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ARTIGO ARTICLE
Corpo e finitude – a escuta do sofrimento
como instrumento de trabalho em instituição oncológica

Body and finitude – listening to suffering


as a working tool in an oncological institution

Juliana de Miranda e Castro-Arantes 1


Anna Carolina Lo Bianco 2

Abstract Based on the day-to-day care of pa- Resumo Partindo do cotidiano da assistência a
tients in the Pain Clinic of a Brazilian cancer pacientes que chegam à Clínica da Dor do Institu-
hospital (INCA), this article seeks to examine the to Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Sil-
consequences upon the psychic dimension of the va (INCA), o artigo procura examinar as conse-
fact of pain being intimately linked to the body. quências que traz, para o psíquico, o fato dele estar
Almost always profoundly affected by the illness, indissociavelmente ligado ao corpo. Quase sempre
the concept of the subject’s own body deeply mod- afetada profundamente pela doença, a concepção
ifies this identification. This not only causes suf- do corpo próprio traz alterações importantes quan-
fering, but also prejudices oncological treatment. to à identificação do sujeito, acarretando disfun-
Conceptualizing the body from a psychoanalyti- ções psíquicas, que não só causam sofrimento, como
cal standpoint, this article emphasizes the im- comprometem o tratamento oncológico. Desenvol-
portance of language and the spoken word in its vendo a conceituação psicanalítica do corpo, res-
constitution, as the body perceived by psychoa- salta a incidência da linguagem e da fala em sua
nalysis does not coincide with the biological body. constituição, que não coincide com a do corpo bio-
The importance of listening to what the patients lógico. Em seguida demonstra que a escuta da fala
say is therefore seen as an important tool in the do paciente, por parte do profissional, é um ins-
work of professionals in an oncological instituti- trumento de trabalho fundamental em instituição
on. Two possible positions regarding profession- oncológica. Conclui por caracterizar duas posi-
als dealing with the imminence of death and the ções possíveis a serem ocupadas por aquele que lida
finitude of life are then outlined. The first is re- com a morte e com a finitude: poupar-se a si pró-
fraining from being affected by the finite and per- prio do encontro com a dimensão finita e perecível
ishable dimension of life, feeling pity for the pa- da vida, sentindo pena do paciente, resignando-se
1
tients, resigning and distancing oneself from their e demitindo-se desse encontro; ou escutá-lo com
Clínica da Dor, Instituto
Nacional de Câncer José predicament. The second involves listening to the compaixão, reconhecendo o inexorável comum a
Alencar Gomes da Silva. patients with compassion, acknowledging the in- todos, de modo a que o sujeito possa sofrer isso não
Praça Cruz Vermelha 23,
exorable finitude common to all, such that they tão sozinho e venha a elaborar na palavra algo do
Centro. 20.230-130 Rio de
Janeiro RJ. may not suffer alone and share some of the horror horror que atravessa.
juliana.castro@inca.gov.br they are experiencing. Palavras-chave Câncer, Corpo, Finitude, Pala-
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Centro de Filosofia e
Key words Cancer, Body, Finitude, Word, Liste- vra, Escuta
Ciências Humanas,
Universidade Federal do ning
Rio de Janeiro.
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Castro-Arantes JM, Lo Bianco AC

Introdução O corpo é pulsional, não é natural

Procuraremos no presente artigo examinar as O fato de o psiquismo estar ligado ao corpo


consequências, para o psíquico, do fato de ele traz para o primeiro consequências importan-
estar ligado ao corpo. Partiremos de questões tes, pois qualquer alteração do corpo terá reper-
suscitadas no cotidiano da assistência a pacien- cussão na ordem do psíquico. Para falar dessa
tes que chegam à Clínica da Dor do Instituto ligação entre o corpo e o psiquismo, a psicanálise
Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva concebe o conceito de pulsão. Introduzindo uma
(INCA). Observamos a cada vez que, quase sem- complexificação do esquema fisiológico do refle-
pre afetada profundamente pela doença, a con- xo, Freud7 faz uma distinção entre estímulos ex-
cepção do corpo próprio traz alterações impor- ternos, dos quais é possível se livrar, e estímulos
tantes quanto à identificação do sujeito1-3. Acar- vindos do interior do organismo, dos quais não
reta sérias disfunções psíquicas, que não só cau- se pode fugir. Estes constituem a base da pulsão,
sam sofrimento, como muitas vezes comprome- um conceito que surge na fronteira entre o so-
tem o tratamento oncológico. mático e o psíquico, para falar desses estímulos
Veremos como um dos recursos para enfren- que provêm do interior do corpo e chegam ao
tarmos os problemas assim surgidos reside na psiquismo. A característica mais importante da
escuta da fala do paciente, uma vez que corpo e pulsão é a de ser concebida como “uma medida
psíquico são articulados na e pela palavra da- da exigência de trabalho imposta ao psiquismo
quele que a profere. Em nosso auxílio virá a pró- em consequência de sua ligação com o corpo-
pria definição de dor da International Associati- ral”7. Vale dizer, ao psiquismo é demandada sem-
on for the Study of Pain4, que a considera “uma pre uma resposta pelo que acontece ao corpo.
