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ANAIS
DO
CDD: 595.7
CDU: 59
ANAIS
DO
ARTIGOS COMPLETOS
Ano da publicação: 2016
Organizado por:
ii
III SIMPÓSIO DE ENTOMOLOGIA DO RIO DE JANEIRO
Vice-Reitor
Ricardo Silva Cardoso
Pró-Reitor de Graduação
Alcides Wagner Serpa Guarino
Instituto de Biociências
Diretor
Carlos Henrique Soares Caetano
Fomento:
iii
III SIMPÓSIO DE ENTOMOLOGIA DO RIO DE JANEIRO
iv
III SIMPÓSIO DE ENTOMOLOGIA DO RIO DE JANEIRO
Apresentação
O Estado do Rio de Janeiro abriga um grande número de instituições que realizam pesquisas
científicas sobre insetos, com a orientação de muitos estudantes de graduação e pós-graduação. O
Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro congrega professores, pesquisadores e estudantes de
diferentes áreas, todos interessados em questões relativas à Entomologia, para a divulgação de
pesquisas e troca de experiências, promovendo a integração das instituições fluminenses. Seguindo-
se a filosofia das duas primeiras edições, realizadas respectivamente no Museu Nacional/UFRJ e na
FIOCRUZ, o III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro teve por objetivo oferecer ao público uma
abordagem multidisciplinar, promover o debate e divulgar as variadas linhas de pesquisa em
andamento nas diversas instituições nacionais, especialmente do Estado do Rio de Janeiro.
Diante do sucesso do III EntomoRio, e face à qualidade dos resumos apresentados, concretizou-se a
ideia de se organizar um documento com artigos completos, feitos com base nos temas livres e
palestras apresentados. E o resultado é a presente publicação, que consiste no relato de pesquisas a
partir de duas das palestras proferidas e mais quinze artigos elaborados por autores de resumos
apresentados no evento. Como introdução, há um artigo que analisa comparativamente os
quantitativos de temas, autores e instituições entre as três edições já realizadas do Simpósio de
Entomologia do Rio de Janeiro.
v
Revisão dos artigos
Todos os artigos foram avaliados pela comissão científica quanto aos critérios de formato e conteúdo,
conforme regulamento divulgado. Os artigos deveriam conter resultados de atividades de pesquisa
em Entomologia. O conteúdo dos artigos é de inteira responsabilidade dos respectivos autores.
vi
SUMÁRIO
PRIMEIRO REGISTRO DO GÊNERO Leptogaster MEIGEN, 1803 (DIPTERA: ASILIDAE) NO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO E SUA ABUNDÂNCIA NA RESERVA BIOLÓGICA DA UNIÃO (RJ, BRASIL)
.................................................................................................................................................................................. Pág. 070
Balclutha hebe KIRKALDY, 1906 AND Curtara atomaria (STÅL, 1862), NON-SEASONAL LEAFHOPPERS IN A
SEASONAL ENVIRONMENT (HEMIPTERA: CICADELLIDAE) ………………………………………………………… Pág. 084
APLICAÇÃO DA ENTOMOLOGIA FORENSE EM CASOS JUDICIAIS NO PROJETO O JÚRI E A PERÍCIA ......... Pág. 120
ANÁLISE DO FILME DE ANIMAÇÃO “VIDA DE INSETO” À LUZ DA BIOLOGIA ANIMAL ...................................... Pág. 166
vii
ARTIGO INTRODUTÓRIO
1
DA-SILVA, E.R. et al. 2016. A cienciometria do EntomoRio – um breve retrato da pesquisa entomológica no Estado do Rio
de Janeiro. In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de
Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 2-10.
RESUMO
O Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro (EntomoRio) é um evento científico bianual que congrega
professores, pesquisadores e estudantes de diferentes áreas do estudo dos insetos, para a divulgação de
pesquisas e troca de experiências. A análise cienciométrica dos trabalhos apresentados nas três edições (2011,
2013 e 2015) já realizadas do evento pode representar um breve retrato da pesquisa entomológica no estado.
Um total de 447 pesquisadores participaram da autoria de resumos de temas livres, representando 52
instituições, algumas de outros estados e até do exterior. Três ordens de insetos se destacam entre as mais
estudadas: Coleoptera, Diptera e Hemiptera. Fica clara a vocação do Estado do Rio de Janeiro para estudos
taxonômicos, o que explica a grande quantidade de novos táxons propostos nos resumos. Somando-se as três
edições do evento, foram apresentados trabalhos versando sobre quatro gêneros e 130 espécies novos,
número bastante significativo. Também se destacam os inventários faunísticos, tão importantes no
mapeamento da distribuição das espécies.
ABSTRACT
___________________
1
Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3
Laboratório Insetos Aquáticos, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
4
Autor correspondente: elidiomar@gmail.com.
2
INTRODUÇÃO
MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo cienciométrico foi realizado a partir dos livros de resumos das três edições
do EntomoRio, realizadas nos anos de 2011, 2013 e 2015. A classificação das ordens de Hexapoda
3
citadas seguiu RAFAEL et al. (2012). As abreviaturas das instituições são as seguintes: CONICET
(Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas – Argentina); JBRJ (Jardim Botânico do
Rio de Janeiro); FIOCRUZ (Fundação Instituto Oswaldo Cruz); IFES (Instituto Federal do Espírito
Santo); IFRJ (Instituto Federal do Rio de Janeiro); INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia); UCB (Universidade Castelo Branco); UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro);
UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia); UEZO (Universidade Estadual da Zona Oeste);
UFBA (Universidade Federal da Bahia); UFC (Universidade Federal do Ceará); UFES (Universidade
Federal do Espírito Santo); UFF (Universidade Federal Fluminense); UFJF (Universidade Federal de
Juiz de Fora); UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais); UFMT (Universidade Federal de Mato
Grosso); UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto); UFPB (Universidade Federal da Paraíba);
UFPel (Universidade Federal de Pelotas); UFPR (Universidade Federal do Paraná); UFRGS
(Universidade Federal do Rio Grande do Sul); UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro); UFRRJ
(Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro); UFSM (Universidade Federal de Santa Maria); UFU
(Universidade Federal de Uberlândia); UFV (Universidade Federal de Viçosa); UnB (Universidade de
Brasília); UNESP (Universidade Estadual Paulista); UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas);
UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo); UniFOA (Centro Universitário de Volta Redonda);
UNIGRANRIO (Universidade do Grande Rio); UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro); UCDB (Universidade Católica Dom Bosco); USP (Universidade de São Paulo).
AUTORES E INSTITUIÇÕES
Tabela 1. Número de resumos (temas livres) nas diferentes edições do EntomoRio de acordo com a instituição do primeiro
autor. As instituições que sediaram as edições estão marcadas.
5
as pesquisas. Isso é um indício demonstrador que o EntomoRio se firma como uma excelente opção
de evento não só em termos locais, mas no âmbito nacional. Com otimismo, pode-se prever uma
participação cada vez mais efetiva de pesquisadores oriundos de outros países da América Latina,
principalmente aqueles carentes em eventos locais de Entomologia e Zoologia.
Tabela 2. Número de resumos (temas livres) nas diferentes edições do EntomoRio de acordo com a instituição,
considerando-se todos os autores. As instituições que sediaram as edições estão marcadas.
6
Tabela 3. Número de resumos (temas livres) nas diferentes edições do EntomoRio de acordo com a procedência do
primeiro autor (Estado do Rio de Janeiro; outros estados do Brasil; exterior).
Tabela 4. Número de resumos (temas livres) nas diferentes edições do EntomoRio de acordo com a procedência dos
autores e coautores (Estado do Rio de Janeiro; outros estados do Brasil; exterior); n= total de resumos do evento.
Face às exigências de produção e à cada vez maior complexidade das pesquisas, não é
surpreendente a grande quantidade de coautorias nos trabalhos submetidos ao EntomoRio (Tabela
5). As três edições do evento tiveram número máximo de autores por resumo de dez, onze e oito,
respectivamente. A média foi em torno de três autores por resumo nas três edições. Vale destacar
que apenas nove resumos (em um total de 244, ou seja, 3,69%) foram de autoria única.
Tabela 5. Quantitativo do número e média de autores por resumo (temas livres) nas diferentes edições do EntomoRio;
n= total de resumos do evento.
NÚMERO DE AUTORES / RESUMO ENTOMORIO I (n=69) ENTOMORIO II (n=89) ENTOMORIO III (n=86)
1 2 2 5
2 20 30 33
3 18 18 19
4 7 9 11
5 4 12 11
6 4 8 2
7 0 7 2
8 2 0 3
9 1 1 0
10 1 0 0
11 0 2 0
MÉDIA 3,23 3,82 3,22
Dentro desse cenário, era de se esperar uma quantidade significativa de parcerias entre autores
de instituições diferentes. Porém, de modo surpreendente, a maior parte das parcerias observada nos
resumos é dentro da mesma instituição. Porém, parece existir uma tendência ao incremento das
colaborações interinstitucionais, posto que o percentual relativo vem aumentando a cada edição:
20,29% no EntomoRio I, 28,09% no EntomoRio II e 34,88% no EntomoRio III (Tabela 6). Vale ressaltar
que as parcerias ocorridas entre diferentes setores de uma mesma instituição não foram consideradas
“interinstitucionais”. Assim, por exemplo, resumos que contenham apenas profissionais do Instituto de
Biologia e do Museu Nacional (ambos pertencentes à UFRJ) como autores, foram considerados de
instituição única.
7
ORDENS
Tabela 6. Totalização e percentual de parcerias interinstitucionais versus resumos de instituição única nos resumos (temas
livres) das diferentes edições do EntomoRio; n= total de resumos do evento.
Outras pesquisas também podem ser consideradas como típicas do Estado do Rio de Janeiro,
abordando Collembola (no Museu Nacional) e insetos aquáticos, incluindo os grupos Odonata,
Ephemeroptera, Plecoptera, Nepomorpha, Gerromorpha, Trichoptera, Chironomidae, Dytiscidae,
Hydrophilidae e Elmidae (na UFRJ e na UNIRIO). O grande desenvolvimento de tais estudos é muito
relacionado à atuação do Prof. Jorge Luiz Nessimian (Instituto de Biologia), que formou e forma
gerações de pesquisadores na área.
TEMAS
Em que pese o incremento de estudos mais analíticos, com base nas pesquisas apresentadas
no EntomoRio, fica clara a vocação do Estado do Rio de Janeiro a estudos preponderantemente
taxonômicos (Tabela 8), o que explica a grande quantidade de novos táxons propostos. Já se pode
8
até dizer que é tradição do EntomoRio a revelação de gêneros e espécies novos. Somando-se as três
edições do evento, foram apresentados trabalhos versando sobre quatro gêneros e 130 espécies
novos (Tabela 9), número bastante significativo.
Tabela 7. Número de resumos (temas livres) nas diferentes edições do EntomoRio de acordo com a ordem dos insetos
abordados; n= total de resumos do evento. As três ordens de maior destaque estão marcadas.
Tabela 8. Número de resumos (temas livres) nas diferentes edições do EntomoRio de acordo o tema principal da pesquisa;
n= total de resumos do evento. Os dois temas de maior destaque estão marcados.
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Tabela 9. Número de gêneros e espécies novos mencionados nos resumos (temas livres) das diferentes edições do
EntomoRio; n= total de resumos do evento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MACIAS-CHAPULA, C.A. 1998. O papel da informetria e da cienciometria e sua perspectiva nacional e internacional.
Ciência da Informação 27(2): 134-140.
RAFAEL, J.A.; MELO, G.A.R.; CARVALHO, C.J.B.; CASARI, S.A. & CONSTANTINO, R. (eds.). 2012. Insetos do Brasil:
Diversidade e Taxonomia. Holos Editora, Ribeirão Preto.
SANDES, A.R.R. & DI BLASI, G. 2000. Biodiversidade e diversidade química e genética. Biotecnologia, Ciência e
Desenvolvimento 13: 28-32.
SANTOS, T. & LIMA FILHO, G.F.L. 2012. Para que serve um marimbondo? Ensaio cienciométrico sobre a disciplina de
Zoologia no curso de Ciências Biológicas. Revista Eletrônica de Educação da Faculdade Araguaia 2(2): 605-610.
SHIMANO, Y.; SALLES, F.F. & JUEN, L. 2013. Study of the mayfly order Ephemeroptera (Insecta) in Brazil: a
scienciometric review. Revista Brasileira de Entomologia 57(4): 359–364.
10
ARTIGOS ELABORADOS A PARTIR DE PALESTRAS
11
MACEDO, M.V. et al. 2016. Ensinar e aprender Ciências e Biologia com os insetos. In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar,
V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 12-23.
RESUMO
O ensino de Ciências e Biologia baseado unicamente em aulas teóricas, que utilizam apenas representações
prontas, não permite ao aluno os importantes passos da vivência da realidade estudada e o desenvolvimento
de habilidades e competências necessárias à formação de um cidadão crítico e participativo. Esse trabalho tem
como objetivos apresentar e desenvolver sugestões de como utilizar os insetos no processo ensino-
aprendizagem de Ciências e Biologia na Educação Básica, de maneira a aproveitar melhor o potencial que
esses organismos e estas disciplinas têm para a formação integral do indivíduo. Iniciamos justificando, em
termos práticos e pedagógicos, o uso dos insetos como ferramentas de ensino na Educação Básica, chamando
atenção para suas possibilidades e facilidades. Sugerimos e descrevemos conteúdos e estratégias que podem
ser desenvolvidos a partir do trabalho com insetos, apresentando alternativas para diferentes perfis de
infraestrutura escolar e explorando espaços dentro ou, principalmente, próximos da escola que permitam e
estimulem observações, perguntas e debates. Consideramos também a importância da formação do professor,
receptividade e apoio da escola para que os objetivos sejam alcançados.
ABSTRACT
Keywords: activities; Basic Education; classroom; field work; laboratory; learning; teaching tool.
___________________
1
Laboratório de Ecologia de Insetos, Departamento de Ecologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Autor correspondente mvmacedo@biologia.ufrj.br.
12
INTRODUÇÃO
Apesar da estrutura ainda um tanto enrijecida da sala de aula, marcada pelo processo passivo
de transmissão-recepção do conhecimento, a evolução de teorias e práticas educacionais tem aberto
a possibilidade para novas formas de abordar conteúdos, de modo a estimular nos alunos o
desenvolvimento de um conjunto de atitudes e habilidades, tais como: saber aprender, pesquisar,
selecionar informações, identificar evidências, concluir e comunicar, explicar conclusões, entre outras
(um detalhamento sobre as habilidades pode ser lido em CAZELLI & FRANCO, 2001).
O ensino de Ciências e Biologia baseado unicamente em aulas teóricas, ainda muito comum,
prejudica o aluno, pois o deixa em um estado permanente de objeto (DEMO, 2002). Na sala de aula,
a utilização de representações prontas e acabadas não permite ao aluno os importantes passos da
vivência da realidade estudada, durante a qual irão ocorrer as impressões estéticas motivadoras da
conduta e do aprendizado, e a elaboração de hipóteses (característica fundamental do pensamento
científico) sobre o fenômeno observado (FONSECA & CALDEIRA, 2008). Como afirmou CALDEIRA
(2005):
“O ensino de Ciências não deve fundamentar-se na memorização de conteúdos
distantes da realidade dos alunos, mas precisa permiti-lo a elaboração de sua própria
interpretação. Mais do que ensinar ciências é preciso possibilitar o raciocinar sobre e
através de fenômenos naturais. ”
A maioria das crianças são aprendizes concretos, capazes de pensar de forma hipotética
apenas quando lidam com exemplos concretos. O pensamento formal se desenvolve plenamente
somente em algum momento entre os 14 anos e a idade adulta. Assim, teorias e conceitos científicos
podem parecer altamente abstratos para a maioria dos alunos, mesmo no Ensino Médio e na
faculdade. Por isso faz sentido, para um processo de ensino-aprendizagem de sucesso, que quanto
mais oportunidades práticas e exemplos da vida real se puder fornecer na aula de Ciências, melhor
(MATTHEWS et al., 1997). Nesse contexto, a adoção da pesquisa como pedagogia, como método
didático, deveria ser uma tônica no ensino de Ciências. DEMO (2002), em seu livro “Educar pela
pesquisa”, discutiu que pesquisa e educação não devem ser separados, pois a pesquisa não se basta
em ser o princípio científico, ela precisa também ser princípio educativo. Assim, pesquisa é o meio e
a educação, o fim. Para estimular a pesquisa no aluno, é fundamental que exista na escola e em sala
de aula, ambiente positivo para se conseguir no aluno participação ativa, presença dinâmica, interação
e comunicação fácil.
Nesse contexto, muito mais do que a mera aula expositiva, mesmo acompanhada de textos,
fotos, slides etc., o desenvolvimento do espírito científico requer que várias importantes habilidades
sejam trabalhadas, como a observação, o planejamento, a organização, a associação, a integração,
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que tornam possível a mobilização de conhecimentos para a solução de problemas, em outras
palavras, construir competências. Segundo PERRENOUD (1999), competência é:
No ensino de Ciências e Biologia, os insetos talvez sejam o grupo animal que melhor permita
ao professor oferecer aos alunos oportunidades para a construção de conceitos concretos,
desenvolvimento do pensamento científico e exemplos de vida real (MACEDO et al., 2001). Hoje, o
consenso geral entre os educadores de Ciências é que atividades exploratórias como um elemento
de questionamento têm mais sucesso em cativar o interesse, estimular o pensar, promover a
aprendizagem pela pesquisa e desenvolver o pensamento científico. Nesse sentido, os insetos como
ferramenta de ensino se sobressaem (MATTHEWS et al., 1987).
Há muitos motivos para usar os insetos em sala de aula. Primeiramente, sua enorme riqueza
de espécies, diversidade de adaptações e sucesso evolutivo. São muito abundantes, podendo ser
encontrados em praticamente qualquer lugar e em todas as épocas do ano em nossa região.
Possuem, em geral, tamanho reduzido e ciclo de vida curto, e passam por grandes mudanças físicas
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durante o desenvolvimento, sendo assim excelentes modelos para utilização em demonstrações e
experimentações com objetivos didáticos, sendo fáceis de manter, manusear e criar em laboratório.
Por fim, o entendimento dos insetos pode se constituir na base para uma compreensão mais ampla
da natureza e de seus processos.
Os insetos podem ser usados como modelos para estudos de diversos conteúdos de Ciências
e Biologia, muitas vezes relacionados. A seguir exemplificamos alguns destes conteúdos, mas,
certamente, a lista é ainda maior do que esta apresentada.
Aspectos da biologia (ciclo de vida, metamorfose) e do comportamento animal podem ser
abordados com a criação de alguns insetos. Mostrá-los no ambiente, através de uma pequena saída
de campo ou visita ao jardim da escola também é recomendável. Esse tipo de observação traz o
importante elemento da realidade. Em atividades ao ar livre facilmente encontram-se insetos em
diferentes estágios de desenvolvimento que podem ser trazidos para a sala ou para o laboratório e
criados para observação do ciclo de vida. Pode-se observar o que o inseto está fazendo (repousando,
alimentando-se, acasalando, colocando ovos, cuidando da prole etc.), e algumas de suas
características, como tamanho, forma, cor, defesas.
A ecologia talvez seja o melhor campo para desenvolver conceitos relacionados aos insetos,
através de práticas realizadas em sala, no laboratório e no campo. Pelo seu grande número, eles
participam de virtualmente todas as cadeias e teias alimentares, além de estarem envolvidos nos
diversos tipos de interações ecológicas, como parasitismo/parasitoidismo/predação (+ -),
competição (- -) e mutualismo (+ +). São animais que ocorrem em todos os continentes e em
praticamente todos os ambientes, desde terrestre a aquático, possuindo adaptações específicas para
cada um, além de apresentarem comportamentos muito variados. Esses temas também remetem à
importância dos insetos para o funcionamento dos ecossistemas e da necessidade de sua
preservação e da conservação das áreas naturais. O entendimento das características dos insetos
que levaram ao enorme sucesso do grupo também é uma discussão interessante neste contexto e
que auxilia no entendimento da evolução não apenas dos insetos, mas também de outros grupos
animais.
Em zoologia ao estudar os grupos animais, sua morfologia e suas relações filogenéticas em
mais detalhes, os insetos destacam-se pelo extraordinário número de espécies, formas e hábitos
diferentes. As diversas ordens de insetos com características morfológicas bem evidentes e facilmente
reconhecidas se apresentam como material bastante didático e prático no conhecimento/aprendizado
sobre classificações zoológicas de animais nas diversas categorias taxonômicas. Vários mecanismos
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bioquímicos e fisiológicos básicos existentes nesses animais (que surgiram há mais de 400 milhões
de anos) são compartilhados com a espécie humana, embora outros tantos tenham sofrido
modificações ao longo de sua evolução. Assim, fica fácil entender porque estudos de fisiologia
realizados com insetos tiveram tanto impacto no entendimento dos mecanismos fundamentais que
governam o funcionamento dos seres vivos em geral. Como algumas espécies de insetos transmitem
e causam várias doenças, o professor pode explorá-las, discutindo suas consequências, mas também
suas causas tanto no contexto de programa de saúde, quanto no de ecologia. Um exemplo é o
conhecido mosquito da dengue, para o qual o próprio homem cria condições para reprodução. A
criação de alguns mosquitos (facilmente coletados pelo professor e pelos alunos) em sala ou no
laboratório da escola pode ajudar no entendimento do ciclo de vida e formação de conceitos concretos.
Os insetos foram e ainda são muito usados como material para estudar genética (por exemplo,
modelos de herança, cromossomos ligados ao sexo), biologia do desenvolvimento embrionário,
mecanismos de ação de hormônios esteróides, aspectos da biologia celular, entre outros. A
criação e experimentos com Drosophila melanogaster Meigen, 1830 (Diptera: Drosophilidae), a
mosca-das-frutas, podem ser facilmente realizados em sala ou no laboratório para trabalhar alguns
desses conceitos, inclusive alguns relacionados à evolução.
Os insetos também podem ser muito úteis em Educação Ambiental, em parte por seu
potencial interdisciplinar, mas também por permitir discussões sobre as mudanças ambientais atuais.
Além disso, os insetos são responsáveis por alguns serviços ecossistêmicos essenciais para a nossa
sobrevivência, como a polinização e a ciclagem de nutrientes, sendo, portanto, ótimos exemplos para
serem trabalhados dentro da temática da Educação Ambiental. Alguns jogos e atividades lúdicas
usando os insetos podem ser muito úteis para trabalhar conceitos relacionados à conservação.
Algumas espécies de insetos são importantes pragas na agricultura, enquanto que outras atuam
justamente fazendo o controle biológico dessas pragas, ou seja, mantendo essas populações de
pragas em densidades baixas, causando danos bem reduzidos. Ao falar sobre o controle de pragas,
podem ser levantados alguns pontos interessantes de discussão, como quais características das
formas de cultivo atuais propiciam o aparecimento de pragas, e o papel das interações (herbivoria,
parasitoidismo) na regulação de populações das pragas, sejam elas plantas ou insetos.
A forma como os insetos serão utilizados no ensino de Ciências e Biologia depende muito do
assunto a ser tratado e do objetivo que se quer alcançar. A versatilidade do grupo permite que sejam
realizadas atividades de diferentes níveis de complexidade e em diferentes espaços, oferecendo,
assim, as mais diversas experiências de aprendizado aos alunos. Abaixo são descritos e
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desenvolvidos alguns procedimentos gerais que podem ser usados para trabalhar temas de estudo
em Ciências e Biologia e cujo ajuste do nível de aprofundamento pode tornar a atividade aplicável
para turmas desde a educação infantil até o Ensino Médio.
Em campo
Não há dúvidas de que um trabalho de campo em uma unidade de conservação (Figura 1A) é
a opção ideal, pela diversidade de animais, hábitos, comportamentos e interações que podem ser
encontrados. Portanto, se esta alternativa é possível, ela deve ser a escolhida! Entretanto, sabemos
que para isso são necessários diversos tipos de recursos e disponibilidade de tempo, entre outros. O
interessante quando trabalhamos com insetos é que essas limitações não impedem que uma prática
ao ar livre seja realizada, uma vez que os insetos podem ser encontrados em qualquer lugar. Em uma
breve ida ao jardim da escola ou à praça mais próxima podem ser observadas formigas carregando
folhas para o formigueiro, borboletas alimentando-se em flores, lagartas alimentando-se de folhas ou
mesmo besouros escondidos em sua planta hospedeira, oportunizando momentos ricos para
observação direta relacionada a diversos conteúdos de Ciências e Biologia. Interações, como
herbivoria/parasitismo e mutualismo (ex.: polinização), e tipos de defesa, como camuflagem e
coloração de advertência, entre outros fenômenos, são frequentemente observados, mesmo em
pequenas áreas com vegetação. Nesse tipo de atividade, a curiosidade, a observação atenta e a
investigação são a chave do sucesso, mas procure levar também alguns materiais simples, como lupa
portátil, papel e lápis. Os alunos podem ser solicitados a anotar tudo o que observarem, como as
partes do corpo, o tamanho e a cor do inseto, a planta hospedeira, hábitos e comportamentos, entre
outros aspectos, dependendo do objetivo do trabalho de campo. Um celular ou máquina fotográfica,
mesmo de um modelo simples, ajuda a fazer o registro das observações, inclusive para
compartilhamento entre os colegas e desenvolvimento posterior, enriquecendo o conhecimento de
todo grupo.
Por outro lado, se o objetivo da atividade em campo é coletar insetos para criação em
laboratório, outros materiais serão necessários. Grande parte dos insetos, como lagartas, besouros,
percevejos, cigarras, pode ser coletada de forma simples, manualmente, utilizando-se apenas sacos
ou potes plásticos transparentes para o transporte. Outros grupos de insetos exigem métodos de
coleta mais elaborados, como o uso de armadilhas e rede entomológica (Figura 1B). A coleta de
insetos vivos para criação exige também a preocupação com a coleta de seu alimento. Se o inseto se
alimenta de folhas, estas devem ser coletadas especificamente da planta onde o inseto foi encontrado,
pois espécies de insetos alimentam-se, em geral, de um ou poucos tipos de plantas. No caso de
insetos carnívoros, como louva-a-deus, por exemplo, outros insetos menores devem ser coletados
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para sua alimentação. É importante também o registro de todas as informações de coleta, como local,
data, nome do coletor, planta hospedeira, em uma etiqueta, para posterior registro na caixa
entomológica, se esta for uma opção. Mais detalhes sobre métodos de coleta e montagem de insetos
podem ser encontrados em ALMEIDA et al. (1998). Alternativamente, se possível, os insetos criados
podem ser liberados de volta no local onde foram coletados e esta atividade pode também suscitar a
discussão de diversos aspectos relativos à preservação e conservação, além de princípios e valores
relativos ao respeito à vida e à natureza.
