 1963; RAPOPORT, 1971; MARI-MUTT, 1979, 1981b).

MATERIAL E MÉTODOS

O material estudado é procedente da Coleção de Collembola do Departamento de Entomologia


do Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro. A presente Coleção, iniciada em 1939
pelo pesquisador Roger Arlé, consta de um rico acervo representado por cerca de 3.000 lotes
identificados a partir do número 1, com a sigla RA. Tal material foi obtido durante suas inúmeras
expedições em várias localidades brasileiras, especialmente no norte do país. Além dessa, a Coleção
de Collembola inclui diversos outros acervos menores, doados ou iniciados por alunos durante seus
trabalhos acadêmicos. O segundo maior acervo da Coleção, iniciado em 1978 pela pesquisadora
Cleide Mendonça, sob a sigla CM/MNRJ, consta atualmente de 2.500 lotes. Esse acervo encontra-se
em processo de expansão através do aporte de novas coletas constantemente realizadas pela equipe
de trabalho do Laboratório de Collembola (LaCo) e por coletas efetuadas por pesquisadores de outras
especialidades e instituições.
O estudo taxonômico do gênero Dicranocentrus foi realizado com base em exemplares
provenientes da Coleção CM/MNRJ e revisão da literatura. Os indivíduos, inicialmente separados pelo
hábito e coloração, foram fotografados com câmera digital Canon. Os exemplares, de cada morfotipo,
foram despigmentados com solução clareadora (1cc de Bicromato de Potássio + 1cc de Ácido
Clorídrico). Posteriormente, os exemplares foram passados para um recipiente contendo etanol 96° a
fim de cessar a reação. Depois, os exemplares foram acondicionados em um pequeno recipiente
contendo Líquido de ARLÉ & MENDONÇA (1982) (10cc de Glicerina + 10cc de Ácido Lático + 10g de
Hidrato de Cloral), onde permaneceram por, no mínimo, 24 horas para tornar o tegumento mais
152
translúcido. Para a montagem de lâminas permanentes, foram seccionados cabeça, pernas, tubo
ventral e furca de cada exemplar, e em seguida montados entre lâmina e lamínula, sendo o corpo
montado separadamente. Foram confeccionadas lâminas com indivíduos posicionados em vista dorsal
e ventral para cada morfoespécie. As lâminas foram vedadas com esmalte incolor no mínimo duas
semanas depois da montagem, para permitir a evaporação do líquido conservador e diminuir o volume
de líquido entre lâminas e lamínulas. As lâminas foram etiquetadas contendo os dados referentes à
sua identificação. O estudo da morfologia externa dos indivíduos foi realizado com auxílio de
microscópio óptico Zeiss (Modelo: Axioskop 2). As ilustrações foram realizadas com auxílio de câmara
clara acoplada ao microscópio óptico e finalizadas em nanquim. O tratamento das imagens foi
realizado com Adobe Photoshop CS2.
Material examinado: Brasil, Estado do Rio de Janeiro, município do Rio de Janeiro, Parque
Nacional da Tijuca ─ am.83 CM/MNRJ, 6 exs., 25/VII/1979, Mendonça M.C. col.; am.93 CM/MNRJ, 2
exs., 29/VIII/1979, Mendonça M.C. col.; am.95 CM/MNRJ, 3 exs., 29/VIII/1979, Mendonça M.C. col.;
am.97 CM/MNRJ, 3 exs., 03/I/1980, Mendonça M.C. col.; am.1979 CM/MNRJ, 2 exs., 10/XII/2010,
Mendonça M.C. Fernandes L.H., Abrantes E.A., Queiroz G.C., Silveira T.C. & Neves A.C.R. col.;
am.2452 CM/MNRJ, 1 ex., 30/I/2014, Mendonça M.C., Xisto T. & Silveira T.C. col.; am.2454
CM/MNRJ, 2 exs., 30/I/2014, Mendonça M.C., Xisto T. & Silveira T.C. col. Município de Teresópolis,
Parque Nacional da Serra dos Órgãos ─ am.2422 CM/MNRJ, 2 exs., 15/IX/2011, Carvalho R.A. col.
Município de Valença, Santuário de Vida Silvestre da Serra da Concórdia ─ am.734 CM/MNRJ, 3 exs.,
10/VI/1997, Calil E.R., Ribeiro J.R.I. & Felix M.E. col.; am.2342 CM/MNRJ, 1 ex., 28/III/ 2012,
Mascarenhas B. & Pereira S.M. col.; am.2367 CM/MNRJ, 1 ex., 27/VII/2012, Mascarenhas B. & Pereira
S.M. col. Parque Natural Municipal do Açude da Concórdia ─ am.2413 CM/MNRJ, 2 exs., 01-
03/II/2013, Xisto T. col. Estado do Espírito Santo: Município de Espera Feliz, Parque Nacional do
Caparaó ─ am.2444 CM/MNRJ, 2 exs., 19/XI/2013, Queiroz G.C., Silveira T.C. & Xisto T. col.; am.2445
CM/MNRJ, 1 ex., 19/XI/2013, Queiroz G.C., Silveira T.C. & Xisto T. col. Estado de Minas Gerais:
Município de Santa Bárbara, Reserva Particular do Patrimônio Natural Santuário do Caraça ─ am.2478
CM/MNRJ, 3 exs., 05/XII/2013, Queiroz G.C. col.
Lista de abreviaturas ─ am., col., ex. e exs., referentes, respectivamente, às palavras: amostra
(lote/número de tombo), coletor, exemplar e exemplares.

