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Título: A narração em Walter Benjamin e Hegel

Resumo:

Abstract:

Palavras-chave:

Keywords:

Introdução

a) É possível um discurso unificador hoje, uma “unidade de esquerda”?


b) As Teses: história e conhecimento, política nos anos 1930, materialismo
histórico-dialético. A incapacidade de entender o nazismo se liga a incapacidade
de enfrentar o nazismo (de se tornar discurso de massas eficiente)
c) Nossa interpretação: Narração, Experiência e História.
d) Experiência Kant-Hegel
e) Narração das figuras da consciência como conhecimento
f) Saber absoluto: narrativa sobre a história que abre as possibilidades do presente.

O que significa narrar? Os diálogos de Platão são quase sempre narrativas


contadas por alguém que ouviu de alguém um acontecimento de tempos atrás. O
memorial deste concurso é também uma narração sobre os eventos acadêmicos que
marcaram a minha vida e que esclareceriam pra banca que candidato eu sou. Em
qualquer caso, a narração parece impor uma forma única, mesmo que indeterminada, a
fenômenos que sem ela vagariam aleatórios pela memória, sem nada dizer.

Cada particular é o que é, ganha seu sentido próprio e único na referência que
carrega em si ao todo narrativo do qual participa. Mas, da mesma maneira, esta
totalidade tem um caráter lacunar, sendo mais um princípio agregador do que um
“arquiacontecimento” dentre outros. A narração é uma abertura, que dá sentido
exatamente por não possuir um sentido; por conta de sua indeterminação originária ela
pode ser ampla o suficiente para reunir variantes dispersos. Como o buraco negro
maciço que existe no centro de toda a galáxia.

Muito se fala hoje em formas de criar um discurso em comum, num momento de


crise dos sistemas políticos no mundo todo e a emergência de se criar uma unidade de
ação. Ainda é possível um discurso ou uma narrativa em comum? Abordaremos a
questão pela conhecida discussão sobre narração feita por Walter Benjamin e pela
reinterpretação do sistema do saber absoluto de G.W.F. Hegel sobre o prisma da ideia
de narração.

Benjamin aborda esta questão de diversas maneiras, direta e indiretamente, em


todo o seu pensamento, desde os textos iniciais sobre linguagem até as Teses sobre o
conceito de História, passando pela Origem do drama barroco alemão e os ensaios
Experiência e pobreza e O Narrador, além das análises sobre a narração em Kafka e
Proust.

Nossa porta de entrada na questão é a aproximação entre Benjamin e Hegel


tendo como vínculo a ideia de narração, numa proximidade que, no entanto, revela
contrastes extremos, que não serão ignorados, mas realçados, como intuito de entender
não simplesmente o que eles tem em comum, mas o que eles tem de complementar.

A ideia de narrar, contar uma história que de alguma maneira “agrupa”


elementos dispersos e nessa reunião acha para si uma nomeação, está presente ao longo
de todo o pensamento benjaminiano, de modo direto e indireto, desde a sua obra
filosófica central, Origem da drama barroco alemão, escrita nos anos 1920, passando
pelas Passagens, que são, afinal, uma espécie de coleção narrativa dos elementos
dispersos que compõe as cidades na modernidade e no começo do século XX, na
Europa, até por fim as Teses sobre o conceito de história, um dos textos finais de
Benjamin, onde ele se pergunta como contar a história a partir de seu tempo. Sobretudo
no ensaio O Narrador, Benjamin expõe a questão da narração de forma direta, como
descreve Jeanne Marie Gagnebin (2013, p.62):

“‘O Narrador’ coloca alguns marcos tímidos para definir uma atividade
narrativa que saberia rememorar e recolher o passado esparso sem, no entanto,
assumir a forma obsoleta da narração mítica universal, aquilo que Lyotard
chamará de as grandes narrativas legitimantes”

Estaria Hegel entre estas “grandes narrativas legitimantes”? Nossa perspectiva é


que por um lado sim e por um lado não já que ao mesmo tempo a narrativa hegeliana
capta a história ocidental sob o prisma da Modernidade e sobretudo do Aufklarung
alemão, constituindo-se assim como uma narrativa dentre outras e de caráter
extremamente contextual, mas também se constitui, como pretendemos mostrar, como
uma narrativa da própria narratividade, o momento em que a filosofia olha para trás,
para sua própria história e se vê como um discurso que não vigora acabado, mas é fruto
de um desenvolvimento longo cujo motor foi o antagonismo interno entre as diversas
concepções sobre a verdade, começando na “certeza sensível” até chegar na
autoconsciência do Espírito, quando descobre que a verdade que procurava não estava
lá fora, na substância, mas em si, na própria filosofia. Dessa maneira, ao inserir a
história como componente essencial da metafísica, a filosofia se abre para a análise do
mundo prático, profano, abrindo as portas para a filosofia contemporânea, como nos
lembra François Châtelet (1995, p.14): “Pelo menos três teóricos que estão na base da
pesquisa contemporânea tomam o hegelianismo como referência principal”, e aqui
Châtelet se refere a Kierkegaard, Marx e Nietzsche. Sobretudo os dois últimos tem uma
clara e forte importância para o pensamento de Benjamin.