Um ponto importante é a necessidade de obtenção de licença para realização de atividades
como as acima descritas em unidades de conservação. Procure acessar a página do ICMBio (Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) para obter orientações de como fazer essa
solicitação. Este instituto criou um sistema, SISBIO (Sistema de Autorização e Informação em
Biodiversidade) que agiliza a concessão dessa licença e realiza o controle de todas as atividades de
pesquisa e didáticas em unidades de conservação.
A B
Figura 1. Saída de campo para observação de insetos (A) e coleta de insetos com rede entomológica (B).
Em laboratório
A criação de insetos em laboratório pode ser uma atividade bastante enriquecedora para o
ensino de Ciências e Biologia. Por possuírem curto tempo de vida, em poucas semanas pode ser
observado todo o ciclo de vida de um inseto, seus hábitos alimentares e diversos comportamentos.
Pode ser criada uma rotina de cuidados dos insetos, com uma escala entre os alunos, todos se
responsabilizando pelos insetos, trabalhando, além dos conceitos de biologia, senso de
responsabilidade, disciplina e trabalho em equipe. Sugere-se um caderno único onde todos façam as
anotações diárias referentes à criação. Insetos fitófagos (ou herbívoros), aqueles que se alimentam
de tecido vegetal, são mais fáceis de serem criados, pois o seu alimento é mais fácil de ser mantido
em laboratório. Os ramos da planta hospedeira devem ser mantidos em geladeira, dentro de sacos
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plásticos transparentes, com um algodão umedecido na ponta dos galhos; assim as folhas
permanecem frescas e adequadas para alimentação por mais tempo. É importante separar um canto
na sala ou no laboratório para a criação dos insetos, pois essa é uma atividade que pode durar de
duas a três semanas, dependendo do inseto coletado e do seu estágio de vida. Deve-se tentar
minimizar a diferença entre as condições encontradas no campo e as da criação; para isso, sugerimos
que os insetos sejam mantidos em potes plásticos com tampa (Figura 2A) ou em aquários de vidro
(terrários), forrados com papel toalha ou papel higiênico. Para manter a umidade, é preciso borrifar
algumas gotas de água no papel, mas sem encharcar, para evitar a proliferação de fungos. O local da
criação deve ser arejado e sem incidência direta da luz do sol. A cada dois dias o recipiente de criação
deve ser limpo, o papel trocado e o alimento renovado.
Outra atividade interessante que também pode ser realizada é a preparação de uma pequena
coleção de insetos em um meio líquido (álcool etílico a 80%) ou a montagem de uma caixa
entomológica, que pode ser feita usando os insetos após a criação ou mesmo com insetos
encontrados mortos. A coleção em uma caixa entomológica deve ser feita com insetos montados em
alfinetes entomológicos e posteriormente secos. Para detalhes sobre a montagem de insetos, ver
ALMEIDA et al. (1998). A escolha dos insetos que serão depositados na coleção didática da escola
depende do objetivo pedagógico dessa atividade. Por exemplo, se o objetivo é exemplificar o ciclo de
vida e os diferentes estágios de vida de um inseto, a coleção deve conter ovos, larvas ou ninfas, pupas
(no caso de holometábolos) e adultos. Mas, se o objetivo é demonstrar a grande diversidade dos
insetos ou usar esses exemplares para fins de identificação taxonômica, é importante conter adultos
pertencentes ao maior número possível de ordens, utilizando caixas de madeira com tampo de vidro
ou acrílico, e contendo cânfora e sílica, para armazená-los de maneira adequada (Figura 2B). O uso
e/ou a elaboração de uma chave dicotômica (facilmente encontrada na internet) para identificar as
diferentes ordens de insetos coletados ou já depositados na caixa entomológica da escola são
atividades que treinam a observação e auxiliam o aprendizado das características dos grupos.
A B
Figura 2. Lagarta de uma espécie de borboleta criada em pote plástico com folhas de sua planta hospedeira (A) e caixa
entomológica mostrando a diversidade de insetos adultos (B).
19
Em sala de aula
Os insetos que podem ser facilmente usados em sala de aula são: Lepidoptera (espécies de
borboleta e mariposas comuns ou com importância econômica, como pragas de hortaliças),
Hymenoptera (formigas que possam ser criadas em terrários; abelha de mel, Apis mellifera),
Coleoptera (joaninhas e tenébrios são fáceis de serem coletados ou comprados, além daqueles
besouros que frequentemente se alimentam de feijão e amendoim), Diptera (mosca da fruta,
Drosophila melanogaster), Blattodea (baratas domésticas). Novamente chamamos atenção para o fato
20
de que a escolha de um ou outro inseto e sua forma de utilização vão depender dos objetivos da
atividade e, obviamente, das condições que se têm na escola.
A B
C D
Figura 3. Alunos jogando Interação em sala de aula (A). Esculturas (B), fichas e modelos (C) são alguns dos materiais
sobre insetos elaborados e apresentados em exposição aberta ao público no polo Petrópolis (D), como atividade final da
disciplina Insetos na Educação Básica, do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do CEDERJ.
É evidente que uma boa infraestrutura na escola facilita muito o trabalho nas Ciências e na
Biologia, pois um laboratório grande e equipado, e condições que permitam saídas para trabalhos de
campo podem abrir um leque de possibilidades de desenvolvimento de temas nestas disciplinas.
Entretanto, há opções de baixo custo que podem cumprir as funções de estimular o estudo e
desenvolver ou fixar conteúdos sobre diversos temas. Neste contexto, o laboratório pode ser
substituído por uma reorganização do mobiliário da sala durante o trabalho, de forma a permitir que
os alunos se organizem em grupos, e um pequeno espaço destinado ao armazenamento do material
quando este não estiver sendo trabalhado. O trabalho de campo pode ser feito em espaços externos
21
à escola, como um jardim, uma praça ou um terreno abandonado, pois sabemos que vamos encontrar
insetos em qualquer um destes espaços.
Formação
O professor precisa estar preparado para empregar os insetos, tanto no sentido de disposição,
valorização e estímulo, quanto em relação ao domínio do conteúdo necessário para o planejamento,
a prática e a execução das atividades. Para tanto o professor deve ter tido uma boa formação inicial,
mas saber também que cursos de formação continuada e estudos independentes podem ajudar
bastante no sucesso desta empreitada. Recursos instrucionais, como guias práticos, livros
especializados, textos em sites de universidades, podem ajudar os professores a superar sua
insegurança quanto ao uso dos insetos e orientá-los em suas atividades. Não há dúvida, no entanto,
que mais material de apoio aos professores e aos alunos precisam ser desenvolvidos e difundidos em
nosso país.
Disposição
Se a infraestutura não é limitante e sua deficiência pode ser superada de outras formas, e se a
formação necessária para propor e desenvolver atividades usando insetos nas Ciências e na Biologia
também pode ser melhorada usando recursos já disponíveis, resta a disposição em tornar real esta
possibilidade. É claro que a receptividade e o apoio da escola podem ajudar bastante, particularmente
nas atividades extraclasse, e este apoio deve ser buscado em todas as iniciativas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não se deve esquecer que os insetos e quaisquer organismos, mesmo sendo usados como
modelos, são seres vivos e, como tais, alguns cuidados devem ser tomados. Mais ainda, deve-se
aproveitar a oportunidade de trabalho com eles para que alguns valores e atitudes sejam
desenvolvidos. Dentre estes podemos destacar o respeito à vida e à natureza, a partir da compreensão
de que todo ser vivo faz parte de uma teia de relações importantes na natureza e que a quebra de um
elo desta teia pode ter um efeito em cascata de consequências desastrosas também para o homem.
É importante também que o professor tenha em mente que outros organismos podem e devem
ser usados no estudo de Ciências e Biologia. É muito provável que a partir da discussão do uso dos
insetos como ferramenta pedagógica o professor tenha ideias de como e quais outros organismos
podem ser usados, até mais apropriadamente, dependendo da situação!
22
Finalmente, estamos certos de que os problemas que envolvem o processo ensino-
aprendizagem de Ciências e Biologia na Educação Básica são bem mais complexos de serem
resolvidos do que a simples adoção de uma ou outra metodologia de ensino/aprendizagem.
Entretanto, esperamos apenas contribuir para reduzir a distância entre o possível e o ideal no ensino
destas disciplinas tão importantes ao desenvolvimento de um cidadão crítico e participativo em nossa
sociedade.
Sugestões de leitura
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23
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III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro,
p. 24-34.
RESUMO
O ser humano sempre foi fascinado pelas outras espécies animais. E tal admiração constitui a base
da chamada Zoologia Cultural, setor da Ciência que estuda a presença de elementos zoológicos nas
diferentes manifestações da cultura. Temas relacionando Zoologia e cultura vêm ganhando destaque
recentemente e, nesse cenário, surgiu o projeto A Zoologia na composição de personagens fictícios,
coordenado pelo Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural da UNIRIO. Até o presente foi
estudado o uso de aracnídeos, insetos e crustáceos na inspiração a personagens de histórias em
quadrinhos, sempre pensando em possíveis formas de aplicação em sala de aula ou em divulgação
científica.
ABSTRACT
___________________
1
Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3
Autor correspondente: elidiomar@gmail.com.
24
INTRODUÇÃO
Desde os primórdios de sua evolução, o Homo sapiens é fascinado pelas outras espécies
animais. As pinturas rupestres (Figura 1) são testemunhas desse antigo interesse (ALVES, 2012),
certamente ligado às necessidades básicas de sobrevivência. O tempo passou e o ser humano
acabou, de certa forma, se excluindo do meio natural (DA-SILVA et al., 2015a). Mas, talvez como
forma compensatória, a admiração pelos nossos “irmãos” do reino animal permaneceu e pode ser
vista no dia-a-dia, mesmo daqueles cidadãos urbanos, cuja vida está muito afastada do mundo natural.
Não por outro motivo, a ida aos jardins zoológicos e museus de história natural é sempre um programa
concorrido e os canais por assinatura com animais - e natureza em geral - como temática central são
abundantes e diversificados. De certo modo, tais canais de TV são substitutos modernos das coleções
de bancas de jornal das décadas de 1970 e 1980, como Os Bichos, Mil Bichos (Editora Abril),
Naturama (Editora CODEX), A Fauna (Editora Salvat) e tantas outras (Figura 2). A abundância de
títulos sobre animais naquela época é mais um indicador do interesse pelo tema.
Figura 1. Animais pintados na Gruta de Lascaux, França, um dos sítios de arte rupestre mais famosos do mundo. (Fonte:
Wikipédia.)
Diante de tal cenário, é esperada uma presença maciça de elementos zoológicos nas diferentes
manifestações culturais, e o seu estudo constitui a chamada Zoologia Cultural. Embora nossa
25
relação com os animais seja antiga, seu estudo acadêmico é relativamente recente, de modo que
conceitos e definições de termos, ou mesmo linhas centrais de investigação, são ainda pouco
definidos. Em linhas gerais, quando o estudo é relacionado a manifestações folclóricas ou regionais,
tem-se a Etnozoologia que, por definição, é o estudo dos conhecimentos, crenças, representações
afetivas e comportamentos que intermediam as relações entre as populações humanas e as espécies
animais dos ecossistemas que as incluem (PINTO, 2011). Evidentemente, quando o objeto de estudo
são os insetos e outros artrópodes tradicionalmente abrigados dentro da designação “Entomologia”,
os termos utilizados são Entomologia Cultural (HOGUE, 1980, 1987) e Etnoentomologia
(PACHECO, 2001), respectivamente. Definições detalhadas de Etnozoologia e Etnoentomologia
podem ser obtidas nos excelentes artigos de Costa Neto e colaboradores (COSTA NETO, 2002, 2005,
2005, 2006a, 2013; COSTA NETO & RESENDE, 2004; SILVA et al., 2015)
Figura 2. Enciclopédias sobre a temática do mundo animal, que tanto sucesso fizeram nas décadas de 1970 e 1980.
(Fonte: Google Imagens.)
Histórias em quadrinhos ou gibis (HQs) fazem parte da vida de todos nós. Independentemente
da idade, o fascínio por esse meio de comunicação sobrevive por gerações. As HQs são muito mais
do que histórias de fantasias criadas para entreter crianças. Podem possuir muitos detalhes, alusões
e ideias sofisticadas, e essas abordagens podem e devem ser aproveitadas de diversas formas,
inclusive nas salas de aula, como uma tentativa para despertar o interesse e prender a atenção dos
alunos (RAMA & VERGUEIRO, 2004; DA-SILVA et al., 2014a,b,c,d). O mesmo raciocínio se aplica a
filmes do cinema, programas, séries e desenhos animados da TV.
26
A despeito de ser um processo com liberdade criativa, a composição de um personagem das
HQs (ou de qualquer outra mídia) muitas vezes recebe interessantes influências da vida real. Face à
forte ligação dos animais com o ser humano, não é de se estranhar que eles venham servindo como
inspiração para muitos personagens da ficção (DA-SILVA et al., 2015b). A incorporação de elementos
da cultura pop às produções acadêmicas vem ganhando destaque recentemente (NEMÉSIO et al.,
2013; DA-SILVA et al., 2014a, 2014b; CASTANHEIRA et al., 2015). Importante elemento cultural, as
produções cinematográficas vêm sendo mais e mais utilizadas na escola, embora ainda existam
poucos estudos sobre a sua aplicação no ambiente escolar. Os filmes possuem potencialidade
pedagógica especial e podem dar suporte a novas modalidades educativas, com possibilidades de
utilização em todos os níveis e disciplinas (COELHO & DA-SILVA, 2015).
ARTRÓPODES NA CULTURA
27
APLICAÇÃO DA ZOOLOGIA CULTURAL NA EDUCAÇÃO REGULAR
Conforme já mencionado, o ser humano sempre foi fascinado pelos animais de um modo geral
e uma prova desse interesse é o sucesso que fazem os canais de TV que têm documentários em sua
grade, particularmente sobre natureza e vida selvagem. É impossível hoje em dia não se impressionar,
tanto com a qualidade dos vídeos quanto com as informações que eles passam. Isso é Zoologia na
sua essência, uma parte da Ciência extremamente interessante e atrativa até para o público leigo.
Porém, nas aulas regulares, o quadro costuma ser diferente. Tem-se um conteúdo técnico vasto
(morfologia, fisiologia, taxonomia, filogenia) que deve ser ministrado, o que, muitas vezes, causa
enfado e desinteresse por parte dos alunos (DA-SILVA et al., 2015b). Como um dos maiores desafios
da educação é tornar palatável e atraente o conteúdo da matéria aos alunos, o uso de elementos da
cultura pop em sala de aula traz uma atmosfera amigável e tem se mostrado uma ferramenta didática
de grande utilidade.
Didaticamente falando, HQs, livros, filmes, desenhos animados e séries de TV podem ser
utilizados em todos os níveis e disciplinas acadêmicos. Em matérias ligadas à História Natural e à
Ciência, seu uso é particularmente interessante, posto que estudos indicam que a assimilação do
conhecimento científico é mais efetiva quando se usa elementos da vida cotidiana do aluno. Com base
nas mídias, muitos conceitos biológicos podem ser trabalhados em aulas regulares. Com a devida
adequação de nível de profundidade, há conteúdos passíveis de aplicação tanto no ensino superior
quanto nos ensinos médio e fundamental. Os temas vão desde os mais específicos, ligados à Zoologia
(caracterização morfológica) até conceitos biológicos gerais (alimentação, predação, competição,
mutualismo, colonialismo, reprodução, ciclo de vida) e aplicados (controle biológico, conservação
ambiental). Todos esses conceitos e temas podem ser utilizados para enriquecer as aulas, transmitir
conteúdos e despertar o interesse dos alunos (COELHO & DA-SILVA, 2015). Mas isso, sempre, com
os devidos cuidados e ajustes. Como obras ficcionais, os filmes não estão obrigatoriamente
compromissados em abordar conteúdos de Ciências Naturais da forma que é considerada correta pela
comunidade científica (CARVALHO & MARTINS, 2009). Há sempre que se realçar que a utilização
acadêmico-didática de uma obra ficcional deve ser moderada com muita cautela e planejamento,
posto que o technobabble - recurso narrativo que usa palavras familiares para fazer uma teoria surreal
soar verossímil (REBLIN, 2012) – é comum em tal tipo de obra. E é aí que deve entrar o grau de
discernimento do professor, ao ministrar os conhecimentos e conduzir adequadamente as atividades
(COELHO & DA-SILVA, 2015a; DA-SILVA, 2015).
Interessante exemplo prático da utilização de personagens da cultura pop (no caso,
pertencentes ao universo dos super-heróis) em aulas de Ciências nos foi contado pela professora
Márcia Denise Guedes, do Colégio Futuro VIP Pilares, situado na Zona Norte do município do Rio de
28
Janeiro. Profa. Márcia propôs duas atividades aos seus alunos do 7º ano do Ensino Fundamental. Na
primeira, cada grupo de alunos deveria indicar um super-herói ou vilão da ficção que apresentasse
alguma característica animal, analisando o personagem em comparação com os animais estudados
na matéria. Na segunda atividade, cada grupo deveria criar um personagem contendo características
dos animais estudados (Figura 3). Iniciativas como essa trazem dinamismo às aulas, com certeza
influenciando beneficamente na motivação por parte dos alunos.
Figura 3. Tarefas propostas aos alunos das turmas de 7º ano, Ciências, do Colégio Futuro VIP Pilares, no 2º semestre de
2015. (Fotos: Márcia Denise Guedes.)
29
familiarizados com a Entomologia – geralmente é de total desconhecimento.
Alguns personagens de HQs são muito adequados a discussões filosóficas sobre conservação
da fauna e dos recursos naturais de uma maneira geral. Um deles é o Homem Animal (DC Comics),
um herói capaz de assimilar as habilidades de todos os animais, criado no início da década de 1960,
mas sem chegar a fazer muito sucesso entre os leitores no início de sua carreira. Nas mãos do escritor
inglês Grant Morrison, o personagem passou a ter uma forte mensagem de ativismo em defesa dos
animais (RODRIGUES, 2010). Outro personagem com interessante viés conservacionista é o Monstro
do Pântano (também da DC Comics). Criado na década de 1970, o personagem é intimamente ligado
à natureza, representado como um ser monstruoso composto de matéria vegetal, mas também com
interessantes componentes animais. Criatura capaz de antessentir toda e qualquer ameaça à
natureza, tal capacidade faz do Monstro do Pântano um verdadeiro herói ecológico. Ambos os
personagens são representativos de uma postura crítica com relação aos impactos ecológicos,
questionando a relação que o homem estabelece com a natureza, em uma sociedade cada vez mais
propensa ao desperdício (RODRIGUES, 2013).
Diante de tudo que foi comentado até aqui, foi elaborado o projeto institucional A Zoologia na
composição de personagens fictícios, coordenado pelo Laboratório de Entomologia Urbana e
Cultural e contando com a participação de outros setores da UNIRIO, além de pesquisadores da UFRJ,
da FIOCRUZ e da Universidade de Copenhagen. O projeto tem como objetivo principal promover o
inventário dos personagens dos universos de super-heróis que tenham sido inspirados, de alguma
30
forma, em grupos taxonômicos animais. As peculiaridades desses personagens que tenham
correspondência com características reais dos táxons inspiradores são enfatizadas, sempre pensando
em possíveis formas de aplicação em sala de aula ou em divulgação científica.
De um modo geral, os personagens vêm sendo classificados de acordo com a editora de
criação, o papel social (herói ou vilão), a classificação taxonômica do animal que o inspirou, a
presença/ausência de características associadas ao animal e a década de criação. Até o presente
foram publicados artigos científicos versando sobre aracnídeos (DA-SILVA et al., 2014b), insetos (DA-
SILVA et al., 2014c) e crustáceos (DA-SILVA et al., 2014d) (Figs. 4-6). Em elaboração estão estudos
sobre os Myriapoda, Merostomata e Tardigrada (fechando os estudos sobre o táxon Panarthropoda),
além de felinos (Mammalia: Carnivora: Felidae) e macacos não-humanos (Mammalia: Primates).
Figura 5. Exemplos de personagens inspirados em aracnídeos: Aranha Negra (DC, à esquerda), Homem-Aranha (Marvel,
à direita). Adaptados de DA-SILVA et al. (2014b).
Figura 6. Exemplos de personagens inspirados em insetos: Besouro Azul (DC, à esquerda), Vespa (Marvel, à direita).
Adaptados de DA-SILVA et al. (2014c).
31
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Partindo-se da máxima de que é preciso conhecer para preservar (FARIA & SOUZA, 2015),
esforços no sentido de popularizar o conhecimento científico são sempre bem-vindos. As mídias da
cultura pop, podem, assim, ser aliadas inestimáveis às atividades de divulgação científica,
especialmente entre os jovens, que constituem o público-alvo desse tipo de obra (DA-SILVA &
COELHO, 2015). HUNN (2014) foi mais além nessa abordagem, afirmando que, mais do que
conhecer, é preciso “amar” para se preservar, e o uso de personagens queridos pelo público em
campanhas poder ser extremamente positivo. A utilização de atividades lúdicas na educação
ambiental serve para mostrar, de forma dinâmica e didática, o quão é importante cuidar da natureza
em todos os aspectos (TORRES et al., 2014).
A introdução da cultura pop na didática curricular traz para a sala de aula debates espontâneos,
a partir de observações comparativas entre a ficção e a realidade, criando uma maior intimidade do
aluno com o objeto de estudo. Essa iniciativa estimula a leitura, a pesquisa além dos livros didáticos,
o senso crítico, a criatividade, os debates extracurriculares, a paixão por novas descobertas, a
satisfação individual e a curiosidade para além dos muros da escola. Tais estímulos são benéficos,
influenciando diretamente no desenvolvimento acadêmico, cultural e pessoal do aluno.
Figura 7. Exemplos de personagens inspirados em crustáceos: Bedovian (DC, à esquerda), Câncer (Marvel, à direita).
Adaptados de DA-SILVA et al. (2014d).
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Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 36-55.
Mario Cupello1
Fernando Z. Vaz-de-Mello2
RESUMO
São apresentados os primeiros resultados de um projeto ainda em andamento que visa completar um
levantamento e guia de identificação dos besouros rola-bosta do Parque Nacional do Itatiaia, uma das
mais importantes áreas de conservação da Mata Atlântica. O gênero Eurysternus Dalman, 1824, o
único membro sul-americano da tribo Oniticellini, está representado no parque por oito espécies: E.
cyanescens Balthasar, 1939, E. deplanatus (Germar, 1824), E. francinae Génier, 2009, E. hirtellus
Dalman, 1824, E. inflexus (Germar, 1824), E. parallelus Castelnau, 1840, E. nigrovirens Génier, 2009
e E. sulcifer Balthasar, 1939. Além de serem fornecidas diagnoses para o gênero e suas espécies,
apresentamos também uma chave de identificação e uma breve discussão sobre o posicionamento
filogenético, a história taxonômica e a história natural de Eurysternus.
ABSTRACT
Keywords: Atlantic Forest, diagnoses, dung beetles, identification key, Serra da Mantiqueira.
___________________
1
Departamento de Entomologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.
2
Departamento de Biologia e Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT, Brasil.
3
Autor correspondente: mcupello@hotmail.com.
36
INTRODUÇÃO
MATERIAL E MÉTODOS
Os resultados deste trabalho foram obtidos com base, sobretudo, no exame de espécimes
depositados nas seguintes coleções (curadores entre parênteses): FIOC – Coleção Entomológica do
Instituto Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil (Márcio Felix); MNRJ – Museu
Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil (Miguel A. Monné e Marcela
L. Monné). Ainda que os exemplares coletados por J. F. Zikán e W. Zikán tenham indicado em suas
etiquetas apenas a localidade “Itatiaia” e não uma referência direta ao PNI, é sabido que esses dois
naturalistas coletaram durante anos na área do parque e, portanto, provavelmente foi lá que coletaram
os Eurysternus examinados neste trabalho.
A fim de acrescentar um maior número de exemplares e eventuais informações biológicas a
este trabalho, o primeiro autor fez nove excursões ao PNI entre 2010 e 2015 e lá pôde instalar
armadilhas pitfall iscadas com fezes humanas (variando até 10 o número de pitfalls por episódio de
coleta) em locais próximos à Casa do Pesquisador, a cerca de 810 m de altitude.
As diagnoses e a chave de identificação seguem a terminologia empregada por GÉNIER
(2009), o responsável pela última revisão de Eurysternus; as informações sobre a variação do
comprimento das espécies, em particular, foram tomadas integralmente de GÉNIER (2009). Quando
não há dimorfismo sexual além daquele presente em todas as espécies de Eurysternus, foi dada
apenas uma diagnose geral que se aplica a ambos os sexos, ao passo que, quando há qualquer
diferença entre os sexos que não aquela geral do gênero, deu-se primeiro a diagnose detalhada do
macho e, em seguida, uma lista das características que são próprias da fêmea. Por fim, as fotografias
foram tomadas com câmara Nikon D90 com lente macro Sigma 150 mm.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
2) Histórico taxonômico
JESSOP (1985), o primeiro autor a revisar Eurysternus, reconheceu então 22 espécies válidas
no gênero. Logo em seguida, MARTÍNEZ (1988) descreveu mais seis espécies e dividiu Eurysternus
em três subgêneros: Eurysternus s. str., Paraeurysternus Martínez, 1988 e Eurysternodes Martínez,
1988. Mais tarde, ÖZDIKMEN (2009) descobriu que o último nome é homônimo júnior de
Eurysternodes Schuster & Summer, 1978 (Arachnida: Acari), e, para substituí-lo, propôs o nomen
novum Amartinezus. GÉNIER (2009), contudo, na última e maior revisão do gênero, sinonimizou os
três subgêneros e dividiu as 53 espécies consideradas por ele como válidas (27 delas novas) em 11
grupos de espécies.