TAXONOMIA

Entomobryidae Tömösváry, 1882


Heteromurinae Zhang & Deharveng, 2015
Dicranocentrus Schött, 1893
153
Os representantes do gênero Dicranocentrus apresentam corpo alongado e robusto, medindo
cerca de 2 a 5 mm e coloração conspícua bastante variada; variada, com indivíduos apresentando a
coloração de fundo geralmente amarelo-pálida, que pode ser mascarada pela coloração ferruginosa
das escamas. A pigmentação pode estar uniformemente distribuída ou concentrada em diversas
partes do corpo, formando bandas ou manchas. Algumas espécies apresentam regiões do corpo sem
pigmento e esbranquiçadas.
A segmentação do corpo é individualizada, sendo os tergitos torácicos e abdominais subiguais.
O protórax é reduzido e desprovido de cerdas e o mesotórax, nunca projetado sobre a cabeça, é
levemente maior que o metatórax. O segmento abdominal IV é aproximadamente 1,8 vezes maior que
o segmento abdominal III (Figura 1).
O revestimento do corpo é constituído por cerdas simples, lisas ou ciliadas, lasiotrichias,
sensilas e escamas (Figuras 2–15). As cerdas, com tamanhos e espessuras variáveis, podem
apresentar a extremidade afilada, capitada ou com um dente subapical (flexed setae). As macroquetas
e mesoquetas, em geral estão localizadas dorsalmente na cabeça, tergitos torácicos e abdominais,
sendo utilizadas como característica taxonômica importante (macroquetotaxia). As microquetas,
predominantemente ciliadas, estão distribuídas por todo o corpo, as lasiotrichias são estruturas finais
e frágeis, localizadas nos tergitos dos segmentos abdominais II, III e IV (fórmula 2,3,2). As sensilas,
geralmente em forma de bastonete, podem apresentar forma robusta, de chama ou estarem reduzidas
(microsensila), estando expostas, cobertas por tegumento ou inseridas em fosseta; estão distribuídas
por todo o corpo, porém se concentram principalmente nos artículos antenais. As escamas são
arredondadas ou apicalmente truncadas e estão distribuídas por todo o corpo, com exceção dos dois
últimos artículos da antena.
As antenas tradicionalmente formadas por quatro artículos, sofreram em Dicranocentrus
subdivisão do I e II (Ia e Ib, IIa e IIb), resultando em seis artículos (I, II, III, IV, V e VI) sendo os dois
últimos (V e VI) maiores, anelados e sem escamas (Ia:Ib:IIa:IIb:III:IV = I:II:III:IV:V:VI) (Figura 16). No
artículo antenal V encontra-se o órgão antenal III, constituído por duas sensilas, sensilas de guarda e
várias outras circundantes (Figura 17); o artículo antenal IV apresenta na sua extremidade uma
pequena cerda bífida denominada pin seta (Figura 18).
O grupo ocular é formado por 8+8 olhos, sendo G e H geralmente reduzidos, e localiza-se em
uma área densamente pigmentada chamada mancha ocular; as cerdas interoculares se encontram
em uma área entre os olhos D e H (Figuras 19–21).
As peças bucais são mastigadoras, típicas da família, sendo a maxila formada por três dentes
apicais e seis lamelas franjadas com diversos tamanhos (Figura 22) e a mandíbula, peça robusta,
formada por quatro a cinco dentes apicais e uma placa molar com inúmeros dentículos na região
mediana (Figura 23).
154
O palpo maxilar, localizado próximo à base do labro, consiste em uma papila simples com uma
cerda no ápice e uma cerda próxima à base, inseridos em uma placa sublobal com três a quatro cerdas
denominadas pelos sublobais (Figura 24).
O labro inclui cerdas pré-labrais e labrais, simples, em número de 4/5,5,4 dispostas em séries
em direção à extremidade bucal (Figura 25); que é limitada pela papila labral, diversificada em três
tipos: I, II ou III (Figuras 26–28).
O palpo labial é caracterizado pelo conjunto de cinco papilas, A, B, C, D e E, protegidas por
cerdas de guarda, com exceção das papilas A e C. A papila E (Figura 29), mais externa, é provida de
um prolongamento digitiforme do tegumento, denominado processo lateral e de três a cinco cerdas de
guarda, sendo a cerda e7 sempre ausente.
O triângulo labial, localizado na região ventral da cabeça, apresenta cerdas A (grupo de cerdas
anteriores), M (grupo de cerdas medianas), r (cerda geralmente modificada) e E (cerda mais externa,
posterior a cerda r) (Figura 30). Todas as cerdas podem variar quanto ao tamanho, presença ou
ausência de ciliação.
O órgão trocanteral está localizado na parte interna do trocanter metatorácico, sendo
constituído por uma região composta de cerdas e pequenos espinhos lisos (Figura 31); na lateral
externa do trocanter há uma cerda longa e lisa, denominada cerda trocanteral.
O tibiotarso é revestido por cerdas ciliadas, podendo algumas vezes apresentar cerdas lisas
simples; exibe na região externa a cerda rastreadora, e na distal, o complexo empodial. A cerda
rastreadora é uma cerda lisa e alongada com a extremidade afilada ou capitada. O complexo empodial
é formado pela unha e apêndice empodial. A unha apresenta um dente dorsal, dois laterais, número
variável de dentes na crista interna de acordo com as espécies e um espinho no empódio. O apêndice
empodial é lanceolado ou truncado e pode exibir ou não um dente em sua crista interna (Figuras 32–
34).
O tenáculo, órgão de sustentação da furca, é bem desenvolvido, apresenta 4+4 dentes nos
ramos e na região mediana do corpo cerdas lisas, ciliadas ou ausentes (Figura 35).
A furca é constituída por manúbrio, dens e mucro. O manúbrio é densamente revestido por
cerdas ciliadas e/ou lisas e escamas. A dens, longa e crenulada, geralmente apresenta espinhos na
região basal interna e/ou externa (Figura 36). O mucro é bidentado com um pequeno espinho basal
(Figura 37).
A placa genital do macho, de forma globular, possui diversas cerdas lisas formando séries
concêntricas regulares na região interna e séries irregulares externamente (Figura 38).
No gênero Dicranocentrus, a macroquetotaxia dorsal da cabeça (Figura 39) delimita quatro
grupos sensu MARI-MUTT (1979): grupo circulatus (cerdas A1 e Ps presentes, S2 ausente e grupo P
com até 16+16 cerdas); grupo sundanensis (cerda S2 presente, cerdas A1 e Ps ausentes e grupo P
155
com até 8+8 cerdas); grupo gracilis (cerdas A1, S2 e Ps ausentes e grupo P com até 6+6 cerdas);
grupo marias (cerdas A1, S2, Ps e grupo P ausentes).