Como aponta a citação de Gagnebin acima, Benjamin nos dá um conceito de


narração cujo interesse é pensar formas de narrar que preservem o particular ao invés de
subsumi-lo e esquecê-lo sob a sombra do universal, ao mesmo tempo busca no narrar a
constituição de uma história em comum, que superar a dispersa subjetividade em que a
humanidade recai sob o signo da modernidade. Com a aproximação entre Benjamin e
Hegel gostaríamos tanto de revelar contrastes e limites no sistema hegeliano quanto
lançar sobre ele uma nova perspectiva, com o intuito de responder a questão sobre as
possibilidades da narração hoje. Com a filosofia de Hegel tomada como, sobretudo, uma
filosofia da narração e da narratividade, aliada ao pensamento de Benjamin e sua
preocupação em preservar o esquecido, o profano, o oprimido, acreditamos ser possível
encaminhar dignamente essa questão cujo mérito e importância serão justificados agora.

Justificativa
“As ideias relacionam-se com as coisas como as constelações com as estrelas” e
“a ideia pertence a um domínio radicalmente diverso daquele que ela apreende”
(BENJAMIN, 2013, p.22), como a constelação, desenho mental dos homens baseado no
modo como as estrelas aparecem pra nós, cuja arbitrariedade revela sua natureza distinta
da das próprias estrelas, gigantes distantes que não sabem que fazem parte de
constelações. Diferente das galáxias, as constelações são abertamente designações
humanas, do mesmo modo que as imagens que as nuvens formam no céu não têm
relações com as nuvens, mas conosco.

Esta reflexão de Origem do drama barroco alemão, escrito entre 1924-5, já nos
revela do que trata a ideia de narração para Benjamin, que será mais explorada nos anos
1930. Assim como a constelação, a narração agrupa entes dispersos, dá sentido, forma,
imagem para eles. Este sentido é imagético porque é aberto, carrega consigo certa
indeterminação. É visível sua arbitrariedade; os pontos que ligam as estrelas poderiam
formar outras imagens. Porém, eles não formam: as constelações que nos habituamos a
ver existem em nossas vidas, servindo como pontos de referência tanto pra astrologia
quanto pra astronomia e navegação. Assim, poderíamos dizer, age a narração, como
aquela que fazemos sobre nós mesmos, nosso país, o presente estado de coisas, etc. Ela
une pontos diversos, formando uma imagem criada por nós.

Em 1936 escreve o ensaio O Narrador, que parte de uma interpretação da obra


do escritor russo Nicolas Lesskov. Neste ensaio Benjamin parte da ideia de que ocorre
na modernidade uma perda da capacidade narrativa concomitante a perda da capacidade
de experienciar, substituída pelo mero vivenciar. A primeira pode ser transmitida por
meio da tradição, da rememoração; a segunda é individualizada, não tem o caráter
comunal da primeira. A narração “não configura somente uma ordem religiosa ou
poética, mas desemboca também, necessariamente, numa prática comum”, de modo que
as histórias narradas não são apenas ouvidas, mas “acarretam uma verdadeira formação
(Bildung), válida para todos os indivíduos de uma mesma coletividade” (GAGNEBIN,
2013, p. 57-8).

Tudo no ensaio gira em torno de um tema central no pensamento de Benjamin, a


Modernidade, sobre este momento em que deixamos de ser capazes de produzir
narrativas e possuir experiências. Baudelaire, Kafka e Proust interessam Benjamin
exatamente por serem escritores que tentaram, em suas obras, narrar na época onde seria
impossível narrar. Quando Benjamin se refere à Modernidade ele se refere à época de
Hegel e Baudelaire, mas também a sua própria, ao começo do século XX, já que a crise
que a modernidade trouxe de maneira nenhuma se resolvera.

A grande questão para Benjamin, neste ensaio, é se é possível instaurar uma


narração na sua atualidade. O caminho para esta questão, resumidamente, se desenha da
seguinte maneira (BENJAMIN, 1994, p.201-3): a narração, vinculada a oralidade e a
experiência coletiva do passado, é substituída na modernidade, com a difusão da
imprensa, pelo romance, cujo núcleo é o chamado “romance de formação”
(Bildungsroman), que é exemplificado por Benjamin na referência a Os anos de
formação de Wilhelm Meister, de Goethe1. A partir daí o próprio romance desencadeia
algo diferente de si, a informação, que precisa ser compreensível “em si e para si”, cuja
profusão é a causa direta do declínio da narrativa. Ao contrário da narrativa, a
informação deve ser clara, explicativa e de valor imediato, pautado pela novidade. Ao
contrário da narrativa, a informação perde o valor quando deixa de ser nova. Por isso,
nos encontramos reféns da novidade informativa, ao mesmo tempo em que
incapacitados de produzir narrativas.