3) História natural
Muito já foi publicado sobre a biologia de Eurysternus, sobretudo, sobre seu comportamento de
nidificação. Um aspecto importante sobre as espécies deste gênero é que não podem ser classificadas
em nenhum dos dois grandes grupos em termos de realocação de alimento em que os rola-bostas
são divididos: os paracoprídeos (os escavadores) e os telecoprídeos (os roladores) (HUERTA et al.,
2005). Os primeiros escavam túneis embaixo das massas de fezes deixadas por mamíferos e para lá
levam o alimento. No segundo grupo, os besouros constroem pequenas bolas com as fezes e as rolam
sobre o solo para longe da massa; somente quando alcançam certa distância dela é que finalmente
enterram a bola. Eurysternus não se enquadra em nenhum desses dois cenários. HALFFTER &
EDMONDS (1982), numa classificação muito mais detalhada, reconheceram sete padrões distintos
41
de nidificação entre os Scarabaeinae, sendo um deles, o Padrão VI, representado apenas pelas
espécies de Eurysternus.1
A primeira característica ímpar de Eurysternus está em possuir uma relação com o alimento na
época não reprodutiva distinta daquela do período fértil. Outros rola-bostas manejam o alimento do
mesmo modo toda a vida: se forem roladores, farão bolas estando ou não em período reprodutivo; se
forem escavadores, enterrarão independentemente da época de suas vidas. As espécies de
Eurysternus, por outro lado, quando não estão em período fértil, simplesmente alimentam-se
diretamente sobre o alimento, como ocorre em muitos Aphodinae, outro grupo de escarabeídeo
detritívoro, sem que haja a sua realocação. Segundo NORIEGA & CALLE (2008), há registros de
espécimes se alimentando de fezes de cavalo, macaco-aranha, macaco-uivador e de humanos, além
de carcaças de cutias, ratos, preguiças e tamanduás. Além disso, eles reportaram o consumo de
pétalas de flores de Gustavia hexapetala (Aublet) Smith por Eurysternus foedus, algo inédito em
Scarabaeinae. PESSOA & LANE (1941) apontam quatro espécies necrófagas de Eurysternus (E.
foedus; E. calligramus Dalman, 1824; E. impressicollis Castelnau, 1840; E. parallelus Castelnau, 1840)
atualmente válidas como sendo de interesse médico-forense por fazerem parte de sucessão
cadavérica. Não obstante essa variedade alimentar nos períodos inter-reprodutivos, o comportamento
destes animais muda drasticamente no período de nidificação.
A nidificação de Eurysternus é dividida em três fases distintas: o banquete nupcial (“nupcial
feast”), a nidificação experimental (“experimental nesting”) e a nidificação definitiva (“final nesting”).
De fato, esta é uma generalização, pois certas espécies não apresentam parte (e.g., E. deplanatus
(Germar, 1824)) ou nenhuma dessas fases (E. foedus Guérin-Méneville, 1844). Nessas exceções,
contudo, pode estar contida a chave que ligará o comportamento único de Eurysternus com o restante
de Scarabaeinae, como já afirmado por HUERTA et al. (2005).
Durante o banquete nupcial, as fêmeas constroem inúmeras bolas com as fezes. Essa ação
atrai os machos, fato que também é diferente de muitos outros rola-bostas, nos quais é o macho que
atrai as fêmeas com bolas que eles constroem (HUERTA et al., 2003). A cópula pode ocorrer em
momentos variados, mas o padrão é que ela seja seguida por nidificação experimental, onde ovos
individuais são postos em cada uma das várias bolas construídas durante o banquete nupcial. Em
seguida, essas bolas e seus ovos são destruídos e ingeridos.
Após o período de ninhos experimentais e um intervalo com alimentação normal, um ninho
definitivo com múltiplas bolas é construído e a fêmea ficará de guarda cuidando dos ovos e larvas em
1A discussão que se segue, a não ser quando especificada outra fonte, é uma compilação dos dados publicados por
HALFFTER & HALFFTER (1976), HALFFTER et al. (1980), HALFFTER & EDMONDS (1982) e HUERTA et al. (2003,
2005).
42
desenvolvimento, período que poderá durar até cerca 50 dias (HALFFTER et al., 1980). Esse
comportamento subsocial é útil na defesa contra fungos e cleptoparasitas que ameaçam o ninho. Após
a emergência das imagos, a fêmea abandona a cria. Ela poderá voltar a realizar todo o comportamento
de nidificação novamente, pois, diferentemente de outros rola-bostas, as fêmeas de Eurysternus
podem viver um longo período, algumas alcançando até dois anos de idade.
Outro aspecto ímpar da biologia de Eurysternus é o seu comportamento críptico. Segundo GILL
(1990), não é fácil observar espécimes em campo, pois eles apresentam coloração opaca,
movimentos letárgicos e uma forma de tanatose única, na qual as pernas médias e posteriores se
estendem enquanto o animal se finge de morto. Este hábito separaria Eurysternus do restante dos
Scarabaeinae neotropicais, mas táxons de outras regiões apresentam camuflagem e tanatose
similares. Cyptochirus Lesne, 1900, gênero africano de Oniticellini, por exemplo, apresentaria
comportamento semelhante (GILL, 1990).
Segundo HALFFTER et al. (1980), Eurysternus se originou na América do Sul, de onde se
expandiu para a atual área de distribuição, que se estende desde o México até o norte da Argentina
(GÉNIER, 2009).
O período de atividade de Eurysternus aparentemente é diurno. HERNÁNDEZ (2002) cita E.
parallelus Castelnau, 1840, E. cyanescens Balthasar, 1939 e uma terceira espécie não identificada
como ativas durante o dia. De fato, em Itatiaia, avistamos E. inflexus chegando às armadilhas em
horário diurno, por volta de 15:30, em outubro de 2010.
Diagnose: Corpo retangular e bem aplanado. Clípeo e fronte inermes; sutura clipeofrontal
inconspícua; sutura clípeo-genal fraca, mas visível. Antenas 9-articuladas inseridas anteriormente aos
olhos e com clava trífila; palpos maxilares cilíndricos e tetra-articulados; palpos labiais chatos e
aparentemente bi-articulados (terceiro artículo distal muito atrofiado e pouco visível). Pronoto inerme.
Escutelo claramente visível entre as bases dos élitros. Margem externa da protíbia das fêmeas
fortemente denteada, sendo quatro destes dentes muito longos e robustos; macho com apenas
algumas pequenas calosidades ligeiramente projetadas. Mesocoxas paralelas entre si e situadas nas
laterais do corpo. Élitros planos, chatos, com margens externas paralelas e com leve declive para o
43
ápice; carena humeral presente; oito estrias elitrais; carena elitral formando ampla pseudoepipleura
vertical. Proepímero vertical, estendendo-se por toda a lateral do protórax. Mesosterno curto e de difícil
visualização; sutura mesometasternal fraca e sinuosa; metasterno amplo e totalmente plano, sem
qualquer área em declive.
Caracteres sexuais secundários são de fácil observação em Eurysternus:
- Protíbia dos machos, em seu ápice, logo abaixo do protarso, com um pente transversal de
cerdas curtas claramente visível. Este é ausente nas fêmeas (JESSOP, 1985; GÉNIER, 2009).
- Tarsômero basal do protarso dos machos curto e giboso. Nas fêmeas, tarsômero basal longo,
cilíndrico e fino.
- Protíbia dos machos com dentes muito reduzidos; fêmeas com dentes da protíbia bem
desenvolvidos
- Em algumas espécies, esporão da metatíbia dos machos fundido, enquanto nas fêmeas ele é
sempre articulado (JESSOP, 1985; GÉNIER, 2009).
Figuras 1-8. Espécies de Eurysternus encontradas no PNI: 1. E. cyanescens Balthasar, 1939. 2. E. parallelus Castelnau,
1840. 3. E. deplanatus (Germar, 1824). 4. E. inflexus (Germar, 1824). 5. E. francinae Génier, 2009. 6. E. sulcifer Balthasar,
1939. 7. E. hirtellus Dalman, 1824. 8. E. nigrovirens Génier, 2009.
49
Na distribuição geográfica abaixo, utilizamos dados somente de GÉNIER (2009). Dois outros
trabalhos, LOUZADA et al. (2007) e MARTÍNEZ (1988), não tiveram seus dados incluídos porque, até
a revisão de GÉNIER (2009), o nome E. hirtellus era mal aplicado a um conjunto de espécies-crípticas
que hoje forma o grupo hirtellus.
Altitude e período de coleta: Para Itatiaia, GÉNIER (2009) cita um espécime coletado a 700 m de
altitude por J. F. Zikán em março de 1930. A espécie é coletada nos meses de janeiro, março abril,
maio, agosto, setembro e outubro (GÉNIER, 2009).
Distribuição Geográfica: BRASIL: Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro (GÉNIER,
2009).
Material Examinado: BRASIL: ESPÍRITO SANTO: Vitória, Morro Moscoso, X.1982, B. Silva col. – 1
macho (MNRJ). RIO DE JANEIRO: Rio de Janeiro, Corcovado, 27.X.1975, C. A. Campos Seabra – 1
fêmea (MNRJ); Rio de Janeiro, Paineiras, 1961, H. Schubart col. – 1 macho (MNRJ); Rio de Janeiro,
Parque Laje, III.1991, Fernando col. – 1 macho (MNRJ); Rio de Janeiro, Represa Rio Grande, IX.1967,
P. M. Oliveira col. – 1 fêmea (MNRJ).
AGRADECIMENTOS
Desde 2011, quando o resumo deste trabalho foi apresentado pela primeira vez no I Entomorio,
nós temos recebido fundamental suporte da equipe do Laboratório de Coleoptera do MNRJ e, por isso,
somos muito gratos a todos os seus integrantes que nos auxiliaram nos trabalhos de campo e em
laboratório: Miguel A. Monné, Marcela L. Monné, Juan Pablo Botero, Allan Carelli, Marianna Simões
(atualmente na University of Kansas, Kansas, Estados Unidos), Vanessa Machado (ex-membro),
Rodrigo Souza (ex-membro) e Wallace Beiroz (atualmente na Universidade Federal de Lavras, Minas
Gerais, Brasil). Também somos gratos a Márcio Felix (FIOC) pelo empréstimo de material, a Leo
Nascimento (PNI) pelas autorizações de coleta e a dois revisores anônimos que em muito melhoraram
a fluidez do nosso texto e a clareza das nossas diagnoses. Ao longo do período de elaboração deste
trabalho, MC recebeu suporte financeiro através de bolsas de iniciação científica do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/UFRJ/CNPq), bolsa de mestrado do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e bolsa de mestrado Nota 10 da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). FZVM é bolsista de
produtividade em pesquisa do CNPq (304925/2010-1) e recebeu os seguintes financiamentos: CNPq
484035/2013-4 e FAPEMAT/CNPq PRONEM 568005/2014.
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55
SAMPAIO, A.A. & MONNÉ, M.L. 2016. Inventário das espécies de Grammodesma Achard, 1923 (Coleoptera:
Chrysomelidae: Chrysomelinae) ocorrentes no Parque Nacional do Itatiaia, Sudeste do Brasil. In: Da-Silva, E.R.; Passos,
M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro.
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 56-61.
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo apresentar um inventário das espécies de Grammodesma
Achard, 1923 presentes no Parque Nacional do Itatiaia (PNI), uma das mais importantes áreas de
conservação da Mata Atlântica do sudeste do Brasil. Foram estudados espécimes depositados em
coleções entomológicas (Museu Nacional, UFRJ, Rio de Janeiro, e Fundação Oswaldo Cruz, Rio de
Janeiro, Brasil), bem como os espécimes coletados por nós na área do parque. Como resultado, três
espécies foram registradas como presente no PNI: G. luridipennis (Baly, 1859), G. elongata Bechyné
de 1952 e G. obliqua (Stal, 1859). Uma chave de identificação para essas espécies é fornecida.
Palavras-chave: chave de identificação; Chrysomelini; Mata Atlântica; Minas Gerais; Rio de Janeiro.
ABSTRACT
Keywords: Atlant Forest; Chrysomelini; identification key; Minas Gerais; Rio de Janeiro.
___________________
1
Departamento de Entomologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Autora correspondente: alinebioufpi@gmail.com.
56
INTRODUÇÃO
Coleoptera é a mais rica e variada ordem da classe Insecta, com aproximadamente 392 mil
espécies descritas, incluindo quase três mil extintas (SLIPINSKI et al., 2011), correspondendo a cerca
de 40% do total de insetos e 30% dos animais descritos. Na Região Neotropical, são conhecidas 127
famílias, 6.703 gêneros e 72.476 espécies (COSTA, 2000). A ordem dos besouros distingue-se
facilmente das demais por apresentar o primeiro par de asas modificado em élitros, protegendo o
segundo par de asas membranosas (GALLO et al., 2002).
A família Chrysomelidae inclui entre 37.000 e 40.000 espécies descritas. Apresentam a forma
do corpo muito variada, de esférica a hemisférico, e às vezes, achatada com élitros expandidos em
forma de escudo. Caracterizam-se por apresentar cabeça sem rostro e com suturas gulares
separadas; antenas formadas por 9 ou 11 artículos; élitros geralmente completos, expondo 1-2 tergitos
em algumas espécies (JOLIVET & VERMA, 2002).
A subfamília Chrysomelinae apresenta 3.000 espécies e 132 gêneros (JOLIVET & VERMA,
2002). WILCOX (1975) citou para as Américas 368 espécies e 25 gêneros. Diferencia-se das demais
subfamílias por possuir o corpo oval-convexo e coloração com tonalidades iridescentes; élitros
geralmente apresentam listras longitudinais ou manchas regulares e irregulares; terceiro segmento
tarsal geralmente não bilobado (BURGOS-SOLORIO & ANAYA-ROSALES, 2004).
O gênero Grammodesma Achard, 1923 pertence a tribo Chrysomelini (BOUCHARD et al.,
2011), e atualmente apresenta 31 espécies registradas para o Brasil. Distinguem-se dos demais
gêneros de Chrysomelinae pelos palpos maxilares com artículo apical mais curto do que o anterior;
processo prosternal projetado e com encaixe no mesosterno; élitros pontuados; metacoxas distantes
entre si; garras tarsais simples, não fusionadas na base (BLACKWELDER, 1946).
O Parque Nacional do Itatiaia (PNI) está localizado no sudeste do estado do Rio de Janeiro,
nos municípios de Resende e Itatiaia; e ao sul de Minas Gerais, envolvendo os municípios de Alagoa,
Bocaina de Minas e Itamonte (IBDF, 1982). O PNI abrange vegetação típica do bioma Mata Atlântica,
com forte gradiente altitudinal. Em áreas de mais baixa altitude, a floresta densa predomina, com alta
diversidade e abundância de fauna e flora; com o aumento de altitude, por sua vez, esta vegetação é
progressivamente substituída por vegetação rasteira resistente ao frio intenso típica de Campos de
Altitude. Em toda a sua área, o PNI abrange cerca de 5.000 espécies de insetos, 350 de aves e 50 de
mamíferos, além de inúmeros répteis e anfíbios (ICMBIO, 2010).
ZIKÁN & ZIKÁN (1967) registraram 76 espécies de Chrysomelinae para o PNI, com 23 gêneros
listados para essa subfamília, incluindo Grammodesma, com três espécies: G. circuita (Stal, 1859), G.
impuncticollis (Stal, 1859) e G. obliqua (Stal, 1859). Tais espécies podem ser encontradas numa
altitude que varia de 700 a 1960m.
57
As informações sobre a fauna de Chrysomelinae do estado do Rio de Janeiro são escassas, o
que representa uma grande lacuna no conhecimento entomológico da região. Então, visando remediar
parte deste problema, este trabalho tem como meta o levantamento e chave de identificação para as
espécies de Grammodesma Achard ocorrentes no PNI.
MATERIAL E MÉTODOS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo ZIKÁN & ZIKÁN (1967), o gênero Grammodesma apresenta três espécies: G. circuita
(Stal, 1859), G. impuncticollis (Stal, 1859) e G. obliqua (Stal, 1859) no PNI. No entanto, as duas
primeiras espécies foram transferidas para Grammomades Achard, 1923. Após as visitas feitas às
coleções citadas, dois novos registros de Grammodesma – G. elongata Bechné, 1952 e G. luridipennis
(Baly, 1859) – para o PNI foram acrescidos (Quadro 1).
58
Chave de identificação para as espécies de Grammodesma Achard, 1923 do Parque Nacional
do Itatiaia:
1 - Cabeça e pronoto pretos com brilho metálico; vértice com depressão marrom-avermelhada; sutura
genofrontal ausente; clípeo com um par de fóveas; pronoto com depressão e pontuação grossa;
escutelo arredondado no ápice; escutelo e élitros marrom-avermelhados; élitro sem manchas e com
estrias; pontuação elitral não contrastante; processo prosternal não dilatado na base e com depressão
mediana no ápice.................................................................. Grammodesma luridipennis (Figuras 1-3).
1 2 3
Figuras 1-3. Grammodesma luridipennis (Baly, 1859). 1, vista dorsal. 2, vista ventral. 3, cabeça e pronoto.
- Cabeça e pronoto pretos ou castanho-claros; vértice sem depressão; sutura genofrontal presente;
clípeo sem fóveas; pronoto sem depressão e com pontuação fina; escutelo triangular, preto ou
marrom; élitro sem estrias, castanho com manchas e pontos pretos ou marrons; pontuação elitral
contrastante; processo prosternal dilatado na base e sem depressão mediana no ápice ................... 2
2 - Cabeça e pronoto castanho-claros; margens do pronoto com iridescência verde; escutelo, manchas
e pontuações elitrais marrons; élitro ligeiramente alargado para trás e com declínio acentuado na
região posterior, mais visível em vista lateral; terço anterior de cada élitro com mancha em “zigue-
zague”, estendendo-se até a sutura elitral; quatro faixas paralelas interrompidas, no terço posterior de
cada élitro; região anterior do processo prosternal, em vista lateral,
anguloso..................................................................................Grammodesma elongata (Figuras 4-6).
59
4 5 6
Figuras 4-6. Grammodesma elongata Bechyné, 1952. 4, vista dorsal. 5, vista ventral. 6, vista lateral.
- Cabeça e pronoto pretos; margens do pronoto sem iridescência verde; escutelo, manchas e
pontuações elitrais pretos; élitro não alargado para trás e com declínio pouco acentuado na região
posterior, mais visível em vista lateral; macha transversal no terço basal do élitro, alargando-se
gradativamente até a sutura elitral, se estendendo por toda a margem sutural; linha transversal oblíqua
no terço posterior do élitro; região anterior do processo prosternal, em vista lateral, curvo ......................
..................................................................................................... Grammodesma obliqua (Figuras 7-9).
7 8 9
Figuras 7-9. Grammodesma obliqua (Stal, 1859). 7, vista dorsal. 8, vista ventral. 9, cabeça e pronoto.
60
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao curador da coleção entomológica Márcio Felix (CEIOC) pela inestimável colaboração
com o empréstimo de material, e ao Prof. Miguel A. Monné pelas sugestões.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Nacional de Itatiaia. Disponível em: http://www.icmbio.gov.br/parnaitatiaia/quem-somos.html. Acesso em: 14 de
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ZIKÁN, J.F. & ZIKÁN, W. 1967. A inseto fauna do Itatiaia e da Mantiqueira. Revista Brasileira de Entomologia 12: 118-
154.
61
CAMPOS et al. 2016. Redescrição da fêmea de Planicephalus flavicosta (Stål, 1862) (Hemiptera: Cicadellidae). In: Da-Silva,
E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de
Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 62-69.
RESUMO
ABSTRACT
___________________
1
Departamento de Botânica, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
RJ, Brasil.
2
Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3
Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
4
Autor correspondente: ccamposmariana@gmail.com.
62
INTRODUÇÃO
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi feito com base em exemplares procedentes do município de Itaguaçu, região
central do Estado do Espírito Santo. Os exemplares encontram-se depositados no Museu Regional de
Entomologia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Minas Gerais.
A técnica para preparação das peças genitais seguiu OMAN (1949). A extremidade do abdome
dos exemplares foi retirada e diafanizada em hidróxido de potássio (em banho maria), logo após as
peças foram destacadas, colocadas em lâmina escavada com glicerina P.A. e observadas sob
estereomicroscópio e microscópio óptico, conforme procedimento corriqueiro para estudos
taxonômicos de Cicadellidae. A genitália foi estocada em um tubo de vidro contendo glicerina,
alfinetado junto com o exemplar. As fotografias foram realizadas por meio de uma câmera digital
acoplada a estereomicroscópio e a microscópio óptico, usando-se posteriormente o programa gratuito
CombineZP® para compor imagens multifocadas. As fotografias foram editadas utilizando-se o
programa Adobe Photoshop CC®. A terminologia descritiva seguiu YOUNG (1977), exceto quanto à
terminália (BALDUF, 1934; BLOCKER & TRIPLEHORN, 1985).
63
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 2. Planicephalus flavicosta – fêmea. Cabeça, tórax e base das asas anteriores (vista dorsal).
65
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pela primeira vez são descritos os detalhes da genitália das fêmeas, especialmente as válvulas
do ovipositor de Planicephalus flavicosta. O sétimo esternito lembra os de P. christinae Zanol, 1998 e
P. equatorianus Zanol, 1998 (cf. ZANOL, 1998), pela presença de uma mancha central posterior, mas
pode ser diferenciada pela margem posterior, que é truncada no caso dessas duas espécies. De
maneira geral, as peças do ovipositor são semelhantes às do gênero Deltocephalus e da tribo
Doraturini. A válvula I lembra a de Chiasmus Mulsant & Rey, 1855 (Chiasmusini) e a válvula II, a de
Divus Distant, 1908 (Drabescini) e de Selenocephalini (cf. HILL, 1970).
AGRADECIMENTOS
Ao Dr. Paulo Sérgio Fiuza Ferreira (UFV) e ao Dr. David dos Santos Martins (INCAPER), pela
disponibilização dos exemplares.
Figura 11. Planicephalus flavicosta – fêmea. Detalhe dos dentes da margem dorsal da válvula II (vista lateral).
68
Figura 12. Planicephalus flavicosta – fêmea. Segundo valvífero e válvula III (vista lateral).
Figura 13. Planicephalus flavicosta – fêmea. Ápice da válvula III (vista lateral).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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69
MOREIRA JR, D. & MAIA, V.C., 2016. Primeiro registro do gênero Leptogaster Meigen (Diptera: Asilidae) no Estado do Rio
de Janeiro e sua abundância na Reserva Biológica da União (RJ, Brasil). In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa,
C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 70-76.
RESUMO
Os Asilidae são uma família de dípteros predadores, com pernas fortes e hipofaringe perfuradora
bastante desenvolvida. Este trabalho visa contribuir para o conhecimento da ocorrência e abundância
do gênero Leptogaster no Estado do Rio de Janeiro. No período de janeiro de 2013 a março de 2014,
foram realizadas coletas com rede entomológica e armadilha Malaise, em três trilhas da reserva
Biológica da União, região de Mata Atlântica do estado do Rio de Janeiro. Foram coletados 520
indivíduos de Asilidae. Verificou-se maior abundância do gênero Leptogaster, com 61,34% do número
total de espécimes coletados (319 indivíduos). A razão sexual observada foi de aproximadamente 1:1.
Foi encontrado um maior número de exemplares nos meses de primavera e verão, como esperado
para a maioria dos insetos. Verificou-se a maior abundância de indivíduos na trilha mais larga e
próxima à rodovia, o que sugere que Leptogaster é um gênero bem adaptado a condições ambientais
alteradas.
ABSTRACT
FIRST RECORD OF THE GENUS Leptogaster MEIGEN, 1803 (DIPTERA: ASILIDAE) IN RIO DE
JANEIRO STATE AND THEIR ABUNDANCE IN RESERVA BIOLÓGICA DA UNIÃO (RJ, BRAZIL)
The Asilidae are a family of dipteran predators, with strong legs and well developed drill shape
hypopharynx. This paper aims to contribute to the knowledge of occurrence and abundance of
Leptogaster in Rio de Janeiro. During the period of one year and two months between January 2013
and March 2014, insects were collected using entomological nets and Malaise traps along three trails
of the Reserva Biológica da União, an area of Atlantic Forest in the state of Rio de Janeiro. 520
specimens of Asilidae were collected. Among them, Leptogaster was the most abundant genus, with
61.34% of the total number of specimens (319 specimens). Sexual rate was approximately about 1:1.
The number of specimens was greater in the spring and summer than in the other seasons, as
expected for the most insects. There was a higher abundance of specimens in the wider and closer to
the highway trail, suggesting that the genus Leptogaster is well adapted to the modified environmental
conditions.
Os Asilidae são moscas cujos adultos e larvas são predadores de outros insetos. Os adultos
são facilmente reconhecidos pelo vértice aprofundado entre os olhos, face pilosa, hipofaringe
perfuradora e fortemente desenvolvida, tórax robusto e pernas fortes. Formam uma das mais
diversificadas famílias de Diptera, com distribuição cosmopolita. Incluem mais de 7.000 espécies
conhecidas em cerca de 530 gêneros. Na Região Neotropical, existem cerca de 1.576 espécies
distribuídas em 217 gêneros (GELLER-GRIMM, 2015).
O gênero Leptogaster Meigen, 1803, pode ser reconhecido por ter tamanho não superior a 20
mm, estreitamento na região das antenas e fronte mais larga que o vértice (Figura 1), nervura A1
normalmente muito maior que a célula bm e o ápice desta separada da base da célula m3 pela veia
tronco (Figura 2).
Com distribuição geográfica mundial, esse gênero inclui 254 espécies descritas. No Brasil, de
acordo com PAPAVERO (2009), Leptogaster tem ocorrência registrada nos estados do Amazonas,
Pará, Santa Catarina e São Paulo.
OBJETIVO
MATERIAL E MÉTODOS
Figura 4. Trilha Buraco. Figura 5. Trilha Interpretativa. Figura 6. Trilha Três Pontes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
73
o que representa respectivamente 55,44% e 44,55% de valores percentuais da trilha. Já nas trilhas,
Três Pontes/lago, Três Pontes/ferrovia e Interpretativa os machos foram mais abundantes. Os
números absolutos e valores percentuais para fêmeas e machos foram respectivamente: 30 (47,61%)
e 33 (52,38%); 16 (44,44%) e 20 (55,55%); 07 (41,17%) e 10 (58,82%) (Figura 9).
Como pode ser observado, as diferenças na razão sexual não foram significativas. Por fim, 10
espécimes não puderam ter o sexo identificado, por estarem muito danificados, e foram excluídos
deste estudo (3,15% do total). No período de 26/09/2013 a 27/01/2014 foi coletado um número
significativamente maior de indivíduos (69,27%) do que no período de 28/01/2013 a 25/10/2013
(Figura 10) mostrando que o gênero Leptogaster apresentou maior abundância na primavera e nos
dois primeiros meses do verão do que no final do verão e no outono e inverno, o que ocorre com a
maioria dos insetos (FORATTINI, 1962).
Figura 8: Número de indivíduos de Leptogaster (Asilidae) por trilha na Reserva Biológica da União, RJ.
74
Figura 9. Porcentagem de machos e fêmeas de Leptogaster (Asilidae) por trilha na Reserva Biológica da União, RJ.
Figura10: Número de exemplares de Leptogaster (Asilidae) coletados no período de janeiro de 2013 a março de 2014 na
Reserva Biológica da União, RJ.
75
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
76
CAMPOS, T.R.M. et al. 2016. Flutuação populacional de Campsurus truncatus Ulmer, 1920 (Ephemeroptera:
Polymitarcyidae) na Mata do Paraíso, Viçosa, Minas Gerais. In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. &
Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 77-83.