experiência sensorial e emocional desagradável, Nada que aconteça ao corpo, portanto, é indife-
associada a uma lesão tissular real ou potencial, rente ao psíquico, o que faz com que, a rigor,
ou ainda descrita em termos dessa lesão”. Esta sequer se possa distingui-los nitidamente.
definição pode ser complementada por outra que No humano, diferentemente do instinto ani-
acrescenta que a “dor é seja o que for que aquele mal, há pulsão, e, embora sujeito e pulsão não
que a experiencia diz que é, e existe seja quando coincidam, não se pode falar em constituição
for que aquele que a experiencia diz que existe”5. subjetiva sem se tratar do campo pulsional. Além
Em ambas, a menção à expressão do paciente e a disso, se não há como pensar em instinto ou em
seu dizer são apontadas como a via principal de biológico, no humano não há um corpo biológi-
acesso ao padecimento em questão. co de uma parte e um tanto pulsional de outro;
A referência à palavra do paciente, no que diz isto é, não há como supor um corpo que não
respeito ao corpo próprio e ao sofrimento que o seja atingido pela questão do pulsional. O ad-
atinge, portanto, constituirá a base do nosso tra- vento do sujeito está necessariamente ligado ao
balho. Este se apoiará nos fundamentos trazidos funcionamento pulsional, implicando que o su-
pela conceituação teórica da psicanálise, que con- jeito é efeito do ritmo pulsional, sendo falado
cebe um corpo que não coincide com o corpo por um vocabulário em termos pulsionais. Ele
biológico e dá relevo à palavra6-10. virá ou não a se reconhecer como efeito desse
Ressaltar o valor da palavra e, portanto, se ritmo, o que, seja como for, não será sem con-
oferecer à sua escuta, ainda como veremos, será sequências para sua posição subjetiva, voltare-
um meio de dar condições ao sujeito de enfrentar mos a esse ponto adiante.
a dificuldade pela qual está passando. Encontra- Ainda que, à primeira vista, tais afirmações
mos aqui com a questão do papel, não apenas do contenham algo de enigma, nos ajudam por ilu-
psicólogo, mas de cada integrante da equipe mul- minar alguns impasses da clínica, permitindo que
tiprofissional que acolhe o paciente. Emprestar nos indaguemos em que a formulação de um
sua escuta e acompanhar o sujeito na dureza do circuito pulsional assim afetado auxilia no acom-
que atravessa, coloca ao profissional uma exigên- panhamento de um paciente. O que estará ele
cia que certamente não será sem ônus para si pró- sofrendo com a concepção de um corpo pró-
prio. Neste ponto, encontraremos a questão so- prio, enquanto um corpo agora modificado pelo
bre aqueles que em sua vida lidam com os limites câncer? Como estará o corpo que é agora sub-
impostos por esta, e procuraremos ver como são metido às intervenções do tratamento oncológi-
eles afetados em suas próprias subjetividades. co? Que consequências estão implicadas para a
sua subjetividade?