Para nós, que o tema da narração seja abordado em um ensaio de 1936 evidencia
o interesse de Benjamin em responder questões de seu tempo, um tempo único,
extremamente decisivo. Se trata do contexto da estruturação do nazismo na Alemanha e
do fascismo na Itália, onde se avizinha o início da segunda guerra mundial, em 1939.
Nesta época o engajamento de Benjamin com o materialismo histórico e o pensamento
marxista atinge seu grau mais intenso. Os grandes textos do meio dos anos 1930, como
O Autor como produtor, O Narrador, A Obra de arte na era de sua reprodutibilidade
técnica e os ensaios sobre Bertold Brecht tem um evidente caráter militante e uma
proximidade de Benjamin com o comunismo. Não é estranho partir da hipótese, então,
de que a ideia de narração tem um óbvio caráter político, relacionado à capacidade de
narrativas se oporem a ascensão dos fascismos. Atestam isso os textos da época
abordarem a questão do fascismo e manifestarem uma preocupação “prática” com as
consequências de sua ascensão naquele momento.

1
Este exemplo de Benjamin é interessante para nós, pois é usual entre os comentadores de Hegel a
comparação da Fenomenologia do Espírito com o romance de formação, gênero literário surgido na
mesma época. Mas, mais do que isso, a comparação costuma ser feita especificamente com o próprio
Wilhelm Meister (NASCIMENTO, 2018, p.176). Porém, ela tem um caráter ambíguo, onde podemos
destacar a posição do próprio Hegel de criticar o Meister por seu subjetivismo burguês (WERLE, 2013, p.
27-8).
A isto se soma o debate que Benjamin realiza dentro do próprio campo da
esquerda, de onde ele esperava uma resposta a este tempo. Benjamin se posiciona, neste
debate, entre a social-democracia alemã, que compôs a natimorta República de Weimar
(que governou entre o fim da primeira guerra e a chegada de Hitler ao poder) e o
stalinismo soviético. As duas perspectivas teriam em comum uma narrativa do
progresso, de viés iluminista, com o qual Benjamin tem aberta confrontação (LÖWY,
2005, p. 84). Estas narrativas, predominantes na esquerda de sua época, não eram, para
Benjamin, capazes de cumprirem esse papel narrativo novo que ele almeja como
resposta a crise da modernidade.

Também nos parece uma boa hipótese partir da ideia de que Benjamin analisa e
procura responder os problemas de seu tempo através da noção de que há uma crise da
modernidade não resolvida. Ou seja, é possível supor que a crise da modernidade, que é
uma crise da narrativa e da experiência, pode ser concebida por Benjamin como
interconectada ao problema político de sua época.

Aí se justificam dois interesses do nosso projeto: atualizar a questão da narração


em um contexto que guarda cruéis semelhanças com o de Benjamin (e esse é um
pressuposto do qual partiremos), sobretudo no que diz respeito às dificuldades de uma
narrativa em comum entre as esquerdas e que seja capaz de “desembocar em uma
prática comum”, como mencionado acima; investigar a fundo o pensamento de Hegel,
que aqui consideramos, junto de Châtelet, o pensador-chave para se entender a
modernidade e sua crise, cuja forma explícita se deu no século XIX. Segundo Châtelet,
“Hegel pretendeu-se o pensador da modernidade” (1995, p.10). O interesse por Hegel é
potencializado ainda pelo que consideramos sua especial proximidade ao tema da
narração, como veremos agora.

É neste sentido que Châtelet (1995, p.56) vai dizer, numa interpretação
condizente com o debate pós-estruturalista do qual ele fazia parte, que o Espírito
Absoluto, “diríamos hoje”, é cultura e está na linguagem. Para Châtelet (Idem, p.66-7),
Hegel leva à cabo uma “tentativa furiosa de introduzir a transparência integral na
comunicação”, uma “experiência do discurso integralmente controlado” que obriga o
homem a ver-se como “animal que tem sua essência no discurso”.

O que isso quer dizer? Talvez algo mais simples do que possa parecer. A
filosofia toma como objeto a si mesma e descobre que está na história e que é resultado
de uma formação. O seu desenvolvimento, ela percebe, não é aleatório, mas expressa
uma ordem interna – a dialética. O discurso,

“confrontado com o que designa, é obrigado a desenvolver-se segunda


uma lógica que tem de conferir às oposições – imediato-mediação,
identidade-contrariedade, substância-sujeito – sua significação
efetiva” (CHÂTELET, 1995, p.66)