HISTÓRICO DO GÊNERO PARA A REGIÃO NEOTROPICAL

O gênero Dicranocentrus foi criado por SCHÖTT (1893) juntamente com a espécie-tipo
Dicranocentrus gracilis Schött, 1893 procedente de Camarões, na África Central. A descrição original
desse gênero teve como base características diagnósticas representadas pelo corpo revestido por
escamas, antena dividida em quatro artículos e tão longa quanto o corpo, terceiro artículo antenal mais
longo que os demais, mesonoto não projetado sobre a cabeça, quarto segmento abdominal mais longo
que o terceiro, dens com espinhos e mucro tridentado.
A primeira referência de Dicranocentrus na Região Neotropical deve-se a PARONA (1895) ao
identificar e registrar para a Argentina a espécie Tomocerus plumbeus Lubbock, 1863. Posteriormente
BONET (1934), ao examinar o material identificado por Parona corrigiu o engano e identificou o
material como Dicranocentrus silvestrii Absolon, 1903.
ABSOLON (1903) descreveu Dicranocentrus silvestrii a partir de material proveniente da
América do Sul, sem nenhuma indicação precisa da localidade-tipo. A descrição dada pelo autor é
reduzida e desprovida de ilustrações da quetotaxia, fonte de características diagnósticas seguras.
BÖRNER (1906), ao identificar colêmbolos da América do Sul, descreveu D. silvestrii annulatus
Börner, 1906 com base em material encontrado em orquídeas provenientes da Estação Florestal de
São Francisco. Nesse trabalho, o autor fez uma descrição resumida da subespécie e omitiu a
localização precisa da localidade-tipo.
HANDSCHIN (1924), estudando colêmbolos ocorrentes em comunidades de cupins e formigas
no Brasil, descreveu a espécie D. termitophilus Handschin, 1924 para o Estado de Minas Gerais, e D.
bicolor Handschin, 1924 para o Estado de Santa Catarina.
DENIS (1931) publicou o primeiro levantamento da fauna de Collembola da Costa Rica. Dentre
o vasto material estudado, o autor registrou pela primeira vez a ocorrência de D. silvestrii e fez a
primeira redescrição detalhada de sua morfologia externa com base em exemplares procedentes de
diversas localidades de Costa Rica.
DENIS (1933), ao publicar o segundo estudo sobre a fauna de Costa Rica, ampliou a
caracterização morfológica de D. silvestrii, incluindo aspectos da antena, cerdas occipitais, maxila e
dados morfométricos. Ainda em tal artigo, o autor fez comentários sobre a morfologia de D.
termitophilus com base em material cedido por Handschin. Segundo Denis, a presença de uma
subdivisão apenas no primeiro artículo antenal e presença de cerdas na dens justificaria a
transferência de D. termitophilus para o gênero Alloscopus Börner, 1906.
156
BONET (1934), em seu estudo sobre colêmbolos da Argentina, redescreveu inúmeras espécies
pertencentes a diferentes gêneros e famílias. Dentre as espécies estudadas, o autor redescreveu D.
silvestrii a partir de três exemplares depositados na Coleção do Museu de La Plata. Segundo Bonet,
os espécimes de D. silvestrii encontrados na Argentina concordavam de um modo geral com a
descrição dos exemplares de Costa Rica feita por DENIS (1931).
WRAY (1953), estudando a fauna de Costa Rica, redefiniu o gênero Dicranocentrus, erigiu
Dicranocentrella Wray, 1953 como subgênero e descreveu Dicranocentrus (Dicranocentrella) marias
Wray, 1953.
CASSAGNAU (1963), estudando colêmbolos da ordem Entomobryomorpha procedentes da
América do Sul, registrou, dentre as 12 espécies encontradas, a presença de D. silvestrii em diversas
localidades da Argentina, Bolívia e Brasil (Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro). A identificação de D.
silvestrii feita pelo autor teve como base critérios taxonômicos dados por diversos autores, incluindo
DENIS (1931). Segundo Cassagnau, a característica mais variável observada nesses exemplares
estaria representada apenas pela distribuição de pigmento ao longo do corpo.
WINTER (1963), em seu estudo da fauna do Peru, realizou extenso levantamento em diferentes
ecossistemas e nomeou um grande número de espécies sem descrições ou diagnoses. Dentre os
diversos táxons citados pelo autor, encontram-se as espécies D. maculatus Winter, 1963, D. muyensis
Winter, 1963 e a subespécie D. silvestrii circulata Winter, 1963.
SALMON (1964) publicou An Index to the Collembola, no qual foram incluídos inúmeros
gêneros e espécies, uma chave de classificação para o grupo e toda a bibliografia existente desde a
mais antiga até a década de 1960. No entanto, uma grande parte dos táxons incluídos no presente
trabalho foram submetidos a transferências e sinonímias com base, principalmente, no exame da
literatura. Dentre o vasto material encontra-se o subgênero Dicranocentrella Wray, 1953 que foi
sinonimizado por Salmon com Dicranocentrus.
RAPOPORT & RUBIO (1968), ao publicarem um artigo sobre a fauna de Collembola do Chile,
incluíram descrições de sete novas espécies e registraram 36 em diferentes regiões prospectadas.
Um desses registros referiu-se à presença de quatro exemplares de D. silvestrii.
RAPOPORT (1971), em seu estudo sobre a distribuição geográfica de Collembola, discutiu o
relacionamento da fauna da América do Sul com as diversas regiões geográficas. Dentre os inúmeros
táxons de maior afinidade com a África, o autor citou D. gracilis de ocorrência registrada para
Camarões, Peru e Porto Rico. Ainda nesse artigo, o autor discutiu o relacionamento da fauna
Neotropical e Oriental e sugeriu como provável sinônimo de D. silvestrii, a espécie D. problematicus
Denis, 1948 descrita do Vietnã.
IZARRA (1972) descreveu no gênero Alloscopus a nova espécie A. platensis Izarra, 1972, com
base em material procedente de La Plata, província de Buenos Aires, Argentina. Essa espécie foi
157
posteriormente transferida para Dicranocentrus por MARI-MUTT (1977).
MARI-MUTT (1976), ao iniciar estudos sobre colêmbolos de Porto Rico, publicou um artigo com
inúmeros novos registros da fauna, incluindo chave pictórica para famílias e chave dicotômica para os
gêneros. Ainda nesse artigo, Mari-Mutt forneceu diagnoses para os diversos gêneros, dentre os quais
se encontrava Dicranocentrus.
MARI-MUTT (1979) incrementou o estudo de Dicranocentrus ao publicar um extenso trabalho,
no qual incluiu a revisão do gênero, discutiu as características morfológicas importantes
taxonomicamente, forneceu chaves de identificação e mapas com distribuição da fauna. Ainda nesse
artigo, o autor estudou 31 espécies, dentre as quais, sete foram descritas como novas para a ciência
(D. antillensis Mari-Mutt, 1979, D. colombiensis Mari-Mutt, 1979, D. millsi Mari-Mutt, 1979, D. millsi
cubensis Mari-Mutt, 1979, D. nigritus Mari-Mutt, 1979 e D. schoetti Mari-Mutt, 1979), designou lectótipo
para a espécie D. gracilis, considerou as espécies D. bicolor, D. linnaniemii Börner, 1912, D. platensis,
D. problematicus, D. silvestrii, D. simplex Yosii, 1959, D. termitophilus como incertae sedes [sic] e as
espécies D. eburneus Delamare-Deboutteville, 1951, D. maculatus, D. muyensis, D. silvestrii circulata
como nomina nuda. Mari-Mutt discutiu a filogenia do gênero, sugerindo que a presença de seis
artículos na antena seria uma condição derivada da subdivisão dos artículos I e II de uma antena com
quatro artículos ou da subdivisão do artículo II de uma antena com cinco artículos (artículo I já estaria
subdividido em dois artículos) como ocorre em Heteromurus Wankel, 1860, Mastigoceras Handschin,
1924 e Orchesellides Bonet, 1930. Nesse caso, Dicranocentrus seria derivado da primeira condição
da subdivisão da antena.
JACQUEMART (1980), em expedição ao Peru, realizou coletas nas proximidades de Cuzco e
Machu Picchu que revelaram um vasto material colembológico. O autor incluiu no referido trabalho um
histórico do gênero e descreveu e ilustrou dentre outras espécies, D. orellanae Jacquemart, 1980, D.
orellanae cuzcoensis Jacquemart, 1980 e D. edicitae Jacquemart, 1980.
MARI-MUTT (1981a) propôs o novo gênero Pseudodicranocentrus Mari-Mutt, 1981 para as
espécies P. circulatus (Mari-Mutt, 1979) e P. christianseni (Mari-Mutt, 1979) anteriormente descritas
por ele para o gênero Dicranocentrus. Ainda nesse trabalho, Mari-Mutt descreveu D. biseriatus Mari-
Mutt, 1981 do Haiti e D. antillensis jamaicencis Mari-Mutt, 1981 da Jamaica; sinonimizou D. millsi
cubensis Mari-Mutt, 1979 com D. millsi Mari-Mutt, 1979 e recaracterizou D. platensis, D. marias, D.
nigritus e D. schoetti.
ARLÉ & MENDONÇA (1982) descreveram D. heloisae Arlé & Mendonça, 1982, terceira espécie
do gênero para o Brasil, com base em exemplares procedentes do Parque Nacional da Tijuca, Rio de
Janeiro, e incluíram uma breve recaracterização de D. silvestrii. Ainda no referido trabalho, os autores
consideraram as espécies D. bicolor e D. termitophilus como formas jovens de D. silvestrii.
MARI-MUTT (1983), estudando material procedente da Venezuela, descreveu e ilustrou D.
158
paramoensis Mari-Mutt, 1983 e D. bidentatus Mari-Mutt, 1983 coletadas em matas higrófilas nas
proximidades de Mérida.
MARI-MUTT (1985a) descreveu oito espécies de Dicranocentrus de diversas regiões
geográficas, dentre as quais, apenas uma, D. capitaneus Mari-Mutt, 1985, descrita do Peru, era
procedente da Região Neotropical.
MARI-MUTT (1985b) acrescentou à fauna da Região Neotropical duas novas espécies de
Dicranocentrus. A primeira, D. celatus Mari-Mutt, 1985 procedente de Porto Rico e a segunda D.
zebratus Mari-Mutt, 1985 da República Dominicana, ambas tinham sido anteriormente identificadas
erroneamente pelo próprio autor como D. millsi.
NAJT et al. (1988), na terceira nota sobre os colêmbolos do Equador, descreveram duas novas
espécies, D. chimborazoensis Najt, Thibaud & Mari-Mutt, 1988 e D. peckorum Najt, Thibaud & Mari-
Mutt, 1988, ambas procedentes de campos de altitude, entre 3.000 e 4.800 m. Também nesse
trabalho, os autores anexaram uma chave para as espécies de Dicranocentrus com espinhos na região
basal externa da dens.
ABRANTES et al. (2010) publicaram um extenso trabalho, listando todas as espécies de
Collembola ocorrentes no Brasil. Nesse artigo foi incluída uma tabela com dados sobre a distribuição
no Brasil, distribuição mundial, habitat e a referência do registro. O gênero Dicranocentrus é
representado pelos registros de D. bicolor sem localidade, D. termophilus [sic] sem localidade, D.
silvestrii e D. heloisae, ambas para o Estado do Rio de Janeiro.
ABRANTES et al. (2012), ao publicarem a atualização da lista de espécies de Collembola,
registraram pela primeira vez a espécie Dicranocentrus heloisae para o Estado da Bahia, Brasil.
BELLINI et al. (2013) ampliaram o conhecimento de Dicranocentrus no Brasil descrevendo D.
amazonicus Bellini, De Moraes & Oliveira, 2013 com base em material procedente da Reserva Ducke
em Manaus, Amazonas.
BELLINI (2014) publicou capítulo de livro sobre a fauna de Collembola em áreas úmidas do
Semiárido. Nesse trabalho o autor registrou táxons para o Nordeste do Brasil, dentre os quais incluiu
o gênero Dicranocentrus para o Estado do Ceará, as espécies D. silvestrii e D. heloisae para o Estado
da Bahia, e Dicranocentrus cf. termitophilus para o Estado da Paraíba.
XISTO & MENDONÇA (2014) redescreveram Dicranocentrus heloisae com base em
exemplares procedentes da localidade-tipo (Parque Nacional da Tijuca), designaram Neótipo,
acrescentaram características taxonômicas importantes omitidas na descrição original e forneceram
novos registros para o Estado do Rio de Janeiro, Brasil.
XISTO et al. (2015) ampliaram a distribuição de Dicranocentrus registrando pela primeira vez o
gênero e a espécie D. heloisae para o Estado do Espírito Santo.
XISTO & MENDONÇA (2016) descreveram as novas espécies, D. cuprum Xisto & Mendonça,
159
2016 e D. melinus Xisto & Mendonça, 2016, procedentes da Serra do Gandarela, Estado de Minas
Gerais, Brasil. Também nesse trabalho, é apresentada pela primeira vez a ilustração da placa genital
masculina para o gênero.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo revelou a ampla diversidade do gênero na Região Neotropical, na qual