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Desde que nasce, o humano, ainda não fa- mático de como se chega à representação do cor-
lante, é, no entanto, falado. Ele se constitui quan- po próprio. A dor nos faz saber que temos um
do aqueles que cuidam falam dele, fazendo de corpo; se não conseguimos dissipá-la, ficamos
seu organismo um corpo falado. A mãe encon- inteiramente investidos por ela. Freud16 chega
tra ou não no recém-nascido um corpo a ser mesmo a dar um exemplo prosaico em que, se
agasalhado, alimentado, higienizado, acariciado, referindo à nossa reação diante de uma dor de
amado ou odiado. A cada ponto em que o corpo dente, diz que “nos transportamos inteiramente
é ou não tomado, ele é ou não tomado em uma para o molar”. E Leriche afirma que “a saúde é a
rede de significações constituídas pela palavra. vida no silêncio dos órgãos”12,17. Nos sentimos
Investindo o corpo com palavras, faz-se dele um bem uma vez que não sentimos o corpo, que ele
corpo pulsional. não faz falar dele.
O sujeito é, então, efeito do investimento fei- O que talvez seja mais importante ressaltar
to em seu corpo. Ele surge sujeito ao corpo pulsi- são as consequências que se podem tirar dessa
onal6-8,11-13. O corpo do bebê, de início, era um função da dor para o surgimento do corpo no
bricabraque; dito de outra maneira, era um campo da percepção. Com a dor, o corpo irrom-
amontoado de órgãos. Massa amorfa que, ao pe no campo perceptivo, dizendo de sua precari-
ser recortada pela palavra vinda do Outro, se edade. Através da dor se sabe do corpo e, conco-
diferencia em arranjo de órgãos em função. É mitantemente, de suas limitações e extensões.
pelo dizer vindo do Outro, da linguagem, encar- Falar de limitações e extensões do corpo é intro-
nada por sua mãe, que lhe vai ser dito o que ele é duzir sua relação com dois temas aparentemente
como humano. Sujeitando-se a trocas e aos sig- distintos, é enfatizar a ligação do corpo com a
nificantes que estas veiculam, seus órgãos serão morte e com o sexo. Esta ligação torna-se visível
simbolizados e ele se reconhecerá como sujeito a no momento mesmo da reprodução. Tomamos
um corpo. Por isso as pulsões são definidas como esse momento como aquele crucial para pensar-
o “eco no corpo do fato de que há um dizer”14. mos a relação corpo/morte/sexo, pois se trata aí
São o modo como a linguagem atravessa o cor- da ocasião em que o corpo sexuado, com sua
po, ou seja, como ele será afetado pelo eco cor- célula germinal, ao tempo em que perpetua a es-
tante do dizer. pécie tem notícia de seu limite como corpo indi-
Esse recorte tem como efeito a erogeneização vidual, limitado, mortal16,18. Por sua relação com
do corpo pela função dada aos seus orifícios, se- a morte e com o sexo, o corpo introduz a finitu-
guindo uma “gramática pulsional”15. O investi- de, o perecível e a transitoriedade19.
mento pulsional circunscreve zonas erógenas: o A referência ao complexo de castração neste
que sustenta o corpo, o que faz sua consistência, ponto é fundamental, porque ele nos permite si-
é o fato de que, ao ser falado, se criam zonas tuar a maneira de cada sujeito enfrentar os limi-
diferenciadas, como se fossem cortadas e recor- tes que lhe são impostos por um corpo sexual e
tadas, dando ao corpo uma organização pró- mortal20. A maneira do sujeito se posicionar fren-
pria. O corpo constituído nessa pulsação tem sua te aos limites impostos pela castração engendra
gramática própria, não sendo da mesma ordem o modo como o sujeito organiza a relação com o
daquele que normalmente compreendemos atra- Outro, suas modalidades discursivas, suas con-
vés do olhar da biologia ou da anatomia. Com a dutas sexuais e suas relações com os outros13,21.
psicanálise, o corpo é um objeto outro, que esca- Ou seja, o complexo de castração é o que explica
pa de uma relação estabelecida naturalmente12. a maneira do sujeito se haver com impasses in-
Não havendo como falar de um corpo lugar de transponíveis em sua vida. Desde que nasce e se
instintos, de um corpo biológico, trata-se de re- encontra com os constrangimentos dados pelo
conhecer que não há constituição subjetiva fora corpo22 será instado a tomar uma posição pela
do campo pulsional e, logo, do campo da pala- qual será responsável. Aqui, mais uma vez, ve-
vra. Por isso dizemos que o sujeito é efeito do mos que se trata no humano de uma montagem
corpo pulsional. e não de algo prévio, da ordem do biológico, uma
A conjunção sujeito psíquico/corpo pulsio- vez que a anatomia não garante a sexuação, vale
nal permite a Freud8 conceituar o eu como um eu dizer, há uma operação subjetiva em jogo.