O que ele descobre, então, é que há uma necessidade imposta no modo como o
discurso torna qualquer coisa inteligível, desde o comportamento das plantas até a
natureza de Deus: algo só pode ser compreendido na medida em que se reporta aquilo
que é diferente de si. Hegel acredita ter encontrado o modo como a razão se articula
através de oposições que constituem partes de um processo no qual a verdade não é uma
de suas partes, mas a própria totalidade em si e para si mesma. Mas a razão é mais do
que apenas um atributo da alma ou um discurso tomado como convenção humana da
qual a natureza é um exterior separado. Lembremos que a grande proposta de Hegel é
eliminar a separação entre sujeito e objeto. Assim, Hegel vai dizer:

“A filosofia demonstrou através de sua reflexão especulativa que a


Razão é ao mesmo tempo substância e poder infinito, que ela é em si o
material infinito de toda vida natural e espiritual e também é a forma
infinita, a realização de si como conteúdo. Ela é substância, ou seja, é
através dela e nela que toda a realidade tem o seu ser e a sua
subsistência. Ela (HEGEL, 2015, p.55) A RAZAO NA HISTORIA

E se interpretássemos o pensamento hegeliano por outro viés, na linha de


Châtelet, sem ver nessa expansão infinita da razão uma simples miragem positivista, um
desejo ensandecido de tudo conhecer e tudo controlar, mas sim uma descrição daquilo
que já está acontecendo, que é a estruturação da realidade em um todo que faz sentido
para nós de maneira imediata, o que nos faz, em nossa prática comum e cotidiana, negar
seu caráter profundamente mediatizado, processual, integrado?

Quando a consciência se refere a um objeto e diz o que ele é, está dizendo


também implicitamente o que ele não é e desta contradição desencadeia-se um todo, um
sistema, que integra diversas coisas e, de alguma maneira, mesmo que falsa, a explica, a
dota de sentido. Uma cadeira, por exemplo, só existe na medida em que existe um
espaço, um chão, a madeira, a fabricação humana, etc. Como se explica na “Doutrina do
Ser”, primeira parte da Ciência da Lógica, o ser só se compreende a partir do nada e
vice-versa. As coisas não são então, como se pensava na metafísica clássica,
substâncias, mas sim relações. Razão, seja a ratio do latim ou o lógos do grego, sempre
expressou uma relação entre coisas. Famosa frase de Hegel na Filosofia do Direito: “O
racional é o real”; é a relação que existe; as coisas são como que atributos da relação
entre elas. Ela não tem um caráter sintético, não adiciona nada a realidade, não a
transmuta, cindindo o todo em um reino fenomênico e um reino numênico; antes,
revela-se a si mesma, de modo que todo o conhecimento é como que o destrinchar da
própria consciência – ele não vai cada vez mais para fora, mas para dentro. Pois não é
isto que aparece imediatamente para nós que é o real, mas as relações invisíveis da qual
este ente é apenas uma parte, ao invés da própria substância. E essas relações possuem
uma ordenação, por isso são racionais, tal qual o pensamento e o discurso humano, que
mesmo na sua loucura ou no seu erro (como no caso da tradição filosófica que tomou o
ser como substância) ainda são expressão de uma racionalidade, de algum tipo de
ordenação prévia.

Partiremos, no projeto, da ideia de que o pensamento hegeliano expressa a


modernidade, este momento de crise de narrativas que surge exatamente quando não
somos mais capazes de crer em uma substância para além da razão humana e nos
descobrimos sozinhos na tarefa de criar o nosso próprio mundo. Neste momento pós-
Hegel, Nietzsche, almejando o futuro, vai pensar o super-homem e a criação de novos
valores depois da morte de deus, assim como Marx, atento ao presente, conceberá a
transformação material da sociedade, filosoficamente expressa na 11ª tese contra
Feuerbach e Kierkegaard, retido no passado, vai encontrar na fé absurda em um Deus
sem mediações a essência da humanidade, um modo reverso de ver nela o mesmo
potencial criativo que os outros dois viram, mas voltado agora não para a cultura e nem
para a sociedade, mas para o indivíduo.

Eis a crise de narrativas da modernidade como vista por Benjamin, mas de um


outro ângulo, anterior, buscando em Hegel o caminho propriamente filosófico dessa
crise, o que, nos parece, pode ser capaz de nos fazer compreendê-la e responder a ela de
maneira apropriada. Queremos abordar Benjamin através de seu interesse em pensar a
possibilidade de novas narrativas em uma época onde isso parece impossível, onde os
antigos referenciais se desgastam e deste vazio surge um chamado a auto-criação de si,
a produção de novas narrativas, que primeiramente nos paralisa, nos limita e constrange,
mas de onde o próprio Benjamin via a única possibilidade de “redenção”, “salvação
messiânica”, “revolução”, todos termos muito caros para o autor que podem soar como
alegorias, o que no pensamento de Benjamin não significa algo “menos real”, como um
jogo de palavras ou uma mera retórica.