RESUMO
A partir de coletas realizadas em uma reserva florestal de Viçosa, Estado de Minas Gerais, foram
estudados aspectos da biologia populacional de Campsurus truncatus. Em 28 meses de coleta, foram
obtidos 5.996 exemplares. Os maiores valores de abundância foram obtidos em fevereiro, abril e
outubro. Foi verificada a correlação significativa positiva dos valores populacionais com velocidade do
vento, evaporação, precipitação, quantidade de dias de chuva, temperatura e nebulosidade, e negativa
com pressão atmosférica e insolação.
ABSTRACT
___________________
1
Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3
Museu Regional de Entomologia, Departamento de Entomologia, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, Brasil.
4
Autor correspondente: thiago.rodas.muller@gmail.com.
77
INTRODUÇÃO
Os integrantes da ordem Ephemeroptera são notáveis por passarem a maior parte de sua
existência como formas imaturas aquáticas, chamadas náiades, enquanto os adultos sobrevivem por
tempo suficiente apenas para a concretização do processo reprodutivo (EDMUNDS JR et al., 1976).
Devido a breve existência imaginal, não é incomum que alguns grupos promovam voos nupciais, às
vezes de grande magnitude (DA-SILVA & SALLES, 2012). É o que ocorre com o gênero Campsurus
Eaton, 1868 (Polymitarcyidae), comumente encontrado por todo o Brasil (PEREIRA & DA-SILVA,
1991; MOLINERI et al., 2015). A partir de coletas com armadilha luminosa, realizadas na Mata do
Paraíso, uma reserva florestal vinculada à Universidade Federal de Viçosa, Estado de Minas Gerais,
foram estudados aspectos da biologia populacional de Campsurus truncatus Ulmer, 1920. Os
resultados preliminares, ainda tratando a espécie como C. melanocephalus Pereira & Da-Silva, 1991,
foram apresentados em congresso científico (DA-SILVA et al., 1996).
A espécie tem distribuição conhecida para os estados de Pernambuco, Espírito Santo e Rio de
Janeiro (SALLES et al., 2015). A ocorrência de C. truncatus no município de Viçosa e no Estado de
Minas Gerais só foi registrada em literatura cinzenta (resumos de congressos, teses). Assim,
efetivamente a espécie é pela primeira vez registrada em Minas Gerais com base no presente trabalho.
OBJETIVO
Estudar o padrão de variação populacional de Campsurus truncatus Ulmer, 1920 (Figura 1),
com base em amostragens periódicas realizadas na Mata do Paraíso, município de Viçosa, MG.
ÁREA DE ESTUDOS
A Mata do Paraíso (20º45'S; 42º51'W) é uma reserva de Mata Atlântica secundária, com pouco
menos que 200 hectares de extensão e altitude média de 650 m, vinculada à Universidade Federal de
Viçosa (UFV). Segundo ANTUNES (1986), o clima da região está classificado como temperado
chuvoso (mesotérmico), também chamado subtropical de altitude (Cwb). Segundo dados históricos
(1931 a 1960) do Setor de Meteorologia Agrícola da UFV, as médias anuais de temperatura,
precipitação, evaporação e umidade relativa do ar são, respectivamente, 19oC, 1.341 mm, 650 mm e
80% (DE PAULA & FERREIRA, 1998). Conforme a classificação fitogeográfica de HUECK & SEIBERT
(1972), a vegetação está constituída por bosques subtropicais decíduos e mesófilos, com alta
proporção de espécies perenes. No local há ambientes lênticos, possíveis sítios de criação das
náiades de Campsurus truncatus.
78
Figura 1. Campsurus truncatus, imago macho.
MATERIAL E MÉTODOS
Os exemplares foram coletados com a utilização de uma armadilha luminosa modelo “Luiz de
Queiroz”, equipada com lâmpada UV de 15 watts e 100 volts, elevada a 2,5 metros do solo e adaptada
para a conservação dos insetos a seco. O material, coletado de agosto de 1981 a novembro de 1983,
está depositado no Museu Regional de Entomologia da UFV. Os exemplares capturados foram
mantidos a seco em mantas entomológicas, armazenadas em latas de 20 litros, contendo naftalina e
paraformaldeído, até a triagem e contagem. Após essas, os exemplares encontram-se estocados em
caixas entomológicas. Os dados ambientais foram obtidos junto ao INMET e são relativos ao município
de Viçosa. Visando estimar a possível influência dos fatores ambientais, utilizou-se a Correlação de
Postos de Kendall para confrontá-los aos fatores climáticos da localidade.
RESULTADOS
Os maiores valores de abundância média (Figura 3) foram obtidos em fevereiro, abril e outubro
de 1982 (respectivamente 412,5, 400,5 e 318,25 exemplares). Foi verificada a correlação significativa
positiva das médias mensais de C. truncatus com a velocidade do vento, a evaporação, a precipitação,
a quantidade de dias de chuva, a temperatura, a nebulosidade, e negativa com a pressão atmosférica
e a insolação (Tabela I).
DISCUSSÃO
Figura 3. Variação mensal da abundância média (em log Y) de Campsurus truncatus na Mata do Paraíso, Viçosa, MG, de
agosto de 1981 a julho de 1983.
Trabalhos populacionais com Ephemeroptera sugerem uma variação de acordo com a época,
81
mesmo em ambientes tropicais, onde a sazonalidade não é aparentemente tão bem definida,
indicando flutuações na abundância de acordo com a época avaliada (WOLDA & FLOWERS, 1985).
Muitos insetos das regiões intertropicais podem agir de forma sazonal, por causa de alternâncias entre
períodos secos e chuvosos ao longo do ano (WOLDA, 1988).
Tabela I. Correlação de Kendall (t) entre os valores populacionais de Campsurus truncatus e os parâmetros ambientais da
Mata do Paraíso, Viçosa, MG.
PARÂMETROS AMBIENTAIS t p
Velocidade média do vento 0,3059 p<0,05
Velocidade máxima do vento 0,33161 p<0,05
Insolação total (mês anterior) -0,38235 p<0,05
Evaporação de piche 0,31706 p<0,05
Nebulosidade média 0,26457 p<0,05
Número de dias de chuva 0,29719 p<0,05
Precipitação total 0,28925 p<0,05
Pressão atmosférica -0,35788 p<0,01
Temperatura máxima média 0,36713 p<0,01
Temperatura compensada média 0,38381 p<0,01
Temperatura mínima média 0,36713 p<0,01
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82
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83
COELHO, L.B.N. et al. 2016. Balclutha hebe and Curtara atomaria, non-seasonal leafhoppers in a seasonal environment
(Hemiptera: Cicadellidae). In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III
Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro,
p. 84-90.
Balclutha hebe KIRKALDY, 1906 AND Curtara atomaria (STÅL, 1862), NON-
SEASONAL LEAFHOPPERS IN A SEASONAL ENVIRONMENT (HEMIPTERA:
CICADELLIDAE)
Luci Boa Nova Coelho1,4
Elidiomar Ribeiro Da-Silva2
Bernardo Egito Amarante2
Sávio da Silva Cavalcante2
Paulo Sérgio Fiuza Ferreira3
RESUMO
Balclutha hebe KIRKALDY, 1906 E Curtara atomaria (STÅL, 1862), CIGARRINHAS NÃO-
SAZONAIS EM UM AMBIENTE SAZONAL (HEMIPTERA: CICADELLIDAE)
Cigarrinhas (Hemiptera: Cicadellidae) são insetos fitossuccívoros importantes em ambientes
florestais. O hábito alimentar, os elevados valores populacionais desses insetos e o fato de poderem
ser pragas agrícolas tornam importante o estudo de suas populações. Cigarrinhas, geralmente,
apresentam maiores valores de abundância durante as estações chuvosas, mas existem espécies
que não seguem tal padrão. Este trabalho relata Balclutha hebe (Deltocephalinae) e Curtara atomaria
(Iassinae) como espécies não-sazonais em uma reserva florestal do sudeste do Brasil.
ABSTRACT
_____________________________
1
Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3
Museu Regional de Entomologia, Departamento de Entomologia, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, Brasil.
4
Corresponding author: lucibncoelho@gmail.com.
84
INTRODUCTION
Relationships between organisms and the environment helps to understand ecological factors
which relevant to specific populations. These studies, in an anthropocentric point of view, are relevant
for phytophagous insects within an agricultural region to detect potential pests. The Atlantic Forest is
one of the most threatened and destroyed biomes of the planet, with about 100,000 km 2 of its area
remaining, what corresponds to 1% of the Brazilian territory (FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA,
2009). The Atlantic Forest covers about 10.33% of the Minas Gerais State, southeastern Brazil
(INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS, 2010), including the region known as Zona da Mata (CRUZ
et al., 2012).
Cicadellidae (Hemiptera: Auchenorrhyncha) are phytophagous insects, with higher biodiversity
(SOHI & MANN, 1988) and feeding on buds, leaves, petioles, stems and exposed roots (MENEZES,
1972; COELHO, 1997; LEITE et al., 2002). Species of this group cause direct damages to plants by
the sap extraction, but many of them as phytopatogens (ZANOL & MENEZES, 1982) and some having
economical relevance (GALLO et al., 1988). The food habit makes Cicadellidae a group with a large
study potential related to forest biodiversity and its alterations on plant composition (COELHO, 1997).
However, the scarcity of population studies shows that richness and studies on ecosystems of
Cicadellidae need to be better evaluated (ZANOL & MENEZES, 1982).
OBJECTIVES
To analyze the population variation of the leafhoppers Balclutha hebe (Kirkaldy, 1906)
(Deltocephalinae) and Curtara atomaria (Stål, 1862) (Lassinae) in Mata do Paraíso, an Atlantic Forest
reserve in the Zona da Mata, Minas Gerais State, Brazil, from samples collected from 1981 to 1993.
STUDY AREA
The municipality of Viçosa is located in the Zona da Mata and its original vegetation was a
continuous montane semideciduous forest inserted in the Atlantic Forest domains (VELOSO et al.,
1991; DE PAULA & FERREIRA, 1998). This original vegetation was replaced by coffee crops and later
by pastureland of molasses grass (Melinis minutiflora Beauv. – Poales: Poaceae) and secondary
forests in different successional stages. The Mata do Paraíso forest reserve (20º45'S; 42º51'W) is the
largest forest fragment in Viçosa. In the 19th century, after deforestation, it was partly replaced by
coffee crops and pastures. Nowadays, the forest is in different succession stages, which covers an
area of about 200 ha (DE PAULA & FERREIRA, 1998; PINTO et al., 2007) as a vegetation island
85
(CRUZ et al., 2012).
Mata do Paraíso, bonded by the Federal University of Viçosa (Universidade Federal de Viçosa
- UFV), is located in Viçosa municipality (Figures 1-2). This reserve, with an average altitude of 650 m
(DE PAULA & FERREIRA, 1998), was first used for wood and coffee production. Currently, the Mata
do Paraíso is administrated and protected by the Departamento de Engenharia Florestal of UFV, legally
blocking the removal of any material from this site (COELHO & DA-SILVA, 2003; COELHO et al., 2014).
The climate of Mata do Paraíso is classified as rainy temperate (mesothermal), also called as
subtropical altitude (Cbw) (ANTUNES, 1986). Its annual temperature, rainfall, evaporation and relative
humidity averages were, respectively, 19°C, 1,341mm, 650mm, 80% from 1931 to 1960 (DE PAULA
& FERREIRA, 1998).
The samplings were performed in a twilight-night operation with a “Luiz de Queiroz” light trap
(SILVEIRA NETO & SILVEIRA, 1969), with UV light bulb (15W, 100V), positioned about 2.5 meters
above the soil and adjusted for collecting dry insects (FERREIRA & MARTINS 1982). This trap was
mounted in a representative point of the region with wetlands, pasture and areas at different stages of
forest regeneration. The collections were performed during 64 months from September 1981 to
November 1983, June 1986 to June 1988 and August 1992 to July 1993. The trap was used from
twilight - night, between 6:00 PM and 6:00 AM (COELHO, 1997; DE PAULA & FERREIRA, 1998,
ZANUNCIO et al., 2001). The abundance in different seasons (dry and rainy) were compared through
the Mann-Whitney Test. The specimens of these insects are deposited in the Regional Museum of
Entomology of the UFV.
Figure 1. Vegetation aspect of Mata do Paraíso, Viçosa, Minas Gerais State, Brazil.
86
Figure 2. Map with the location of Mata do Paraíso, Viçosa, Minas Gerais State, Brazil. Modified from COELHO &
NESSIMIAN (2009).
The climatic seasons are a proven influence to the dynamics of many tropical insects’
populations. In Mata do Paraíso, seasons can be marked by the balance between evaporation and
rainfall, which the first being the dry season (April to September) and the other the rainy season
(October to March). The population of most leafhoppers species was highest in the rainy season
(COELHO, 1997). However, this pattern was not followed by some species, which similar number of
individuals between seasons. Of the species with constancy above 25%, those that did not apparently
have seasonal variation are Balclutha hebe and Curtara atomaria (Figure 3). Population values of these
species were similar between the dry and rainy seasons in Mata do Paraíso (Figure 4).
The seasonality of the Auchenorrhyncha groups (mostly Cicadellidae) in Las Cumbres, Panama,
showed most of them following a certain seasonal variation, while others presented no significant
differences between the climatic seasons (WOLDA 1980). B. hebe and C. atomaria fit in the last pattern
and thus, are characterized as non-seasonal in the area studied.
Curtara atomaria has occurrence known only to Brazil, which have been described from Rio de
Janeiro State (DeLONG, 1979). Later, the species were recorded for Minas Gerais State in the
municipality of Viçosa (COELHO et al., 2001), based on the material studied.
87
Figure 3. Non-seasonal Cicadellidae species of Mata do Paraíso, Viçosa, Minas Gerais State, Brazil.
Balclutha hebe, with a worldwide distribution, was described from Hawaii and recorded in
Australian, Afrotropical, Oriental, Nearctic, and Neotropical regions. In the Americas, it occurs in the
United States, Costa Rica, Nicaragua, Belize, Bahamas, Cayman Islands, Cuba, Dominica, Honduras,
Haiti, Virgin Islands, Puerto Rico, Trinidad and Tobago, Panama, Suriname, Ecuador, Guatemala,
Colombia, Bolivia, Peru, Paraguay, and Brazil (ZANOL, 2006). In Brazil, this insect has been registered
to Roraima, Maranhão, Bahia, São Paulo (ZANOL & MENEZES, 1982; COELHO, 1997), Santa
Catarina (HICKEL et al., 2001), and Rio de Janeiro (LOBO, 2007). This is first formal record of this
species in Minas Gerais State and the municipality of Viçosa after one unpublished record (COELHO,
1997).
FINAL CONSIDERATIONS
The rain and dry seasons are well marked in Mata do Paraíso. There are significant differences
of climatic elements between seasons, especially humidity and temperature. The small population
variation presented by Balclutha hebe and Curtara atomaria can show that these species are generalist
to bioecological demands, possibly by a phenotypic plasticity.
Forest strata have great importance as areas of biodiversity and provides environmental
services, particularly for the genetic flow of species of phytophagous insects of agricultural importance,
important to select insect resistance to slowing the various forms of management (behavioral,
chemical, etc.). Such resilience to climate requirements and possibly host is an aspect to be studied,
88
especially for B. hebe, which can carry Xylella fastidiosa Wells, Raju, Hung, Weisburg, Mandelco-Paul
& Brenner, 1987 (Xanthomonadales: Xanthomonadaceae), the causal agent of citrus variegated
chlorosis (HICKEL et al., 2001).
Figure 4. Abundance of Balclutha hebe (Mann-Whitney = 0.82, p = 0.22, n.s.) and Curtara atomaria (Mann-Whitney = 2.16,
p = 0.14, n.s.) in different seasons (rainy and dry) of the Mata do Paraíso, Viçosa, Minas Gerais State, Brazil.
ACKNOWLEDGEMENTS
We would like to thank the anonymous reviewers, who greatly contributed to the improvement
of the text.
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90
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the Rio de Janeiro City. In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III
Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro,
p. 91-100.
RESUMO
ABSTRACT
Based on insect collections attracted by light source, samplings of Auchenorrhyncha were collected
monthly from May 2014 to April 2015. Two families, Delphacidae and Cicadellidae, were recorded the
latter attaining higher abundance. Cloudiness and relative humidity were significantly correlated to
Cicadellidae densities. For Delphacidae, evaporation, precipitation and temperature (the previous
month) were significantly correlated to population data. Considering the total of Auchenorrhyncha, the
densities were significantly correlated to relative humidity, precipitation, cloudiness and evaporation.
___________________
1
Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3
Autor correspondente: elidiomar@gmail.com.
91
INTRODUCTION
OBJECTIVES
The present studying aimed to evaluate the population dynamics of auchenorrhynchous insects
of the Cicadellidae and Delphacidae families in a residential building in the northern zone of Rio de
Janeiro, southeastern Brazil.
AREA OF STUDY
The climate of Rio de Janeiro favors the occurrence of insects, primarily because of its rainfall
volume and high temperatures. The metropolitan region has, predominantly, a semi-humid tropical
climate, with heavy rainfall in the summer, when temperatures can easily reach forty degrees Celsius.
92
In contrast, the weather is much more mild and dry in the winter. The average temperature during the
year ranges from 22o to 24o Celsius and rainfall tends to be in between 1,000 to 1,500 millimeters
annually. The rainy season is in the summer, while winter is drier. The proximity of the sea and the
sharp and diverse relief of the metropolitan region of Rio de Janeiro contribute to the great spatial
variability and meteorological features. The urbanization process also changes the atmospheric
conditions, since they influence thermal properties of the surface, decreasing the wind intensity and
soil humidity (cf. KALNAY & CAI, 2003).
Various insects respond to abiotic factors like humidity, temperature, light and resources in
different ways. These abiotic factors not only affect the behavior of insects but also disturb the
physiological mechanism (KHALIQ et al., 2014). In this study, the different groups responded
significantly to evaporation, precipitation, cloudiness, temperature and relative humidity.
93
Figure 1. Collection point, a residential building located in a strictly urban area of Cachambi neighbourhood, north zone of
the city of Rio de Janeiro. Map of the city of Rio de Janeiro (above) and Cachambi and neighboring districts (below). Source:
Google Maps.
Overall, 148 specimens of Auchenorrhyncha were collected, 136 of the Cicadellidae family and
12 belonging to Delphacidae family. Part of the taxa identified is in Figure 2. During the sampling period,
Auchenorrhyncha presented three population peaks, the most prominent one in June-July, other in
November and another in March-April (Figure 3). The Cicadellidae members, which represent the vast
majority of the group, maintained such default values. Delphacidae, the less numerous members, had
the greatest population values in February-March, followed by June (Figure 4).
The peaks of Cicadellidae population were observed in April and June (22 and 21 specimens,
respectively). Cloud cover (t = 0.61132; p<0.05) and relative humidity (t=0.81865, p<0.01) were
significantly correlated to the population data. For Delphacidae, evaporation (t=0.68246, p<0.05),
precipitation (K = t=0.68133; p<0.05), maximum temperature of the last month (t=0.609; p<0.05), and
medium temperature of the last month (t=0.57687; p<0.05) were significantly correlated to the
population increases. Considering the total of Auchenorrhyncha, population values were significantly
correlated to relative humidity (t=0.82575; p<0.01), precipitation (t=0.59906; p<0.01), cloudiness
94
(t=0.63612; p<0.05) and evaporation (t=0.61364; p<0.05).
Multiple regression showed significant influence of the independent factors (evaporation, cloud
cover, precipitation and relative humidity) in population biology Auchenorrhyncha (multiple R=0.83875;
multiple R2= 0.7035; multiple R2 adj = 0.53407; ANOVA F=4,1522; p<0.05). The environmental factor
most significantly correlated to the Auchenorrhyncha is relative humidity. Simple linear regression
showed the influence of this factor in population dynamics, as shown in Figure 6. The line of regression
was calculated (slope a = 1.6098, std. error a = 0,34771, intercept b = -102,49, std. error b = 24,836).
The most distant points of the line were those relating to the months of May and June, which had
exeptionally high population densities.
Figure 2. Specimens of Auchenorrhyncha collected in a residential building located in a strictly urban área of Cachambi
neighbourhood, North Zone of the city of Rio de Janeiro. Cicadellidae: (A) Xerophloea viridis (Fabricius, 1794); (B)
Acinopterus sp; (C) Haldorus sp; (D) Protalebrella brasiliensis (Baker, 1899); (E) Curtara samera DeLong & Freytag, 1972.
Delphacidae: (F) Delphacodes sp; (G) Tagosodes sp; (H) Metadelphax(?) sp.
95
OTT & CARVALHO (2001), studying the Leafhopper community of a field in the State of Rio
Grande do Sul, observed that the lower population values were obtained in periods of low rainfall.
According to these authors, periods of exceptional drought can lead adults to enter a reproductive
diapause or move to favorable locations, as lower layers of vegetation or adjacent wetter areas. From
samples collected with a light trap held in Viçosa, State of Minas Gerais, COELHO & DA-SILVA (2003)
observed there were significant positive correlation between the values of Agallia incongrua Oman,
1938 leafhopper population and the average temperature. LARA et al. (2007) noted that in June, the
beginning of the dry period of the year, there is reduction in the number of leafhoppers. The progressive
increase in the number of insects occurred from December, during summer, characterized by the onset
of the rainy season and high temperatures. On the other hand, SANTA-CECILIA et al. (2002) found a
significant positive correlation between population values of Oncometopia fascialis (Signoret, 1854)
leafhopper with temperature and relative humidity, not with the rainfall. SARTOR et al. (2009),
inventorying the species of insects of the municipality of Viamão, State of Paraná, observed that in the
month of November was registered the largest number of specimens, coinciding with high values of
relative humidity and rainfall. Still related to rainfall, the immediately preceding month (October) had
the largest amount of precipitation sampling period. The month showing the lowest population, May,
was also the one who had the lowest rates of precipitation and maximum temperature in the period.
FABRIN et al. (2014) studied the population variation of leafhoppers in the State of Rio Grande do Sul,
noting four population peaks, occurring in the months of August, October, December and February.
According to them, the population of leafhoppers grows after the onset of spring rains, reaches peak
in summer and autumn and decreases significantly in the winter. REHMAN et al. (2015) studied the
population biology of the leafhopper Amrasca biguttula (Ishida, 1912) in Pakistan, correlating to the
relative humidity, at certain times of the day.
Figure 3. Monthly fluctuation of the abundance of Auchenorrhyncha in a residential building of the municipality of Rio de
Janeiro, may 2014 to April 2015.
96
Figure 4. Monthly fluctuation of the abundance of Cicadellidae and Delphacidae in a residential building of the municipality
of Rio de Janeiro, may 2014 to April 2015.
Figure 5. Linear regression line between the monthly variation of the abundance of Auchenorrhyncha and monthly average
values of relative humidity, obtained in a residential building of the municipality of Rio de Janeiro, may 2014 to April 2015.
The comparison between the seasons (spring/summer on one side, fall/winter on the other), in
the case of Auchenorrhyncha (t = 2.7043; p 0.05) and in the case of Cicadellidae (t = 2.8972; p = 0.05),
indicated the existence of significant seasonal variation (Figure 6). With respect to Delphacidae, there
was no difference in population number between stations, possibly by the low abundance values found.
While certain Auchenorrhyncha are active throughout the year, others seem to have a distinct
seasonal distribution. This seasonal activity is correlated with the start of the wet season and the
resulting production of new plant growth (WOLDA, 1978). In one of the few urban studies of the group,
CORDEIRO & SILVA (2012) analyzed the Hemiptera (Heteroptera and Auchenorrhyncha) of a hill of
97
Sulacap, West Zone of Rio de Janeiro. They found that most taxa and specimens occurred,
significantly, in the rainy season. In the present study, maybe because the sampling period have
occurred into an exceptionally dry year, population difference was not detected between stations.
However, grouping up spring with summer and autumn with winter, the difference was statistically
significant, indicating a seasonal pattern for the group.
Figure 6. Box-plot comparing the values of abundance of Auchenorrhyncha and Cicadellidae in the different seasons.
FINAL CONSIDERATIONS
The urban ecology is a relatively new area of research and the urban environment, therefore, is
a still little-known ecosystem (JAPYASSÚ & BRESCOVIT, 1999). In this way, urbanization, since
preserving portions of the original coverage, seems to favour a surprisingly high number of species,
and not just those introduced.
98
The groups obtained in this research can be relict fauna from Atlantic Forest remains within the
city of Rio de Janeiro, besides eventually introduced species from works of landscape architecture.
Further studies are needed for detailing the dynamics of occupation of urban areas by these
Auchenorrhyncha and to assess the impact of these animals throughout the urban community. One
factor that was not considered here is the possible influence of the development cycle of these insects,
it is not known how many generations occur each year and even if adults are present throughout the
year. To elucidate this question, it would be necessary to carry out biological studies with the species.
We must further highlight that the collection type used in this study (inspection of chandelier in
a residential building) can function as an alternative option to light common traps. This procedure is
suitable not only for inventories of taxa, as well as for ecological oriented studies. Respecting properly
the interval between the dates of collection, the material obtained is perfectly suitable to studies of
population biology and seasonality.
ACKNOWLEDGEMENTS
We would like to thank the anonymous reviewers, who greatly contributed to the improvement
of the text.
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100
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do município do Rio de Janeiro. In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais
do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de
Janeiro, p. 101-108.
RESUMO
ABSTRACT
___________________
1
Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ.
2
Núcleo de Estudos Limnológicos, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ.
3
Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, RJ.
4
Autor correspondente: elidiomar@gmail.com.
101
INTRODUÇÃO
Desde o início dos tempos, o ser humano tem uma relação bastante próxima com os insetos
de uma forma geral. Com a ocupação antrópica de ambientes antes selvagens, essa relação ficou
ainda mais evidente e, por vezes, dependente. Os insetos são animais extremamente adaptáveis, de
maneira que alguns evoluíram tendo relação direta com o homem. Muitas espécies são associadas à
chamada fauna urbana (GARDEN et al., 2006), podendo representar sérios problemas relacionados
à saúde pública, sendo vetores de patógenos e agentes de doenças ou indicadores de fatores
estressantes de nutrientes. As ordens mais comuns que ocorrem no meio urbano são Lepidoptera,
Blattodea, Coleoptera, Diptera, Hemiptera, Hymenoptera, Isoptera, Phthiraptera, Siphonaptera e
Thysanura (FOOTTIT & ADLER, 2009).
Dentre a ordem Hemiptera, destaca-se Singhiella simplex (Singh, 1931) (Aleyrodidae) (Figura
1), espécie oriunda da Ásia tropical e que vem se tornando praga por todo Brasil (LOPES-DA-SILVA
et al., 2014; DA-SILVA & COELHO, 2015). Conhecida como “mosca-branca-do-fícus”, a praga é
originalmente associada à figueira Ficus benjamina L., 1753 (Rosales: Moraceae) que, nos últimos
anos, vem sendo utilizada em vários países para produção de incenso, cerca viva, extração de resina
e ornamentação. Esse inseto se adaptou bem ao clima brasileiro e a outras espécies de árvores,
aumentando de forma significativa os estragos na flora urbana (DA-SILVA & COELHO, 2015). No
Brasil, a espécie foi observada pela primeira vez em 2009, em diversos municípios do Estado do Rio
de Janeiro, sendo logo depois detectada em São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, o que
mostra seu potencial expansionista. O presente trabalho teve como objetivo estudar a flutuação
populacional de S. simplex em uma residência urbana da Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro,
mais especificamente no bairro do Cachambi, a partir de indivíduos atraídos pela iluminação
doméstica.