corporal, um eu cuja essência é corpo. É neste No entanto, do fato da castração pouco que-
ponto que ancoramos a concepção de dor que remos saber, ao contrário, buscamos o sentimen-
irá nos orientar no presente trabalho. O modo to de bem estar que remete a ser “puramente es-
como, com as enfermidades dolorosas, se ad- piritual, desprendido das contingências do cor-
quirem novas notícias de seus órgãos é paradig- po”, que passa assim a ser um “corpo recalca-
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do”12. Isto é, mantemos o corpo afastado da cons- se efetua, uma vez que função e órgão seguem
ciência, recalcado, portanto inconsciente, e, no desarticulados, caracterizando os referidos fenô-
entanto, ele nos comanda em todas as circuns- menos de desespecificação pulsional.
tâncias da vida. A psicose mais uma vez nos ensina que as
funções corporais nem sempre coincidem com
O corpo pulsional e o sujeito do desejo as estabelecidas pela fisiologia e pela biologia. É
importante observarmos se e como a desespeci-
Nos voltaremos agora para os estudos da ficação pulsional, que opera na psicose, contri-
psicose. Embora não estejamos nos endereçan- bui para pensarmos o circuito pulsional na neu-
do neste artigo para a questão dos psicóticos, rose, ou seja, nos indagarmos se a oralidade psi-
entendemos que esses pacientes nos ensinam so- cótica pode esclarecer um destino pulsional que
bre a estrutura psíquica de todo ser que se en- não seria restrito a essa estrutura23.
contra com a linguagem. As disfunções que os Enfim, recorremos a textos sobre o corporal
acometem em sua relação com o corpo próprio na psicose, abordando os elementos estrutural-
nos permitem reconhecer outros fenômenos que mente e não fenomenologicamente, por enten-
dão novas notícias da constituição pulsional do dermos que nessa estrutura encontramos de for-
corpo. Esperamos, assim, encontrar outros sub- ma pungente a montagem, recalcada na neurose,
sídios que nos auxiliem na escuta dos pacientes que está em jogo na constituição do que chama-
sob tratamento oncológico. mos corpo próprio. A psicose nos mostra que o
A psicanálise desenvolve a teoria que apreen- corpo concebido pela psicanálise, com a marca
de tais fenômenos como indicadores de um fun- da palavra e da pulsão, contribui para as ques-
cionamento que, no entanto, é estrutural. O psi- tões com as quais nos havemos na clínica de pa-
cótico é tocado pela questão pulsional de manei- cientes em instituição oncológica, quase sempre
ra particularmente problemática. Reconhece-se de estrutura neurótica. Trata-se nessa clínica de
de início na psicose o que ficou estabelecido como um endereçamento ao sujeito que padece, no
uma “desespecificação pulsional”13. Sobressai momento mesmo em que seu desejo está viva-
nesses casos uma não coincidência entre órgão e mente em questão.
função. Se do ponto de vista da biologia a cada Para avançarmos na problemática do sujeito
órgão corresponderiam uma ou mais funções e seu desejo, vale recorrermos ainda à distinção
específicas, ou seja, por exemplo, às cavidades entre uma “pulsão subjetivante” e outra “dessub-
bucal e oral, corresponderiam as funções de in- jetivante”. Essa distinção foi realizada por Van-
gestão de alimentos, de respiração e de emissão dermersch24, quem, tratando de uma paciente
de sons para a comunicação, na psicose encon- bulímica, notou nela um conflito entre, de um
tramos pacientes cuja boca está ligada antes à lado, um funcionamento que aponta na direção
evacuação de fezes. Da mesma maneira, verifica- de seu desejo e, de outro, um que não dá lugar a
mos que ao ânus, aos intestinos, aos esfíncteres ela como sujeito – o qual triunfa, a despeito dela
não está relacionada a função de defecar, pois mesma. Ao falar desse conflito, a paciente faz uma
estes se encontram, na lógica delirante, obtura- mudança sintática em sua fala, passando do eu
dos, não permitindo a passagem das fezes. (quando fala de uma posição desejante) ao se
É o caso do paciente J.R., morador do Hospi- impessoal. O autor afirma tratar-se, na verdade,