Parece-nos que pensar a narrativa hoje tem uma importância de peso parecido
com o que tinha em 1936, tanto no que diz respeito à crise política geral quando a crise
interna das narrativas dentro da esquerda, problema que era prioritário para Benjamin
naquele momento. Entrar em Hegel para resolver esta questão (com a ajuda da visão
histórica de Benjamin, que procura “escovar a história a contrapelo” e salvar os
elementos periféricos, aparentemente triviais e efêmeros que um sistema tão grande
quanto o próprio universo, como o de Hegel, poderia deixar escapar) é entrar no núcleo
da própria inteligibilidade, que em seu sistema oferece não apenas uma narrativa, mas o
princípio de narratividade que nos permite hodiernamente distinguir verdadeiro de falso,
certo de errado, nós e eles. Como, afinal, essa estrutura de ordenação da realidade
funciona?

A partir da pergunta de Benjamin sobre a narrativa, lançando-a como que para


ser respondida pelo sistema de Hegel, podemos levar a questão a um novo horizonte,
dialogando com o núcleo duro da modernidade, a filosofia alemã, que na época chegou
a seu auge e da qual Benjamin é sem dúvida um grande herdeiro. Com este
reposicionamento podemos por fim realizar o último movimento da nossa investigação,
voltar a Benjamin e examinar a narrativa, agora entendida através da reflexão sobre o
processo de formação da consciência e seu caráter intrinsecamente narrativo. Mas aqui
se revela uma última e importante dimensão do projeto.

Narrar surge como questão para Benjamin em vista da impossibilidade de narrar,


surgida na Modernidade. Mas é na Modernidade também, acima de tudo com Hegel,
que a História aparece como questão filosófica. A relação entre História e Modernidade
em Hegel e Benjamin é a parte final da nossa pesquisa, o seu objetivo derradeiro. Por
um lado, nesta relação se encontra o cerne da conexão entre os dois filósofos alemães:
Benjamin vai tomar como problema a resolução de uma crise da Modernidade, a
impossibilidade de narrar, que por sua vez é resultado de um movimento do pensamento
em direção a si mesmo, a entender-se como discurso histórico, o que na filosofia não
teve expressão maior e nem mais inaugural do que no sistema hegeliano, com sua
“metafísica imanente fundada puramente na experiência”. É neste sentido que, em seu
livro sobre a introdução da Fenomenologia, Como nasce o novo, escreve Marcos Nobre
(2018, p.18-9):

“A Fenomenologia é o caminho que leva à forma de consciência que


se encontrou consigo mesma em sua inteireza porque se encontrou
com o seu próprio tempo na plenitude de seus potenciais. A esse
caminho Hegel deu o nome de experiência”.

Este tempo, por sua vez, não é apenas a forma geral de todo o ato de olhar para
seu próprio presente, mas também a realização concreta desta forma, ou seja, trata-se
também de uma investigação sobre a Modernidade, a época de Hegel:

“... a consciência filosófica não representa meramente a posição da


melhor teoria, aquele ponto de vista privilegiado que se encontra
unicamente na cabeça filosófica, mas é ela mesma resultado do
movimento prático da modernidade em expansão bélica. São os
limites da experiência histórica que estão em questão, um
descompasso entre a consciência natural do velho tempo e a
consciência filosófica do tempo novo que precisa ser elaborado. A
Fenomenologia é essa elaboração” (NOBRE, Idem, p.19).

Este olhar sobre a sua própria época, procedimento inabitual na filosofia até
então2, coincide com o movimento da filosofia olhar para si mesma, ter a experiência de
sua consciência. O termo usado por Hegel no antigo título da Fenomenologia, “Ciência
da experiência da consciência” é Erfahrung, o mesmo que Benjamin usa em
Experiência e pobreza, texto que, segundo Gagnebin (2013, p.57), deve ser lido em
conjunto com O Narrador. Explicar a conexão e diferença deste termo nos dois autores
será fundamental para nós. No movimento que passamos a ter a experiência da filosofia
em si, ou seja, uma experiência do discurso que procurava a substância e não de uma
substância, descobrimos o caráter histórico da filosofia e, segundo Benjamin, entramos
em uma crise narrativa que é uma crise da impossibilidade da experiência, agora
substituída gradualmente pela vivência (Erlebnis), de caráter mais individual. Assim a
narração se entrava, pois dependia da experiência, de caráter comunal. Esta é a condição
da Modernidade, período de Hegel e Baudelaire.

“No domínio psíquico, os valores individuais e privados substituem


cada vez mais as crenças em certezas coletivas (...) A história do si

2
Segundo Foucault, no pequeno texto “Qu’est­ce que les Lumières?”, de 1984, Kant é um dos primeiros
a fazer a filosofia pensar seu presente histórico.
vai, pouco a pouco, preencher o papel deixado vago pela história
comum. Benjamin situa neste contexto o surgimento de um novo
conceito de experiência, em oposição àquele de Erfahrung
(Experiência), o do Erlebnis (Vivência), que reenvia à vida do
indivíduo particular, na sua inefável preciosidade, mas também na sua
solidão” (GAGNEBIN, 2013, p.59).