ocorrem as espécies D. amazonicus, D. antillensis, D. bicolor, D. bidentatus, D. biseriatus, D.
capitaneus, D. celatus, D. chimborazoensis, D. colombiensis, D. cuprum, D. edicitae, D. gracilis, D.
heloisae, D. marias, D. melinus, D. millsi, D. nigritus, D. orellanae, D. paramoensis, D. peckorum, D.
platensis, D. schoetti, D. silvestrii, D. termitophilus e D. zebratus. Paralelamente, fica claro que o
conhecimento do gênero no Brasil é incipiente, o que é sustentado, até o momento, pelo registro de
apenas D. silvestrii, e pelas descrições de D. amazonicus, D. bicolor, D. cuprum, D. heloisae, D.
melinus e D. termitophilus. O exame parcial da Coleção de Collembola do Museu Nacional mostrou a
presença de aproximadamente 3.900 indivíduos de Dicranocentrus spp. em cerca de 300 lotes de
diversas localidades.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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161
Figuras 1–16. 1, Hábito de Dicranocentrus sp., vista lateral. 2, Cerda afilada lisa. 3, Cerda afilada finamente ciliada. 4,
Cerda afilada densamente ciliada. 5, Cerda robusta lisa. 6, Cerda capitada. 7, Flexed setae. 8, Lasiotrichia. 9, Sensila. 10,
Sensila inflada. 11, Sensila em forma de chama. 12, Microsensila. 13, Sensila inserida em fosseta. 14, Escama
arredondada. 15, Escama apicalmente truncada. 16, Cabeça com detalhe da segmentação dos artículos antenais I e II.
(Fig.1 modificada de MARI-MUTT, 1979; Fig.2–6 e 8–13 modificadas de JORDANA & ARBEA, 1997; Fig.7 modificada de
ARLÉ & MENDONÇA, 1982; Fig.16 modificada de XISTO et al., 2015).

162
Figuras 17–28. 17, Órgão antenal III. 18, Pin seta. 19, Olhos, G e H não reduzidos. 20, Olhos, G e H reduzidos e separados.
21, Olhos, G e H reduzidos e próximos. 22, Cabeça da maxila. 23, Mandíbula com placa molar. 24, Palpo maxilar com
quatro pelos sublobais. 25, Labro, Quetotaxia pré-labral e labral. 26, Papila labral tipo I. 27, Papila labral tipo II. 28, Papila
labral tipo III. (Fig.17 modificadas de XISTO & MENDONÇA, 2014; Fig.19–21 modificadas de MARI-MUTT, 1979; Fig.24
modificada de FJELLBERG, 1984; Fig.25–28 modificadas de MARI-MUTT, 1981a).
163
Figuras 29–35. 29, Papila labial E e cerdas de guarda e1, e2, e3, e4, e5 e e6; P.L. = Processo lateral. 30, Triângulo labial.
31, Órgão trocanteral. 32, Porção distal do tibiotarso com cerda rastreadora capitada e apêndice empodial lanceolado. 33,
Porção distal do tibiotarso com cerda rastreadora afilada e apêndice empodial lanceolado. 34, Porção distal do tibiotarso
com cerda rastreadora capitada e apêndice empodial truncado. 35, Tenáculo. (Fig.29 modificada de FJELLBERG, 1999;
Fig.30–31 modificadas de MARI-MUTT, 1983; Fig.32–33 modificadas de MARI-MUTT, 1979; Fig.34 modificada de MARI-
MUTT, 1985a; Fig.35 modificada de XISTO & MENDONÇA, 2014).
164
Figuras 36–39. 36, Região basal da dens com espinhos na região interna e externa. 37, Região distal lisa da dens e mucro.
38, Placa genital de um exemplar macho. 39, Macroquetotaxia dorsal da cabeça; An = grupo antenal; A = grupo anterior;
M = grupo mediano; S = grupo sutural; Po = cerda pós-ocular; Ps = cerda pós-sutural; P = grupo posterior. (Fig. 37–38
modificadas de XISTO & MENDONÇA, no prelo; Fig.39 modificada de XISTO & MENDONÇA, 2014).
165
OLIVEIRA, A.B.R. et al. 2016. Análise do filme de animação “Vida de Inseto” à luz da Biologia Animal. In: Da-Silva, E.R.;
Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro.
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 166-181.

