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SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E A RELAÇÃO DO PROGRAMA ARBORETUM PARA

O ALCANCE DAS METAS BRASILEIRAS DE ENFRENTAMENTO DAS MUDANÇAS


CLIMÁTICAS
Gabriel Anderson de Souza Cruz
Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades,
gabriel.cruz@cpf.ufsb.edu.br

Coordenadores:
Prof. Dr. Frederico Monteiro Neves
Prafa. Dra. Guineverre Alvarez Machado de Melo Gomes

Universidade Federal do Sul da Bahia, Teixeira de Freitas-BA


Grupo de Pesquisa RG CLIMA
rgclima@ufsb.edu.br

Palavras-chave: Serviços Ecossistêmicos. Biodiversidade. Extremo Sul da Bahia. Programa


Arboretum.

Introdução

O desenvolvimento do Brasil deu-se a partir da utilização de recursos naturais, que teve e


tem objetivo principal ampliação econômica na geração de um alto índice do Produto Interno Bruto
(PIB). Ao longo da história do País, obtivemos um alto índice de desmatamento, segundo relatório
do Ministério do Meio Ambiente, a Mata Atlântica é um bioma quase extinto, com cerca de 22% de
sua totalidade florestal e apenas 8,5% estão em bom estado de conservação, resultado do movimento
de crescimento das cidades, agravado com a ligação das principais regiões de comércio pelo
alongamento das malhas ferroviárias (BACHA, 2004).
Todavia, com as consequências da degradação do ecossistema, há a necessidade das
preservação das fontes naturais de biodiversidade, como a manutenção dos recursos hídricos, fontes
primárias de madeiras, o processo natural de troca gasosa, entre outros serviços ecossistêmicos
diversos, e assim, encontrar equilíbrio entre a geração de recursos e o uso do solo. Não havendo
esse equilíbrio, esse desenvolvimento desregulado se dará contra a Constituição do Brasil de 1988
que diz em seu artigo 225 que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e
à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Sendo assim, é de extrema importância o engajamento, para a manutenção dos recursos
naturais, promovendo ações que permitam a manutenção da biodiversidade local e
consequentemente extrarregional, promovendo a qualidade de vida.