Hegel vai produzir uma narrativa unificadora sobre toda a história e toda a
filosofia no preciso momento em que a “história comum” se torna impossível e também
uma crítica do “idealismo subjetivo” e do “subjetivismo burguês” no momento em que a
vivência individual toma o lugar das narrativas comunitárias. Para nós, isto coloca
Hegel em uma posição privilegiada para encaminhar a questão benjaminiana sobre a
possibilidade de uma narração, pois expressa de maneira filosófica a questão não
resolvida que a modernidade lega para Benjamin e para nós.

Finalmente, a resposta para a questão, a ser vislumbrada no estágio final da


pesquisa, passaria pela resposta sobre o que foi a Modernidade. Para Benjamin, não se
trata somente de uma época de crise, mas de uma crise que abre a possibilidade inédita
de um novo tipo de narração. É a esta narrativa que visamos.

Bibliografia:

CITAR O NARRADOR SALVACAO PERDICAO

Citar Beiser historicismo

Alegoria: “correspondência entre sagrado e profano, teologia e política” (LÖWY, 2005,


p.89).

“a reabilitação da alegoria por Benjamin será uma reabilitação da história, da


temporalidade e da morte na descrição da linguagem humana” (GAGNEBIN, 2013,
p.35)

“linguagem centrada na nomeação e não na comunicação (GAGNEBIN, 2013, p. 17.)


Nomear é o ato de instaurar determinado regime narrativo nos fenômenos – ou integrar
a um sistema já instaurado.

“onde o efêmero e o eterno coexistem mais intimamente”, valorização do estranho; citar


origem do drama barroco.

1. Introdução: a crise da modernidade aos olhos de Walter Benjamin


1.1 Experiência

O problema que guia o nosso projeto é enunciado por Walter Benjamin na


década de 1930, na Alemanha. Ele está presente em diversos textos de Benjamin ao
longo dessa difícil década, onde ele, judeu e comunista, vê de perto o crescimento do
nacional-socialismo e a ascensão de Hitler ao poder em 1933. Neste ano, Benjamin
escreve o pequeno ensaio Experiência e pobreza, onde pergunta no início: “Quem
encontra ainda pessoas que saibam contar histórias como elas devem ser contadas”?
(BENJAMIN, 1994, p.114). A experiência de vida dos mais velhos é legada aos mais
jovens pela narração. Como será exposto no ensaio O Narrador, de 1936, assim estão
vinculadas, em Benjamin, experiência e narração. A primeira alimenta a segunda, e a
segunda preserva na história a primeira. Mas, em uma época específica, a Modernidade,
esse vínculo foi rompido.

“No domínio psíquico, os valores individuais e privados substituem


cada vez mais as crenças em certezas coletivas (...). A história do si
vai, pouco a pouco, preencher o papel deixado vago pela história
comum. Benjamin situa neste contexto o surgimento de um novo
conceito de experiência, em oposição àquele de Erfahrung
(Experiência), o do Erlebnis (Vivência), que reenvia à vida do
indivíduo particular, na sua inefável preciosidade, mas também na sua
solidão” (GAGNEBIN, 2013, p.59).

A vivência tem um caráter particular, intransmissível, está como que colada ao


indivíduo que a relata e, portanto, não pode servir à narração. Em Experiência e
pobreza, Benjamin se refere aos soldados que voltaram da primeira guerra mundial
“mais pobres em experiências comunicáveis”. Como na história da Torre de Babel, o
ápice do desenvolvimento tecnológico, do seu apoderamento sobre o mundo e seu
controle da natureza, é também o momento em que a comunicação entre nós encontra
um bloqueio, onde não somos mais capazes de externalizar a nossa interioridade, de
transformar a nossa vivência em uma experiência capaz de ser comunicada. Esta crise é,
então, a dificuldade moderna de encontrar um discurso capaz de firmar um solo comum
entre os indivíduos.

Para Rouanet (2008, p. 45), “o mundo moderno se caracteriza pela


intensificação, levada ao paroxismo, das situações de choque, em todos os domínios”,
segundo Benjamin. O choque é uma situação de demanda de atenção consciente, como
quando estamos em uma situação de tensão. Nossa percepção do mundo passa a ser uma
consciência contínua sobre tudo, tudo passa a ser comunicável, como num catálogo.
Mas essa não é a comunicação da narrativa, é uma comunicação superficial. Temos
assuntos infinitos, mas nenhum deles é capaz de instaurar, entre nós, um vínculo
genuíno. São notícias, acontecimentos, mercadorias que causam choques, que
rapidamente são sucedidos por outros choques, que nos desviam a atenção. Temos a
vivência do espanto, mas não a experiência. A todos impressionam as novidades, mas
essa universalidade do espanto é sentida a cada vez apenas individualmente.