ANÁLISE DO FILME DE ANIMAÇÃO “VIDA DE INSETO” À LUZ DA BIOLOGIA


ANIMAL
Ana Beatriz Ramos Oliveira1,4
Beatriz Marinho Hörmanseder1
Elidiomar Ribeiro Da-Silva2
Luci Boa Nova Coelho3

RESUMO

O filme “Vida de Inseto” foi minuciosamente assistido e foram anotados os aspectos morfológicos,
biológicos e comportamentais abordados na obra. A utilização de filmes em ambiente escolar vem se
tornando cada vez mais popular, seja por prender a atenção ou mesmo facilitar a didática. Hoje em
dia tem-se um grande catálogo de filmes ligados à divulgação científica e cultura pop. Tais filmes, com
um grande teor científico, são adequados para estudos de ecologia, taxonomia, dentre outras áreas.
O filme abordado no presente trabalho retrata uma diversidade entomológica, rica em detalhes, cheia
de interessantes relações inter e intraespecíficas.

Palavras-chave: cultura pop; divulgação científica, Zoologia Cultural.

ABSTRACT

ANALYSIS OF ANIMATION FILM "A BUGS’ LIFE" IN THE LIGHT OF ANIMAL BIOLOGY
The movie "A Bug's Life" was closely watched and were noted morphological, biological and behavioral
aspects addressed in the work. The use of films in school environment is becoming increasingly
popular, either by eye-catching or even facilitate teaching. Today we have a large catalog of films
related to science communication and pop culture. Movies with a high scientific content, perfect for
ecological studies, as well as taxonomic and other areas. The studied film portrays an entomological
diversity, rich in detail, with interesting inter and intraspecific relationships.

Keywords: Cultural Zoology; popular culture; scientific divulgation.

___________________
1
Departamento de Paleontologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3
Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
4
Autor correspondente: biaramosdeoliveira@hotmail.com.
166
INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, o aproveitamento de elementos da cultura pop nas produções acadêmicas
vem ganhando destaque (NEMÉSIO et al., 2013; DA-SILVA et al., 2014a, 2014b; CASTANHEIRA et
al., 2015). Produções cinematográficas são cada vez mais utilizadas na escola, embora ainda existam
poucos estudos sobre a sua aplicação no ambiente escolar (COSTA & BARROS, 2014). Os filmes
possuem potencialidade pedagógica especial e podem dar suporte a novas modalidades educativas,
com possibilidades de utilização em todos os níveis e disciplinas. Material cultural acessível e de fácil
aceitação, os filmes fazem parte da vida cultural das crianças e adolescentes, sendo uma ótima ponte
entre os saberes do aluno e o conhecimento sistematizado. Diante de tal cenário, sua utilização para
fins didáticos é natural e proveitosa. Nada mais é do que um meio de divulgação científica divertido e
que prende a atenção dos alunos. Como todos, independentemente da faixa etária, gostam de assistir
filmes, nada melhor do que adaptar o conteúdo de forma didática.
A utilização de filmes em ambiente escolar vem se tornando cada vez mais popular, seja por
prender a atenção ou mesmo facilitar a didática (COELHO & DA-SILVA, 2015). Hoje em dia, tem-se
um grande catálogo de filmes ligados à divulgação científica e cultura pop, filmes com um grande teor
científico, perfeitos para utilização em aulas sobre ecologia, taxonomia, dentre outras áreas
abordadas. O filme abordado no presente trabalho, "Vida de Inseto" (Figura 1), retrata uma diversidade
entomológica, rica em detalhes. Além de interessantes relações inter e intraespecíficas, que podem
ser abordadas até mesmo do ponto de vista antropológico.

OBJETIVOS

Descrever e analisar os personagens e situações da animação “Vida de Inseto”, levantando


possíveis temas a serem aplicados em atividades didáticas nas aulas de Ciências, Biologia e Zoologia.

O FILME

“Vida de Inseto” (A Bug's Life, no original) é um filme de animação estadunidense, produzido


pela Pixar em 1998 e distribuído pela Walt Disney Pictures. Em linhas gerais, o filme conta a história
de uma formiga, o protagonista Flick, que tenta libertar seu formigueiro do controle tirânico exercido
por um bando de gafanhotos, comandado pelo perverso Hopper. Flick embarca em uma aventura
atrás de alguém pronto para combater os gananciosos gafanhotos, se depara com uma trupe de circo
e acaba levando-os de volta ao formigueiro, pensando se tratar de um grupo de bravos guerreiros.
Mesmo não sendo o que deles se esperava, os artistas circenses se dispõem a ajudar o formigueiro.
167
Figura 1. Capa do VHS do filme “Vida de Inseto”.

Apesar de muitos animais aparecerem no filme, especialmente artrópodes, a obra foi objeto de
poucos estudos com ênfase biológica. Pelo contrário, na maioria os tratados que a abordam são da
área das Ciências Humanas (PRADHANA, 2013) e centram suas análises na jornada épica do
personagem Flick. Uma honrosa exceção é o artigo de FRANCO et al. (2013), que aborda a
possibilidade de uso didático do filme, à luz da Entomologia.

OS PERSONAGENS PRINCIPAIS

Os personagens principais do filme (Figuras 2-16) pertencem a três núcleos. O primeiro deles
é o formigueiro (Figura 17), com destaque para a formiga aventureira Flick (Figura 2), seu par
romântico, a princesa Atta (Figura 3), a princesa infante, Dot (Figura 5), e a rainha (Figura 4). Outro
núcleo importante é a trupe de circo (Figura 23), composto pela joaninha Francis (Figura 8), o bicho-
pau Slim (Figura 9), o louva-a-deus Manny (Figura 6), a mariposa Cigana (Figura 7), a lagarta Chucrute
(Figura 13), a aranha Rosie (Figura 11), o escaravelho Dim (Figura 12), os tatuzinhos-de-jardim Deita
e Rola (Figura 10), além da pulga P.T. Pulga (Figura 14), o dono do circo. Por fim, há o núcleo dos

168
vilões, gafanhotos (Figura 27) liderados pelo malvado Hopper (Figura 16), que conta também com o
boa praça Moult (Figura 15), irmão de Hopper.

ANÁLISE BIOLÓGICA

Formigas
A maioria dos animais é bem caracterizada (FRANCO et al., 2013), com as licenças poéticas
de praxe, como os olhos grandes, com íris e pálpebras, e a postura ereta, além de mãos e pés
humanizados. Esse tipo de estratégia é bastante comum em filmes, conferindo um aspecto
antropomorfizado aos personagens (MARIÑO PÉREZ & MENDOZA ALMERALLA, 2006;
CASTANHEIRA et al., 2015).

2 3 4 5

Figuras 2-5. Principais formigas da animação “Vida de Inseto”: 2, Flick; 3, Atta; 4, Rainha (carregando seu pulgão de
estimação); 5, Dot. Fonte: Disney®, Google Imagens.