tal Psiquiátrico de Jurujuba, instituição com a de um conflito entre uma pulsão subjetivante e
qual o INCA mantém um convênio no âmbito uma pulsão dessubjetivante. Em linhas gerais, faz
do Programa de Residência Multiprofissional em uma distinção entre o que chama funcionamento
Oncologia. J.R. apresentava quadro de anorexia subjetivante da pulsão – o qual tem efeito de su-
grave por se recusar a ingerir alimentos, e, sem jeito, que ele equivale ao desejo –, e outro que não
qualquer afecção orgânica, tinha a convicção de- produz sujeito. Neste, temos um funcionamento
lirante de que seu ânus estava fechado e, caso não subjetivante da pulsão, que opera de modo
viesse a se alimentar, as fezes sairiam por sua acéfalo. A pulsão acéfala é empuxo permanente,
boca. Como ele próprio afirmava à época, “a pulsão que não prepara a vinda do desejo. Para
comida entope, na hora de evacuar não desce”. sumarizar, há, então, pulsão dessubjetivante, a
Observamos um desligamento entre órgão e fun- qual opera de modo acéfalo, em que não há um
ção: ânus obturado por onde não defeca, boca “efeito sujeito” – note-se que não se está falando
onde não deve entrar a comida sob pena de por mais aqui de psicose, mas de casos de bulimia e
ela sairem fezes. É o discurso que vem ligar os toxicomania – e pulsão subjetivante, equivalente
órgãos em função13 e, na psicose, essa junção não ao desejo, e que tem “efeito sujeito”24.
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A palavra: lugar do sujeito do desejo Durante o processo de atendimento com a
psicóloga, L.D. começa aos poucos a falar, e ao
L.D. é encaminhada para acompanhamento dizer há um ligeiro deslocamento em sua posição
psicológico por sua médica, quem, apesar de toda subjetiva. A menção à dor agora passa a um pla-
a bateria medicamentosa a que submete a paci- no secundário, às vezes até desaparece, dando
ente, não consegue controlar a dor. No entanto, lugar à elaboração de questões estruturais que
logo nas primeiras entrevistas, L.D. reporta o fato remetem, por exemplo, à perda de sua mãe, com
de que, até chegar a um atendimento de rotina a mesma afecção. A dor, insuportável quando de
com a fisioterapeuta, seguido à mastectomia que sua chegada, logo em seguida considerada enig-
sofrera, “não sentia dor”. “Foi quando ela [a fisio- mática por sua ausência anterior, ganha outro
terapeuta] disse ‘isso que você tem é dor’ que eu estatuto ou chega a perder a importância que
passei a chorar de dor”. E, acrescenta: “é muita tinha. Ela passa a não ser mais insuportável, a
dor, não há o que fazer para passar”. É notável médica consegue controlá-la e sua fala durante
que uma dor agora tão incontrolável, que traz os atendimentos dá lugar a questões, às vezes
impedimentos importantes para sua condição, muito duras, mas que paradoxalmente dão mais
justo antes dessa palavra, não aparecesse. Ao in- mobilidade à vida, causando uma pequena mu-
vestigarmos junto com a paciente, escutamos a dança no lugar em que se exerce como sujeito.
sua surpresa ao se encontrar com a falta de expli- Na melhor das hipóteses, desvencilhado de
cação para isso. um funcionamento pulsional acéfalo, o sujeito
Freud8 afirma que a dor pode permanecer in- pode querer tratar essa pulsão de modo diverso,
consciente. No caso de L.D. é possível falarmos de a partir de ter se submetido e tomado lugar aí,
uma força pulsionante sendo liberada sem que o como efeito de ritmo pulsional, e vir a dar a isso,
“eu” notasse. Trata-se justamente da pulsão des- quem sabe, um outro destino12. Pode-se localizar
subjetivante, algo que acomete seu corpo sem que aí o processo da pulsão subjetivante. Vale mais
tenha notícia. Ela é serva da pulsão12, o efeito su- uma vez sustentar que, se a pulsão subjetivante
jeito não se produz. Quando chega para atendi- tem como efeito um sujeito, é isso o que está em
mento, L.D. é quase monossilábica. A única frase jogo quando se trata de “ritmar o tratamento”13,
que repete é em referência a ter vindo porque a ou seja, que, se reconhecendo como efeito de rit-
médica disse que só ali teria a solução para a sua mo pulsional, um sujeito desejante possa advir.