Situada entre a Linha do Equador e o Trópico de Capricórnio, a cidade do Rio de Janeiro tem
clima tipicamente tropical, chuvoso no verão e seco no inverno, e possui serras e extensões
originariamente de Mata Atlântica. Localizada no Estado do Rio de Janeiro, Região Sudeste do Brasil,
está às margens do Oceano Atlântico, entre a Linha do Equador e o Tropico de Capricórnio. O período
chuvoso se concentra no verão, enquanto o inverno é mais seco. O clima é tipicamente tropical, porém,
em função de sua topografia, que apresenta regiões de baixadas e regiões montanhosas, algumas
pequenas variações são encontradas. Os processos de urbanização também alteram as condições
atmosféricas da região, uma vez que provocam modificações nas propriedades térmicas da superfície,
diminuição da intensidade do vento e da umidade no solo (KALNAY & CAI, 2003).
MATERIAL E MÉTODOS
Os exemplares foram coletados em um globo de luz (“lustre”), iluminado por duas lâmpadas
fluorescentes brancas, com potência individual de 15 watts. A espécie foi identificada com base em
AMARAL et al. (2013). Os exemplares foram fotografados com a utilização de um smartphone
Samsung Galaxy S5, acoplado à ocular de microscópio estereoscópico Physis. Os exemplares
estudados encontram-se depositados no Laboratório de Insetos Aquáticos, Departamento de
Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
A partir de coletas quantitativas mensais, realizadas de maio de 2014 a julho de 2015, em uma
edificação residencial da Zona Norte do Rio de Janeiro, bairro do Cachambi (Figura 2), foi possível o
estudo da variação populacional de Singhiella simplex. Os valores numéricos mensais do inseto foram
confrontados a dados meteorológicos obtidos no Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), cobrindo
o período de abril de 2014 a junho de 2015 (Tabela I), por meio da Correlação de Postos de Kendall.
A influência da precipitação foi testada por meio da Regressão Linear Simples, tendo sido os dados
populacionais normalizados por log (x+0,5). Os dados ambientais do mês de coleta dos exemplares e
os do mês imediatamente anterior à cada coleta foram utilizados nas correlações. As correlações e a
regressão foram calculadas utilizando-se o programa PAST (PAleontological STatistics), versão 3
(HAMMER, 2015).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As estações climáticas da localidade, durante o período amostral, puderam ser delimitadas com
base no balanço precipitação – evaporação. Quando a precipitação superou a evaporação definiu-se
103
o mês como chuvoso, enquanto o contrário caracterizou o mês como seco. Tal procedimento foi
adotado por outros estudos de biologia populacional de espécies tropicais (DE PAULA & FERREIRA,
1998; COELHO & DA-SILVA, 2003). Assim, durante as amostragens, apenas dois meses foram
considerados chuvosos (julho de 2014 e março de 2015), o que caracteriza o período como
excepcionalmente seco.
Tabela I. Dados meteorológicos para o município do Rio de Janeiro, de abril de 2014 a junho de 2015. Evap. = evaporação
(mm); Nebul. = nebulosidade; Precip. = precipitação (mm); T. máx. = temperatura máxima média ( oC); T. méd. =
temperatura compensada média (oC); T. mín. = temperatura mínima média (oC); UR = umidade relativa média (%).
Fonte: INMET
1
correlação significativa com os valores de abundância de Singhiella simplex.
Figura 2. Ponto de coleta, área totalmente urbana da Zona Norte do município do Rio de Janeiro (Fonte: Google Maps).
104
A primeira ocorrência de exemplares de S. simplex nas amostragens foi em junho de 2014.
Depois, os valores de abundância permaneceram baixos até a ocorrência de pico populacional em
março/abril (37 e 27 indivíduos, respectivamente), tornando a cair em maio de 2015 (Figura 3).
Figura 3. Variação mensal da abundância (número de indivíduos) de Singhiella simplex em uma residência urbana da
Zona Norte do município do Rio de Janeiro, de maio de 2014 a julho de 2015.
Com base na Correlação de Kendall, foi detectada a relação positiva significativa (U = 0,63083;
p<0,01) entre a umidade relativa do ar e a dinâmica populacional desse Aleyrodidae, isso quanto aos
dados ambientais do mesmo mês de coleta dos exemplares. Considerando os valores do mês
imediatamente anterior às coletas, os parâmetros umidade relativa do ar (U=0,49115; p=0,01),
evaporação (U=0,51399; p<0,01) e precipitação (U=0,49115; p<0,05) foram correlacionados
significativamente aos valores de abundância de S. simplex.
A umidade relativa é fator já relacionado às flutuações populacionais de insetos da família
Aleyrodidae. ARAÚJO (2005), estudando a dinâmica populacional de Aleurothrixus aepim (Goeldi,
1886) e Bemisia tuberculata (Bondar, 1923) no Piauí, constatou que valores mais elevados de
abundância ocorreram nos meses de umidade relativa alta. Elevadas taxas de evaporação e
evapotranspiração mantêm a umidade relativa alta, o que pode explicar a correlação positiva com os
valores populacionais (STANSLY & NATWICK, 2010).
Quanto à influência da pluviosidade, FIGUEREDO (2002), estudando Aleurocanthus woglumi
Ashby, 1915 na Venezuela, observou que os valores populacionais mais altos ocorreram durante a
época seca. MEDEIROS et al. (2009), estudando a biologia populacional de Aleurocanthus woglumi
105
Ashby, 1915 no Maranhão, observaram os maiores valores de abundância no período com menores
taxas de precipitação. MARTÍNEZ et al. (2012), estudando a biologia populacional de Bemisia tabaci
(Gennadius, 1889) na Colômbia, também verificaram a correlação negativa entre os valores de
abundância e precipitação. LEITE et al. (2002), estudando B. tabaci em Minas Gerais, verificaram que
as temperaturas mais elevadas favoreceram as populações de mosca-branca, não detectando o efeito
da chuva sobre as populações. Tais resultados diferem dos encontrados no presente trabalho, em que
o total de pluviosidade do mês anterior ao de cada coleta influenciou positivamente a dinâmica
populacional de S. simplex (r=0,67932; p<0,01), verificado com a reta de regressão (Figura 4).
Deve-se ressaltar que, contrariando a maioria dos relatos até aqui registrados, S. simplex
apresenta boa capacidade de voo (DA-SILVA & COELHO, 2015), posto que as amostragens foram
realizadas no 6º pavimento de uma edificação, cerca de 30 metros acima da copa das árvores mais
próximas, possíveis locais de criação dos exemplares.
Figura 4. Reta de regressão simples entre a precipitação total (mm) e a abundância [log (x+0,5)] de Singhiella simplex
(slope a = 0,011717; intercept b = -0,57166; stderr a = 0,0035105; stderr b: 0,24296; r = 0,67932; p = 0,0053457) em uma
residência urbana da Zona Norte do município do Rio de Janeiro, de maio de 2014 a julho de 2015.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
106
o que, muitas vezes, inclui mudanças na alimentação e no comportamento. O crescimento
desordenado das cidades e a consequente diminuição das áreas naturais forçam insetos e outros
animais a convierem com o ser humano, desenvolvendo estratégias ecológicas de colonização.
Qualquer espaço que forneça alimento e calor passa a ser propício à ocupação dos novos moradores.
Sem essa capacidade de adaptação, tais espécies provavelmente entrariam em colapso rapidamente.
O clima é fator básico para as delimitações e análises de dinâmica populacional e tem também
grande relevância na organização e estruturação das comunidades. O relevo acentuado da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro e a proximidade do Oceano Atlântico contribuem para a grande
variabilidade espacial e estacional dos elementos meteorológicos, tais como precipitação,
temperatura, umidade, ventos, nebulosidade e evaporação. As variações climáticas podem selecionar
espécies com maior adaptação a perturbações locais do microclima (RICHARDSON et al., 2000).
Espécie potencialmente indicadora de alteração ambiental (no caso, a urbanização),Singhiella
simplex é um bom exemplo de inseto exótico que, além de se adaptar bem ao clima e à região, se
adaptou adequadamente à flora local e aos novos nichos disponíveis. Assim, pode vir a causar danos
a plantas ornamentais do Rio de Janeiro, pela transmissão de patógenos.
AGRADECIMENTOS
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Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 109-119.
RESUMO
Devido à importância médica do mosquito Aedes aegypt (Linnaeus,1762) como vetor de múltiplos patógenos,
muitos estudos vêm sendo desenvolvidos sobre a fisiologia e comportamento deste inseto. Porém, ainda restam
lacunas sobre os fatores que influenciam comportamentos importantes do vetor, como é o caso da oviposição.
Neste trabalho, a atividade de oviposição das fêmeas de A. aegypti foi avaliada, em laboratório, sob o prisma
da influência do fator luz, com ênfase na investigação do papel do relógio biológico. O número de ovos
colocados, por fêmea, foi avaliado em ambas as fases clara e escura, tanto em regime “LD” (12h de luz e 12h
de escuro), quanto em “DD” (escuro constante) ou “LL” (claro constante). A média obtida foi de ± 80 ovos/fêmea
em LD, ± 95 ovos/fêmea em DD e ± 50 ovos/fêmea em LL. Nossos resultados indicam que, a preferência de
oviposição é pela fase escura, e aparentemente, o fator exógeno (luz) tem importância mais marcante que o
fator endógeno (relógio circadiano).
ABSTRACT
Light and biological clock influence in the egglaying activity of the Aedes aegypti (Linnaeus,
1762) (Diptera: Culicidae) - preliminary observations
Due Aedes aegypti (Linnaeus, 1762) medical importance as a vector of multiple pathogens, many studies to
have been done on the physiology and behavior of this insect. However, there are still gaps on the factors that
influence important vector behaviors, as in egglaying. In this paper, the activity of A. aegypti females egglaying
was assessed in the laboratory. The light factor influence was analyzed, emphasizing the investigation of the
biological clock role. The number of eggs laid per female, was assessed in both light and dark phases in “LD”
photoperiod (12 hours of light and 12 hours of dark), and "DD" (constant darkness) or "LL" (light constant).
Average was ± 80 eggs / female in LD, ± 95 eggs / female in DD and ± 50 eggs / female in LL. Our results
indicate the preference of egglaying is in the dark stage, and apparently the exogenous factor (light) is stronger
than the endogenous factor (circadian clock).
___________________
1
Laboratório de Biologia Molecular de Insetos, Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, Rio de Janeiro, RJ.
2
Autor correspondente: rafaelabruno@gmail.com.
109
INTRODUÇÃO
Ao longo da evolução, os mais variados organismos vêm sendo submetidos a ciclos diários –
dentre os mais importantes – de luz, temperatura e umidade, devido ao movimento de rotação que a
Terra realiza em torno do seu próprio eixo. Os organismos passaram então a apresentar ritmos
circadianos (do latim circa = cerca e diem = dia) em resposta às variações fisiológicas e ambientais
(MOORE-EDE et al., 1982; MARQUES & MENNA BARRETO, 1999). Dados empíricos sobre a
existência de um relógio biológico em diversas espécies que incluem plantas, animais e seres
humanos, já vem sendo constatados desde a antiguidade, sugerindo a importância desses ritmos
(AMORETTY et al., 2013). A primeira indicação de que havia um controle endógeno do relógio
circadiano surgiu com o experimento de um astrônomo francês chamado Jean-Jacques d’Ortous de
Mairan, em 1729, quando observou que as folhas de Mimosa pudica (Linnaeus, 1753) (dormideira) se
abriam durante o dia, e se fechavam durante a noite. Ao retirar o estímulo luminoso de algumas dessas
plantas, mantendo-as em escuro constante, foi observado que as folhas continuavam abrindo durante
as horas correspondentes ao dia (“dia subjetivo”), e fechando durante o horário correspondente à noite
(“noite subjetiva”).
Outro estudo importante com essa mesma espécie de planta foi realizado, em 1835, pelo
botânico suíço Augustin de Candolle. Foi constatado que o movimento das folhas apresentava um
atraso diário quando os espécimes eram colocados em escuro constante (livre de indicadores
ambientais), evidenciando uma periodicidade endógena de 22 a 23 horas. Esse período próximo, mas
não exatamente igual a 24 horas, ficou conhecido posteriormente como “período de livre curso”. Mais
tarde, Colin Pittendrigh, em 1950, iria demonstrar que o período de livre curso poderia ser “acertado”
por fatores ambientais que indicassem a passagem de tempo (PITTENDRIGH, 1993; FOSTER &
KREITZMAN, 2005). Para essa propriedade, dá-se o nome de “sincronização”, ou entrainment (em
inglês) (MARQUES & MENNA BARRETO, 1999; JOHNSON et al., 2003). Os ciclos de claro-escuro e
de temperatura quente-frio, são os que mais fortemente sincronizam o relógio de diversas espécies.
No entanto, ciclos sociais, de alimentação e de umidade, por exemplo, também sincronizam o relógio
circadiano (MOORE-EDE et al., 1982; MARQUES & MENNA BARRETO, 1999).
Em insetos, o relógio circadiano da mosca-de-fruta Drosophila melanogaster (Meigen, 1830) é
o melhor compreendido e vem sendo utilizado em estudos comparativos para auxiliar na
caracterização do relógio circadiano em espécies vetoras de doenças tropicais, tais como Lutzomyia
longipalpis (Lutz & Neiva, 1912), Aedes aegypti e Culex quinquefasciatus (Say, 1823) (GENTILE et
al., 2009). Em Drosophila Fallén, 1823, a regulação molecular do relógio circadiano envolve alças de
retroalimentação negativa. Na alça principal, estão localizadas as proteínas CLOCK (CLK) e CYCLE
(CYC), que formam um heterodímero e se ligam aos sítios E-box (CACGTG) nas regiões promotoras
110
de period (per) e timeless (tim), induzindo a transcrição destes genes. Curiosamente, o acúmulo das
proteínas PER e TIM ocorre algumas horas mais tarde do que seus respectivos transcritos. Esta
diferença ocorre pela ação da quinase DOUBLETIME (DBT) que fosforila a proteína PER, marcando-
a para degradação via proteossoma (EDERY et al., 1994; PRICE et al., 1998; KLOSS et al., 1998,
2001). Em meados da noite, quando PER se associa a TIM formando um heterodímero, as duas
proteínas são estabilizadas e protegidas da degradação mediada por DBT (HARDIN, 2011;
STANEWSKY, 2002; YU et al., 2006).
A proteína DBT, por sua vez, associa-se ao heterodímero PER-TIM, formando o complexo PER-
TIM-DBT (KLOSS et al., 2001). A fosforilação de PER e de TIM promove a migração deste complexo
para dentro do núcleo. Uma vez no núcleo, esse complexo se liga a CLK-CYC (AKTEN et al., 2003;
CHANG & REPPERT, 2003). O complexo, então, promove a fosforilação de CLK por meio de DBT, o
que reprime a ligação do fator transcricional CLK-CYC às regiões promotoras dos genes controlados
por ele, como per e tim (YU et al., 2006; revisado em HARDIN, 2011). Com a inibição da transcrição
de per e tim, os níveis de suas proteínas começam a cair.
No início do dia, a presença da luz provoca a sincronização do relógio. Este estímulo promove
uma mudança conformacional da flavoproteína denominada CRYPTOCHROME (CRY), levando a
proteína TIM à degradação via proteossoma (STANEWSKY et al., 1998; NAIDOO et al., 1999; EMERY
et al., 2000; LIN et al., 2001; RIEGER et al., 2003; BUSZA et al., 2004). Com a ausência da repressão
exercida por PER-TIM-DBT, CLK-CYC consegue se ligar e ativar novamente a transcrição de per e
tim, recomeçando o ciclo por retroalimentação negativa (STANEWSKY, 2002; HARDIN, 2011).
Já foi comprovado que, em mosquitos da espécie A. aegypti (Linnaeus, 1762), vários aspectos
do comportamento, como alimentação sanguínea, locomoção, cópula, são influenciados pelo relógio
biológico (CLEMENTS, 1992). Porém existem lacunas a serem elucidadas a respeito dos fatores que
influenciam diretamente a atividade de oviposição. Portanto, a investigação de como fatores externos
podem influenciar essa atividade é relevante, tanto para desvendar questões básicas da fisiologia do
vetor quanto para pesquisas direcionadas ao controle do mesmo (MADEIRA et al., 2002; WONG et
al., 2011).
A escolha do local para ovipor é de suma importância na vida dos insetos (BENTLEY & DAY,
1989) já que sua perpetuidade dependerá disso. Dependendo do inseto, essa escolha pode ser
baseada em diferentes fatores, como por exemplo: composição do substrato, nível de umidade e até
mesmo nível de incidência de luz (CLEMENTS, 1992; ABRAM et al., 2015). Além disso, é importante
destacar que as fêmeas de A. aegypti possuem uma habilidade “dispersiva” ao colocarem seus ovos.
Isto é, em uma mesma postura, as fêmeas podem colocar ovos em diversos locais, multiplicando
assim suas chances de sucesso em “espalhar” seus descendentes de um mesmo ciclo gonotrófico.
Essa estratégia pode resultar em dispersão do vetor quando sítios apropriados de oviposição não são
111
encontrados e, consequentemente, podem alastrar consideravelmente doenças transmitidas por este
vetor (REITER et al., 1995; EDMAN et al., 1998).
Esta espécie ainda conta com uma estratégia de sobrevivência chamada de resistência dos ovos à
dessecação, característica tal que protege os embriões em desenvolvimento da perda de água,
possibilitando que o ovo sobreviva em condições secas até que o criadouro esteja novamente em
condições favoráveis à eclosão (CHRISTOPHERS, 1960; KLIEWER, 1961; CONSOLI & LOURENÇO-
DE-OLIVEIRA, 1994; REZENDE et al., 2008, VARGAS et al., 2014). Ovos de A. aegypti possuem a
capacidade de se manterem em estado de quiescência por meses, em ambiente seco, até que o
criadouro em questão seja novamente inundado (VARGAS et al., 2014). Sendo assim, ter
conhecimento sobre o padrão da atividade de oviposição desse vetor é extremamente importante do
ponto de vista epidemiológico e no desenvolvimento de novas estratégias de controle.
Acerca da literatura (GILLETT & HADDOW, 1957) diz-se que o pico do ciclo de oviposição de
A. aegypti ocorre entre às 14 e 15 horas, com preferência pela fase clara. Entretanto, notou-se nos
experimentos de rotina laboratorial, com posturas forçadas, uma quantidade visivelmente maior de
ovos quando as fêmeas eram postas a ovipor em ambientes escuros, contrapondo o observado na
literatura conhecida. Sendo assim, é clara a importância do fator ambiental luz na atividade de
oviposição de fêmeas de A. aegypti. Por esse motivo, estudamos neste trabalho a influência da luz na
atividade de oviposição desta espécie.
OBJETIVOS
No presente trabalho foi avaliada a influência da luz na quantidade de ovos postos por fêmeas
do vetor A. aegypti, verificando assim a preferência da fêmea pela fase clara ou escura e a possível
regulação desta atividade pelo relógio circadiano.
MATERIAIS E MÉTODOS
Manutenção de mosquitos
Foram utilizados ovos de A. aegypti da cepa Rockefeller, cedidos pelo Laboratório de Fisiologia
e Controle de Artrópodes Vetores (LAFICAVE), do Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, Rio de Janeiro,
Brasil. Ovos estocados em papel de filtro seco foram estimulados à eclosão como descrito por Farnesi
e colaboradores (2009).
As larvas recém eclodidas foram transferidas para bacias transparentes contendo 1,5 ml de
água filtrada e duas unidades de comida de gato (0.2 g) (Whiskas® adultos). As bacias foram
estocadas em incubadoras com temperatura (25 ± 1ºC), umidade (20 – 50%) e fotoperíodo (“LD”
112
12/12h: 12h de claro e 12h de escuro) controlados. As pupas foram coletadas com auxílio de uma
pipeta Pasteur manual e alocadas em copos plásticos escuros com capacidade para 200 mL, contendo
a mesma água da bacia de criação. As pupas foram transferidas para gaiolas de papelão (± 50 cm de
altura) com tela de tule e entraram a partir desse momento em incubadoras com fotoperíodo LD 12:12
(12 horas de claro seguidas de 12 horas de escuro) e LD invertido (12 horas de escuro seguidas de
12 horas de claro), até emergirem os adultos
113
Análise estatística
Os resultados obtidos foram analisados pelo T test, através do programa GraphPad Prism 5
(Graphpad Software, Inc).
RESULTADOS
DISCUSSÃO
O mosquito A. aegypti pertence à família Culicidae, onde encontram-se muitas espécies vetoras
114
de patógeno. A. aegypti é o principal transmissor de Dengue no mundo inteiro (WHO, 2012), além de
estar envolvido também na transmissão de Febre Amarela Urbana, Chikungunya e Zika (MS/SVS
2014; VALLE et al., 2015). Dengue e Febre amarela são consideradas as duas doenças virais mais
importantes transmitidas ao homem por artrópodes (GOULD & SOLOMON, 2008). Exatamente por
não haver atualmente nenhuma terapia antiviral específica ou vacinas comercializadas, a única
estratégia viável nos dias atuais é o controle do vetor (VALLE et al., 2015). O estágio de ovo é, sem
dúvida, bastante importante no que tange as ações de controle do vetor, uma vez que os ovos são os
únicos que não possuem a capacidade de se dispersar (MONNERAT et al., 2002). Sendo assim, as
fêmeas da família Culicidae devem assegurar a sobrevivência e o desenvolvimento de seus ovos e
suas larvas, escolhendo um local mais apropriado para ovipor. Essa escolha é baseada na percepção
do estímulo físico e químico do criadouro (BENTLEY & DAY, 1989; NAVARRO-SILVA et al., 2009),
como baixa concentração de matéria orgânica decomposta, e efeitos atrativos de algumas plantas
sobre as fêmeas (CONSOLI & LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1994; COLTON et al., 2003; WONG et al.,
2011).
Sabendo da característica de “oviposição aos saltos” das fêmeas de A. aegypti (CLEMENTS
1992), a metodologia escolhida (de aprisionamento das fêmeas) foi importante para que tivéssemos,
em um mesmo local e em pouco tempo, um grande número de ovos na condição controle (LD), com
média de 80 ovos por fêmea. No entanto, em alguns casos obtivemos algumas fêmeas que
ovipuseram cerca de 120 ovos, número semelhante ao já descrito no campo (CHRISTOPHERS,
1960).
Em mosquitos hematófagos – como é o caso das fêmeas de A. aegypti – o repasto sanguíneo
é requerido para a produção dos ovos. O sangue é necessário para que os ovos se tornem maduros
e possam ser postos, pois o A. aegypti, diferente de outros mosquitos como o Georgecraigius
atropalpus (Coquillett, 1902), é anautógeno. A autogenia é um processo dependente de hormônios
específicos adquiridos no momento da hematofagia (GULIA-NUSS et al., 2015). Diante do exposto,
fica claro que fêmeas bem alimentadas são de extrema importância para uma postura bem-sucedida,
já que a produção de ovo é proporcional a quantidade de sangue ingerido. Por esse motivo, em nosso
trabalho, o momento da alimentação sanguínea e a escolha das fêmeas foram minuciosamente
controlados, determinando o tempo de 20 minutos para a alimentação de todas as gaiolas utilizadas
em todos experimentos, bem como a observação da dilatação e da coloração do abdômen das fêmeas
(cor avermelhado e aumento visível de volume abdominal) para a escolha das mesmas. A
coordenação da alimentação das larvas é de extrema importância, já que se não houver quantidade e
enriquecimento suficientes de reserva alimentar nesse estágio, os adultos serão menores e, mesmo
depois do repasto, colocarão menos ovos (SCOTT et al., 1993a,b; XUE et al., 1995; REYES-
VILLANUEVA, 2004; FARJANA & TUNO, 2013).
115
Nossos resultados corroboram em parte dados antigos da literatura. Para HADDOW & GILLETT
(1957), a preferência das fêmeas do mosquito A. aegypti em sua atividade de oviposição é pela fase
clara, quando no referido trabalho, eram registrados o maior número de ovos. Os autores afirmam que
o pico de oviposição ocorre no início da tarde (entre às 14 e 15 horas). Entretanto, essas análises
foram realizadas em campo. Nossos achados, com condições de luz e temperatura controladas em
laboratório, destacam que a maior média de ovos ocorreu quando as fêmeas estão sendo forçadas a
ovipor na fase escura. Por outro lado, um artigo do mesmo grupo discute que, em laboratório, foram
registrados picos de oviposição no início da fase escura, corroborando os nossos achados (HADDOW
et al., 1961; GILLETT et al., 1961). Ou seja, independente da atividade diurna de locomoção do A.
aegypti (GENTILE et al., 2009), a sua atividade de oviposição, na realidade, parece estar ligada à fase
escura, reforçando o que Corbet e colaboradores (1959) afirmam: “no ritmo de oviposição, o elemento
endógeno é fraco e o exógeno é o elemento forte”. Nossos resultados sugerem que existe, de fato,
um envolvimento endógeno, pelo que foi observado com os resultados do regime LL, pois a exposição
à luz constante diminuiu drasticamente a atividade de oviposição. Podemos hipotetizar que a ausência
de uma fase escura levou à desregulação de alguns genes do relógio endógeno, dentre eles, o gene
cryptochrome 1 (cry1), ortólogo do gene cry de Drosophila e responsável pela percepção da luz
(STANEWSKY et al., 1998). Por outro lado, nos resultados de DD, o número de ovos postos foi muito
semelhante e a oviposição não apresentou diferença entre as fases, sugerindo que o Zeitgeber luz
seja fundamental para a amplitude do ritmo.
116
Segundo GILLETT et al. (1958), não há diferença na quantidade de ovos postos por fêmeas
submetidas à regime de luz constante (LL) ou escuro constante (DD). Nesse trabalho os experimentos
de Gillett e colaboradores foram realizados por 6 dias seguidos onde as fêmeas realizavam a postura
livremente. Ao contrário, nossos resultados, na condição de postura forçada e sincronizada, foi
significativamente maior o número de ovos na condição de escuro constante (DD). No entanto, nossos
resultados são semelhantes quando observamos o regime LD. Tal como GILLETT et al. (1958)
encontramos o maior número de ovos postos neste regime, mesmo com metodologias distintas.