Nesta época de “atrofia da experiência (Idem, p.49) não somos capazes, pela
própria natureza atomizada da vivência e pelo efeito hipnotizante do choque, de
desenvolver uma memória ampla, capaz de juntar os acontecimentos de forma narrativa,
ao mesmo tempo em que não nos sentimos mais vinculados ao passado, à tradição que
antes desempenhava um papel aglutinador nas comunidades. Porém, uma volta ao
passado não está em jogo para Benjamin, que “sempre insistirá nas perspectivas
salvadoras que esta crise da tradição pode também oferecer à ação histórica dos
homens” (GAGNEBIN, 2013, p. 30). É, então, de uma nova maneira de estabelecermos
vínculos entre nossas experiências que Benjamin está falando. Como seria possível uma
narração própria dessa época de crise da experiência?

1.2 Narração

A narração “não configura somente uma ordem religiosa ou poética, mas


desemboca também, necessariamente, numa prática comum”, de modo que as histórias
narradas não são apenas ouvidas, mas “acarretam uma verdadeira formação (Bildung),
válida para todos os indivíduos de uma mesma coletividade” (GAGNEBIN, 2013, p. 57-
8). Nosso projeto tem como primeiro objetivo investigar no que consiste essa ideia de
narração em Benjamin e como ela é modulada de uma maneira específica na
modernidade, o que nos levaria, segundo Benjamin, à proximidade dessas “perspectivas
salvadoras”, ou seja, à resolução do problema da atrofia da experiência na modernidade.

Benjamin (1994, p.115) diz que “... essa pobreza de experiência não é mais
privada, mas de toda a humanidade”, de modo que, poderíamos dizer, tornaria possível
uma “experiência da pobreza”, ou seja, seria possível narrar a falta de experiência,
narrar aquilo que todos temos em comum, que é a impossibilidade de termos algo em
comum na modernidade. A experiência, por tanto, de uma falta. É disso que tratam
Baudelaire, Kafka, Proust, Lesskov, que tanto interessaram a Benjamin. Mas, para além
da literatura, podemos também entender essa nova narração em outros termos.

“As ideias relacionam-se com as coisas como as constelações com as estrelas” e


“a ideia pertence a um domínio radicalmente diverso daquele que ela apreende”
(BENJAMIN, 2013, p.22), como a constelação, desenho mental dos homens baseado no
modo como as estrelas aparecem pra nós, cuja arbitrariedade revela sua natureza distinta
da das próprias estrelas, gigantes distantes que não sabem que fazem parte de
constelações. Diferente das galáxias, as constelações são abertamente designações
humanas, do mesmo modo que as imagens que as nuvens formam no céu não têm
relações com as nuvens, mas conosco.

Esta reflexão de Origem do drama barroco alemão, escrito entre 1924-5, já nos
revela do que trata a ideia de narração para Benjamin. Assim como a constelação, a
narração agrupa entes dispersos, dá sentido, forma, imagem para eles. Este sentido é
imagético porque é aberto, carrega consigo certa indeterminação. É visível sua
arbitrariedade; os pontos que ligam as estrelas poderiam formar outras imagens. Porém,
eles não formam: as constelações que nos habituamos a ver existem em nossas vidas,
servindo como pontos de referência tanto pra astrologia quanto pra astronomia e
navegação. Assim, poderíamos dizer, age a narração, como aquela que fazemos sobre
nós mesmos, nosso país, o presente estado de coisas, etc. Ela une pontos diversos,
formando uma imagem criada por nós que de maneira difusa guia a nossa vida
cotidiana, nossos valores imediatos, aquilo que naturalizamos.

Aqui se apresenta o cerne da nossa conexão entre Hegel e Benjamin, na ideia de


narração explorada como isto que está na Origem (Ursprung) das nossas visões de
mundo particulares, de nossas opiniões e valores corriqueiros. Cotidianamente tomamos
uma série de verdades como certas: o mundo externo existe, a felicidade está atrelada ao
casamento, aos filhos e ao emprego estável, uma série de adjetivos específicos expressa
nossa personalidade (“sou isto”, “sou aquilo”). Seria impossível viver questionando
tudo o tempo todo, de modo que naturalizamos essas verdades na nossa prática. É por
este caminho que gostaríamos de levar a ideia de narração de Benjamin e ele nos
conduzirá a Hegel, como veremos adiante.

Nossa proposta interpretativa é conceber a narração em Benjamin não como um


gênero literário em vias de extinção, mas como a estrutura originária da própria
inteligibilidade do mundo. Neste nível mais fundamental, procuraremos olhar para o
próprio pensamento cotidiano como sendo guiado por princípios narrativos. Um
exemplo bastante direto: quando escolho um candidato em uma eleição, não é a livre e
consciente análise de suas qualidades e das propostas de seu programa que origina o
meu voto, mas a totalidade narrativa com a qual eu me identifico. Esta totalidade
discrimina um perto e um longe, um bem e um mal, um “nós” e um “eles”.