Discussão das referências


Os ecossistemas das florestas brasileiras são de extrema importância, pois são responsáveis
pela manutenção da vida animal, vegetal e de processos químicos. Essa conjuntura que forma o
ecossistema florestal, dispõe para a natureza diversos benefícios que são chamados de serviços
ecossistêmicos. De acordo com a Avaliação Millennium Ecosystem Assessment da Organização
das Nações Unidas (ONU) os serviços ecossistêmicos, são divididos pelos teóricos em 4 grupos,
sendo que todos comunicam-se entre-si, sendo eles:
● Suporte (base dos serviços ecossistêmicos) - Formação de solos, produção primária,
ciclagem de nutrientes, processos ecológicos
● Provisão (produtos de consumo que podem ser retirados da natureza) - alimentos, água,
carvão vegetal, madeira, plantas para cosméticos, etc.
● Regulação (controle do meio ambiente) - regulação do clima, controle de doenças, trocas
gasosas, fortificação do solo.
● Culturais (relação da natureza com crenças religiosas e movimentos sociais) - Simbolismo,
religiosidade, educação, etc.
De modo geral, a manutenção e preservação das florestas é um bem comum para a
comunidade mundial, vistos os benefícios para o meio ambiente, em relatório pelo Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Brasil (Florestas Comunitárias, 2016) no Brasil foram
catalogados 136 milhões de hectares de florestas que são diretamente utilizadas por comunidades
tradicionais com peso em sua relevância social e econômica (BRASIL, 2016; COSTA, 2008).
Visto a relevância dos serviços ambientais para a mitigação das mudanças climáticas e
consequentemente na renovação de recursos indispensáveis para produção, vem fortalecendo a ideia
de pagamento de serviços ambientais no Brasil. Esses pagamentos são disponibilizados,
principalmente por empresas, como incentivo para que comunidades realizem o trabalho de
replantio e manutenção florestal de determinada região, de modo a preservar nascentes de água,
possibilitar a retirada de recursos madeireiros, além de auxiliar a polinização da região com insetos,
como o exemplo das abelhas. Além de contribuir para os meio de produção, as árvores vão servir
como sumidouro de um dos principais gases de efeito estufa , o CO2 (COSTA, 2008;
MARTINKOSKI, VOGEL E MARTINS, 2012; QUEIROZ, 2008; FONSECA E SILVA, 2010).
Em nível internacional os países estão articulando-se para o enfrentamento dos altos níveis
de emissões de GEE na atmosfera, que são pivô das mudanças climáticas. No mais recente encontro
do Relatório Especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, teve principal
objetivo a contestação da meta de aumento na temperatura de 2 °C estabelecido no Acordo
Climático de Paris, ao qual levaria a consequências devastadoras, como perda na biodiversidade em
diversos ecossistemas, além da preocupação no derretimento das calotas polares e o aumento do
nível do mar. Dessa forma foi estabelecido pelos países uma redução no aumento limite da
temperatura, chegando a um consenso de 1,5 °C. (IPCC, 2018)
Temos, atualmente, como uma das principais fontes de emissão de gases de efeito estufa
(GEE) no Brasil, a produção agropecuária, sendo responsável por cerca de 74% das emissões e
grande parte disso deu-se pela troca de florestas pela pastagem, sendo responsável por 80% do
desmatamento na Amazônia legal. Com a preocupação em nível internacional com as mudanças
climáticas, há uma dificuldade na conservação da biodiversidade, logo que a degradação no Brasil
aconteceu numa velocidade alarmante e houve prejuízos em diversos ecossistemas (SEEG, 2018;
ALMEIDA, GOMES, QUEIROZ, 2011).
As florestas realizam um dos principais papéis no enfrentamento das mudanças climáticas,
pois as árvores têm potencial de mitigação, funcionam como sumidouros do Gás Carbônico (CO2).
Entretanto os ecossistemas florestais estão em perigo, com desenvolvimento econômico
desenfreado, há uma cultura de desmatamento para implantação de monoculturas de produção.
O Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC) criado em 2000 pelo Decreto nº 3.515
teve o objetivo “conscientizar e mobilizar a sociedade para a discussão e tomada de decisão” sobre
os impactos das emissões de GEE em relação às ações antrópicas. São algumas metas brasileiras
pelo Plano Nacional de Mudanças Climáticas (BRASIL, 2010):
● Até 2015
○ Aumentar a reciclagem de resíduos sólidos urbanos em 20%.
● Até 2020
○ Reduzir em 80% o índice de desmatamento anual na Amazônia.
○ Ampliar em 11% ao ano o consumo interno de etanol.
○ Dobrar a área de florestas plantadas no Brasil para 11 milhões de hectares, sendo 2
milhões de hectares com uso de espécies nativas.
○ Trocar 1 milhão de geladeiras antigas por ano.
○ Reduzir as perdas não técnicas na distribuição de energia elétrica à taxa de 1000
GWh por ano.
● Até 2030
○ Aumentar a oferta de energia elétrica de cogeração, principalmente a bagaço de cana-
de-açúcar, para 11,4% da oferta total de eletricidade no País.
Na região do estado da Bahia, predomina-se a vegetação de Mata Atlântica, tendo redução
no bioma, com apenas 6% da vegetação original. Essa redução da Mata na região intensificou-se
com a expansão rodoviária com a construção da BR 101 e o movimento de troca da paisagem de
florestas por pastagem para a agropecuária, outro fator que impulsionou a degradação da
biodiversidade do Extremo Sul da Bahia foi a chegada de grandes empresas produtoras de papel e
celulose. Além dos problemas ambientais, esse ciclo de destruição excluíram pequenos agricultores
da região, retirando o sentido de território e seus aspectos únicos (ALMEIDA et al., 2008; LEONEL,
2016).
Nesse cenário surgiu a proposta do Programa Arboretum de Conservação e Restauração da
Diversidade Florestal, no sul da Bahia, desenvolvida pelo Serviço Florestal Brasileiro e Ministério
Público do Estado da Bahia, com o apoio do IBAMA. O Programa Arboretum trabalha com a
aproximação do homem com a floresta, beneficiando as comunidades tradicionais da região,
promovendo a capacitação, para a catalogação de semestes, produção de mudas e realização da
regeneração da Mata por meio do plantio de espécies da Mata Atlântica. Em troca do trabalho
realizado, o Arboretum disponibiliza de auxílio financeiro para as famílias participantes dos
processos de produção. Ademais, indiretamente, com a revitalização das áreas florestais da região,
o programa estará permitindo que a natureza disponibilize de seus recursos ecossistêmicos para as
comunidades (ARBORETUM, 2018; COSTA, 2008).
O processo de restauração e conservação da mata nativa encontra diversos desafios em seu
caminho. Políticas públicas de desenvolvimento econômico tem impulsionado incentivo ao
desmatamento, como por exemplo, flexibilização de projetos de lei que permitem a redução da área
de reserva legal das propriedades privadas, assim, os produtores rurais irão desmatar para expandir
as produções de monoculturas presentes em cada região. Além disso, há resistência por falta de
conhecimento, por pequenos produtores, na importância em manter a floresta viva. (ARAES,
MARIANO E SIMONASSI, 2012; ARBORETUM, 2018; RURAL, 2019)