Outra afirmação de interesse, vista entre diversos pesquisadores (GILLETT et al., 1961) diz
que o pico de oviposição em A. aegypti, é aumentado pelo retorno ao escuro depois de uma fase
luminosa, não importando o tempo de exposição à luz. Nossos resultados confirmam esta afirmativa
uma vez que encontramos, no regime LD, uma atividade de oviposição maior na fase escura
subsequente à fase clara do que no inverso.
Nossas observações preliminares ainda não deixam claro qual a real participação da luz como
Zeitgeber para o ritmo de oviposição. Para uma avaliação da existência real de um controle endógeno
regulando a atividade de oviposição, já estão em andamento experimentos moleculares para a análise
da expressão de genes do relógio. Além disso, a viabilidade dos ovos postos nos dará informações
da importância do ciclo não só para a ovogênese como também para a embriogênese.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Robson Costa da Silva pelo suporte técnico, ao Dr. João Gesto, pela leitura
crítica do manuscrito, ao LAFICAVE/IOC pela disponibilização dos ovos e pela alimentação sanguínea
dos mosquitos e às agências de fomento (FAPERJ, CNPq e CAPES).
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de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 120-125.
RESUMO
O crime tem um grande potencial em motivar as pessoas que, movidas pelo fascínio investigativo e
pela sede de justiça, vão à busca de informações. O projeto “O Júri e a Perícia” foi criado com o
objetivo de utilizar essa energia motivacional para ensinar assuntos específicos das áreas de
entomologia forense, jurídica e temas de elevado valor ético, moral e social. A utilização de laudos
entomológicos forenses em um crime simulado permite mostrar a importância dessa área pericial na
investigação de um crime de modo a promover uma interação interdisciplinar entre alunos de diversos
cursos de graduação. A metodologia foi dividida em três etapas, sendo a primeira um Tribunal do Júri
Simulado, a segunda uma Peça de Teatro, revelando a verdade dos fatos, e a terceira uma Mesa
Científica, com profissionais e professores das áreas do conhecimento abordadas no evento. A
presente ferramenta acadêmica possibilitou, através da utilização do evento como método de ensino
e da mesa científica, uma interação entre diversas áreas do conhecimento à perícia forense, entre um
grupo extremamente heterogêneo de pessoas.
ABSTRACT
___________________
1
Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Autor correspondente: machado.cbb@gmail.com.
120
INTRODUÇÃO
MATERIAL E MÉTODOS
A proposta do projeto é desenvolver o ensino das ciências periciais e jurídicas através da arte.
A metodologia foi dividida em três etapas, sendo a primeira um Tribunal do Júri Simulado, a segunda
uma Peça de Teatro, revelando a verdade dos fatos, e a terceira uma Mesa Científica, com
profissionais e professores das áreas abordadas no evento. Os laudos técnicos periciais,
apresentados na primeira etapa, foram confeccionados por profissionais da área, baseados nos
vestígios encontrados na cena do crime simulada, dentro das normas processuais e dos rigores
científicos exigidos nos laudos oficiais apresentados pela perícia técnica. Assim como o processo
fictício, parte da peça de teatro foi criada baseando-se na cena do crime, de modo que a trama
justificasse todos os elementos vestigiais (materiais) coligidos.
O referido trabalho foi realizado durante a primeira e segunda etapa do projeto, onde foi
apresentado o laudo pericial de entomologia e genética. Logo após, os fatos apresentados pelos
peritos foram concretizados no decorrer da peça teatral. Foi criado um processo criminal fictício de um
crime doloso contra a vida, contendo a apresentação da denúncia pelo Ministério Público, o Inquérito
Policial com todas as provas (periciais e oculares) e a pronúncia do juiz. Os vestígios coletados para
análise pericial foram: um mosquito que estava morto aderido à parede da sala do imóvel e a perna
de um inseto que foi encontrada na mão direita da personagem “Bela”, os dois vestígios apresentando
uma substância parda avermelhada ao seu redor com aparência de sangue. Ambos foram coletados
por um perito criminal responsável pelo exame de “Local de Morte Violenta”, mas a perna do inseto
foi coletada no Instituto Médico-Legal (IML).
Foram enviados para o laboratório de Entomologia Forense, para que pudessem identificar
taxonomicamente com auxílio de chaves de identificação, no qual foi concluído que era a espécie
Aedes aegypti (Linnaeus, 1762) (Diptera: Culicidae), vulgarmente chamado de mosquito da dengue.
A substância parda avermelhada foi removida do corpo do inseto e enviada para o Setor de Bioquímica
a fim de atestar quanto a sua natureza, buscando saber se a substância era sangue e se era humano.
O inseto foi dissecado e o conteúdo intestinal foi transferido para um cartão FTA® (Flinders
Technology Associates), um papel à base de celulose absorvente contendo produtos químicos para
proteger as moléculas de DNA da degradação e preservar quanto ao crescimento bacteriano, e
122
também foi enviado ao Setor de Bioquímica a fim de confirmar se tratava de sangue, no qual o setor
de Entomologia Forense solicitou que se confirmado, fosse encaminhado para o Instituto de Pesquisa
Perícias Genética Forense (IPPGF).
Foi solicitado um confronto genético para o material biológico (sangue) enviado, no qual
também foi coletado o sangue dos suspeitos e outros, para a confecção do laudo, atribuindo tudo que
lhe foi solicitado. As amostras biológicas (swab oral) do personagem suspeito “Demósteles” e de seu
filho “Arthur” foram coletadas no IPPGF (Instituto de Pesquisas e Perícias em Genética Forense), as
coletas foram efetuadas mediante o preenchimento e assinatura de Ficha Cadastral, as doações foram
voluntárias conforme Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Também foi analisado o confronto
com a mostra de músculo esquelético colhido no cadáver de “Bela” (colhido no exame de necropsia
realizado no IML - enviado para este instituto), o swab oral de “Clarissa” também foi colhido no IML
em exame de corpo de delito de lesão corporal e foi enviado para este instituto.
As amostras do corpo do mosquito, do cartão FTA® e o da mão da “Bela” foram submetidos ao
método de extração orgânico de DNA e as amostras do “Demósteles”, “Arthur” e “Clarissa” foram
submetidas ao método de extração em resina Chelex 100®.
Para a amplificação do DNA e análise do perfil genético, as amostras de DNA foram submetidas
à amplificação pelo método PCR com emprego dos sistemas de identificação humana - PowerPlex®
16 HS System, da empresa Promega Corporation, para análise de STR autossômico mais o marcador
de gênero amelogenina, e da Amp/STR®Yjíler™ System (para STR do cromossomo Y), da empresa
AppliedBiosystems. Os produtos amplificados foram analisados no ABI PRISMTM3100 Avant
GeneticAnalyser, com auxílio dos softwares ABI Prism3100 DataCollection e ABI PRISM 3100
GeneMapper, da empresa AppliedBiosystems.
Após as confecções dos laudos por peritos criminais referentes a cada área abordada, os
alunos de Biomedicina, Biologia e Medicina que atuaram como peritos fizeram uma apresentação em
Power Point do Pacote Office 2010 do laudo de sua responsabilidade, para então apresentar no
Tribunal do Júri Simulado, que continha: defensor, promotor, juiz, oficial de justiça, escrivão, e
testemunhas oculares, também respondendo aos questionamentos não combinados previamente do
promotor e do defensor.
Para que então o Tribunal do Júri Simulado termine com o réu absolvido ou não, sendo tal
decisão tomada por uma votação do júri popular no qual é escolhido de forma aleatória com voluntários
da plateia, com auxílio de cinco perguntas que são os quesitos atribuídos para a tal decisão. Chegando
a segunda etapa, a Peça Teatral, que irá desvendar a verdade dos fatos, onde quem participou do júri
popular terá a oportunidade de saber se julgou o réu erroneamente ou não, sendo-lhe atribuída a visão
da dificuldade do julgamento e a importância da análise minuciosa das provas objetivas e subjetivas.
A Mesa Científica como a terceira parte do evento, mas ocorrendo apenas no evento de 2013, para
123
que assim a plateia possa tirar as dúvidas com os profissionais das áreas abordadas nas outras duas
etapas do projeto.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A prova pericial anexa ao auto do processo foi a seguinte: o laudo de entomologia apresentou
a perna do inseto encontrada na mão da personagem “Bela”, que era do mesmo inseto que estava
morto na parede, o inseto encontrado correspondia a um exemplar de Aedes aegypti (Linnaeus, 1762)
(mosquito da dengue), o material avermelhado encontrado na superfície do mosquito e dentro de seu
sistema digestório foi enviado para o setor de hematologia que ao ser analisado confirmou que ambos
eram de sangue humano, no qual as amostras eram uma mistura do material genético dos outros dois
personagens “Clarissa” e “Arthur”, confirmando que ambos estiveram no local, tornando-os
personagens importantes para a resolução do crime, que foi efetivada logo após a apresentação dos
laudos periciais.
A mesa científica só foi adotada pelo projeto no ano de 2013 (Raízes) nesse evento participaram
da mesa científica Vossa Excelência o Senhor Murilo Kieling, Juiz do Terceiro Tribunal do Júri do
Fórum do Estado do Rio de Janeiro, Gustavo Milson Fabrício Silva, doutor do Laboratório de
Histocompatibilidade e Criopreservação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Luiz Carlos Leal
Prestes Júnior, mestre e perito legista do Instituto Médico Legal Afrânio Peixoto, Carolina Conceição
Bottino Grusz Kowski, mestre e perita do Instituto de Perícias e Pesquisas de Genética Forense da
Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, Fábio Guimarães, perito criminal do Instituto Carlos Éboli da
Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, Janyra Oliveira Costa, doutora e perita do setor de
Entomologia Forense do Instituto de Criminalista Carlos Éboli da Polícia Civil do Estado do Rio de
Janeiro, e Diego Rosa, entomologista forense.
Entre as diversas áreas de pesquisa forense, a entomologia vem nas últimas duas décadas
despertando o interesse de peritos e pessoas ligadas a instituições judiciais devido ao fato de existir
uma relação íntima entre esse estudo e as técnicas de investigação em diferentes casos de morte
(PARADELA et al., 2007). O evento contou com a presença de dois entomologistas forenses na mesa
científica. Uma das principais áreas que pode integrar as investigações criminais é a entomologia
forense, considerada a ciência aplicada ao estudo dos insetos e outros artrópodes (taxonomia, biologia
e ecologia) em processos legais, auxiliando os trabalhos de peritos e legistas (PARADELA et al., 2007;
CANEPARO et al., 2012; CRUZ et al., 2014).
No evento, a voz foi dada a plateia que perguntou aos membros da mesa sobre os diversos
assuntos abordados no julgamento e na peça de teatro como lei de adoção no Brasil, transplante de
medula óssea, DNA, Medicina Legal, Entomologia entre outros.
124
CONCLUSÕES
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(UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 126-137.
RESUMO
Colônias de Cryptotermes brevis se diferem da maioria por não apresentarem operários verdadeiros e sim
pseudergates, indivíduos totipotentes que desempenham o papel de operário. A fim de auxiliar na identificação
dos pseudergates, foi feita biometria e caracterização morfológica externa de indivíduos imaturos (larvas e
ninfas), obtidos de colônias provenientes de móveis infestados. Os resultados da análise canônica para
biometria mostraram a existência de três estádios larvais e quatro estádios. Os indivíduos do terceiro estádio
larval e do primeiro estádio ninfal foram selecionados para serem caracterizados. Indivíduos classificados como
larvas apresentaram corpo branco; 10 a 12 artículos antenais; pequeno grau de desenvolvimento dos olhos;
sem broto alar. Ninfas apresentaram abdômen mais escuro e corpo esclerosado; 10 a 12 artículos antenais;
olhos desenvolvidos; presença de broto alar. Por fim, pseudergates apresentaram o abdômen mais escuro e
corpo esclerosado; 10 até 12 artículos antenais; grau de desenvolvimento pequeno ou alto; sem broto alar.
Concluiu-se que o nível de pigmentação e esclerose do corpo e ausência de broto alar são bons caracteres
para identificar pseudergates em colônias de C. brevis.
ABSTRACT
___________________
1
Laboratório de Ecologia e Sistemática, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) – campus Diadema, SP, Brasil.
2
Autor correspondente: cassiasqr@gmail.com.
126
INTRODUÇÃO
Os cupins pertencem à Infraordem Isoptera que juntamente com Blattaria e Mantodea compõem
a superordem Dictyoptera (LEGENDRE et al., 2008; KRISHNA et al., 2013). Existem nove famílias de
cupins distribuídas por todo o mundo, sendo elas Archotermopsidae, Hodotermitidae, Kalotermitidae,
Mastotermitidae, Rhinotermitidae, Serritermitidae, Stolotermitidae, Stylotermitidae, Termitidae,
totalizando quase 3000 espécies (CONSTANTINO, 2015).
Na família Kalotermitidae, o gênero Cryptotermes, que engloba os cupins de madeira seca, é um
dos mais conhecidos. A espécie Cryptotermes brevis (Walker, 1953), é a mais comum, sendo
cosmopolita, ou seja, está distribuída por todo o mundo, principalmente nas regiões entre os trópicos
(SCHEFFRAHN & SU, 2008). C. brevis caracteriza-se por ser uma espécie praga em áreas urbanas,
sendo encontrada em residências e construções humanas, de forma que infestam grande variedade
de produtos de madeira e celulose, causando grandes prejuízos econômicos (POTENZA &
ZORZENON, 2006). Esses cupins constituem colônias formadas por poucas centenas de indivíduos
que vivem exclusivamente nas galerias formadas dentro da própria madeira infestada, da qual se
alimentam, não havendo nenhum contato com o solo (MCMAHAN, 1962).
O fenômeno de alocação de tarefas e divisão de trabalho em colônias de insetos sociais é
denominado polietismo. As diferenças morfológicas entre as castas resultam em diferentes
comportamentos, de forma que cada casta realiza uma tarefa específica dentro da colônia
(MCMAHAN, 1979). Desta forma, uma colônia de cupins funciona como um superorganismo, onde a
casta dos reprodutores (rei, rainha e alados) é responsável pela reprodução e dispersão; a dos
operários pela construção, forrageamento, nutrição e cuidados com a prole e a dos soldados pela
defesa ativa (COSTA-LEONARDO, 2002; EGGLETON, 2011).
Ainda dentro da colônia, temos os indivíduos imaturos. Os imaturos mais jovens e sem broto alar,
que equivalem aos primeiros estádios de cupins, são denominados larvas. Já os imaturos que
apresentam broto alar e originarão os reprodutores alados, são denominados ninfas (COSTA-
LEONARDO, 2002).
As colônias de C. brevis, assim como as de outras espécies de cupins de madeira seca, se
diferem das demais por apresentarem indivíduos totipotentes denominados pseudergates, que podem
originar todas as outras castas da colônia e desempenham o papel dos operários. Desta forma, suas
colônias são compostas pelos reprodutores (rei, rainha e alados), soldados e pseudergates (COSTA-
LEONARDO, 2002; SCHEFFRAHN & SU, 2008).
O desenvolvimento flexível dos pseudergates acontece devido à combinação de mudas
progressivas, estacionárias e regressivas (KORB et al., 2012). As mudas progressivas resultam no
aumento do corpo e/ou dos brotos alares; mudas estacionárias não apresentam nenhuma mudança
127
morfológica, de forma que o indivíduo dá origem a uma térmita igual a ele; e mudas regressivas
resultam na regressão do desenvolvimento das ninfas, que iriam originar os reprodutores alados,
tornando-se falsos operários novamente (COSTA-LEONARDO et al., 2007). Sendo assim, esses
indivíduos são capazes de se diferenciarem em soldados por meio de um estágio transitório, chamado
pré-soldado; em alados através de alguns estádios (estágios) ninfais ou em reprodutores de
substituição, também denominados neotênicos (MYLES, 1999; CORNETTE et al., 2008). Esse último
aparece quando o casal real primário morre ou é retirado da colônia (NOIROT, 1990; COSTA-
LEONARDO, 2002).
Segundo KORB & HARTFELDER (2008), os falsos operários de Kalotermitidae são difíceis de
serem identificados devido à falta de diferenças morfológicas para caracterizá-los, já que se encontram
entre o último estádio larval e o primeiro estádio ninfal. Apesar de existirem estudos sobre
diferenciação de castas em diversas espécies de cupins que possuem pseudergates (CORNETTE et
al., 2008; KOSHIKAWA et al., 2001), não há descrição sobre observações diretas da morfologia
externa e interna que ocorrem nesses indivíduos.
Assim, este trabalho teve como objetivo comparar variações biométricas entre pseudergates,
ninfas e larvas, a fim de auxiliar na identificação desses indivíduos totipotentes nas colônias de C.
brevis. A hipótese é que pseudergates apresentem uma caracterização morfológica externa
diferenciada das larvas devido a esclerose e pigmentação do corpo e, das ninfas, devido a
diferenciação de olhos e crescimento do broto alar.
MATERIAL E MÉTODOS
Biometria
Após observar sob estereomicroscópio, a presença ou ausência de broto alar, foram separadas
132 larvas e 128 ninfas para biometria.
Para discriminação morfológica dos estádios de larvas e ninfas, realizou-se a medida de
diferentes partes do corpo de cada indivíduo de acordo com metodologia utilizada por MOURA et al.
(2011) e ALBINO & COSTA-LEONARDO (2011), baseadas em estudos de ROONWALL (1970) e
BARSOTTI & COSTA-LEONARDO (2005). Treze medidas foram utilizadas: comprimento da cabeça
128
(CC), largura máxima da cabeça (LC1), largura da cabeça à base das mandíbulas (LC2), altura da
cabeça (AC), largura do labro (LL), comprimento do pronoto (CP), largura do pronoto (LP), largura do
mesonoto (LMs), largura do metanoto (LMt), comprimento da tíbia (CT), comprimento do fêmur (CF),
largura do fêmur (LF),comprimento do primeiro broto alar (CBA) (Figura 1).
Figura 1. Medidas empregadas nas castas de Cryptotermes brevis (Walker, 1953). (a) Vista dorsal da cabeça do operário
mostrando: (AA’) comprimento da cabeça; (BB’) largura máxima da cabeça; (CC’) largura da cabeça à base das
mandíbulas e (DD’) largura do labro. (b) Vista lateral cabeça do operário mostrando: (EE’) altura da cabeça. (c) Vista dorsal
do pronoto mostrando: (FF’) comprimento do pronoto e (GG’) largura do pronoto. (d-e) Partes da perna mostrando: (d)
(HH’) comprimento da tíbia; (e) (II’) comprimento do fêmur e (JJ’) largura do fêmur; (f) (KK’) comprimento do broto alar
(Ilustrações: ALBINO, E.; VIEIRA, K.S.; MOURA, F.M.S.).
Análise estatística
Para avaliar as mudanças dos parâmetros morfológicos entre os indivíduos, foi realizada uma
análise discriminante canônica e os resultados dos scores foram dispostos em gráficos de dispersão.
Posteriormente, foi aplicado o teste de variância ANOVA e teste de Tukey a posteriori, todos realizados
no programa Statistica 12 (Statsoft, INC. 2001).
129
Caracterização dos imaturos
Após ter sido determinado o número de estádios existentes em cada casta de C. brevis, por meio
da análise discriminante canônica, foi possível analisar a morfologia externa desses estádios a fim de
descobrir, dentre eles, quem eram os pseudergates. Caracteres como nível de pigmentação e
esclerose do corpo, número de artículos nas antenas, presença de olhos e desenvolvimento de brotos
alares foram importantes nessa caracterização.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Biometria
De todo material coletado, foram mensurados 260 indivíduos, sendo 132 larvas e 128 ninfas,
apresentados na Tabela 1, a fim de reconhecer os estádios imaturos larvais e ninfais de C. brevis.
Tabela 1. Média e desvio padrão das 13 medidas para os sete estádios encontrados nas colônias de Cryptotermes brevis
(Walker, 1953) analisadas. Todos os valores estão em milímetros.
Estádios
L1 L2 L3 N1 N2 N3 N4
Medidas
(n=21) (n=38) (n=73) (n=47) (n=25) (n=30) (n=25)
Comprimento da 0,870 ± 1,114 ± 1,216 ± 1,281 ± 1,309 ± 1,318 ± 1,326 ±
cabeça (CC) 0,06 0,06 0,08 0,05 0,06 0,05 0,04
Largura máxima 0,737 ± 0,968 ± 1,087 ± 1,281 ± 1,299 ± 1,338 ± 1,358 ±
da cabeça (LC1) 0,05 0,04 0,07 0,05 0,05 0,03 0,04
Largura da
cabeça à base 0,384 ± 0,554 ± 0,645 ± 0,638 ± 0,656 ± 0,669 ± 0,680 ±
das mandíbulas 0,02 0,05 0,03 0,05 0,05 0,04 0,04
(LC2)
Altura da cabeça 0,505 ± 0,602 ± 0,659 ± 0,689 ± 0,720 ± 0,722 ± 0,736 ±
(AC) 0,04 0,03 0,04 0,03 0,04 0,04 0,05
Largura do labro 0,187 ± 0,310 ± 0,342 ± 0,349 ± 0,352 ± 0,369 ± 0,373 ±
(LL) 0,02 0,03 0,03 0,03 0,03 0,04 0,04
Comprimento do 0,187 ± 0,628 ± 0,377 ± 0,483 ± 0,496 ± 0,506 ± 0,549 ±
pronoto (CP) 0,02 0,03 0,05 0,07 0,05 0,05 0,05
Largura do 0,447 ± 0,600 ± 0,866 ± 1,064 ± 1,064 ± 1,105 ± 1,165 ±
pronoto (LP) 0,03 0,04 0,01 0,08 0,08 0,09 0,07
Largura do 0,552 ± 0,716 ± 0,93 ± 1,176 ± 1,213 ± 1,282 ± 1,326 ±
mesonoto (LMs) 0,05 0,03 0,11 0,11 0,08 0,06 0,05
Largura do 0,546 ± 0,872 ± 1,026 ± 1,220 ± 1,251 ± 1,336 ± 1,366 ±
metanoto (LMt) 0,04 0,05 0,09 0,12 0,08 0,07 0,09
Comprimento da 0,454 ± 0,633 ± 0,647 ± 0,648 ± 0,669 ± 0,693 ± 0,747 ±
tíbia (CT) 0,06 0,05 0,09 0,07 0,04 0,05 0,05
Comprimento do 0,358 ± 0,496 ± 0,578 ± 0,590 ± 0,592 ± 0,609 ± 0,640 ±
fêmur (CF) 0,05 0,03 0,07 0.07 0,06 0,04 0,05
Largura do 0,148 ± 0,195 ± 0,197 ± 0,205 ±
0,133 ± 0 0,133 ± 0 0,200 ± 0
fêmur (LF) 0,02 0,02 0,01 0,02
Comprimento do 0,529 ± 0,747 ± 1,004 ± 1,920 ±
- - -
broto alar (CBA) 0,07 0,10 0,13 0,15
130
Os dados resultantes da análise biométrica (Tabela 1) foram analisados estatisticamente. A
primeira função discriminante canônica (Função 1), relacionada à largura do pronoto (LP), representou
90,02% da variância total (Autovalor = 12,07). Já a segunda função discriminante canônica (Função
2), relacionada à largura da cabeça à base das mandíbulas (LC2), representou 9,90% da variância
total (Autovalor = 1,30).
A partir da projeção das funções 1 e 2 da análise discriminante canônica (Figura 2), foi possível
separar as 132 larvas medidas em três estádios diferentes: larva 1 (L1), larva 2 (L2), larva 3 (L3)
(Figura 3). A ANOVA realizada mostrou que houve diferença morfométrica entre os estádios (F
(171,43) = 287,06; p < 0,0001), e o teste de Tukey (p < 0,0001), mostrou que os três estádios diferiram
significativamente entre si.
Figura 2. Análise discriminante canônica. Projeção das funções para avaliar mudanças dos parâmetros morfológicos entre
as larvas, totalizando três estádios: larva 1 (L1), larva 2 (L2) e larva 3 (L3).
A primeira função discriminante canônica (Função 1), relacionada ao comprimento do broto alar
(CBA), representou 98,5% da variância total (Autovalor = 21,81). A segunda função discriminante
canônica (Função 2), relacionada ao comprimento da cabeça (CC), representou 1,2% da variância
total (Autovalor = 0,27). A partir da projeção das funções 1 e 2 da análise discriminante canônica
(Figura 4), foi possível separar as 128 ninfas medidas em quatro estádios diferentes: ninfa 1 (N1),
ninfa 2 (N2), ninfa 3 (N3) e ninfa 4 (N4) (Figura 5). A ANOVA realizada mostrou que houve diferença
morfométrica entre os estádios (F (29,48) = 101,74; p < 0,0001), e o teste de Tukey (p < 0,0001),
mostrou que os quatro estádios diferiram significativamente entre si.
131
Figura 3. Linhagem jovem de Cryptotermes brevis (Walker, 1953). Estádios larvais. a. Larva 1 (L1); b. Larva 2 (L2); c.
Larva 3 (L3); d. Larva 3 (L3) - pseudergate (ou falso operário).
Figura 4. Análise discriminante canônica. Projeção das funções para avaliar mudanças dos parâmetros morfológicos entre
as ninfas, totalizando quatro estádios: ninfa 1 (N1), ninfa 2 (N2), ninfa 3 (N3) e ninfa 4 (N4).
Figura 5. Linhagem ninfal de Cryptotermes brevis (Walker, 1953). Estádios ninfais: a. Ninfa 1 (N1); b. Ninfa 2 (N2); c. Ninfa
3 (N3); d. Ninfa 4 (N4).
132
Os resultados obtidos com a biometria mostraram a existência de três estádios larvais (Figura
3), o que está de acordo com o que ocorre em outras espécies do gênero, como em Cryptotermes
secundus (Hill, 1925) (KORB et al., 2009). Com relação aos estádios ninfais, no presente estudo foram
encontrados quatro estádios (Figura 5), o que difere da espécie C. secundus, que apresenta cinco
estádios ninfais (KORB et al., 2009). Contudo, PEDRO (2012), encontrou para a mesma espécie,
quatro estádios ninfais, o que corrobora com os dados apresentados neste trabalho. O padrão de
diferenciação de castas em cupins varia entre as famílias, gêneros e espécies devido ao seu
desenvolvimento hemimetábolo, já que o número de eventos de mudas que ocorre não é constante
(NOIROT & PASTEELS, 1987).