As formigas (Hymenoptera: Formicidae) têm uma organização social bem definida, centrada na
fêmea principal, a rainha, que durante o filme tem a principal função de ensinar suas tarefas à sua
filha princesa e que apresenta características morfológicas relativamente distorcidas, dentro da licença
poética. Como o fato das “bochechas” da rainha serem caídas para representar um indivíduo idoso,
coisa que não acontece com formigas reais, que não apresentam músculos faciais expressivos. Da
mesma forma, a rainha se mostra bem menor do que todos os outros indivíduos do formigueiro - na
realidade, as rainhas de formigas são bem mais desenvolvidas que todos os outros integrantes do
formigueiro. As formigas são caracterizadas por possuírem, no geral, antenas geniculadas, pedículo
abdominal com um ou dois segmentos; no caso das rainhas e das reprodutoras, há a presença de
asas – dois pares membranosos, sendo as posteriores menores.
No filme, observamos que a princesa Dot possui asas, assim como as outras formigas filhotes
do “grupo de formigas escoteiras”, e que ao longo do filme, ela passa pelo drama de ainda não saber
169
voar como as outras pequenas. Nesse caso, há uma incorreção biológica, já que formigas “filhotes”,
as larvas, ainda não têm asas e nem mesmo poderiam voar.
Em uma das cenas, as formigas operárias, adequadamente sem asas, carregam alimentos para
dentro do formigueiro para o grande estoque do inverno - um comportamento popularmente conhecido
das formigas. E, de repente, uma folha cai no meio da fila de formigas. O desespero se abate sobre
todas as restantes: estão perdidas porque perderam a trilha de feromônio deixada pelas que já
passaram (Figura 18). Esse é um comportamento já estudado nas formigas, no caso, elas deixam um
rastro da substância para trás, e as outras formigas se guiam pelo olfato. Quando tal rastro é
interrompido, de fato as formigas ficam desorientadas e precisam reencontrar o odor da substância
(GRONENBERG, 2008). No filme é diferente, há uma formiga suporte que ajuda a outra a contornar
o obstáculo.

Figuras 6-16. Alguns dos principais personagens da animação “Vida de Inseto”: 6, Manny; 7, Cigana; 8, Francis; 9, Slim;
10, Deita e Rola; 11, Rosie; 12, Dim; 13, Chucrute; 14, P.T. Pulga; 15, Moult; 16, Hopper. Fonte: Disney®, Google Imagens.
170
Logo nas primeiras cenas do filme, vê-se que a rainha carrega um pulgão no colo (Figura 19),
como se fosse um animal de estimação, um tipo de cão de companhia, até latindo em alguns
momentos. Na natureza, há realmente uma relação estreita entre algumas formigas e os pulgões: elas
predam os inimigos naturais desses insetos como parte de sua própria dieta; elas ainda criam colônias
de pulgões e defendem-nas de forma feroz. Na outra via dessa relação simbiótica, os pulgões
fornecem substâncias açucaradas (chamadas exsudatos), uma rica fonte de carboidratos, e, de fato,
no filme o que vimos é a relação relativamente amigável entre os dois insetos, exceto pelo fato de que
há somente um pulgão, criado livremente como ‘pet’. Os pulgões (Hemiptera: Aphididae) possuem
peças bucais como estiletes e podem ou não possuir asas. No filme, vemos que o pulgão possui a
maior parte das características, exceto pelo rosto antropomorfizado, incluindo as cornículas, tubos
dorsais do final do abdômen (Figura 20). As relações entre formigas e insetos da ordem Hemiptera,
mais especificamente das subordens Sternorrhyncha e Auchenorrhyncha (como no caso da Figura
21) foram revisadas por DELABIE (2001).

Figura 17. O interior do formigueiro. Fonte: Disney®, Google Imagens.

Figura 18. Formiga ajudando as companheiras a contornarem a folha. Fonte: Disney®, Google Imagens.
171
19 20

Figuras 19-20. 19, Atta e a rainha, segurando o pulgão; 20, o pulgão de estimação. Fonte: Disney®, Google Imagens.

Após alguns minutos de filme, o protagonista Flick se propõe a missão de ir até a cidade
procurar outros insetos para conseguir defender o formigueiro do ataque dos gafanhotos perversos.
Essa é uma relação bastante interessante de ser observada, porque a guerra “gafanhotos versus
formigas” está presente em diversas fábulas e histórias infantis, fornecendo lições de moral sobre
esforço, foco e determinação no trabalho. No caso, a versão mais comumente reproduzida é de que
o gafanhoto era preguiçoso e as formigas faziam todo o trabalho (CROXALL, 1811). Em “Vida de
Insetos”, observamos uma versão diferente da história, em que os gafanhotos são animais perversos
que ameaçam a integridade física e a vida das formigas, caso não recebam em troca uma parcela de
todos os grãos que elas recolhem durante o verão. E aí que está o maior erro: formigas não precisam
temer gafanhotos, o que ocorre em realidade é exatamente o contrário: as formigas estão entre os
mais destacados predadores dos gafanhotos (FULLER & JOERN, 1996), usando sua vantagem
numérica. Sobre esse tema, Hopper avisou a seu grupo: “gafanhoto: deixe uma formiga te afrontar e
todas vão criar problema; elas estão em maior número do que nós”. Usando sua supremacia numérica,
as formigas frequentemente capturam insetos muito maiores (Figura 22).

21 22

Figuras 21-22 - Interações das formigas com Auchenorrhyncha, em Penedo, Itatiaia, RJ: 21, formigas tomando conta de
indivíduos da família Aethalionidae; 22, formigas predando um exemplar da família Cicadellidae. Fotos: E.R. Da-Silva.
172
Trupe do circo
Quando Flick, então, chega à cidade, o filme mostra todos os outros táxons de artrópodes que
veremos, tanto os “figurantes” quanto os principais personagens que irão ajudar Flick e o formigueiro
na defesa contra os gafanhotos. O primeiro integrante da trupe dos insetos (Figura 23) é a joaninha
Francis, que, no caso, é macho. Provavelmente pertencente à espécie Coccinella novemnotata
Herbst, 1793 (Coleoptera: Coccinellidae), Francis traz à tona o simbolismo da joaninha. Por algum
motivo, as joaninhas são sempre colocadas como insetos femininos, ou simbolizando algo que seja
fofo, delicado, feminino, e sempre há certa confusão quando lembram a existência dos machos de
joaninha ou quando o inseto é colocado como macho em alguma produção. É exatamente esse ponto
de “Vida de Inseto”: a joaninha do filme tem cílios longos, olhos femininos e é um inseto bastante
delicado, que logo na primeira cena em que aparece ganha uma cantada de moscas da plateia do
circo. Francis passa boa parte do tempo em que está no formigueiro tentando convencer as formigas
filhotes de que ele é realmente ele, e não uma fêmea - enquanto as formigas permanecem chamando
Francis de “senhora” e o colocam como madrinha do grupo de formigas escoteiras - e o
questionamento do simbolismo é colocado com graça, até que, no final, Francis simplesmente aceita
que as formiguinhas não deixarão de lado a “feminilidade” da joaninha. Esse é um ponto bastante
interessante para se tratar com alunos, e não só nas Ciências Biológicas, mas também nas Ciências
Sociais, criando questionamentos sobre o problema de uma sociedade voltada para um padrão binário
de gênero e com estereótipos pré-definidos, onde uma mulher deve se parecer com o “estereótipo de
mulher” e um homem com o “estereótipo de homem”. Vale destacar que a joaninha é um dos insetos
mais populares, sendo bastante retratado em manifestações culturais (ZABALA et al., 2003). Além
disso, a provável espécie de Francis já foi amplamente distribuída na América do Norte, mas está em
franco declínio populacional (KOCH, 2011). Segundo TURNIPSEED et al. (2014), um dos motivos de
tal declínio pode ser a competição com Coccinella septempunctata Linnaeus, 1758, espécie originária
da Região Paleártica e introduzida na América do Norte (ZABALA et al., 2003). Isso pode ser um
interessante ponto de partida para se discutir a questão da introdução de espécies exóticas e da
competição interespecífica.
Além de Francis, outros Coleoptera da trama são Dim, o besouro da trupe, dois vaga-lumes
(Figura 24) que permanecem com P.T. Pulga no circo, além de outros besouros que aparecem como
figurantes. Há diversas cenas em que Dim aparece voando, mas a mais memorável é quando o
besouro, com Flick, vai resgatar a princesa infante Dot, prestes a ser devorada por um pássaro. Na
cena, conseguimos escutar o som do bater de élitros de Dim, que é tão alto quanto o som de um
helicóptero. No caso, essa é uma técnica bastante interessante para caracterizar as asas anteriores
rígidas dos Coleoptera, que servem para proteção das asas posteriores, membranosas e delicadas.
Os élitros acabam atrapalhando o voo de besouros, e por isso teriam um “som de helicóptero” no filme.
173
Além dos élitros, os besouros podem apresentar chifres, como os de Dim, caracteristicamente típicos
da subfamília Dynastinae (Scarabaeidae) ou serem luminescentes, como os vaga-lumes da família
Lampyridae. Assim, os besouros estão bem caracterizados no filme, guardadas as licenças poéticas.