Considerações finais
Os benefícios em manter a floresta viva são inúmeros, e como visto, beneficia tantos as
comunidades circunvizinhas, quanto grandes centros. Dessa forma é necessário ações
governamentais para o incentivo de práticas como o que vem acontecendo no Extremo Sul da Bahia
com o Programa Arboretum de Conservação e Restauração da Diversidade Florestal, promovendo
a reestruturação da Mata Atlântica, é indiretamente, tendo ações de mitigação ao enfrentamento das
mudanças climáticas, com a integração do homem com a floresta. Contrariando essa ideia de
conexão do homem com a floresta, apesar do desenvolvimento econômico da região com o aumento
do PIB produzido pela produção de papel e celulose, são quase imperceptíveis alterações de
mudanças sociais nas áreas plantadas, construindo um empobrecimento deste território.

Referências:
ALMEIDA, F.S.; GOMES, D.S. ; QUEIROZ, J. M. . Estratégias para a conservação da
diversidade biológica em florestas fragmentadas / Strategies for the conservation of biological
diversity in fragmented forests. Ambiência (UNICENTRO), v. 7, p. 367-382, 2011.

ALMEIDA, Thiara Messias de; Moreau, Ana Maria Souza dos Santos ; MOREAU, M. S. ; Pires,
Mônica de Moura ; Fontes, Ednice de Oliveira ; Góes, Liliane Matos . Reorganização
socioeconômica no extremo sul da Bahia decorrente da introdução da cultura do eucalipto.
Sociedade & Natureza (UFU. Impresso), v. 20, p. 5-18, 2008.
ARRAES, Ronaldo A.; SIMONASSI, Andrei G. ; MARIANO, Francisca Zilania . Causas do
Desmatamento no Brasil e seu Ordenamento no Contexto Mundial. Revista de Economia e
Sociologia Rural (Impresso), v. 51, p. 115-136, 2012.
BACHA, C. J. C.. O uso de recursos florestais e as políticas econômicas brasileiras. Estudos
Econômicos. Instituto de Pesquisas Econômicas, São Paulo, v. 34, n.2, p. 393-426, 2004.
BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Florestas Comunitárias in:
Serviço Florestal Brasileiro. Disponivel em <http://www.florestal.gov.br/florestas-comunitarias>
Acesso em 30 de março de 2019.
BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Avaliação Ecossistêmica do Milênio: Ecossistemas e
Bem-estar humano. Disponivel em
<http://www.mma.gov.br/estruturas/conabio/_arquivos/Rodrigo%20Victor.pdf> Acesso em 30 de
março de 2019.
COSTA, R. C. Pagamentos por Serviços Ambientais: limites e oportunidades para o
desenvolvimento sustentável da Agricultura Familiar na Amazônia brasileira. 2008. 264 f. Tese
(Doutorado em Ciência Ambiental) – Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, 2008.
IMPERATRIZ-FONSECA, V. L.; NUNES-SILVA, P. . As abelhas, os serviços ecossistêmicos e
o Código Florestal Brasileiro. Biota Neotropica (Online. Edição em Inglês), v. 10, p.
bn00910042010, 2010.
LEONEL, M. S. Extremo Sul da Bahia: caracterização socioeconômica e os impactos da expansão
do setor de base florestal. 196f. Tese ( Doutorado em Economia) – Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, MG, 2016.
MARTINKOSKI, L. ; VOGEL, G. F. ; MARTINS, P. J. . Iniciativas e Mercado no Pagamento por
Serviços Ambientais. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, v. 7, p.
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QUEIROZ, J. M. de. Custo de oportunidade da conservação e redução de emissão de carbono
por desmatamento e degradação florestal (REDD): um estudo de caso para a Amazônia
brasileira. 2008. 67 f. Monografia (Bacharelado em economia) – Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 2008.
SEEG. Emissões de Gases de Efeito Estufa no Brasil e suas implicações para políticas públicas
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<http://seeg.eco.br/ wp-content/uploads/2018/08/Relatorios-SEEG-2018-Sintese- FINAL-v1.pdf>
Acesso em 28 de março de 2019.

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