Acreditamos que em Benjamin é possível achar fundamentos para essa


interpretação no Prólogo epistemológico-crítico da Origem do drama barroco alemão e
nas Passagens, uma obra que faz ela mesma esse papel narrativo de colecionar
fenômenos distintos da modernidade e assim não tanto expressá-la, mas apresenta-la,
como uma imagem móvel, complexa, dialética, manifestando na escrita a experiência (e
não a vivência) do indivíduo apartado da modernidade. Experiência e pobreza, O
narrador e as Teses sobre o conceito de história também apresentam elementos para
essa interpretação.

1.3 Modernidade

A crise da modernidade é a crise da narração, a impossibilidade de partilhar


experiências, mesmo a impossibilidade de ter experiências. Isso significa duas coisas.
Por um lado, não dispomos da capacidade de narrar uma história em comum, que por
sua vez alimente práticas comuns, como disse Gagnebin anteriormente. Por outro lado,
a cultura do choque e a racionalidade instrumental que é o próprio horizonte da
modernidade não nos permite examinar o caráter originário do pensamento, suas bases
narrativas. É em 1940, nas Teses sobre o conceito de história, que, para nós, Benjamin
vai completar O Narrador e Origem ao se perguntar sobre como narrar a história de um
modo que propicie essa prática em comum e vai encontrar a resposta em um termo
bastante caro para o seu pensamento, o materialismo histórico. Também é interesse
desta pesquisa entender o uso do termo no pensamento benjaminiano, pois entender o
potencial narrativo originário do pensamento é compreender a conexão que Benjamin
faz entre a narração e a vida material, a prática material, social, história dos homens no
mundo. Ter uma narração que, como exemplificamos antes, está por trás até do voto nas
eleições, significa não que simplesmente escutamos de modo atento e contemplativo
uma história e depois a repetimos, a tomamos como verdadeira; significa, mais que isso,
que apreendemos um modo de ver o mundo como uma totalidade indeterminada (como
uma narração) na nossa prática cotidiana e material. Ouvimos a narrativa não de uma
vez só, na voz de uma rapsodo, mas diariamente, de forma difusa, em todas as relações
sociais que temos, de acordo com o que as condições materiais em que vivemos nos
reservam.

A que época Benjamin se refere? Particularmente, a época de Baudelaire, o


século XIX. Nele está em jogo uma mudança nas relações materiais, com o
estabelecimento do capitalismo (Marx o chama de “século da burguesia”) com a
primeira revolução industrial chegando ao auge e colocando a mercadoria como um ente
onipresente na vida citadina; uma mudança de paradigmas culturais mais amplos
(Nietzsche chama isso de “morte de Deus”), com a cristandade deixando de servir como
“história comum”, narrativa predominante, deixando uma lacuna que não é preenchida,
dando origem a um redimensionamento do mundo sobre o prisma do indivíduo burguês;
por fim, uma mudança no próprio discurso filosófico, na qual Hegel é um personagem
de destaque.

Porém, a modernidade também se refere a época de Benjamin que, poderíamos


dizer, guarda semelhanças perigosas com a nossa própria época. Uma mesma questão
está em jogo e vai progressivamente se intensificando nos textos de Benjamin: 1933,
Experiência e pobreza; 1936, O Narrador; 1940, Teses sobre o conceito de história: são
datas que dizem respeito também a ascensão do nazismo na Alemanha e a consequente
guerra mundial, da qual Benjamin, que morreu em 1940, viu apenas o início.

Sobretudo o último desses textos se refere explicitamente a crise de narrativas


dentro da própria esquerda europeia, da qual Benjamin fazia parte. Ele indica em
diversos pontos nas Teses a social-democracia como contrária ao materialismo, presa a
uma visão de mundo pautada na ideia de progresso. É uma narrativa. Mas seu caráter é
de um ideal apartado da materialidade, assim como estão apartados os dirigentes dos
partidos. Segundo Löwy, apesar de pontuais aproximações, Benjamin identifica o
mesmo problema no stalinismo soviético (2005, p.31-2). Essas eram as duas narrativas
predominantes na época, ambas vinculadas pela ideia de progresso e das quais
Benjamin gostaria de se desvencilhar (Idem, p.29), para isso disputando o uso do termo
“materialismo histórico”, vigente dos dois lados (BENJAMIN, apud LÖWY, 2005,
p.30).

Nosso ponto aqui é este: sobram evidências de que a narração era uma questão
política para Benjamin que busca a origem de uma outra narração, uma nova narração,
que parte da modernidade, mas ao mesmo tempo pode ir além dela e pensar sua própria
época. Benjamin visualizou naquele contexto as consequências políticas de uma crise de
narrativas na esquerda e no mundo. A crise de narrativas gera um vazio que pode ser
apropriado para diferentes lados. Narrativas constituem uma história em comum que
gera práticas em comum, mas ao mesmo tempo surge já da materialidade, que no
marxismo quer dizer, da história, da sociedade, da cultura em sua dimensão prática,
sensível. Como dar origem a uma nova narrativa?

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