dor: “a doutora me mandou vir porque nenhum O que implica sair da posição alienante, adorme-
remédio funciona e ela disse que aqui a senhora cido quanto a seu desejo, inteiramente sob o co-
vai resolver meu problema”. Seu discurso empo- mando da pulsão acéfala. Então, se necessaria-
brecido aponta para o empobrecimento de sua mente intervenções radicais e invasivas no corpo
vida. “Tenho setenta anos”, diz, referindo-se à vida afetam o funcionamento pulsional, essas são
de alguém trinta anos mais velha, que representa questões que se colocam sobre o ritmo e a pulsão
para ela a abdicação da sexualidade com todas as nas intervenções no corpo, que têm efeito no eu
suas implicações. Ao mesmo tempo, L.D. demons- corporal, ou seja, na subjetividade.
tra certa negação dos limites com que se depara O que se coloca para o nosso estudo é o efeito
dado que está em tratamento oncológico. Por que terá na posição subjetiva o encontro com
exemplo, ao falar de seu trabalho com desportis- algo que atinja radicalmente a anatomia. Se, para
tas afirma: “tenho que aparentar saúde”. E com- a constituição corporal, é necessária essa opera-
pleta: “levo uma vida normal. Sou uma pessoa ção subjetiva, de que maneira um tumor que se
saudável, por isso faço todas as coisas que todas instala no corpo afeta o psíquico no ser falante –
as pessoas fazem”. Com isso, força-se (ou força o que acontece a essa operação subjetiva pela li-
seu corpo) para além da recomendação médica, gação desse sujeito com um corpo que se apre-
tomando para si afazeres domésticos pesados que senta enfermo?
poderiam ser de responsabilidade de outros na “É um peso, tenho muitas dores nas costas”,
casa. Neste ponto, cabe questionar a repercussão diz Z., paciente em cuidados paliativos – acom-
que tem para a concepção de seu corpo o fato de panhada pela equipe multiprofissional do Hos-
ele ter sido modificado pelo câncer. E, mais ainda, pital do Câncer IV (Unidade de Cuidados Paliati-
nos perguntamos se podemos falar de um efeito vos do INCA), em uma prática que, apenas por
sujeito nesse caso ou se estamos frente justamen- ser interdisciplinar, deu as condições para que o
te a um apagamento subjetivo. L.D. é alguém que sofrimento da paciente pudesse ser enfrentado por
não quer saber, a ponto de não sentir dor, do eu ela própria e também pela equipe que a acolheu.
corporal, do sujeito do desejo. “Mas o que mais me incomoda é o cheiro. Estou
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sentindo agora, mesmo com o curativo. Cheiro que em algum ponto possibilita sua elaboração,
de água de salmoura, de carne podre: carniça”. muitas vezes viabilizando no mesmo ato o trata-
Conta de um banho no chuveiro: “Eu olhava para mento oncológico25.
trás, no chão, e via os pedaços de carne, assim, Logo, escutar é dar as condições para que no
escorrendo…” E, depois acrescenta: “tem mulher trabalho com esse outro, que é o paciente, a pa-
que não deixa o marido ver. Eu não, fico à vonta- lavra seja dita. Oferecer-lhe a escuta e, em conse-
de em casa. Ele faz até o curativo. Não tem nada a quência, fazer valer sua palavra, constitui-se em
ver não”. “O meu marido fala para as pessoas: ‘O um meio crucial de dar-lhe o lugar, em que, se ele
meu casamento acabou’. Aí eu falo que não”. Por se depara com a aridez do que enfrenta, virá a se
outro lado, chama a atenção que ela diga: “às ve- responsabilizar por sua condição inexorável de
zes, eu choro em casa, falo que tudo acabou. Aí sujeito ao corpo.
meu marido diz que não, que não acabou”. Ora, justamente aqui, se coloca a pungente
Com a afirmação do marido, de que o casa- pergunta: que implicações isto traz para aquele
mento acabou, ela traz o estremecimento em sua que ao dar lugar ao sujeito compartilha com ele
posição de mulher. Ela diz ainda que: “o namoro a dureza que o travessa. Emprestar sua escuta
acabou” (remetendo-se à relação sexual). Mas, coloca ao profissional uma exigência que certa-
como vimos, acredita também que “não tem nada mente não será sem ônus para si próprio. Vimos
a ver” – ou a velar. Essas são frases que indicam, como há um efeito de real no corpo, quando o
no desvelamento explícito, o abalo no que é da sujeito é surpreendido pelo câncer. Esse real car-
ordem do sexual. Ao falar do casamento e do rega a angústia de castração, a transitoriedade
“namoro”, traz questões, em processo de elabo- da vida, sua finitude e, paradoxalmente, o desejo.