Pigmentação/ Grau de
Indivíduos esclerose do Broto alar desenvolvimento Número de
corpo dos olhos artículos antenais
Larvas do 3º Nenhum ou
estádio Não Não pequeno 10até 12
Pseudergates Sim Não Pequeno ou alto 10 até 12
Ninfas do 1º
estádio Sim Sim Alto 10 até 12
Os indivíduos caracterizados como larvas do 3º estádio (L3), apresentaram o corpo inteiro branco
(Tabela 2; Figura 6). Já os classificados como pseudergates foram os indivíduos que apresentaram
região abdominal pigmentada e corpo esclerosado (Tabela 2; Figura 6). A pigmentação do corpo indica
que esses indivíduos se alimentam ativamente, exercendo o papel de papel de operário, que passa o
alimento para os demais através de trofalaxia (PEARCE, 1997). Tais características observadas nas
larvas do 3º estádio e nos pseudergates condizem com a classificação de larvas dependentes e
independentes proposta por KORB & HARTFELDER (2008). Nesta classificação, as larvas
dependentes correspondem aos indivíduos dos primeiros estádios larvais, que dependem do cuidado
com a prole oferecido pelos pseudergates e, as larvas independentes, são os indivíduos dos últimos
estádios larvais, que se alimentam ativamente e cuidam de si mesmos, ou seja, as larvas
independentes correspondem aos pseudergates.
Ninfas do 1º estádio também apresentaram abdômen mais escuro e corpo esclerosado (Tabela
133
2; Figura 6), contudo, a presença de broto alar é um caractere importante para diferenciá-la dos
pseudergates. Na família Kalotermitidae, há evidências de que pseudergates não são os únicos
indivíduos que são independentes e trabalham, mas as ninfas também. Em outras famílias, como
Rhinotermitidae, operários e ninfas têm funções semelhantes na colônia e conseguem alimentar-se
sozinhos (NOIROT & PASTEELS, 1987). Também há estudos que comprovam a participação das
ninfas em forrageamento (ALBINO & COSTA-LEONARDO, 2011), mostrando a independência desses
indivíduos. Tais observações explicam a pigmentação mais escura do corpo das ninfas, uma vez que
são capazes de alimentar-se sozinhas.
Figura 6. Pigmentação e esclerose do corpo. (a) Larva 3 (L3) com ausência de pigmentação e escletorização do corpo; (b)
Pseudergate com corpo esclerosado e pigmentado; (c) Ninfa 1 (N1) com corpo pigmentado e esclerosado.
Com relação ao broto alar, apenas as ninfas do 1º estádio apresentaram este, já que os
pseudergates estão inclusos no último estádio larval, onde os indivíduos ainda são imaturos sem broto
alar (Tabela 2; Figura 7).
Quanto ao grau de desenvolvimento dos olhos, os indivíduos classificados como larvas do 3º
estádio não apresentaram olhos ou apresentaram olhos pouco desenvolvidos (Tabela 2; Figuras 8a e
8b). Esse resultado corrobora com estudos realizados em Neotermes connexus (Snyder, 1922), cupim
pertencente à família Kalotermitidae, assim como C. brevis, onde foi observado que o desenvolvimento
dos olhos começa no último estádio larval (MYLES & CHANG, 1984). A grande maioria dos
pseudergates não apresentaram olhos ou olhos pouco desenvolvidos, como as larvas do 3º estádio
(Figura 8c), mas alguns apresentaram olhos bastante desenvolvidos e pigmentados (Figura 8d). Estes
pseudergates com olhos bem desenvolvidos podem ser provenientes de mudas regressivas por
apresentarem o grau de desenvolvimento igual ao das ninfas do 1º estádio (Figura 8e). Porém, estudos
realizados em Hodotermopsis japônica (Isoptera: Termopsidae) mostraram que pseudergates
134
“normais”, pseudergates provenientes de mudas de regressão e ninfas apresentaram grau de
desenvolvimento dos olhos semelhantes (KOSHIKAWA et al., 2001). Para compreender melhor as
diferenças morfológicas, tal como o grau de desenvolvimento dos olhos, existentes entre pseudergates
“normais” e pseudergates provenientes de mudas de regressão em C. brevis e na família
Kalotermitidae, é necessário que futuros estudos sejam realizados.
Figura 7. Broto alar. (a) Larva 3 (L3) com broto alar ausente; (b) Pseudergate com broto alar ausente; (c) Ninfa 1 (N1)
com início da formação do broto alar indicado pelas setas.
Figura 8. Grau de desenvolvimento dos olhos. (a) L3 com nenhum vestígio de olhos; (b) L3 com pequeno grau de
desenvolvimento dos olhos; (c) pseudergate com pequeno grau de desenvolvimento dos olhos; (d) pseudergate com olhos
desenvolvidos; (e) N1 com olhos desenvolvidos.
135
Por fim, em relação ao número de artículos antenais, não houve diferença entre larvas do 3º
estádio, pseudergates e ninfas do 1º estádio, de forma que todos apresentaram uma variação de 10
até 12 artículos (Figura 9). Este padrão difere de estudos realizados em Neotermes connexus
(Isoptera: Kalotermitidae), onde foi observado que larvas possuíam menor número de artículos
antenais (15 ou menos) e pseudergates e ninfas apresentavam o mesmo número (16 ou mais)
(MYLES & CHANG, 1984).
Figura 9. Artículos antenais. (a) Larva 3 (L3); (b) Pseudergate (Ps); (c) Ninfa 1 (N1).
CONCLUSÃO
Caracteres como o nível de pigmentação e esclerose do corpo são importantes para diferenciar
pseudergates de larvas. Já a ausência do broto alar auxiliou na diferenciação dos pseudergates com
relação às ninfas. Esses caracteres foram considerados bons instrumentos para diferenciar os
pseudergates dos demais indivíduos das colônias de C. brevis. É necessário que futuros estudos em
relação às mudas regressivas em cupins Kalotermitidae sejam realizados para a melhor compreensão
sobre as diferenças morfológicas existentes entre os pseudergates "normais” e os pseudergates
provenientes das mudas de regressão nessa família.
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137
STALLONE, L.P. et al. 2016. Composição de Elmidae (Insecta: Coleoptera) em um riacho do Parque Nacional da Tijuca, Rio
de Janeiro, RJ, Brasil. In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III
Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro,
p. 138-143.
RESUMO
Os Elmidae Curtis, 1830 (Insecta: Coleoptera) há a alguns anos vêm sendo estudados como
indicadores de qualidade de água, e recentemente o estudo da sua taxonomia vem crescendo. Esses
besouros vivem em ambientes lóticos, apresentando tamanho pequeno, ciclo de vida e estágios
variáveis. Um único trabalho de levantamento desse grupo foi realizado na Floresta Tijuca, onde foram
registrados seis gêneros de Elminae. O presente trabalho teve como finalidade encontrar e registrar
possíveis novos táxons, estudando a distribuição-espaço temporal dos elmídeos.
ABSTRACT
___________________
1
Laboratório de Insetos Aquáticos, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3
Autor correspondente: cabeda.laura@gmail.com.
138
INTRODUÇÃO
As coletas foram realizadas no Rio Archer, situado no setor Floresta do Parque Nacional da
Tijuca. O Parque está situado entre 22° 55'S e 23° 00'S e 43° 11 W e 43° 19W, o que corresponde a
3,5 % da área do município do Rio de Janeiro. Possui 3.953ha de, sendo 32Km² de cobertura vegetal
(PASSOS et al., 2003). Ele pertence ao bioma da Mata Atlântica, sendo assim um clima tropical e
úmido que abriga uma significativa biodiversidade. É também o parque nacional mais visitado do Brasil
(PNT, 2015) (Figura 1).
Figura 1. Mapa da Parque Nacional da Tijuca. O setor coletado está destacado em vermelho (Rio Archer, Floresta da
Tijuca). Modificado de http://www.parquedatijuca.com.br/#relevoehidrografia.
Figura 2. Aspecto do Rio Archer, Parque Nacional da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ. A: local de amostragem do folhiço
depositado em áreas de remanso. (Foto Laura P. Stallone.)
Fig. 3. Aspecto do Rio Archer, Parque Nacional da Tijuca, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. A – B: local de amostragem; A: pedra;
B: folhiço retido em área de correnteza. (Foto: Laura P. Stallone.)
141
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encontrados cinco gêneros: Austrolimnius Carter & Zeck, 1929, Heterelmis Sharp, 1882,
Hexacylloepus Hinton, 1940, Macrelmis Motschulsky, 1859, Phanocerus Sharp, 1882, já registrados
para a Floresta da Tijuca (PASSOS et al., 2003). Cylloepus Erichson, 1847, Gonielmis Sanderson,
1954 e Neoelmis Musgrave, 1935, não foram registrados nesse ponto de estudo, corroborando com o
trabalho de PASSOS et al. (2003) que apresentou baixa frequência para esses três gêneros. Apenas
larvas de Hexacyllopeus foram encontradas para a região até o momento, e pela primeira vez foram
encontradas larvas de Austroliminius. Os gêneros mais abundantes foram Heterelmis e Phanocerus
(Tabela 1). A maior ocorrência de indivíduos foi no mês de setembro, corroborando com os estudos
de PASSOS et al. (2003). No mês de maio a incidência de larvas foi muito baixa, podendo assim estar
associado à alta pluviosidade da época do ano.
Tabela 1. Distribuição dos gêneros de Elmidae pelos substratos amostrados no Rio Archer, Floresta da Tijuca, Rio de
Janeiro, RJ. Ff: folhiço depositado em áreas de remanso; Pe: pedra; Fc: folhiço retido em áreas de correnteza; a: adulto;
l: larva.
Táxons Ff Pe Fc Total
Elminae
Austroliminus Carter & Zeck, 1929 (l) 1 0 0 1
Heterelmis Sharp, 1882 (a) 4 13 9 26
Heterelmis Sharp, 1882 (l) 0 4 0 4
Hexacylloepus Hinton, 19406 (l) 0 0 4 4
Macrelmis Motschulsky, 1859 (a) 0 0 1 1
Larainae
Phanocerus Sharp, 1882 (a) 1 10 1 12
Phanocerus Sharp, 1882 (l) 0 2 0 2
Total 6 29 15 50
142
fluxo de corrente. Isso corrobora, o que foi observado por BROWN (1987).
A presença de elmídeos no folhiço retido em áreas de correnteza e pedra pode ser explicada
pela disponibilidade de alimento, já que eles utilizam como base alimentar algas e detritos, que são
comumente encontrados nos substratos acima citados. Um outro fator a ser considerado é a influência
do fluxo da corrente nos substratos, que pode proporcionar áreas de refúgio e alimento (WARD, 1992),
assim como foi observado por SANSEVERINO & NESSIMIAN (1998) ao estudarem a comunidade de
Chironomidae (Diptera) em riachos de Mata Atlântica.
AGRADECIMENTOS
Aos graduandos Derek Godoy e Higor Tomaz Teixeira de Castro pela ajuda nas coletas. Ao
Laboratório de Insetos Aquáticos da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) pela
logistica. À Faperj – Pronem, ao CNPq e à bolsa de iniciação científica PIBIC-UNIRIO pelo apoio
financeiro.
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143
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do Estado do Rio de Janeiro. In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do
III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro,
p. 144-150.
RESUMO
Insetos voadores utilizam pontos luminosos como baliza para direcionamento do voo e podem tomar luzes
artificiais como ponto de referência em casos de noites com ausência de estrelas e da lua. Alguns insetos com
capacidade de voo reduzida, como os besouros (Coleoptera), aproximam-se até se chocarem contra a fonte
luminosa e, no caso de luminárias ou lustres urbanos, é comum que sejam aprisionados. O presente trabalho
teve como objetivo contribuir para o conhecimento da coleopterofauna presente em regiões serranas urbanas,
próximas a áreas de Mata Atlântica, do Estado do Rio de Janeiro, através da coleta passiva de indivíduos
aprisionados em lustres e luminárias. As coletas foram realizadas em três localidades situadas entre
metrópoles. O distrito de Penedo apresentou maior diversidade média e abundância de indivíduos. As famílias
com maior abundância foram Brentidae e Carabidae.
ABSTRACT
___________________
1
Laboratório de Insetos Aquáticos, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
1
Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3
Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
4
Autor correspondente: higor.bio.unirio@gmail.com.
144
INTRODUÇÃO
MATERIAL E MÉTODOS
Com base em amostragens realizadas entre setembro de 2014 e abril de 2015, pelo menos
duas vezes ao mês, foi possível a obtenção de alguns grupos de Coleoptera. As coletas consistiram
no recolhimento dos insetos aprisionados em globos de luz de três localidades urbanas, de interior,
montanhosas e situadas entre metrópoles. No distrito de Itaipava, município de Petrópolis
(22º24’20.3’’S, 43º08’34.8’’W), os insetos foram coletados em lustres de uma lanchonete de posto de
combustível, às margens da Rodovia Washington Luís (BR-040). No distrito de Penedo, município de
Itatiaia (22º26’20.4’’S, 44º31’29.3’’W), foram coletados em lustres de uma galeria de lojas e de um
restaurante na área urbana da cidade. No município de Piraí (22º37’48.2’’S, 43º54’32.8’’W), foram
coletados em uma lanchonete de posto de combustível, às margens da Rodovia Presidente Dutra (BR-
116), próximo à entrada principal do perímetro urbano (Figura 1).
Neste trabalho foram utilizados lustres de áreas urbanas para coleta de indivíduos capturados não
145
intencionalmente. Após as coletas, os indivíduos foram triados e identificados com o auxílio de
estereomicroscópio e chaves de identificação (ARNETT et al., 2000; ARNETT & THOMAS, 2000;
TRIPLEHORN & JOHNSON, 2005). Os exemplares estão depositados na coleção do Laboratório de
Insetos Aquáticos, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências da UNIRIO, Rio de Janeiro, RJ.
Para a análise da diversidade dos coleópteros em seus respectivos pontos de coleta foi utilizado
o índice de Shannon-Weaver, feito no ‘’R Statistic’’ (R CORE TEAM, 2015) utilizando o pacote ‘’vegan’’
(OKSANEN et al., 2015). Posteriormente foi feito teste de normalidade (Shapiro-Wilk) para o índice de
diversidade, análise de variância para testar a existência de diferença significativa entre os índices e
o Teste de Tukey para avaliar os grupamentos.
RESULTADO E DISCUSSÃO
Através da análise de diversidade entre os três pontos amostrados, foi possível observar que
Penedo apresentou os maiores valores de Diversidade Média (DM), o que pode ser resultado da
grande riqueza de Carabidae nesse ponto. Já Piraí e Itaipava apresentaram menor DM (Figura 2).
Houve notável diferença quanto à abundância de espécimes coletados entre as localidades (Tabela
I), sendo Penedo a que apresentou maior abundância (62%), seguido de Piraí (22%) e Itaipava (16%).
Figura 2: Índice de diversidade (Shannon-Weaver) das áreas amostradas com suas Diversidades médias (DM), erros
padrões (EP) e grupamentos (GP).
À graduanda Laura Pires Stallone, pela ajuda na identificação de alguns táxons, e ao MSc.
Thiago Rodas Müller de Campos, pela ajuda nas análises estatísticas. À FAPERJ – PRONEM, ao
CNPq e ao PIBIC – UNIRIO, pelo apoio financeiro. Ao Laboratório de Insetos Aquáticos da
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), pelo apoio logístico. À Parada do Bubi,
ao Aglio e Olio Ristorante, ao Shopping Azul e ao Posto Saraiva, pelas facilidades de coleta.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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148
Tabela 1. Número total de exemplares dos táxons de Coleoptera urbanos amostrados em cada localidade estudada
(Itaipava, Penedo e Piraí) no Estado do Rio de Janeiro, Brasil.
149
ANEXOS
150
XISTO, T. & MENDONÇA, M.C. 2016. Contribuição ao conecimento da morfologia e taxonomia de Dicranocentrus Schött,
1893 com histórico comentado para a Região Neotropical (Collembola: Entomobryidae). In: Da-Silva, E.R.; Passos, M.I.S.;
Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 151-165.
Thiago Xisto1,2
Maria Cleide de Mendonça1
RESUMO
O gênero Dicranocentrus inclui indivíduos com pigmentação variada, antenas com seis segmentos
(quinto e sexto segmentos anelados), cerdas pré-labrais simples, dens crenulada com espinhos,
mucro bidentado com espinho basal e corpo revestido por cerdas e escamas. Esse gênero abriga, até
o momento, 64 espécies com ocorrência exclusiva para a Região Pantropical. Neste trabalho é
apresentada a morfologia geral do gênero e a revisão da literatura, com histórico comentado sobre
sua ocorrência na Região Neotropical.
ABSTRACT
___________________
1
Departamento de Entomologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Autor correspondente: xistocollembola@gmail.com.
151
INTRODUÇÃO
MATERIAL E MÉTODOS
TAXONOMIA
O gênero Dicranocentrus foi criado por SCHÖTT (1893) juntamente com a espécie-tipo
Dicranocentrus gracilis Schött, 1893 procedente de Camarões, na África Central. A descrição original
desse gênero teve como base características diagnósticas representadas pelo corpo revestido por
escamas, antena dividida em quatro artículos e tão longa quanto o corpo, terceiro artículo antenal mais
longo que os demais, mesonoto não projetado sobre a cabeça, quarto segmento abdominal mais longo
que o terceiro, dens com espinhos e mucro tridentado.
A primeira referência de Dicranocentrus na Região Neotropical deve-se a PARONA (1895) ao
identificar e registrar para a Argentina a espécie Tomocerus plumbeus Lubbock, 1863. Posteriormente
BONET (1934), ao examinar o material identificado por Parona corrigiu o engano e identificou o
material como Dicranocentrus silvestrii Absolon, 1903.
ABSOLON (1903) descreveu Dicranocentrus silvestrii a partir de material proveniente da
América do Sul, sem nenhuma indicação precisa da localidade-tipo. A descrição dada pelo autor é
reduzida e desprovida de ilustrações da quetotaxia, fonte de características diagnósticas seguras.
BÖRNER (1906), ao identificar colêmbolos da América do Sul, descreveu D. silvestrii annulatus
Börner, 1906 com base em material encontrado em orquídeas provenientes da Estação Florestal de
São Francisco. Nesse trabalho, o autor fez uma descrição resumida da subespécie e omitiu a
localização precisa da localidade-tipo.
HANDSCHIN (1924), estudando colêmbolos ocorrentes em comunidades de cupins e formigas
no Brasil, descreveu a espécie D. termitophilus Handschin, 1924 para o Estado de Minas Gerais, e D.
bicolor Handschin, 1924 para o Estado de Santa Catarina.
DENIS (1931) publicou o primeiro levantamento da fauna de Collembola da Costa Rica. Dentre
o vasto material estudado, o autor registrou pela primeira vez a ocorrência de D. silvestrii e fez a
primeira redescrição detalhada de sua morfologia externa com base em exemplares procedentes de
diversas localidades de Costa Rica.
DENIS (1933), ao publicar o segundo estudo sobre a fauna de Costa Rica, ampliou a
caracterização morfológica de D. silvestrii, incluindo aspectos da antena, cerdas occipitais, maxila e
dados morfométricos. Ainda em tal artigo, o autor fez comentários sobre a morfologia de D.
termitophilus com base em material cedido por Handschin. Segundo Denis, a presença de uma
subdivisão apenas no primeiro artículo antenal e presença de cerdas na dens justificaria a
transferência de D. termitophilus para o gênero Alloscopus Börner, 1906.
156
BONET (1934), em seu estudo sobre colêmbolos da Argentina, redescreveu inúmeras espécies
pertencentes a diferentes gêneros e famílias. Dentre as espécies estudadas, o autor redescreveu D.
silvestrii a partir de três exemplares depositados na Coleção do Museu de La Plata. Segundo Bonet,
os espécimes de D. silvestrii encontrados na Argentina concordavam de um modo geral com a
descrição dos exemplares de Costa Rica feita por DENIS (1931).
WRAY (1953), estudando a fauna de Costa Rica, redefiniu o gênero Dicranocentrus, erigiu
Dicranocentrella Wray, 1953 como subgênero e descreveu Dicranocentrus (Dicranocentrella) marias
Wray, 1953.
CASSAGNAU (1963), estudando colêmbolos da ordem Entomobryomorpha procedentes da
América do Sul, registrou, dentre as 12 espécies encontradas, a presença de D. silvestrii em diversas
localidades da Argentina, Bolívia e Brasil (Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro). A identificação de D.
silvestrii feita pelo autor teve como base critérios taxonômicos dados por diversos autores, incluindo
DENIS (1931). Segundo Cassagnau, a característica mais variável observada nesses exemplares
estaria representada apenas pela distribuição de pigmento ao longo do corpo.
WINTER (1963), em seu estudo da fauna do Peru, realizou extenso levantamento em diferentes
ecossistemas e nomeou um grande número de espécies sem descrições ou diagnoses. Dentre os
diversos táxons citados pelo autor, encontram-se as espécies D. maculatus Winter, 1963, D. muyensis
Winter, 1963 e a subespécie D. silvestrii circulata Winter, 1963.
SALMON (1964) publicou An Index to the Collembola, no qual foram incluídos inúmeros
gêneros e espécies, uma chave de classificação para o grupo e toda a bibliografia existente desde a
mais antiga até a década de 1960. No entanto, uma grande parte dos táxons incluídos no presente
trabalho foram submetidos a transferências e sinonímias com base, principalmente, no exame da
literatura. Dentre o vasto material encontra-se o subgênero Dicranocentrella Wray, 1953 que foi
sinonimizado por Salmon com Dicranocentrus.
RAPOPORT & RUBIO (1968), ao publicarem um artigo sobre a fauna de Collembola do Chile,
incluíram descrições de sete novas espécies e registraram 36 em diferentes regiões prospectadas.
Um desses registros referiu-se à presença de quatro exemplares de D. silvestrii.
RAPOPORT (1971), em seu estudo sobre a distribuição geográfica de Collembola, discutiu o
relacionamento da fauna da América do Sul com as diversas regiões geográficas. Dentre os inúmeros
táxons de maior afinidade com a África, o autor citou D. gracilis de ocorrência registrada para
Camarões, Peru e Porto Rico. Ainda nesse artigo, o autor discutiu o relacionamento da fauna
Neotropical e Oriental e sugeriu como provável sinônimo de D. silvestrii, a espécie D. problematicus
Denis, 1948 descrita do Vietnã.
IZARRA (1972) descreveu no gênero Alloscopus a nova espécie A. platensis Izarra, 1972, com
base em material procedente de La Plata, província de Buenos Aires, Argentina. Essa espécie foi
157
posteriormente transferida para Dicranocentrus por MARI-MUTT (1977).
MARI-MUTT (1976), ao iniciar estudos sobre colêmbolos de Porto Rico, publicou um artigo com
inúmeros novos registros da fauna, incluindo chave pictórica para famílias e chave dicotômica para os
gêneros. Ainda nesse artigo, Mari-Mutt forneceu diagnoses para os diversos gêneros, dentre os quais
se encontrava Dicranocentrus.
MARI-MUTT (1979) incrementou o estudo de Dicranocentrus ao publicar um extenso trabalho,
no qual incluiu a revisão do gênero, discutiu as características morfológicas importantes
taxonomicamente, forneceu chaves de identificação e mapas com distribuição da fauna. Ainda nesse
artigo, o autor estudou 31 espécies, dentre as quais, sete foram descritas como novas para a ciência
(D. antillensis Mari-Mutt, 1979, D. colombiensis Mari-Mutt, 1979, D. millsi Mari-Mutt, 1979, D. millsi
cubensis Mari-Mutt, 1979, D. nigritus Mari-Mutt, 1979 e D. schoetti Mari-Mutt, 1979), designou lectótipo
para a espécie D. gracilis, considerou as espécies D. bicolor, D. linnaniemii Börner, 1912, D. platensis,
D. problematicus, D. silvestrii, D. simplex Yosii, 1959, D. termitophilus como incertae sedes [sic] e as
espécies D. eburneus Delamare-Deboutteville, 1951, D. maculatus, D. muyensis, D. silvestrii circulata
como nomina nuda. Mari-Mutt discutiu a filogenia do gênero, sugerindo que a presença de seis
artículos na antena seria uma condição derivada da subdivisão dos artículos I e II de uma antena com
quatro artículos ou da subdivisão do artículo II de uma antena com cinco artículos (artículo I já estaria
subdividido em dois artículos) como ocorre em Heteromurus Wankel, 1860, Mastigoceras Handschin,
1924 e Orchesellides Bonet, 1930. Nesse caso, Dicranocentrus seria derivado da primeira condição
da subdivisão da antena.
JACQUEMART (1980), em expedição ao Peru, realizou coletas nas proximidades de Cuzco e
Machu Picchu que revelaram um vasto material colembológico. O autor incluiu no referido trabalho um
histórico do gênero e descreveu e ilustrou dentre outras espécies, D. orellanae Jacquemart, 1980, D.
orellanae cuzcoensis Jacquemart, 1980 e D. edicitae Jacquemart, 1980.
MARI-MUTT (1981a) propôs o novo gênero Pseudodicranocentrus Mari-Mutt, 1981 para as
espécies P. circulatus (Mari-Mutt, 1979) e P. christianseni (Mari-Mutt, 1979) anteriormente descritas
por ele para o gênero Dicranocentrus. Ainda nesse trabalho, Mari-Mutt descreveu D. biseriatus Mari-
Mutt, 1981 do Haiti e D. antillensis jamaicencis Mari-Mutt, 1981 da Jamaica; sinonimizou D. millsi
cubensis Mari-Mutt, 1979 com D. millsi Mari-Mutt, 1979 e recaracterizou D. platensis, D. marias, D.
nigritus e D. schoetti.
ARLÉ & MENDONÇA (1982) descreveram D. heloisae Arlé & Mendonça, 1982, terceira espécie
do gênero para o Brasil, com base em exemplares procedentes do Parque Nacional da Tijuca, Rio de
Janeiro, e incluíram uma breve recaracterização de D. silvestrii. Ainda no referido trabalho, os autores
consideraram as espécies D. bicolor e D. termitophilus como formas jovens de D. silvestrii.
MARI-MUTT (1983), estudando material procedente da Venezuela, descreveu e ilustrou D.
158
paramoensis Mari-Mutt, 1983 e D. bidentatus Mari-Mutt, 1983 coletadas em matas higrófilas nas
proximidades de Mérida.
MARI-MUTT (1985a) descreveu oito espécies de Dicranocentrus de diversas regiões
geográficas, dentre as quais, apenas uma, D. capitaneus Mari-Mutt, 1985, descrita do Peru, era
procedente da Região Neotropical.
MARI-MUTT (1985b) acrescentou à fauna da Região Neotropical duas novas espécies de
Dicranocentrus. A primeira, D. celatus Mari-Mutt, 1985 procedente de Porto Rico e a segunda D.
zebratus Mari-Mutt, 1985 da República Dominicana, ambas tinham sido anteriormente identificadas
erroneamente pelo próprio autor como D. millsi.
NAJT et al. (1988), na terceira nota sobre os colêmbolos do Equador, descreveram duas novas
espécies, D. chimborazoensis Najt, Thibaud & Mari-Mutt, 1988 e D. peckorum Najt, Thibaud & Mari-
Mutt, 1988, ambas procedentes de campos de altitude, entre 3.000 e 4.800 m. Também nesse
trabalho, os autores anexaram uma chave para as espécies de Dicranocentrus com espinhos na região
basal externa da dens.