Figura 23 - A trupe circense. Fonte: Disney®, Google Imagens.

Outro membro da trupe é a lagarta Chucrute, da ordem Lepidoptera, que ao longo de todo filme
espera ansiosamente pela sua metamorfose para, então, ter suas asas de mariposa (provavelmente
da família Saturniidae). Sendo um membro da ordem, claramente Chucrute deve passar pela
metamorfose em algum momento - já que, no enredo, esse seria seu “final feliz” - e como é observado
no final, cria asas extremamente pequenas (Figura 25). A ordem Lepidoptera conta com indivíduos
com dois pares de asas membranosas cobertas de escamas, com cores extremamente variadas, e
com peças bucais adaptadas à sucção. Dispõe, para tal, da espiritromba, que permanece enrolada
quando está de repouso e é utilizada exatamente para sugar o néctar. Todos possuem a fase de
metamorfose, quando criam um casulo para si e ali ficam até completar a transformação. No caso do
filme, é interessante apontar que após a metamorfose, Chucrute continua exatamente o mesmo, com
exceção das novas asas.

Figura 24 - Os vagalumes. Fonte: Disney®, Google Imagens.


174
Cigana é uma mariposa bem caracterizada, embora apresente um “rosto”, com um longo nariz
alusivo à espiritromba característica dos Lepidoptera. Ela ajuda seu marido com as mágicas do show,
usando mimetismo, e essa habilidade é usada novamente na cena final, quando Cigana faz Hopper,
o gafanhoto líder, ficar desnorteado e fugir, logo antes das formigas tomarem as rédeas da situação.
É interessante observar que a face dorsal das asas forma o desenho semelhante ao de olhos de ave
(Figura 26), o que é visto na natureza em algumas famílias de borboletas e mariposas (STEVENS &
RUXTON, 2014), como Nymphalidae e Saturniidae. Porém, os grupos que apresentam tal estratégia
de defesa costumam ter as manchas ocelares na face ventral das asas (p.ex., DE BONA et al., 2015).
Cigana é casada com Manny, o mágico louva-a-deus, em um dos maiores erros biológicos do filme.

25 26

Figuras 25-26 – 25, Chucrute após a metamorfose, com suas asas diminutas; 26, Cigana mostrando suas marcações
ocelares nas asas anteriores. Fonte: Disney®, Google Imagens.

Manny, o louva-a-deus (Mantodea), é o mágico da trupe, assumindo todo o caráter místico que
envolve o inseto - que, nos filmes, é sempre colocado como um personagem místico ou poderoso,
sendo até mesmo relacionado com modalidades de luta, como o Kung Fu, com estilos baseados no
movimento do inseto (ROBERT Z, 1998). No caso, Manny assume a maior parte das características
do táxon: cabeça triangular, tórax estreito e abdômen bem desenvolvido, com pernas anteriores
modificadas para a função raptorial. Assim como a rainha do formigueiro, tem os “músculos faciais”
relaxados, representando uma idade avançada.
Slim, o bicho-pau (Phasmatodea), que é bastante parecido com um exemplar real,
apresentando as asas pequenas para voo e duas antenas grandes no topo da cabeça. No caso de
Slim, todo o filme brinca com o mimetismo dos bichos-pau, fazendo com que, na trupe, o personagem
seja sempre usado como um graveto, poste ou qualquer outra coisa que faça alusão a um graveto.
Quando Francis, a joaninha, e Slim saem em perseguição ao gafanhoto Hopper, que estava com Flick,
Slim fica preso em um emaranhado de galhos e Francis não consegue encontrá-lo.
Há também a viúva-negra Rosie, provavelmente do gênero Latrodectus Walckenaer, 1805
(Arachnida: Araneae: Theridiidae), que é a tecelã da trupe e produz rapidamente teias para os truques

175
circenses. Ela tem a maior parte das características de uma viúva-negra, exceto pelo “rosto”
humanizado, com apenas um par de olhos, maçãs do rosto proeminentes, lábios com batom e
ausência de queliceras. Rosie produz suas teias usando as mãos, enquanto as aranhas reais têm
apêndices especializados no abdome, as fiandeiras, para tal finalidade. Além de Rosie, vemos uma
aranha que toca bateria e tem a morfologia mais ou menos parecida com a de uma aranha real, mas
que não possui queliceras nem os quatro pares de olhos comuns em Araneae.
Os últimos integrantes da trupe, Deita e Rola, são tatuzinhos-de-jardim (Crustacea: Isopoda:
Oniscidea). Literalmente eles sempre rolam durante as apresentações, explorando uma peculiaridade
real desses animais, que enrolam o corpo como forma de proteção contra o ataque de predadores
(LISBOA et al., 2013).

Figura 27. O bando de gafanhotos, liderado por Hopper. Fonte: Disney®, Google Imagens.