ração, sobre o seu lugar – ou sua perda de lugar. O desejo de um sujeito que é chamado a se posi-
Os pedaços de carne escorrendo no ralo es- cionar frente a todas estas questões (acerca das
tão na própria operação que terá feito dela, neste quais, na maior parte das vezes, nada queremos
momento, sujeito. Dito de outro modo, é por saber). É isso que será escutado e levantará, para
isso aparecer em suas palavras que, por radical aquele que escuta, essas mesmas dificuldades, sem
que seja, aí mesmo se constrói o lugar de um que muitas vezes se dê conta, já que, como obser-
novo sujeito, com um corpo agora afetado pela vamos, o corpo e as questões que ele porta são
doença. Trata-se disso, ou do pior. Pois, se não é deixados sob o recalque.
recolhendo nesses pedaços de carne e nesse tate- Nesse sentido, estão em jogo para nós pro-
amento (“acabou”, “não acabou”, “não deixa ver”, fissionais duas posições: a primeira diz respeito
“não tem nada a ver”) que ela se faz sujeito, ela ao sentimento de pena que se pode ter daquele
não teria lugar, já que não há mais o lugar de que chega com seu padecimento, a segunda, se
antes, a que possa retornar. nos decidimos pela escuta do sofrimento de um
Se para haver constituição corporal é preciso outro, refere-se à compaixão com que o acolhe-
uma operação, então, algo que atinja radicalmen- mos. Enquanto a pena está referida ao ódio, in-
te a anatomia (como um tumor), terá necessari- trínseco à dualidade – ou eu ou ele –, a compai-
amente efeitos na posição subjetiva do ser falante xão diz respeito a uma posição terceira, para fa-
– sua relação com o Outro, suas modalidades lar da qual usamos a imagem de uma faca só
discursivas, suas condutas sexuais e suas rela- lâmina que corta dos dois lados. Esta é uma ima-
ções com os outros –, uma vez que isso atualiza gem forte que nos faz ver que se a castração (ou
a posição do sujeito frente à castração. o que estamos reconhecendo como os limites
presentes na vida de cada um) está colocada para
A faca só lâmina daquele que escuta ou o paciente, ela está também, e, talvez, antes de
submeter-se a escutar na compaixão tudo, para aquele que escuta13. Isso não é escuta-
do sem que haja repercussões em cada um que o
Encontramos na Clínica da Dor um lugar faz. Trata-se, portanto, de uma reflexão impres-
onde as questões do sofrimento psíquico podem cindível para o trabalho em instituição oncológi-
se expressar de forma contundente, instando os ca, na medida em que somos atingidos por essa
profissionais a enfrentá-las. Todavia, nem sem- dimensão de “faca só lâmina”13.
pre a dor aí implicada é facilmente reconhecida. Abordar um paciente, sem qualquer possibi-
Trata-se, para aquele que assiste o paciente, de lidade curativa de uma doença que só faz avan-
reconhecer em sua fala o padecimento e muitas çar, abordá-lo para que possa “se adaptar à sua
vezes a angústia que o acompanha. Faz-se neces- nova situação”, valorizando o que “ainda pode
sária a escuta do sofrimento psíquico, pois é ela fazer”, é recebê-lo a partir de uma posição de
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pena. Pena é comiseração desdenhosa, marca do corpo nem no simbólico da palavra. Mas, em
principalmente desprezo e não compaixão. Nas uma tessitura, fez-se possível tratar o real que
palavras de Molière26: “Considerar com despre- afeta o corpo pelo simbólico, ao por em palavra
zo misturado de vaga compaixão”. E nas de e escrever sua história (que permanece e nos co-
Balzac26: “A pena mata, enfraquece ainda mais loca a trabalhar, ao ser contada aqui). É isso, ou
nossa fragilidade. É o mal tornado embustido, é o pior: atravessá-lo sem companhia na surdez
o desprezo na ternura”. Há na pena o desdém e o acachapante, que só pode impor o mutismo.