ABRANTES et al. (2010) publicaram um extenso trabalho, listando todas as espécies de
Collembola ocorrentes no Brasil. Nesse artigo foi incluída uma tabela com dados sobre a distribuição
no Brasil, distribuição mundial, habitat e a referência do registro. O gênero Dicranocentrus é
representado pelos registros de D. bicolor sem localidade, D. termophilus [sic] sem localidade, D.
silvestrii e D. heloisae, ambas para o Estado do Rio de Janeiro.
ABRANTES et al. (2012), ao publicarem a atualização da lista de espécies de Collembola,
registraram pela primeira vez a espécie Dicranocentrus heloisae para o Estado da Bahia, Brasil.
BELLINI et al. (2013) ampliaram o conhecimento de Dicranocentrus no Brasil descrevendo D.
amazonicus Bellini, De Moraes & Oliveira, 2013 com base em material procedente da Reserva Ducke
em Manaus, Amazonas.
BELLINI (2014) publicou capítulo de livro sobre a fauna de Collembola em áreas úmidas do
Semiárido. Nesse trabalho o autor registrou táxons para o Nordeste do Brasil, dentre os quais incluiu
o gênero Dicranocentrus para o Estado do Ceará, as espécies D. silvestrii e D. heloisae para o Estado
da Bahia, e Dicranocentrus cf. termitophilus para o Estado da Paraíba.
XISTO & MENDONÇA (2014) redescreveram Dicranocentrus heloisae com base em
exemplares procedentes da localidade-tipo (Parque Nacional da Tijuca), designaram Neótipo,
acrescentaram características taxonômicas importantes omitidas na descrição original e forneceram
novos registros para o Estado do Rio de Janeiro, Brasil.
XISTO et al. (2015) ampliaram a distribuição de Dicranocentrus registrando pela primeira vez o
gênero e a espécie D. heloisae para o Estado do Espírito Santo.
XISTO & MENDONÇA (2016) descreveram as novas espécies, D. cuprum Xisto & Mendonça,
159
2016 e D. melinus Xisto & Mendonça, 2016, procedentes da Serra do Gandarela, Estado de Minas
Gerais, Brasil. Também nesse trabalho, é apresentada pela primeira vez a ilustração da placa genital
masculina para o gênero.
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161
Figuras 1–16. 1, Hábito de Dicranocentrus sp., vista lateral. 2, Cerda afilada lisa. 3, Cerda afilada finamente ciliada. 4,
Cerda afilada densamente ciliada. 5, Cerda robusta lisa. 6, Cerda capitada. 7, Flexed setae. 8, Lasiotrichia. 9, Sensila. 10,
Sensila inflada. 11, Sensila em forma de chama. 12, Microsensila. 13, Sensila inserida em fosseta. 14, Escama
arredondada. 15, Escama apicalmente truncada. 16, Cabeça com detalhe da segmentação dos artículos antenais I e II.
(Fig.1 modificada de MARI-MUTT, 1979; Fig.2–6 e 8–13 modificadas de JORDANA & ARBEA, 1997; Fig.7 modificada de
ARLÉ & MENDONÇA, 1982; Fig.16 modificada de XISTO et al., 2015).
162
Figuras 17–28. 17, Órgão antenal III. 18, Pin seta. 19, Olhos, G e H não reduzidos. 20, Olhos, G e H reduzidos e separados.
21, Olhos, G e H reduzidos e próximos. 22, Cabeça da maxila. 23, Mandíbula com placa molar. 24, Palpo maxilar com
quatro pelos sublobais. 25, Labro, Quetotaxia pré-labral e labral. 26, Papila labral tipo I. 27, Papila labral tipo II. 28, Papila
labral tipo III. (Fig.17 modificadas de XISTO & MENDONÇA, 2014; Fig.19–21 modificadas de MARI-MUTT, 1979; Fig.24
modificada de FJELLBERG, 1984; Fig.25–28 modificadas de MARI-MUTT, 1981a).
163
Figuras 29–35. 29, Papila labial E e cerdas de guarda e1, e2, e3, e4, e5 e e6; P.L. = Processo lateral. 30, Triângulo labial.
31, Órgão trocanteral. 32, Porção distal do tibiotarso com cerda rastreadora capitada e apêndice empodial lanceolado. 33,
Porção distal do tibiotarso com cerda rastreadora afilada e apêndice empodial lanceolado. 34, Porção distal do tibiotarso
com cerda rastreadora capitada e apêndice empodial truncado. 35, Tenáculo. (Fig.29 modificada de FJELLBERG, 1999;
Fig.30–31 modificadas de MARI-MUTT, 1983; Fig.32–33 modificadas de MARI-MUTT, 1979; Fig.34 modificada de MARI-
MUTT, 1985a; Fig.35 modificada de XISTO & MENDONÇA, 2014).
164
Figuras 36–39. 36, Região basal da dens com espinhos na região interna e externa. 37, Região distal lisa da dens e mucro.
38, Placa genital de um exemplar macho. 39, Macroquetotaxia dorsal da cabeça; An = grupo antenal; A = grupo anterior;
M = grupo mediano; S = grupo sutural; Po = cerda pós-ocular; Ps = cerda pós-sutural; P = grupo posterior. (Fig. 37–38
modificadas de XISTO & MENDONÇA, no prelo; Fig.39 modificada de XISTO & MENDONÇA, 2014).
165
OLIVEIRA, A.B.R. et al. 2016. Análise do filme de animação “Vida de Inseto” à luz da Biologia Animal. In: Da-Silva, E.R.;
Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (eds.) – Anais do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro.
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, p. 166-181.
RESUMO
O filme “Vida de Inseto” foi minuciosamente assistido e foram anotados os aspectos morfológicos,
biológicos e comportamentais abordados na obra. A utilização de filmes em ambiente escolar vem se
tornando cada vez mais popular, seja por prender a atenção ou mesmo facilitar a didática. Hoje em
dia tem-se um grande catálogo de filmes ligados à divulgação científica e cultura pop. Tais filmes, com
um grande teor científico, são adequados para estudos de ecologia, taxonomia, dentre outras áreas.
O filme abordado no presente trabalho retrata uma diversidade entomológica, rica em detalhes, cheia
de interessantes relações inter e intraespecíficas.
ABSTRACT
ANALYSIS OF ANIMATION FILM "A BUGS’ LIFE" IN THE LIGHT OF ANIMAL BIOLOGY
The movie "A Bug's Life" was closely watched and were noted morphological, biological and behavioral
aspects addressed in the work. The use of films in school environment is becoming increasingly
popular, either by eye-catching or even facilitate teaching. Today we have a large catalog of films
related to science communication and pop culture. Movies with a high scientific content, perfect for
ecological studies, as well as taxonomic and other areas. The studied film portrays an entomological
diversity, rich in detail, with interesting inter and intraspecific relationships.
___________________
1
Departamento de Paleontologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
2
Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3
Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
4
Autor correspondente: biaramosdeoliveira@hotmail.com.
166
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o aproveitamento de elementos da cultura pop nas produções acadêmicas
vem ganhando destaque (NEMÉSIO et al., 2013; DA-SILVA et al., 2014a, 2014b; CASTANHEIRA et
al., 2015). Produções cinematográficas são cada vez mais utilizadas na escola, embora ainda existam
poucos estudos sobre a sua aplicação no ambiente escolar (COSTA & BARROS, 2014). Os filmes
possuem potencialidade pedagógica especial e podem dar suporte a novas modalidades educativas,
com possibilidades de utilização em todos os níveis e disciplinas. Material cultural acessível e de fácil
aceitação, os filmes fazem parte da vida cultural das crianças e adolescentes, sendo uma ótima ponte
entre os saberes do aluno e o conhecimento sistematizado. Diante de tal cenário, sua utilização para
fins didáticos é natural e proveitosa. Nada mais é do que um meio de divulgação científica divertido e
que prende a atenção dos alunos. Como todos, independentemente da faixa etária, gostam de assistir
filmes, nada melhor do que adaptar o conteúdo de forma didática.
A utilização de filmes em ambiente escolar vem se tornando cada vez mais popular, seja por
prender a atenção ou mesmo facilitar a didática (COELHO & DA-SILVA, 2015). Hoje em dia, tem-se
um grande catálogo de filmes ligados à divulgação científica e cultura pop, filmes com um grande teor
científico, perfeitos para utilização em aulas sobre ecologia, taxonomia, dentre outras áreas
abordadas. O filme abordado no presente trabalho, "Vida de Inseto" (Figura 1), retrata uma diversidade
entomológica, rica em detalhes. Além de interessantes relações inter e intraespecíficas, que podem
ser abordadas até mesmo do ponto de vista antropológico.
OBJETIVOS
O FILME
Apesar de muitos animais aparecerem no filme, especialmente artrópodes, a obra foi objeto de
poucos estudos com ênfase biológica. Pelo contrário, na maioria os tratados que a abordam são da
área das Ciências Humanas (PRADHANA, 2013) e centram suas análises na jornada épica do
personagem Flick. Uma honrosa exceção é o artigo de FRANCO et al. (2013), que aborda a
possibilidade de uso didático do filme, à luz da Entomologia.
OS PERSONAGENS PRINCIPAIS
Os personagens principais do filme (Figuras 2-16) pertencem a três núcleos. O primeiro deles
é o formigueiro (Figura 17), com destaque para a formiga aventureira Flick (Figura 2), seu par
romântico, a princesa Atta (Figura 3), a princesa infante, Dot (Figura 5), e a rainha (Figura 4). Outro
núcleo importante é a trupe de circo (Figura 23), composto pela joaninha Francis (Figura 8), o bicho-
pau Slim (Figura 9), o louva-a-deus Manny (Figura 6), a mariposa Cigana (Figura 7), a lagarta Chucrute
(Figura 13), a aranha Rosie (Figura 11), o escaravelho Dim (Figura 12), os tatuzinhos-de-jardim Deita
e Rola (Figura 10), além da pulga P.T. Pulga (Figura 14), o dono do circo. Por fim, há o núcleo dos
168
vilões, gafanhotos (Figura 27) liderados pelo malvado Hopper (Figura 16), que conta também com o
boa praça Moult (Figura 15), irmão de Hopper.
ANÁLISE BIOLÓGICA
Formigas
A maioria dos animais é bem caracterizada (FRANCO et al., 2013), com as licenças poéticas
de praxe, como os olhos grandes, com íris e pálpebras, e a postura ereta, além de mãos e pés
humanizados. Esse tipo de estratégia é bastante comum em filmes, conferindo um aspecto
antropomorfizado aos personagens (MARIÑO PÉREZ & MENDOZA ALMERALLA, 2006;
CASTANHEIRA et al., 2015).
2 3 4 5
Figuras 2-5. Principais formigas da animação “Vida de Inseto”: 2, Flick; 3, Atta; 4, Rainha (carregando seu pulgão de
estimação); 5, Dot. Fonte: Disney®, Google Imagens.
As formigas (Hymenoptera: Formicidae) têm uma organização social bem definida, centrada na
fêmea principal, a rainha, que durante o filme tem a principal função de ensinar suas tarefas à sua
filha princesa e que apresenta características morfológicas relativamente distorcidas, dentro da licença
poética. Como o fato das “bochechas” da rainha serem caídas para representar um indivíduo idoso,
coisa que não acontece com formigas reais, que não apresentam músculos faciais expressivos. Da
mesma forma, a rainha se mostra bem menor do que todos os outros indivíduos do formigueiro - na
realidade, as rainhas de formigas são bem mais desenvolvidas que todos os outros integrantes do
formigueiro. As formigas são caracterizadas por possuírem, no geral, antenas geniculadas, pedículo
abdominal com um ou dois segmentos; no caso das rainhas e das reprodutoras, há a presença de
asas – dois pares membranosos, sendo as posteriores menores.
No filme, observamos que a princesa Dot possui asas, assim como as outras formigas filhotes
do “grupo de formigas escoteiras”, e que ao longo do filme, ela passa pelo drama de ainda não saber
169
voar como as outras pequenas. Nesse caso, há uma incorreção biológica, já que formigas “filhotes”,
as larvas, ainda não têm asas e nem mesmo poderiam voar.
Em uma das cenas, as formigas operárias, adequadamente sem asas, carregam alimentos para
dentro do formigueiro para o grande estoque do inverno - um comportamento popularmente conhecido
das formigas. E, de repente, uma folha cai no meio da fila de formigas. O desespero se abate sobre
todas as restantes: estão perdidas porque perderam a trilha de feromônio deixada pelas que já
passaram (Figura 18). Esse é um comportamento já estudado nas formigas, no caso, elas deixam um
rastro da substância para trás, e as outras formigas se guiam pelo olfato. Quando tal rastro é
interrompido, de fato as formigas ficam desorientadas e precisam reencontrar o odor da substância
(GRONENBERG, 2008). No filme é diferente, há uma formiga suporte que ajuda a outra a contornar
o obstáculo.
Figuras 6-16. Alguns dos principais personagens da animação “Vida de Inseto”: 6, Manny; 7, Cigana; 8, Francis; 9, Slim;
10, Deita e Rola; 11, Rosie; 12, Dim; 13, Chucrute; 14, P.T. Pulga; 15, Moult; 16, Hopper. Fonte: Disney®, Google Imagens.
170
Logo nas primeiras cenas do filme, vê-se que a rainha carrega um pulgão no colo (Figura 19),
como se fosse um animal de estimação, um tipo de cão de companhia, até latindo em alguns
momentos. Na natureza, há realmente uma relação estreita entre algumas formigas e os pulgões: elas
predam os inimigos naturais desses insetos como parte de sua própria dieta; elas ainda criam colônias
de pulgões e defendem-nas de forma feroz. Na outra via dessa relação simbiótica, os pulgões
fornecem substâncias açucaradas (chamadas exsudatos), uma rica fonte de carboidratos, e, de fato,
no filme o que vimos é a relação relativamente amigável entre os dois insetos, exceto pelo fato de que
há somente um pulgão, criado livremente como ‘pet’. Os pulgões (Hemiptera: Aphididae) possuem
peças bucais como estiletes e podem ou não possuir asas. No filme, vemos que o pulgão possui a
maior parte das características, exceto pelo rosto antropomorfizado, incluindo as cornículas, tubos
dorsais do final do abdômen (Figura 20). As relações entre formigas e insetos da ordem Hemiptera,
mais especificamente das subordens Sternorrhyncha e Auchenorrhyncha (como no caso da Figura
21) foram revisadas por DELABIE (2001).
Figura 18. Formiga ajudando as companheiras a contornarem a folha. Fonte: Disney®, Google Imagens.
171
19 20
Figuras 19-20. 19, Atta e a rainha, segurando o pulgão; 20, o pulgão de estimação. Fonte: Disney®, Google Imagens.
Após alguns minutos de filme, o protagonista Flick se propõe a missão de ir até a cidade
procurar outros insetos para conseguir defender o formigueiro do ataque dos gafanhotos perversos.
Essa é uma relação bastante interessante de ser observada, porque a guerra “gafanhotos versus
formigas” está presente em diversas fábulas e histórias infantis, fornecendo lições de moral sobre
esforço, foco e determinação no trabalho. No caso, a versão mais comumente reproduzida é de que
o gafanhoto era preguiçoso e as formigas faziam todo o trabalho (CROXALL, 1811). Em “Vida de
Insetos”, observamos uma versão diferente da história, em que os gafanhotos são animais perversos
que ameaçam a integridade física e a vida das formigas, caso não recebam em troca uma parcela de
todos os grãos que elas recolhem durante o verão. E aí que está o maior erro: formigas não precisam
temer gafanhotos, o que ocorre em realidade é exatamente o contrário: as formigas estão entre os
mais destacados predadores dos gafanhotos (FULLER & JOERN, 1996), usando sua vantagem
numérica. Sobre esse tema, Hopper avisou a seu grupo: “gafanhoto: deixe uma formiga te afrontar e
todas vão criar problema; elas estão em maior número do que nós”. Usando sua supremacia numérica,
as formigas frequentemente capturam insetos muito maiores (Figura 22).
21 22
Figuras 21-22 - Interações das formigas com Auchenorrhyncha, em Penedo, Itatiaia, RJ: 21, formigas tomando conta de
indivíduos da família Aethalionidae; 22, formigas predando um exemplar da família Cicadellidae. Fotos: E.R. Da-Silva.
172
Trupe do circo
Quando Flick, então, chega à cidade, o filme mostra todos os outros táxons de artrópodes que
veremos, tanto os “figurantes” quanto os principais personagens que irão ajudar Flick e o formigueiro
na defesa contra os gafanhotos. O primeiro integrante da trupe dos insetos (Figura 23) é a joaninha
Francis, que, no caso, é macho. Provavelmente pertencente à espécie Coccinella novemnotata
Herbst, 1793 (Coleoptera: Coccinellidae), Francis traz à tona o simbolismo da joaninha. Por algum
motivo, as joaninhas são sempre colocadas como insetos femininos, ou simbolizando algo que seja
fofo, delicado, feminino, e sempre há certa confusão quando lembram a existência dos machos de
joaninha ou quando o inseto é colocado como macho em alguma produção. É exatamente esse ponto
de “Vida de Inseto”: a joaninha do filme tem cílios longos, olhos femininos e é um inseto bastante
delicado, que logo na primeira cena em que aparece ganha uma cantada de moscas da plateia do
circo. Francis passa boa parte do tempo em que está no formigueiro tentando convencer as formigas
filhotes de que ele é realmente ele, e não uma fêmea - enquanto as formigas permanecem chamando
Francis de “senhora” e o colocam como madrinha do grupo de formigas escoteiras - e o
questionamento do simbolismo é colocado com graça, até que, no final, Francis simplesmente aceita
que as formiguinhas não deixarão de lado a “feminilidade” da joaninha. Esse é um ponto bastante
interessante para se tratar com alunos, e não só nas Ciências Biológicas, mas também nas Ciências
Sociais, criando questionamentos sobre o problema de uma sociedade voltada para um padrão binário
de gênero e com estereótipos pré-definidos, onde uma mulher deve se parecer com o “estereótipo de
mulher” e um homem com o “estereótipo de homem”. Vale destacar que a joaninha é um dos insetos
mais populares, sendo bastante retratado em manifestações culturais (ZABALA et al., 2003). Além
disso, a provável espécie de Francis já foi amplamente distribuída na América do Norte, mas está em
franco declínio populacional (KOCH, 2011). Segundo TURNIPSEED et al. (2014), um dos motivos de
tal declínio pode ser a competição com Coccinella septempunctata Linnaeus, 1758, espécie originária
da Região Paleártica e introduzida na América do Norte (ZABALA et al., 2003). Isso pode ser um
interessante ponto de partida para se discutir a questão da introdução de espécies exóticas e da
competição interespecífica.
Além de Francis, outros Coleoptera da trama são Dim, o besouro da trupe, dois vaga-lumes
(Figura 24) que permanecem com P.T. Pulga no circo, além de outros besouros que aparecem como
figurantes. Há diversas cenas em que Dim aparece voando, mas a mais memorável é quando o
besouro, com Flick, vai resgatar a princesa infante Dot, prestes a ser devorada por um pássaro. Na
cena, conseguimos escutar o som do bater de élitros de Dim, que é tão alto quanto o som de um
helicóptero. No caso, essa é uma técnica bastante interessante para caracterizar as asas anteriores
rígidas dos Coleoptera, que servem para proteção das asas posteriores, membranosas e delicadas.
Os élitros acabam atrapalhando o voo de besouros, e por isso teriam um “som de helicóptero” no filme.
173
Além dos élitros, os besouros podem apresentar chifres, como os de Dim, caracteristicamente típicos
da subfamília Dynastinae (Scarabaeidae) ou serem luminescentes, como os vaga-lumes da família
Lampyridae. Assim, os besouros estão bem caracterizados no filme, guardadas as licenças poéticas.
Outro membro da trupe é a lagarta Chucrute, da ordem Lepidoptera, que ao longo de todo filme
espera ansiosamente pela sua metamorfose para, então, ter suas asas de mariposa (provavelmente
da família Saturniidae). Sendo um membro da ordem, claramente Chucrute deve passar pela
metamorfose em algum momento - já que, no enredo, esse seria seu “final feliz” - e como é observado
no final, cria asas extremamente pequenas (Figura 25). A ordem Lepidoptera conta com indivíduos
com dois pares de asas membranosas cobertas de escamas, com cores extremamente variadas, e
com peças bucais adaptadas à sucção. Dispõe, para tal, da espiritromba, que permanece enrolada
quando está de repouso e é utilizada exatamente para sugar o néctar. Todos possuem a fase de
metamorfose, quando criam um casulo para si e ali ficam até completar a transformação. No caso do
filme, é interessante apontar que após a metamorfose, Chucrute continua exatamente o mesmo, com
exceção das novas asas.
25 26
Figuras 25-26 – 25, Chucrute após a metamorfose, com suas asas diminutas; 26, Cigana mostrando suas marcações
ocelares nas asas anteriores. Fonte: Disney®, Google Imagens.
Manny, o louva-a-deus (Mantodea), é o mágico da trupe, assumindo todo o caráter místico que
envolve o inseto - que, nos filmes, é sempre colocado como um personagem místico ou poderoso,
sendo até mesmo relacionado com modalidades de luta, como o Kung Fu, com estilos baseados no
movimento do inseto (ROBERT Z, 1998). No caso, Manny assume a maior parte das características
do táxon: cabeça triangular, tórax estreito e abdômen bem desenvolvido, com pernas anteriores
modificadas para a função raptorial. Assim como a rainha do formigueiro, tem os “músculos faciais”
relaxados, representando uma idade avançada.
Slim, o bicho-pau (Phasmatodea), que é bastante parecido com um exemplar real,
apresentando as asas pequenas para voo e duas antenas grandes no topo da cabeça. No caso de
Slim, todo o filme brinca com o mimetismo dos bichos-pau, fazendo com que, na trupe, o personagem
seja sempre usado como um graveto, poste ou qualquer outra coisa que faça alusão a um graveto.
Quando Francis, a joaninha, e Slim saem em perseguição ao gafanhoto Hopper, que estava com Flick,
Slim fica preso em um emaranhado de galhos e Francis não consegue encontrá-lo.
Há também a viúva-negra Rosie, provavelmente do gênero Latrodectus Walckenaer, 1805
(Arachnida: Araneae: Theridiidae), que é a tecelã da trupe e produz rapidamente teias para os truques
175
circenses. Ela tem a maior parte das características de uma viúva-negra, exceto pelo “rosto”
humanizado, com apenas um par de olhos, maçãs do rosto proeminentes, lábios com batom e
ausência de queliceras. Rosie produz suas teias usando as mãos, enquanto as aranhas reais têm
apêndices especializados no abdome, as fiandeiras, para tal finalidade. Além de Rosie, vemos uma
aranha que toca bateria e tem a morfologia mais ou menos parecida com a de uma aranha real, mas
que não possui queliceras nem os quatro pares de olhos comuns em Araneae.
Os últimos integrantes da trupe, Deita e Rola, são tatuzinhos-de-jardim (Crustacea: Isopoda:
Oniscidea). Literalmente eles sempre rolam durante as apresentações, explorando uma peculiaridade
real desses animais, que enrolam o corpo como forma de proteção contra o ataque de predadores
(LISBOA et al., 2013).
Figura 27. O bando de gafanhotos, liderado por Hopper. Fonte: Disney®, Google Imagens.
177
Figuras 28-32 – 28, Hopper em voo; 29, Hopper inspecionando Atta com as antenas; 30, Thumper sendo contido por
outros gafanhotos; 31, momento em que Moult completa a ecdise; 32, ataque das formigas, lançando a exúvia de Moult
para o alto. Fonte: Disney®, Google Imagens.
Diversas moscas (Diptera) estão presentes no filme (Figuras 36-38), com antenas curtas, olhos
característicos e cerdas ao longo do corpo. Os omatídeos são mostrados, através de uma projeção
da visão das moscas (Figura 41). Também aparecem larvas de mosca que, na licença poética,
possuem olhos e boca, além de estarem sendo cuidadas pelo adulto (Figura 37). Outras moscas
“jovens” são como que adultos menores, o que não acontece com insetos de desenvolvimento
holometabólico, da mesma forma do que acontece com as formigas. O que seria uma probóscide é
representado no filme como um “nariz” grande. As moscas são uma forte presença cômica/satírica no
filme, à semelhança do que COELHO & DA-SILVA (2015) observaram em relação a outra animação,
“Minúsculos – O Filme”. Também mosquitos (Diptera: Culicidae) aparecem no filme, com asas
anteriores e um par de halteres, que servem como órgãos de equilíbrio. Há uma probóscide que serve
para sugar néctar, seiva ou sangue, e, no geral, os machos possuem antenas plumosas e fêmeas têm
antenas pilosas e são mais corpulentas. No filme, vemos um mosquito sugando uma gota de sangue,
em um bar (Figura 40), e um grupo de mosquitos servindo de garçons para os gafanhotos.
178
Figuras 33-35 – Gongolos: 33, gongolos que puxam a charrete; 34, mímico, ao lado de Flick; 35, massagista. Fonte:
Disney®, Google Imagens.
Figuras 36-41. 36, Moscas discutindo com Francis; 37, mosca adulta cuidando das larvas; 38, mosca abordando P.T.
Pulga; 39, inseto atraído para a luz; 40, mosquito se alimentando de uma gota de sangue, observado por Flick; 41, Francis
sob a visão multifacetada da mosca. Fonte: Disney®, Google Imagens.
179
Figura 42. Os insetos se protegendo do ataque do pássaro, refugiados entre os ramos com espinhos. Fonte: Disney®,
Google Imagens.
Figura 43. Pássaro levando Hopper para os filhotes no ninho. Fonte: Disney®, Google Imagens.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da observação do filme, muitos temas interessantes do campo das Ciências Naturais
podem ser trabalhados em aulas regulares. Com a devida adequação de nível de profundidade, há
conteúdos passíveis de aplicação tanto no ensino superior quanto nos ensinos médio e fundamental.
Os temas vão desde os mais específicos, ligados à Zoologia (caracterização morfológica) até
conceitos biológicos gerais (alimentação, predação, competição, mutualismo, colonialismo,
reprodução, ciclo de vida) e aplicados (controle biológico, conservação ambiental, redução
populacional, introdução de fauna). Todos esses conceitos e temas podem ser utilizados para
enriquecer as aulas, transmitir conteúdos e despertar o interesse dos alunos. Como obras ficcionais,
os filmes não estão obrigatoriamente compromissados a abordar cientificamente conteúdos de
Ciências Naturais. E é aí que deve entrar o grau de discernimento do professor, ao ministrar os
conhecimentos e conduzir adequadamente as atividades. Para uso didático, até mesmo eventuais
incorreções ou exageros biológicos são interessantes para serem abordados pelo professor, levando
à discussões muito proveitosas.
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