A vilania de determinados grupos taxonômicos


Outra questão interessante a ser abordada é a vilania dos gafanhotos e da pulga P.T. Pulga, o
dono do circo. Em uma espécie de releitura mais moderna da clássica fábula do escritor grego Esopo
“A Cigarra e a Formiga” (na qual, possivelmente, “cigarra” é uma tradução errada de gafanhoto), os
gafanhotos são colocados como insetos malignos que, nesse caso, escravizam as formigas para obter
uma parcela do alimento estocado. Enquanto que a pulga, inseto naturalmente vilanizado por ser uma
praga de importância médico-veterinária, é colocada como o chefe tirânico da trupe, tratando a todos
muito mal. Talvez isso esteja embutido na cabeça do público em geral justamente pela fábula e pela
história da pulga nos animais de estimação. Mas o fato é que em “Vida de Inseto” os dois grupos são
colocados como vilões.
Os gafanhotos estão entre os insetos mais odiados, principalmente por sua atuação no ataque
de plantações agrícolas. Pragas de destacada importância econômica, foram citados na bíblia cristã
(SILVA et al., 2013; BIDAU, 2014) como um dos instrumentos de agressão do deus hebreu aos antigos
egípcios. Além disso, na cultura de muitos povos os gafanhotos são tidos como criação do demônio
(ALMEIDA, 2013). Em “O Exorcista II – O Herege” (Warner Bros., 1977), continuação não tão badalada
176
do clássico do terror “O Exorcista”, o demônio assume o corpo de um gafanhoto em processo de
enxameamento, destruindo as plantações agrícolas na África.
Os gafanhotos (Orthoptera: Caelifera: Acrididae) do filme são caracterizados por possuírem o
fêmur das pernas posteriores muito grandes e fortes, dando a esses animais a principal característica
pela qual são conhecidos: o salto. Também apresentam antenas curtas, abdômen bem desenvolvido,
hexapodia, asas anteriores fortes, protegendo as posteriores, e posteromotorismo (Figura 28). A
ecdise é observada em uma das cenas do filme: ao tomar um susto, Molt, o irmão de Hopper, deixa
para trás sua exúvia esbranquiçada (Figuras 30-31). Esse é mais um erro biológico do filme pois, ao
contrário do que ocorre com alguns outros artrópodes, insetos adultos não sofrem ecdise.
Curiosamente o nome do personagem é muito semelhante ao termo em inglês para muda (sinônimo
mais popular de ecdise): “moult”. Personagem bem-humorado e bonachão, Molt é uma interessante
contraparte à vilania dos gafanhotos, personificada por seu irmão e líder do bando. Outro gafanhoto
com algum destaque individual é Thumper (Figura 30), uma criatura selvagem e agressiva, que age
como braço armado e feroz de Hopper. Thumper seria o equivalente vilânico do pulgão da rainha das
formigas, ou seja, também um animal de estimação. Não chega a latir como o pulgão, mas rosna
ferozmente. Outra característica biológica observada é o uso sensorial das antenas por parte dos
insetos: em uma cena, o vilão Hopper inspeciona a princesa Atta com suas antenas (Figura 29).
Por sua vez, a pulga, além de atualmente atormentar a vida de criadores de animais
domésticos, especialmente cães e gatos, é transmissora da bactéria que causa a peste, doença que
dizimou grande parcela da população humana em três grandes pandemias (FRANÇA et al., 2012). A
pulga (Siphonaptera) do filme tem algumas das características comuns da ordem, como a distribuição
de cerdas no corpo, além do tórax e abdômen fortemente fusionados. Por outro lado, possui apenas
dois pares de membros locomotores.

Personagens secundários e demais situações biológicas


Fora os principais insetos, há também outros grupos de Arthropoda vistos na viagem de Flick
à cidade. Um opilião (Arachnida: Opiliones) aparece brevemente na trama, com as pernas alongadas
características e o cefalotórax fortemente fusionado ao abdômen. Dois gongolos (Myriapoda:
Diplopoda) puxam a carruagem do circo (Figura 33), outro é um mímico de rua (Figura 34) e um quarto
é massagista (Figura 35). Todos têm o corpo cilíndrico típico de Diplopoda, além de um par de antenas
e muitos pares de pernas, embora não com os característicos dois pares por diplossomito. Há também
baratas (Blattodea), com antenas longas (uma das baratas não tem as características cerdas nas
pernas); uma libélula (Odonata), que passa rapidamente em cenas, mas pode-se perceber que ela
possui as asas longas e transparentes e o abdômen bem desenvolvido.

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Figuras 28-32 – 28, Hopper em voo; 29, Hopper inspecionando Atta com as antenas; 30, Thumper sendo contido por
outros gafanhotos; 31, momento em que Moult completa a ecdise; 32, ataque das formigas, lançando a exúvia de Moult
para o alto. Fonte: Disney®, Google Imagens.

Diversas moscas (Diptera) estão presentes no filme (Figuras 36-38), com antenas curtas, olhos
característicos e cerdas ao longo do corpo. Os omatídeos são mostrados, através de uma projeção
da visão das moscas (Figura 41). Também aparecem larvas de mosca que, na licença poética,
possuem olhos e boca, além de estarem sendo cuidadas pelo adulto (Figura 37). Outras moscas
“jovens” são como que adultos menores, o que não acontece com insetos de desenvolvimento
holometabólico, da mesma forma do que acontece com as formigas. O que seria uma probóscide é
representado no filme como um “nariz” grande. As moscas são uma forte presença cômica/satírica no
filme, à semelhança do que COELHO & DA-SILVA (2015) observaram em relação a outra animação,
“Minúsculos – O Filme”. Também mosquitos (Diptera: Culicidae) aparecem no filme, com asas
anteriores e um par de halteres, que servem como órgãos de equilíbrio. Há uma probóscide que serve
para sugar néctar, seiva ou sangue, e, no geral, os machos possuem antenas plumosas e fêmeas têm
antenas pilosas e são mais corpulentas. No filme, vemos um mosquito sugando uma gota de sangue,
em um bar (Figura 40), e um grupo de mosquitos servindo de garçons para os gafanhotos.

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Figuras 33-35 – Gongolos: 33, gongolos que puxam a charrete; 34, mímico, ao lado de Flick; 35, massagista. Fonte:
Disney®, Google Imagens.

Figuras 36-41. 36, Moscas discutindo com Francis; 37, mosca adulta cuidando das larvas; 38, mosca abordando P.T.
Pulga; 39, inseto atraído para a luz; 40, mosquito se alimentando de uma gota de sangue, observado por Flick; 41, Francis
sob a visão multifacetada da mosca. Fonte: Disney®, Google Imagens.
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Figura 42. Os insetos se protegendo do ataque do pássaro, refugiados entre os ramos com espinhos. Fonte: Disney®,
Google Imagens.

Figura 43. Pássaro levando Hopper para os filhotes no ninho. Fonte: Disney®, Google Imagens.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da observação do filme, muitos temas interessantes do campo das Ciências Naturais
podem ser trabalhados em aulas regulares. Com a devida adequação de nível de profundidade, há
conteúdos passíveis de aplicação tanto no ensino superior quanto nos ensinos médio e fundamental.
Os temas vão desde os mais específicos, ligados à Zoologia (caracterização morfológica) até
conceitos biológicos gerais (alimentação, predação, competição, mutualismo, colonialismo,
reprodução, ciclo de vida) e aplicados (controle biológico, conservação ambiental, redução
populacional, introdução de fauna). Todos esses conceitos e temas podem ser utilizados para
enriquecer as aulas, transmitir conteúdos e despertar o interesse dos alunos. Como obras ficcionais,
os filmes não estão obrigatoriamente compromissados a abordar cientificamente conteúdos de
Ciências Naturais. E é aí que deve entrar o grau de discernimento do professor, ao ministrar os
conhecimentos e conduzir adequadamente as atividades. Para uso didático, até mesmo eventuais
incorreções ou exageros biológicos são interessantes para serem abordados pelo professor, levando
à discussões muito proveitosas.
180
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