desprezo, daquele que, defendido, se crê inteiro Ao contrário, faz-se muitas vezes um “con-
frente ao outro mutilado (às vezes literalmente). trato” de não perturbar os demais com o insu-
Considerar a desolação que transpassa o pacien- portável. Todos se comprometem em não abor-
te como digna de pena é uma tentativa de dissi- dá-lo, muitas vezes procurando uma compen-
mular, para si próprio, o horror impactante e o sação na valorização das capacidades que não
impossível aí em jogo, isto é, o inexorável da foram perdidas, calando a dor e a possibilidade
morte. A pena sustenta um eu que se considera de sua elaboração pela via da palavra. Ou, ao
inteiro, aquele que procura sempre evitar as ques- invés disso, se trata de acompanhar Z. em seu
tões postas pela morte e pelo sexual. desbravamento, sem saber de antemão os cami-
Expressar pena cala o sujeito porque fecha nhos a serem trilhados e se responsabilizar por
qualquer espaço de construção de fala, que to- isso, dando suporte ao que daí advier. Não há
que no real do que experimenta. Isso poupa, es- solução, mas fragmento, pedaço de um percur-
pecialmente, o clínico, porque a fragilidade e a so, na construção de uma história, na escrita do
falta de qualquer garantia de se estar a salvo dis- sujeito. Aí estão os limites e possibilidades do
so são compartilhadas por todos nós – é do que, trabalho: não há o que se dê à paciente, de con-
como estamos repetidamente observando, nada forto, de paliação, como encobrimento disso que
se quer saber. Embora possa ser “confortável” é. Resta acompanhá-la na travessia, tomar parte
para o profissional e para os que estão em volta, no que a afeta como testemunha.
isso significa a morte do sujeito, que, emudecido, Lispector28 escreve: “E conformar-se sem se re-
não encontra lugar de expressão, muitas vezes signar. (…) E então vem o desamparo de se estar
antecipando, subjetivamente, a morte concreta. vivo. Estou falando da angústia mesmo, do mal.
Já a compaixão implica sofrer juntamente, Porque alguma angústia faz parte: o que é vivo,
tomar parte no sofrimento do outro, do latim por ser vivo, se contrai”. Trata-se de se conformar
compatio, sofrimento comum 27 . Do mesmo (do latim conformare, submeter-se) com aquilo
modo, vem, do grego, simpatia [sym, juntamen- que é – o inexorável –, e, justamente nisso, está a
te, e páthos, paixão]. Páthos é o que se experien- liberdade do sujeito, se assim se decidir, de se res-
cia, tudo o que, bem e mal, afeta o corpo ou a ponsabilizar pelo que lhe acontece, portanto, sem
alma e move o sujeito26. O cheiro da carniça é resignação (do latim resignare, demitir-se)26.
cortante no discurso da paciente. A direção do Podemos concluir com a formulação: o clíni-
trabalho, com ela, consistiu em sustentar um lu- co, também dividido e sujeito ao desamparo de
gar de palavra, o que permitiu o endereçamento se estar vivo, submete-se ao inexorável, e, desse
e a produção mesma de sua fala. Não há cura, lugar, partilha do páthos. Dito de outro modo,
não há garantia, há fragilidade, desamparo e so- pode-se escolher submeter-se e escutar na com-
lidão. A aposta é a de que o sujeito possa sofrer paixão ou demitir-se na pena e fazer calar. É na
isso não tão sozinho. Encontrar alguém a quem penúria daquele que escuta que opera o fio cor-
endereçar a sua palavra pode ter como efeito to- tante da faca só lâmina.
mar o real (do câncer, do corpo, da morte) com
os recursos dados pelo simbólico (da palavra,
do significante, da construção da história do su-
jeito), o que o terá feito elaborar minimamente
algo do horror que o atinge.
Z. tem um tumor de mama enorme, carniça
entranhada em seus órgãos nobres, da qual não
pode se livrar com vida. Ela nos diz que a carniça Colaboradores
não é dela, não a é. Viabilizar um espaço para a
escuta permitiu que ela pudesse falar da carniça, JM Castro-Arantes e AC LoBianco trabalharam
que não era dela, e da dor de carregá-la. Não há na concepção teórica, na elaboração teórica e na
como livrá-la da carne apodrecida, nem no real redação final do artigo.
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Castro-Arantes JM, Lo Bianco AC

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